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ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.1 Introdução As falhas dos equipamentos podem ter sua origem devido a diversos problemas, tais como: erro de projeto, programas de manutenção inadequados, postergação da manutenção, treinamento inadequado (operadores e/ou mantenedores), pressão do cliente, pressão da concorrência, especificação dos componentes, erro de instalação e/ou montagem, estado da arte,... . As perdas, oriundas das falhas, podem ser negligentes ou catastróficas (acidentes e desastres). ___________________________ A manutenção tem uma grande responsabilidade no que se refere a evitar que falhas ocorram nos equipamentos, principalmente aquelas que envolvem a segurança do sistema, assim como, manter o a disponibilidade e desempenho dos equipamentos a um custo compatível com os objetivos da empresa. Isto só é obtido se desenvolvermos uma mentalidade, dentro da área de manutenção, que não basta apenas corrigir um evento “falha”, mas também analisar as possíveis causas que deram origem a este evento. Devemos nos lembrar que as pequenas falhas de hoje, podem trazer grandes problemas amanhã, se não forem eliminadas ou seu efeito minimizado. Falha de Equipamentos É definida como “o término da capacidade de um item para desempenhar sua função requerida - BS Maintenance Glossary”. Um equipamento pode falhar e provocar a imediata paralisação de um sistema ou pode apresentar uma redução de seu desempenho ou pode ser retirado do serviço devido a um erro operacional. Na verdade, qualquer uma destas três situações, deverá ser analisada para identificar possíveis causas que conduziram a esta situação. As falhas podem ser classificadas de diversas maneiras, isto é: repentina ou gradual, completa ou parcial, intermitentes ou permanentes, perigosas ou seguras, prematuras, aleatórias, dependentes do tempo,... . As causas de falha podem ser devido a diversos fatores, tais como: corrosão, fadiga, superaquecimento, altos esforços, desgaste acelerado,... . A Situação Atual dos Sistemas Os sistemas têm se tornado cada vez maiores e mais complexos. Sua operação e manutenção, por sua vez, depende cada vez mais de pessoal bem capacitado e treinado para que possa conduzir as diversas atividades necessárias para mantê-los operando com alto grau de disponibilidade, segurança e ao menor custo possível. As implicações de ordem organizacional e gerencial muitas vezes podem comprometer a segurança das instalações, assim como, os problemas de ordem psicológica, fisiológica e física presentes na operação e manutenção dos equipamentos. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.2 A moderna tecnologia alcançou um ponto onde o melhoramento da segurança somente pode ser obtido através do melhor entendimento dos mecanismos do erro humano (Reason – Human Error - 12a. ed. – Cambridge University Press – USA - 2002). Podemos observar que mesmo diante do grande aumento das técnicas de automação, da informática, das tecnologias de proteção, … nas indústrias e outras organizações é impossível eliminar o envolvimento do elemento humano na operação e manutenção dos sistemas e, portanto, erros humanos são passíveis de acontecer. Fator Humano O bom desempenho dos equipamentos somente é atingido quando estes são operados e mantidos de maneira adequada. Para que os equipamentos atinjam sua máxima capacidade produtiva o pessoal de operação e manutenção devem ser efetivos nas suas atividades. Os aspectos de confiabilidade e manutenabilidade dos equipamentos podem ser afetados devido aos possíveis “erros humanos” que podem ser cometidos durante a manutenção e operação dos equipamentos. A manutenabilidade (detectar, localizar, isolar, reparar e testar) depende das ações de todo pessoal envolvido conduzindo a uma forte interação “homem-máquina”. Neste contexto, toda engenharia voltada para o aspecto Fator Humano, deve se fazer presente quando do desenvolvimento, projeto, fabricação, operação e manutenção dos equipamentos. Quando não se considera o “Fator Humano” em todas as fases de um sistema, sérios problemas operacionais e de manutenção podem ocorrer. Alguns aspectos de comportamento típicos dos elementos humanos devem ser considerados quando da operação e manutenção de novos equipamentos e sistemas, tais como: • As pessoas geralmente desenvolvem suas atividades enquanto pensam em outras coisas. • As pessoas tendem usar suas mãos para efetuar testes, inspeções e exames. • As pessoas geralmente são impacientes no que diz respeito ao tempo necessário para observar as precauções. • As pessoas, em geral, não lêem as instruções e etiquetas de modo correto ou não prestam a devida atenção. • Após o desempenho de um procedimento as pessoas não checam seu trabalho para identificar possíveis erros. • As pessoas, em geral, respondem irracionalmente em situações críticas ou emergenciais. • As pessoas geralmente são relutantes em admitir erros. • As pessoas, com o passar do tempo, tornam-se desatenciosas no manuseio de equipamentos e ferramentas. • As pessoas relutam em admitir que não podem ver objetos claramente devido à baixa iluminação ou problemas visuais. • Pessoas geralmente erram ao estimar distâncias e velocidades. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.3 Em dois estudos efetuados na década de 70 e 80 em usinas nucleares observou-se que 42% e 52%, respectivamente, das ocorrências que provocaram paralisação da usina eram devido ao problema de desempenho humano. As outras categorias foram falhas de componentes, deficiência de projeto, fabricação, eventos externos e problemas de documentação. A manutenção deve considerar os aspectos relacionados ao efeito ambiente sob qual um indivíduo deverá desempenhar suas funções. Fatores, tais como, temperatura, iluminação, umidade, circulação de ar, … podem seriamente afetar a capacidade de reparo. São três os “fatores ambientais” que podem afetar a capacidade dos elementos presentes nas diversas atividades de manutenção, a saber: ambiente local, ambiente físico e ambiente humano. Confiabilidade Humana Alguns especialistas acreditam que enquanto a nossa tecnologia esta aumentando a confiabilidade dos equipamentos à confiabilidade dos elementos humanos presentes na operação e manutenção dos equipamentos está diminuindo. Demonstra-se que em muitos acidentes que a “tecnologia” enche o operador de informações que ele não precisa e o impede de obter informações que ele precisa conhecer. A tecnologia aplicada ao processo de gerenciamento operacional e de manutenção não contém, e não pode conter, todas as checagens e ponderações requeridas pelo “elemento humano” para detectar e corrigir todos os possíveis erros (ativos e latentes). Outro fator crítico associado a erros cometidos pelo pessoal de operação e manutenção é a “fadiga/stress”. O risco de acidentes é real quando as pessoas executam suas atividades num estado de fadiga. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.4 Todos sabem que a confiabilidade dos equipamentos pode ser afetada pelas pessoas que operam e fazem manutenção sobre eles, mas a grande dificuldade está na identificação de práticas e procedimentos gerenciais para identificar e corrigir as causasraízes destes problemas. “Confiabilidade Humana” é definida como a probabilidade que um trabalho ou tarefa será completada com sucesso por uma pessoa, em qualquer estágio da operação e/ou manutenção, dentro de um intervalo de tempo mínimo requerido. Em diversos trabalhos, de confiabilidade e risco, freqüentemente é indicado a Probabilidade de Erro Humano – PEH. Diversos estudos foram, e continuam sendo, desenvolvidos para quantificar a “taxa de erro humano”. Como vimos anteriormente, diversos fatores podem afetar essas taxas. Abaixo apresentamos algumas taxas de erro humano. Tarefas muito simples Taxa de Erro por Tarefa Falha ao responder a um alarme 0,0001 Falha ao isolar a energia elétrica 0,0001 Selecionar uma chave errada 0,0005 Tarefas rotineiras simples Taxa de Erro por Tarefa Ler um “checklist” ou “display” erroneamente 0,0001 Operar uma chave-multiposição erroneamente. 0,001 Selecionar uma chave errada entre chaves similares/iguais. 0,005 Tarefas rotineiras que merecem cuidados Taxa de Erro por Tarefa Falha ao “resetar” uma válvula após alguma tarefa relacionada. 0,01 Registrar informação ou ler gráfico erroneamente. 0,01 Errar ao fazer uma operação algébrica. 0,02 ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.5 Tarefas Complexas e Não Rotineiras Taxa de Erro por Tarefa Falha ao relatar a posição errada de uma válvula. 0,5 Falha ao reconhecer o estado incorreto de um item numa inspeção esporádica. 0,1 Falha ao atuar corretamente após “um” minuto numa situação de emergência. 0,9 Os valores acima servem como referência, e são definidos com base no número de tarefas executas, para cada situação apontada. Para quantificarmos a “confiabilidade humana” são utilizados modelos matemáticos que nos fornece a “PEH – Probabilidade de Erro Humano” para uma dada tarefa a ser realizada num dado intervalo de tempo. Exemplo: uma determinada pessoa irá desempenhar uma tarefa de manutenção num prazo previsto de 6 (seis) horas. Sabe-se que a taxa de erro é de 0,00015 erros/hora. Determine a PEH e a Confiabilidade Humana para a execução desta tarefa. PTEH tλ H eR ×−= RH (confiabilidade humana) λEH (taxa de erro humano) tPT (tempo previsto para execução da tarefa) 9991,0eR 600015,0H == ×− Logo, a “probabilidade de erro humano” para execução desta tarefa é igual a: 0009,0R1PEH H =−= Observar que as tabelas apresentadas colocam a taxa de erro humano com base no número de tarefas executadas (0,001 ) 1 erro humano a cada 1000 tarefas realizadas) e o exemplo acima considera a taxa de erro com base no número de horas trabalhadas. Erro Humano Os erros humanos na manutenção geralmente ocorrem no local de trabalho, em alguns casos as causas raízes do erro está relacionada aos aspectos gerenciais e/ou organizacionais (erros latentes). A análise de erro humano, em geral, apresenta um resumo das causas diretas, das causas raízes e causas contribuintes em termos do tipo de erro ou falhas do sistema com recomendações sobre como o PEH poderá ser reduzido. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.6 Alguns casos, estão abaixo relacionados, onde estão indicados o tipo e forma de erro humano. Erro Humano Título Caso Setor Tipo Forma Erros Gerenciais e Organizacionais Flixborough Herald of Free Enterprise Privatização Químico Marítimo Ferroviário Latente Latente Latente Gerencial Cultural Organizacional Erro de Projeto Grangemouth (fogo e explosão) Ferry Estonia (afundamento) Abbeystead (explosão) Químico Marítimo Água Latente Latente Latente Projeto Projeto Projeto Erro de Manutenção Royal Flight (falha de motor) Hatfield (acidente) Potters Barr (acidente) Aviação Ferroviário Ferroviário Latente Latente Latente Manutenção Manutenção Manutenção Erro Operacional Clapham Junction Purley Southall Ladbroke Grove Ferroviário Ferroviário Ferroviário Ferroviário Latente Ativo Ativo Ativo Manutenção Operacional Operacional Operacional Erro Ativo Flight KAL007 Kegworth Aviação Aviação Ativo Ativo Operacional Operacional Violação da Segurança Chernobil A320 - Mulhouse Nuclear Aviação Violação Violação Operacional Operacional Erro de Resposta Flight SR111 Túnel – Canal da Mancha Aviação Ferroviário Ativo Ativo Operacional Operacional Whittingham - The Blame Machine – Elsevier – GB - 2004 Os erros podem ser subdivididos em dois grupos básicos, ou seja: “com base nas habilidades e capacidades” e “com base nas regras e conhecimentos”. • Com base nas habilidades ou capacidades Deslizes ou Lapsos (Slips and Lapses): esses erros ocorrem durante a execução das tarefas de manutenção. • Com base nas regras e conhecimentos Erros cometidos durante o planejamento e/ou organização dos métodos e procedimentos a serem seguidos durante o processo de manutenção. Deslizes (Slips): ocorrem quando da execução de uma ação não planejada ou pretendida. Lapsos (Lapses): omissões ao executar uma ação planejada devido à falha de memória ou memorização. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.7 Erros (mistakes) são falhas de planejamento/organização de uma ação, independentemente de ter sido conduzida de modo correto. Podem ser atribuídos a “má aplicação de regras adequadas” ou “aplicação de regras inadequadas”. Podemos dividi- los em: 1. erros com base nas regras: ocorrem durante a seleção de um plano ou programa para concluir um objetivo almejado. Ex.: plano mal elaborado (falha dos especialistas). 2. erros com base no conhecimento: ocorrem durante a formulação de um plano original (novo) para solucionar uma questão onde nenhum plano corrente existe. Ex.: falta de conhecimento global acerca de uma dada situação (falta de especialistas). A manutenção, em alguns casos, é responsável por causas de acidentes e desastres em todo mundo. Mesmo que vultosos investimentos sejam efetuados pelas empresas para treinar e capacitar seu quadro de pessoal, a probabilidade de falha humana sempre estará presente na operação e manutenção de equipamentos. Erros Ativos, Erros Latentes e Violações Erros ativos: erros onde o efeito se manifesta imediatamente ou quase imediatamente (erros no local de trabalho). Erros latentes: erros onde observamos um tempo significativo entre a execução do erro e a manifestação da conseqüência deste (erros gerenciais). São acidentes potenciais aguardando para acontecer. Os acidentes podem ser evitados desde que possamos identificar os erros latentes, o mais cedo possível, após a sua ocorrência. Quanto mais tempo levarmos para identificar os erros latentes, menores serão as possibilidades de serem descobertos e maiores serão as possibilidades de ocorrência de acidentes. Na manutenção a melhor maneira para identificar os erros latentes é identificar todas as tarefas potencias de manutenção e analisar as possibilidades de erro presentes em cada uma delas, assim como, definir o que deve ser feito para evitá-los no futuro. No caso de ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - AbramanPág: Anx. X.8 erros latentes, a nível gerencial, devemos incentivar as auditorias e/ou revisões de sistemas e de processos a fim de identificar possíveis erros. Na manutenção é muito comum a ocorrência de violações da segurança e atos inseguros que acabam provocando incidentes e acidentes. A principal diferença entre erro e violação é que o erro por definição não é intencional. Violação são desvios de procedimentos, padrões e regras de segurança operacional. Investigação de Falhas na Manutenção Uma investigação de falha e subseqüente análise deverá determinar a causa primária que originou o problema e, baseada nas conclusões, estabelecer ações corretivas para evitar que essas falhas venham a se repetir. A investigação da falha pode compreender diversas fases, a saber: • Coleta de dados e informações. • Entrevistas (pessoal de operação, manutenção, engenharia,...). • Registros fotográficos ou similares. • Análise do histórico do equipamento. • Avaliação das políticas de manutenção praticadas. • Avaliação dos padrões operacionais praticados. • Avaliar o nível de treinamento de todo pessoal envolvido. • Consulta a banco de dados de casos parecidos ou similares. • Condução de testes em laboratórios. • Uso de simulações. • Análise das evidências. • Formulação das conclusões. • Relatório Final. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.9 Apesar do alto custo das falhas, surpreendentemente, poucos esforços são desempenhados pela grande maioria das organizações (indústrias) para o estudo e análise de falhas. Coloco aqui, não somente as falhas que causaram grandes acidentes, mas também aquelas falhas que somente acrescem os custos de manutenção mas nada é feito para identificar as possíveis ações necessárias para eliminar ou reduzir sua ocorrência. Princípios Básicos de Investigação de Falhas 1- Quanto mais cedo a investigação começar maiores serão as chances de determinar a(s) causa(s). 2- Não destrua evidências. Não arrume ou desarrume o local da falha ou acidente e, principalmente, não toque no ponto da falha ou regiões próximas. 3- Mexer nas evidências somente após completar toda a documentação (descrições, fotografias,...). Assegurar que todos os componentes danificados possam ser identificados, remontados e posicionados corretamente com relação a cada outro. Manuseie e empacote as peças de evidência com todo cuidado de modo que não sejam: arranhadas, friccionadas, cortadas ou deformadas acidentalmente. 4- Não se concentre no ponto da falha. Não exclua a vizinhança e as condições do ambiente. Aborde a origem da falha, de modo gradual, após esboçar o máximo de informações de toda região próxima ao local do evento. O local e o ponto onde se originou a falha pode ter sido somente o gatilho para outras causas provocar a falha principal. 5- Não tente adivinhar ou tirar conclusões precipitadas. Colete todos os fatos e depois elimine os menos prováveis. Confie nas fotografias do local, nas notas das entrevistas e anotações, em vez da memória. Uma causa é estabelecida, não quando se torna óbvia, mas somente, quando todas as outras possibilidades tenham sido eliminadas. 6- Tente obter o histórico verdadeiro das evidências objetivas e das entrevistas. Não estabeleça qualquer afirmação ou opinião que não esteja calcada em fatos. A percepção humana, julgamentos e decisões são “falíveis” e sujeitas à falhas do subconsciente. 7- Muitas falhas têm sua origem em problemas triviais. Por exemplo: excesso de aperto num parafuso, não colocação de uma arruela, falta de ajuste, falta de lubrificação,... . Acidentes e Suas Causas Diversos incidentes e acidentes acontecem todo ano em diversas partes do mundo. Alguns deles provocam mortes e altos custos para a sociedade (agressão ao meio ambiente). Interessante notar que muitos desses acidentes poderiam ter sido evitados e vidas não teriam sido perdidas se as normas e procedimentos padrões fossem bem elaborados e as ações realizadas de acordo com o estabelecido. A Phillips Petroleum arcou com um prejuízo US$ 1.4 bilhão devido aos danos, interrupção do negócio e multas do governo devido a uma explosão, em 23 de outubro de 1989, que matou 23 trabalhadores na sua fábrica de polietileno em Pasadena, Texas. Isto aconteceu devido ao trabalho de manutenção, que estava sendo realizado por pessoal contratado, sob um vaso de pressão. Eles conectaram erradamente uma ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.10 mangueira para o sistema de controle de ar comprimido de uma válvula. A válvula abriu, deixando escapar toneladas de vapor inflamável na atmosfera. A explosão, quando da ignição do vapor, apresentou uma força de duas toneladas de TNT. Erros e falhas na manutenção são comuns (muito mais do que pensamos) e em alguns casos esses podem se transformar em acidentes críticos. Não há muitos pronunciamentos de “mea culpas” no mundo das catástrofes industriais. Para que “erros e falhas” possam ser minimizadas é necessário que as pessoas tenham consciência dos limites da tecnologia e do efeito das falhas quando esses limites são ultrapassados. E que as “falhas e erros” sejam discutidas em maior grau com a comunidade (técnica, científica, associações, ...) para que possamos criar barreiras para evitar que estas venham a se repetir no futuro. Abaixo apresentamos alguns acidentes, onde a manutenção interagiu de maneira direta ou indireta, para o acontecimento de acidentes. Caso 1 - Gasoduto Empresa El Paso Natural Gas Company Objeto Ruptura da Tubulação Data 19 de agosto de 2000 Local Carlsbad – New Mexixo Falha Ruptura da linha de 30 polegadas devido à severa corrosão interna. Vazamento de gás seguido de explosão. Gás queimou durante 55 minutos. Causa(s) Programa de controle de corrosão falhou em prevenir, detectar ou controlar a corrosão. Falhou também a inspeção federal que não identificou deficiências no programa de controle de corrosão da empresa. Custo US$ 998,000.00 (perdas e danos a propriedades) Mortos 12 pessoas que estavam acampadas próximas ao local. Feridos Nenhum Recomendações - Melhoramento do projeto e construção. - Revisão de todo o programa de controle de corrosão interna. - Adequar o órgão de inspeção federal (segurança e operação). Caso 2 – Avião de Passageiros Empresa Alaska Airlines, Inc. Objeto Queda no Pacífico - Perda de Controle McDonnell Douglas MD-83, N963AS - Vôo 261 Data 31/janeiro/2000 Local Oceano Pacífico - Norte de Anacapa Island - Califórnia Falha Desgaste da rosca da porca (macaco do tipo rosca) do sistema estabilizador horizontal danificada. Causa(s) Desgaste excessivo devido a problemas de lubrificação do “macaco de rosca” (aumento do intervalo de lubrificação com aprovação da FAA- Federal Aviation Administration’s). Falha do programa de manutenção da Alaska Airlines, Inc (lubrificação e inspeção). Custo Não Disponível ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.11 Mortos 2 pilotos, 3 comissários e 88 passageiros Feridos Nenhum Recomendações - Estabelecimento de novos procedimentos de manutenção. - Modificação do projeto (falha segura) para evitar falha catastrófica. Caso 3 – Embarcação (Transporte de Pessoal) Empresa Não identificada. Objeto Embarcação de Transporte de Passageiro Incêndio na casa de máquinas do Port Imperial Manhattan Data 17 de novembro de 2000Local New York City - New York Falha Incêndio na casa de máquinas - curto no sistema elétrico Causa(s) Falha de inspeção e manutenção do sistema elétrico da embarcação. Falta de um sistema fixo de detecção e supressão de fogo. Falta de conhecimento da equipagem de combate a incêndio. Custo US$ 1,200,000.00 Mortos Nenhum Feridos Um (inalação de fumaça). Recomendações - Novos procedimentos de manutenção. - Instalação de um sistema de proteção e detecção de fogo. - Treinamento da equipagem em situações de emergência. - Melhorar o sistema de informações para os passageiros. - Melhorar o sistema de comunicação da embarcação. Caso 4 – Ferrovia (Transporte de Produtos Químicos) Empresa Atofina Chemical´s, Inc. Objeto Vazamento de gás venenoso e inflamável durante descarga de vagão tanque (vazamento seguido de incêndio). Data 14 de julho de 2001 Local Riverview, Michigan Falha Tubulação de transferência de carga fraturada Causa(s) Falha de inspeção e manutenção da empresa. Falha de procedimentos quando da operação de descarga envolvendo material perigoso. Custo Não disponível. Mortos 3 (três) empregados da empresa. Feridos Diversos feridos com problemas respiratórios. Recomendações - Adequação dos procedimentos da empresa (descarga de vagões tanques contendo material perigoso). - Adequação dos regulamentos e normas federais relacionados às operações de transferência. As informações acima foram obtidas junto ao NTSB (National Transport Safety Board). Outros acidentes, onde a manutenção teve participação em maior ou menor grau, na ocorrência destes: ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.12 Março de 1979 - Three Mile Island – Usina Nuclear - Dano no Núcleo do Reator Nuclear – Mortos: Sem mortos ou feridos. Custo: Não Disponível. Dezembro de 1984 – Union Carbide – Índia (Bhopal) – Escapamento de Produto Químico – Mortos: 7000 pessoas (oficialmente estimado). Custo: Não Disponível Julho de 1988 – Piper Alpha – Plataforma Submarina – Explosão e Incêndio – Mortos: 167 pessoas da equipe da plataforma e 2 pessoas do salvamento. Custo: £2.066 Bilhões. Dezembro de 1988 – Clapham Junction – Entroncamento Ferroviário – Colisão de Trens – Mortos: 35 pessoas e mais de 100 feridos. Custo: Não Disponível. Maio de 1996 – Valujet DC-9 Airliner – Avião – Queda seguido de fogo no compartimento de carga – Mortos: 110 pessoas. Custo: Não Disponível Depois destes acidentes muitos outros se seguiram (acidente no túnel recém inaugurado, acidente com o trem de alta velocidade, explosão do submarino soviético, quedas de aviões, colisão de trens, explosões em instalações, vazamentos em oleodutos, afundamento de plataforma submarina, explosão da nave Columbia,...). Podemos observar que o homem paga um preço alto devido ao desenvolvimento tecnológico. Muitos acidentes ocorrem porque as equipes, embora bem capacitadas e treinadas, não conseguem reagir às diversas combinações de eventos que podem conduzir a falha de um sistema. Os sistemas estão se tornando cada vez maiores e mais complexos e o elemento humano se vê diante de uma situação assustadora no que diz respeito à operação, manutenção e segurança destes sistemas. A grande quantidade de equipamentos, o grande número de modos de falha, os diversos ambientes operacionais e a presença do elemento humano aumentam significantemente a probabilidade de novos acidentes (desastres) em todo mundo. Métodos, Instrumentos, Testes Laboratoriais e Análise Estatística A análise de falhas pode utilizar uma gama enorme de métodos e técnicas. A aplicação adequada destas “ferramentas” irá possibilitar a prevenção e redução de falhas e, portanto, aumentar a segurança operacional das instalações. A grande quantidade de instrumentos, equipamentos de teste e testes laboratoriais utilizados para detectar e/ou identificar possíveis modos de falha e suas causas facilitam em muito a análise de falhas. As técnicas de manutenção preditiva permitem monitorar contaminantes, vibração, temperatura, pressão, força, corrosão, vazamento,... . Nos programas de manutenção preditiva, um modo específico de falha, pode ser detectado antes que ocorra. Logo, uma ação corretiva pode ser disponibilizada, para sanar o problema, antes que uma falha catastrófica possa gerar incidentes e/ou acidentes. Para que se consiga implementar, com sucesso, um programa de manutenção preditiva, devemos: • Definir claramente as metas e objetivos. • Mensurar os objetivos. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANO Eduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.13 • Apoiar o gerenciamento. • Reunir pessoal responsável e dedicado. • Tornar eficiente a coleta de dados e os procedimentos de análise. • Adequar os procedimentos organizacionais (manter registros atualizados). • Melhorar a comunicação entre as pessoas dos diversos setores. • Avaliar os procedimentos e métodos em uso. Diversos são os benefícios que podem ser obtidos com a implementação de um programa de manutenção preditiva, tais como: eliminar a manutenção desnecessária, reduzir o custo de retrabalho, reduzir o custo de perda de produção devido às falhas, reduzir o consumo de peças sobressalentes, aumentar a eficiência do processo, melhorar a qualidade do produto, aumentar a vida dos equipamentos, aumentar a capacidade de produção, reduzir o custo global da manutenção e aumentar o lucro líquido. Uma ferramenta, não menos importante, é o uso da ferramenta matemática para analisar os dados de falha de equipamentos e/ou sistemas. O uso da estatística e matemática irá permitir a obtenção de diversos parâmetros relativos aos equipamentos, assim como, analisar a tendência de falhas e auxiliar na definição dos limites de controle. O fácil acesso de computadores e software existentes no mercado facilita em muito o uso da matemática e estatística na análise de falhas de equipamentos. Outros métodos também são utilizados para analisar falhas e identificar possíveis causas, tais como: FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), FTA (Failure True Analysis) e RCFA (Root Cause Failure Analysis). Estas ferramentas são muito importantes na identificação e correção de falhas catastróficas. O principal ganho com a implantação de programas relacionados com a operação e manutenção de equipamentos, que permitem identificar com antecedência a possível ocorrência de falhas numa instalação, é a garantia do aumento da segurança operacional (redução de incidentes, acidentes e desastres). Considerações Finais O problema de falhas induzidas pelo erro humano, na área de manutenção, é um fator a ser colocado pelos gerentes de manutenção quando da definição dos objetivos a serem alcançados pelas empresas. Torna-se necessário desenvolvermos métodos e traçar novas diretrizes para reduzir as falhas de equipamentos causadas pela manutenção. Alguns pontos devem ser considerados quando da definição dos objetivos a serem atingidos pela manutenção, a saber: • Admitir que o erro humano é universal e inevitável. • Sempre é possível melhorar a qualidade dos trabalhos de manutenção. • Procedimentos, regras e normas de manutenção sempre podem ser melhoradas. • Aspectos psicológicos, fisiológicos e físicos devem ser analisados de acordo com as tarefas a serem desenvolvidas nos serviços de manutenção. • Incentivar e implementar o uso de auditorias e revisões nos processos de manutenção. • As melhores pessoas podem cometer os piores erros. • Erros são conseqüências e não causas. ENGENHARIA DE CONFIABILIDADE ANEXO 10 – ERRO HUMANOEduardo de Santana Seixas - Abraman Pág: Anx. X.14 • Muitos erros são repetitivos e passíveis de serem eliminados. • Nós não podemos mudar a condição humana mas podemos trocar as condições na qual o homem trabalha. • Não há um melhor modo de fazer as coisas (diferentes métodos e diferentes organizações). • Melhorar a eficiência e eficácia dos treinamentos relacionados à detecção e correção de falhas e erros (melhor capacidade técnica). • Erros não são intrinsecamente ruins. • Melhorar a comunicação e o desenvolvimento de equipes. • Gerenciar a carga de trabalho imposta ao pessoal de manutenção. • Adquirir equipamentos com alta confiabilidade e de boa manutenabilidade. Há um grande número de ferramentas que podem ser aplicadas para melhorar a qualidade dos serviços de manutenção. A exata combinação dessas ferramentas irá variar de empresa para empresa. Para finalizar, deixo a seguinte a pergunta: “O quê estou fazendo na minha empresa para reduzir a probabilidade de erro humano (ativos e latentes) na área de manutenção?”.
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