Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 1 Aprendizagem Significativa e Mapas Conceituais: possíveis intervenções no estudo da Genética Meaningful Learning and Conceptual Maps: possible interventions in the study of Genetics Valéria Vieira1-4, Ronaldo Figueiró, Maria da Conceição Vinciprova Fonseca2 , Marcelo Paraiso Alves3 1Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA, Programa de Mestrado em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente – MECSMA; valvibr@yahoo.com.br 2 UniFOA/AEDB/UFF- concyvf@uol.com.br 3 UniFOA/IFRJ-VR/MECSMA, marceloparaiso1@yahoo.com.br 4 UFF – Laboratório Rodolpho Albino, Niterói – Pós-doutoranda em Ensino de Ciências; valvibr@yahoo.com.br Resumo Este é um relato de experiência com foco no processo ensino-aprendizagem, utilizando a Aprendizagem Significativa e os Mapas Conceituais no ensino de ciências. Tal proposta foi aplicada nas aulas de Genética do curso de Biologia do UniFOA - Volta Redonda, RJ, em 2009 /2010, em três turmas, para que os alunos de Genética pudessem utilizar os conceitos elementares da disciplina, obtidos no Ensino Fundamental e Médio, como subsunçores para a compreensão de novos conceitos. Foram utilizadas estratégias como a elaboração de mapas conceituais, construção e exposição de trabalhos interdisciplinares e levantamento e acompanhamento das concepções prévias quanto à referida disciplina. O aprendizado significativo foi promovido com ações didáticas diversas, como seminários, visitas técnicas e estudo dirigido. A opção metodológica foi pesquisa de campo, possibilitando a apreensão dos processos de construção de conhecimentos dos discentes durante as atividades das disciplinas de Genética Básica e Genética Humana do curso supracitado. Palavras-chave: Aprendizagem Significativa; Mapas conceituais; Genética; Abstract This work consists of an experience report focusing on the learning process by means of Meaningful Learning and Conceptual Maps in the teaching of Sciences. The proposal was applied in three Genetics classes in the course of Biology, in UniFOA, Volta Redonda, RJ, in 2009/2010, so that the students could use the basic concepts of the discipline, obtained in elementary and high school, as subsumers for the understanding of new concepts. Strategies used were the making of conceptual maps, elaboration and exhibition of interdisciplinary works and survey and follow up of previous concepts regarding the referred discipline. Meaningful learning was promoted with different didactical actions, as seminars, technical visits and guided study. The methodology used was field research, to make it possible the apprehension of the students’ processes of knowledge construction during the activities in Basic Genetics and Human Genetics classes in the above mentioned course. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 2 Key words: Meaningful learning. Conceptual maps. Genetics. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS A ampliação do debate acerca de um Ensino de Biologia crítico e consoante com as necessidades da sociedade contemporânea necessita estar relacionado a um conjunto mais amplo de reflexões: Será possível ao professor manter junto aos estudantes uma autoridade hierárquica? Na atualidade, é possível manter-se neutro diante de um problema que envolve a adoção de um padrão ético e moral? Dessa forma, cabe pensar em alguns aspectos centrais para o Ensino de Ciências (KRASIILCHIK, 2000): os processos de formação inicial e continuada dos docentes, a produção de materiais didáticos e metodológicos diferenciados com o objetivo de contribuir para a criação e introdução de práticas inovadoras nesta área de ensino (CACHAPUZ, et al, 2005; CARVALHO e GIL-PÉREZ, 1998; FOUREZ, 2003) e, por fim e o que nos interesse neste trabalho, a ruptura com os processos tradicionais de ensino utilizando como referência a aprendizagem significativa. É importante frisar que esta questão está estreitamente ligada aos currículos, pois estes devem refletir as relações entre a ciência, sociedade, tecnologia e meio ambiente. Portanto, a discussão não pode estar desvinculada de valores e sistemas éticos que, por sua vez devem ser pensados em seu diálogo com diferentes situações sociais, culturais e decisões de âmbito nacional e internacional que afetam o futuro da humanidade. Nesse sentido, torna-se relevante articular as pesquisas sobre os diferentes aspectos que compõem o Ensino de Ciências Biológicas e o desenvolvimento de estratégias para inserir a questão sobre a construção do conhecimento científico no quadro de uma proposta curricular com ênfase no processo histórico, social, político e cultural da ciência. 2 METODOLOGIA O escopo metodológico do estudo se desenvolveu a partir de duas ações complementares: Primeiro, a sistematização e organização do trabalho realizado com os discentes. Segundo, o processo de apreensão dos dados, por intermédio dos instrumentos da pesquisa (avaliação dos discentes) e em decorrência a posterior análise. Com relação à sistematização das atividades junto aos discentes cabe salientar que o estudo foi realizado em três turmas de Ensino Superior do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Volta Redonda, mais especificamente com turmas do segundo e terceiro períodos. A sistematização das ações pedagógicas transcorreu através de uma perspectiva Interdisciplinar, por intermédio das seguintes disciplinas: Biologia Molecular, Genética Básica, Bioquímica e Genética Humana. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 3 As referidas ações foram ministradas no segundo período com as disciplinas de Genética Básica e Biologia Molecular, na intenção de construir conceitos comuns básicos referentes a Citogenética e suas bases moleculares. E, no terceiro período, as disciplinas de Genética Humana e Bioquímica, partiram dos conceitos adquiridos no período anterior, para ampliar novos conhecimentos no âmbito do metabolismo e doenças genéticas. No caso específico deste estudo trabalhou-se, aproximadamente, com 20 alunos por turma. No ano de 2009, quando a experiência foi iniciada, a primeira turma (Turma A), era composta de 15 participantes no segundo período, passando a oito discentes no terceiro. As turmas posteriores eram um pouco maiores: a Turma (B) era composta por 35 discentes no segundo período e 28 no terceiro, e a Turma C, 20 e 15 discentes, respectivamente. No início dos semestres, aplicou-se nas turmas de segundo período uma primeira avaliação, com um total de dez questões, que foram respondidas por 70 alunos. Essas questões abordavam conceitos referentes a noções básicas sobre moléculas (PAIVA E MARTINS, 2005). Com relação à metodologia para apreensão dos dados da pesquisa, utilizamos as avaliações realizadas nas disciplinas durante o transcorrer do período das ações pedagógicas mencionadas (2009/2010). A intenção foi captar nas questões das avaliações (MARTINS, 2002) ou na construção dos mapas conceituais (MOREIRA, 1998) o processo de fabricação singular dos referidos alunos. De forma mais específica, buscamos entrelaçar nas avaliações, questões que nos permitissem captar os referidos indícios dos conceitos utilizados pelos discentes como âncoras para novas aprendizagens. É importante salientar que as avaliações na IES mencionada, são elaboradas através das Avaliações Diversificadas (AVD’s): Prova compondo 60% do total da nota e o restante dos 40% com trabalhos, seminários, estudo dirigido, relatório, dentre outros que variavam desde a discussão de artigos em grupoaté a construção de mapas conceituais. REFERENCIAL TEÓRICO Para o professor, o material didático é, em muitos momentos, um elemento mediador do ensino, e, por assumir tal importância, é um instrumento valorizado na prática de ação docente. Pode ser utilizado para facilitar e ampliar as condições de aprendizagem do aluno, colaborando para a transformação social na medida em que favorece a elaboração constante do conhecimento como resultado de experiências interativas, propiciando o crescimento de um cidadão criativo, crítico e produtivo, pronto a enfrentar a vida com mais segurança (BROMEMBERG, 2007). O livro didático não é único material de que professores e alunos vão se valer no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, apesar de profissionais do ensino já ressaltarem a importância na modificação do uso desse material (NETO E FRACALANZA, 2003), é indiscutível sua importância frente a outros recursos. Nessa situação, o surgimento de III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 4 diferentes materiais e metodologias de ensino podem aumentar o interesse do aluno em relação aos conteúdos do currículo escolar. Muitos educadores, preocupados em direcionar suas aulas de maneira contextualizada, incluem em suas práticas ferramentas de ensino que aproximam o aluno do conteúdo científico. De acordo com Fourez (2003), o ensino de Ciências que tem sentido para um aluno é aquele que facilite a compreensão de seu próprio mundo. No decorrer do processo ensino-aprendizagem, quando se enfatizam atividades que favoreçam a espontaneidade do aluno, permite-se que ele construa noções necessárias para a compreensão da ciência. De acordo com Moura e Vale (2002), a pedagogia atualmente utilizada em sala de aula é majoritariamente “conteudista”, ou seja, a preocupação principal é quase sempre a transmissão de conteúdos. Essa pedagogia não considera a realidade do aluno e não se baseia nos conhecimentos que eles trazem para a escola. É a partir desse contexto que optamos em utilizar a Aprendizagem Significativa como forma de romper com uma prática pedagógica tradicional, focada apenas no conteúdo e tendo como centralidade a figura do professor. A opção pela Aprendizagem Significativa se deve à possibilidade que essa teoria tem de lançar as bases para a compreensão de como o individuo constrói os seus significados, aponta os caminhos para estratégias de ensino que facilitem uma aprendizagem que venha a ser efetivamente significativa (TAVARES, 2005). Seguindo os princípios desta teoria, o processo de construção do conhecimento dar-se- á de maneira individualizada, correlacionada a uma aprendizagem prévia e ao repertório cognitivo do discente. Ausubel ressalta a importância da utilização das experiências trazidas por cada estudante, que funcionam como “ancoras” para os conteúdos propostos (GOMES et al, 2009). O conhecimento humano é construído; a aprendizagem significativa subjaz essa construção (MOREIRA et al, 2011). Ela permite a aquisição e o armazenamento de ideias e informações representadas em qualquer campo de conhecimento (MOREIRA et al, 2011), pois incentiva o discente a aplicar o novo conhecimento, valorizando a aprendizagem a partir de significados singulares. Após a relação de consolidação do novo conhecimento pela agregação aos “subsunçores”1 (significados), cria-se um novo e mais abrangente, que, somado a experimentação do estímulo e à interação com o discente, permite a ampliação a probabilidade desse conhecimento significativo para o aprendiz (GOMES et al., 2008). Dentro desse contexto de aprendizagem significativa, destacam-se quatro princípios programáticos de aprendizagem (MOREIRA et al, 201197; GOMES et al., 2008): primeiro, a diferenciação progressiva, que atua por intermédio de conceitos antigos que interagem com 1 O termo subsunçores é definido como a relação de conteúdos, que vão se agregando de forma hierarquizada e mais complexa propiciando tanto a aprendizagem quanto o crescimento cognitivo dos indivíduos (GOMES et al, 2009). III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 5 novas informações, servindo como uma base para a atribuição de novos conhecimentos, progressivamente diferenciados em termos de detalhe e especificidade (antigo e novo). Ausubel propõe esse principio programático a partir de duas hipóteses: segundo a primeira, que é menos difícil o indivíduo conseguir entender os aspectos diferenciados de um todo previamente aprendido do que chegar ao todo partindo de suas partes diferenciadas previamente aprendidas; de acordo com a segunda, a organização de um conteúdo de um corpo de conhecimento na mente de um ser humano é definida como uma estrutura hierárquica, onde as idéias mais inclusivas estão no topo da estrutura, e progressivamente, incorporam proposições, alguns conceitos e fatos menos importantes e mais diferenciados. Segundo princípio é a reconciliação integrativa, que relaciona ideias, conceitos e proposições já existentes na estrutura cognitiva, obtendo como resultado o delineamento de diferenças e a similaridade entre as idéias relacionadas. Terceiro, a organização sequencial, consiste em sequenciar os tópicos ou unidades de estudo, de uma forma coerente e possível, com as relações de dependência existentes na matéria de ensino. Por fim, a consolidação, definida como o princípio em que insiste no domínio do que esta sendo estudado antes que novos materiais (idéias) sejam introduzidos, e assegurando a continua prontidão da matéria de ensino e a alta probabilidade de êxito na aprendizagem organizada. Um aspecto relevante para ser ressaltado no ensino a partir da Aprendizagem Significativa é a possibilidade de desenvolver ações de aprendizagens por meio dos mapas conceituais. Entretanto, cabe frisar que para Moreira (1997) Ausubel “nunca falou de mapas conceituais em sua teoria” (p. 5). De acordo com Moreira (1997), os mapas oferecem princípios facilitadores para a aprendizagem significativa, conforme já ressaltamos, porém não é possível deixar de mencionar que essa metodologia, desenvolvida por Novak (1991-1997), auxilia o aprendiz a organizar suas idéias, servindo como ponte entre os seus antigos conceitos (subsunçores) e os novos conhecimentos. O importante é que o mapa conceitual seja capaz de mostrar significados atribuídos a conceitos e relações entre os conceitos no contexto do conhecimento ou de uma disciplina. Moreira (1997) ainda menciona que embora os mapas conceituais utilizem, em muitos momentos de figuras geométricas, tais procedimentos são irrelevantes, sem significado, apenas servem para dar sentido de direção a determinadas relações. Para Gomes et al. (2009), os mapas conceituais foram desenvolvidos para promover a aprendizagem significativa permitindo a análise do currículo e o ensino sob uma abordagem ausubeliana, em termos de significados implicando algumas condições: 1) identificação da estrutura de significados aceito na matéria de ensino; 2) identificação dos conceitos “âncoras” (significados) relevantes para a aprendizagem da matéria de ensino; 3) identificação dos significados preévios do aprendiz; 4) organização sequencial do conteúdo e seleção de materiais a serem usandos nas ideias de diferenciação progressiva e reconciliação integrativa III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 6 como princípios programáticos; 5) estabelecer o processo ensino-aprendizagem utilizando os organizadores prévios, estabelecendo pontes entre os subsunçorese os conceitos que ele precisaria ter que aprender significativamente. Buscando facilitar a elaboração do mapa conceitual, Tavares (2007) classifica os mapas conceituais em quatro tipos, que servem de auxilio para mostrar as relações significativas entre os conceitos: tipo aranha, tipo fluxograma, tipo Sistema (Entrada e Saída), tipo hierárquico. Embora esse autor retrate alguns modelos de mapas conceituais, não existem regras gerais fixas para a elaboração de um mapa conceitual. O importante é que o mapa seja capaz de evidenciar significados atribuídos a conceitos e suas relações, e que seja elaborado da melhor forma para o ou pelo discente, pois desta maneira consigará explicar o significado das suas relações de conceitos (MOREIRA,1997). De uma maneira geral o mapa conceitual é uma ferramenta facilitadora para a meta- aprendizagem significativa, por tornar mais fácil a compreensão dos conceitos, proporcionando a possibilidade de uma reestruturação cooperativa com o aprendiz para um novo mapa conceitual, obtendo como resultado a habilidade de perceber as generalidades e peculiaridades do tema escolhido, para construir seus próprios conhecimentos (TAVARES, 2007). Como a aprendizagem significativa reforça a atribuição de significados idiossincráticos, vale ressaltar que não existe mapa conceitual único ou correto, que deva servir de modelo e padrão, mas o papel primordial é permitir que o discente mostre evidências de que esta aprendendo significativamente o conteúdo disposto (MOREIRA, 1997). RESULTADOS E ANÁLISE DE DADOS A primeira etapa da avaliação formativa se dispôs a realizar o levantamento do conhecimento prévio (diagnose) dos alunos em relação à temática anunciada (Genética Básica), na tentativa de construir, por intermédio das aulas, visitas orientadas, estudos dirigidos, o conhecimento científico desses conteúdos Dessa forma, aplicamos uma avaliação diagnóstica para levantamento dos conceitos prévios dos discentes adquiridos na Educação Básica relacionados à Genética, e, assim durante o processo de construção do conhecimento haveria uma reelaboração dos conceitos subsunçores para que novos conhecimentos fossem adquiridos durante o curso de Ciências Biológicas. No decorrer desses dois períodos de graduação vários conteúdos curriculares são trabalhados, como: Definições de DNA e RNA, com suas respectivas funções, Divisão Celular (mitose, meiose visando a formação de gametas), expressão gênica, hereditariedade e Projeto Genoma. Baseados nesses conteúdos foi criado um exercício, individual, com questões dez subjetivas, para coletarmos um maior número de informações. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 7 Na segunda etapa foram apresentados aos discentes artigos referentes à Aprendizagem Significativa (MOREIRA, 2000) e a construção de Mapas Conceituais (MOREIRA, 1998), na intenção de fornecer aos alunos, no mesmo momento em que estudavam o conteúdo curricular “Heranças Genéticas” (VOGUEL, 1997; RINGO, 2004), as noções sobre a referida teoria de aprendizagem. Tal conteúdo foi ministrado, e a avaliação nos padrões institucionais foi aplicada. Simultaneamente a referida avaliação, ao longo do semestre, os alunos divididos em grupos construíram durante as aulas, três modelos de um mesmo Mapa Conceitual, cujo tema central foi Herança Genética. A construção deste mapa, no primeiro momento, foi orientada em sala de aula. Os alunos foram instruídos a relacionar os mesmos conceitos que foram discutidos no exercício individual, para levantamento dos conhecimentos prévios, ao tema que estavam estudando no momento, Heranças Genéticas, tornando-o tema central do mapa. O trabalho coletivo teve como proposta utilizar a discussão sobre Aprendizagem Significativa na intenção de trazer a tona o debate acerca da noção sobre mapa conceitual. Nesse sentido, em continuação a essa etapa, foi solicitado que, individualmente, os discentes trouxessem para a aula um novo mapa conceitual, o qual foi discutido sem a intenção de estabelecer parâmetros ou comparações, mas na tentativa de compreender o processo de construção de conhecimento singular dos discentes. Moreira (2011) ressalta que, os mapas oferecem princípios facilitadores para a aprendizagem significativa, pois auxilia o aprendiz a organizar suas idéias, servindo como ponte entre os seus antigos conceitos e novas informações. Assim, posteriormente às leituras dos textos sobre aprendizagem significativa e mapas conceituais, procuramos romper com o paradigma linear da ótica moderna, para tentar auxiliar a construção dos mapas. A tentativa foi partir da ideia de “teia de conhecimentos”, buscando uma perspectiva complexa (MORIN, 2000) que se afasta da concepção de fluxograma para a construção dos mapas, pois esta ótica trabalha ou prioriza uma visão fragmentada e cartesiana. Partindo da perspectiva mencionada – teia de conhecimentos – articulada à teoria da aprendizagem significativa, uma das discentes envolvidas no estudo produziu dois mapas conceituais (figuras 1 e 2 respectivamente), com um bimestre de espaço na construção entre eles. Contudo, o primeiro foi construído em sala com muitas discussões sobre os conceitos e a suas respectivas ligações, e, o segundo, construído em casa depois de reforços teóricos dos III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 8 conteúdos da grade curricular e dos mapas conceituais. Figura 1: Primeiro Mapa Conceitual de Herança Genética Construído. Figura 2: Segundo Mapa Conceitual de Herança Genética. É importante perceber que os conceitos âncoras (Genética, Fenótipo, Genótipo, Hereditariedade, DNA) aparecem nos dois mapas estabelecendo relações com conceitos adquiridos durante o cotidiano das aulas das disciplinas de Genética Básica e Genética Humana. No entanto, no segundo mapa a complexidade dessas relações é maior porque o aluno, provavelmente, se sentiu mais seguro de inserir outros conceitos que havia estudado no decorrer do bimestre. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 9 Analisando as avaliações aplicadas na 1ª etapa percebemos que os alunos possuem a noção do que é genética, do que são os genes, e, já ouviram falar do genótipo. Mas, principalmente, depois das aulas eles compreendem que o conceito de genótipo - o que está “impresso” em nossas células -, e, fenótipo, até então um conceito oculto, seria a manifestação desses genes. Por extensão os alunos realizam a articulação com o conceito de hereditariedade, palavra também conhecida por eles, definida como “características que os filhos herdam dos pais”. Nesta associação mencionada, o aluno além da definição primária de hereditariedade consegue perceber que são adquiridas pelos genes que “em conjunto” formam os gametas. Portanto, a partir dos conceitos ressaltados percebemos que os discentes passam a compreender que os genes se paream em alelos – novo conhecimento - em condições de homozigoto ou heterozigoto – novo conhecimento, o que nos permite perceber que a aprendizagem realizada estabelece um diálogo com a teoria forjada por Ausubel (aprendizagem significativa). Como para o primeiro mapa confeccionado os alunos foram instruídos a relacionar conceitos discutidos no exercício individual, quando na primeira etapa realizou-se o levantamento do conhecimento prévio, esse mesmo exercício foi repetido. As mesmas dez questões subjetivas foram aplicadas a esses alunos posteriormente a construção e apresentação para a turma do segundo mapa conceitual. Foi notória a diferença nos resultado dessas questões,antes e depois dos mapas. Observou-se um melhor desempenho dos alunos em basicamente todas as questões. Vale ressaltar aqui que as palavras-chave dos mapas eram exatamente os tópicos das questões (definições de genótipo e fenótipo, herança, DNA e RNA, entre outros já apresentados). Para a terceira etapa, planejamos diversos trabalhos pela via da interdisciplinaridade, como a leitura de artigos científicos, discutidos e trabalhados pelos professores das disciplinas de Genética, Bioquímica e Biologia Molecular. A Visita Técnica foi outra ação realizada no intuito de permitir uma ótica interdisciplinar, pois oportunizou visitar uma exposição (aula não-formal), ligada ao conteúdo de genética, na cidade de Petropólis, intitulada “Genômica”. Os alunos desta turma (Turma C), ao final do período, organizaram para a IES uma exposição em comemoração ao ano Internacional da Biodiversidade, com apresentação dos trabalhos desenvolvidos juntamente com a disciplina de Biologia Molecular. Essas ações permitiram romper com a perspectiva conteudista, pois os discentes apresentaram conceitos científicos por meio de construções de mapas conceituais com temas centrais relacionados à Genética e a Biodiversidade, além de construção de jogos didáticos e vídeos educativos que abordavam questões sobre constituição de moléculas de DNA, transgênicos, entre outras. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 10 Para os outros alunos da pesquisa que, por uma questão de oportunidade, não puderam visitar a exposição “Genômica”, foi pedido que visitassem, a exposição da Turma C, onde havia uma síntese da referida exposição, além de mostra de trabalhos desta turma, última a ser analisada na disciplina de Genética Humana. CONSIDERAÇÕES FINAIS O comprometimento com o conteúdo curricular presente nas instituições formais de ensino, seja ele básico ou superior, não deve ser encarado como um obstáculo para as renovações didático-metodológica do ensino de Ciências. Diversas estratégias de ensino podem e devem ser instrumentos para o aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem. A experiência aqui relatada não é suficiente para afirmar que essas ferramentas proporcionaram um aprendizado significativo dos conceitos científicos propostos, ou resultaram na substituição das concepções prévias por esses. No entanto, percebe-se, no contato direto com esses aprendizes, a identificação de estímulos que os levam a uma fase embrionária do letramento científico. Analisando o produto dessas metodologias, desde a confecção de mapas conceituais, levantamento e acompanhamento das concepções prévias ou alternativas ao ensino, exposição de trabalhos interdisciplinares, além da vontade de expor este conhecimento aos seus pares, percebe-se, na postura dos alunos, uma preocupação em levantar conceitos corretos para aplicá-los de forma eficiente nas ferramentas pedagógicas propostas, levando-os, desta forma, à compreensão das finalidades destas renovações para o processo de ensino-aprendizagem. Esta experiência de construção do aprendizado pode ser considerada como produtiva e gratificante a todos os integrantes nela envolvidos. REFERÊNCIAS BROMEMBERG, M. C. (2007) - Hiperatividade: O Material Didático e sua Importância. Disponível em <http://www.hiperatividade.com.br/article.php? sid=90>. Acessado em 09 de setembro de 2008. CAHAPUZ, A.; GIL-PEREZ, D.; CARVALHO, A. M. P.; PRAIA, J. E VILCHES, A. (orgs.) (2005) – A necessária renovação do ensino de Ciências. São Paulo: Cortez. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNANBUCO, M. M. (2002) - Ensino de Ciências fundamentos e métodos. São Paulo: Editora Cortez. FOUREZ, G. (2003) – Crise no ensino de Ciências. Investigações em Ensino de Ciências, V8(2), PP 109 – 123. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 11 KRASILCHICK, M. (2000) - Reformas e realidade – o caso do ensino de Ciências. São Paulo: São Paulo em Perspectiva, v. 14, n. 1, p. 85-93. MARTINS, C. M. de C.; TOLEDO, M. I. M. (2002) – Análise dos resultados do sistema mineiro de avaliação das escolas públicas – Resultados de Biologia. SIMAVE. Ago. MOREIRA, M. A. (1997) – Modelos Mentais. Investigações em Ensino de Ciências. 1(3): 123 – 139. ________________ (1998) – Mapas conceituais e aprendizagem significativa. Porto Alegre: Instituto de Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (adaptado e atualizado, em 1997, de Moreira, M. A. Mapas conceituais e Aprendizagem significativa. O Ensino, Pontevadra / Espanha e Braga / Portugal, n. 23 a 28, 1988, PP. 87 – 95). ________________ (2000) – Aprendizagem significativa crítica. Atas do III Encontro Internacional sobre Aprendizagem Significativa, PP. 33 – 45, com o Título original de Aprendizagem significativa subversiva. ________________ (2008) – A teoria da aprendizagem significativa segundo Ausubel. In Aprendizagem significativa: condições para ocorrência e lacunas que levam a comprometimentos – orgs: Elcie Masini & Marco Antonio Moreira – 1 ed. – São Paulo: Vetor. ________________ (2011) – Teorias de Aprendizagem. - 2 ed. ampl. – São Paulo: EPU. MOREIRA, M. A.; CABALLERO, M. C.; RODRIGUEZ, M. L. Aprendizagem Significativa: um conceito subjacente. Actas del Encuentro Internacional sobre el Aprendizaje Significativo, Burgos, Espanha, 1997. MORIN, E. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand, 2000. MOURA, G. R. S. e VALE, J. M. F. (2002) - O Ensino de Ciências na 5ª e na 6ª Séries do Ensino Fundamental. Educação em Ciências, da Pesquisa a Prática Docente (org. Roberto Nardi), São Paulo, Escrituras Editora. NETO, J. M.; FRACALANZA, H. (2003) – O livro didático de ciências: problemas e soluções. Ciência & Educação, Vol. 9, n 2, p 147 - 157 PAIVA, A. L. B.; MARTINS, C.M. de C. (2005) – Concepções Prévias de alunos de terceiro ano do Ensino Médio a respeito de temas na área de Genética. Pesquisa em educação em ciências. Vol. 7 – especial. Dez. RINGO (2004). Genética Básica. Ed. Guanabara Koogan. TAVARES, Romero. Animações interativas e mapas conceituais. XVI Simpósio Nacional de Ensino de Física, 2005, Rio de Janeiro. 2005. III Encontro Nacional de Ensino de Ciências da Saúde e do Ambiente Niterói/RJ, 2012 Campus da Praia Vermelha/UFF Niterói/RJ 12 VOGUEL, M. (1997). Genética Humana: Problemas e Abordagens. Terceira Edição, Ed. Guanabara Koogan.
Compartilhar