Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
GESTÃO DO CONHECIMENTO Caderno de Estudos Prof. Pedro Sidnei Zanchett UNIASSELVI 2016 NEAD Educação a Distância GRUPO CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br Copyright UNIASSELVI 2016 Elaboração: Pedro Sidnei Zanchett Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. 658.4038 Z27g Zanchett; Pedro Sidnei Gestão do conhecimento /Pedro Sidnei Zanchett : UNIASSELVI, 2016. 176 p. : il. ISBN 978-85-7830-959-6 1.Administração da Tecnologia da Informação. I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. APRESENTAÇÃO Prezado(a) acadêmico(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina de Gestão do Conhecimento. A vontade de dominar o conhecimento acompanha a trajetória humana. A chamada era do conhecimento tem provocado mudanças nas organizações e na sociedade como um todo. O conhecimento é a informação da qual o ser humano se apropria, que interpreta, e a partir daí passa a ter novas ideias. A Gestão do Conhecimento (GC) é um fenômeno do fim do século XX e começo do século XXI. Sempre existiu de forma intuitiva nas organizações, mas só agora ela tomou importância devido à competitividade e à globalização. Fatores estes que exigem das organizações uma formalização dos processos de gestão. “A Gestão do Conhecimento (GC) não se aplica, se pratica”; está pautada na coerência e atitude das pessoas, na aprendizagem e compartilhamento das ideias. Para muitos autores, a GC é um ponto importante de confluência entre a cultura administrativa da organização e a tecnologia de informação que esta utiliza. Compreende-se a GC como um processo de criar boas condições às pessoas de um determinado espaço organizacional, para aprender/criar/gerar conhecimento, compartilhar/ socializar conhecimento, bem como usá-lo para atingir objetivos e metas organizacionais, retroalimentando a gestão da informação. O conhecimento passa a ser o principal fator de competitividade da organização no final do último século, quando o mundo todo enfrentava inúmeras mudanças econômicas, sociais e tecnológicas, frutos da globalização, e a concorrência se mostrava cada vez mais acirrada. Hoje, com o desenvolvimento acelerado da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e o encurtamento das distâncias, a disseminação do conhecimento ficou extremamente facilitada. Com a velocidade e a interatividade da internet, o conhecimento pode ser adquirido e disseminado com a mesma velocidade. Basta que se promova um ambiente positivo, em que todos se sintam motivados a aprender e a multiplicar seu conhecimento com a mesma intensidade. Neste sentido, as TICs auxiliam na criação de estratégias baseadas em conhecimento, cujos resultados transformam a organização e se tornam essenciais para ambientes competitivos, dinamizando as relações, os comportamentos e a cultura informacional existente. Contudo, a GC ocorre através de três componentes: pessoas, processos e tecnologia. As pessoas são fontes geradoras de conhecimento, que transformam dados e informações em conhecimento. Os processos referem-se ao fluxo de eventos que descrevem como as coisas funcionam na organização. Quando sistemáticos e efetivos, podem contribuir para a melhoria da produtividade organizacional, rentabilidade, qualidade e crescimento. Já a tecnologia serve iiiGESTÃO DO CONHECIMENTO iv UNI Oi!! Eu sou o UNI, você já me conhece das outras disciplinas. Estarei com você ao longo deste caderno. Acompanharei os seus estudos e, sempre que precisar, farei algumas observações. Desejo a você excelentes estudos! UNI como meio, na medida em que fornece suporte aos processos e às pessoas. Aproveitamos esse momento para destacar que as autoatividades NÃO SÃO OPCIONAIS. O objetivo de cada exercício deste caderno é a fixação de determinado conceito. É aí que reside a importância da realização de todos. Sugerimos fortemente que em caso de dúvida em algum exercício você entre em contato com seu tutor externo ou com a tutoria da UNIASSELVI e que não passe para o exercício seguinte enquanto o atual não estiver completamente compreendido. Por fim, ressalto que, mesmo sendo uma área muito ampla, o caderno de estudos lhe oferece um início sólido e consistente sobre o tema. Desejo a você uma excelente experiência nos estudos dos conteúdos dessa disciplina! Prof. Pedro Sidnei Zanchett GESTÃO DO CONHECIMENTO SUMÁRIO UNIDADE 1 - CONHECIMENTO EXPLÍCITO E TÁCITO, ESPIRAL DO CONHECIMENTO, ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO, SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO, GESTÃO DO CONHECIMENTO ....................................................................................................... 1 TÓPICO 1 - CONHECIMENTO EXPLÍCITO E CONHECIMENTO TÁCITO, ESPIRAL DO CONHECIMENTO, ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO .... 3 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 3 2 CONHECIMENTO EXPLÍCITO E CONHECIMENTO TÁCITO ...................................... 6 3 A ESPIRAL DO CONHECIMENTO ................................................................................ 9 4 ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO ...................................................... 12 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 16 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 18 TÓPICO 2 - A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO ........................................................................................................... 19 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 19 2 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO ......................................................... 22 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 28 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 30 TÓPICO 3 - GESTÃO DO CONHECIMENTO ................................................................ 31 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 31 2 PRÁTICAS RELACIONADAS A PROCESSOS FACILITADORES DA GESTÃO DO CONHECIMENTO ........................................................................................................... 40 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................... 41 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................. 48 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 51 UNIDADE 2 - IMPLANTANDO A GESTÃO DO CONHECIMENTO NAS ORGANIZAÇÕES; TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO, INFRAESTRUTURA E FERRAMENTAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO; INDICADORES E REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO ................................................................... 53 TÓPICO 1 - IMPLANTANDO A GESTÃO DO CONHECIMENTO .................................. 55 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 55 2 CRIAÇÃO DO PROCESSO DE GESTÃODO CONHECIMENTO .............................. 61 3 GESTÃO DO CONHECIMENTO E TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO ..................... 66 3.1 FATORES TECNOLÓGICOS PARA ALAVANCAR O CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL ........................................................................................................ 70 RESUMO DO TÓPICO 1 ................................................................................................. 74 vGESTÃO DO CONHECIMENTO vi AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 76 TÓPICO 2 - INFRAESTRUTURA E FERRAMENTAS PARA A GESTÃO DO CONHECIMENTO ........................................................................................................... 77 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 77 2 PORTAIS CORPORATIVOS ........................................................................................ 78 3 SISTEMAS GESTORES DE CONTEÚDO (SGC) ....................................................... 84 4 COMUNIDADES DE PRÁTICA ................................................................................... 87 5 ENSINO A DISTÂNCIA - EaD ...................................................................................... 91 6 SISTEMA TUTORES INTELIGENTES (STI) ............................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 2 ................................................................................................. 95 AUTOATIVIDADE ........................................................................................................... 98 TÓPICO 3 - FERRAMENTAS PARA A PRÁTICA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO, OS INDICADORES/AGENTES TECNOLÓGICOS E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO ........................................................................................................... 99 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 99 2 OS AGENTES TECNOLÓGICOS E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO ......................................................................................................... 101 3 FORMAS DE REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO ........................................ 102 4 OS INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA GESTÃO DO CONHECIMENTO ........ 105 4.1 O QUE SÃO E PARA QUE SERVEM OS INDICADORES DO CAPITAL INTELECTUAL? ............................................................................................................ 105 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 107 RESUMO DO TÓPICO 3 ................................................................................................110 AUTOATIVIDADE ..........................................................................................................112 UNIDADE 3 - INTELIGÊNCIA COMPETITIVA E GESTÃO POR COMPETÊNCIA. UNIVERSIDADE CORPORATIVA. ONTOLOGIAS, WEB SEMÂNTICAS E SISTEMAS DE HIPERMÍDIA ADAPTATIVA ..................................................................113 TÓPICO 1 - INTELIGÊNCIA COMPETITIVA, GESTÃO POR COMPETÊNCIA E UNIVERSIDADE CORPORATIVA .................................................................................115 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................115 2 GESTÃO DO CONHECIMENTO EDUCACIONAL ORGANIZACIONAL ...................119 3 GESTÃO DO CONHECIMENTO E UNIVERSIDADES CORPORATIVAS ................ 121 LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................................ 123 RESUMO DO TÓPICO 1 ............................................................................................... 125 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 126 TÓPICO 2 - ONTOLOGIAS E WEB SEMÂNTICA ....................................................... 127 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 127 2 METODOLOGIAS DA ENGENHARIA DE ONTOLOGIA .......................................... 131 2.1 METODOLOGIA 101 ............................................................................................... 131 GESTÃO DO CONHECIMENTO vii 2.2 METHONTOLOGY .................................................................................................. 132 2.3 METODOLOGIA KACTUS ...................................................................................... 133 2.4 METODOLOGIA TOVE ........................................................................................... 133 2.5 METODOLOGIA ON-TO-KNOWLEDGE ................................................................. 134 2.6 ONTOKEM .............................................................................................................. 134 3 WEB SEMÂNTICA APLICADA À GESTÃO DO CONHECIMENTO ......................... 138 3.1 WEB SEMÂNTICA PARA REPRESENTAÇÃO DA INFORMAÇÃO ....................... 143 RESUMO DO TÓPICO 2 ............................................................................................... 147 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 150 TÓPICO 3 - SISTEMAS DE HIPERMÍDIA ADAPTATIVA ............................................. 151 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 151 2 CICLO DE VIDA ADAPTATIVO ................................................................................. 153 3 NÍVEIS DE ADAPTAÇÃO .......................................................................................... 155 4 MÉTODOS ADAPTATIVOS ....................................................................................... 155 4.1 MÉTODOS DE CONTEÚDO ADAPTATIVO ............................................................ 155 4.2 MÉTODOS DE APRESENTAÇÃO ADAPTATIVA .................................................... 156 4.3 MÉTODOS DE NAVEGAÇÃO ADAPTATIVA ........................................................... 157 5 TÉCNICAS ADAPTATIVAS ....................................................................................... 157 5.1 TÉCNICAS PARA CONTEÚDO ADAPTATIVO ....................................................... 158 5.2 TÉCNICAS DE APRESENTAÇÃO ADAPTATIVA .................................................... 158 5.3 TÉCNICAS DE NAVEGAÇÃO ADAPTATIVA ........................................................... 159 RESUMO DO TÓPICO 3 ............................................................................................... 161 AUTOATIVIDADE ......................................................................................................... 163 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 164 GESTÃO DO CONHECIMENTO viiiGESTÃO DO CONHECIMENTO G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O UNIDADE 1 CONHECIMENTO EXPLÍCITO E TÁCITO, ESPIRAL DO CONHECIMENTO, ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO, SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO, GESTÃO DO CONHECIMENTO ObjETIvOS DE APRENDIzAGEM A partir desta unidade, você será capaz de: identificar os conhecimentos explícitos e tácitos; conhecer como é gerada a Espiral do Conhecimento; compreender a era do conhecimento, bem como compartilhar o conhecimento; conhecer o que é, e a importância da Gestão do Conhecimento. TÓPICO 1 – CONHECIMENTO EXPLÍCITO E TÁCITO, ESPIRAL DO CONHECIMENTO TÓPICO 2 – SOCIEDADEDO CONHECIMENTO, COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO TÓPICO 3 – GESTÃO DO CONHECIMENTO PLANO DE ESTUDOS Esta unidade de ensino contém três tópicos, e no final de cada um deles você encontrará atividades que contribuirão para a apropriação dos conteúdos. G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O CONHECIMENTO EXPLÍCITO E CONHECIMENTO TÁCITO, ESPIRAL DO CONHECIMENTO, ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 1 O conhecimento é “a capacidade para agir”. Este difere da informação porque é dinâmico, humanístico e contextual. Dinâmico porque vive em constante mutação; humanístico porque ele está nas pessoas e sua transmissão e criação dependem da interação entre elas; e contextual porque a informação que se aplica num momento não necessariamente será aplicada em outro (AZEVEDO, 2005). A diferença entre informação e conhecimento está nas pessoas, porque estas possuem experiências, valores, crenças, know-how e insights que as ajudam a discernir e julgar o uso apropriado da informação. A internet, por exemplo, está repleta de informações, mas o uso da informação capturada na rede depende da capacidade que o usuário tem em combiná-la com suas experiências, crenças, know-how; e também, do entendimento do seu contexto para, então, poder agir. Em suma, quando o usuário dá sentido àquela informação, conseguindo aplicá-la, ele a transforma em conhecimento (AZEVEDO, 2005). UNIDADE 1 FIGURA 1 - DA INFORMAÇÃO AO CONHECIMENTO FONTE: Disponível em: <http://www.blogdaqualidade.com.br/gestao-do- conhecimento/>. Acesso em: 4 jan. 2016. UNIDADE 1TÓPICO 14 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O A citação amplamente aceita é a de Davenport e Prusak (1998), que nos diz: “O conhecimento é definido como sendo uma mistura fluida de experiência condensada, valores e informação contextual, que proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos colaboradores. O conhecimento organizacional é o conhecimento tácito e explícito de cada organização”. NO TA! � A explicação detalhada sobre os tipos de conhecimentos tácitos e explícitos será apresentada ainda neste tópico. A presença do conhecimento na história do ser humano vai além de passagens históricas, ideias ou crenças, e representa o eixo estruturante do desenvolvimento das comunidades, regiões e organizações. A constatação de que a gestão competente do conhecimento é determinante da capacidade de as pessoas lidarem com o ambiente em acelerada transformação e crescente complexidade caracteriza a mudança de valores na sociedade atual (TERRA, 2000). Conhecimento é uma mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e insight experimentado, a qual proporciona uma estrutura para avaliação e incorporação de novas experiências e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos conhecedores. Nas organizações, ele costuma estar embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais (DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p. 6). Para Peter Ferdinand Drucker (1999, p. 100), a gestão relativa a trabalhadores do conhecimento se deve essencialmente à comunicação e à relação entre pessoas de uma organização. Defende que “o saber nasce da interação entre pessoas. Medir o capital intelectual é impossível. É jogar dinheiro fora”. Enfim, para este mesmo autor, os pilares de uma empresa serão modificados: • O significado da produção é o conhecimento, que é propriedade dos trabal- hadores do conhecimento e é facilmente transportável. • Há cada vez mais trabalhadores externos, temporários ou com dedicação parcial. • A concentração do negócio inteiro dentro da empresa não funciona mais, pois o conhecimento necessário para uma atividade é altamente especializado e sai muito caro contratar todos os funcionários que têm um dos conhecimentos UNIDADE 1 TÓPICO 1 5 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O necessários. • Agora o cliente possui a informação. • Restam poucas tecnologias únicas; as indústrias precisam dominar mui- tas tecnologias diferentes, com as quais nem sempre estão familiarizadas (DRUCKER,1999, p. 102). Podemos ser especialistas em uma área, aquela em que possuímos um feeling maior, que conhecemos mais. Porém, existem áreas periféricas ao nosso trabalho onde podemos sobrepor nossos conhecimentos com o de outras pessoas que têm algo em comum em outras áreas de conhecimento. É fundamental criar um elemento de troca de conhecimento com outros profissionais com quem convivemos. É importante ser especialista em um ponto e generalista o máximo possível em todas as áreas que envolvem nossa atuação, só isso cria uma uniformidade na empresa. Para termos novas ideias, sermos criativos e competitivos, a melhor estratégia está na constante troca do conhecimento entre as pessoas e no trabalho em equipe. Nunca devemos guardar, esconder ou adiar nossas competências e habilidades, capacidades inovadoras. Devemos sempre gerar os ativos intangíveis para disseminar a inteligência empresarial antes que outra pessoa ou empresa venha o faça primeiro. Com o incessante avanço da tecnologia, a informação passou a ter um tratamento muito mais cuidadoso do que em tempos atrás, sua difusão e utilização não podem mais depender única e exclusivamente dos seres humanos. Diante disso, muitas novas ciências originaram- se ou transformaram-se a partir de outras já existentes. Em sua tese, Oscar Dalfovo (2007) nos diz que a Gestão do Conhecimento (GC) é uma delas. Ela é utilizada atualmente nas organizações para manusear, transformar, concatenar, aprimorar e difundir informações entre as pessoas que dela fazem uso. Uma vez aprimorada, a informação transpôs várias barreiras no mundo, adquiriu status de negócio, permitindo assim às empresas fazerem uso da mesma sem a necessidade de deslocamentos desnecessários. Diante dessa magnitude alcançada pela informação, tornou-se necessário que as pessoas que a manuseassem tivessem que ser melhor preparadas e treinadas para enfrentar esse novo desafio. Na literatura, dificilmente encontra-se uma única definição formal de Gestão do Conhecimento. Portanto, apresentam-se aqui algumas destas definições e ideias pelos dois mais consagrados autores da área de Gestão do Conhecimento: • Processo através do qual as organizações procuram obter valor a partir de seus recursos intelectuais e de conhecimento. Frequentemente, obter valor destes recursos significa compartilhá-los com funcionários, departamentos e até com outras organizações em um esforço contínuo para obter as melhores práticas (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 80). Os autores ainda afirmam que “Gestão do Conhecimento é o processo sistemático de identificação, criação, renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma organização” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 80). UNIDADE 1TÓPICO 16 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O • É a administração dos ativos de conhecimento das organizações. Permite à organização saber o que ela sabe. De acordo com isso, este ‘conhecimento’ sobre o que a organização sabe e como faz a sua gestão é utilizado para que a mesma alcance seus objetivos propostos (DAVENPORT, 1998, p. 65). Muitos são os fatores que influenciam nesse processo de busca do conhecimento, entre eles pode-se citar a rápida evolução da tecnologia, o acesso aos mercados globais, turbulências dos mercados, como lidar e extrair dados e informações da inteligência competitiva nas organizações etc. No entanto, o objetivo principal por trás de todos esses fatores é a obtenção de alguma vantagemcompetitiva sobre seus concorrentes através da inovação de produtos, serviços e processos. Para os processos de criação/inovação do conhecimento sempre é necessário um ambiente de trabalho que possibilite a colaboração, integração, interação entre todos os participantes, além de um gerenciamento das informações necessárias e daquelas produzidas durante o processo de geração do conhecimento. 2 CONHECIMENTO EXPLÍCITO E CONHECIMENTO TÁCITO A gestão do conhecimento está diretamente relacionada com o que o indivíduo sabe e como ele compartilha esse conhecimento, seja ele tácito ou explícito. O que são esses tipos de conhecimentos? (BASTIANI, 2016). Segundo as definições de Nonaka e Takeuchi (1997, p. 63), os dois TIPOS DE CONHECIMENTOS que uma organização deve levar em consideração são: • Conhecimento Explícito: Aquele que se articula por meio da linguagem for- mal, com afirmações gramaticais, expressões matemáticas, especificações, manuais etc.; sendo facilmente transmitido, sistematizado e comunicado. Ele pode ser transmitido formal e facilmente entre os indivíduos. Esse foi o modo dominante de conhecimento na tradição filosófica ocidental. • Conhecimento Tácito: Resultado do processamento de informações utili- zando-se da intuição e da subjetividade, podendo ser resumido pela palavra “implícito”. Pode não estar expresso claramente, pois o indivíduo usufrui muitas vezes do inconsciente tornando-o consciente, porém podendo ser o pensamento verdadeiro ou não. Este tipo de conhecimento, na maioria das vezes, não é possível de ser documentado ou até mesmo verbalizado, pois é a junção da linguagem expressa, incorporado à experiência individual e envolve fatores intangíveis, como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas, sis- tema de valor, intuições, emoções e habilidades individuais. Não podendo se esquecer dos ruídos que na maioria das vezes existem em qualquer processo de comunicação, o qual pode ter, inclusive, sua interatividade prejudicada por causa disso. Segundo Vanessa Alonso (2016), a classificação e definição do tipo de conhecimento facilita a organização do gerenciamento de competências dentro da organização. UNIDADE 1 TÓPICO 1 7 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O Conhecimento explícito: Já o conhecimento explícito diz respeito aos conhecimentos técnicos que são registrados em algum tipo de material físico, como em um vídeo, em um livro, manual, treinamento (slides), enfim é todo conhecimento que é possível compartilhar através de uma simples ferramenta. Ou seja, conhecimento explícito também poderia ser chamado de informação. Conhecimento tácito: Esse tipo de conhecimento diz respeito à bagagem que a pessoa traz consigo, todo conhecimento adquirido em outras experiências, em universidades, na participação de um curso. É aquele conhecimento que a pessoa só consegue transmitir a outra através da transferência de experiência em um trabalho em grupo, pois é o conhecimento vivenciado, é de fato o que ele sabe e domina na prática. FIGURA 2 - CONHECIMENTO EXPLÍCITO E TÁCITO FONTE: Vanessa Alonso. Disponível em: <http://blog.sucessoclub.com.br/conhecimento-explicito- conhecimento-tacito/>. Acesso em: 4 jan. 2016. O novo conhecimento começa sempre com o indivíduo. Um pesquisador brilhante tem um insight que leva a uma inovação. O sentido de intuição de tendência do mercado de um administrador intermediário torna-se o catalisador para um importante novo conceito de produto. Um operário extrai de anos de experiência uma inovação em um processo novo. Em cada caso, o conhecimento pessoal de um indivíduo é transformado em conhecimento organizacional para a empresa como um todo (BERTON, 2009). Tornar o conhecimento pessoal disponível para os outros é a atividade central da empresa criadora do conhecimento. Isso se dá continuamente e em todos os níveis da organização. E, como o exemplo seguinte apresentado por Nonaka e Takeuchi (2008, p. 43), sugere algumas vezes poder assumir formas inesperadas. Em 1985, o departamento de desenvolvimento de produtos na Matsushita Electric Company, com base em Osaka, trabalhava arduamente em uma nova máquina doméstica para fazer pão, mas tinham problemas em fazer com que a máquina sovasse a massa corretamente: UNIDADE 1TÓPICO 18 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O a crosta do pão ficava excessivamente cozida enquanto o miolo não. Os empregados analisaram exaustivamente o problema. Chegaram até a comparar radiografias de massa sovada pela máquina com radiografia da massa sovada por padeiros profissionais. Não foram, porém, capazes de obter dados significativos. Até que a responsável pelo software, Ikuko Tanaka, propôs uma solução criativa. O Osaka International Hotel tinha a reputação de fazer o melhor pão em Osaka. Por que não o usar como modelo? Tanaka treinou com o chefe dos padeiros do hotel para estudar sua técnica de sovar. Ela observou que o padeiro tinha uma maneira diferente de esticar a massa. Depois de um ano de tentativas e erros, trabalhando juntamente com os engenheiros do projeto, Tanaka apresentou as especificações do produto – incluindo a adição de partes especiais no interior da máquina – que reproduziram com sucesso a técnica de esticar do padeiro e a qualidade do pão que ela aprendera a fazer no hotel. Resultado: o método exclusivo de Matsushita de “torcer a massa” e um produto que em seu primeiro ano estabeleceu um recorde de vendas para um novo equipamento de cozinha. Para melhor demonstrar como o conhecimento se materializa, ou seja, se concretiza, Nonaka e Takeuchi (2008, p. 43, grifos do original) sugerem quatro padrões básicos para a CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO em qualquer organização: 1. De tácito para tácito: algumas vezes, um indivíduo compartilha o conhe- cimento tácito diretamente com outro. Por exemplo, quando Ikuko Tanaka tornou-se aprendiz do padeiro-chefe no Osaka International Hotel, aprendeu suas habilidades tácitas através da observação, imitação e prática. Elas tornaram-se parte de sua própria base de conhecimento tácito. Colocando de outra forma, ela foi “socializada” no artesanato. Isoladamente, a socialização é uma forma bastante limitada de criação do conhecimento. É verdade que o aprendiz aprende as habilidades do mestre. Mas nem um nem o outro ganham insight sistemático no conhecimento de seu artesanato. Como seu conhecimento nunca se torna explícito, não pode ser facilmente alavancado pela organização com um todo. 2. De explícito para explícito: o indivíduo também pode combinar partes dis- tintas do conhecimento explícito em um novo todo. Por exemplo, quando um auditor de uma empresa coleta informação de toda a organização e junta em um relatório financeiro, esse relatório é um novo conhecimento, no sentido de que sistematiza informações de muitas fontes diferentes. Mas essa combinação não amplia a base de conhecimento já existente da empresa. Quando, no entanto, o conhecimento tácito e o explícito interagem, como no exemplo da Matsushita, algo poderoso acontece. É precisamente esta troca entre o conhecimento tácito e explícito que as empresas japonesas desen- volvem bem. 3. De tácito para explícito: quando Ikuka Tanaka é capaz de articular os fundamentos de seu conhecimento tácito sobre fazer pão, ela o converte em conhecimento explícito, permitindo assim que ele seja compartilhado com sua equipe de desenvolvimento de projeto. Outro exemplo é o do auditor que, em vez de meramente compilar um plano financeiro convencional para sua empresa, desenvolve uma abordagem nova e inovadora para o controle orçamentário, baseada em seu próprio conhecimento tácito desenvolvido durante anos em sua função. 4. De explícito para tácito: além do mais, à medida que o novo conhecimento explícito é compartilhado pela organização, outros empregados começama internalizá-lo – isto é, usam-no para ampliar, estender e reformular seu próprio UNIDADE 1 TÓPICO 1 9 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O conhecimento tácito. A proposta do auditor provocou uma revisão no sistema de controle financeiro da empresa. Outros empregados usam a inovação e, por fim, passam a encará-la como parte natural dos instrumentos e recursos antecedentes necessários para realizar seu trabalho. EST UDO S F UTU ROS ! � A partir da explicação destes quatro padrões básicos da criação do conhecimento se inicia um novo conceito dentro da Gestão do Conhecimento, chamado de “ESPIRAL DO CONHECIMENTO”. Assunto a ser apresentado no próximo tópico. 3 A ESPIRAL DO CONHECIMENTO A disseminação do conhecimento está com o que o indivíduo sabe e como ele compartilha esse conhecimento. Alonso (2016) destaca que o conhecimento deve fluir entre todos, para que juntos exista troca de informações e evolução de competências. Algumas ações vão facilitar esse intercâmbio de informações. O conhecimento precisa ser vivenciado através da socialização, externalização, internalização e combinação: • Socialização: Nessa etapa o conhecimento irá fluir do tácito para o tácito entre as pessoas da equipe. Incentive reuniões e brainstorming onde os profissionais possam trocar ideias, observar, praticar, imitar, enfim, interagir e aprender um com o outro através da prática. • Externalização: O conhecimento tácito caminhando por entre o explícito é outra opção que deve ser mantida dentro da equipe, por isso solicite relatórios, descrição do processo ou desenhos. Use ferramentas que permitam conceituar os conhecimentos e facilitar o aprendizado, dando a oportunidade para os membros transmitirem explicações entre o grupo. • Combinação: O conhecimento que gira em torno do explícito para o explícito. O gestor deve estimular a troca de relatórios e materiais desenvolvidos entre todos os membros da equipe. Dessa forma ele irá facilitar o compartilhamento de ideias, estimulando a troca de aprendizados e competências. • Internalização: É quando o conhecimento se desenvolve através do caminho explícito para tácito. Pode ser motivado através de atividades simples, como as sugestões de vídeos, textos ou até treinamentos elaborados pelos próprios membros da equipe sobre um determinado conhecimento necessário. Em seguida, o gestor deve criar a possibilidade para que os profissionais consigam incorporar esse conhecimento, com a prática no cotidiano do que foi vivenciado, isso pode ser feito através de ações como orientações verbais ou diagramação. UNIDADE 1TÓPICO 110 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O FONTE: Disponível em: <http://blog.sucessoclub.com.br/conhecimento-explicito- conhecimento-tacito/>. Acesso em: 4 Jan. 2016. FIGURA 3 - ESPIRAL DO CONHECIMENTO FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/pci/v16n1/a06fig1.jpg>. Acesso em: 4 jan. 2016. Nonaka e Takeuchi (2008) nos explicam que, em primeiro lugar, o modo de socialização geralmente inicia com a construção de um “campo” de interação. Esse campo facilita o compartilhar das experiências e dos modelos mentais dos membros. Em segundo lugar, o modo de externalização é desencadeado pelo “diálogo ou reflexão coletiva”, nos quais o uso da metáfora apropriada ou da analogia ajuda os membros da equipe a articularem o conhecimento tácito oculto que, de outra forma, é difícil de comunicar. Em terceiro lugar, o modo de combinação é desencadeado pela “rede” do conhecimento recentemente criado e do conhecimento existente de outras seções da organização, cristalizando-os dessa maneira em um novo produto, serviço ou sistema administrativo. Por fim, o “aprender fazendo” desencadeia a internalização. Conforme ilustra a figura a seguir, o conhecimento tácito mobilizado é “organizacionalmente” amplificado através dos quatro modos de conversão do conhecimento e cristalizado em níveis ontológicos mais elevados. Portanto, de acordo com Nonaka e Takeuchi (2008, p. 70), chamamos isso de “espiral do conhecimento”, na qual a interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito tornar-se-á maior na escala à medida que sobe nos níveis ontológicos. Assim, a criação do conhecimento organizacional é um processo em espiral, iniciando no nível individual e subindo através das comunidades expandidas de interação, que atravessa os limites seccionais, departamentais, divisionais e organizacionais. UNIDADE 1 TÓPICO 1 11 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O FIGURA 4 - ESPIRAL DA CRIAÇÃO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL FONTE: Disponível em: <http://www.fucape.br/_public/producao_cientifica/2/ODIAS.pdf>. Acesso em: 4 jan. 2016. O texto sobre Gestão do Conhecimento de Soares (2013) nos informa que Nonaka e Takeuchi (1997) sugerem um modelo integrado de cinco fases do processo de criação (ou “ESPIRAL”) de conhecimento organizacional: 1) compartilhamento do conhecimento tácito; 2) criação de conceitos; 3) justificação de conceitos; 4) construção de um arquétipo e 5) difusão interativa do conhecimento. FIGURA 5 - MODELO DE CINCO FASES DO PROCESSO DE CRIAÇÃO DE CONHECIMENTO FONTE: Nonaka e Takeuchi (1997, p. 96) UNIDADE 1TÓPICO 112 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O Conforme Soares (2013, p. 3 grifos do original), além das informações da espiral do conhecimento descritas na Figura 3, a criação de conhecimento organizacional demanda condições (ou contexto) de capacitação (viabilização/facilitação), que são: a) Intenção: constitui a aspiração de uma organização em relação às suas metas; fornece o critério para avaliar um conhecimento. b) Autonomia: amplia as possibilidades e estímulo para introduzir novos insights e conhecimentos na estrutura holográfica. c) Flutuação e caos criativo: estimulam a interação interna com o ambiente externo, pela adoção de uma atitude aberta em relação aos sinais ambientais, podendo explorar a ambiguidade, a redundância ou os ruídos desses sinais para aprimorar seu próprio sistema de conhecimento. d) Redundância: refere-se à superposição intencional de informações, visando a compartilhá-las nos diferentes níveis ou dimensões organizacionais, permi- tindo assim que uns percebam e conheçam o que outros sabem. e) Variedade de requisitos: de forma que a diversidade organizacional interna corresponda à variedade e complexidade do ambiente externo, viabilizando melhor ajuste e resposta aos desafios impostos. Já Nonaka e Takeuchi (1997 apud SOARES, 2013, p. 4) destacam que: Na primeira fase do modelo, o compartilhamento do conhecimento tácito é considerado um estilo de socialização e, como é importante e individual, precisa ser partilhado na empresa. O compartilhamento do conhecimento tácito é conexo ao processo de socialização, conforme supracitado; assim, é importante que as empresas disponibilizem um espaço de intercâmbio/de troca de conhecimentos. Todavia, conforme os autores, deve haver cuidado nesse processo, pois nessa etapa os envolvidos podem apresentar perspectivas, histórias e objetivos diferentes. 4 ERA DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO Efetivamente, o estudo sistemático dos comportamentos econômicos ocorridos na transição de século e de milênio contribuiu com um novo fator: o conhecimento, a dimensão crítica de sustentação de vantagens competitivas. Nesta economia nova, por estar atrelada à onda das novas tecnologias, as capacidades de inovação, de diferenciação, de criação de valores acrescentados, de adaptação à mudança são determinantes pela forma como velho e novo conhecimento integram cadeias/redes de valores, como processo e produtos recorrem a conhecimento útil e crítico, bem como pela aptidão demonstrada pelas pessoas, organizações e governos para aprenderem permanência. O conceito de mudança parece ser uma das palavras-chave da Era do Conhecimento. Tendo em conta que vivemos nos contextos da gestão do conhecimento. Porém, não há uma via única para a mudança. Para que esta tome um rumo favorável ao desenvolvimento dos recursos humanos, a formação profissional terá que ser integrada na própria estratégia da empresa como aliada e impulsionadora da evolução. No entanto, a própria formação terá de UNIDADE 1 TÓPICO 1 13 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O ser alvo de mudança: das suas orientações, da formação como é implementada e não avaliada, das posturas dos seus envolvidos. FIGURA 6 - ERA DO CONHECIMENTO FONTE: Disponível: <https://www.bhbit.com.br/wp-content/uploads/2014/11/era-do- conhecimento-820x363.jpg>. Disponível em: 4 jan. 2016. Segundo Silva (2004), os fatores críticos de mudança e competitividade são destacados conforme o quadro a seguir: QUADRO 1 - ERA INDUSTRIAL X ERA DA INFORMAÇÃO Era Industrial Era da Informação • Músculo • Tangíveis • Massa • Hierarquia • Comando • Padronização • Sistemas fechados • Capital • Cérebro • Intangível • Diversidade • Redes • Persuasão • Customização • Sistemas abertos • Conhecimento FONTE: Silva (2004) Silva (2004) ainda nos destaca que, para ocorrer a competitividade, o fator de mudança no que se refere aos desafios postos pela sociedade do conhecimento deverá atingir três planos: pessoas, empresas e governo. • Pessoas: a era do conhecimento destaca a aprendizagem contínua ao longo da vida, ou seja, “Aprender a Conhecer para Aprender a Ser”. As necessidades de aperfeiçoamento humano são inesgotáveis e estendem-se por três vertentes principais: desenvolvimento pessoal e cultural, desenvolvimento social e comunitário, desenvolvimento profissional e de empregabilidade. • Empresas: na esfera da responsabilidade empresarial, o novo tempo demanda uma reconversão profunda de comportamento organizacional. Ao paradigma mecânico da empresa industrial e clássica sucede-se o imperativo da evolução constante por aprendizagem, o qual carece de políticas ativas de remoção e superação dos seguintes fatores: UNIDADE 1TÓPICO 114 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O QUADRO 2 - FATORES DE SUPERAÇÃO DE MUDANÇA Obstáculo Configuração Fatores Sucesso/transição familiar Empreendedora Centralização estratégica, ausência de estímulo à aprendizagem generalizada. Rigidez Máquina/Diversidade Crescimento orgânico, padronização, eficiência sem reflexividade. Hiperestabilidade Máquina/Política Cultura antirrisco, incentivos à rotina, fraca exposição competitiva. Domínio da introspecção Máquina/Profissional Atitude local, valores de corporativismo, alheamento ao benchmark. Hiperconfiança Máquina Indisponibilidade para desaprender, aversão psicológica à mudança. FONTE: Silva (2004) • Governo: espera-se do governo que seja, ele próprio, aprendiz de maneira a sinalizar para o conjunto da sociedade civil os estímulos adequados a uma apropriada assunção dos desafios. Busque confiança e conhecimento dos processos que intervêm na formação das políticas públicas e consiga ordenar os saberes humanos e sociais em permanente melhoria para a gestão equilibrada e, consequentemente, para uma prestação ótima de bens e serviços dirigidos a cidadãos cada vez mais informados, educados e conhecedores. Segundo Roberto Heinzle (2011), a transição para o novo milênio foi marcada por mudanças rápidas e de grande impacto na sociedade, resultando no que se convencionou denominar de era da informação e do conhecimento (Sociedade do Conhecimento, Era Virtual, Era da Máquina Inteligente e Era Pós-Capitalista, entre outras, são denominações alternativas também empregadas). Neste novo ambiente, as dificuldades proporcionadas pelas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) permitem que uma pessoa possa se comunicar ou acessar informações disponíveis em qualquer outro lugar do planeta, bastando dispor de uma linha telefônica e um computador. Por fim, os computadores passaram a explorar as novas TICs, e com elas foram interligados, criadas redes com as quais se viabilizou a troca de dados. Tais circunstâncias representaram a eliminação de distâncias geográficas e espaços físicos entre países, regiões, pessoas e organizações, tendo os computadores se constituído em canais para disseminação e compartilhamento de informação. Rosini (2003) nos afirma que o conhecimento dobra constantemente e isso pode levar a uma obsolescência do conhecimento adquirido, dentro da própria existência, e a uma necessidade de permanente atualização desses conhecimentos. Por consequência, há um aumento na dificuldade de compreensão e de entendimento das coisas que, associado à insuficiência de elementos disponíveis para o julgamento (informação), implica o aumento da importância da credibilidade das pessoas e de seus relacionamentos (network). UNIDADE 1 TÓPICO 1 15 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O A característica fundamental da nova era está na intensidade e dinâmica da criação de conhecimento novo e sua acelerada disseminação, incorporação e uso. O conhecimento passou a definir, mais do que qualquer outro fator, as oportunidades de desenvolvimento, pois se tornou o recurso estratégico principal. O mundo passou a ser marcado pela rápida migração de ideias e pelo uso intensivo de conhecimento. A incorporação deste conhecimento novo, por sua vez, resultou num continuado processo de inovação e num desenvolvimento tecnológico acelerado. O trinômio conhecimento, tecnologia e inovação passou a ter importância determinante nas sociedades contemporâneas (HEINZLE, 2011). A revolução da informação vem se acelerando nos últimos anos, podendo ser muito benéfica para o desenvolvimento de nossa sociedade, desde que pos- samos obter um equilíbrio entre a informação, o conhecimento e a sabedoria. Existe um contexto socioeconômico independente dos resultados futuros da economia trazidos à tona hoje pela internet. Essa mudança no plano econô- mico terá muitos reflexos na sociedade, onde as pessoas deverão ser mais criativas, participativas, envolvidas, determinantes e determinadas de seu futuro (UMPIERRE, 2006, p. 5). UNIDADE 1TÓPICO 116 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você aprendeu que: • O conhecimento é dinâmico, humanístico e contextual. Está nas pessoas porque estas possuem experiências, valores, crenças, know-how e insights que as ajudam a discernir e julgar o uso apropriado da informação. • A construção da gestão competente do conhecimento é determinante da capacidade de as pessoas lidarem com o ambiente em acelerada transformação de valores na sociedade atual. • Nas organizações o conhecimento está embutido não só em documentos ou repositórios, mas também em rotinas, processos, práticas e normas organizacionais. • Para termos novas ideias, sermos criativos e competitivos, a melhor estratégia está na constante troca do conhecimento entre as pessoas e no trabalho em equipe. • Devemos gerar os ativos intangíveis para disseminar a inteligência empresarial antes que outra pessoa ou empresa o faça primeiro. • Para Nonaka e Takeuchi (1997), a GC é o processo sistemático de identificação, criação, renovação e aplicação dos conhecimentos que são estratégicos na vida de uma organização. • Para o autor da área, Davenport (1998), a GC é a administração dos ativos de conhecimento, ou seja, é permitir às organizações saber o que elas sabem. • O Conhecimento Explícito se articula por meio da linguagem formal, é técnico, facilmente transmitido, sistematizado e comunicado. • O Conhecimento Tácito é implícito, utilizando-se da intuiçãoe da subjetividade. Não está expresso, envolve fatores intangíveis, como, por exemplo, crenças pessoais, perspectivas, sistema de valor, intuições, emoções e habilidades individuais. • Tornar o conhecimento pessoal disponível para os outros é a atividade central da empresa criadora do conhecimento. • Para melhor demonstrar como o conhecimento se materializa ou se concretiza, os quatro padrões básicos para a criação do conhecimento em qualquer organização são: de tácito para UNIDADE 1 TÓPICO 1 17 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O tácito, de explícito para explícito, de tácito para explícito e de explícito para tácito. • Alonso (2016) destaca que o conhecimento deve fluir entre todos e precisa ser vivenciado através da socialização, externalização, internalização e combinação: o Socialização: irá fluir do tácito para o tácito entre as pessoas na troca de ideias, observar, praticar, imitar, enfim, interagir e aprender um com o outro, através da prática. o Externalização: fluir do tácito por entre o explícito através de relatórios, desenhos e etc. o Combinação: flui do explícito para o explícito ao estimular a troca de relatórios e materiais desenvolvidos. o Internalização: flui do explícito para tácito, através de atividades simples como treinamentos. • A era da informação e do conhecimento está atrelada à onda das novas tecnologias, às capacidades de inovação, de diferenciação, de criação de valores acrescentados, de adaptação à mudança, sendo determinante pela forma como velho e novo conhecimento integram cadeias/redes de valores, como processo e produtos recorrem a conhecimento útil e crítico, bem como pela aptidão demonstrada pelas pessoas, organizações e governos para aprender em permanência. • Os fatores críticos de mudança e competividade entre a era industrial e da informação foram a transição do tangível para o intangível e do capital para o conhecimento. • Para Heinzle (2011), a incorporação deste conhecimento novo, por sua vez, resultou num continuado processo de inovação e num desenvolvimento tecnológico acelerado. O trinômio conhecimento, tecnologia e inovação passou a ter importância determinante nas sociedades contemporâneas. UNIDADE 1TÓPICO 118 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O AUT OAT IVID ADE � 1 Diferencie o que é Informação e o que é Conhecimento. 2 Conceitue o conhecimento explícito e o conhecimento tácito. Cite exemplos. 3 Contextualize sobre a espiral do conhecimento, explicando seus processos de socialização, externalização, internalização e combinação. 4 Quais são os principais avanços percebidos na era da Informação e do Conhecimento na atualidade? G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 2 Cada vez mais a conversão de dados em conhecimento vem ocorrendo devido à sobrevivência imposta pela Sociedade do Conhecimento. Castells (1999) afirma que, apesar das sociedades continuarem a investir na agricultura (fator de produção agrária) e também nas indústrias (fator de produção industrial), a lógica da informação detém grande poder sobre os demais setores das sociedades. Apesar de que os conhecimentos e informações sempre foram cruciais em todos os modos de desenvolvimento, haja vista que o processo produtivo sempre se baseou em algum nível de conhecimento e em informação processada. “A sociedade da informação e do conhecimento é reconhecida pelo uso intenso da informação e do conhecimento e das tecnologias de informação e da comunicação (TIC), na vida do indivíduo e da sociedade, em suas diversas atividades” (BORGES, 2008, p. 5). Segundo Sewald Jr. (2012, p. 64, grifos do original): A sociedade vive um momento de transição para essa nova sociedade. Está migrando da era da informação para a era do conhecimento. Apesar da matéria-prima base de ambas ser a informação, a preocupação da segunda se traduz pela necessidade de educação, treinamento e desenvolvimento, enquanto a primeira se preocupa em utilizar intensivamente as tecnologias da informação e comunicação (TICs) de forma a levar o “produto informação” a seus potenciais consumidores. Conforme Dziekaniak e Rover (2011), as pessoas na Sociedade do Conhecimento devem ter formação crítica e elas próprias devem compreender qual informação possui fonte fidedigna, serem capazes de encontrar a informação que procuram e, ao mesmo tempo, produzirem informação para ser consumida, interpretada e criticada por terceiros, em um movimento de troca, colaboração e complementação de conhecimentos: “Se nossas sociedades contentarem- se em ser inteligentemente dirigidas, com certeza falharão em seus objetivos. Para ter alguma UNIDADE 1 UNIDADE 1TÓPICO 220 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O chance de viver melhor, elas devem se tornar inteligentes na massa” (LÉVY, 1998, p. 18). Segundo Amaral (2006, p. 9): “Na Sociedade do Conhecimento, a educação ocupa um lugar central, e as novas tecnologias apoiam a sua disseminação”. Acredita-se que desse modo deveria ser o ideal de sociedade, porém essa afirmação não se traduz na realidade vivenciada pelos países considerados de economia periférica. Portanto, entende-se por Sociedade do Conhecimento a sociedade em que o conhecimento se encontra ao alcance de todos que o desejarem. Porém, vivencia-se um momento histórico onde o conhecimento ainda é um bem para poucos. Sociedades em que há fortes diferenças sociais, econômicas e culturais não podem ser denominadas de Sociedade do Conhecimento, haja vista que o conhecimento deva perpassar, inclusive, pela esfera da moral e da ética. Por enquanto tem-se visto o “conhecimento” como força propulsora principalmente de desigualdades sociais. Não fazendo parte do ideal de Sociedade do Conhecimento com o qual muitos pesquisadores se identificam. Já Musacchio (2014) destaca que a Sociedade do Conhecimento se produziu a partir das redes sociais, das interações e colaborações entre os indivíduos membros. São pessoas discutindo questões, refletindo sobre elas, ensinando e aprendendo umas com as outras, em todas as áreas de conhecimento. Por fim, este mesmo autor, em seu blog “Baquete”, nos apresenta dez sugestões para entrar na Sociedade do Conhecimento: 1. Nunca mais pare de estudar, de se capacitar, de se habilitar. O mundo não vê com bons olhos quem se julga pronto, acabado, realizado. 2. Participe das redes sociais. Existem milhares, mas escolha aquelas que irão acrescentar no seu portfólio profisisonal. 3. Desenvolva a prática saudável de produzir informação (blogs, wikis, páginas pessoais, revistas eletrônicas, clippings). 4. Participe de Grupos de Estudos na sua área de atuação profissional, no Facebook. Todos os grandes colaboradores estão lá, dispostos a ajudar. 5. Construa sua imagem baseada na coerência, na honestidade, no cole- guismo, no altruísmo, na parceria. Seja amigo de você mesmo. 6. Procure ver e ser visto. Ajude os outros a subirem também. Sua estrada profissional não está pronta. É você que a constrói. 7. Desenvolva a capacidade de ouvir, mais do que falar. Quem sabe ouvir, aprende mais e melhor, mas não se cale diante dos desafios. 8. A colaboração e a interação são o seu principal foco social e profissio- nal. Quem não se comunica perde a oportunidade de aprender. 9. Não omita sua opinião. A organização espera que você seja um formador de opinião. 10. Nunca diga EU ACHO. Na nova sociedade do conhecimento não há mais espaço para o achismo. É preciso estudar e aprender para poder dizer. (Grifos do original). Santos (2009) nos diz que a Sociedade do Conhecimento tem como ponto central o “saber” e, no caso da tecnologia, tornou o mundo globalizado, e hoje os consumidores queremprodutos e serviços customizados, que atendam às suas necessidades individuais. O modelo de produção na Sociedade do Conhecimento tem, portanto, uma palavra-chave: a flexibilidade. UNIDADE 1 TÓPICO 2 21 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O Os produtos e serviços têm de estar de acordo com os gostos e preferências dos consumidores e não mais o consumidor ter de escolher entre os produtos oferecidos pela indústria. Da mesma forma, flexibilidade, criatividade e capacidade de iniciativa são atributos essenciais do profissional que está se formando para trabalhar nesta nova economia. [...] da Ásia à Europa, da África à América, os governos estão discutindo e realizando alterações nas convenções estatísticas necessárias para medir os muitos aspectos ligados à Sociedade do Conhecimento. Com relação à con- dição nacional, verificam-se significativos progressos com o desenvolvimento de portais e sites, a difusão de terminais de acesso público e a propagação de prêmios de excelência, fóruns de discussões e projetos de inclusão digital (BESSA, 2003). FIGURA 7 - INCLUSÃO DIGITAL FONTE: Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-QQMVLcWkm2M/TyxWKipWCgI/ AAAAAAAABZo/yey7J3SMSj0/s1600/inclusao-digital2.png>. Acesso em: 4 jan. 2016. Conforme Bessa (2003), são inúmeras as tarefas que se impõem às instituições públicas na construção dos fundamentos da Sociedade do Conhecimento. O processo de difusão e adoção de novas tecnologias exige um conjunto de conhecimentos e serviços eficientes e amplamente disponíveis. Fatores que envolvem a montagem de uma infraestrutura regulatória adequada, o suporte à organização de um sistema de ciência e inovação tecnológica e investimentos direcionados para a educação de qualidade, apenas para destacar alguns. Do mesmo modo, forte impressão do seu impacto ocorre, por exemplo, quando observamos o mercado de trabalho: para suportar processos de negócios eletrônicos e conduzir transações on-line são necessários serviços de suporte, tais como desenvolvimento e hospedagem de sites, consultorias, pagamentos eletrônicos e capital humano, como programadores, analistas, projetistas e especialistas, utilizados nos negócios e comércios eletrônicos. Por conseguinte, busca-se a adequação dos currículos levando em conta formas de proporcionar aos profissionais capacitação suficiente para o desempenho oportuno das funções definidas por novas formas de ocupação. FONTE: Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392003000300002>. Acesso em: 4 jan. 2016. UNIDADE 1TÓPICO 222 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O 2 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO Mendes (2004, p. 21-22) reforça que: A necessidade de inspirar as pessoas a contribuírem, tornando o conheci- mento individual disponível para todos, é essencial para a GC, uma vez que a aprendizagem depende diretamente de um processo de compartilhamento eficaz. Entretanto, o compartilhamento é de difícil implementação por depender menos das ferramentas tecnológicas e mais da cultura, ou seja, depende das atitudes das pessoas, das suas motivações e, principalmente, da superação de uma série de obstáculos que se apresentam no processo de compartilha- mento do conhecimento. Conforme Mendes (2005), ainda é uma incógnita para os profissionais da GC quanto à fórmula de motivar as pessoas a compartilhar o conhecimento, pois facilitar esse processo de comportilhamento do conhecimento e envolve a superação de diversos obstáculos, além de requerer tempo e dinheiro. Entretanto, os benefícios do compartilhamento de conhecimento são inegáveis, tanto para a organização como para os contribuidores. O compartilhamento do know- how envolverá custo e tempo, principalmente se a codificação do conhecimento for abordada como uma atividade adicional de força de trabalho. Neste sentido, o compartilhamento pode exigir benefícios extras e práticas capazes de reconhecer aqueles indivíduos que contribuem com alguma espécie de recompensa. Não se pode discutir a Gestão do Conhecimento (GC) sem antes falar sobre o compartilhamento do conhecimento entre as pessoas e organizações. O artigo de Vergara (2009) vem responder à questão das possibilidades e limitações do compartilhamento do conhecimento nas organizações. Ressalta que as organizações que defendem a necessidade do compartilhamento do conhecimento e, ao mesmo tempo, incentivam fortemente a competição e a luta pelo poder não promovem o compartilhamento do conheicmento. É necessário manter, continuamente, no ambiente de trabalho o clima colaborativo entre as pessoas e a organização. Referente a este pensamento, Barbosa (2012, p. 1) acrescenta que: [...] as barreiras ao compartilhamento do conhecimento podem estar relacio- nadas ao próprio conhecimento a ser transferido; à fonte ou ao destinatário do conhecimento; ou ainda ao contexto em que ocorre o compartilhamento. Fatores como a incompreensão dos processos organizacionais, procedimentos inflexíveis, ausência de revisão de rotinas operacionais, manuais de procedi- mentos imutáveis, modelos mentais, histórias e crenças que permeiam a cultura das organizações, são relatados como aspectos dificultadores do processo de compartilhamento do conhecimento organizacional. UNIDADE 1 TÓPICO 2 23 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O Vergara (2009, p. 6) ainda contribui dizendo que: Grupos são formados por indivíduos, e suas características afetam decisi- vamente o compartilhamento, pois, apesar de existirem fortes necessidades interpessoais, como necessidade de inclusão e de afeição, outros fenômenos psicológicos afetam o comportamento dos indivíduos, condicionando suas ações nos grupos. No interior dos grupos, a vontade e a disponibilidade dos indivíduos os impele a se mover na direção do compartilhamento, tanto quanto na direção oposta. Compartilhamento de conhecimento é concebido como uma interação relacional entre pessoas que partilham conhecimento tácito e explícito como meio de geração de conhecimento novo e de valor para a organização (ICHIJO, 2008). Portanto, o compartilhamento do conhecimento e seus fatores contextuais estabelecem uma relação positiva com o desempenho organizacional. O compartilhamento do conhecimento tem influência no desempenho organizacional em termos de gestão de ativos tangíveis e intangíveis. Usoro (2007) define o compartilhamento do conhecimento como o processo de comunicação que envolve duas ou mais partes. Esse processo abrange a provisão de conhecimento por uma fonte, e a interpretação dessa fonte por um ou mais receptores. Como resultado, há a criação de novos conhecimentos de natureza tácita e explícita. Nonaka e Takeuchi (1995) formularam um modelo de compartilhamento de conhecimento, também chamado de "modelo tácito-explícito". A figura a seguir retrata o compartilhamento do conhecimento como um ciclo contínuo dentro da organização do conhecimento. O "I" representa um indivíduo, "O" e "G" representam um grupo ou organização. Inicia com a socialização, "conhecimento tácito para o tácito", e avança para a externalização, o conhecimento é organizado de forma mais sofisticada ou abstrata - "explícito para explícito”. Na fase de interiorização, "explícito para o tácito", o conhecimento é combinado com seus próprios conhecimentos e experiências para a produção de novos conhecimentos tácitos. UNIDADE 1TÓPICO 224 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O FIGURA 8 - MODELO DE COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO FONTE: Shull et al. (2004) IMP OR TAN TE! � Para efetividade do compartilhamento do conhecimento nos ambientes virtuais e nos sistemas sociotecnológicos, é necessário que haja confiança entre os membros ou os componentes do sistema. Nos ambientes virtuais, as relações de confiançapodem emergir sem uma interação social direta, devido às transparências dos mecanismos da comunicação e da colaboração através das tecnologias da informação e comunicação (TIC). O interesse das pessoas em compartilhar seu conhecimento nas suas interações relacionais configura-se como um fator crítico de sucesso para a consecução da estratégia da organização (GOULART, 2008). Dessa forma, compreender como o compartilhamento do conhecimento pode ser estimulado possibilitará às organizações operacionalizar a gestão do conhecimento de maneira eficaz. UNIDADE 1 TÓPICO 2 25 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O O ser humano tem necessidades interpessoais básicas de inclusão e afeição, e seus relacionamentos dependem, contudo, de equilíbrio e de mecanismos de defesa minimizados, um processo de caráter notadamente individual. Para desconstruir o distanciamento entre as pessoas e dinamizar o compartilha- mento, a dinâmica de grupo oferece a possiblidade de socialização e comu- nicação entre as pessoas. Com base nos estudos, o compartilhamento do conhecimento é possível em grupos que se organizam informalmente, geram equilíbrio interno e proteção externa e se sentem satisfeitos com suas tarefas (VERGARA, 2009, p. 4). O compartilhamento do conhecimento, ao possibilitar a criação de conhecimento novo, pode contribuir para prevenir a obsolescência do conhecimento entre os profissionais de carreira técnica, nos quais a organização se apoia para o desenvolvimento de novos processos, tecnologias e produtos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). O conhecimento pode ser compartilhado por meio de processos formais ou informais. Quando a empresa cria mecanismos ou procedimentos para identificar e codificar o conhecimento, tal proposição denota a formalidade nas suas práticas de gestão (GOULART, 2008). QUADRO 3 - ESTRATÉGIAS PARA O GERENCIAMENTO DO CONHECIMENTO FONTE: Goulart (2008) Obstáculos ao Compartilhamento do Conhecimento O compartilhamento do conhecimento pode ser analisado em três níveis básicos: nível individual, nível grupal e nível organizacional (AJMAL; KOSKINEN, 2007). Pressupõe que, dessa mesma forma, os elementos que configuram os obstáculos para o compartilhamento do conhecimento podem ser classificados nos níveis: individual, grupal e organizacional. No nível individual, os obstáculos ao compartilhamento do conhecimento estão relacionados àqueles de foro íntimo, como expectativas, valores, atitudes, percepção, personalidade, emoções, sentimentos, disposição e motivação (ROBBINS, 2004). Ainda no nível individual, os obstáculos são aqueles que envolvem a capacidade que cada pessoa UNIDADE 1TÓPICO 226 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O tem para lidar com novas situações, eventos, informações e contextos (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001). Alguns exemplos de obstáculos no nível individual são: falta de habilidade para a comunicação/diálogo; disposição para a guarda do conhecimento para si, por orgulho em possuir um conhecimento especializado; crença de que conhecimento é poder (PROBST; RAUB; ROMHART, 2002); medo de se expor, principalmente pela possibilidade de desaprovação dos superiores (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001). No nível grupal, os obstáculos ao compartilhamento do conhecimento podem advir da dinâmica de grupos, do estilo de liderança, do grau de confiança, do clima psicológico reinante no grupo, dentre outros (ROBBINS, 2004). Os gestores podem e precisam promover o compartilhamento do conhecimento encorajando o diálogo, despertando a confiança entre os integrantes da equipe, comunicando os benefícios e valores das práticas de compartilhamento do conhecimento (DAVENPORT, 1998, RIEGE, 2005). No nível organizacional os obstáculos estão relacionados à estratégia, modelo de gestão (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001), estrutura organizacional, aos processos operacionais, à cultura (TERRA, 2001), às políticas e às práticas de recursos humanos (ROBBINS, 2004). Envolve ainda a viabilidade econômica do compartilhamento, falta de infraestrutura e recursos (RIEGE, 2005). Alguns exemplos de obstáculos nesse nível são: falta de integração clara entre a estratégia e o modelo de gestão do conhecimento; pouco espaço para compartilhar; sistema ineficiente de reconhecimento e recompensa para motivar o compartilhamento; ambiente físico inadequado ou não propício ao compartilhamento; tamanho das unidades de negócio dificultando o contato direto dos empregados (RIEGE, 2005). FONTE: Souza (2012, p. 6) NO TA! � Procurando diminuir ambiguidades, Tonet (2006) desenvolveu um modelo para o processo de compartilhamento do conhecimento no trabalho que é composto por quatro fases: iniciação, implementação, apoio e incorporação. Para seu entendimento, segue como sugestão de leitura o endereço do artigo escrito por Barbosa (2012): <http:// periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/pgc>. FONTE: TONET, H. C.; PAZ, M. G. T. Um modelo para o compartilhamento de conhecimento no trabalho. Revista de Administração Contemporânea – RAC, v. 10, n. 2, p. 75-94, 2006. UNIDADE 1 TÓPICO 2 27 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O Tonet e Paz (2004, p. 4) definem compartilhamento de conhecimento como sendo “o comportamento do indivíduo de repassar o que sabe às pessoas com quem trabalha e de receber o conhecimento que elas possuem”, e ainda afirmam que esse “compartilhamento de conhecimento é um componente-chave dos sistemas de gestão do conhecimento”. No atual mercado em que as organizações estão inseridas, o ato de compartilhar o conhecimento tem se mostrado de grande importância, porém de difícil concretização, pois, para que o compartilhamento das informações obtenha êxito, necessita-se do envolvimento dos componentes (destinatário e receptor) nessa transferência (ROSA, 2009). “O que se espera é que o destinatário ou receptor assimile o conhecimento compartilhado pela fonte ou emissor de forma completa e sem interrupções, embora o conhecimento e habilidades anteriores, bem como a motivação dos envolvidos, podem causar influências diretas nesse processo” (TONET; PAZ, 2004, p. 6). Tonet e Paz (2004, p. 4) descrevem ainda: [...] ao compartilhar conhecimento no trabalho, os indivíduos precisam justificar em público as suas crenças, e para isso enfrentam quatro grandes barreiras organizacionais: (1) necessidade de linguagem legítima, que permita explicitar o conhecimento tácito; (2) histórias organizacionais; (3) procedimentos prede- finidos; (4) os paradigmas da empresa. Rosa (2009, p. 12 apud FLEURY; OLIVEIRA Jr., 2001) contribui dizendo que: As empresas possuem conhecimentos que já se encontram disseminados e compartilhados por todos os colaboradores da organização, entretanto, existem diversas informações que pertencem a colaboradores específicos ou a equipes de trabalho. O grande desafio das organizações é identificá-las, codificá-las e torná-las acessíveis aos demais colaboradores. UNIDADE 1TÓPICO 228 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico você aprendeu que: • A sociedade vive um momento de transição e está migrando da era da informação para a era do conhecimento. • Para Amaral (2006), na Sociedade do Conhecimento a educação ocupa um lugar central, e as novas tecnologias apoiam a sua disseminação. • Musacchio (2014) destaca que a Sociedade do Conhecimento se produziu a partir das redes sociais, das interações e colaborações entre os indivíduos membros. • As 10 sugestões de Musacchio (2014) para entrar na Sociedade do Conhecimento são: 1. Nunca mais pare de estudar, se capacitar e se habilitar. 2. Participe das redes sociais. 3. Desenvolva a prática saudável de produzir informação. 4. Participe de grupos de estudos na sua áreade atuação. 5. Construa sua imagem baseada na honestidade, no altruísmo, na parceria. 6. Procure ver e ser visto. 7. Desenvolva a capacidade de ouvir, mais do que falar. 8. A colaboração e a interação são o seu principal foco social e profissional. 9. Não omita sua opinião. 10. Nunca diga EU ACHO. • O modelo de produção na sociedade do conhecimento tem, portanto, uma palavra-chave: a flexibilidade. • Compartilhamento do conhecimento é de difícil implementação, por depender menos das ferramentas tecnológicas e mais da cultura, ou seja, depende das atitudes e motivação das pessoas. • O compartilhamento do know-how envolverá custo e tempo, principalmente se a codificação do conhecimento for abordada como uma atividade adicional de força de trabalho. • Para Ichijo (2008), compartilhamento de conhecimento é concebido como uma interação relacional entre pessoas que partilham conhecimento tácito e explícito como meio de geração UNIDADE 1 TÓPICO 2 29 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O de conhecimento novo e de valor para a organização. • Por fim, compreender como o compartilhamento do conhecimento pode ser estimulado possibilitará às organizações operacionalizar a gestão do conhecimento de maneira eficaz. • O conhecimento pode ser compartilhado por meio de processos formais ou informais, criando mecanismos ou procedimentos para identificar e codificar o conhecimento através das estratégias de formalização de codificação e personalização. • Para Ajmal e Koskinen (2007), o compartilhamento do conhecimento pode ser analisado em três níveis básicos: nível individual, nível grupal e nível organizacional. • Para obter êxito no compartilhamento do conhecimento é importante envolver de forma correta a transferência entre os componentes: destinatário e receptor, onde o comportamento do indivíduo é o de repassar o que sabe às pessoas com quem trabalha e de receber o conhecimento que elas possuem. • As barreiras para o compartilhamento do conhecimento no trabalho são: (1) necessidade de linguagem legítima, que permita explicitar o conhecimento tácito; (2) histórias organizacionais; (3) procedimentos predefinidos; (4) os paradigmas da empresa. UNIDADE 1TÓPICO 230 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O AUT OAT IVID ADE � 1 Conceitue o que é Sociedade do Conhecimento. 2 Explique por que o uso intensivo da informação e do conhecimento, das tecnologias de informação e da comunicação (TIC) está contribuindo para a Sociedade do Conhecimento. 3 O que é o compartilhamento do conhecimento? 4 Quais as barreiras do compartilhamento do conhecimento? 5 Quais são os três níveis básicos de compartilhamento do conhecimento? G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O GESTÃO DO CONHECIMENTO 1 INTRODUÇÃO TÓPICO 3 Pode-se dizer que a Gestão do Conhecimento, como hoje é entendida, foi uma decorrência de algumas mudanças significativas ocorridas no último milênio e na última década. A principal delas foi o surgimento da internet e o consequente aumento espetacular na capacidade humana de se comunicar, publicar e acessar informações, colaborar com pessoas em localidades muito distantes. Outras incluem a globalização, o aumento da velocidade de desenvolvimento de produtos, a explosão no volume de informações e o surgimento de modelos de negócio em rede. Neste cenário, segundo Schuelter (2009 p. 3), “é admirável conhecer um pouco mais do termo gestão do conhecimento, para isso tem-se a visão dos estudiosos da área que trazem a conceituação do termo”. São inúmeros os autores que atuam nesse campo e conceituam gestão do conhecimento. A seguir apresentam-se alguns deles, cujas visões podem ser conferidas na tabela a seguir. UNIDADE 1 UNIDADE 1TÓPICO 332 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O TABELA 1 - VISÃO E CONCEITUAÇÃO DE GESTÃO DO CONHECIMENTO FONTE: Schuelter (2010) O interesse pelo tema Gestão do Conhecimento reflete na miríade de termos que, de certa maneira, se referem a ele. É relativamente difícil estabelecer limites para a forma como os termos conhecimento, competência, aprendiza- do e habilidades, criatividade, capital intelectual, capital humano, tecnologia, capacidade inovadora, ativos intangíveis e inteligência empresarial, entre outros, são empregados no dia a dia das empresas e na literatura gerencial (TERRA, 2000, p. 1). Diante deste cenário, precisamos qualificar as decisões a serem tomadas, enfrentar o desafio de transformar dados em informação e informação em conhecimento, atentando para que interferências individuais não distorçam negativamente este processo (ANGELONI, 2003). Tais interferências podem ocorrer na codificação e decodificação destes elementos, provocando problemas no processo de comunicação. A figura a seguir demonstra, de modo gráfico, as diferenças entre dado, informação e conhecimento. Observa-se também que com a agregação de valor entre dado e informação, diminui-se sua disponibilidade e, da mesma forma, na agregação de valor entre informação e conhecimento. UNIDADE 1 TÓPICO 3 33 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O FIGURA 9 - DIFERENÇA ENTRE DADO, INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO FONTE: Davenport (2001 apud SILVA, 2009) A partir do momento em que o indivíduo aprender e saber aproveitar corretamente os dados para informação, da informação para o conhecimento, transforma-se em um sujeito apto, pois se torna competente diante das exigências que o conhecimento nos proporciona. O conhecimento é um ativo valioso, resultado da combinação de dados, informações, conhecimento e competência que podem ser usados para auxiliar a tomada de decisão. FIGURA 10 - CADEIA DE VALOR DO CONHECIMENTO FONTE: Rowley (2007 apud SANTOS, 2008) UNIDADE 1TÓPICO 334 G E S T Ã O D O C O N H E C I M E N T O A gestão do conhecimento envolve, a nosso ver, principalmente, a incorporação de um novo “raciocínio e foco gerencial” na dimensão ou recurso do conhecimento. Logicamente, envolve também a utilização de uma série de novos métodos recentes e consolidados, por exemplo: mapeamento de conhecimentos, gestão por competência, comunidades de prática, gestão de talentos, e também uso de novas tecnologias de informação, colaboração virtual e comunicação. O verdadeiro desafio é a articulação desta ampla gama de ferramentas gerenciais e tecnológicas que servem para melhorar a capacidade das organizações para aprender, inovar, utilizar suas competências e proteger seus conhecimentos e ativos intangíveis estratégicos (SALDANHA, 2004). Segundo Moreira (2005), a Gestão do Conhecimento exige um certo grau de sofisticação intelectual, empatia verdadeira para envolver os colaboradores e também capacidade de abstração para compreender bem a natureza do conhecimento que se quer gerir e quais ferramentas, métodos e processos são mais eficazes para estimular seu desenvolvimento, compartilhamento e proteção. É muito diferente ter como foco melhorar a gestão do conhecimento em um ambiente de produção e desenvolvimento, fábrica, departamento de marketing ou central de atendimento. FIGURA 11 - GESTÃO DO CONHECIMETNO ORIENTANDO AS AÇÕES E AS TOMADAS DE DECISÃO FONTE: Disponível em: <http://www.jrmcoaching.com.br/blog/como-funciona-gestao- conhecimento-nas-empresas/>. Acesso em: 5 jan. 2016. Estritamente falando, o conhecimento em si não pode ser diretamente gerenciado. Para entender isso é importante lembrar que gerenciar conhecimento é bem diferente de gerenciar informação e dados. Conhecimento, de fato, só existe na cabeça das pessoas. Portanto, é algo “invisível” e um pouco abstrato para a maior parte das pessoas que UNIDADE 1 TÓPICO 3 35 G E S T Ã O D O C O
Compartilhar