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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/305701163 USO DE TRANSPLANTE DE MICROBIOTA FECAL EM CÃO COM DIARREIA CRÔNICA REFRATÁRIA AO TRATAMENTO COM ANTI.... Conference Paper · May 2016 CITATIONS 0 READS 59 5 authors, including: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Hemangiopericitoma canino com localização cutânea não usual – relato de caso View project Neuropathology of infectious diseases of domestic animals View project Giorgio Queiroz Pereira University of Northern Parana 5 PUBLICATIONS 0 CITATIONS SEE PROFILE Lucas Alécio Gomes Universidade Estadual de Londrina 29 PUBLICATIONS 23 CITATIONS SEE PROFILE Marcio Costa Université de Montréal 58 PUBLICATIONS 458 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Lucas Alécio Gomes on 18 January 2018. The user has requested enhancement of the downloaded file. 1 USO DE TRANSPLANTE DE MICROBIOTA FECAL EM CÃO COM DIARREIA CRÔNICA REFRATÁRIA AO TRATAMENTO COM ANTIBÓTICOS: RELATO DE CASO Giorgio Queiroz PEREIRA1; Lucas Alécio GOMES2; Iago Smaili SANTOS3; Letícia Fátima de SOUZA4; Márcio Carvalho da COSTA5 1 Mestrando em Ciência Animal, UEL e Médico Veterinário do Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL 2 Professor Adjunto do Departamento de Clínicas Veterinárias, UEL, lucasalecio@gmail.com 3 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Estadual de Londrina – UEL, iagosmaili@gmail.com 4 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, UNIFIL 5 Bolsista Jovens Talentos, CNPq/CAPES Resumo As bactérias intestinais formam um ecossistema complexo e exercem enorme importância na manutenção da homeostase do hospedeiro. Por vezes, intervenções graves podem levar à degradação deste ecossistema, como por exemplo, através de doenças e/ou pelo uso de antibióticos. Este relato tem por objetivo demonstrar o uso do Transplante de Microbiota Fecal (TMF) como terapia adjuvante em um caso de diarreia crônica de 20 dias de duração refratária a terapia convencional em um canino de cinco meses de idade. Após ter sido tratado com quatro princípios antimicrobianos sem apresentar melhora, a diarreia cessou após três tratamentos com TMF. Conclui-se que, assim como em outras espécies, o TMF pode ter auxiliado na resolução dos sinais clínicos do paciente e pode ser utilizado como adjuvante na terapia de suporte convencional no tratamento de diarreias crônicas em cães. Palavras-chave: cães, microbiota intestinal, disbiose, antibiótico. Keywords: dogs, intestinal microbiota, dysbiosis, antibiotic. Revisão de literatura As bactérias intestinais formam um ecossistema complexo e exercem enorme importância na manutenção da homeostase do hospedeiro sendo responsáveis pela produção de vitaminas, metabolização de compostos químicos, inibição do crescimento de bactérias patogênicas por competição, regulação do sistema imune, digestão de fibras complexas dentre outras (HONNEFFER et al., 2014). Por vezes, intervenções graves podem levar à degradação deste ecossistema, como por ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1159 2 exemplo, através de processos inflamatórios ou pelo uso de antibióticos. A disbiose intestinal, que é o desequilíbrio entre as populações bacterianas residentes, está frequentemente associada aos quadros de diarreia. O termo “Diarreia Associada a Antibióticos” (DAA) refere-se a quadros diarreicos em que organismos patógenos oportunistas se desenvolvem frente a disbiose causado pelo uso de antibióticos (DESHPANDE, 2014). Um exemplo clássico dessa doença em humanos é a infecção por Clostridium difficile após o tratamento com antibióticos. Apesar da falta de opção ao tratamento convencional, algumas estratégias podem ser utilizadas para se restaurar a microbiota intestinal, como por exemplo, o uso de probióticos, prebióticos ou até mesmo o transplante do ecossistema microbiano inteiro, a partir de fezes de um indivíduo sadio, processo este denominado de “transplante de microbiota fecal” (TMF) ou “bacterioterapia”. O TMF visa transferir a microbiota saudável de um “doador” para o paciente, aumentando a diversidade e normalizando a estrutura global da comunidade bacteriana para o restabelecimento da homeostase intestinal (KHORUTS et al., 2010; FUENTES et al., 2014). Em humanos com diarreia crônica refratária ao tratamento com antibióticos, o TMF pode solucionar até 95% dos casos, sobrepondo os índices de sucesso de qualquer outro tratamento conhecido (GOUGH et al., 2011). No entanto, dados que caracterizem a colonização eficaz pela microbiota transplantada em cães são limitados (WEESE et al., 2013). A proposta de repor a microbiota intestinal devastada representa uma promessa como meio terapêutico também na medicina veterinária. Em cães, o TMF se mostrou promissor para o tratamento de diarreia, sendo a resposta clínica consistente com uma mudança acentuada na microbiota fecal após o tratamento (MURPHY et al., 2014). Descrição do caso Um canino, sem raça definida, fêmea, com idade de cinco meses foi atendido no Hospital Veterinário (HV) do Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL) encaminhado por uma clínica veterinária local com queixa de diarreia pastosa sem sangue há 10 dias e emagrecimento progressivo. Segundo o proprietário, o animal não possuía esquema de vacinação completo, era desverminado e não houve mudança brusca na dieta. O animal havia sido atendido e internado há 20 dias devido à anorexia, vômitos e diarreia com sangue, quando se estabeleceu o diagnóstico de parvovirose baseado no snap test, e foi instituído tratamento com fluidos, anti-eméticos, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1160 3 protetores gástricos, metronidazol e sulfametoxazol com trimetoprima. O cão apresentou melhora em relação ao apetite e controle dos vômitos. Devido a suspeita de hemoparasitose concomitante à infecção viral, os clínicos responsáveis optaram pela troca dos antibióticos por doxiciclina, mas frente à piora do paciente e à presença de leucocitose com desvio a esquerda, ceftriaxona foi associada ao tratamento. Todos os sinais clínicos melhoraram exceto a diarreia líquida que persistiu com vários episódios ao dia. Frente ao insucesso no tratamento o caso foi encaminhado ao HV da UNIFIL. Ao atendimento inicial o animal encontrava-se apático, com desidratação de 5%, magro e sem alterações nos demais parâmetros fisiológicos. Baseado na história clínica e nos exames laboratoriais (leucocitose com desvio a esquerda e bioquímicos normais) optou-se por manter a terapia com doxiciclina e ceftriaxona, associados com Ringer com lactato, ranitidina, concomitante a realização do TMF. As fezes para o TMF foram obtidas de um cão saudável (doador) de aproximadamente seis anos de idade por meio de defecação espontânea. O doador foi previamente avaliado clinicamente e por meio de exames de hemograma, bioquímicos e coproparasitológico completo. Após a colheita, foram diluídos 10 gramas de fezes em 10 mL de solução de cloreto de sódio 0,9%, e a mistura aspirada em seringa de 20 mL conectada a sonda uretral nº 08 foi introduzida via anal e o conteúdo depositado na porção proximal do reto. O animal receptor foi mantido em decúbito lateral por dois minutos com a pelve discretamente elevada, para auxiliar por gravidade na difusão do conteúdo transplantado. O transplante foi realizado 18 horas após o internamento e repetido a cada 48 horas num total de três aplicações. Exames físicos do paciente foram realizados diariamente. O hemograma realizado durante o exame inicial demonstrou leucocitose com desvio a esquerda, mas já havia se normalizado no dia da alta hospitalar. No 2º dia de internamento, 12 horas após o 1º TMF, o animal já se apresentava hidratado e alerta. No 4º dia de internamento apresentou aumento do apetite, redução na frequência de defecação e aumento na consistência das fezes. No 6º dia de internamento, 12 horas após o 3º TMF, o animal apresentava fezes pastosas a firmes, recebendo assim alta hospitalar. Discussão Vários fatores são conhecidos pela capacidade em alterar a microbiota intestinal. Dentre eles, o uso de antibióticos é um dos mais importantes. O uso de antibióticos ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1161 4 em animais e humanos causa mudanças significativas na microbiota intestinal podendo levar a um estado disbiótico (DETHLEFSEN, 2011; COSTA 2015). No caso apresentado, além do uso de antibióticos, o paciente havia sido diagnosticado com parvovirose e tinha suspeita de hemoparasitose, doenças que podem causar diarreia dentre outros sinais clínicos. Baseado na história clínica, exame físico e resultados de testes laboratoriais, a DAA foi considerada a suspeita clínica mais provável. Portanto, optou-se por associar o TMF ao tratamento, que em humanos e outras espécies já vem sendo usado com sucesso para a restauração da microbiota intestinal (KHORUTS et al., 2010; FUENTES et al., 2014; MURPHY et al., 2014). O TMF foi realizado conforme sugerido por Weese et al. (2013) 18 horas após o internamento e repetido depois de 48 horas. Apesar de o procedimento vir sendo realizado de forma empírica há muitos anos, não existe na literatura um consenso ou padronização da técnica. Da forma como foi utilizada no presente relato, o TMF foi associado com melhora clínica do paciente. O animal evoluiu de um quadro de vários episódios de diarreia líquida ao dia para um episódio de fezes pastosas a firmes com apenas três repetições do procedimento, sugerindo que o TMF foi eficaz no auxílio do controle da diarreia e da melhora clínica do paciente. Conclusão O TMF é um procedimento de fácil realização e baixo custo e que em associação com a terapia convencional pode auxiliar no tratamento da diarreia em cães, possibilitando melhora clínica mais rápida do paciente. O uso empírico de antibióticos em todos os quadros de diarreia e suas consequências merece maior discussão entre os clínicos veterinários. Referências COSTA, M.C.; STÄMPFLI, H.R.; ARROYO, L.G.; ALLEN-VERCOE, E.; GOMES, R.G.; WEESE, J.S. Changes in the equine fecal microbiota associated with the use of systemic antimicrobial drugs. BMC Veterinary Research, n. 11, p. 19, jan, 2015. DESHPANDE, A.; PIMENTEL, R.; CHOURE, A. Antibiotic-Associated Diarrhea and Clostridium difficile. Cleveland Clinic Center for Continuing Education [online]. Disponível: ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1162 5 http://www.clevelandclinicmeded.com/medicalpubs/diseasemanagement/gastroenterology/an tibiotic-associated-diarrhea. [Capturado em 10 fev. 2016]. DETHLEFSEN, L.; RELMAN, D.A. Incomplete recovery and individualized responses of the human distal gut microbiota to repeated antibiotic perturbation. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, St Louis, v.108, Supplement 1, p. 4554–61, mar, 2011. FUENTES, S.; VAN NOOD, E.; TIMS, S.; HEIKAMP-DE J. I.; BRAAK, C.J.; KELLER, J.J. Reset of a critically disturbed microbial ecosystem: faecal transplant in recurrent Clostridium difficile infection. The ISME Journal, n. 8, p. 1621–33, feb, 2014. GOUGH, E.; SHAIKH, H.; MANGES, A.R. Systematic review of intestinal microbiota transplantation (fecal bacteriotherapy) for recurrent Clostridium difficile infection. Clinical Infectious Disease, v. 53, n. 10, p. 994-1002, nov, 2011. HONNEFFER, J.B.; MINAMOTO, Y.; SUCHODOLSKI, J.S. Microbiota alterations in acute and chronic gastrointestinal inflammation of cats and dogs. World Journal Gastroenterology, v. 20, n. 44, p. 16489-16497, nov. 2014. KHORUTS, A.; DICKSVED, J.; JANSSON, J.K.; SADOWSKY, M.J. Changes in the composition of the human fecal microbiome after bacteriotherapy for recurrent Clostridium difficile-associated diarrhea. Journal of Clinical Gastroenterology, n. 44, p. 354–60, 2010. MURPHY T.; CHAITMAN J.; HAN E. Use of Fecal Transplant in Eight Dogs with Refractory Clostridium perfringens Associated Diarrhea. Journal of Veterinary Internal Medicine, n. 28, p. 976–1134, 2014. WEESE, J.S.; COSTA, M.C.; WEBB, J. Preliminary Clinical and Microbiome Assessment of Stool Transplantation in the Dog and Cat. In: ACVIM Forum, 2013, Seattle. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 27. p. 705, 2013. ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1163 View publication statsView publication stats
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