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maioridade penal

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MARIA DO SOCORRO PEREIRA DO NASCIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS CONSEQÜÊNCIAS PROVOCADAS PELA REDUÇÃO DA MAIORIDADE 
PENAL, CONSIDERANDO A FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
Monografia apresentada como 
exigência à Conclusão do Curso de 
Direito, ofertado pelo Centro de 
Ensino Superior do Amapá -CEAP, 
sob a orientação do Prof. Agnaldo 
Alves Ferreira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
MACAPÁ 
2008 
 
 
2
 
 
MARIA DO SOCORRO PEREIRA DO NASCIMENTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
AS CONSEQÜÊNCIAS PROVOCADAS PELA REDUÇÃO DA MAIORIDADE 
PENAL, CONSIDERANDO A FALÊNCIA DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 
Orientador 
 
 
 
 
Membro 
 
 
 
 
Membro 
 
 
 
 
 
 
Apresentado em: ____/____/____. 
Conceito: ______. 
 
 
MACAPÁ 
2008 
 
 
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Dedico este estudo aos meus filhos Gille 
Simonne, Gilmário e Germânio, que 
entenderam meus motivos e seguem meus 
ensinamentos, e a Ighor Gabriel, Victor 
Luccas e Henrique Nascimento, pequenas 
estrelas em forma de netos, bálsamo para 
minha existência. 
 
 
4
 
 
 
 AGRADECIMENTOS 
 
 
 
Aos meus filhos Gille Simonne, Gilmário e Germânio, pela 
compreensão durante as ausências. 
Ao Professor e orientador Agnaldo Alves Ferreira. 
Aos meus ilustres amigos e colaboradores: Ademir Alves de Sousa, 
Fabrício Sena, Francisca Carvalho de Albuquerque e Perpétua Campos Mourão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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¨A maneira mais segura, porém ao mesmo 
tempo mais difícil de tornar os homens 
menos propensos à prática do mal, é 
aperfeiçoar a educação¨. 
 Cesare Beccaria 
 
 
6
 
 
RESUMO 
 
 O objetivo deste instrumento acadêmico é contribuir com as discussões 
polêmicas existentes em relação às propostas de Emenda à Constituição Federal, 
que tratam da redução da maioridade penal, de dezoito para dezesseis anos de 
idade, que estão sendo analisadas pelo Poder Legislativo. Aborda-se a situação em 
que vivem os detentos do Instituto de Administração Penitenciária do Amapá – 
IAPEN, na cidade de Macapá, Estado do Amapá, considerando a decadência do 
sistema prisional brasileiro, bem como as dificuldades e as contradições dos 
programas de ¨ressocialização¨ aplicados aos detentos que ali se encontram 
trancafiados nos muros da insensatez, à disposição da Justiça deste Estado. 
 
 
Palavras-chave: Redução da maioridade penal; Sistema prisional; Sistema prisional 
brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................09 
CAPITULO I - MAIORIDADE CIVIL ........................................................................12 
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA.....................................................................................12 
1.2 ACEPÇÃO JURÍDICA DO TERMO PESSOA......................................................13 
1.2.1 Pessoa natural.................................................................................................14 
1.2.2 Personalidade jurídica....................................................................................14 
1.2.3 Estado da pessoa humana.............................................................................14 
1.3 CAPACIDADE......................................................................................................15 
1.3.1 Capacidade de direito e capacidade de fato.................................................15 
1.4 INCAPACIDADE..................................................................................................16 
1.4.1 Incapacidade absoluta....................................................................................17 
1.4.2 Incapacidade relativa......................................................................................17 
CAPÍTULO II – O CÓDIGO CIVIL DE 2.002..............................................................18 
2.1 NOÇÕES HISTÓRICAS.......................................................................................18 
2.2 ALTERAÇÕES DA MAIORIDADE EM RELAÇÃO AO CÓDIGO CIVIL DE 
1.916...........................................................................................................................19 
CAPÍTULO III - MAIORIDADE PENAL......................................................................21 
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO........................................................................................21 
3.2 A MAIORIDADE PENAL À LUZ DO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO.........22 
3.3 IMPUTABILIDADE PENAL...................................................................................22 
3.4 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA (LEI NO. 8.069/90)....23 
3.4.1 Das Medidas Sócio-Educativas......................................................................24 
3.4.2 Das Medidas Especificas de Proteção..........................................................26 
3.5 LEI DE EXECUÇÃO PENAL – LEP (LEI Nº 7.210/84).........................................27 
3.5.1 Os tipos de Estabelecimentos Penais...........................................................27 
3.5.2 Aspectos relevantes sobre o Instituto de Administração Penitenciária do 
Estado do Amapá – IAPEN......................................................................................29 
3.6 DIREITO ESTRANGEIRO....................................................................................30 
3.7 PROPOSTAS DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO FEDERAL (PEC´S)...............31 
3.8 CORRENTES CONTRÁRIAS E CORRENTES A FAVOR DA REDUÇÃO DA 
MAIORIDADE PENAL ...............................................................................................33 
 
 
8
 
 
3.9 PAPEL DA FAMÍLIA, DA SOCIEDADE (INCLUINDO ESCOLA) E DO 
ESTADO.....................................................................................................................37 
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................41 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................45 
ANEXOS ...................................................................................................................47 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
 
Com a promulgação da Constituição Federal Brasileira em 1988, o texto inicial 
nos demonstra que a sua finalidade é instituir um Estado Democrático, destinado a 
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o 
bem-estar, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade 
fraterna, igualitária e sem preconceitos, fundada na harmonia social e 
comprometida, na ordem internacional, com a solução pacífica das controvérsias. 
O art. 227 de nossa Carta Magna, conhecida como ¨Constituição Cidadã¨, 
seus parágrafos e incisos são intocáveis, em decorrência de alegarem direitos e 
garantias individuais que a exemplo do que dispõe o art. 5º do mesmo diploma legal, 
são tidos como ¨cláusulas pétreas¨,que vem a ser a preservação dos princípios 
constitucionais por ela estabelecido, conforme explicitados no art. 60, parágrafo 4º: 
¨Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:¨ 
Inciso IV ¨os direitos e garantias individuais¨. 
Ademais, no art. 227, CF está claramente definido como princípio basilar dos 
pais, da família, da sociedade e do Estado, o desafio de passar da democracia 
representativa para uma democracia participativa, atribuindo-lhes a responsabilidade 
de definir políticas públicas, controlar ações, arrecadar fundos e administrar recursos 
em beneficio de crianças e de adolescentes, priorizando o direito à vida, à saúde, à 
educação ao lazer à profissionalização, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à 
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de 
discriminação, exploração, violência crueldade e opressão. 
Estes princípios e direitos são a expressão da Normativa Internacional pela 
Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, promulgada pela 
Assembléia Geral em novembro de 1989 e ratificada pelo Brasil, mediante voto do 
Congresso Nacional, portanto, passou a integrar a lei e a fazer parte do Sistema de 
Direitos e Garantias, por força do parágrafo 2º do art. 5º da Constituição Federal que 
diz: ¨os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte¨. 
Outro diploma legal criado para atender as necessidades da criança e do 
adolescente, trata-se do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA (Lei nº 
8.069/90). Antes, não existia em nossa legislação uma política voltada às 
 
 
10
 
necessidades dessa massa juvenil, haja vista a Política Nacional de ¨Bem Estar do 
Menor¨ (1964 a 1984) ter cunho assistencialista e paternalista. 
Com o advento do ECA, essa doutrina foi totalmente substituída pela doutrina 
¨sócio-jurdico de proteção integral¨, proposta pela Organização das Nações Unidas e 
firmada pelo nosso país. 
Assim, o processo de reforma constitucional propondo a redução da 
maioridade penal de 18 para 16 anos, deve exigir atenção permanente e vigilância 
constante dos setores organizados da sociedade, a fim de garantir mobilização em 
defesa dos direitos conquistados. 
No decorrer deste instrumento de pesquisa, pretende-se contribuir com as 
discussões em relação às propostas de Emenda à Constituição Brasileira, que 
tratam da redução da maioridade penal e as conseqüências que irão provocar, caso 
essas propostas sejam aprovadas, considerando a falência do sistema prisional em 
diversas unidades da Federação, inclusive no Estado do Amapá. Fato este, 
comprovado através de dados coletados junto ao Instituto de Administração 
Penitenciaria do Amapá - IAPEN, no município de Macapá, o qual foi projetado para 
abrigar 756 (setecentos e cinqüenta e seis) presos, e, hoje encontra-se com mais de 
1.800 (mil e oitocentos), de acordo com o censo penitenciário realizado naquele 
Instituto no ano 2007. 
 No primeiro momento, farei um apanhado histórico da origem da acepção 
maioridade, objetivando compreender melhor o processo evolutivo desse fenômeno, 
levando-se em consideração que o Imperador do Brasil, D. Pedro I, quando 
renunciou o poder, o príncipe herdeiro contava apenas com seis anos de idade. 
Além da acepção da maioridade, será feita abordagem sobre a personalidade 
e a capacidade da pessoa civil, bem como da pessoa jurídica, com base nos 
fundamentos legais. 
Posteriormente, o objetivo será focar a maioridade no âmbito do Código Civil 
de 2002, fazendo um paralelo com o Código Civil de 1916, por este código ter sido 
elaborado em uma época em que o jovem não dispunha das mínimas condições de 
conhecimento, por absoluta inexistência de meios de comunicação que pudessem 
influenciá-los, tais como televisão, internet, etc.., razão pela qual foi considerado 
rigoroso, formal, individualista e patrimonial. 
Ao tratar sobre a redução da Maioridade Penal, essência deste instrumento 
acadêmico, darei ênfase ao Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA, doutrina 
 
 
11
 
suficiente para a garantia dos direitos dos adolescentes em conflito com a lei, 
focando as principais Medidas Sócio-Educativas aplicadas aos maiores de 12 e 
menores de 18 anos, e as Medidas Especificas de Proteção. Será abordado ainda, 
neste capitulo, a Lei de Execuções Penais-LEP (Lei nº 7.210/84), cujo objetivo é 
proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do 
internado, destacando-se os principais tipos de estabelecimentos penais previstos 
na LEP (art. 82 a 104). 
 E por fim, far-se-á, considerações sobre as principais propostas de emenda à 
Constituição Federal; as correntes contrárias e a favor à redução da maioridade 
penal; o papel da Família; da Sociedade (incluindo a Escola) e o papel do Estado. 
Considerando para o feito, o apoio das doutrinas jurídicas de renomados juristas e 
operadores de direito, dentro de uma visão não só legalista, mas, em especial uma 
análise histórica e sociológica do fenômeno da criminalidade envolvendo o infanto- 
juvenil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPITULO I - MAIORIDADE CIVIL 
 
1.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
 
Com base nos anais da História do Brasil, o termo ¨maioridade¨ surgiu quando 
D. Pedro I, após sucessivos conflitos com a crescente oposição liberal e setores da 
elite, abdicou o Trono de Imperador do Brasil em 1831 em favor de seu filho, o 
príncipe Pedro Alcântara, que contava apenas com 06 anos de idade. 
À partir daí, e em cumprimento ao que determinava a Constituição, o Brasil 
passou a ser governado inicialmente por uma Regência Trina Provisória, ainda em 
1831, depois por uma Regência Trina Permanente, eleita pela Assembléia-Geral, 
visto que o príncipe herdeiro (D. Pedro II) era menor de idade. 
Após a renúncia de D. Pedro I, instalou-se uma crise política institucional e a 
única saída de se alcançar a salvação nacional seria conduzir o príncipe ao trono, 
processo este nada fácil, levando-se em consideração a crise institucional instalada. 
A Constituição outorgada em 1824, determinava que para ocupar o trono 
brasileiro o imperador deveria ter 18 anos ou então o país deveria ser governado por 
um príncipe da família imperial de no mínimo 25 anos. Esta disposição foi 
modificada, antecipando-se a emancipação de D. Pedro II para 18 anos, durante o 
Ato Adicional, mas era preciso rebaixar ainda mais. 
O projeto da maioridade foi se tornando realidade. A ala dos progressistas, 
conhecidos como liberais, instituíram uma associação denominada Clube da 
Maioridade, e suas reuniões giravam em torno da melhor forma de se aclamar a tão 
desejada maioridade de D. Pedro II. E foi graças à atuação desse clube que este 
episódio chegou mais cedo. (KOSHIBA, 2006). 
E assim, apesar das divergências políticas entre as alas dos liberais e dos 
conservadores o Senado antecipou a maioridade de D.Pedro II ao proclamá-lo 
imperador aos 14 anos, sendo oficialmente coroado como Imperador do Brasil no dia 
18/07/1841, na cidade do Rio de Janeiro, com quinze anos de idade. Fato este 
denominado ¨golpe parlamentar da maioridade¨. 
Alguns historiadores defendem a idéia de que a maioridade não foi uma 
manobra traiçoeira do parlamento, mas sim um “assentimento” por parte do jovem 
príncipe, que se encontrava pronto e ansioso para assumir o que era seu de direito. 
 O reinado de D. Pedro II foi considerado um dos mais longo governo da 
 
 
13
 
história brasileira,estendendo-se até a proclamação da República, em 1889. 
 
 
1. 2 ACEPÇÃO JURIDICA DO TERMO PESSOA 
 
Antes de adentrar no tema central, Redução da Maioridade Penal, objeto 
deste instrumento acadêmico, faz-se necessário saber o significado da acepção 
jurídica do termo pessoa. Para a doutrina tradicional, o vocábulo "pessoa", indica 
que a palavra vem do latim persona, que, significa a máscara que os atores usavam 
antigamente para que suas vozes pudessem ser ampliadas. 
Na ciência jurídica, a pessoa vem a ser o primeiro elemento da relação 
jurídica, como afirma Giusti (2004). 
Segundo a mesma autora, e com base nos materiais de apoio pesquisados a 
respeito do assunto, analisamos que o termo "pessoa" recebeu três acepções 
distintas, a saber: 
a. acepção vulgar – este tipo torna-se incompatível com a linguagem jurídica, 
porque as pessoas jurídicas não são pessoas consideradas humanas, mas possuem 
uma conotação que lhes dá a conformação de pessoa; 
b. acepção jurídica – esta tem aptidão genérica para adquirir direitos e 
contrair obrigações. Nesta modalidade, existe um sujeito que tem a função de 
exercer a titularidade, podendo tanto ser o homem (pessoa física ou pessoa natural) 
ou um agrupamento de homens ligados a um interesse comum (pessoa jurídica ou 
pessoa coletiva). 
c. acepção filosófica - considera a pessoa como o indivíduo agindo de modo 
consciente na realização da finalidade moral, circunstância esta em que se destaca 
o homem ou uma coletividade no sentido amplo de pessoa. 
Ressalta-se que, na linguagem jurídica, as expressões "sujeito de direito" e 
"pessoa" são semelhantes e desdobram-se em duas realidades fundamentais: os 
seres humanos, denominados pessoas físicas, pessoas naturais, ou ainda pessoas 
de existência visível. E as instituições (públicas ou privadas), denominadas pessoas 
jurídicas, pessoas coletivas, pessoas morais, ou pessoas de existência ideal. 
 
 
 
 
 
14
 
1.2.1 Pessoa natural 
 
O Ordenamento Jurídico Pátrio classifica a pessoa em duas categorias, a 
saber: pessoa natural e pessoa jurídica. Na visão de Diniz (2006 p. 514) ¨toda 
pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil¨, emprega o termo ¨pessoa¨ na 
acepção de todo ser humano, sem qualquer distinção de sexo. 
Como dispõe o art. 2º do Código Civil vigente, a pessoa natural somente 
adquire personalidade depois do nascimento com vida, ou seja, desde que a pessoa 
tenha respirado, tornando-se suscetível de direitos e deveres no âmbito da vida civil, 
concepção essa adotada pela Doutrina Majoritária, bem como pela legislação 
infraconstitucional supracitada. 
Quanto ao fim da personalidade, esta se dá com a morte, como prevê o art. 
6º, CC, tal como dispusera o artigo 10 do Código Civil de 1916, in verbis: "A 
existência da pessoa natural termina com a morte". 
A lei ainda prevê casos especiais, como a morte presumida (ausentes e 
desaparecidos) e a comoriência, que ocorre com a morte simultânea de duas ou 
mais pessoas. 
 
 
1.2.2 Personalidade jurídica 
 
As pessoas jurídicas são entidades sociais que objetivam alcançar um 
determinado propósito, portanto, sujeito de direitos e obrigações, como estabelece o 
art. 40,CC. A personalidade jurídica deriva do registro de seus atos constitutivos nos 
órgãos competentes, razão pela qual não deve ser confundido com os direitos da 
personalidade, pois os direitos da personalidade, como estabelecido no 
ordenamento jurídico, são direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é 
próprio, ou seja, a identidade, a liberdade, a reputação, a honra, a autoria e outros. 
 
1.2.3 Estado da pessoa humana 
 
Com base em fundamentos legais, pode-se afirmar que o estado da pessoa 
natural representa a posição jurídica que ela ocupa no meio social, isto é, seu modo 
 
 
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particular de existir. Esta posição pode se dar de três formas: estado individual ou 
físico; familiar e político. 
Estado individual ou físico: caracteriza-se pela condição física da pessoa 
natural; atinge, portanto, sua capacidade em razão da idade, p.ex.: saúde ou sexo. 
Estado familiar: decorre da posição que o individuo ocupa dentro da entidade 
familiar; dele advém o vinculo conjugal e o parentesco, não havendo qualquer 
distinção quanto à consangüinidade ou afinidade. 
Estado político: advém da posição que a pessoa ocupa em uma sociedade 
politicamente organizada. 
Em síntese, estado da pessoa humana, é a maneira, o modo de ser da 
pessoa no que se refere à idade, sexo, saúde mental, saúde física, etc, intimamente 
ligados à capacidade civil. 
 
 
1.3 CAPACIDADE 
 
Como já observado, qualquer pessoa tem personalidade jurídica, ou seja, 
aptidão para ser sujeito de direitos, sem qualquer discriminação. Porém, nem todas, 
podem exercer por si mesmas os atos da vida civil. Assim sendo, pode-se concluir 
que a capacidade é atribuição de uma pessoa que possui aptidão para contrair 
obrigações e exercer direitos, por si mesma. 
Sob o ponto de vista jurídico todos são igualmente dotados de personalidade 
civil, mas nem todos têm a mesma capacidade jurídica. 
Segundo Diniz, ¨a capacidade é a determinação de um âmbito pessoal de 
validade relacionada com um âmbito material normado¨ (2006, p.513). 
Para ilustrar este conceito, faz-se necessário saber os dois sentidos previstos 
na legislação sobre a capacidade, quais sejam: capacidade de direito e capacidade 
de fato, cujas finalidades veremos a seguir. 
 
 
1.3.1 Capacidade de direito e capacidade de fato 
 
A capacidade de fato ou de exercício, como alguma doutrina denomina, 
representa a aptidão da pessoa para praticar pessoalmente os atos da vida civil. 
 
 
16
 
Assim, embora o ser humano tenha capacidade para ser titular de direitos e 
obrigações na ordem civil, isto não significa a possibilidade de todos, pessoalmente, 
exercerem tais direitos. 
Quanto à capacidade de direito ou de gozo, entende-se que seja aquela que 
representa a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações, sem imposição de 
limitações pelo ordenamento jurídico, garantindo ao cidadão o exercício pessoal 
desses direitos. Ao contrário da capacidade de fato, que fica condicionada a 
requisitos legais que prevejam casos de incapacidade. 
Salienta-se que as pessoas que a lei impõe limitações são classificadas 
incapazes, como prevê os artigos 3º e 4º do Código Civil. Estas pessoas dependem 
de requisitos legais que regulam situações de incapacidade, a exemplo de um 
menor de idade não responde pelos seus atos, necessita de representante legal. 
 
 
1.4 INCAPACIDADE 
 
Levando-se em consideração que toda incapacidade decorre de previsão 
legal, não se incluem como tais eventuais limitações ao exercício de direitos 
provenientes de ato jurídico inter vivos ou causa mortis, assim como a proibição 
legal de se contrair determinados negócios jurídicos. A exceção desta afirmativa, 
destaca-se como exemplo o caso do doador que, gravando o bem doado de 
inalienabilidade, deixará o donatário proibido de dele dispor. Outro exemplo: quando 
se proíbe ao ascendente vender bens ao descendente sem o consentimento dos 
demais descendentes. 
As hipóteses de incapacidade previstas em lei podem ser de dois tipos: 
incapacidade absoluta (art. 3º, CC) ou relativa (art. 4º, CC). O aspecto diferenciador 
de uma e outra está relacionado à idade imatura e às deficiências de ordem física ou 
mental. Tal é a situação do menor, desprovido do discernimento e maturidade para 
fazer seu próprio juízo; do pródigo, que não possui o senso preciso para preservar 
seu patrimônio; do amental, carecedor da faculdade para decidir o que lhe convém.17
 
1.4.1 Incapacidade absoluta 
 
A incapacidade absoluta , conforme previsto no art. 3º do Código Civil vigente, 
é a proibição total para a prática dos atos da vida civil, em razão da presunção 
absoluta de que o sujeito não tem condições para fazê-lo, seja em razão de sua 
imaturidade presumida, de enfermidade ou deficiência mental, seja em razão da 
impossibilidade, ainda que temporária, de discernimento, como preceitua (DINIZ, 
2006). 
 
1.4.2 Incapacidade relativa 
 
Como determina o art. 4º do Código Civil as pessoas relativamente incapazes 
a exercer certos atos, devem ser assistidas ou representadas, ou seja, são àquelas 
que podem praticar, por si, os atos da vida civil, desde que assistidas por quem de 
direito os represente, sob pena de anulabilidade, como determina o art. 171, inciso I, 
do CC. 
 Assim, o mecanismo pelo qual é suprida a incapacidade relativa é a 
assistência de seus representantes legais, ou seja, o negócio é praticado em 
conjunto pelo relativamente incapaz e pelo representante (pais, tutor ou curador). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CAPÍTULO II – O CÓDIGO CIVIL DE 2.002. 
 
2.1 NOÇÕES HISTÓRICAS 
 
Este diploma legal, criado através da Lei nº 10.406, de 10/01/2002, substituiu 
o Código Civil de 1.916, que vigeu durante oitenta e seis anos. Quando da vigência 
desse ordenamento jurídico, o mundo atravessava uma escala de transformações 
em quase todos os setores das atividades conhecidas. No Brasil ocorriam mudanças 
no sistema político, na organização social, no modelo econômico, enfim, na própria 
cultura política e jurídica, hoje em constante dinamismo. 
Mediante estudos realizados sobre este assunto, observou-se que o Brasil 
passou por significativas transformações, tais como: a derrubada das oligarquias, a 
implantação do Estado Novo, tendo como conseqüência a “Era Vargas”, o governo 
desenvolvimentista de Juscelino Kubistchek, o parlamentarismo interrompido de 
Jânio Quadros, que culminou com o Golpe Militar de 1.964, enfim, várias 
transformações cujas conseqüências deu-se com a implantação da ditadura que 
perdurou por duas décadas. 
Constatou-se ainda, que o Código Civil de 1.916 adotava uma forma 
rigorosamente fechada, formal, individual e patrimonial, cuja elaboração deu-se em 
uma época em que o jovem com vinte e um anos de idade não dispunha das 
mínimas e rudimentares condições de conhecimento, por absoluta inexistência dos 
meios de comunicação (jornais, revistas, TVs, rádio e Internet). Acredita-se que o 
legislador tenha adotado o critério biológico para a determinação da idade limite da 
maioridade civil em vinte e um anos, com fundamento de que os fatores ligados à 
pouca experiência e insuficiência mental, eram circunstâncias impeditivas de sua 
plena participação na vida civil. 
Com o advento do novo Código Civil/2002, foi abandonado o rigorismo formal 
e individualista do Código Civil de 1916, para dar lugar a uma concepção voltada ao 
espírito de valorização da pessoa humana, ligado aos aspectos sociais do direito. 
Tais inovações deveram-se mais aos progressos e às ideologias acumuladas 
nas últimas décadas, quando a maior parte das constituições dos países 
contemporâneos ao Brasil passaram a defender a bandeira dos interesses sociais e 
fundamentais como um de seus pilares, a exemplo do que ocorrera com a 
Constituição de 1988, cujo pressuposto principal é a valorização da pessoa humana. 
 
 
19
 
2.2. ALTERAÇÕES DA MAIORIDADE EM RELAÇÃO AO CÓDIGO CIVIL DE 
1.916. 
 
Após a criação do novo código civil, a população brasileira passou a ter mais 
afinidade com as mudanças ocorridas no território pátrio, principalmente porque este 
diploma legal visa a valorização da pessoa humana, preceito intimamente ligado aos 
aspectos sociais do direito, diferentemente do caráter individualista e patrimonial do 
Código Civil de 1.916. 
Esta legislação rigorosa reduziu a incapacidade do jovem maior de 16 e 
menor de 21 anos, em razão de fatores ligados à pouca experiência, e insuficiente 
desenvolvimento mental, circunstância impeditiva de sua plena participação civil, 
conforme já delineado nesta pesquisa. 
As hipóteses de incapacidade absoluta prevista no art. 5º do Código Civil, de 
1916, eram as seguintes: 
Art. 5o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da 
vida civil: 
I - os menores de 16 (dezesseis) anos; 
II - os loucos de todo o gênero; 
III - os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade; 
IV - os ausentes, declarados tais por ato do juiz., 
 
Presume-se que até certa idade o homem não possuía o discernimento 
indispensável ao exercício pessoal dos direitos. 
De acordo com o artigo 6º do mesmo diploma legal, eram relativamente 
incapazes: 
Art. 6o - São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os 
exercer: 
I - os maiores de 16 e os menores de 21 anos; 
II - os pródigos; 
III - os silvícolas. 
 
Desse modo, o menor entre dezesseis e vinte e um anos podia livremente 
praticar os seguintes atos: 
a) servir de testemunha, inclusive em testamentos; 
b) testar; 
c) equiparar-se ao maior nas obrigações resultantes de atos ilícitos; 
d) alistar-se como eleitor, facultativamente entre dezesseis e dezoito anos. 
 
Podia também, o menor entre dezoito e vinte e um anos: 
 
 
 
 
20
 
a) casar (para mulher a idade é de dezesseis anos, conforme artigo 183, XII 
do CC); 
b) requerer pessoalmente e isento de multa o registro de seu nascimento; 
c) pleitear perante a justiça do trabalho, sem assistência de pai ou tutor; 
d) exercer o direito de queixa, renúncia e perdão no Juízo criminal (artigos 
34, 50, par. único, e 52 do Código Penal); 
 
Para muitos operadores de direito, o Código Civil de 2.002 representa mais a 
consolidação de mudanças legislativas e sociais verificadas nas oito últimas 
décadas do que propriamente uma inovação no nosso ordenamento jurídico, a 
exemplo do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Código de Defesa do 
Consumidor, das leis sobre a união estável, dentre outras. 
As inovações com relação à Constituição Federal de 1988, também são 
destacadas e consideradas de grande porte, eis que a família passou a se constituir 
pelo casamento civil ou religioso e também pela união estável. Outras inovações 
assinaladas dizem respeito a alteração do regime de casamento, a possibilidade de 
guarda dos filhos com um dos cônjuges, que detiver condições de criá-los, enfim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21
 
CAPITULO III - MAIORIDADE PENAL 
 
3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
 A maioridade penal, também conhecida como "idade da responsabilidade 
criminal", é a idade a partir da qual o indivíduo pode ser penalmente 
responsabilizado. Esta é a idade em que o jovem torna-se inteiramente responsável 
pelos seus atos, como cidadão adulto. 
 De acordo com o ordenamento jurídico vigente, considera-se alcançada a 
maioridade penal a partir do primeiro minuto do dia em a pessoa completará os 18 
anos. É a regra do art. 10 do Código Penal Brasileiro. 
Essa norma jurídica doravante tratada, encontra-se descrita em três Diplomas 
Legais: 
 1) artigo 27 do Código Penal Brasileiro dispõe: 
¨Os menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos 
às normas estabelecidas na legislação especial¨. 
 
 2) artigo 104 caput do Estatuto da Criança e do Adolescente que prevê: 
¨São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos à 
medidas previstas nesta Lei. 
Parágrafo único – Para efeitos desta lei, deve ser considerada a idade do 
adolescenteà data do fato¨. 
 
 3) e artigo 228 da Constituição Federal: 
¨São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às 
normas da legislação especial¨. 
 
 Como já observado, o legislador adotou o critério biológico, justificando que o 
menor de 18 anos não tem personalidade formada, pois ainda não alcançou a 
maturidade de caráter, por isso acredita-se que a sua incapacidade para 
compreender a ilicitude do comportamento e para receber sanção penal. 
Com relação ao art. 104, ECA é o mesmo preceito constitucional, o que 
significa dizer que o menor envolto em situação de risco sujeitar-se-á às normas 
estabelecidas na legislação especial, cuja aplicação compete ao Juízo da Vara da 
Infância e da Juventude. 
O art. 228, CF, atribui aos indivíduos menores de dezoito anos posição 
jurídica subjetiva de inimputáveis perante o sistema penal brasileiro. Este direito vem 
a ser um direito à não-eliminação de uma posição jurídica. E quando se fala em 
 
 
22
 
direito à não-eliminação de posições jurídicas está patente a interligação com um 
direito fundamental, portanto, a posição que se pretende perpetuar não é qualquer 
posição, mas sim uma posição jurídica fundamental, alicerçada no princípio da 
dignidade humana. No caso especifico da inimputabilidade penal entende-se que 
esta se constitui em um a dimensão particular do direito de personalidade. 
 
 
3.2 A MAIORIDADE PENAL À LUZ DO NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO 
 
O art. 5º do Novo Código Civil diz que a menoridade civil cessa aos dezoito 
anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida 
civil. Já o Código Penal Brasileiro (art. 27), fixou o limite de dezoito anos para que se 
dê à imputabilidade penal, assim considerada a capacidade de entender o caráter 
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. E o Código de 
Processo Penal exige a nomeação de curador para acompanhar o réu menor de 
vinte e um anos durante a persecução penal. 
Resta saber se, em face de redução do limite de idade para atingir a 
maioridade civil, perdura a necessidade de nomear curador ao menor de vinte e um 
anos, conforme exige a lei processual penal, ou se a maioridade no processo penal 
foi reduzida juntamente com a maioridade civil, descabendo, assim, tal exigência. 
Alguns doutrinadores entendem a questão como resolvida, conforme 
expressa Gomes (2007): 
Todos os dispositivos processuais penais que enfocavam o menor de vinte 
e um anos como relativamente capaz foram afetados pelo novo Código 
Civil. Todos têm por base a capacidade do ser humano para praticar atos 
civis e, por conseguinte, processuais. Para o novo Código Civil essa 
capacidade é plena aos dezoito anos. Logo, todos os artigos citados 
acham-se revogados ou derrogados (lei nova que disciplina um 
determinado assunto revoga ou derroga a anterior). 
 
 
3.3 IMPUTABILIDADE PENAL 
 
O modelo brasileiro da imputabilidade dos menores de 18 anos, embora 
tradicional na nossa doutrina, é na atualidade uma decorrência da norma incluída no 
art. 228 da Constituição Federal Brasileira/88. Como já assinalado, o Código Penal 
de 1940, fixou o limite de 18 anos para que se dê a imputabilidade penal, assim 
 
 
23
 
considerada a capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se 
de acordo com esse entendimento. Adotou-se, assim, por razões de políticas 
criminais, o critério biológico, defendendo o pensamento de que o menor de dezoito 
anos seria inimputável, por presunção absoluta de que antes desse limite ele não 
estaria preparado psicologicamente para decidir acerca de condutas ilícitas, 
sujeitando-se à legislação especial, no caso, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente-ECA. 
Para se ter uma idéia, a Lei Federal 6.691/79, que instituiu o chamado 
¨Código de Menores¨ consignava três limites de idade: com quatorze anos o infrator 
era inimputável; de quatorze até dezesseis anos ainda era considerado 
irresponsável, mas instaurava-se um processo para apurar o fato com possibilidade 
de cerceamento de liberdade, e finalmente entre dezesseis anos, o menor poderia 
ser considerado responsável, sofrendo pena. 
Esta legislação reafirmou o teor do Código Penal Brasileiro quando classificou 
o menor de dezoito anos como absolutamente inimputável. 
 
 
3.4 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ECA (LEI Nº. 8.069/90) 
 
Este diploma legal, criado em 1990, instituiu a responsabilidade penal a partir 
dos dezoito anos de idade. Este marco foi estipulado por critérios políticos que se 
articula a um processo de maturação neurológica e psicológica que depende muito 
do ambiente social onde se vive. 
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA tem por finalidade subsidiar 
as discussões das propostas das emendas constitucionais, visto que, antes da sua 
criação não existia em nossa legislação uma política de atendimento que pudesse 
atender integralmente às necessidades de crianças e adolescentes. Hoje, tornou-se 
real a existência de uma política de Proteção Especial que atende as reivindicações 
da sociedade civil organizada em prol dos menores púberes e impúberes. 
 Vale ressaltar ainda que o ECA não se restringe ao menor em situação de 
risco, visa principalmente a proteção integral à criança e ao adolescente. A proteção 
integral há de ser entendida como aquela que abrange as necessidades de um ser 
humano para o pleno desenvolvimento de sua personalidade. Assim, às crianças e 
aos adolescentes devem ser prestadas a assistência material, moral e jurídica, cujo 
 
 
24
 
objetivo, como está expresso, é prevenir o crime e orientar o retorno à convivência 
em sociedade. 
Ademais, toda assistência deve ser, de preferência, ofertada no seio de sua 
família, se possível à biológica (arts. 25 a 27, ECA). Se não for, em uma família 
substituta (arts. 28 a 52,ECA). 
O critério adotado pelo legislador, protegendo a pessoa até os dezoito anos, 
foi baseado no art. 1º da Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela 
Assembléia Geral das Nações Unidas, em 26/01/1989, assinada pelo governo 
brasileiro em 26/01/1990. A responsabilidade penal também encontra respaldo no 
art. 228 da Constituição Federal de 1988, bem como no art. 27 do Código Penal 
Brasileiro. 
Em caso de eventual modificação da idade penal mínima, estará o Brasil a 
descumprir o que foi estabelecido no tratado que se comprometeu a cumprir. E o 
descumprimento implica a responsabilização internacional do Estado violador. 
É oportuno destacar os três sistemas considerados basilares para 
sustentação do Estatuto da Criança e do Adolescente: 
 1. Sistema primário - trata das Políticas Públicas de Atendimento a 
criança e ao adolescente; 
 2. Sistema secundário - cuida das medidas de proteção dirigidas às 
crianças e adolescentes em situação pessoal ou social, enquanto vítimas que têm 
direitos violados; 
 3. Sistema terciário - trata das medidas sócio-educativas, aplicáveis aos 
adolescentes em conflito com a lei que passam à condição de vitimizadores. 
 
 
3.4.1 Das medidas sócio-educativas 
 
 As medidas sócio-educativas vão desde a advertência (Prestação de 
Serviços à Comunidade, Liberdade Assistida, Semi-Liberdade), até a privação de 
liberdade, exigindo-se flagrante ou ordem escrita e fundamentada do Juiz da Vara 
da Infância e da Juventude. Tais medidas são públicas, dadas pela sociedade 
através do Estado; individuais, pois cada sócio-educando deverá receber a medida 
de acordo com a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da 
infração¨(art. 112, § 1º, ECA); não cumulativas, não se somam aritmeticamente no 
 
 
25
 
caso do adolescente cometermais de um ato infracional, porém influenciam na 
medida a reiteração de atos e/ou o grau de violência do ato; e não há uma 
correlação entre o fato e a medida, ou seja, a um ato infracional não se corresponde 
uma quantidade de medida aplicável, isto dá ao juiz, maior liberdade, que pode usar 
critérios mais plásticos podendo-se dizer, mais objetivo. 
 E como determina o art. 3º do ECA, ato infracional é toda ¨a conduta descrita 
como crime ou contravenção penal¨. 
Pois bem, É forçoso indagar: qual a diferença entre prisão prevista no CP e a 
internação descrita no ECA? 
A medida de internação tem uma grande diferença em comparação à prisão 
propriamente dita aplicada ao maior de dezoito anos. A circunstância que distingue 
fundamentalmente uma da outra, segundo Figueiredo (2002) o Juiz Saraiva nos diz 
que esta ação está relacionada com local do cumprimento da sanção. Enquanto o 
maior de idade cumpre pena no sistema penitenciário, onde se misturam criminosos 
de graus de comprometimento e espécies diferentes, a internação aplicável ao 
menor é cumprida em estabelecimento próprio para adolescentes, dentro de um 
programa especial de educação escolar, profissionalização, com assistência 
pedagógica e psicoterápica, tudo em consonância com critérios previamente 
analisados dentro dos padrões internacionalmente definidos. 
Na verdade, a diferença entre a Justiça da Infância e da Juventude e a Justiça 
Penal é puramente de competência de jurisdição, pois ¨elevar¨ adolescentes à 
categoria de ¨presidiários¨ não acrescenta nada no caminho da evolução da 
segurança pública. 
Assim, o ECA privilegia as medidas restritivas de direitos, deixando a privação 
de liberdade para os casos mais graves, permitindo e incentivando a participação da 
família na recuperação dos menores infratores, o que certamente não ocorre no 
regime atinente ao sistema penitenciário. 
Para ilustrar esta pesquisa é de bom alvitre destacar as Medidas Sócio-
Educativas contidas no ECA: 
Art. 112 - Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente 
poderá aplicar ao adolescente as seguintes medidas: 
 I - advertência; 
 II - obrigação de reparar o dano; 
 III - prestação de serviços à comunidade; 
 IV - liberdade assistida; 
V - inserção em regime de semi-liberdade; 
VI - internação em estabelecimento educacional; 
 
 
26
 
 VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI. 
 § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade 
de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. 
 § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação 
de trabalho forçado. 
 § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental 
receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às 
suas condições. 
 
 
3.4.2 Das medidas especificas de proteção 
 
As principais características da Doutrina da Proteção Integral estabelecem 
que é dever da família, da sociedade, da comunidade e do estado restabelecer o 
exercício do direito da criança que é ameaçado ou violado; que a política pública em 
beneficio da criança deve ser descentralizada e focalizada no município, e que as 
crianças já não são mais pessoas incompletas, mas sim pessoas completas que 
possuem a particularidade de encontrarem-se em desenvolvimento.Como 
estabelece art. 101, ECA: 
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade 
competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas: 
 I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de 
responsabilidade; 
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; 
 III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino 
fundamental; 
 IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à 
criança e ao adolescente; 
 V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime 
hospitalar ou ambulatorial; 
 VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e 
tratamento a alcoólatras e toxicômanos; 
 VII - abrigo em entidade; 
 VIII - colocação em família substituta. 
 Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como 
forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando 
privação de liberdade. 
 
Apesar das criticas de alguns juristas em afirmar que o ECA é muito tolerante 
com os infratores, que não intimida os que pretendem transgredir a lei, diríamos que 
o ECA quer proteger a criança excluída socialmente, pois o menor é vitima de uma 
sociedade de consumo desumano e muitas vezes cruel. Daí a necessidade de ser 
tratado e amparado por políticas fortes, e não apenas punido do ponto de vista 
penal. 
 
 
 
27
 
3. 5 LEI DE EXECUÇÃO PENAL – LEP (LEI Nº 7.210/84) 
 
A Lei de Execução Penal – LEP, criada pela Lei nº 7.210/84, tem por objetivo 
efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições 
para a harmônica integração social do condenado e do internado. 
Dentro do sistema prisional brasileiro existem vários tipos de 
estabelecimentos penais, destinados o cada cumprimento de sentença judicial 
(art.82,LEP), os quais passamos a identificar: 
 
3.5.1 Tipos de estabelecimentos penais: 
De acordo com Marcão (2007), os tipos de estabelecimentos penais são os 
seguintes: 
 a) PENITENCIÁRIA – É o estabelecimento penal em que se recolhem às 
pessoas condenadas a pena de privação da liberdade, para que aí as cumpram. 
Conforme os art. 87 e 88 da LEP destinam-se ao condenado à pena de reclusão, em 
regime fechado, que contenha o mínimo de condições necessárias. 
Os condenados serão alojados em celas, pavilhões; suas acomodações 
devem ser edificadas correspondendo às necessidades humanas de aeração, 
insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana. 
Para as mulheres, a penitenciária terá que assegurar acomodações e 
instalações adequadas, distintos, de acordo com a natureza, a idade e sexo, e o que 
dispõe a Constituição Federal/88, em seu artigo Art. 5º, XLVIII e no inciso L - às 
presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus 
filhos durante o período de amamentação. Por isso esse direito previsto tanto na 
LEP (art. 89) como na CF, deve ser obedecido. 
Independente de sexo, a CF, XLIX - assegura aos presos o respeito à 
integridade física e moral, sendo que o Art. 90 refere ao direito de visitação. 
 b) COLONIA AGRÍCOLA, INDUSTRIAL OU SIMILAR - É um tipo de 
estabelecimento, prédio ou local que se destina ao cumprimento, pagamento da 
pena no regime semi-aberto, isto é, lugar onde o condenado e apenado pratica 
atividades agropecuárias, tais como horticultura, piscicultura etc., ou atividades 
fabris, industriais ou manufaturadas (artesanato) pequenos fabricos de peças 
variadas (a exemplo de bolas de couro para futebol), marcenaria, serralheria dentre 
 
 
28
 
outros aprendizados edificadores do reeducando. As acomodações poderão ser em 
cela coletiva, desde que atendidos os requisitos do parágrafo único do art. 88 desta 
LEP. 
 c) CASA DO ALBERGADO - Como prevê o art. 93 da LEP, a Casa do 
Albergado é um tipo de estabelecimento, prédio ou local que possuem acomodações 
e instalações adequadas para ministrar palestras, localizado na área urbana, 
destinado aos detentos que cumpram pena privativa de liberdade, em regime aberto, 
e da pena de limitação de fim de semana. Esses não precisam permanecer em 
tempo integral por se tratar de regime aberto, é um tipo de compromisso que têm em 
comparecer a todas as reuniões que sirvam de orientação sócio-educativa e 
retornarem para pousar nos finais de semana. Não se trata deuma prisão e sim de 
um local de ¨ressocialização¨ do apenado estando ele livre durante a semana para 
trabalhar fora. 
d) CENTRO DE OBSERVAÇÃO - Todo Complexo Penitenciário deveria 
possuir um Centro de Observação, autônomo ou anexo para realização de exames 
gerais tais como, de sangue, de urina ou até mesmo de insanidade mental quando 
necessário, e pesquisas criminológicas. Na falta desse Centro, os Exames poderão 
ser realizados pela Comissão Técnica de Classificação, como estabelece o art. 96 
da LEP. 
 e) HOSPITAL DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO - Aos 
apenados, inimputáveis ou semi-inimputáveis, são destinados, a internação em 
Hospital de custódia ou em tratamento psiquiátrico, obedecendo às condições 
mínimas de ambiente, assim como o clima e espaço adequado (art. 88, par. Único, 
LEP). Todos os internados deverão se submeter ao exame psiquiátrico e a 
tratamento. Quanto ao tratamento ambulatorial deve ser realizado no mesmo local, 
na necessidade de outro local, deve ter dependência médica adequada para recebê-
lo, por questão de segurança. 
 f) CADEIA PÚBLICA - O Art. 102 da LEP é explícito ao afirmar que as 
cadeias públicas são destinadas aos presos provisórios, que estão aguardando uma 
decisão quanto ao seu destino, possui cadeias públicas em delegacias, comarcas, 
juizados. Cada local, os presos permanecem por pouco tempo com o intuito de 
atender e resguardar o interesse da justiça. As instalações devem atender as 
exigências mínimas referidas no Art. 88 e seu parágrafo único desta Lei. 
 
 
29
 
Como podemos observar, a Lei de Execução Penal garante a todos os 
apenados/sentenciados estabelecimentos apropriados, conforme as penas que lhes 
foram impostas. Porém, na realidade, o que se vê são amontoados de pessoas 
trancafiadas nas unidades prisionais, as quais não oferecem condições mínimas de 
ressocialização, diante da falta de compromisso e responsabilidade na execução 
dos projetos sociais elaborados para este fim, além de outros fatores que culminam 
para essa realidade. 
 
 
3.5.2 Aspectos relevantes sobre o Instituto de Administração Penitenciária do 
Amapá – IAPEN 
 
O Instituto de Administração Penitenciária do Estado do Amapá, foi criado 
para abrigar, 756 (setecentos e cinqüenta e seis) presos, mas de acordo com o 
censo penitenciário realizado em 2007, totalizam 1.800 (mil e oitocentos), ou seja, 
ultrapassa a população carcerária em 1.044 presos, amontoados sem condições de 
higiene, trocando experiências entre os mais diversificados criminosos ali existentes. 
Esta realidade é fruto de uma sociedade desprovida de programas culturais e 
ambientes saudáveis que estimule o jovem a sentir-se mais motivado para enfrentar 
a vida de forma consciente, e com responsabilidade. 
Com base nesses resultados, questiona-se: Será que a redução da 
maioridade é uma opção plausível, tendo em vista o que acontece nas 
penitenciárias, isto é, pessoas (detentos) brigando por um espaço físico, vivendo em 
condições sub-humanas? 
Em nosso Estado a realidade não é diferente, notadamente porque a 
demanda é muito superior à oferta de espaço, ocasionando, por via de 
conseqüência, amontoados de seres humanos. Para se ter uma idéia, em média são 
encaminhados diariamente ao IAPEN cinco detentos, os quais são colocados juntos 
aos demais, independentemente do crime que cometera. E mais, muitos destes 
presos nem deveriam estar ali, mas por razões diversas, alguns em regime 
provisórios continuam encarcerados, em perfeito desrespeito ao regime legal pátrio. 
Vale ressaltar que o custo de um preso no sistema penitenciário amapaense 
está em torno de R$ 1.053,00 (hum mil e cinqüenta e três reais), por mês. Se 
levarmos em conta a total deficiência material que sofre o IAPEN, com tão falada e 
 
 
30
 
repetida falta de recursos, somos obrigados a questionar: de onde virão os recursos 
para ampliar as instalações para abrigar os novos detentos menores de idade? 
A resposta é taxativa: não virão, dar-se-á um “jeitinho” de acomodá-los, 
incentivando a “união” entre os reeducandos, apertando-os em celas pequenas, 
imundas e anti-higiênicas, em total afronta os direitos da dignidade da pessoa 
humana. 
É nesse cenário que se deseja incluir os delinqüentes menores de dezoito 
anos, caso a maioridade penal venha a ser aprovada? Acredita-se que em um 
sistema assim, caótico e ineficaz, a pena não pode jamais significar ressocialização, 
como se apresenta no discurso político do Estado, mas sim a certeza de 
reincidência, posto que dificilmente um condenado que ali permaneça por um 
determinado período conseguirá reabilitar-se para o convívio social saudável, sem 
voltar praticar mais crimes. 
Outro questionamento: De que adianta reduzir os índices de idade para 
efeitos penais se não se buscar reduzir os índices de analfabetismo que vigoram no 
País? Será que ao reduzir a maioridade penal para dezesseis anos, a sociedade 
ficará mais tranqüila e segura? Estaremos livres de novos crimes? Obviamente que 
não, tendo em vista que o efeito será apenas o de prender e punir mais pessoas, 
especificamente os menores infratores. 
A única certeza que se poderá ter dessa medida que prega a redução da 
maioridade penal é de que ocorrerá um aumento significativo do número de 
sentenciados a cumprir pena nos presídios de todo o País, em especial em nosso 
Estado, pois se este adotasse uma política de prevenção eficaz, certamente evitaria 
o “engaiolamento” de pessoas em presídios que retratam a retórica fracassada de 
seus governantes que somente se lembram que o sistema criminal existe quando 
ocorrem fugas ou rebeliões. 
 
3.6 DIREITO ESTRANGEIRO 
 
Como o foco deste trabalho é a redução da maioridade penal, torna-se 
necessário fazer um paralelo com alguns países que adotam legislações específicas 
para evitar a impunidade penal. Na França, por exemplo, a maioridade penal é de 
dezoito anos, mas jovens a partir dos treze e até os dezoito podem ser penalizados. 
 
 
31
 
Na Inglaterra, a maioridade penal é de vinte e um anos para crimes comuns. 
Tratando-se de crimes hediondos o infrator é penalizado a partir dos dez anos. 
Em Portugal o jovem pode ser condenado a partir dos dezesseis anos, o 
mesmo ocorrendo na Argentina, Espanha, Bélgica e Israel. Na Alemanha e Haiti, a 
partir dos quatorze anos. 
O quadro seguinte ilustra o limite para a imputabilidade penal, em crimes mais 
graves em alguns países do mundo. 
 
 Quadro nº 01 
Colômbia 18 anos 
Peru 18 anos 
Brasil 18 anos 
Etiópia 09 anos 
Escócia 08 anos 
Itália 14 anos 
Polônia 13 anos 
Japão 14 anos 
Egito 15 anos 
Estados Unidos Varia conforme a legislação 
estadual. Apenas 13 estados 
fixaram uma idade mínima 
legal, a qual varia entre 6 e 12 
anos. 
Irã 09 para mulheres e 15 para 
homens. 
 Fonte: Elaboração Própria 
 
 
3.7 PROPOSTAS DE EMENDAS À CONSTITUIÇÃO FEDERAL (PEC´s) 
 
De acordo com os termos do art. 356 do Regimento Interno do Senado 
Federal, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania é competente para 
apreciar a matéria sobre as Propostas de Emenda à Constituição nº 18 e 20/1999, nº 
03/2001, 26/2002, 90/2003 e 09/2004, que alteram o art. 228 da Constituição 
Federal/88 para reduzir a maioridade penal. 
 
 
32
 
Além dessas PEC`s existem no Congresso Nacional aproximadamente 50 
propostas de emenda à Constituição-PEC, sob a falsa crença de que essa seria uma 
eficiente medida no combate à criminalidade no país. Na Câmara, a mais antiga 
PEC tramita na Casa desde 1993, ou seja, há quinze anos. 
As seis PEC´s referidas passaram a tramitar em conjunto no SenadoFederal 
em razão da aprovação do requerimento nº 743/2004, fundamentado no art. 258 do 
Regimento Interno do Senado Federal – RISF. 
De acordo com o voto da Comissão a PEC nº 20/1999, de autoria do Senador 
José Roberto Arruda foi aprovada com a seguinte emenda: 
 
Dê-se ao art. 228 da Constituição Federal, de que trata o art. 1º da Proposta 
de Emenda à Constituição nº 20, de 1999, a seguinte redação: 
 
Art 228. São penalmente inimputáveis os menores de dezesseis anos, 
sujeitos às normas da legislação especial. 
Parágrafo único. Os menores de dezoito e maiores de dezesseis anos: 
 
I - somente serão penalmente imputáveis quando, ao tempo da ação ou 
omissão, tinham plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de 
determinar-se de acordo com esse entendimento, atestada por laudo técnico, 
elaborado por junta nomeada pelo juiz; 
II – cumprirão pena em local distinto dos presos maiores de dezoito anos; 
III – terão a pena substituída por uma das medidas sócio-educativas, 
previstas em lei, desde que não estejam incursos em nenhum dos crimes 
referidos no inciso XLIII, do art. 5º, desta Constituição. 
 
 
 Eis as PEC´s analisadas pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania 
de Justiça do Senado Federal: 
 
 - PEC nº 18/1999, prevê que nos casos de crimes contra a vida ou o 
patrimônio cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, são imputáveis os 
infratores com dezesseis anos ou mais de idade; 
 - PEC nº 20/1999, torna imputáveis, para quaisquer infrações penais, os 
infratores com dezesseis anos ou mais de idade, com a condição de que, se menor 
de dezoito anos, seja constatado seu amadurecimento intelectual e emocional; 
(Autoria: Senador José Roberto Arruda); 
 - PEC nº 03/2001, também torna imputáveis, para quaisquer infrações 
penais, os infratores com dezesseis anos ou mais de idade, com a condição de que, 
se menor de dezoito anos, seja constatado seu amadurecimento intelectual e 
emocional e o agente seja reincidente; 
 
 
33
 
 - PEC nº 26/2002, estabelece que os maiores de dezesseis e os 
menores de dezoito anos de idade são imputáveis, em caso de crime hediondo ou 
qualquer crime contra a vida, se ficar constatado, por laudo técnico elaborado por 
junta nomeada pelo juiz competente, a capacidade do agente de entender o caráter 
ilícito de seu ato; 
 - PEC nº 90/2003, torna imputáveis os maiores de treze anos em caso 
de prática de crime hediondo; 
 - PEC nº 09/2004, prevê a imputabilidade para o menor de dezoito anos, 
desde que tenha praticado crime hediondo ou de lesão corporal grave e seja 
constatado que possui idade psicológica igual ou superior a dezoito anos, com 
capacidade para entender o ato ilícito cometido e determinar-se de acordo com esse 
entendimento. 
O assunto da redução da maioridade penal voltou a ser destaque quando 
ocorreu a morte atroz do garoto João Hélio, de seis anos, após ser arrastado por 
sete quilômetros nas ruas do Rio de Janeiro no dia 08/02/2007, cujos acusados 
envolveram menores de idade. 
A grande indagação é a seguinte: vale a pena reduzir o limite temporal da 
imputabilidade? E no que a sociedade seria beneficiada ou prejudicada com tal 
medida? 
Sabe-se que o sistema brasileiro, dentre os existentes, é um dos piores, por 
uma série de razões e motivos que não merecem ser analisados neste momento. As 
prisões encontram-se abarrotadas, não se observam as regras mínimas de higiene, 
de espaço, enfim, de dignidade da pessoa humana, limitando-se tais presídios em 
meros depósitos onde se guardam pessoas, com o único objetivo de mantê-las 
longe do convívio social, e com a certeza de que lá não sairão até que suas penas 
sejam integralmente cumpridas. 
 
 
3.8 CORRENTES CONTRÁRIAS E CORRENTES A FAVOR DA REDUÇÃO DA 
MAIORIDADE PENAL 
 
a) Correntes Contrárias: 
As propostas visando à diminuição de responsabilidade penal devem ser 
examinadas com serenidade, buscando atingir todos os aspectos básicos da 
 
 
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questão, sem deixar de considerar as circunstancias individuais e sociais, sem 
perder de vista os valores éticos implícitos na condição humana e as razões pelas 
quais se confere tratamento legal diferente às crianças e os adolescentes. 
Barbato (2004), nos diz que no artigo publicado na Gazeta Mercantil dia 
29/04/2001 ¨A razão para manter a maioridade penal aos dezoito anos¨, o professor 
Dalmo de Abreu Dallari assim afirma: 
 
¨...não há justificativa para que se proceda ao rebaixamento da idade de 
responsabilidade penal. Tal medida seria uma violência ética, sobretudo 
porque, como é publico e notório, na quase totalidade dos casos que são 
divulgados pela imprensa com estardalhaço, os adolescentes infratores são 
pobres¨. 
 
Acrescenta ainda: a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos trará 
mais prejuízos dos que benefícios à sociedade, pois jogará definitivamente no 
mundo da criminalidade adolescentes que, se receberem a aplicação das medidas 
sócio-educativas, inclusive privação de liberdade nas condições previstas em lei, 
estará sendo preparada para a convivência pacifica e respeitosa. 
O ilustre Professor Miguel Reale Junior, durante a Audiência Pública realizada 
em 10/11/1999, na cidade de São Paulo-SP também falou sobre o assunto dizendo: 
 
O mito de que o Brasil está entregue a um alarmante crescimento da 
criminalidade grave praticada por adolescentes não corresponde à 
realidade dos números¨. E diz mais: “no Brasil, não é a pobreza a produtora 
de atos delituosos, mas sim a imensa desorganização social, por isso há 
que se voltar a atenção para as políticas públicas e sociais muito mais do 
que para a resolução de questões dessa grandeza por mera alteração 
constitucional ou legal”. (2001, p. 170) 
 
 
 
 O Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, manifestou-se contra 
qualquer redução na maioridade penal, alegando que ¨o problema não é só social, 
mas advém de um conjunto de fatores¨ Disse ainda que “o Estado não pode tomar 
decisões com base na emoção¨, se ¨a gente aceitar a diminuição da idade para 16 
anos, amanhã estarão pedindo 15, depois para 10, depois para 9, quem sabe algum 
dia queiram punir até o feto se souberem o que vai acontecer no futuro” 
 O governador de São Paulo, José Serra também declarou-se contrário à 
redução da maioridade penal, porém defende o aumento da pena máxima para 
punição de menores infratores, prevista no ECA, de 3 para 10 anos. Na reunião de 
governadores do Sudeste ocorrida em 09/01/2007, Serra incluiu esta idéia entre as 
 
 
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12 propostas que apresentou para reduzir a criminalidade, sendo a pena máxima de 
10 anos “no caso de infrações praticadas com violência ou com grave ameaça à 
pessoa, como estupro e latrocínio”. 
Como podemos observar, os defensores dessas propostas são categóricos 
em afirmar que o problema não está na redução da maioridade, pura e 
simplesmente, argumentam que antes de se pensar na alteração das leis, deveriam 
primar pela efetividade das regras existentes, através da correta e eficaz aplicação 
das diretrizes constantes do Estatuto da Criança e do Adolescente em todos os seus 
níveis, com interligação de sociedade e Estado. Considerar que o adolescente 
causador de ato infracional seja o responsável pela onda crescente da criminalidade, 
com reflexos danosos no seio da população, é um tremendo equívoco. 
Acredita-se que as causas são maiores, complexas e transcendem o 
entendimento mediano da população, que clama por justiça em sua sede de 
vingança, como na época remota da antiguidade onde imperava as regras da 
vingança privada. Isto se deve em grande parte à desigualdade social que assola o 
país, associada à negligência do Estado e à mudançade fatores culturais e 
comportamentais que se inseriram no meio urbano com o advento da modernização. 
Além da extensa gama de instrumentos de cidadania e responsabilização de 
que dispõe o ECA, outro caminho que pode-se perseguir é o do combate à miséria 
e a desigualdade social, seguramente a origem da crescente criminalidade, cujo 
empenho deve partir principalmente de parte do Estado, de modo a reintegrar o 
jovem infrator à sociedade, utilizando-se de ações preventivas, que, como se sabe, 
custa menos aos cofres públicos. 
Acrescenta-se ainda, se o problema fosse à idade, o sistema prisional para os 
maiores de dezoito anos não estaria tão sobrecarregado como se encontra. 
Nesse sentido, independente da delinqüência que o jovem possa ter 
cometido, deve ser oferecida uma segunda chance de reintegração social, passando 
por um processo de sanção sócio-educativa, ao invés de deixá-los sob posição de 
plena responsabilidade criminal aos dezesseis anos, esquecendo-se, assim, os 
direitos que o próprio ECA estabeleceu em seus artigos. 
Por isso, antes de debater a redução da maioridade penal como tratamento 
da insegurança pública, deve-se examinar o motivo pelo o qual esses jovens caíram 
nas malhas do crime, já que como é sabido as crianças nascem puras e desprovidas 
de toda e qualquer maldade. 
 
 
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b) Correntes a favor: 
 Os defensores da redução da maioridade penal, em linhas gerais, consideram 
que: 
• o atual Código Penal brasileiro, aprovado em 1940, reflete a imaturidade 
juvenil daquela época, e que hoje, passados 68 anos, a sociedade mudou 
substancialmente, seja em termos de comportamento (delinqüência juvenil, 
vida sexual mais ativa, uso de drogas), seja no acesso do jovem à informação 
pelos meios de comunicação modernos (televisão, Internet, celular, etc), seja 
pelo aumento em si da violência urbana. Não quer dizer que os adolescentes 
de hoje são mais bem informados que os do passado; 
• que o adolescente de hoje, a partir de certa idade, geralmente proposta como 
16 anos, tem plena consciência de seus atos, ou pelo menos já tem o 
discernimento suficiente para a prática do crime; algumas vezes, este 
argumento é complementado pela comparação com a capacidade (ainda que 
facultativa) para o voto a partir dos 16 anos, instituída pela Constituição 
Federal de 1988. O argumento da votação aos 16 anos é bastante infundado, 
já que nesta idade o adolescente tem voto facultativo e não pode candidatar-
se aos cargos.; 
• que justificar a não redução da maioridade pela não resolução de problemas 
sociais é um raciocínio meramente utilitarista e que a lei deve ser construída 
de forma justa, a fim de inocentar os realmente inocentes e responsabilizar os 
realmente culpados, na medida correta e proporcional em cada caso. 
Os defensores dessa corrente acreditam que o Estatuto da Criança e do 
Adolescente-ECA falha por não punir com a desejável medida os delitos praticados 
pelos adolescentes, fazendo com que, pela sua brandura e condescendência, seja 
estimulada a prática criminosa. A pena que se aplica em casos extremos é a da 
internação em instituições apropriadas por um período de, no máximo, três anos, a 
partir do que o infrator passa a ser encarado sem nenhuma restrição, ou seja, sem 
antecedentes, não importando a gravidade do crime praticado. 
Segundo Coutinho (2003), no artigo intitulado "O menor delinqüente", o 
Professor Leon Frejda Szklarowski afirma que “não se justifica que o menor de 
dezoito anos e maior de quatorze anos possa cometer os delitos mais hediondos e 
graves, nada lhe acontecendo senão a simples sujeição às normas da legislação 
especial”. 
 
 
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A questão da maioridade eleitoral é também um dos motivos a que se apega 
a corrente defensora da redução da idade penal. A propósito, o mesmo legislador 
constituinte que concluiu pela maturidade do jovem para escolher um presidente da 
república deixa de considerar o mesmo jovem como responsável pela prática de 
condutas delituosas, enquadrando o menor de dezoito anos como inimputável, tal 
como expresso no artigo 228 da Constituição Federal. 
Diante dessa contradição cometida pelo próprio poder constituinte, muitos 
defensores indagam se seria mais complexo para o jovem de dezesseis anos 
entender toda a importância dos poderes executivo, legislativo e judiciário dentro do 
contexto maior da república, com as funções específicas do processo eleitoral, ou ter 
conhecimento de que atos como matar, roubar, seqüestrar, etc. 
Aos olhos do cidadão comum o processo eleitoral é o mais complicado, daí a 
necessidade da revisão do ponto de vista constitucional no que concerne à 
maioridade penal. Para Junior (2001), o responsável maior pela criação do Novo 
Código Civil, já afirmava, em 1.990, que a necessidade da mudança na área penal, 
relacionando-a com a recente novidade que o legislador-constituinte houvera 
inserido na Constituição de 1.988 ao abreviar a idade eleitoral do brasileiro. 
Ainda pesa contra a atual idade penal o fato de criminosos estarem usando, 
na prática de assaltos seguidos de morte, menores entre quatorze a dezoito anos, 
na certeza de que estes não vão para a cadeia. É comum a imprensa noticiar, em 
escala sempre crescente, a participação de menores em crimes hediondos, desde 
homicídio qualificado, tráfico de entorpecentes, extorsão mediante seqüestro, 
estupro, até latrocínio, quase sempre em concurso com maiores de idade, que lhes 
servem de mentores e aos quais acabam se tornando uma espécie de escudo, na 
medida em que assumem sua parcela de culpa. 
 
 
3.9 PAPEL DA FAMÍLIA, DA SOCIEDADE (INCLUINDO ESCOLA) E DO 
ESTADO 
 
O papel da família não é só ensinar, mas educar. Educar com amor, com 
respeito, dignidade, impondo limites na relação, para que as crianças cresçam com 
base em princípios fundamentais de valorização da vida. 
 
 
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É notório que a criança sofre influência das pessoas que a cercam. Essa 
influência acontece de forma natural, e, geralmente, inconsciente. Para as crianças, 
os adultos são vistos como referenciais que modelam seus comportamentos, e a 
forma como esses adultos agem diante de situações boas, prazerosas ou situações 
difíceis, servem de parâmetro para as crianças conduzirem as suas vidas. 
 Fundamentalmente, o papel da família influencia muito a criança a escolher 
seu futuro, ser um cidadão de bem, dotado de valores. Em muitos casos a falta de 
tempo dos pais causa graves problemas dentro do lar. Alguns não sabem nada 
sobre seus filhos, vivem ausentes de casa, devido as atividades que ocupam fora do 
lar. Outros, não têm tempo para conversar com as crianças. Os filhos também não 
percebem a casa como um lar, apenas moram nela, sem dar importância. 
 A questão da proteção também influencia na formação da criança, pois esta 
atitude deixa os filhos totalmente dependentes, precisando de atenção e ajuda 
constante de outras pessoas, pois não conseguem andar sozinhos. 
Os pais considerados autoritários, dominadores, exigentes ajudam a criar filhos 
impulsivos e agressivos, desenvolvendo neles uma personalidade insegura e 
instável. 
 Enfim, a família, mesmo que esteja desestruturada é considerada o alicerce 
para a garantia de um futuro brilhante e promissor. 
A sociedade tem um papel de grande relevância nesse aspecto, tratando a 
criança com respeito e dignidade, como previsto na legislação especial, e neste 
contexto inclui-se a escola. Sabe-se que o Direito a Educação é um direito de todos, 
está expresso no Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, e na Constituição 
Federal Brasileira, assunto este intimamente relacionado com o adolescente infrator. 
Quando se tratado envolvimento do adolescente em um ato infracional a 
escola possui dois papéis: O primeiro é de caráter preventivo, com a promoção de 
uma cultura de paz e tolerância, por meio de uma sólida formação para os valores. 
O segundo é receber o adolescente que já se tornou um infrator e retorna à vida e 
aos estudos. A atitude básica da escola nesse caso deve ser de inclusão. O sistema 
de ensino precisa se preparar para lidar melhor com esse jovens e os problemas 
que trazem consigo. 
Como frisamos anteriormente, a educação é um direito de todos, sem 
exceção, e o adolescente que tenha um conflito com a lei não pode ser excluído 
dessa realidade. Se olharmos a realidade atual, percebe-se claramente que as 
 
 
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crianças e adolescentes em situação de risco fazem parte da clientela da educação, 
ou seja, professores, diretores, supervisores e orientadores não recebem 
capacitação especifica para lidar com essa clientela. Essa é uma grande falha das 
redes públicas e particulares de ensino, por não acolher o aluno e sua realidade 
familiar, comunitária ou cultural. 
Nesse contexto de extrema exclusão social, observa-se o fenômeno da 
marginalização que é o contingente populacional não integrado, não participante do 
sistema produtivo, e a conseqüência dessa realidade provoca o deslocamento de 
amplas massas humanas do meio rural à procura de melhores condições de vida e 
de trabalho nas áreas urbanas. Com isso, acarreta crescimento demográfico que 
resulta no processo de industrialização e modernidade, razão pela qual a 
marginalidade torna-se uma prática moldadas pelas condições sociais e históricas 
em que os homens vivem. 
Quanto ao papel do Estado na formação do cidadão, sabe-se que o menor 
marginalizado não surge por acaso. Ele é fruto de um estado de injustiça social 
crônico que gera e agrava a miséria em que sobrevive a maior parte da população. 
Na medida em que a desigualdade econômica e a decadência moral foram 
crescendo nesses últimos anos, o número de menores empobrecidos também foi 
aumentando. E a explicação para tudo isso? 
A causa real deste fenômeno acredita-se que vem do próprio modelo 
econômico adotado pelo governo que apresenta um sistema educacional fragilizado, 
com professores desmotivados, em face das condições de trabalho e por políticas 
de remuneração inexpressivas. 
A realidade encontrada pelo menor em casa, também pode contribuir para 
sua inclusão no mundo do crime. Não que todo menor desprovido economicamente, 
necessariamente tenha que se envolver com a criminalidade, mas é forçoso 
asseverar que diante das condições precárias vivenciadas em casa, o menor possa 
se ver tentado a praticar os chamados atos infracionais na busca da satisfação de 
seu desejo através de um bem material, por exemplo. 
Sob os aspectos sociológicos, percebe-se que o menor é vitima de uma 
sociedade de consumo desumana e muitas vezes cruel, razão pela qual precisa ser 
tratado e amparado por políticas sociais fortes e não apenas punido do ponto de 
vista penal. Cabe ao Estado, responsável pela elaboração e aplicação das leis, 
chamar para si a responsabilidade pelo crescimento do número de menores 
 
 
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infratores, e certamente perceberá a flagrante omissão e a total falta de políticas 
sociais que propiciem condições dignas às famílias de menor poder aquisitivo. 
E mais, que a vida social requeira mais do que qualquer lei punitiva, exige 
solidariedade, fraternidade e igualdade de oportunidade para todos. 
Portanto, cada segmento necessita fazer a sua parte, a família com o papel 
basilar, a sociedade (inserindo a escola), e principalmente o Estado que 
fundamentalmente possa criar programas sociais sérios que garantam moradia, 
saúde, educação e trabalho, ou seja, políticas de inclusão séria, eficientes, capazes 
de envolver a grande massa dos desfavorecidos. Assim, evita-se que um grande 
número de adolescentes sejam encarcerados dentro de um sistema prisional que 
intensifica a cada dia os problemas que os levaram para lá. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Há quem argumente que a redução da maioridade seria plenamente 
justificável em face da capacidade de entendimento do menor de dezesseis anos, 
pois, a ele é dado o direito de votar. Tal argumento não merece respaldo, pois além 
do fato de o voto para eles não ser obrigatório, também estão sujeitos às medidas 
do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, inclusive à medida máxima da 
internação, que equivale à prisão para os adultos. 
Defender a postura de redução da maioridade penal de dezoito para 
dezesseis anos, é andar na contramão da história, pois se sabe da falência do 
sistema prisional brasileiro. As pessoas pouco informadas, que tendem a defender a 
redução, e isto o fazem impulsionadas pelo calor dos acontecimentos, por mero 
casuísmo, com sede de vingança, deveriam examinar com atenção quais seriam as 
medidas mais justas para conter a criminalidade. 
Conforme noticiários dos telejornais, os dois maiores grupos de criminosos 
que atualmente aterrorizam as maiores cidades do Brasil nasceram dentro de 
nossos presídios: o Comando Vermelho, no Rio, e o Primeiro Comando da Capital, 
em São Paulo. Isso reforça a idéia da ineficiência dos nossos presídios para a 
recuperação ou ressocialização dos criminosos, pois dificilmente um condenado que 
ali permaneça por um determinado período conseguirá reabilitar-se para o convívio 
social, sem praticar mais crimes. 
No contexto deste trabalho, analisamos as duas correntes que se posicionam 
de maneira sólidas, argumentadas e patrocinadas por juristas renomados no cenário 
penal brasileiro quanto as propostas de emendas à Constituição. Aqueles que 
defendem a redução alegam que o jovem com dezesseis anos já se encontra 
maduro em todos os sentidos, de modo a entender claramente o caráter ilícito de 
sua conduta e a determinar-se de acordo com esse entendimento. Outros entendem 
que o amadurecimento ainda não é pleno e que a redução da idade penal traria um 
retrocesso, pois, o sistema penitenciário aplicado ao maior de dezoito anos é ainda 
arcaico e rudimentar. 
Questiona-se: Se o menor hoje com dezesseis anos tem o senso de 
discernimento mínimo para saber com segurança o que é uma ilicitude, e o mais 
importante, reconhecendo o caráter errado de sua atuação (matar, roubar, estuprar, 
etc.), saber que tais atos lhe sujeitará a ir para a cadeia? 
 
 
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Diante dos avanços verificados na sociedade e do progresso intelectual vivido 
pelo jovem com dezesseis anos, não há dúvida que a resposta é afirmativa, 
principalmente levando-se em consideração que nessa idade, é permitido exercer o 
direito soberano do voto. No entanto, existe um grande abismo entre a aptidão à 
maioridade plena, ou seja, estar apto a assumir a responsabilidade por um crime 
praticado, e a estrutura de que dispõe o sistema penitenciário brasileiro para 
albergar criminosos, hoje corrompido, cruel, e, o que é mais grave, dissociado do 
princípio basilar do estado de direito. 
Nesse sentido, a idade penal não deve ser reduzida enquanto existir a atual 
estrutura, pois como já ocorre com os criminosos, a cadeia de hoje, longe de cumprir 
com sua função ressocializadora, funciona como uma espécie de escola para 
formação de delinqüentes. Inserir nessa estrutura menores de dezoito anos seria 
uma agressão à sociedade e um retrocesso às funções do Estado que em última 
análise tem o dever constitucional de prover o bem estar e a dignidade da pessoa 
humana, princípios, excessivamente enfatizados e valorizados no novo Código Civil. 
A

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