Buscar

Resenha: CULTURA E MODERNIDADE NO BRASIL RUBEN GEORGE OLIVEN

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

FACULDADE PRESBITERIANA MACKENZIE RIO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
HÉLIO DA CÂMARA PAIVA
Matrícula: 31705472
ÉTICA E CIDADANIA – AVALIAÇÃO 02/2017
PROF. FABIANO DE ALMEIDA OLIVEIRA
RIO DE JANEIRO
2017
ÉTICA E CIDADANIA
Avaliação 02/2017 da Disciplina Ética e Cidadania, para a Graduação no Curso de Direito da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.
Prof: Fabiano de Almeida Oliveira
Resenhar o texto "Cultura e Modernidade no Brasil" de Ruben George Oliven, onde o autor se propõe a discutir o processo cultural e de modernização do Brasil, no período que vai desde a chegada da chegada da família real (1808) até o Brasil contemporâneo.
CULTURA E MODERNIDADE NO BRASIL
RUBEN GEORGE OLIVEN
Professor do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
	O autor principia conceituando modernidade, do ponto de vista do brasileiro, como algo que vem de fora, e por isso, “adiantado” em relação ao nosso povo, que pode tanto querer ser imitado ou considerado com cautela, e afirma que esta importação se dá por meio de intelectuais que vão buscar estas ideias e modelos, adaptando-as a uma nova realidade, no caso, a brasileira.
	Historicamente, esse senso de inferioridade que Nelson Rodrigues muito bem definiu como “complexo de vira-lata”¹, tem suas raízes ainda no período colonial brasileiro, com a chegada da família real portuguesa e seus costumes europeus, logo invejados e copiados pela recente corte brasileira.
	Disseminou-se ainda, até os dias de hoje, a crença de que o Brasil foi colonizado pelos “excluídos do reino” (Geraldo Pieroni, 2000), onde os brancos enviados de Portugal para povoar a colônia eram constituídos de degredados, prisioneiros condenados, ladrões e assassinos, prostitutas, enfim, a escória em geral, que serviram como modelo aos negros escravos (outra parte significativa da formação socioantropológica brasileira), que ao serem libertos, seguiram o exemplo de seus senhores.
	Digo crença, por não ter conhecimentos de bases sólidas que sustentem essa afirmação. Acredito mais no sentimento antilusitano predominante no final do século 19 e em ser uma desculpa procurando justificar nossas mazelas como disseminadores desta falácia, já que incontáveis autores relatam o grande fluxo migratório com a abertura dos portos em 1822, além da forte presença italiana, alemã e japonesa entre outras, que mais recentemente, têm contribuído de forma decisiva com nossa cultura multifacetada.
	É diante desse quadro confuso que o autor busca uma “modernidade brasileira”.
¹ "Complexo de vira-lata" é uma expressão criada pelo dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues, a qual originalmente se referia ao trauma sofrido pelos brasileiros em 1950, quando a Seleção Brasileira foi derrotada pela Seleção Uruguaia de Futebol na final da Copa do Mundo em pleno Maracanã. O Brasil só teria se recuperado do choque (ao menos no campo futebolístico) em 1958, quando ganhou a Copa do Mundo pela primeira vez. O fenômeno também é referido como vira-latismo ou viralatismo. Fonte: Wikipedia
	Em um primeiro momento, a ideia de modernidade, como vimos no início deste texto, está ligada ao que é estrangeiro, porém, em meados do século XIX, surge a tendência de se valorizar o nacional, mais ainda com uma visão européia. A frase “Retrata-se um índio do tipo “bom selvagem”” foi um esclarecedora quanto aos princípios de nossa literatura. 
	É inegável que em um país majoritariamente rural, as novidades tecnológicas importadas desde o principio até meados do século XX causassem inveja aos nacionais. Afinal, a ausência de produtos manufaturados nacionais, a baixa qualidade e o alto custo dos poucos que existiam, acabou por implantar na memória do povo a ideia de que “o que é bom vem de fora”, o que naturalmente foi transferido para o conceito de cultura e modernidade. Deste modo, boas são a alta costura francesa, as ferramentas alemãs, a precisão suíça, etc.
	Interessante que me deparo sempre, não só neste autor, como em vários, uma “ode” “a capacidade de digerir criativamente o que vem de fora, reelaborá-lo e dar-lhe um cunho próprio que o transforma em algo diferente e novo (Oliven, 1989)”.
	Reputo, opinião minha, esta ideia como uma grande bobagem. Todos os povos que existem atualmente possuem esta capacidade de digerir o novo e integrá-lo à sua cultura. Essa é mesmo uma condição preexistente a sobrevivência de qualquer agrupamento social, a adaptabilidade.
	No texto, o que noto neste elogio a essa pretensa capacidade, é a exaltação ao famigerado “jeitinho brasileiro”, ou seja, a idealização meio romântica da malandragem.
	Muito interessante e digno de nota a observação do autor de que “Intelectuais como Silvio Romero, Euclides da Cunha, Nina Rodrigues, Oliveira Vianna e Arthur Ramos, preocupados em explicar a sociedade brasileira através da interação da raça e do meio geográfico, eram profundamente pessimistas e preconceituosos quanto ao brasileiro, que é caracterizado como apático e indolente, e à nossa vida intelectual, destituída de filosofia e ciência e eivada de um lirismo subjetivista e mórbido”.
	Digo interessante pois, se temos como objetivo repensar nossos conceitos de cultura e modernidade do país, temos que “cortar na carne”, e demonstrar como até intelectuais como os citados viam o “embranquecimento da população” como solução visando o aculturamento da nação. As raízes ocultas do racismo no Brasil têm que ser expostas na busca por nossa identidade.
	A semana de 22 foi de fundamental importância nesse aspecto. As iniciativas de redescoberta do Brasil, as buscas por uma identidade cultural soberana fincaram raízes profundas, que vieram a dar ótimos frutos tais como o Movimento Tropicalista e a Bossa Nova, e continuam a fazê-lo nas artes em geral.
	Porém, é faço uma ressalva quanto ao manifesto regionalista de Gilberto Freyre. 
	Parafraseando, novamente, Nelson Rodrigues, “Toda a unanimidade é burra, e quem pensa com a unanimidade não precisa pensar”.
	A ressalva se deve ao fato de ser o primeiro autor que vejo fazer uma crítica clara ao pensamento do magistral sociólogo. Tentar negar o pensamento conservador e com viés elitista de uma aristocracia rural presente no manifesto, é negar um paradigma fortemente arraigado em toda a intelectualidade brasileira, que, como dizia Joãozinho Trinta, gosta de pobreza. Mas, a virtude está nos meios, de modo que Gilberto Freyre acerta ao afirmar que “uma cozinha em crise significa uma civilização inteira em perigo: o perigo de descaracterizar-se”.
	Temos aqui que separar o joio do trigo. Separar o que é simples poluição cultural, ou ainda, um arremedo de costumes pseudo-modernos do que é realmente criativamente digerido, remodelado e aproveitado. Cito o movimento skin head como exemplo do primeiro, e o Rap nacional, como exemplo do segundo.
	A segunda metade do texto se inicia tendo seu foco no fim da República Velha (1889-1930) e início da Nova (1930), até o ano de 1945, final da Segunda Grande Guerra.
	Um período relativamente curto (56 anos), mas com transformações profundas, e podemos dizer até brutais. No nível internacional temos o início da Guerra Fria, e o mundo se dividindo entre dois pólos de poder, com radicais mudanças nas fronteiras geográficas de incontáveis países, a ascensão e a queda de impérios.
	No Brasil, creio que podemos destacar como uma guinada histórica na nossa cultura e modernidade, a passagem de uma sociedade rural em direção a industrialização.
	Como citado no texto, “desde os primeiros dias de nossa história, temos sido um povo de agricultores e pastores (...), e agora essa nação com ares idílicos próprios das fazendas, caminha a passos largos rumo à urbanização. O discurso de Getúlio Vargas (o pai dos pobres... e mãe dos ricos) em 1943, na inauguração da usina siderúrgica de Volta Redonda, mostra ser irreversível este processo de transformação de uma ideológica agrária para industrial.
	Notei uma ausência incompreensível no texto. Ora, se oautor se propõe a dissertar sobre cultura e modernidade do país, não poderia ter se furtado a dar a importância devida da grande influência que a Guerra Fria representou na formação de nossa cultura.
	Com a bipolarização do mundo entre capitalismo e socialismo, ou seja, Estados Unidos da América do Norte (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), uma massa continental como o Brasil, de importância estratégica para os dois grandes impérios, não poderia passar incólume.
	Os EUA já haviam perdido Cuba para os Soviéticos, e vários outros Estados Latino-Americanos estavam em convulsão, como o Chile, para citar somente um exemplo.
	Assim sendo, perder o Brasil para o outro bloco seria um duro golpe nas pretensões hegemônicas e imperialistas americanas, de modo que foi maciça, inteligente e altamente eficiente o investimento feito pelos EUA para influenciar nossa cultura, empurrando seu “Way of Life” garganta abaixo de nossa sociedade.
	Foi nessa época que se iniciou fortemente a importação dos hábitos e costumes americanos. Walt Disney criou um personagem sob encomenda da CIA para o mercado brasileiro, no caso, o Zé Carioca. Nos cinemas o idioma falado era o inglês e os ídolos eram Clark Gable e Vivian Leigh.
	Essa influência foi aumentando enormemente, tendo seu ápice no golpe militar de 1964, época em que nosso embaixador nos Estados Unidos durante o governo do general Castelo Branco, Juracy Magalhães (1905 - 2001) pronunciou a célebre (e triste) frase “O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”.
	O fato é que esta influencia se impregnou feito um câncer em nossa cultura. Lembro que nos anos 70 era quase impossível ouvir um samba, ou qualquer música nacional em nossas rádios. Essa nova colonização foi tão efetiva que cantores hoje consagrados chegaram a adotar pseudônimos anglo-americanos e a cantar em inglês. Fábio Junior, por exemplo, era Mark Davis e em 1975 emplacou um sucesso estrondoso, “Don’t Let Me Cry” (mas, verdade seja dita, a música era linda, e até hoje sinto saudades daqueles bailinhos), e o Jessé, quem diria, virou Christie Burgh!
	A situação se tornou ridícula a ponte de ter que se promulgar uma lei obrigando as rádios a tocar música brasileira. Curiosamente, foram as gravadoras multinacionais as que deram novo impulso à MPB. Reproduzo abaixo artigo extraído do site http://www.musicaltda.com.br/2014/05/breve-historia-da-industria-da-musica-no-brasil/.
“Na década de 70, durante o Regime Militar, as gravadoras multinacionais desembarcaram contêineres de dólares no Brasil para contratar (a todo custo) os artistas mais populares. Destaque para a Phonogram, líder do mercado em 1973 sob o comando de André Midani, exemplo de executivo da indústria fonográfica que gostava de música e tinha bom senso para o negócio, e que posteriormente ajudou a abrir a Warner no Brasil em 1976.
A Elis estava estourada, assim como a Gal, e as trilhas de novelas, sob a supervisão de Nelson Motta, estavam no topo das paradas. O disco do boneco Topo Gigio, vindo da Itália para as telas da TV Globo, tinha se transformado no disco infantil de maior sucesso da história. Raul Seixas e Tim Maia produziam um hit depois do outro. Alcione já aparecia nas paradas de sucesso como a futura grande dama do samba. O Quinteto Violado, descoberto pelo Roberto Santana, irrompia no Rio e em São Paulo com sua modernidade. Evaldo Braga, ao morrer em um acidente de carro, ocupava as prensas da fábrica. E Odair José “tirava todas as moças deste lugar”.
(Trecho do livro “Música, ídolos e poder”, de André Midani)”
	Temos então a segunda colonização brasileira, uma colonização cultural, cuja exagerada idealização dos Estados Unidos aliada ao complexo de vira-latas dos brasileiros, persiste até hoje.
	Seguindo adiante, temos hoje pela frente um quadro que, em minha opinião, é irreversível: a globalização.
	Antes porem, como destaca o autor, temos um impasse doméstico a discutir: a velha questão do regional x nacional.
	Neste segmento, o pensamento do autor vai plenamente ao encontro do meu. Ora, o país tem dimensões continentais, colonização multinacional e multicultural, um grau de miscigenação raríssimo em outros cantos do mundo, deste modo, falar em homogeneização da cultura ou modernidade é, no mínimo, utópico, se não desnecessário.
	O fato é, que assim como em outros países geograficamente vastos, e as vezes nem tanto, é impossível se conseguir essa unicidade rumo a modernidade. A grande questão que deveria ser discutida nacionalmente é o nosso pseudo-federalismo e a necessidade premente de uma descentralização administrativa que nos libertaria de vez das amarras do século XX.
	Antes de passar a discutir o processo de globalização que o autor aborda no texto, abro uns parênteses sobre o processo de redemocratização em que ele afirma serem “intenso o processo de constituição de novos atores políticos e a construção de novas identidades sociais”, destacando o movimento das minorias.
	Minha enorme decepção ficou por conta da visão do autor em relação ao movimento negro.
	Ele cita, textualmente: “...De fato, os negros têm uma contribuição marcante nas principais manifestações culturais do Brasil, como o carnaval, a música popular, a dança, a culinária, o futebol, as religiões populares, etc.”
	Observe a ligação que o autor faz do negro com samba, comida e futebol, mas onde se encaixa o negro Machado de Assis, o pai da literatura brasileira, nesse contexto?
	Posso citar ainda o heróico abolicionista cearense Francisco José do Nascimento, “O Dragão do Mar”; Dandara dos Palmares, companheira de Zumbi, guerreira pela liberdade do povo negro, caída em batalha em 1694, defendendo o Quilombo dos Macacos; Carolina Maria de Jesus, favelada e catadora de papel, autora do livro Quarto dos Desejos, que vendeu mais de 100 mil exemplares; André Rebouças, abolicionista e uma das maiores autoridades, à época, em engenharia hidráulica e ferroviária;
	Nada contra samba, futebol e boa comida, mas citar como exemplo de influência cultural ideias que remetem somente a Pelé, Almir Guineto e feijoada, em um texto que pretende discutir cultura e modernidade, é, para dizer o mínimo, perpetuação de preconceitos.
	Finalizando o texto, o autor destaca a importância crescente do Brasil em um mundo em um inevitável processo de globalização e a nossa gritante contradição entre uma crescente modernidade tecnológica e a não realização de mudanças sociais. Apesar de superficial, o texto destaca o contrassenso de uma modernidade técnica que não se coloca a serviço da emancipação humana em um país com a pior distribuição de renda do mundo e sem um horizonte que aponte para mudanças neste panorama.
	Pessoalmente, torço para que um dia Macunaíma não seja inimigo do Batman, mas sim aliados no combate ao crime.
	Roda, roda e vira, solta a roda e vem
Me passaram a mão na bunda e ainda não comi ninguém
(Mamonas Assassinas – Vira-vira)
Hélio da Câmara Paiva

Continue navegando