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AVALIAAÇÃO FAMILIAR

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TEXTO: AVALIAÇÃO INTER E TRANSGERACIONAL DA 
FAMÍLIA 
 
1. Conceito Psicológico 
 
Família é um sistema social onde se unem conhecimentos, valores, crenças e práticas, 
onde se desenvolve uma dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde, prevenindo e 
tratando a doença de seus membros (ELSEN, 2002). 
O termo “família” é derivado do latim “famulus”, que significa “escravo doméstico”; 
termo criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as 
tribos latinas, ao serem introduzidas à agricultura e também para a escravidão legalizada. 
A família é um grupo de pessoas, ligado por descendência a partir de um ancestral 
comum, matrimônio ou adoção; cujo cada membro possui um papel específico. 
A família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo e é através desta que o 
sujeito vai, aos poucos, se constituindo, constituindo a sua identidade e se inserindo na 
sociedade. Esta unidade social que enfrenta uma série de tarefas de desenvolvimento e 
evoca obrigatoriamente, diferentes papéis e funções. 
As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou renunciam 
funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às necessidades da 
sociedade pertencente. Nesta perspectiva, as funções da família regem-se por dois 
objetivos: um de nível interno, como a proteção psicossocial dos membros, e o outro de 
nível externo, com a acomodação a uma cultura e sua transmissão. 
 
2. Família como sistema 
 
Embora a família esteja em pleno processo de mutação é ela o suporte para o 
desenvolvimento humano sendo então a principal mantenedora da saúde e geradora das 
doenças de seus membros. A família é a matriz da identidade de seus membros, 
funcionando como um sistema, um ambiente de formação. 
 
2.1 Abordagem Sistêmica 
 
Fundamentada na Teoria Geral dos Sistemas segundo a qual um sistema é um 
conjunto de objetos ou sujeitos que se relacionam entre si graças aos seus atributos e que, 
ao mesmo tempo, interagem com o meio que forma um sistema maior. 
 
A família é observada como um sistema de relação, com seus equilíbrios e 
desequilíbrios, com suas etapas de crescimento e estancamento, onde o paciente 
designado (portador do sintoma) não é nem o mais, nem o menos importante dos membros 
familiares. 
 
O sintoma se converte, em uma espécie de sinal de alerta de que algo não funciona 
bem (crise) e que precisa mudar. 
 
2.2 Características do pensamento sistêmico: 
* Circularidade: propõe a mudança do modelo de pensamento linear (causa-efeito), para 
o modelo circular (comunicação e interação). 
* Globalidade: por menor que seja a alteração num sistema, essa alteração impacta todo 
o sistema. Portanto a família tem que ser vista como um todo. 
* Não-somatividade: um sistema não pode ser considerado apenas como a soma das partes 
que examinadas separadamente não permitiriam a compreensão do todo. 
* Homeostase: processo de auto-regulação que mantém a estabilidade do sistema. E o 
ponto de equilíbrio. 
* Equifinalidade: independentemente de qual for o ponto de partida, um sistema aberto 
apresenta uma organização que garante os resultados de seu funcionamento. 
* Retroalimentação: é garantida a circulação da informação entre os componentes do 
sistema por principio de feedback que quando negativo atende a manutenção da 
homeostase, ou seja, o equilíbrio, quando positivo propõe mudança sistêmica. 
 
2.3 A Família como Sistema 
Componentes dinâmicos do sistema familiar: 
Objetivos: compreender por que existe o sistema familiar; 
Aliança: aceitação entre dois ou mais membros da família; 
Espaço: extensão do espaço (físico e emocional) entre os membros da família; 
Referentes: quais pessoas servem de referência; 
Fronteiras: definem os limites de uma família e dos seus membros ; 
Papel: é a posição que cada integrante do seio familiar terá; 
Lugar: é o lugar que cada um ocupa e é reconhecido pelo outro; 
Regras: ditam a maneira de reagir da família; 
Valores: levam a pessoa a julgar a importância das coisas; 
Crenças: modo como cada pessoa vê a realidade; 
 
3. A organização familiar 
Lealdades 
Schützemberger (1997) diz que “[...] a Lealdade se compõe da unidade social que 
depende da lealdade dos membros do grupo; o grupo conta com a lealdade de seus 
membros, com os pensamentos e as motivações de cada um dos membros como 
indivíduo”. 
Justiça familiar 
As ações de cada membro de um grupo familiar e que tenham repercussão positiva 
ou negativa junto a um ou mais indivíduo da família são objeto de “contabilizações”. 
Parentificação 
A mais importante dívida da lealdade familial é a de cada filho frente a frente 
com seus pais pelo amor, carinho, cuidados, fadigas e desvelos que recebeu desde o 
nascimento”. 
Mitos Familiares 
Histórias criadas e fantasiadas pelos membros da família consideradas verdadeiras 
as quais assumem uma significação simbólica transmitida entre as gerações. Tem o 
objetivo de preservar a identidade dessa família, ressaltando ou mesmo comunicando 
apenas coisas boas. Espécie de tabu. 
Os mitos vão explicar ou dar coerência a essa organização familiar. Apontam o 
modo de agir no que toca aos campos de ação: social, matrimonial, religioso, moral, ético, 
laboral, financeiro/patrimonial, etc. 
Exemplo: “mito religioso”, a “piedade religiosa” – os sujeitos desta família devem 
agir então, como “autêntico fiel praticante” desta ou daquela religião aceita pela família. 
 
 
 
Ritos Familiares 
Os “ritos” são uma série de atos e de comportamentos estritamente codificados na 
família, que se repetem no tempo e dos quais participam todos ou uma parte dos 
familiares. 
Os ritos são moldados e ancorados nas regras definidas exigindo como condição 
básica a crença e a repetição constante; dão um sentido de identidade e estabilidade 
constante para a família. 
Exemplos: Cerimônias (religiosas – Natal, culturais – Dia das Mães ou cotidianas – 
Almoço aos domingos. 
Segredos e tabus da família 
Segredos são ocorrências do passado familiar cuja divulgação não acrescenta 
valores positivos, podendo repercutir negativamente nos anais da família ao longo do 
tempo. 
Estes segredos familiares podem ser acontecimentos ou ações vergonhosas de 
algum membro cuja revelação teria conseqüências ruins para os demais, ou ações e 
acontecimentos não vergonhosos, mas que criam a união intrafamiliar e por isso são 
perpetuados. 
Formação e manutenção dos sintomas 
Os sintomas podem ser considerados a expressão física resultante do esforço 
empreendido pelo indivíduo na busca do reequilíbrio, em meio à dinâmica de interação 
deste com o sistema e consigo mesmo. 
A dinâmica do sintoma é mantida por mecanismos de retroalimentação negativa, 
sendo uma forma de fuga, como uma tentativa de flexibilizar o mito, ou a explicitação da 
pressão mítica ou ainda a punição por ter quebrado o determinismo, buscando assim, a 
homeostase que é identificada como estabilidade ou equilíbrio. 
O sintoma pode também funcionar como uma metáfora para determinados 
segredos, sendo uma expressão simbólica de emoções poderosas conectadas a ele. 
 
4. Funcionalidade da família 
 
Formada por um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as 
maneiras pelas quais os membros da família interagem. 
* Família Saudável - Há regras, padrões que servem de guia para o crescimento grupal e 
individual. Essas famílias percorrem o ciclo vital, estando livres para mudar, adaptar-se 
e crescer sem medo e apreensão. 
* Família Disfuncional - Ainda que a família seja importante para o equilíbrio do 
indivíduo, também é verdade que esta lhe impede a totalidade de sua expressão criativa, 
poiseste se encontra limitado pelas normas e pautas próprias de sua família. A família, 
como todo sistema complexo, tende a conservação de suas características. 
 
 A família através de seu ciclo evolutivo contribui para atribuir um significado 
positivo à palavra “crise”. Esta crise que abre portas no sentido criativo de promoção de 
mudanças. 
 
5. Avaliação da Família 
 
A avaliação familiar requer a utilização de instrumentos de coleta de dados que 
permitam conhecer a família e a sua dinâmica. Procura-se entender o vínculo familiar, 
raça, educação, valores, classe social, religião, as tarefas de cada membro, interação 
familiar, comunicação, crenças, influências dentre outras. O tempo de uma sessão em que 
se faz a avaliação da família, no caso uma entrevista, é em torno de 90 minutos. 
 
5.1. Objetivos 
1 - Reconhecer homens e mulheres como parte de um todo mais amplo – como 
subsistemas de sistemas maiores; 
2 - Buscar entendimento sobre a “linguagem” usada pelas famílias em sua maneira de 
relacionar-se uns com os outros; 
3 - Situar os fenômenos dentro do contexto onde eles ocorrem para melhor compreendê-
los 
A avaliação trabalha em dois eixos: 
 Eixo vertical ou transgeracional, onde são identificados papéis e funções 
característicos da família, bem como o nível de autonomia e diferenciação de cada 
elemento face à sua família de origem; 
 Eixo horizontal ou do aqui e agora, que inclui o estudo dos padrões de interação pessoal 
e familiar, bem como o modo como o indivíduo e/ou grupo lida com as dificuldades da 
vida. 
 
6. Instrumentos de Avaliação de Família 
 
Genetograma (Murray Bowen) 
 É um instrumento clínico de investigação inter e transgeracional da família, 
baseado na teoria sistêmica, cujo objetivo é averiguar hipóteses sobre como um problema 
clínico pode ter se originado e evoluído no contexto familiar. A partir do Genetograma, 
é possível obter informações demográficas de funcionamentos, situações ocupacionais, 
nível educacional, pautas de alcoolismo, drogadição, desemprego, morte, doença crônica, 
abuso sexual, datas e fatos críticos da história familiar. 
 Numa avaliação, é preciso considerar o sujeito como parte de uma família na qual 
esse indivíduo exerce um papel, segue regras e executa padrões elaborados por esse grupo 
tão importante na sua constituição. 
Até os anos 80, esse instrumento não apresentava um formato único e geral. 
Visando a padronização e universalidade do genetograma, Monica McGoldick e Randy 
Gerson lançaram, em 1985, procedimentos e representações padronizados para 
construção do mesmo. 
 
Ecomapa 
O Ecomapa é um diagrama que identifica as relações entre a família e a 
comunidade, assim, ajudando a avaliar e identificar os apoios e suportes disponíveis para 
seu uso junto a família, onde pode significar a presença ou ausência de recursos, ou seja, 
expõe através da representação gráfica as ligações de uma família às pessoas e estruturas 
sociais do meio em que habita. 
 
O átomo social 
Uma das formas utilizadas pelos psicodramatistas se encontra no Átomo Social. 
Para Jacob Levy Moreno, o átomo social é considerado a menor unidade funcional dentro 
de um grupo social, consiste nas ligações de cada indivíduo com outros da família, 
amigos, escola, trabalho, etc. 
A construção de um átomo social permite que representemos o “drama” que 
vivemos, um mundo ambíguo, drama tanto imaginário como real. 
 
Locograma 
Trazido também por Moreno chama-se Locograma da Casa. Segundo Moreno 
(1983), o Locograma da Casa é um diagrama de posições no qual o lugar dos participantes 
e os movimentos de um lugar a outro constituem o aspecto central. Moreno relata o uso 
do locograma com crianças buscando descrever as direções do movimento da criança em 
relação a sua ordem de preferência. 
 
Ciclo Vital da Família 
 Ciclo vital familiar envolve as várias etapas definidas sob alguns critérios pelos 
quais as famílias passam, da sua constituição em uma geração até a morte dos indivíduos 
que a iniciaram. 
 O ciclo vital permite simultaneamente uma visão panorâmica e focal, porquanto 
não é um conceito rígido; ao contrário, permite sobreposições e reconstituições. 
 
Instrumentos Utilizados 
Testes projetivos como: H.T.P., T.A.T.; Desenho da Família. 
Entrevista da Família Estruturada (E.F.E.) que tem o objetivo de trazer à tona o 
dinamismo do funcionamento familiar. 
Mapa Sincrônico 
Brasão da família 
 
“Se profundamente em nossas mentes inconscientes tivermos nos tornado capazes de, em 
certa medida, livrar nossos sentimentos por nossos pais de ressentimentos, e os 
perdoarmos pelas frustrações que tivemos que suportar, então podemos estar em paz com 
nós mesmos e somos capazes de amar outras pessoas no verdadeiro sentido da palavra” 
(KLEIN, 1975, p.343).

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