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APOSTILA-GENOGRAMA-E-AVALIAÇÃO-NOVA-1

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1 
 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – DOM 
ALBERTO 
 
 
 
 
GENOGRAMA E AVALIAÇÃO FAMILIAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SANTA CRUZ DO SUL - RS 
 
 
 
2 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3 
2 CONCEITO DE GENOGRAMA .................................................................. 4 
2.1 Montagem do genograma .................................................................... 5 
2.2 Simbologia do genograma .................................................................... 6 
2.3 O uso do genograma de recursos ...................................................... 11 
2.4 Genograma familiar ............................................................................ 12 
2.5 Estrutura e dinâmica familiar .............................................................. 14 
2.6 A pesquisa com famílias ..................................................................... 18 
2.7 O inquérito apreciativo como forma de questionar ............................. 20 
3 TERAPIA FAMILIAR SISTÉMICA: UMA BREVE INTRODUÇÃO AO TEMA
 22 
3.1 A família à luz da teoria sistêmica ...................................................... 26 
3.2 A família como um sistema ................................................................ 30 
3.3 Pressupostos teóricos da terapia familiar sistêmica ........................... 31 
3.4 A entrevista na abordagem sistêmica................................................. 34 
4 UM OLHAR POSITIVO NA TERAPIA FAMILIAR: A UTILIZAÇÃO DO 
CONTEXTO TERAPÊUTICO COMO FORMA DE SALIENTAR AS COMPETÊNCIAS 
DAS FAMÍLIAS .......................................................................................................... 42 
4.1 O processo terapêutico na clínica de terapia familiar sistêmica ......... 45 
4.2 Instrumentos para avaliação e intervenção na família........................ 47 
5 A PRÁTICA SISTÊMICA NO CAMPO DA PSICOLOGIA ......................... 53 
6 Referencias Bibliográficas......................................................................... 57 
7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................... 60 
 
 
 
 
3 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno 
se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta 
, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse 
aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. 
No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão 
ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que 
lhe convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser 
seguida e prazos definidos para as atividades. 
Bons estudos! 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
2 CONCEITO DE GENOGRAMA 
O Genograma consiste em uma técnica que visa representar de forma gráfica 
o desenho familiar ou árvore familiar, é através deste instrumento que podemos obter 
uma visão geral da estrutura familiar. 
As interações existentes entre os membros, laços afetivos positivos e 
negativos, bem como padrões de comportamento que se repetem entre as gerações, 
ou seja, um fluxograma para identificar os processos biológicos, sociais, emocionais, 
culturais, entre outros fatores que compõem uma família por várias gerações. 
A criação do Genograma teve início com os estudos do biólogo e botânico 
Johann Mendel (1822-1884), que criou a teoria denominada “Lei de Mendel”, tal 
estudo possibilitou a descrição das linhas de transmissão familiar de doenças clínicas, 
descobriu em experiências com cruzamento de diversas variedades de ervilhas a 
herança biológica com a necessidade de se obter mais informações sobre os 
pacientes, acrescidas informações sobre os antecedentes familiares, bem como o 
histórico socioeconômico e outros dados que fossem pertinentes e condicionantes de 
seus problemas de saúde. (Yurss, 2001). 
 Na literatura se observa a existência de diversos termos para se referir ao 
genograma, tais como: árvore genealógica, familiograma, genetograma, 
porém o comitê acadêmico de revisão do genograma recomenda o uso do 
termo “genograma”, devido às pesquisas documentais realizadas. 
Encontram-se pelo menos seis autores que se utilizam do termo “genograma” 
Medalie, 1978; Jolly, 1980; McGoldrick, 1985; Walters, 1994; Badia, 1995; e 
Rakel, 1995, apud Clavelina Gomez FJ, 1999). 
O Genograma de forma geral consegue englobar e ser aplicado a diversas 
áreas do conhecimento humano como na medicina, enfermagem, psicologia, serviço 
social entre outras áreas. Na medicina e na enfermagem consegue-se de forma 
prática, com a utilização do genograma observar o quadro familiar, tendo uma visão 
dos problemas potenciais que podem interferir na vida do indivíduo ou família, nos 
processos de saúde ou doença. 
Permite o conhecimento das forças que os relacionamentos intrafamiliares 
possam interferir no início e no decorrer do tratamento de diversos problemas de 
saúde, por intermédio desse instrumento consegue-se obter dados tais como: 
 Idade, doenças, fatores de risco, mortes, aspectos genéticos, 
permitindo assim um diagnóstico familiar preciso. 
 
5 
 
Na psicologia o genograma pode ser utilizado como ferramenta de obtenção de 
dados em que poderão auxiliar o indivíduo no autoconhecimento bem como identificar 
seu papel na família, auxilia na identificação de padrões de comportamento que foram 
se repetindo ao longo das gerações e que com a psicoterapia poderá haver maior e 
melhor aproximação dos familiares bem como a decisão de realizar mudanças de 
comportamento. 
Segundo Vagner (2005), a teoria Sistêmica Bowenia é a que mais se utiliza 
do genograma como instrumento clínico, tal teoria afirma que as 
características emocionais nos sãos repassados pelos nossos pais e que por 
sua vez são padrões gerenciais precedentes, ou seja, os comportamentos 
repetidos em suas gerações compõem a história familiar e através do 
genograma que serão coletadas tais informações que facilitaram o processo 
de conhecimento da estrutura familiar. 
No campo do Serviço Social o genograma fornece dados sobre os 
relacionamentos intra e interpessoais, profissão, religião, lazer, entre outros temas 
que possam auxiliar e esclarecer a construção social desta família. Porém é 
necessária a utilização de outros métodos e técnicas, a critério do profissional, não 
necessariamente da linha teórica sistêmica, a fim de proporcionar maior conhecimento 
das informações do indivíduo e família. (McGoldrick, 1987). 
2.1 Montagem do genograma 
O genograma pode ser conceituado como uma representação gráfica da 
constelação familiar, compreendendo várias gerações, permitindo uma visão global 
da estrutura familiar e dos modelos do funcionamento da família; numa perspectiva 
tanto cronológica quanto dinâmica. (Machado, et al; 2005). 
A construção do genograma pode ser realizada de forma fragmentada 
didaticamente em: traçado da estrutura familiar; registro das informações e plano das 
relações familiares. (Rodrigues, et al; 2007). Sendo também encontrado como 
genograma estrutural (o qual é representado por estrutura e informações) e 
genograma funcional. (Machado, et al; 2005). 
O aspecto estrutural do genograma representa a arquitetura familiar, sendo 
disposto de forma horizontal e vertical. As linhas verticais representamas gerações 
familiares, o que segundo McGoldrick (1987), deverá registrar informações sobre os 
membros da família por no mínimo três gerações; logo o genograma apresentará de 
 
6 
 
três a quatro linhas verticais, conforme o histórico familiar apresentado. Por exemplo: 
1º linha poderá corresponder aos avós do paciente identificado (PI), 2º linha poderá 
corresponder à geração dos genitores do PI; 3º linha poderá corresponder à geração 
do PI e 4º linha poderá corresponder aos descendentes do PI. 
 As linhas horizontais irão representar o número de indivíduos que compõem 
cada geração familiar, sendo estes cada qual representados graficamente por registro 
das informações é o principal aspecto na construção de um genograma. O conteúdo 
de suas informações poderá ser variável de acordo com o objetivo da aplicação do 
genograma. 
Segundo Rodrigues, et al (2007), deverá conter informações demográficas 
como: idade data de nascimento e óbitos; datas de casamentos, divórcios, 
separações; nível educacional quando necessário; ocupações; profissão; 
identificação de patologias e fatores de risco, assim como alcoolismo e 
drogadição; histórico de êxito e de fracasso familiar ou individual; 
identificação e padrões comportamentais, sempre respeitando a ordem 
cronológica dos fatos. Contudo em se tratando da aplicação do instrumento 
para a Saúde Mental torna-se de suma importância os registros detalhados 
de pontos conflitantes ou eventos desencadeantes de traumas relatados pelo 
paciente identificado. 
 
As relações familiares trazem as características subjetivas referentes à maneira 
como os membros familiares se relacionam. (Webdt, Crepald, 2008). São 
representadas por meio de diferentes traçados gráficos cada qual com sua 
representatividade. “O genograma funcional complementa as informações obtidas no 
estrutural e permite uma visão mais dinâmica, pois indica as inter-relações dos 
membros da família”. (Machado, et al; 2005). Neste fragmento é que serão 
identificados os laços afetivos dos membros. 
As informações contidas no genograma são coletadas através de entrevista 
com o paciente identificado, podendo ser realizada também de forma coletiva com os 
membros da família, conforme o objetivo da aplicação do instrumento. 
2.2 Simbologia do genograma 
As representações gráficas utilizadas aqui, vêm de acordo com a simbologia 
utilizada por McGoldrick, a qual foi estabelecida pela Comissão de Revisão 
Acadêmica do Genograma, que após um período de estudos de 1978 a 1998, definiu 
os padrões de construção do Genograma. (Gomes, 1999). 
 
7 
 
 
O paciente identificado PI, é representado pela duplicidade da forma geométrica. 
 
Fonte: unesav.com.br 
Para a identificação de óbitos, é necessário inserir um X no membro familiar 
correspondente. É importante realizar a anotação do ano de nascimento/ano de 
falecimento, e/ou identificar a idade em que o membro entrou em óbito, assim como a 
causa morte se necessário. 
 
Fonte: unesav.com.br 
Com relação à situação conjugal, faz-se a ligação entre os membros através 
de linhas verticais e horizontais de acordo com o estado conjugal em que se 
encontram. É importante realizar o registro cronológico das relações como: ano da 
união matrimonial, ano da separação, divórcio, pode-se ainda identificar a duração do 
matrimônio. 
 
 
 
 
 
Fonte: unesav.com.br 
Para casamento múltiplo, deve-se respeitar a ordem cronológica. 
 
8 
 
 
Fonte: unesav.com.br 
Os descendentes serão representados segundo ordem de nascimento, 
seguindo simbologia própria para casos de gestação gemelar homozigótica e 
heterozigótica, aborto espontâneo e provocado e casos de adoção. 
 
 
 
 
 
 
9 
 
O genograma é um instrumento que também permite a apropriação de formas 
gráficas para realizar a identificação dos laços de afetividade, assim como pontos 
Conflitantes das relações familiares, através de diferentes traçados podemos 
visualizar o grau de afetividade existente entre os membros. 
 
Fonte: unesav.com.br 
É importante para construção do genograma a identificação dos núcleos 
familiares, uma vez que esta informação poderá ser de suma importância para a 
terapêutica. As famílias nucleares, ou seja, comporta por indivíduos que residem no 
mesmo domicílio (Rodrigues, et al, 2007), são representadas por um círculo. 
 
Fonte: unesav.com.br 
Conforme ordem cronológica, a 1ª união matrimonial em 1987, gerou dois filhos 
(um menino de 10 anos de idade e uma menina com 08 anos de idade), em 2000, 
após 13 anos de matrimônio, há processo de separação, onde a partir do genograma 
 
10 
 
podemos identificar que o filho reside com o pai e a filha com a mãe. Em 2003 a mãe 
casa-se pela 2º vez e tem uma filha de 04 anos. 
É válido ressaltar que as informações coletadas para construção do 
genograma, principalmente em relação ao genograma funcional, vêm de acordo com 
a percepção do paciente identificado, para a abordagem terapêutica individual, 
podendo ser variável, ou seja construído coletivamente para outras abordagens. 
O genograma é um instrumento gráfico, e pode ser utilizado por diversos 
profissionais, tais como médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, entre 
outros, pois facilita a interpretação dos principais problemas sociais, biológicos, 
emocionais e de relacionamento interpessoal. 
O efeito gráfico facilita a observação não somente do contexto familiar, mas 
também do indivíduo, pois o homem ao construir-se, angustia-se diante da 
responsabilidade em existir, visto que é um ser-aí e um ser-no-mundo e é através das 
relações com os outros que o homem se constrói e é responsável pela construção e 
o cuidado do outro. 
Segundo Erthal, na construção do genograma é de suma importância a 
escuta empática por parte do profissional, devido a mobilização ocasionada 
nos pacientes na construção do instrumento, pois este se depara com sua 
história familiar, e faz com que entre em contato com seu projeto de vida e 
dentro da concepção fenomenológica existencial afirmamos que 
“conscientizar-se do projeto não significa apenas alterá-lo pode ser que isso 
o leve a mantê-lo. É uma escolha que a qualquer sentido leva o risco” (Erthal, 
1989, p. 57). 
Ainda conforme Erthal (1989) ao realizarmos escolhas damos ao mundo o 
significado que apresenta um sentido para o nosso ser, portanto ao se deparar com 
sua história de vida familiar, refletida no genograma, o indivíduo é encorajado a refletir 
sobre sua vida. Como nos menciona Sartre (1978, p. 7) “Assim como sou responsável 
por mim e por todos, e crio uma certa imagem do homem por mim escolhida, 
escolhendo-me, escolho o homem”. 
Sendo o paciente refletir sobre sua responsabilidade em escolher, em manter 
ou não o padrão familiar constatado no genograma. 
Entende-se que o genograma, contribui de forma transdisciplinar, que é um 
instrumento utilizado na abordagem sistêmica familiar, para as demais abordagens 
teóricas tais como a fenomenologia existencial. 
 
11 
 
Dentro desta abordagem, o homem é um ser livre, único e responsável pela 
própria existência (Aranha, 1993.), o método fenomenológico, busca descrever o 
fenômeno tal como ele é, sendo o próprio homem quem o descreve, de acordo com o 
sentido que deseja dar para o fenômeno, assim ao utilizarmos o genograma, o 
profissional estará observando o sentido de que o indivíduo atribui a sua vida e seus 
relacionamentos. 
Percebe – se também na utilização do genograma, a maneira como o indivíduo 
percebe o seu EU ideal, Erthal (1989) afirma que muitos indivíduos, por não se 
aceitarem realisticamente, criam uma imagem idealizada de si mesmo, daquilo que 
gostariam de ser, não percebendo suas potencialidades. 
Segundo Erthal, esta imagem idealizada pode tornar-se prejudicial à medida 
que origina angústia frente as escolhas fracassadas, o que fica 
potencializando em famílias cujo padrão de funcionamento é opressor, 
criando assim uma autoimagemnegativa, a autoimagem é realizada a partir 
do significado que damos às nossas escolhas e estas desvelam o nosso ser, 
que formam nossos projetos de vida. “A imagem que o indivíduo cria de si 
mesmo, determina os comportamentos que desenvolve” (Erthal, 1989, p. 57). 
Muitos indivíduos portadores de transtornos mentais, inseridos em famílias com 
padrão rígido de comportamento, demonstram sentimentos de inferioridade, e o 
complexo de inferioridade é uma maneira de se escolher dentro de um plano de 
comportamentos fracassados, e afirma que: “antecipando os julgamentos 
desfavoráveis dos outros, escolhesse justamente comportamentos que os propicie. 
Como consequência disso, uma imagem idealizada pode ser formada, para 
compensar a ideia negativa que possa ter a respeito de si” (Erthal, 1989, p. 62). 
Desta forma a utilização do genograma, não somente na abordagem sistêmica, 
mas aqui exemplificado na teoria fenomenológico existencial, poderá ser utilizado em 
outro enfoque teórico, pois o interesse principal é de auxiliar o indivíduo a buscar pelo 
seu papel e nortear teoricamente o profissional na utilização do genograma. 
2.3 O uso do genograma de recursos 
A construção do genograma de uma família é uma técnica muito utilizada pelos 
terapeutas familiares. De um modo geral podemos definir um genograma como um 
esquema ou uma representação gráfica, em árvore, que inclui informação sobre dados 
estruturais (quem faz parte da família; relações biológicas e legais entre os membros), 
 
12 
 
demográficos (datas de nascimento, de morte, de casamento) e relacionais (existência 
de conflitos ou de alianças entre alguns dos membros) de uma família (Lewis, 1989; 
Hedges, 2005). Partindo desta técnica clássica em terapia familiar, Lowe (2004) 
propõe a construção do genograma da família, mas com um carácter diferente. 
Assim o autor defende que em vez de se construir um genograma onde apenas 
é recolhida informação sobre a estrutura da família, com especial ênfase na patologia, 
será mais útil elaborar um genograma de recursos onde é também recolhida 
informação sobre os contextos de competência das famílias que procuram a terapia. 
 Através desta técnica torna-se possível reunir uma grande quantidade de 
informação positiva sobre a família (i.e., os aspectos das suas vidas que são 
agradáveis e funcionam bem) em diferentes áreas, como por exemplo, a nível das 
atividades profissionais, atividades de lazer, relacionamento interpessoal, entre outras 
(Lowe, 2004). 
Segundo Neto, além do genograma de recursos, pode também considerar-se 
a construção de um genograma de sonhos. Através deste, os indivíduos são 
livres de expressar não só os seus recursos e competências já adquiridos e 
os sucessos alcançados, mas também os seus sonhos e o que gostariam de 
vir a atingir no futuro (Neto, 2004). 
Estas novas formas de utilização do genograma permitem, por um lado, que o 
terapeuta adopte uma visão mais apreciativa da família, sendo capaz de a visualizar 
para além dos problemas que esta lhe irá apresentar. Por outro lado, faz com que a 
própria família se aperceba dos seus recursos e capacidades ganhando também a 
noção das percepções que têm uns dos outros. 
Ao aperceberem-se dessas competências as pessoas passam a ter uma visão 
mais positiva de si mesmas, e ao imaginarem e verbalizarem o que gostariam de 
alcançar no futuro torna-se mais fácil a mudança e o alcançar desses objetivos. 
2.4 Genograma familiar 
O uso do genograma no campo da terapia familiar é geralmente associado à 
teoria dos sistemas familiares de Bowen (1979/1991). No início de seu trabalho com 
famílias, Bowen propôs a utilização de um diagrama familiar, o qual auxiliaria a coletar 
e organizar importantes dados sobre o sistema familiar multigeracional, e foi 
 
13 
 
renomeado em 1972 por Guerin, como genograma familiar (Nichols & Schwartz, 
1998). 
 O Genograma representa o mapeamento gráfico da “história e do padrão 
familiar, mostrando a estrutura básica, a demografia, o funcionamento e os 
relacionamentos da família”, configurando-se como um gráfico sumário dos dados 
coletados (McGoldrick & Gerson, 1995, p. 145). O Genograma explicita a estrutura 
familiar ao longo de várias gerações e das etapas do ciclo de vida familiar, além dos 
movimentos emocionais a ele associados. De acordo com Nichols e Schwartz (1998), 
a principal função do genograma é organizar os dados referentes à família durante a 
fase de avaliação e acompanhar os processos de relacionamento e de triângulos 
relacionais no decorrer da terapia. 
O modo como o genograma é feito, dispõe as informações da família 
graficamente de forma a oferecer uma visão compreensiva dos complexos padrões 
familiares. 
Segundo Mc Goldrick e Gerson, ao mesmo tempo, possibilita a criação de 
uma série de hipóteses sobre como o problema clínico da família pode 
conectar-se ao contexto, bem como a evolução de ambos, problema e 
contexto, ao longo do tempo (McGoldrick & Gerson, 1995). 
Os genogramas são baseados na suposição teórica de que o funcionamento 
dos membros familiares em diferentes níveis, físico, social e emocional, é 
interdependente, e quando uma parte do sistema familiar muda, todo o resto é afetado 
(Marchetti-Mercer & Cleaver, 2000). 
Carter e McGoldrick (1995), salientam que certos padrões familiares, em uma 
mesma família, são recorrentes e, por essa razão, é possível fazer determinadas 
predições sobre os processos futuros que a família vivenciará baseando-se na 
utilização do genograma. 
Bowen (1979/ 1991) diz que, deste modo, passado e presente são examinados 
para se obter possíveis informações sobre o futuro. Através dos genogramas é 
possível acessar os principais mitos e crenças que norteiam a vida da família. Tais 
mitos tendem a ser transmitidos ao longo das gerações e podem guiar a formação e 
ruptura dos relacionamentos (Asen & Tomson, 1997). 
 As informações reunidas através do Genograma podem incluir 
aspectos genéticos, médicos, sociais, comportamentais e culturais 
da família, sendo evidenciados os seguintes dados: 
 
14 
 
 Os nomes e idades de todos os membros da família; 
 Datas exatas de nascimentos, casamentos, separações, divórcios, 
mortes, abortos e outros acontecimentos significativos; 
 Indicações datadas das atividades, ocupações, doenças, lugares de 
residência e mudanças no desenvolvimento vital; e 
As relações entre os membros da família. Tais dados denotam a estrutura da 
família e podem se configurar como indícios do funcionamento e dinâmica das 
mesmas. 
2.5 Estrutura e dinâmica familiar 
 
Fonte: psicologiaviva.com.br 
Kreppner e Von Eye (1989) diz que, a formação dos subsistemas, a definição 
das fronteiras entre eles, e as relações entre os elementos de um sistema são 
abstrações que auxiliam a análise do complexo fenômeno do desenvolvimento familiar 
e das mudanças nos comportamentos dos membros familiares ao longo do ciclo vital. 
Essas abstrações referem-se à estrutura e à dinâmica das famílias que, por sua vez, 
caracterizam as configurações familiares. 
Segundo, Cerveny e Berthoud, consideram como componentes da estrutura 
familiar as características objetivas que permitem dar configuração ao grupo 
familiar, tais como o número de componentes, sexo, idade, religião, moradia, 
nível econômico, profissão, escolaridade, tipo de casamento, tempo de 
 
15 
 
casamento, quem trabalha, cor, raça, background étnico e cultural. Cerveny 
e Berthoud (1997, 2002) 
As características subjetivas referentes à maneira como os membros familiares 
se relacionam conferem indícios da dinâmica da família. Considera-se como dinâmica 
familiar a forma como os membros da família se relacionam, como estabelecem e 
mantêm vínculos, como lidam com problemas e conflitos, os rituais que cultivam, a 
qualidade das regras familiares, a definição de sua hierarquia e o delineamento dos 
papéis assumidos pelos membros da família (Cerveny &Berthoud, 2002). 
Para Minuchin (1982), um dos principais meios de acesso à estrutura e à 
dinâmica da família é a análise dos subsistemas familiares. Um indivíduo pode 
participar de diferentes subsistemas nos quais terá diferentes níveis de poder, 
aprenderá diferentes habilidades e manterá diferentes relações complementares. 
Cada subsistema familiar realiza e formula funções e demandas específicas de cada 
um de seus membros, sendo que o desenvolvimento das competências pessoais 
adquiridas em cada um desses subsistemas depende do grau de autonomia atingido 
pelos mesmos. 
Andolfi et al. (1984) diz que, a capacidade de mudar, participar, deslocar-se, 
separar-se e pertencer a diversos subsistemas permite aos indivíduos exercerem, 
junto à família, funções únicas, trocar e adquirir funções e, desse modo, expressar 
aspectos mais diferenciados de si mesmos. 
Os subsistemas, por sua vez, são separados por fronteiras e regras cujas 
funções são estabelecer limites próprios e regular as trocas estabelecidas entre eles, 
o que permite a manutenção dos mesmos. Quando os limites são suficientemente 
bem definidos para permitir contato entre os membros de diferentes subsistemas e o 
cumprimento de suas funções, sem a interferência indevida dos outros, considera-se 
que as fronteiras sejam nítidas. 
Segundo Minuchin, quando não existem limites entre os subsistemas, 
considera-se que as fronteiras sejam difusas, o que promove um padrão de 
funcionamento emaranhado na família. Quando existem limites excessivos, 
as fronteiras podem se tornar rígidas, promovendo um padrão de 
desligamento com o qual os membros dos subsistemas têm pouco ou 
nenhum contato (Minuchin, 1982). 
Minuchin (1982) diz que, nos subsistemas ou famílias emaranhadas, ou seja, 
nas famílias com fronteiras difusas, o comportamento e os sentimentos de um membro 
 
16 
 
afetam imediatamente os demais, o que pode produzir um aumento exacerbado do 
sentimento de pertencimento ao grupo. 
Esse sentimento, por sua vez, implica em uma significativa renúncia à 
exploração da autonomia e domínio de problemas e pode se transformar em um 
importante fator de desenvolvimento de sintomas e inibição de habilidades cognitivo-
afetivas e sociais. 
Nos subsistemas ou famílias desligadas, cujas fronteiras são rígidas, pode 
haver um senso distorcido de independência e carência de sentimentos de lealdade, 
pertencimento e interdependência, sendo necessários níveis elevados de stress para 
acionar o apoio dos demais membros. 
Segundo Miermont, a função das fronteiras é proteger a diferenciação do 
sistema e de seus membros, permitindo, ao mesmo tempo, a aquisição de 
competências interpessoais dentro dos subsistemas e em contatos com o 
exterior (Miermont, 1994). 
Com a chegada dos filhos, a família expande as relações existentes ou muda 
a estrutura interna, possibilitando a formação de novos subsistemas por meio de 
relacionamentos diádicos e triádicos no interior do sistema familiar (Kreppner & Von 
Eye, 1989). O número de relacionamentos que podem ser observados é o primeiro 
aspecto da estrutura familiar a ser considerado e o aumento ou diminuição nas 
possibilidades de relacionamentos caracteriza-se como um ponto importante na 
descrição das características estruturais do sistema. 
A recorrência de algumas formas de relacionamento entre determinados 
membros da família origina padrões transacionais, ou seja, padrões de 
relacionamentos cristalizados no sistema familiar. 
Com base na experiência clínica das autoras e na literatura foram definidos os 
seguintes padrões transacionais: relacionamento harmônico; relacionamento muito 
estreito ou superenvolvimento; relacionamento fundido e conflitual; aliança; 
relacionamento conflituoso; relacionamento vulnerável; relacionamento distante; 
rompimento; triangulação; e coalizão. 
A literatura contribuiu com os conceitos de: emaranhamento e rigidez de 
fronteiras (Minuchin, 1985); rompimento, superenvolvimento, fusão, diferenciação e 
triangulação (Bowen, 1979/1991); lealdades invisíveis (BoszormenyiNagy, 2003); e 
comunicação disfuncional, definida por Watzlawick, Beavin e Jackson (1973) como a 
 
17 
 
comunicação permeada de paradoxos, desqualificações e desconfirmações2 do 
outro, simetria e complementaridade. 
A seguir apresentam-se as definições de cada um dos padrões 
transacionais: 
 O relacionamento harmônico: 
 Define-se como a experiência emocional de união entre dois ou mais membros 
familiares que nutrem sentimentos positivos um para com o outro e que possuem 
interesses, atitudes ou valores recíprocos. Inclui diferenciação dos membros entre si 
e com suas famílias de origem. 
 O relacionamento muito estreito ou superenvolvimento 
Caracteriza os relacionamentos nos quais há fusão e dependência emocional 
entre os membros familiares, ou seja, caracteriza relacionamentos nos quais não há 
diferenciação entre os membros. 
 O relacionamento fundido e conflitual 
 Caracteriza os relacionamentos nos quais existe estreita dependência 
emocional e presença constante de conflitos entre os membros familiares, não 
havendo diferenciação entre os mesmos. 
 Embora o termo aliança 
Suscite interações positivas, trata-se de uma ligação baseada nas lealdades 
invisíveis que interferem, também, no processo de diferenciação, porém em menor 
grau que o superenvolvimento. 
 O relacionamento conflituoso 
Caracteriza-se pelas relações nas quais há constantes atritos que geram muita 
ansiedade e desavenças no meio familiar traduzidos por dificuldades de comunicação, 
tais como desqualificações e desconfirmações do outro, podendo evoluir para padrões 
de comunicação simétricos capazes de gerar violência física; 
 O relacionamento vulnerável 
Caracteriza os relacionamentos nos quais não há conflito explícito, mas que, 
entretanto, apresentam risco de haver conflitos em condições adversas ou fases de 
transição; 
 
 
 
 
18 
 
 O relacionamento distante 
Caracteriza a forma de relacionamento encontrada principalmente nas famílias 
desligadas, com fronteiras rígidas. O relacionamento entre os membros caracteriza-
se por pouco contato, principalmente de ordem emocional; 
 O rompimento 
Caracteriza os relacionamentos nos quais a ligação emocional entre os 
membros é mantida, apesar de não haver contato entre os mesmos. 
 A triangulação 
É a configuração emocional de três pessoas, na qual a pessoa “triangulada” 
cumpre uma função periférica de regulação da tensão existente entre outras duas e, 
“na ausência de conflito explícito, encontra-se em um estado de insegurança e mesmo 
de sofrimento emocional. Em caso de conflito, o embaraço, ou o sofrimento, desviasse 
e é transferido para os membros da díade, enquanto o terceiro vê-se aliviado” 
(Miermont, 1994, p. 571). 
 A coalizão 
 De acordo com Miermont (1994, p. 144), “consiste na aliança de duas pessoas 
contra uma terceira” e também se caracteriza como uma propriedade específica das 
tríades. 
Apesar de recorrentes, os padrões transacionais podem ser modificados ao 
longo do tempo, o que ocorre, principalmente, durante as fases de transição pelas 
quais passa a família. A mudança dos padrões transacionais permite a continuidade 
da família e, reciprocamente, a diferenciação de seus membros. 
2.6 A pesquisa com famílias 
O trabalho de pesquisa com famílias torna-se bastante complexo, sobretudo 
quando se quer avançar em relação aos dados sócios demográficos, numéricos, que, 
sem dúvida, são fundamentais, mas que por si só não dão conta de estudar a 
complexidade deste grupo social. 
Considerar o grupo familiar como uma entidade única, com funções específicas 
e definidas , e é bastante perigoso tendo em vista a diversidade de modelos familiares 
existentes no Brasil, além de sua multiplicidade de padrões interativos e 
 
19 
 
comportamentais e dos sistemas simbólicos que abarca. Segundo Bowen (1979/1991) 
a família é “umacombinação de sistemas emocionais e relacionais. 
O termo ‘emocional’ se refere à força que motiva o sistema e ‘relacional’ ao 
modo como se expressa. Este último compreende a comunicação, a interação e 
outras modalidades de relação” (p. 33) 
Assim sendo, a pesquisa qualitativa destaca-se por encerrar uma preocupação 
em estudar as sequências específicas dos comportamentos interpessoais, nas quais 
as ações de cada pessoa são visualizadas em uma sequência interativa que depende 
das ações dos demais parceiros de interação, ou seja, inclui aspectos complexos de 
interdependência nas relações familiares, sejam eles emocionais, relacionais e 
comunicacionais. 
Estudando pequenas amostras, os estudos qualitativos privilegiam as 
regularidades, mas se preocupam com as singularidades nas análises de cada grupo 
familiar em especial. Na pesquisa com famílias é importante não perder de vista a 
complexidade das relações que este grupo social encerra. Seja qual for a configuração 
do mesmo deve-se levar em conta a maior quantidade de detalhes que se possa 
abarcar. Então, o mapeamento das relações, baseando-se na máxima de que o 
triângulo é a unidade mínima de observação é condição essencial para a consecução 
do estudo da família. 
Segundo a teoria sistêmica, representada aqui por Andolfi, Angelo, Menghi e 
Nicolo-Corigliano (1984), em uma relação dual (casal, mãe-filho, pai-filho) não é 
possível haver diferenciação se nenhuma das duas partes envolvidas estabelecer 
relações com um terceiro. Cada componente da família, por sua vez, é parte de uma 
rede de relações com suas famílias de origem. 
O termo diferenciação refere-se ao processo de auto expressão do sujeito, que 
por sua vez, é membro de um grupo familiar e dele deve diferenciar-se 
progressivamente para atingir sua autonomia individual (Andolfi et al.). 
Para Andolfi et al. (1984), a relação triangular é a unidade mínima que 
constitui uma ligação estrutural que ajuda a determinar o processo 
diferenciação/indiferenciação individual. As particularidades que cada família 
experimenta na formação e destruição de seus triângulos de relação 
influenciam a transformação de sua estrutura e dinâmica. Portanto, pesquisá-
la requer uma análise minuciosa dos triângulos e suas relações recíprocas. 
Para isto, o Genograma é um instrumento visual importante porque pode 
servir ao mapeamento desta rede de interações (Andolfi 1984, apud 
McGoldrick & Gerson, 1985/2005). 
 
20 
 
O genograma pode ser considerado como um instrumento que auxilia a família 
a expressar-se, e que vem somar-se à gama de instrumentos de coleta de dados, 
como os relatos orais para estudos de caso, histórias de vida e entrevistas reflexivas 
que, como refere Szymanski (2004), permitem a ampla expressão dos participantes. 
2.7 O inquérito apreciativo como forma de questionar 
A linguagem e o diálogo assumem uma importância fulcral nos sistemas 
humanos. É através deles que nós comunicamos aos outros o que vemos e o que 
pensamos sobre o mundo e a realidade que nos rodeia (Gergen, 2001). 
A comunicação desempenha assim um papel importante intervindo na 
construção da identidade dos indivíduos, na forma como nos relacionamos com os 
outros, produzindo assim uma estrutura social, e representando o processo pelo qual 
formulamos os nossos valores, crenças e objetivos (Sigman, citado por Pearce & 
Pearce, 2003). 
De acordo com Pearce (1994, p. 75) “Quando comunicamos, não estamos 
apenas a falar sobre o mundo, estamos literalmente a participar na criação do universo 
social”. Partindo desta ideia e tendo em conta a importância que a linguagem tem nas 
nossas vidas, a forma como comunicamos e as perguntas que fazemos em terapia 
revelam-se de extrema importância, podendo ser utilizadas como forma de ajudar as 
pessoas a identificarem e utilizarem os seus recursos. O Inquérito Apreciativo (IA) 
pode ser uma das formas de o conseguir. 
O IA – Inquérito apreciativo, desenvolvido por Cooperrider e Srivastva em 1987 
(Cooperrider & Whitney, 1999), pode ser encarado como o estudo e a exploração do 
que há de melhor e do que “dá vida” aos sistemas humanos, quando estes funcionam 
na sua forma mais ativa e eficaz. 
Podem ser considerados oito pressupostos (Hammond, 1998; Neto et al, 
1999; Neto & Marujo, 2001), a partir dos quais o IA foi desenvolvido: 
 Em todas as sociedades, organizações ou grupos, existe sempre 
algo que funciona; 
 Quando nos focarmos em algo, isso torna-se a nossa realidade; 
 A realidade é criada no momento e existem múltiplas realidades; 
 
21 
 
 Ao colocarmos questões a uma pessoa, organização ou grupo, 
estamos a influenciá-los de alguma maneira; 
 As pessoas sentem-se mais confiantes e confortáveis ao caminhar 
para o futuro (o desconhecido), quando trazem consigo partes do 
passado (o conhecido); 
 Se trouxermos conosco partes do passado, essas deverão ser as 
melhores; 
 É importante valorizar as diferenças; 
 A linguagem que usamos cria a nossa própria realidade. 
Segundo Cooperrider e Whitney, de um modo mais específico, o IA 
caracteriza-se pela formulação de questões positivas que permitem que 
novas imagens do futuro sejam geradas, sendo estas evocadas pelo que de 
melhor aconteceu no passado e no presente. Deste modo, esta é uma técnica 
que, através da forma como coloca as questões, permite o fortalecimento da 
capacidade de um sistema de apreender, antecipar e aumentar o seu 
potencial positivo (Cooperrider & Whitney, 1999). 
O questionamento apreciativo é único uma vez que não existem questões 
aplicáveis a todos os casos de forma indiferenciada, sendo estas definidas pela 
própria conversação que está a decorrer. No entanto, podem identificar-se quatro 
fases gerais ao longo deste processo (Cooperrider & Whitney, 1999; Fuller, Griffin & 
Ludema, 2000): descoberta, sonho, planeamento e destino. 
A fase da descoberta consiste numa procura pelo que “dá vida”, ou seja, uma 
apreciação das forças do sistema; a segunda fase, a do sonho, procura explorar “o 
que pode ser” convidando as pessoas a pensarem no que há de positivo e imaginá-lo 
ainda melhor; na terceira fase, o planeamento, o objetivo consiste em co-construir, em 
projetar o ideal, “Como queremos fazer? ”, “Como deveria ser? ”. 
Finalmente, a última fase, o destino, consiste em reconhecer o que foi 
aprendido e transformado desde o início do processo com o objetivo de tornar reais 
os sonhos que foram sendo enunciados. De acordo com Hedges (2005) é através do 
retirar do foco da exploração do que causou o problema no passado que se torna 
possível a visualização das oportunidades futuras, até aqui negligenciadas. 
A aplicação desta forma de questionar à terapia familiar traz grandes vantagens 
na medida em que permite à família descentrar-se do problema que a levou a procurar 
ajuda. Ao fazê-lo torna-se possível mostrar à família que possui forças e 
competências, talvez até esta altura não reconhecidas pelos seus membros, a partir 
 
22 
 
das quais será possível avançar na caminhada que os vai permitir alcançar os 
objetivos que eles próprios traçaram para si. 
3 TERAPIA FAMILIAR SISTÉMICA: UMA BREVE INTRODUÇÃO AO TEMA 
A terapia familiar é desenvolvida a partir dos anos cinquenta nos Estados 
Unidos da América, como uma mudança de paradigma do pensamento analítico para 
o pensamento sistémico. Este movimento implicou a “importação” de conceitos de 
diversas áreas do saber para a psicologia, onde se destacam três áreas: a Cibernética, 
através dos conceitos de regulação, funcionamento e evolução do sistema familiar; as 
teorias da comunicação pela grelha de análise para um melhor entendimento sobre a 
interação nas famílias e finalmente, a teoria geral dos Sistemas, da qual se retira a 
noção básica de sistema, onde se vê a família como um todo e não a soma das várias 
partes. (Relvas, 1999). 
 
 
Fonte: homoessentia.com.br 
Segundo Relvas, perante estes acontecimentos,constrói-se um novo 
conceito de doença mental onde o sintoma é encarado como um 
comportamento lógico que possui total coerência tendo em conta o contexto 
onde está inserido. O paciente identificado, portador do sintoma é assim um 
dos elos de uma cadeia interativa disfuncional de um todo, sendo que esta 
disfuncionalidade se deve aos movimentos homeostáticos que o sistema 
poria em curso para obter a sua manutenção. (Relvas, 1999). 
 
23 
 
Com esta mudança de paradigma, o sujeito que tinha o sintoma deixava de 
ocupar o centro da atenção; o interesse do terapeuta passava a alargar-se ao 
funcionamento global do sistema onde o indivíduo está presente. 
O sintoma passa a ser percebido como um dos aspectos do funcionamento e o 
foco da atenção é direcionado para o agregado de elementos em interação dinâmica, 
organizados em função de uma finalidade. Este sintoma, sendo um comportamento 
manifestado por um ou mais dos componentes do sistema, é em si próprio e por 
definição, não apenas relativo a quem o manifesta, mas a todo o sistema. (Paixão, 
1995). 
O conceito de família é fundamental na prática da terapia familiar, Gameiro 
define-a como: 
“ Segundo Gameiro, (…) uma rede complexa de relações e emoções no qual 
se passam sentimentos e comportamentos que não são passíveis de ser 
pensados com os instrumentos criados para o estudo dos indivíduos isolados. 
(…) a simples descrição de uma família não serve para transmitir a riqueza e 
complexidade relacional desta estrutura. ” (1992: 187). 
A família é um sistema social, aberto e auto organizado, tendo as mesmas 
características de qualquer outro destes sistemas. 
Uma família é um todo, mas ao mesmo tempo pertence também a outros 
sistemas de contextos mais vastos, nos quais se vai integrar, como a comunidade ou 
a sociedade. Ao invés, dentro da família, existem totalidades mais pequenas, isto é, 
subsistemas, chegando até ao subsistema individual. Esta hierarquização sistémica 
pensa a família como um sistema entre sistemas enfatizando o papel das relações 
estabelecidas onde nem o meio nem o sujeito são excluídos desta abordagem. 
(Relvas, 2003). 
 Segundo Relvas, afirma que a família deve procurar responder a duas 
funções primordiais: em primeiro lugar, permitir o crescimento e 
individualização dos seus membros ao mesmo tempo que incute o sentimento 
de pertença; em segundo lugar, deve facilitar a integração destes no contexto 
sociocultural onde pertencem. A família é assim um agente de socialização 
primária. Relvas (2003). 
 (Relvas, 2003) diz que, falar do processo terapêutico em terapia familiar é algo 
bastante complexo isto porque a terapia familiar não possui uma teoria unificada, mas 
pelo contrário, possui vários modelos de terapia com base em diferentes escolas 
clássicas (modelo estrutural de Minuchin, estratégico de Palo Alto, e o transgeracional 
 
24 
 
de Bowen) e os novos desenvolvimentos (modelo narrativo de White, terapia centrada 
na solução de Shazer e os modelos integrativos). 
Porém existem pontos que são comuns a toda a terapia familiar que está 
relacionado com a necessidade do terapeuta se apoiar numa teoria acerca da família. 
Que segundo Vetere (1987, citado por Relvas, 2003) satisfaça os seguintes 
requisitos: 
 Descrever e explicar a estrutura familiar, a sua dinâmica, processo e 
mudança; 
 Descrever as estruturas interpessoais e as dinâmicas emocionais dentro 
da família; 
 Ter em conta a família como ligação entre o individual e a cultura; 
 Descrever o processo de individuação e a diferenciação dos membros 
da família; 
 Prever a saúde e a patologia dentro da família, isto é, ter um conjunto de 
hipóteses acerca do funcionamento familiar e das causas da disfunção; 
 Prescrever estratégias terapêuticas para lidar com a disfunção familiar. 
Quando existem casos de violência doméstica ou abuso sexual, a terapia 
familiar é contra- indicada, uma vez que a vítima não irá provavelmente expressar 
sentimentos na presença do seu agressor. (Bloch,1999). 
Existem vários parâmetros que têm de se ter em conta na avaliação do 
funcionamento da família no aqui e agora que segundo Bloch (1999), podem ser 
considerados tendo em conta os seguintes tópicos: 
 Comunicação e troca de informação; 
 Estado emocional e expressão de sentimentos; 
 Atmosfera familiar; 
 Coesão, sentido de pertença e lealdade; 
 Fronteiras entre subsistemas; 
 Operações familiares na resolução de problemas do quotidiano. 
O objetivo do terapeuta ao longo da sessão é o de avaliar o problema nos 
termos que o paciente identificado (portador do sintoma) apresenta, compreender as 
suas origens e o papel da família na sua manutenção, para assim poder motivar as 
mudanças requeridas de forma a aliviar o problema e melhorar a vida familiar. 
 
25 
 
Irá também procurar motivar a família para a necessidade de haver uma 
mudança e negociar no âmbito da terapia um contrato terapêutico. (Bloch, 1999). 
 É fundamental obter o consentimento informado de toda a família presente 
relativamente à presença dos observadores e ao uso de meios tecnológicos. (Bloch, 
1999). A sala da terapia deve ser confortável e privada, as cadeiras devem estar 
disposicionadas de uma forma circular e no caso de haver crianças, haver material 
para elas poderem brincar. 
A equipe reflexiva deve trocar ideias acerca da história apresentada pela 
família, e formular uma hipótese para orientar a sessão inicial. (Bloch, 1999). Uma das 
formas para abrir caminho para um inquérito com uma maior carga emocional é 
inicialmente fazer questões neutras como o nome ou a idade. 
Outra forma é, por exemplo, pedir aos pais para explicarem aos filhos o motivo 
pelo qual vieram à consulta. Desta forma o terapeuta familiar pode avaliar as suas 
reações e interações. (Bloch, 1999). 
Desde a primeira sessão que o terapeuta encoraja todos os elementos da 
família a comunicarem livremente, pensamentos e sentimentos. Sendo que muitas 
vezes as vias de comunicação se abrem logo após a primeira sessão, devido a esta 
atitude por parte do terapeuta. (Bloch, 1999). 
Ao elaborar o plano de tratamento, o terapeuta formula uma hipótese 
explicativa dos problemas apresentados pela família (tanto os que a levaram à 
consulta, como aqueles que emergiram na primeira sessão). Cria também uma lista 
de objetivos a cumprir com a terapia, que deve estar contextualizado com os padrões 
de funcionamento da família. (Bloch, 1999) 
O terapeuta pode trabalhar sozinho, ou com um co-terapeuta, 
preferencialmente de outro sexo, isto porque a co-terapia pode ser bastante vantajosa 
na medida em que proporciona a todos os elementos da família um modelo do seu 
género. Regra geral, os terapeutas familiares têm preferência por trabalhar em equipa, 
seja só com um co-terapeuta e/ ou com mais colegas atrás de um espelho 
unidirecional. (Bloch, 1999) assim pode haver uma partilha de reflexões mais rica para 
todo o processo terapêutico. 
Segundo Bloch, a duração da terapia pode variar entre uma sessão, (onde o 
problema da família foi resolvido naquela sessão, ou então que está 
contraindicada para terapia familiar), até um tempo relativamente indefinido 
(Bloch, 1999). 
 
26 
 
3.1 A família à luz da teoria sistêmica 
A família, ao longo dos tempos, vem passando por grandes transformações. 
Essas transformações dizem respeito a uma mudança na própria estrutura familiar. 
Se antes o que se via eram as tradicionais famílias nucleares, pai, mãe e filhos o que 
se vê hoje, além dessa estrutura, são as famílias recasadas, separadas, filhos de pais 
solteiros, entre outras. 
Essa nova configuração do sistema familiar é, para a teoria sistêmica, elemento 
fundamental a fim de se obter compreensão a respeito do funcionamento de 
determinado sistema familiar. 
 A estrutura social, econômica e cultural da qual faz parte o sistema familiar irá 
determinar os tipos de relações que irão ser estabelecidos porcada um de seus 
membros. De acordo com Richter (1990, p.23): “A família é o palco onde 
dramaticamente entram em cena as forças emocionais de depressão, medo, teimosia 
defensiva e protesto, acompanhando o encontro e o choque de gerações”. 
Nesse sentido é que a teoria sistêmica aponta as suas suposições a respeito 
desse grande sistema, que é o familiar. Um sistema pode ser entendido como um 
conjunto de pessoas que exercem influência umas sobre as outras, sendo a família o 
maior sistema que influencia os comportamentos de seus membros a partir da 
circularidade das relações. 
 Vasconcellos (1995, p.23), ao falar da circularidade, afirma que “cada 
comportamento e cada evento no sistema está vinculado, em forma circular, a muitos 
outros e que nenhum comportamento ou evento isolado ocasiona outro”. 
Essa circularidade de que fala a autora citada acima (1995) diz respeito à 
influência do comportamento de um membro da família sobre o comportamento de 
outro, a qual também enfatiza que essa influência nunca se acaba, pois, os membros 
de determinada família estão sempre influenciando-se mutuamente, de forma 
retroalimentar. Isso significa que o comportamento de um, alimenta de certa forma o 
comportamento de outro, o que leva a crer que um sistema é muito mais do que a 
soma de suas partes, justamente pelo fato de as partes influenciarem-se mutuamente 
de forma recursiva. 
Vasconcellos (1995) acredita que o termo recursividade pode ser entendido a 
partir da noção de circularidade, por falar justamente da influência que os 
comportamentos dos membros da família exercem uns sobre os outros, e que 
 
27 
 
determinarão, consequentemente, os padrões de relacionamentos que irão ser 
estabelecidos pela família. 
É justamente nesses padrões de relacionamentos que cada um dos membros 
da família vai construindo a sua autoimagem. Para tanto, a fim de se entender esses 
padrões de funcionamento da família, faz-se necessário compreender as relações 
existentes entre as fronteiras. 
As fronteiras, para Minuchin & Fischman (1990), são as linhas norteadoras que 
delimitam o papel de cada um dos membros da família. A partir delas, segundo os 
autores citados anteriormente (1990), pode-se obter conhecimento a respeito de todo 
o funcionamento da família, assim como de todas as alianças, coalizões, de quem 
está mais próximo de quem, bem como de todas as díades e tríades estabelecidas 
dentro do sistema familiar. 
Minuchim & Fischman (1990) acreditam que as díades e/ou as tríades oferecem 
subsídios para avaliar se as dificuldades enfrentadas pela família estão mais 
direcionadas à relação mãe-filho, esposo esposa, pai-filho-esposa, entre outras. 
O que se vê no sistema familiar, segundo Rosset (2003), são os membros da 
família ocupando funções que não são suas como, por exemplo, a criança que é 
responsável por algumas tarefas que competem aos pais, ou até mesmo aquelas 
situações em que os pais não conseguem, por questões pessoais, ocuparem seu 
lugar de pais, sendo que quem acaba ocupando esse lugar dentro da família é o 
próprio filho. 
De acordo com a teoria sistêmica, e conforme as ideias de Minuchin & 
Fischman (1990), as fronteiras delimitam também as formas de relações entre os 
subsistemas existentes dentro desse grande sistema que é a família. Os subsistemas 
podem ser: o fraternal, que diz respeito às relações entre os irmãos; o conjugal, que 
corresponde à relação entre o casal; assim como outros subsistemas que podem ser 
formados dentro desse sistema maior que é a família. 
 Os autores citados acima (1990) acreditam que essas fronteiras entre os 
subsistemas precisam ser respeitadas, pois delimitam o que compete a cada um dos 
membros desse subsistema, no sentido de marcar os papéis de cada um dentro do 
sistema familiar. Minuchin & Fischmam (1990) acreditam que a partir dessas fronteiras 
entre os subsistemas é possível analisar quem está desempenhando o papel de quem 
e quando fica visível na família essa inversão de papéis. 
 
28 
 
Uma das formas de se buscar essa compreensão a respeito do funcionamento 
da família é analisar o seu dia-a-dia, a sua rotina e, a partir daí ter um parâmetro de 
como a família vem evoluindo ao longo dos anos. A maior tendência da família, de 
acordo com a teoria sistêmica, é manter a homeostase, ou seja, o equilíbrio, sendo 
que essa muitas vezes o faz de forma a deixar a família num plano disfuncional. 
Conforme Whitaker & Bumberry (1990, p.60): 
Segundo Whitaker e Bumberry, a forma como cada família em particular 
encena seu mundo simbólico pode evoluir com o tempo, mas tipicamente 
retém algumas manifestações centrais que são mais ou menos consistentes. 
Uma forma de dar uma olhada em seus modelos centrais é considerar seus 
rituais interpessoais. Prestar atenção à forma como eles operam quando 
ficam juntos é revelador. A rotina matinal, o ritual do jantar e o modo como 
eles funcionam durante os feriados são empreendimentos que contam como 
seu mundo é organizado. 
 
Ainda de acordo com Whitaker & Bumberry (1990), os rituais do cotidiano 
podem revelar muito sobre a família; por isso a importância dada pela teoria sistêmica 
para esses rituais. 
Muitas vezes, a forma como esses rituais estão organizados demonstra que a 
família está um tanto disfuncional, e que está apresentando, naquele momento, uma 
certa confusão a respeito de seus padrões de funcionamento. Whitaker & Bumberry 
(1990, p.65) afirmam que: “A confusão é, por si só, uma das formas mais potentes 
para abrir simbolicamente a infra - estrutura familiar”. 
 Nesse sentido, os autores citados acima (1990) acreditam que as famílias 
estabelecem seus padrões de interação e de relacionamentos a partir das 
experiências simbólicas de vida, e que cada família irá determinar, de acordo com 
esses padrões, a forma como irão compartilhar essas experiências de vida em 
comum. 
Outra questão apontada pela teoria sistêmica como de extrema relevância a 
fim de se compreender o funcionamento familiar é a relação que a própria família 
estabelece com relação aos segredos que são passados, muitas vezes, de geração 
para geração. 
Segundo Imber-Black (1994): 
Segundo Imber-Black, os segredos são fenômenos sistêmicos. Eles estão 
ligados ao relacionamento, moldam as díades, formam triângulos, alianças 
encobertas, divisões, rompimentos, definem limites de quem está dentro e de 
 
29 
 
quem está fora e calibram a intimidade e o distanciamento nos 
relacionamentos. 
Imber-Black (1994) acredita que os segredos podem ser, algumas vezes, os 
grandes causadores da disfunção familiar, pois em algum momento do ciclo de vida, 
os pais acabam fazendo essas díades e triangulações com os filhos, quando colocam 
um dos filhos contra o companheiro ou quando coloca a criança como cúmplice em 
um segredo que exclui o outro companheiro. 
Essa questão que diz respeito a manutenção de segredos na família remete ao 
sentimento daquele que carrega o segredo com a lealdade àquele sistema. Ainda de 
acordo com Imber-Black (1994): “O próprio significado da lealdade familiar pode 
estreitar-se na presença de uma solicitação para manter o segredo, de modo que um 
membro da família vem a crer que apenas mantendo o segredo ele pode demonstrar 
lealdade e que sua revelação é um ato supremo de deslealdade”. 
Nesse sentido, Imber-Black (1994) pensa que a existência de segredos que 
são nocivos ao bom funcionamento da família deve ser revelados a fim de que essa 
possa voltar para o curso “normal” de seu desenvolvimento ao longo do ciclo de vida. 
Freddo (2003, p.33) acredita que: 
Segundo Freddo, é importante salientar que a conceitualização do ciclo vital 
da família contribui valiosamente para o estudo da família, ao centrar-se na 
evolução temporal das interações entre os membros da família, entre estes e 
outros não familiares, entre as famílias e outras estruturas sociais, no sentido 
de evolução e continuidade. 
Todas essasquestões trazidas por Freddo (2003) revelam que, para se 
compreender a estrutura de determinada família, é necessário entender as etapas do 
ciclo de vida que foram passadas pela família, bem como as implicações dessas 
etapas no desenvolvimento e funcionamento desse sistema. 
Tal procedimento permite que tudo aquilo que está encoberto dentro do sistema 
familiar possa ser revelado, com o objetivo de fazer com que a família, a partir de cada 
um de seus membros, possa voltar a transitar de forma funcional por esse ciclo de 
vida. Considera-se para isso o fato de que a própria vida traz implicitamente, em cada 
uma de suas etapas, questões conflitivas e momentos em que a família, com certeza, 
deverá parar e avaliar o seu funcionamento até o momento presente, para que possa 
progredir no futuro. 
 
30 
 
3.2 A família como um sistema 
O termo família foi definido de diversas maneiras e para inúmeras finalidades 
de acordo com a própria estrutura de referência do indivíduo, do julgamento de valores 
ou da disciplina. 
Podemos entender alguns conceitos de família como: 
 Um grupo de indivíduos descendentes de um ancestral comum; 
 Um grupo de pessoas vivendo numa casa e que compartilham de elos 
comuns: 
 Pessoas que constituem a unidade familiar que podem apresentar 
vários tipos de relacionamento são: consanguíneas (relações 
sanguíneas); afim (relação marital); família origem (a unidade familiar 
em que à pessoa nasceu). 
Algumas ciências entendem família com diferentes olhares, como para a 
biologia é a divisão entre ordem e gênero e perpetuação da espécie. A psicologia 
enfatiza os aspectos interpessoais da família e sua responsabilidade no 
desenvolvimento da personalidade. A economia vê a família como uma unidade 
produtiva que proporciona as necessidades materiais. A sociologia mostra como a 
unidade social reage com a sociedade maior. 
Segundo, Munhoz define família como uma célula social que faz a ponte entre 
o indivíduo e a sociedade na qual está inserida, em constante interação 
promove mudanças através das etapas evolutivas dos ciclos vitais individuais 
e familiares. Munhoz (2001) 
A família é um sistema ativo em constante transformação, ou seja, um 
organismo complexo que se altera com o passar do tempo para assegurar a 
continuidade e o crescimento psicossocial de seus membros componentes, ocorrendo 
desde o período de alteração individual como futuros cônjuges. 
A teoria de família sistêmica teve suas origens na teoria dos sistemas, onde as 
bases teóricas já citas acima influenciaram a visão dos psicólogos para os estudos e 
atendimentos familiar. A família é vista como um todo que é diferente do somatório 
dos membros individuais é um sistema em constante transformação, evoluindo com a 
capacidade de diminuir sua própria estabilidade e recuperá-la através de uma 
reorganização de sua estrutura com novas bases. 
 
31 
 
Utilizando o termo aberto e fechado encontramos as famílias abertas que 
recebem bem os estímulos dentro de seu sistema, através da aceitação de novas 
ideias, informações, recursos e oportunidades satisfazendo as exigências de seus 
ciclos. Os estímulos externos e internos são avaliados e reavaliados continuamente 
em busca do equilíbrio entre a unidade família e o crescimento individual. 
Esses processos são influenciados por experiências passadas e presentes das 
unidades familiares de cada um de seus membros. 
As famílias fechadas são resistentes aos estímulos por ver a alteração como 
ameaça; suspeita de qualquer suporte disponível e se esforça para manter o sistema 
da família através da prevenção das influências externas. 
Durante o trabalho com a família o terapeuta deve estar ciente das relações 
entre os membros, e para efetuar uma alteração positiva na família, é necessário 
trabalhar através de diversos subsistemas da própria família, a qual também se adapta 
quando existem problemas dentro dela. 
3.3 Pressupostos teóricos da terapia familiar sistêmica 
A denominada terapia familiar sistêmica recebeu influência, 
predominantemente, da teoria geral dos sistemas (TGS) e da teoria da 
comunicação. No que se refere à TGS foi desenvolvida pelo biólogo austríaco 
Von Bertalanffy a partir da década de 20 e postula que em toda a 
manifestação da natureza há uma organização sistêmica, que pressupõe não 
apenas um aglomerado de partes, mas sim um conjunto integrado a partir de 
suas interações (OSÓRIO, 2002; apud LOPEZ e ESCUDERO, 2003). 
As propriedades do sistema que podem ser observadas na família são: 
totalidade, causalidade circular, equifinalidade, equicausalidade, limitação, regras de 
relação, ordenação hierárquica e teleologia. A propriedade de totalidade considera 
que o entendimento de uma família não se constitui apenas pela soma das condutas 
de seus membros, mas sim pela compreensão das relações entre eles. 
A causalidade circular descreve as relações familiares como recíprocas, 
pautadas e repetitivas, de forma que a resposta de um membro A para a conduta de 
outro membro B é um estímulo para que B dê uma resposta que pode servir de 
estímulo para A. 
No que se refere à equifinalidade, entende-se que um sistema pode alcançar o 
mesmo estado final a partir de condições iniciais distintas, o que dificulta buscar uma 
única causa para o problema. 
 
32 
 
A equicausalidade significa que a mesma condição inicial pode resultar em 
estados finais diversos. Estas duas propriedades equifinalidade e equicausalidade 
estabelecem a conveniência de abandonar a busca de uma causa passada originária 
do sintoma e centrar-se no aqui e agora, nos fatores que estão mantendo o problema. 
Em relação à limitação, entende-se que quando se adota uma determinada sequência 
de interação, a probabilidade de que o sistema emita uma resposta diversa é 
diminuída, de modo que, se esta for uma conduta sintomática, ela tende a converter-
se em patológica porque contribui para manter o problema. 
As regras de relação definem a interação entre seus componentes e a maneira 
que as pessoas enquadram a conduta ao comunicar-se entre si. A ordenação 
hierárquica postula que em toda a organização há uma hierarquia, na qual certas 
pessoas possuem mais poder e responsabilidade do que outras. 
Segundo Ochoa de Alda, na família, além do domínio que uns exercem sobre 
os outros, é inerente a ajuda, a proteção e o cuidado que oferecem aos 
demais, sendo que há uma relação hierárquica entre as pessoas e também 
entre os subsistemas. 
Por fim, teleologia significa que o sistema familiar se adapta às diferentes 
exigências dos diversos estágios de desenvolvimento a fim de assegurar 
continuidade e crescimento psicossocial a seus membros (OCHOA DE ALDA, 
2004). 
Por outro lado, os estudos sobre comunicação foram iniciados pelo biólogo e 
antropólogo norte-americano Gregory Bateson na década de 50, identificando uma 
relação entre a patologia comunicacional e a gênese da esquizofrenia. Ele passou a 
perceber que a sequência de situações ambivalentes e confusas poderia levar à 
desestruturação esquizofrênica, por conta da falha nos padrões comunicacionais, 
ocasionando conflitos internos (OSÓRIO, 2002). 
 Desse modo, propôs-se evitar os conceitos psicológicos tradicionais, 
baseados no indivíduo e sugerir uma compreensão da doença como relacional 
(FÉRES-CARNEIRO e PONCIANO, 2005). O trabalho de Bateson foi essencial para 
o desenvolvimento das noções sistêmicas em relação ao comportamento do indivíduo. 
A Teoria da Comunicação propôs 5 axiomas básicos, o primeiro está pautado 
no princípio de que todo o comportamento pode ser considerado comunicação e toda 
a comunicação pode ser considerada comportamento, sendo assim, é impossível não 
se comunicar. 
 
33 
 
O segundo axioma diz que toda a comunicação tem um aspecto de conteúdo e 
outro de relação, de tal forma que esta classifica aquele e é, portanto, uma 
metacomunicação. 
O terceiro refere que quando duas pessoas interagemumas com as outras, 
elas impõem um certo tipo de ordem e sequência causal à comunicação, de acordo 
com a sua própria pontuação dos eventos, ou seja, cada um vê o mundo a sua 
maneira. O quarto axioma menciona duas formas de comunicação entre os seres 
humanos: digital que diz respeito à comunicação verbal, e analógica a qual inclui todas 
as formas de expressão que não a verbal. 
O quinto e último estabelece que todos os intercâmbios comunicacionais são 
simétricos ou complementares, conforme estejam baseados na igualdade ou 
na diferença (MIERMONT, 1994; apud, DIAS, 2001; OSÓRIO, 2002). 
Assim, ao levar em conta os aspectos de relação e de globalidade, a visão 
sistêmica entende o ser humano como um sistema de personalidade ativo em que a 
criatividade, a imprevisibilidade e a capacidade de escolher constituem suas 
características mais representativas (CUSINATO, 1992). Nesta perspectiva, a 
compreensão e o tratamento do sofrimento mental passam a abranger o contexto mais 
imediato do indivíduo que é a família, a qual passa a ser vista como um “sistema onde 
as ações e comportamentos de um dos membros influenciam e simultaneamente são 
influenciadas pelos comportamentos de todos os outros”. Desse modo, a família não 
é apenas a soma de suas partes, mas um todo coeso, inseparável, uma unidade 
indivisível (CASTILHO, 2008). 
Nesse sentido, um sistema pode ser entendido como uma rede complexa de 
relações e interações entre atores em um cenário específico. Cada ator, à luz do 
pensamento sistêmico, representa um subsistema, que interage com outros 
subsistemas, formando um sistema maior. 
 A família pode ser considerada um sistema porque representa certa totalidade 
das relações e interações de membros familiares (GALERA e LUIS, 2002), da qual 
fazem parte os subsistemas conjugal, parental e fraternal. 
O primeiro abrange o papel conjugal que pressupõe a interdependência e 
compartilhamento de tarefas no mútuo preenchimento dos desejos e 
necessidades de cada um dos parceiros. Já o subsistema parental envolve 
os papeis materno (tarefas nutrícias, função continente) e paterno (facilitador 
do processo de individuação, ao interpor-se entre mãe e filho, e transmissor 
da autoridade social). O subsistema fraterno compreende as relações entre 
 
34 
 
irmãos que, de modo geral, oscilam entre rivalidade e solidariedade 
(OSÓRIO, 2002; apud, NUNES, SILVA e AIELLO, 2008). 
A mudança fundamental proposta pela visão sistêmica é a substituição do 
modelo linear de pensamento científico pelo circular, opondo-se à visão mecanicista 
causal dos fenômenos. Deste modo, o terapeuta não tentará explicar um 
comportamento isolando o indivíduo de seu meio social, mas sim irá observá-lo em 
suas relações com os membros da família e com os demais sistemas com os quais 
estará envolvido (SILVA, 2008). 
Esta abordagem, também, propõe uma mudança de leitura e de postura em 
relação às famílias. Ao invés de uma “visão negativa”, na qual o ambiente familiar teria 
como matiz principal desajustes, conflitos, déficits e fracassos, passa a focar, 
pesquisar, compreender e fortalecer os recursos e o sucesso na família, com base 
nos estudos sobre percepções de elementos das experiências de vida, aspectos 
biológicos e interações pessoais com o contexto, compreendidos sistemicamente, de 
forma contextualizada e intersubjetiva (BLOCK e HARARI, 2007; BÖING, CREPALDI 
e MORÉ, 2008). É com esta leitura da terapia familiar sistêmica que Falceto (2008) 
afirma que envolver a família em terapia é uma forma de compreender os problemas 
humanos. 
3.4 A entrevista na abordagem sistêmica 
Partindo deste referencial teórico, a entrevista dá muita atenção à comunicação 
que se estabelece por quem busca ajuda psicológica, desde o primeiro contato 
usualmente feito por telefone (RÍOS-GONZÁLEZ, 1993; NICHOLS e SCHWARTZ, 
2007; FALCETO, 2008; ROSSET, 2008). Alguns profissionais trabalham com uma 
ficha telefônica, que é preenchida já neste primeiro contato. 
No modelo utilizado por Ríos-González (1993) em sua clínica de formação de 
terapeutas, a pessoa que recebe a primeira chamada telefônica, geralmente a 
secretária da clínica, preenche uma ficha com os seguintes dados: paciente 
identificado (nome completo e idade, estudos ou profissão, posição que ocupa entre 
os irmãos e número de irmãos vivos), endereço postal e telefone de contato com a 
pessoa que realizou essa primeira chamada, quem encaminhou ou solicitou a 
consulta, motivo inicial da consulta, quem chamou ou pediu a consulta, data da 
 
35 
 
primeira chamada, quem a recebeu na clínica, estrutura da família (nomes – pai, mãe, 
filho, 1º, 2º, 3º, 4º..., idade, profissão, escolaridade de cada um e observações feitas 
ao informar tais dados), breve síntese do delineamento que a pessoa fez quando 
solicitou a consulta e percepções de quem a recebeu, membros mencionados para a 
primeira sessão de família, finalizando com o agendamento da consulta com dia, mês, 
hora e nome do profissional da equipe que os receberá. 
Já a ficha adotada por Ochoa de Alda (2004), além desses dados, solicita o 
estado de saúde de cada pessoa que mora na casa, informações sobre os avós 
paternos e maternos, incluindo idade, estado de saúde e com quem eles residem, as 
razões mais importantes pelas quais solicita ajuda neste momento, desde quando 
estas situações estão incomodando, quais as tentativas realizadas para resolvê-las, 
que resultados busca como finalidade do tratamento, que problemas médicos, 
cirurgias e acidentes sérios teve. 
Também há uma lista de aspectos que a pessoa terá que informar, os quais 
têm a ver com a condição atual (esta relação inclui, entre outros, aspectos 
profissionais, sociais, econômicos, sexuais, de saúde). Outro item compreende 
informações sobre tratamentos prévios (ano, lugar, duração, tipo, resultados), uso de 
medicações e doses, serviços sociais implicados e o genograma. 
Outros autores, embora não sigam o preenchimento de uma ficha, destacam o 
objetivo do telefonema inicial: obter uma visão geral do problema apresentado e fazer 
com que venha toda a família para a consulta. Para tal, seguem um roteiro que envolve 
a descrição do problema e como este afeta todos os membros da família. 
Esse primeiro telefonema é dado para a pessoa que fez o pedido, 
esclarecendo o que está acontecendo, quem quer o atendimento, quais as 
pessoas envolvidas e quais são os membros da família. Se necessário, já no 
telefonema será redefinido o pedido e o enquadre (NICHOLS e SCHWARTZ, 
2007; apud ROSSET, 2008). 
Esta coleta de informações prévias é coerente com os pressupostos teóricos 
por possibilitar uma visão ampliada do sistema familiar e a construção de uma 
hipótese sobre a estrutura e o funcionamento da família, permitindo que, na sessão, 
o entrevistador possa estar mais atento ao processo de comunicação que ocorre. 
Assim, após o registro desses dados, no final do telefonema é marcada a primeira 
entrevista com todos os membros da família nuclear. 
 
36 
 
Na entrevista propriamente dita, Lopez e Escudero (2003) destacam que 
podemos diferenciar dois tipos de habilidades técnicas: as que se relacionam com a 
manutenção de uma comunicação adequada para o desenvolvimento da entrevista e 
as que se referem ao uso de técnicas específicas de intervenção durante a mesma. 
Aqui serão descritas as primeiras, isto é, as habilidades gerais para a 
manutenção da entrevista: 
 Empatia/ conexão emocional: escuta ativa, reflexão de sentimentos e 
transmissão de interesse genuíno pelo que diz e expressa cada membro 
da família, 
 Autenticidade/credibilidade: mostrar sinceridade e espontaneidade, 
aplicar os procedimentos profissionais de forma natural e adequada ao 
momento que vivem, 
 Clareza na comunicação: uso de linguagem adaptada, assegurando-
se de que todas as perguntas, explicações ou sugestões são 
compreensíveis para cada elemento da família 
 Ritmo adaptado aocliente: ter em mente que o contexto e os 
profissionais são uma experiência nova para eles, o ritmo da entrevista 
deve acompanhar as possibilidades deles; 
 Estímulo para que o cliente fale: é muito importante estimular que 
todos e cada um dos componentes da família falem e expressem seus 
pontos de vista e opiniões; 
 Estrutura a informação: geralmente a informação inicial que a família 
traz é contraditória ou desestruturada, o entrevistador deve focar a 
entrevista no que é mais importante, oferecendo um guia para fornecer 
informação útil e; 
 Controle das emoções/conflito: o entrevistador deve ser capaz de 
criar um equilíbrio entre a expressão necessária das emoções por parte 
dos membros da família e a possibilidade de trabalhar coletivamente, 
avançando no processo 
Assim, esta primeira entrevista tem como objetivo criar uma aliança com a 
família e desenvolver uma hipótese sobre o que mantém o problema apresentado, 
bem como testar aquela criada a partir do telefonema inicial. 
 
37 
 
Para estabelecer a aliança com a família, o terapeuta inicia se apresentando 
para quem fez o contato e depois aos outros adultos, pedindo para os pais que 
apresentem os filhos, cumprimentando a cada um com um aperto de mão. Neste 
contato inicial e apresentação fica explicitada a relação hierárquica em que adultos 
têm mais poder e responsabilidade. Após o terapeuta mostra a sala e expõe a duração 
e objetivos da sessão. 
Visando contemplar os aspectos teóricos mencionados, os terapeutas 
familiares norte-americanos Nichols e Schwartz (2007) apresentam uma lista de 
verificação da primeira sessão que inclui dez itens: 
 Fazer contato com cada membro da família e reconhecer seu ponto de 
vista em relação ao problema e seus sentimentos em relação à terapia; 
 Estabelecer liderança, controlando a estrutura e o ritmo da entrevista; 
 Desenvolver uma aliança de trabalho com a família, equilibrando 
simpatia e profissionalismo; 
 Elogiar as pessoas por ações positivas e forças familiares; 
 Ser empático com cada membro da família e demonstrar respeito pela 
maneira da família de fazer as coisas; 
 Focar problemas específicos e as soluções tentadas; 
 Desenvolver hipóteses sobre interações prejudiciais em torno do 
problema apresentado. Investigar porque elas persistem; 
 Não ignorar o possível envolvimento de membros da família, amigos ou 
auxiliares que não estão presentes; 
 Negociar um contrato de tratamento que reconheça os objetivos da 
família e especifique como o terapeuta vai estruturar o tratamento e 
 Estimular perguntas. 
Segundo Ríos-González, destaca que na primeira entrevista deve ficar 
estabelecido que o trabalho terapêutico será realizado com esse sistema 
familiar, não só através da verbalização, mas de métodos ativos e dinâmicos 
que ponham em jogo as interações. Ríos-González (1993). 
A proposta é trocar o esquema linear tradicional pelo esquema circular 
retroalimentador, que compreende os seguintes passos: passar do indivíduo ao 
sistema, dos conteúdos aos processos, de interpretar a prescrever, de buscar origens 
 
38 
 
a compreender condutas, de analisar sintomas a analisar as mensagens implícitas 
nestes sintomas e de investigar as causas a reestruturar modelos de interação. 
Considerando sua experiência com terapia familiar na Espanha, Ochoa de Alda 
(2004) propõe um modelo de entrevista criado para contextos privados, porque requer 
tempo e a possibilidade de trabalhar com uma equipe atrás de um espelho 
unidirecional. Ela estipula cinco etapas importantes da entrevista: a pré-sessão, a 
sessão, as pausas, a intervenção e a pós-sessão. 
A pré-sessão compreende o período anterior ao início da entrevista com a 
família, quando a equipe se reúne durante 15 a 20 minutos para discutir as 
informações obtidas no contato telefônico. 
A finalidade é criar hipóteses sobre o que pode estar acontecendo no sistema 
familiar e em torno do sintoma, para que se possa planejar a sessão, especificando 
as estratégias que serão seguidas, os temas que serão abordados e a ordem de 
aparecimento, bem como as perguntas a serem realizadas para cada membro da 
família. 
A segunda etapa, denominada sessão, dura 50 ou 90 minutos, e o terapeuta 
começa definindo o contexto terapêutico, explicando sobre as condições sociais e 
sobre as técnicas que serão utilizadas durante as sessões, assim como esclarece 
possíveis dúvidas e firma um primeiro contrato verbal sobre essas condições. 
Posteriormente apresentará um contrato escrito com todos os aspectos da terapia, o 
que vai ser trabalhado, as técnicas a serem utilizadas, sigilo, honorários, horários, 
número de sessões e sobre o uso de filmagem durante o tratamento, se for o caso, o 
qual será assinado por todos os componentes da família. 
Ainda na sessão, após definir as regras de trabalho, o objetivo do terapeuta 
consiste em orientar a entrevista para obter informações que vão confirmar ou não as 
hipóteses levantadas durante a pré-sessão. O procedimento terapêutico abrange 
perguntas lineares e circulares, redefinições e conotações positivas em relação às 
informações que as pessoas da família trazem para a sessão. 
As perguntas lineares são usadas no começo da entrevista para o terapeuta 
orientar-se sobre o que ocorre em torno do sintoma e, assim, aproximar-se da família 
através de seus pontos de vista. 
Exemplos: qual é o problema? Desde quando está acontecendo? Aconteceu 
alguma coisa que possa explicar seu aparecimento? Permitem conhecer a definição 
 
39 
 
e a explicação da família para o sintoma. Com as perguntas circulares o terapeuta 
busca mais informações para confirmar ou refutar as hipóteses iniciais, sendo que 
estas caracterizam-se por buscar conexões entre pessoas, ações, percepções, 
sentimentos e contextos, apoiando-se nos pressupostos da circularidade e da 
neutralidade. 
Em seguida solicita que cada um expresse suas percepções sobre as relações 
e as diferenças entre os componentes do sistema, e este questionamento circular 
possibilita a alteração destas percepções. As redefinições são intervenções que 
modificam o marco conceitual desde o qual o paciente ou os demais percebem o 
problema. Já as conotações positivas orientam a restituir no paciente e em sua família 
uma imagem de pessoas com condições para enfrentar e resolver a situação, de modo 
que, para isso, o terapeuta qualifica como positivos os aspectos que os familiares 
consideram como patológicos ou negativos. 
Nas entrevistas posteriores, nesta segunda etapa buscam-se informações 
sobre as mudanças e o grau de cumprimento das tarefas sugeridas pela equipe 
terapêutica. 
A terceira etapa são as pausas, que têm como objetivo proporcionar um tempo 
para que o terapeuta desvincule-se deste ambiente, retornando à sessão com um 
olhar menos parcial sobre a família. Em cada entrevista o terapeuta faz duas pausas, 
a primeira é de 5 a 10 minutos e a segunda é de 10 a 30 minutos. Durante as pausas, 
o terapeuta deixa a sala onde a família permanecerá e vai se reunir com a equipe para 
discutir sobre as informações que foram tratadas por eles e verificar se as hipóteses 
se confirmam ou não. 
A quarta etapa, intervenção, geralmente acontece no final de cada sessão. 
Após realizar a última pausa, o terapeuta tenta gerar com a família uma mudança 
comportamental-cognitiva-afetiva, na forma como eles lidam com o sintoma e no 
sintoma mesmo. Os recursos técnicos que podem facilitar esse entendimento 
compreendem conotações positivas, redefinições, tarefas diretas e paradoxais, rituais 
e metáforas. 
As duas primeiras já foram descritas anteriormente. As tarefas diretas são 
técnicas de intervenção que visam mudar as regras e os papeis do sistema familiar, 
incluindo entre elas ensinar aos pais sobre como controlar os seus filhos, e 
estabelecer regras disciplinares. 
 
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As tarefas paradoxais são técnicas de intervenção que contêm

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