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LITERATURA BRASILEIRA I Antônio Tomás Gonzaga, Santa Rita Durão e Silva Alvarenga: lirismo e sátira Conteúdo Programático desta aula a poética e a sátira de Tomás Antônio Gonzaga; as poesias de Santa Rita Durão e Silva Alvarenga. Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Portugal, cresceu na Bahia e floresceu como poeta em Minas Gerais , de 1872 a 1882. Sua poesia confere aos caracteres arcádicos sentimentos universais com rara habilidade rítmica e melódica, constituindo os mais belos poemas de amor da nossa literatura. Sua obra avulta em nosso Arcadismo e nele se inscreve como manifestação de individualidade que excede os parâmetros do período. Marília de Dirceu, publicada em 1792 e 1799, e Cartas Chilenas, 1863. São as suas duas obras A obra Marília de Dirceu é composta de três partes, que reúnem 33 liras na primeira, 38 na segunda e 9 na terceira, além de sonetos. Ele é português sim, mas foi aqui que ele escreveu a sua obra e conheceu a sua musa que deu o pseudônimo de Marília Alguns afirmam que ele escreveu somente a primeira e a segunda parte, mas terceira parte não são poemas de Tomás Antônio Gonzaga, seriam poemas apócrifos e que seriam incluídos na obra. A primeira parte pertence ao período que esteve preso em função da Inconfidência mineira e segunda seriam dele. Obra nos interessa entre o confronto entre a primeira e a segunda; Sua obra avulta... Tenho um que de romântico, alguns teóricos dizem que sim outros que não. Paisagem de memória já uma característica do romantismo. “O tema Marília é modulado por ele com certa amplitude. Temos desde uma presença física concretamente sentida, até uma vaga pastorinha incaracterística, mero pretexto poético (...).Na medida em que é objeto de poesia, Dorotéia de Seixas vai-se tornando cada vez mais um tema.(...) Dorotéia se desindividualizou (Antonio Candido) para ser absorvida na convenção arcádica: é a pastora Marília, objeto ideal de poesia, sem existência concreta. Por isso mesmo, ora é loura, ora morena; ora compassiva, ora cruel: em qualquer caso, sem nervo nem sangue. É uma estatueta de porcelana ...”(p.19-121) Marília passou a ser muito mais uma idealização que propriamente Marília Dorotéia de Seixas, apontam os teóricos. O tema Marília a acabou se dissolvendo na obra passa a ser a mulher amada.. Lira I - Faz a descrição de si mesmo. Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Eu vi o meu semblante numa fonte, Dos anos inda não está cortado: Os pastores, que habitam este monte, Respeitam o poder do meu cajado: Com tal destreza toco a sanfoninha, Que inveja até me tem o próprio Alceste: Ao som dela concerto a voz celeste; Nem canto letra, que não seja minha, Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela! Ele se descreve, na Lira I, como um homem de bem e bem-sucedido, a sua imagem, ele ainda não era um, homem velho (38/40 anos). Note como esse eu lírico se coloca, ele não fala como eu lírico arcade ele sempre passa essa voz para um pastor, uma voz idealizada. “A delegação poética (...) não perturba aqui a emergência do lirismo pessoal: Gonzaga surge, vivo, sob o tênue disfarce do pastor Dirceu, e a sua obra é a única, entre as dos árcades, que permite acompanhar um drama pessoal e as linhas duma biografia. O impacto emocional sobre o leitor aumenta graças a este degelo do eu, sem o qual não irrompe o autêntico lirismo individual.” (CANDIDO, A. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2007. p.95) Candido aponta que na obra de Gonzaga podemos notar que é diferente das outras obras do arcadismo percebemos que existe uma voz, mesmo que ele delegue para o pastor vemos a presença da vida do autor no poema. Lira IX - (redondilhas menores e musicalidade maior; descrição do Cupido de Eros- Marilia acertou as setas.) “Se existe um peito, Que isento viva Da chama ativa, Que acende Amor; Ah! Não habite Neste montado, Fuja apressado Do vil traidor. Corra, que o ímpio Aqui se esconde, Não sei aonde; Mas sei que o vi. Traz novas setas, Arco robusto; Tremi de susto, Em vão fugi. “(...) Se a seta falta, Tem outra pronta, Que a dura ponta Jamais torceu. Ninguém resiste Aos golpes dela: Marília bela Foi quem lha deu. Ah! Não sustente Dura peleja O que deseja Ser vencedor. Fuja, e não olhe, Que só fugindo De um rosto lindo Se vence Amor.” Lira XV Eu, Marília, não fui nenhum Vaqueiro, Fui honrado Pastor da tua aldeia; Vestia finas lãs, e tinha sempre A minha choça do preciso cheia. Tiraram-me o casal, e o manso gado, Nem tenho, a que me encoste, um só cajado. Para ter que te dar, é que eu queria De mor rebanho ainda ser o dono; Prezava o teu semblante, os teus cabelos Ainda muito mais que um grande Trono. Agora que te oferte já não vejo Além de um puro amor, de um são desejo. Se o rio levantado me causava, Levando a sementeira, prejuízo, Eu alegre ficava apenas via Na tua breve boca um ar de riso. Tudo agora perdi; nem tenho o gosto De ver-te aos menos compassivo o rosto. Propunha-me dormir no teu regaço As quentes horas da comprida sesta, Escrever teus louvores nos olmeiros, Toucar-te de papoulas na floresta. Julgou o justo Céu, que não convinha Que a tanto grau subisse a glória minha. Ah! minha Bela, se a Fortuna volta, Se o bem, que já perdi, alcanço, e provo; Por essas brancas mãos, por essas faces Te juro renascer um homem novo; Romper a nuvem, que os meus olhos cerra, Amar no Céu a Jove, e a ti na terra. Fiadas comprarei as ovelhinhas, Que pagarei dos poucos do meu ganho; E dentro em pouco tempo nos veremos Senhores outra vez de um bom rebanho. Para o contágio lhe não dar, sobeja Que as afague Marília, ou só que as veja. Se não tivermos lãs, e peles finas, Podem mui bem cobrir as carnes nossas As peles dos cordeiros mal curtidas, E os panos feitos com as lãs mais grossas. Mas ao menos será o teu vestido Por mãos de amor, por minhas mão cosido. Nós iremos pescar na quente sesta Com canas, e com cestos os peixinhos: Nós iremos caçar nas manhãs frias Com a vara envisgada os passarinhos. Para nos divertir faremos quanto Reputa o varão sábio, honesto e santo. Nas noites de serão nos sentaremos C’os filhos, se os tivermos, à fogueira; Entre as falsas histórias, que contares, Lhes contarás a minha verdadeira. Pasmados te ouvirão; eu entretanto Ainda o rosto banharei de pranto. Quando passarmos juntos pela rua, Nos mostrarão c’o dedo os mais Pastores; Dizendo uns para os outros: “Olha os nosso Exemplos da desgraça, e são amores”. Contentes viveremos desta sorte, Até que chegue a um dos dois a morte. (http://www.dominiopublico.gov.br) Ele é deportado para Moçambique e se casou com Juliana, o pai era mercadores de escravo, e ficou rico; Marília nunca se casou. A sátira em Cartas Chilenas No mesmo período em que foi publicada a primeira parte de Marília de Dirceu, aparecem, em Vila Rica, Cartas assinadas por Critilo. Trata-se de doze cartas dirigidas a Doroteu. Seu conteúdo é uma sátira ao Governador Luís da Cunha Meneses, que recebeu a alcunha de Fanfarrão Minésio, da cidade de Santiago do Chile. Durante muito tem ficamos sem saber quem as escreveu, Manoel Bandeira que resolveu esta questão e também Rodrigues Lapa Leia um trecho da Primeira Carta: “Escuta a história de um moderno chefe. Que acaba de reger a nossa Chile, Ilustre imitador a Sancho Pança. E quem dissera, amigo, que podia Gerar segundo Sancho a nossa Espanha! Não penses, Doroteu, que vou contar-te Por verdadeira históriauma novela Da classe das patranhas, que nos contam Verbosos navegantes, que já deram Ao globo deste mundo volta inteira. Uma velha madrasta me persiga, Uma mulher zelosa me atormente, E tenha um bando de gatunos filhos, Que um chavo não me deixem, se este chefe Não fez ainda mais do que eu refiro.” (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000293.pdf Ele satiriza o governador de Vila Rica e desloca para o Chile, Doroteu, seria Claudio Manoel da Nobrega Santa Rita Durão- Caramuru A obra Caramuru, de Frei José de Santa Rita Durão, A obra foi publicada em 1781. O poema é estruturado em 10 cantos, versos decassílabos e utiliza a oitava rima, nos moldes da epopeia camoniana. Conta os feitos heroicos do português Diogo Álvares e seu encontro com os tupinambás, na costa da Bahia, quando sofreu um naufrágio. Baseada em fato e de certa forma simbolizaria a mestisagem do português com o índio. Conta a lenda que Diogo, para defender-se dos índios, havia disparado um tiro com sua arma de fogo. Segundo o autor, esse feito teria lhe rendido a alcunha, que significaria “filho do trovão”. Hoje, há estudos que contestam o significado, pois entendem que Caramuru seria uma referência ao local de onde provinha o português; sendo assim um apelido dado por seus conterrâneos. Victor Meirelles– A morte de Moema – 1866 - Masp I “De um varão em mil casos agitado, Que as praias discorrendo do Ocidente, Descobriu o Recôncavo afamado Da capital brasílica potente: Do Filho do Trovão denominado, Que o peito domar soube à fera gente; O valor cantarei na adversa sorte, Pois só conheço herói quem nela é forte.” (http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000099.pdf) “Domando a “fera gente” e as próprias paixões, Diogo é misto de colono português e missionário jesuíta, síntese que não convence os conhecedores da história, mas que dá a medida justa dos valores de Frei José de Santa Rita Durão. Na medida em que o herói encarna, aliás ossifica tais valores, ele se enrijece e acaba perdendo toda capacidade de ativar a trama épica.” (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira.São Paulo: Cultrix,1994. p.70) Dizem que fez uma copia dos Lusíadas de Camões Silva Alvarenga: um elo com o Romantismo? Parte da crítica entende a obra de Manuel Inácio da Silva Alvarenga (Alcindo Palmireno), Glaura (musa), como um “elo que prende os árcades e os românticos” ( Ronald de Carvalho). De fato, sua lírica extremamente musical, de fácil memorização e delicado campo semântico nos leva a aproximar as duas estéticas na obra do autor. Além disso, estão presentes referências à natureza brasileira, mencionando árvores como o cajueiro e a mangueira. A forma preferida do autor foi o rondó foi uma forma poética muito praticada por Silva Alvarenga, e convém aproveitarmos a oportunidade para esclarecer a sua estrutura e sua história. Segundo Massaud Moisés, o rondó é um poema lírico de forma fixa, originário da França. A princípio consistia numa canção que acompanhava uma dança. O rondó português vingou no Arcadismo. Sua estrutura é formada por uma quadra que se repete ao fim de oitavas ou de duas quadras. A quadra recorrente apresenta rima alternada. Geralmente o rondó se dispõe em oito quadras ou quatro oitavas. Utiliza, de preferência, o verso redondilho maior, ou septissílabo. ( Dicionário de termos literários.) O Beija-Flor (flora brasileira - Rondó VII Deixo, ó Glaura, a triste lida Submergida em doce calma; E a minha alma ao bem se entrega, Que lhe nega o teu rigor. Neste bosque alegre e rindo Sou amante afortunado; E desejo ser mudado No mais lindo Beija-flor. Todo o corpo num instante Se atenua, exala e perde: É já de oiro, prata e verde A brilhante e nova cor. Deixo, ó Glaura, a triste lida Submergida em doce calma; E a minha alma ao bem se entrega, Que lhe nega o teu rigor. Versos de sete sílabas métricas. A musicalidade características do romantismo
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