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DIREITO PENAL IV PROF. NELISSE JOSINO nelissejosinof@gmail.com 99919-1925 PECULATO Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. TOPOGRAFIA DO ARTIGO - peculato-apropriação: previsto na 1ª parte do caput do art. 312. É o denominado peculato próprio. - peculato-desvio: previsto na 2ª parte do caput do art. 312. É também chamado de peculato próprio. - peculato-furto: previsto no § 1º do art. 312. É chamado de peculato impróprio. - peculato-culposo: § 2º do art. 312. PECULATO APROPRIAÇÃO Em que se consubstancia a ação nuclear típica do crime? No verbo apropriar. Assim como no crime de apropriação indébita, o agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público ou particular, e inverte esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse, isto é, consome-o, aliena-o etc. Então, qual a diferença do crime de peculato do crime de apropriação indébita? No peculato o agente tem a posse em razão do cargo (ratione officii), isto é, o agente é funcionário público, e em razão do ofício exerce a posse sobre bens públicos ou particulares que lhe são confiados. Se o funcionário público não tiver a posse do bem em razão do cargo, como fica a situação? Peculato-desvio É o denominado peculato próprio. Está previsto na segunda parte do caput do art. 312. Aqui o agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei, agindo em proveito próprio ou de terceiro. É possível a ocorrência de peculato desvio em relação a dinheiro? Sujeito Ativo: Somente o funcionário público e as pessoas a ele equiparadas legalmente podem praticar o delito em estudo. Se um particular pratica uma subtração de bens da Administração Pública, juntamente com o funcionário público? Circunstâncias incomunicáveis Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Sujeito Passivo? Elemento Subjetivo: Dolo. Consumação: Crime Formal ou Crime Material? Tentativa: É possível? A apropriação de bens particulares por funcionário público configura que crime? Configura o peculato-malversação. PECULATO-FURTO É o denominado peculato impróprio. Em que consiste esse tipo de peculato? Estamos agora diante de um crime de furto, só que praticado por funcionário público, o qual se vale dessa qualidade para cometê-lo. A condição de funcionário, na espécie, não é causa, mas ocasião para o crime. Aqui o agente não tem a posse ou detenção do bem como no peculato-apropriação ou desvio, mas se vale da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário público para realizar a subtração. Se o funcionário público subtrai bem da Administração Pública sem se prevalecer da qualidade de funcionário público? Se o funcionário público pratica o peculato furto juntamente com um particular, como fica a situação deste? PECULATO CULPOSO Pune-se aqui o funcionário público que por negligência, imprudência ou imperícia concorre para a prática do crime de outrem. Quem é esse terceiro que ele ajuda? Pode ser um particular ou outro funcionário público. Obviamente o funcionário público somente poderá responder por essa modalidade culposa se o crime praticado por 3º consumar-se. Extinção da Punibilidade E REDUÇÃO DE PENA PARA O PECULATO CULPOSO FATO SENTENÇA IRRECORRIVEL EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE REDUÇÃO DA METADE DA PENA IMPOSTA PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM OU PECULATO ESTELIONATO Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Nesse crime o funcionário induz a vítima a erro? Não. Aqui o funcionário não induz a vítima em erro como no estelionato, mas se aproveita do erro em que ela sozinha incidiu para apropriar-se do bem. Mas, se para isso, o sujeito ativo provocar o erro? Obviamente, não deve o sujeito ativo provocar o erro, pois, se houver induzimento, o crime passa a ser outro: estelionato (art. 171 do CP). Se o próprio funcionário público incida em erro, supondo, por exemplo, que tenha realmente competência para receber determinado pagamento, quando na realidade não o tem? Nessa hipótese, não há falar no crime em tela. Se, contudo, descobrir o engano e, ainda assim, não devolver o bem, aí sim haverá o delito em estudo. Qual o objeto material do crime? Dinheiro ou qualquer utilidade que tenha recebido no exercício do cargo. Deve a utilidade necessariamente ser uma coisa móvel de natureza patrimonial. O agente deve receber o dinheiro no exercício do cargo? Sim. A figura criminosa em estudo somente se configurará se o agente receber o bem no exercício do cargo, pois, do contrário, o crime será outro: apropriação de coisa havida por erro (art. 169, 1ª parte do CP). Sujeito Ativo: Funcionário Público. Trata-se de crime próprio. O particular pode ser partícipe do crime. Sujeito Passivo: - Estado – de forma direta. - Indivíduo que sofreu a lesão patrimonial – de forma secundária. Elemento Subjetivo: Dolo. Consumação: Consuma-se com a apropriação do bem e não com o mero recebimento deste, isto é, no momento em que o funcionário se apodera da coisa, agindo como se fosse, por exemplo, depositar em conta bancária o valor de um imposto pago erroneamente pelo contribuinte. Tentativa: É admissível. Causa de aumento: Tratando-se de funcionário público ocupante de cargo em comissão, função de direção ou de assessoramento em determinadas entidades, aplica-se a causa de aumento de pena prevista no art. 327, § 2º do CP. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. O que tutela esse crime? A regularidade da atividade da Administração Pública, especialmente no que diz respeito ao emprego de verbas ou rendas públicas. Conceito de Rendas e Verbas: Verbas públicas são dinheiros especificamente destinados pela lei orçamentária (dotações) a este ou aquele serviço público ou fim de utilidade pública. Rendas públicas são todos os dinheiros percebidos pela Fazenda Pública ou a este pertencentes, seja qual for a sua origem legal. As verbas destinadas a um serviço não podem ser, total ou parcialmente, aplicadas em outro, As rendas não podem ser empregadas senão mediante determinações legais. OBS.: Nesse crime, o numerário é empregado na própria Administração Pública, na satisfação de interesses públicos, só que em desacordo com as determinações legais. Sujeito Ativo: Crime próprio. É o funcionário público que tem o poder de dispor de verbas ou rendas públicas. Sujeito Passivo: - Estado; - Entidade de direito público prejudicada pelo desvio do numerário. Elemento Subjetivo: Dolo. Consumação: Consuma-se com a aplicação das verbas ou rendas públicas de forma diversa da estabelecida em lei, isto é, com o efetivo emprego irregular das mesmas, sendo prescindível que ocorra dano ao erário. Não basta a simples destinação que não é executada. É preciso, assim, que o serviçopúblico seja executado com as verbas ou rendas irregulares. Tentativa: É possível. Na hipótese em que há mera indicação ou destinação irregular dos fundos públicos, e cuja execução do serviço é impedida por circunstâncias alheias à vontade do agente, corre a tentativa. É possível a alegação da excludente de ilicitude do Estado de Necessidade? O emprego irregular de verbas ou rendas públicas não constituirá crime se presentes os requisitos do estado de necessidade (art. 24 do CP). Assim, não haverá o delito se o desvio de verbas for realizado para evitar danos decorrentes de calamidades públicas como inundações, epidemias, incêndios. O fato, no caso, é típico, mas não é ilícito, ante a presença daquela excludente da ilicitude.