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O CONCEITO DE REGIÃO E SUA DISCUSSÃO

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PUC Goiás- EFPH- CURSO DE GEOGRAFIA
REGIME DE ACOMPANHAMENTO
DISCIPLINA: Teoria de Redes em Geografia
Prof. Márcia de Alencar Santana
 DIAS, Leila Christina. Redes: emergência e organização. In CASTRO, Iná E. de et alli. (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Ed.Bertrand Brasil, 1995. 
HAESBAERT, Rogério. Desterritorialização: entre as redes e os aglomerados de exclusão. In CASTRO, Iná E. de et afile Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Ed.Bertrand Brasil, 1995. pp.165-205. 
O CONCEITO DE REGIÃO E SUA DISCUSSÃO 
Toda a história das redes técnicas é a história de inovações que, umas após as outras, surgiram em respostas a uma demanda social antes localizada do que uniformemente distribuída. 
 Todas estas inovações, fundamentais na história do capitalismo mundial, se inscreveram e modificaram os espaços nacionais, doravante sulcados por linhas e redes técnicas que permitiram maior velocidade na circulação de bens, de pessoas e de informações. 
A pesquisa que vimos realizando, nos últimos anos, sobre as implicações das redes de telecomunicações sobre a organização territorial brasileira, nos permite, hoje, participar deste debate. 
O termo rede não é recente, tampouco a preocupação em compreender seus efeitos sobre a organização do território. Contudo, apresentar aqui as primeiras contribuições sob a ótica do presente, a ótica de final do século 20.
Uma revisão da literatura mostra que o termo rede aparece como um conceito-chave e privilegiado do pensamento de Saint Simon. Na linha de um socialismo planificador e tecnocrático, o filósofo e economista francês defendeu a criação de um Estado organizado racionalmente por cientistas e industriais. 
Em suma, o projeto comum era um projeto de integração territorial, integração de mercados regionais, pela quebra de barreiras físicas, obstáculos à circulação de mercadorias, de matérias-primas, mas também de capitais. Os capitais vão reaparecer, mais tarde, no século 20, anos cinqüenta, na tese clássica do geógrafo Jean LABASSE (1955), intitulada "Os capitais e a região". 
 A densificação das redes internas a uma organização ou compartilhadas entre diferentes parceiros —regionais , nacionais ou Internacionais surge como condição que se impõe à circulação crescente de tecnologia, de capitais e de matérias-primas. 
A história da constituição da rede urbana brasileira é marcada pela associação entre processo de urbanização e processo de integração do mercado nacional. A eliminação de barreiras de todas as ordens constituía a condição primordial para integrar o mercado interno, pois esta integração pressupunha a elevação do grau de complementaridade econômica entre as diferentes regiões brasileiras.
As qualidades de instantaneidade e de simultaneidade das quais são dotadas as redes de telecomunicações deram livre curso a todo um jogo de novas interações. Os bancos são doravante um elemento-chave de integração do território e de articulação deste mesmo território à economia internacional. 
A RMSP vem se impondo como o principal nó da rede, seguida pela Região Metropolitana do Rio de Janeiro, cuja capacidade de produzir, coletar, armazenar e distribuir as informações representa apenas um terço da metrópole paulista. A identificação dos principais parteiros de São Paulo é também rica de significados: ela mostra a complexidade de trans-formações na rede urbana. 
Assim, a grandeza do vetor que liga São Paulo e Salvador revela uma diferenciação crescente, ao longo dos últimos anos, entre esta última e Recife. As ligações com Campinas e São José dos Campos — lugares eleitos pela indústria de alta tecnologia — testemunha o surgimento de um novo poder fundado sobre o binômio ciência e tecnologia.
 Os estudos em andamento apontam também para uma tendência que vai de encontro a uma concepção de equilíbrio do território. De fato, a imagem piramidal e hierárquica tradicionalmente associada ao território, na qual os efeitos de proximidade têm supremacia sobre os efeitos de interdependência a longa distância, é cada vez menos verdadeira. 
É consenso o fato de que estamos, hoje, frente a um fenômeno de espetacular redução das barreiras espaciais, denominado por D. HARVEY (1989) de uma nova rodada na compressa tempo-espaço. As novas redes telecomunicações — como no passado o telégrafo e o telefone constituiriam, assim, a resposta contemporânea à necessidade acelerar a velocidade de circulação dos dados e do saber. 
O encontro entre informática e telecomunicações encontra-se no centro dos debates pluridisciplinares que deram lugar á difusão de algumas teses que giram em torno de sua capacidade virtual de anular o espaço e de transformar o território. 
As teses aqui discutidas apontam para um conjunto de interrogações que formam, na atualidade, um campo pluridisciplinar de pesquisa, no qual pesquisadores de horizontes disciplinares diversos buscam desenvolver um quadro conceitual capaz de melhor apreender a significação e o papel histórico das redes. 
A relação entre as mudanças qualitativas lia realidade sócio-econômica mundial e as novas redes estratégicas entre as empresas vem sendo estudada por R. RANDOLPH. Novas, afirma o autor, porque "rompem com sistemas tradicionais; transcendem estruturas até então consolidadas e arrasam com a convencional separação entre hierarquia e mercado. 
 O estudo das redes passa obrigatoriamente por uni trabalho que se desenvolve na fronteira com as outras disciplinas, seja com a Engenharia, a Sociologia, a Física, a Economia ou a História. Neste sentido, a história das redes técnicas é, sem dúvida, um processo complexo, no qual coexistem eventos determinados por interações locais e projetos definidos por concepções globais sobre o papel (ias técnicas de informação e de comunicação.