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Jean Sartre resumo

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Jean-Paul Sartre
 21 de junho de 1905 – 15 de abril de 1980 
Pode ser considerado o filósofo mais conhecido dos tempos modernos, Jean-Paul Sartre
definiu o papel do intelectual público engajado politicamente de um modo
singularmente francês. Sartre nunca foi professor universitário, em sua carreira
acadêmica, distribuiu-se entre diversos liceus, onde ele deu aulas
por vários anos. Sua posição como pensador teve como base apenas seus
trabalhos publicados – dos quais o mais importante foi O ser e o nada (1943) e a força dos seus argumentos públicos presentes em peças, romances,
ensaios e trabalhos filosóficos era tão grande que toda uma nação lhe tinha
respeito.
Em 1936, Sartre apareceu em cena com dois livros: A imaginação, uma
pesquisa sobre teorias filosóficas da imaginação pré-husserlianas e A
transcendência do ego, que apresenta argumentos contrários à visão de
Husserl do ego transcendental, definindo-o como um construto criado por
outros. Sartre, em seguida, rejeitou a visão de Freud do inconsciente em
Esboço para uma teoria das emoções (1939). Mas foi seu romance A náusea
(1939) que trouxe para Sartre o início da sua fama e, para o mundo, uma
primeira prova do seu existencialismo. O conceito de
Sartre de facticidade se refere à situação em que o sujeito encontra a si
mesmo: seu gênero, filiação, nacionalidade, habilidades etc. É no contexto
dessa situação que o sujeito confronta sua liberdade, que é limitada pela
facticidade. Para Sartre, o homem está condenado a ser livre. Essa situação
deu origem ao conceito do “absurdo”. Uma das expressões mais coerentes do absurdo pode ser encontrada nos romances e ensaios do amigo e rival de Sartre, Albert Camus (1913-60). O estrangeiro (1942) O Mito de Sísifo (1942).
Sartre serviu no corpo meteorológico do exército francês e
foi capturado durante a queda da França, em maio de 1940, sendo enviado
para um campo alemão de prisioneiros de guerra onde ficou por quase um ano. Sartre passava o tempo ensinando a
fenomenologia de Husserl aos padres que eram prisioneiros junto com ele e,
no Natal de 1940, escreveu e produziu uma peça de teatro para os
companheiros de cela. Bariona ou O filho do trovão era, segundo ele
assegurou em uma carta à sua amante Simone de Beauvoir (1908-86), uma
peça de Natal que não se apoiava na crença cristã para ser apreciada.
Enquanto era prisioneiro, Sartre iniciou também sua mais importante obra
filosófica: O ser e o nada. Com o auxílio de um padre, ele obteve documentos
médicos falsos e foi libertado da prisão alemã em 1941. Sartre voltou a Paris
para viver com Beauvoir e seu círculo de amigos e amantes, e passou a dar
aulas nos liceus Pasteur e Condorcet enquanto terminava O ser e o nada. Durante a ocupação, Sartre ainda escreveu e produziu duas peças bem sucedidas que foram autorizadas pelos censores nazistas. As moscas (1943)
trata-se de uma leitura existencialista da histórica de Electra, da mitologia
grega, enquanto Entre quatro paredes (1944) apresentava quatro personagens
em um quarto sem portas ou janelas e era concluída pela famosa fala “O
inferno são os outros”.
O existencialismo é uma refutação do essencialismo, a doutrina que sustenta
que coisas ou pessoas possuem essências intrínsecas. O famoso ditado de
Sartre é que “a existência precede a essência”. Para ele, a existência tem
dois modos: ser e nada. O ser tem duas categorias: “em-si” e “para-si”. O
em-si é o ser como um objeto desprovido de consciência. O para-si é o ser
consciente, mas não é um objeto: é uma não-coisa. O em-si e o para-si são
distintos e não podem se combinar. Combiná-los constituiria uma “totalidade
não realizável”. Este ideal, afirma Sartre, constituiria Deus. Tomando emprestado
de Hegel, Sartre vê as relações com os outros em termos de uma dialética
mestre/escravo.O componente
ético da ontologia de Sartre consiste no que ele chama de “má fé”. Má fé
significa, em essência, mentir para si mesmo.
Sartre começou a revisar sua filosofia existencialista para dar conta do
marxismo em Questão de método (1957), que mais tarde foi incorporado em
uma longa e não terminada obra, Crítica da razão dialética. O esforço de Sartre para reconciliar a liberdade do
existencialismo com o determinismo do marxismo constitui um feito notável
de análise filosófica. Enquanto trabalhava na Crítica (do período pós-guerra
até o fim da vida), Sartre trabalhou também em outro projeto enorme e
inacabado: a biografia em cinco volumes do romancista Gustave Flaubert
(1821-1880), intitulada O idiota da família (1971-2).
Sartre continua sendo uma figura imponente na filosofia do pós-guerra, mas a
influência do existencialismo começou a diminuir com a ascensão do
estruturalismo, praticado por Claude Lévi-Strauss e depois por Roland
Barthes. Não há dúvida, no entanto, de que a obra de
Sartre será lida e reavaliada por futuras gerações de estudiosos interessados
nos usos que ele deu ao método fenomenológico de Husserl e às análises
existenciais de Heidegger.
As atividades de Sartre foi sua tentativa de
descrever as principais características da existência humana:
liberdade, responsabilidade, as emoções, relações com os outros,
trabalho, personificação, percepção, imaginação, morte e assim
por diante. Sua obra se dirigiu, de maneira fundamental, e primordialmente, a partir de
“dentro” (onde as habilidades de Sartre como romancista e dramaturgo lhe serviram bem) à questão de como um indivíduo se relaciona a tudo que compreende sua situação: o mundo físico, outros indivíduos, coletivos sociais complexos e o mundo cultural de
artefatos e instituições.

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