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II – PRINCÍPIOS PROCESSUAIS PENAIS O processo penal deve estar pautado e ter por vetor principal a Constituição Federal. Os princípios que fazem parte do proc. penal são fundamentais, muitos deles encontrando respaldo na própria CF. No processo penal há dois tipos de princípios: os constitucionais e os do processo penal propriamente ditos. Os princípios constitucionais subdividem-se em explícitos e implícitos (extraídos a partir dos princípios, ideias e valores consagrados na CF). Quanto aos constitucionais, no contexto do Estado Democrático de Direito, eles atuam como instrumentos normativos consagradores dos direitos fundamentais do cidadão. Nesse sentido, não há que se olvidar que os princípios constitucionais alicerçam o chamado Processo Penal Constitucional, um processo que cada vez mais se distancia dos rigores do CPP, modelo normativo autoritário engendrado no regime ditatorial que reinava no pais em 1941, e se aproxima dos valores democráticos da modernidade insculpidos na CF. 1 – Princ. Da Verdade Real: O juiz, no proc. penal, possui o dever de apurar os fatos com o intuito de descobrir como efetivamente ocorreram, de forma a permitir que o jus puniendi seja exercido em relação àquele que praticou ou concorreu para a infração penal. O conjunto instrutório deve refletir, no maior grau de fidelidade possível, os acontecimentos pertinentes ao fato investigado. A prova produzida em juízo, por mais robusta e contundente que seja, é incapaz de dar ao magistrado um juízo de certeza. O que vai haver é uma aproximação, maior ou menor, da certeza dos fatos. O que se busca é a maior exatidão possível na reconstituição do fato controverso, que tende a refletir ao máximo a verdade. Para tanto, é facultado ao magistrado, em vários dispositivos, a determinação ex officio das diligências que reputar necessárias para o esclarecimento dos fatos, a exemplo da produção antecipada de provas, urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida, assim como determinar no curso da instrução, ou antes de proferir a sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante. (art. 156, I e II, CPP) obs.: No processo civil, tendo em vista que, em regra, estão em jogo direitos meramente patrimoniais (disponíveis), é suficiente a verdade formal, a verdade dos autos, daí porque é possível a aplicação da presunção da veracidade dos fatos e o julgamento antecipado da lide em ocorrendo a revelia do réu. Por força disso, os poderes instrutórios do juiz são bastante reduzidos, embora recentemente essa característica seja mitigada com a edição de leis que, cada vez mais, garantem tais poderes ao magistrado. 2 – Princ. Do Contraditório (art. 5º, LV, CF): Permite ao acusado contradizer toda imputação disposta pelo autor com os instrumentos processuais postos à sua disposição. Trata-se do direito assegurado às partes de serem cientificadas de todos os atos no curso do processo, a fim de se manifestarem a respeito e produzirem as provas necessárias antes de proferida a decisão. Para que o contraditório possa se perfectibilizar no processo, é preciso necessariamente que sejam atendidos três direitos: de ser intimado sobre os fatos e provas; de se manifestar sobre os fatos e provas e de interferir efetivamente no pronunciamento do juiz. 3 – Princ. Do Devido Processo Legal (art. 5º, LIV, CF): Due process of law É um princípio síntese, que engloba os demais princípios e garantias processuais assegurados constitucionalmente. O processo é indispensável para a aplicação da pena. O devido processo está consubstanciado numa série de garantias das partes e do próprio processo, abrangendo o juiz imparcial, o direito à prova, a ampla defesa, a igualdade processual, obediência a determinado rito procedimental, ao duplo grau de jurisdição, à motivação das decisões judiciais, acesso à defesa patrocinada por advogado... Assim, o devido processo legal é garantia do cidadão frente ao Estado de somente ser processado segundo as leis vigentes. 4 – Princ. Da Ampla Defesa (art. 5º, LV, CF): Consiste na faculdade ao acusado de utilizar a mais completa defesa à imputação que lhe foi feita. A defesa pode ser: a) defesa técnica (obrigatória): É a efetuada por profissional habilitado para assegurar uma paridade de armas entre o acusador e o acusado. Súmula 523, STF: “No processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.” b) autodefesa (facultativa): É a realizada pelo próprio imputado, que pode optar por permanecer inerte, invocando o direito ao silêncio. Esta, distingue-se em direito de audiência (direito do réu ser ouvido no processo, o que ocorre geralmente no interrogatório judicial) e direito de presença (direito do réu estar presente aos atos processuais, geralmente, audiências, seja de forma direta, ou indireta, como ocorre por meio da videoconferência). Garantias processuais decorrentes do princ. da ampla defesa: ter conhecimento claro da imputação; poder apresentar alegações contra a acusação; poder acompanhar a prova produzida e fazer contraprova; ter defesa técnica; poder recorrer de decisões desfavoráveis; 5 – Princ. Da Oficio/sidade: A persecução penal é atribuição que o Estado deve desempenhar ex officio com a aplicação da pena ao transgressor da norma jurídica, ou seja, a atuação oficial ocorre sem a necessidade de autorização. 6 – Princ. Da Oficial/idade: Os órgãos incumbidos da persecução penal são órgãos oficiais, tendo a CF/88 consagrado a titularidade da ação penal pública ao MP e disciplinado a Polícia Judiciária (Polícia Civil e Federal), ou seja, a persecução penal é uma atividade obrigatória do Estado que é cumprida por meio de três dos seus órgãos: a polícia judiciária, o MP e o juiz. 7 – Princ. Da Indisponibilidade: A ação penal pública, uma vez proposta, deve seguir até seu termo final, sendo insuscetível de desistência. O Delegado não pode arquivar os autos do Inquérito Policial (art. 17, CPP) E O Promotor não pode desistir da ação interposta (art. 42, CPP). Na ação penal privada não existe a indisponibilidade, podendo a vítima desistir da acusação a qualquer momento, pois vigora o Princípio da Disponibilidade. 8 – Princ. Da Publicidade (art. 5º, LX e 93, IX, CF; art. 792 CPP): Todos os atos processuais são públicos; entretanto, admite-se a falta de publicidade ou publicidade restrita quando a defesa da intimidade ou o interesse social ou público aconselharem/ ou quando resultar inconveniente grave ou perigo de perturbação da ordem pública. O grau máximo de restrição à publicidade compreende o processo ao qual tenham acesso, além do juiz, apenas as partes e seus procuradores. Ex.: arts. 201, §6º; 485, §2º; 792, §1º, CPP. Obs.: o inquérito policial, por não se tratar de processo judicial, não se encontra sob a regência do art. 93, IV, da CF. 9 – Princ. Da Presunção de Inocência (ou não culpabilidade) (art. 5º, LVII, CF; Súmula STJ 444): O reconhecimento da autoria de uma infração criminal pressupõe sentença penal condenatória transitada em julgado. Antes deste marco, somos presumivelmente inocentes, cabendo à acusação o ônus probatório. Logo, o réu não tem o dever de provar sua inocência, pois cabe ao acusador provar sua culpa. Nos casos em que não for provada a existência do fato ou não existir prova suficientemente segura para fundamentar o juízo condenatório, será o juiz obrigado a absolver o acusado. Mitigação (abrandamento): Em relação ao instituto da prisão processual, que, excepcionalmente, permite que o denunciado seja preso antes da condenação, tem fundamentoem elementos suficientes para constituir suspeita válida de que o acusado efetivamente seja o autor do fato (fumus comissi delicti) e existência de risco social no caso em que não seja decretada sua prisão (periculum libertatis). (lei n. 12.403/11) OBS.: No RE 591.054, o STF firmou a tese de que “a existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não pode ser considerada como maus antecedentes para fins de dosimetria da pena”. Obs.: o ônus da prova, em regra, cabe à acusação. Entretanto, esta consequência comporta uma exceção, tendo em vista que o ônus da prova das causas excludentes de ilicitude e culpabilidade compete ao acusado, bem como é ônus da defesa a prova de causas de extinção da punibilidade. Súmula 444 STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base. O STF, em 2009, reconheceu no julgamento do HC 84.078 que a presunção de inocência se aplicava até que houvesse uma condenação transitada em julgado, o que, na prática, impedia execução provisória da pena, enquanto pendesse qualquer recurso. Todavia, em 2016, em 17/02, o STF alterou seu entendimento no HC 126.292/SP, que considerou ser possível dar início da execução da pena condenatória após a confirmação da sentença em segundo grau, isso porque, segundo se entendeu, a manutenção da sentença penal pela segunda instância encerra a análise dos fatos e provas que assentaram a culpa do condenado, o que autoriza o início da execução da pena. Assim, os tribunais estaduais, em caso de acórdão condenatório, poderão determinar a expedição de mandado de prisão como efeito da condenação a ser provisoriamente executada. 10 – Princ. Do Juiz Natural/Promotor Natural (art. 5º, LIII, CF): O réu possui o direito de ser julgado por um juiz previamente determinado por lei ou pela CF, visando a um julgamento imparcial. Sua finalidade é garantir a participação no processo de um juiz imparcial. Esta garantia do juiz natural tem duplo aspecto: assegurando o direito ao juiz competente e a vedação à criação de tribunais ou juízos de exceção (criados depois do fato e para julgar um fato determinado) (art. 5º, XXXVII, CF), assim como a designação de magistrado para atuar, especificamente, em um determinado caso. Ex.: jurados sorteados aleatoriamente para compor o Conselho de Sentença no Tribunal do Júri. TPI (art. 5º, §4º, CF) – crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra, crimes de agressão (criado pelo Estatuto de Roma, em 1998). Da mesma forma, o Promotor Natural há de ser, sempre, aquele previamente estatuído na lei. 11 – Princ. Da não autoincriminação (Nemo tenetur se detegere) (art. 5º, LXIII, CF; Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, art. 14.3, “g”; e na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 8º, §2º, “g”): Ninguém está obrigado a produzir prova contra si mesmo. Trata-se de um princípio implícito, que decorre dos princípios constitucionais expressos: presunção da inocência e direito ao silêncio. Desdobramentos do direito: a) direito ao silêncio ou direito de ficar calado; b) direito de não ser constrangido a confessar a prática de ilícito penal; c) inexigibilidade de dizer a verdade; obs.: Súmula 522 STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em situação de alegada autodefesa. d) direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa incriminá-lo. A jurisprudência brasileira, retratada em decisões do STF, rechaça a possibilidade de obrigar o acusado (ou até mesmo a testemunha que corra risco de admitir fato que possa acarretar processo penal contra si) a praticar ato tendente a servir como prova contra si próprio, a exemplo de fornecer material para exame grafotécnico. e) Direito de não produzir prova incriminadora invasiva: a exemplo de exame de sangue, exame ginecológico, identificação dentária, endoscopia (usada para localização de droga no corpo humano). Obs.: no âmbito civil, há a Lei n. 12.004/2009 – que trata da presunção de paternidade diante da recusa do réu em se submeter ao exame de DNA. (onde não há previsão do princípio da inocência); em um crime sexual em que vestígios de esperma tenham sido encontrados na vagina da vítima, da recusa do acusado em se submeter ao exame de DNA não se pode presumir sua culpabilidade, sob pena de violação aos princípios do nemu tenetur se detegere e da presunção de inocência. Bafômetro: A recusa do condutor em se submeter ao bafômetro não configura crime de desobediência, nem pode ser interpretado em seu desfavor no âmbito criminal. Não se pode presumir a embriaguez de quem não se submete ao exame de dosagem alcoólica. Acerca da legalidade da prova de embriaguez ao volante, há divergência no STJ: a quinta turma entende que é indispensável o teste de alcoolemia para configurar o crime de embriaguez ao volante, ao que pode ser comprovada também por exame clínico ou por testemunhas; já a sexta turma, considera que é indispensável o teste de alcoolemia, ainda que esse estado possa ser aferido por outros elementos de prova. (REsp 1.111.566) 12 – Princ. Da Identidade Física do Juiz (art. 399, §2º, CPP): O juiz que colheu a prova deverá produzir a sentença. Somente nos casos devidamente justificados, como promoção, aposentadoria, falecimento, exoneração do órgão julgador, é que a regra poderá ser excepcionada utilizando-se, por analogia, o caput do art. 132 do CPC. 13 – Princ. Da Iniciativa das Partes: O processo só pode ser instaurado por meio da iniciativa das partes, não podendo o Juiz iniciar o processo criminal sem que haja provocação do legitimado. MP – ação penal pública Ofendido – ação penal privada 14 – Princ. Da Vedação à utilização de provas ilícitas (art. 5º, LVI, CF; 157, CPP): As provas obtidas por meios ilícitos, que são aquelas que afrontam direta ou indiretamente garantias tuteladas pela CF, não poderão, em regra, serem utilizadas no processo criminal como fator de convicção do juiz, devendo ser desentranhadas. A sanção processual cominada para a ilicitude da prova é a sua inadmissibilidade. Não se trata de nulidade da prova, mas de sua não aceitação no processo. Não são refeitas e não necessitam de uma avaliação subjetiva do juiz. Uma vez constatada a sua formação de maneira ilegal, veste-se do manto da inadmissibilidade e da inutilização. Neste sentido, o §3º do art. 157 do CPP: Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente. Se mesmo assim, uma prova ilícita for juntada ao processo, surge o direito de exclusão, a ser materializado através do desentranhamento da referida prova nos autos. P. ex.: interceptação telefônica sem ordem judicial, por ofender o art. 5º, XII, CF; confissão obtida por tortura. Tendo em conta que a norma constitucional da inadmissibilidade da utilização no processo de provas obtidas por meios ilícitos representa uma limitação ao direito de punir do Estado, depreende-se que o juiz pode, com base em uma prova ilícita, proferir uma sentença absolutória. A doutrina e jurisprudência vêm considerando possível a utilização das provas ilícitas em favor do réu, quando se trate da única forma de provar sua inocência (aplicando a Teoria da Proporcionalidade). Entende-se que o direito de defesa e o princípio da presunção de inocência devem preponderar no conflito com o direito de punir. P. Ex.: Interceptação telefônica clandestina realizada sem ordem judicial como única prova capaz de inocentar o imputado da acusação que lhe foi feita: Direito à intimidade X Direito à liberdade: Com a técnica do sopesamentode interesses, prevalece a admissão da prova ilicitamente obtida em favor do réu. A ilicitude é o gênero, do qual se difundem várias formas de ilegalidades: a normas constitucionais e legais - provas ilícitas (invasão de domicílio sem ordem judicial e distante das exceções previstas no art. 5º, XI, CF, para obter um documento incriminador; confissão obtida mediante tortura – Lei n. 9455/97; inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra, da imagem) e a normas processuais penais – provas ilegítimas (formar laudo pericial não oficial com um único perito, ferindo o art. 159, §1º, CPP; ao ouvir determinada testemunha, o magistrado se esqueça de compromissá-la, violando o art. 203, CPP; no curso da audiência de instrução e julgamento, o magistrado pede à vítima que realize o reconhecimento do acusado. A vítima, olhando para trás, aponta o acusado como o suposto autor do delito, o que fica registrado na ata de audiência, violando o art. 226 CPP. ). Uma característica da prova ilícita é que, em regra, pressupõe uma violação no momento da colheita da prova, geralmente em momento anterior ou concomitante ao processo, externamente a este. Mas é possível que sua produção ocorra em juízo, p. ex., quando o magistrado obtenha a confissão do acusado em seu interrogatório judicial, sem prévia e formal advertência quanto ao seu direito ao silêncio. Nesse caso, é possível concluir pela presença de prova ilícita produzida no curso do próprio processo. Com relação à prova ilegítima, o momento de sua produção é, em regra, no curso do processo, ou seja, sempre intraprocessual. Ex.: suponha-se que a parte contrária proceda à exibição de objetos aos jurados no plenário do júri, sem que tais objetos tenham sido juntados aos autos com a antecedência mínima de 3 dias, com ciência à parte contrária. Nesse caso, a prova terá sido produzida no processo com violação à norma de direito processual do art. 479 CPP, devendo ser reconhecida sua ilegitimidade. A prova ilícita por derivação (art. 157, §1º): São igualmente ilícitas as provas resultantes das originalmente ilícitas. (Teoria dos frutos da árvore envenenada = Teoria de origem na Suprema Corte norte americana – Por ela, a prova ilícita produzida – árvore – tem o condão de contaminar todas as provas dela decorrentes – frutos. O vício da planta se transmite a todos os seus frutos). Assim, diante de uma confissão obtida mediante tortura (meio ilícito) (prova ilícita e inadmissível), mas graças a ela, encontra-se uma testemunha chave para o caso. Admitindo-se o testemunho como prova, está-se criando condições para a condenação do réu./ou diante de uma confissão obtida mediante tortura – meio embrionariamente ilícito, cujas informações deram margem a uma localização e apreensão (p. ex. De um cadáver) formalmente íntegra, é imperioso reconhecer que esta busca e apreensão está contaminada, pois decorreu de uma prova ilícita. No HC 90.298/RS, a 2ª Turma do STF considerou ilícita a prova criminal consistente em obtenção, sem mandado judicial, de dados bancários de acusado, do que derivou a contaminação das demais provas produzidas com base nessa diligência ilegal. Na visão do Supremo, o fato de o acusado ter confessado posteriormente não seria suficiente para que fosse mantida sua condenação, já que a referida confissão surgira como efeito da prova ilicitamente obtida, sendo razoável supor que não teria sido feita sem a quebra prévia e ilegal do sigilo bancário. Concluiu-se que a palavra do acusado, como meio de prova, também padeceria de ilicitude, agora por derivação. OBS.: Para Nestor Távora, Fábio Roque e Rosmar Antonni: a) interceptação telefônica: é a interceptação em sentido estrito, e consiste na interferência, captação da conversa telefônica, realizada por alguém que não seja o interlocutor. Trata-se de uma terceira pessoa captando a conversa, sem a ciência dos interlocutores. É regida pela Lei n. 9296/96. b) interceptação ambiental: trata-se da interceptação (captação da comunicação sem conhecimento dos interlocutores) no ambiente em que se realiza a comunicação. A Lei 12.850/13 admite como meio de prova a “captação ambiental de sinais eletromagnéticos ópticos ou acústicos”. c) gravação clandestina ou gravação telefônica: difere da interceptação, pois aqui a gravação é realizada por um dos interlocutores, sem o conhecimento do outro. Na interceptação, nenhum dos interlocutores tem ciência da captação. A gravação clandestina não se subordina aos requisitos exigidos na Lei de Interceptação e a jurisprudência do STF a considera prova lícita, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação (HC 91.613/MG). Gravação ambiental ou captação direta: difere da interceptação ambiental, pois a gravação é realizada por um dos interlocutores, sem a ciência dos outros. É o caso, p. ex., em que uma pessoa participa de uma conversa, levando no bolso um gravador ou até mesmo uma câmera escondida. O STF também tem reconhecido a licitude de tal prova (RE 583.937/RJ). Escuta telefônica: é a captação da conversa realizada por um terceiro, com o conhecimento de um dos interlocutores. Ocorre, p. Ex., quando um dos interlocutores, pretendendo gravar a conversa, pede auxílio a um terceiro, para que capte a conversa. Difere da interceptação porque um dos interlocutores tem ciência da captação, e difere da gravação clandestina, pois a captação é realizada por um terceiro. Prevalece o entendimento na doutrina de que a realização da escuta também depende dos requisitos contemplados na Lei de Interceptação (Renato Brasileiro). O STF, porém, já decidiu que “não há interceptação telefônica quando a conversa é gravada por um dos interlocutores, ainda que com a ajuda de um repórter” (RE 453.562/SP). Observações: i) Delegado que acessa conversas do whatsapp do flagranteado sem prévia autorização. Hipótese: João foi preso em flagrante pela prática de tráfico de drogas. A polícia apreendeu seu celular. Como não havia senha no aparelho, o Delegado abriu o aplicativo whatsapp e verificou as conversas de João. As mensagens comprovaram que ele realmente negociava drogas e, o pior, que havia praticado diversos outros crimes, dentre eles ameaça e homicídio. Tais mensagens foram transcritas pelo escrivão e juntadas ao Inquérito Policial em forma de certidão. Posteriormente, tais elementos informativos serviram de base para que o MP oferecesse denúncia contra João pela prática de uma série de crimes. Essa prova é válida? Segundo o STJ, é necessária prévia autorização judicial para que a autoridade policial possa ter acesso ao whatsapp do investigado. Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de conversas registradas no whatsapp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante. (5ª T, RHC 67.379/RN, j. 20/10/16 – Info. 593; 6ª T, RHC 51.531/RO, j. 19/04/16 – Info. 583) ii) Delegado que acessa conversas do whasapp da vítima morta com autorização da esposa do falecido. Hipótese: Bruno matou Pedro, crime que não foi presenciado por ninguém. A polícia começou a investigar o caso e a esposa de Pedro entregou ao Delegado o telefone celular do marido falecido. A autoridade policial abriu o whatsapp e percebeu que Pedro manteve uma ríspida conversa com João e que eles combinaram de se encontrar no local onde a vítima foi encontrada morta. A partir dessa conversa, a polícia conseguiu desvendar o crime. Essa prova é válida? Segundo o STJ, não há ilegalidade na perícia do aparelho de telefonia celular pela polícia, sem prévia autorização judicial, na hipótese em que seuproprietário – a vítima – que foi morto, tendo o referido telefone sido entregue à autoridade policial por sua esposa. (6ª T, RHC 86.076/MT, j. 19/10/17 Info. 617) iii) Acesso ao Whatsapp de celular coletado em busca e apreensão. Hipótese: Augusto estava sendo investigado por tráfico de drogas. O juiz decretou busca e apreensão na casa de Augusto. Durante as diligências, foram encontradas drogas, balanças de precisão e dois celulares, tendo tudo isso sido apreendido. Augusto, que estava no local, foi preso em flagrante. A autoridade policial acessou o whatsapp dos aparelhos celulares e descobriu inúmeras conversas de Augusto negociando drogas e determinando a morte de inimigos. A defesa impetrou HC alegando que o Delegado somente poderia ter acessado o Whats com nova autorização judicial, razão pela qual a prova seria ilícita. Essa prova é válida? Se o telefone foi apreendido em busca e apreensão determinada por decisão judicial, não há óbice para que a autoridade policial acesse o conteúdo armazenado no aparelho, inclusive as conversas do whatsapp. Para a análise e a utilização desses dados armazenados no celular não é necessária nova autorização judicial. A ordem de busca e apreensão determinada já é suficiente para permitir o acesso aos dados dos aparelhos celulares apreendidos. (STJ, 5ª T, RHC 77.232/SC, j. 03/10/17) RESUMO: a) Polícia acessa o whatsapp do investigado sem autorização judicial: prova ilícita ; b) Polícia, com autorização de busca e apreensão, apreende celular do investigado. Em seguida, sem nova autorização judicial, acessa o whatsapp – prova válida; c) Polícia acessa o whatsapp da vítima morta, com autorização da esposa do falecido, mas sem autorização judicial – prova válida. 15 – Princ. Da Obrigatoriedade de motivação das decisões judiciais (art. 93, IX, CF; 381, III, CPP): É imperativo que o juiz exponha os elementos de prova que fundamentam suas decisões, possibilitando aos interessados impugnarem, com efetividade, as decisões dos magistrados e tribunais sobre as questões que foram postas em análise, concretizando nos autos a observância ao princípio do contraditório. 16 – Princ. Da Imparcialidade do Juiz: O juiz deve julgar de forma absolutamente imparcial, vinculando-se, ao proferir sua decisão, apenas às regras legais e ao resultado da análise das provas no processo. A imparcialidade preconizada em nosso ordenamento jurídico implica a postura de um magistrado que cumpra a CF de maneira honesta, prolatando decisões suficientemente motivadas. Situações de impedimento (art. 252, CPP) e suspeição (art. 254, CPP): presunção de parcialidade do juiz. 17 – Princ. Da Isonomia Processual (paridade de armas) (art. 5º, caput, CF): As partes, em juízo, devem contar com as mesmas oportunidades de alegação e de prova, cabendo-lhes iguais direitos, ônus, obrigações e faculdades ao serem tratadas de forma igualitária no transcorrer processual. 18 – Princ. Do Duplo Grau de Jurisdição (implícito): Assegura o direito ao reexame das decisões por um órgão jurisdicional diverso daquele que as proferiu. Decorre do princípio constitucional da ampla defesa e vem consagrado expressamente no Pacto de São José da Costa Rica, no seu art. 8º, item 2, alínea h, o qual tem no Brasil status de norma supralegal, cf. O entendimento do STF no RE 466.343/SP e no HC 87.585/TO (Informativo n. 531). Ademais, a CF estrutura o Poder Judiciário criando órgãos de primeiro e segundo graus de jurisdição, sendo função precípua destes últimos rever as decisões proferidas em primeiro grau. Assegura a possibilidade de revisão das decisões judiciais, através do sistema recursal, onde as decisões do juiz de 1º grau podem ser reapreciadas pelos tribunais. 19 – Princ. Do Impulso Oficial: Uma vez instaurado o processo criminal, o juiz, de ofício, deve determinar que se passe à próxima etapa procedimental, sem que seja necessário requerimento das partes. 20 – Princ. Do “In dubio pro reo” ou Favor Rei: Somente diante da certeza quanto à responsabilização penal do acusado pelo fato praticado é que poderá operar-se a condenação. Havendo dúvidas, resolver-se-á em favor do acusado. Na ponderação entre o direito de punir do Estado e o status libertatis do imputado, este último deve prevalecer. 21 – Princ. Da Duração Razoável do Processo Penal (art. 5º, LXXVIII, CF): Objetiva evitar a procrastinação (retardamento) indeterminada de uma persecução penal, onde o direito à celeridade pertence tanto à vítima como ao réu. 22 – Princ. Da Persuasão racional ou do livre convencimento motivado (art. 155, CPP): O juiz tem liberdade na formação de sua convicção acerca dos elementos de prova, não podendo fundamentar sua decisão apenas em provas colhidas na fase investigatória, na qual não vige o princípio do contraditório. Vale ressaltar que o juiz, no momento da decisão, sempre estará adstrito às provas que se encontram nos autos, sob pena de nulidade. 23 – Princ. Da Vedação ao “bis in idem”: Representa uma garantia ao acusado que tenha sido absolvido por sentença transitada em julgado. Não poderá o Estado deduzir uma pretensão punitiva que tenha por objeto o mesmo fato, contra o mesmo acusado, se este já foi considerado inocente em decisão definitiva, não mais sujeita a recurso. Trata-se de princípio que decorre dos seguintes princípios: a) da legalidade penal (art. 5º, XXXIX, CF); e da dignidade da pessoa humana. Ademais, é consagrado expressamente no art. 8º, 4, do Pacto de São José da Costa Rica.
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