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O GRANDE PROBLEMA DO SOCIALISMO

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O grande problema do socialismo não é a falta de conhecimento, mas sim a 
incapacidade de calcular
Só uma economia de mercado permite a alocação eficiente de recursos, algo 
impossível no socialismo
Este ano é o 30º aniversário do segundo debate sobre o problema do cálculo 
econômico em uma economia socialista.
Este segundo debate começou com um artigo publicado por Israel Kirzner em 
1988 no periódico Review of Austrian Economics, no qual ele analisava o debate 
original entre Mises, Hayek e os "socialistas de mercado" (como Oskar Lange, 
que acreditavam que o socialismo poderia funcionar caso os planejadores 
centrais "imitassem" o mercado em suas planilhas), com o intuito de 
apresentar algumas lições para os austríacos modernos. O artigo gerou várias 
respostas dos austríacos associados ao Mises Institute.
Eis a questão:
a) Mises dizia que o problema do socialismo é que a ausência de propriedade 
privada dos meios de produção impede o surgimento de preços de mercado, o 
que por sua vez torna impossível fazer cálculos econômicos sobre lucros e 
prejuízos, tornando toda a alocação de recursos escassos irracional e 
ineficiente.
b) Já Hayek dizia que o grande problema do socialismo é o fato de as 
informações estarem naturalmente dispersas por toda a sociedade, sendo 
impossível a um grupo de planejadores centrais apreender todas essas 
informações, utilizá-las corretamente e convertê-las em produção racional. 
Consequentemente, é impossível esse comitê central gerenciar a economia e 
fazê-la produzir de forma otimizada. Para Hayek, portanto, o problema do 
socialismo está enraizado na ignorância ou falta de conhecimento da 
autoridade central de planejamento.
Sendo assim, a pergunta é: seria útil distinguir a posição de Mises da de Hayek, 
ou seria melhor se referir a elas como a posição Mises-Hayek? A mim me 
parece claro — principalmente após minha última e cuidadosa releitura de Ação 
Humana (para escrever meu livro Escolha) — que Mises e seu "problema do 
cálculo econômico sob o socialismo" é bem diferente do "problema do 
conhecimento" hayekiano. Com efeito, a importância colocada por Mises na 
questão do cálculo econômico é devastadora para o argumento socialista.
Mises não estipula que haja conhecimento disperso
Deixe-me enfatizar: os famosos artigos de Hayek sobre "o problema do 
conhecimento" — principalmente o seu "O Uso do Conhecimento na 
Sociedade" — são obras-primas de leitura obrigatória.
Ainda assim, todos os problemas enfatizados por Hayek, como conhecimento 
disperso, conhecimento tácito e o fato de os preços serem um mecanismo 
eficiente para a transmissão de informações — nada disso representa a falha 
fundamental que Mises atribuiu ao socialismo.
Desde o início, quando Mises começou a destrinchar os problemas do 
socialismo, ele partiu do princípio, para o bem do debate, que o planejador 
central de um regime socialista era um ser não apenas totalmente bem 
intencionado, como também já usufruía todos os conhecimentos técnicos 
relevantes à sua disposição.
Apenas para deixar claro, no mundo real, esses problemas enfatizados por 
Hayek de fato existem e são incontornáveis: seria humanamente impossível que 
um ditador socialista conseguisse apreender todos os "fatos existentes e 
dispersos ao longo de toda a economia do país", e absorvê-los em sua mente 
de modo a tomar decisões boas e racionais.
No entanto, mesmo levando em conta esta impossibilidade prática, Mises, pelo 
bem do debate, pressupôs que o comitê central socialista seria formado por 
homens iluminados, oniscientes e perfeitamente capazes de apreender e reunir 
todo o conhecimento disperso na sociedade. E, ainda assim, afirmou Mises, 
esses planejadores socialistas estariam perdidos e tateando no escuro.
Mesmo sendo detentores de todo o conhecimento existente na sociedade, os 
planejadores socialistas simplesmente não teriam como avaliar se os recursos 
escassos — recursos naturais, bens de capital e mão-de-obra — à sua 
disposição estariam sendo empregados da melhor maneira possível. Os 
planejadores socialistas não teriam como mensurar a eficiência econômica de seu 
plano para os recursos da sociedade.
Eis, resumidamente, o argumento de Mises:
1) Sob o socialismo, os meios de produção (fábricas, máquinas, ferramentas e 
mão-de-obra) não possuem proprietários privados. Eles pertencem ao estado.
2) Se os meios de produção pertencem exclusivamente ao estado, não há um 
genuíno mercado entre eles.
3) Se não há um mercado entre eles, é impossível haver a formação de preços 
legítimos para esses meios de produção (o que inclui os salários da mão-de-
obra).
4) Se não há preços, é impossível fazer qualquer cálculo de custos. E sem 
cálculo de custos, é impossível haver qualquer racionalidade econômica na 
alocação, o que significa que uma economia planejada é, paradoxalmente, 
impossível de ser planejada.
5) Sem preços, não há cálculo de lucros e prejuízos, e consequentemente não 
há como direcionar o uso de meios de produção para atender às mais urgentes 
demandas dos consumidores da maneira menos dispendiosa possível.
Dado que a própria essência do socialismo é a propriedade coletiva dos meios 
de produção, e dado que tal arranjo não permite o surgimento de preços de 
mercado, e dado que sem preços não há o mecanismo de lucros e prejuízos, 
que é o que traz racionalidade para qualquer processo produtivo, o comitê de 
planejamento central não seria capaz nem de planejar nem de tomar qualquer 
tipo de decisão econômica racional.
Suas decisões necessariamente teriam de ser completamente arbitrárias e 
caóticas. Consequentemente, a existência de uma economia socialista 
planejada é literalmente "impossível".
Assim, parece óbvio que aquilo que Mises rotulou de "o problema do cálculo" 
não era, e nem poderia ser, "o problema do conhecimento" associado a Hayek. 
Apontar isso não significa, de modo algum, desmerecer a importância do 
problema do conhecimento; é simplesmente observar que ambos representam 
falhas distintas do socialismo.
A resposta inicial de Hayek para os "socialistas de mercado"
É possível obter outras evidências de que Mises e Hayek não estavam dizendo 
coisas idênticas quando nos lembramos da famosa reação de Hayek à "solução 
matemática" que alguns economistas propuseram em resposta a Mises.
Especificamente, H.D. Dickinson, em 1933, argumentou que Mises havia 
exagerado quando afirmou (originalmente em um artigo de 1920, em alemão) 
que seria impossível para os planejadores socialistas arranjarem racionalmente 
as questões econômicas. Treinado na tradição walrasiana do equilíbrio geral, 
Dickinson alegou que um planejador socialista só precisaria saber as relevantes 
funções matemáticas da produção, a oferta de recursos e as preferências dos 
consumidores para poder determinar um plano eficiente. Afinal, os 
economistas matemáticos já faziam isso: munidos apenas destas poucas 
informações, eles eram capazes de gerar um modelo matemático de "equilíbrio 
competitivo". Sendo assim, por que um planejador socialista não poderia, pelo 
menos em princípio, fazer a mesma coisa para o mundo real?
Em resposta, Hayek, em 1935, argumentou que tal solução matemática "não é 
uma impossibilidade no sentido de ser logicamente contraditória". Mas rejeitou 
essa tese como sendo uma resposta séria ao desafio de Mises porque
o que é relevante na prática, neste quesito, não é a estrutura formal do sistema, 
mas sim a natureza e a quantidade de informações concretas necessárias caso o 
objetivo seja obter uma solução numérica. E a magnitude da tarefanecessária para 
se obter esta solução numérica é humanamente impossível.
Creio que todos podemos concordar com Hayek quando ele diz que os 
socialistas que defendiam um sistema walrasiano de equações com o objetivo 
de "resolver" o problema econômico do socialismo estavam totalmente iludidos 
caso honestamente acreditassem que isso iria funcionar. Ainda assim, a reação 
de Hayek aboliu uma das condições que Mises havia estipulado.
Em seu ataque original, Mises não argumentou que os planejadores socialistas 
não seriam capazes de processar, em tempo real, informações dispersas. Não, 
Mises enfatizou repetidamente que haveria uma ausência categórica de apenas de um 
tipo especial de informação (se quisermos utilizar essa palavra), a qual só poderia ser 
produzida em meio a instituições de mercado.
Não é algo meramente pedante alguns austríacos atuais dizerem que Hayek 
suavizou a crítica que Mises havia feito. Em um famoso (e presunçoso) artigo 
de 1936, Oskar Lange primeiro faz uma homenagem em tom de zombaria a 
Mises — dizendo que os futuros planejadores socialistas deveriam erigir uma 
estátua a ele —, e então argumentou que Hayek havia diluído as afirmações 
arrojadas de Mises:
Assim, o professor Hayek e o professor Robbins [em sua ênfase na descomunal 
quantidade de equações que seriam necessárias para implantar uma solução 
matemática para a economia socialista] abandonaram o ponto essencial feito pelo 
professor Mises, e recuaram para uma linha de defesa secundária. Em princípio — 
admitem eles —, o problema é solucionável, e não se pode duvidar que um 
economia socialista pode resolvê-lo por meio de um simples método de tentativa e 
erro, assim como é feito em uma economia capitalista.
Não creio que Lange estivesse apenas fazendo um ataque rasteiro neste ponto. 
Creio que ele está corretamente apontando que a concessão feita por Hayek 
em relação à possibilidade lógica da "solução matemática" é algo que o próprio 
Mises jamais teria escrito. Com efeito, em seu livro de memórias Notes and 
Recollections, Mises se refere a esses economistas que tentavam criar soluções 
matemáticas para o socialismo. Diz ele: "Eles foram incapazes de ver o 
principal desafio de todos: como pode a ação econômica, que consiste em 
decisões de preferir e descartar — ou seja, de fazer valorações desiguais sobre 
as coisas —, ser transformada em valorações iguais e em equações?"
Algo completamente novo
Quando um economista acadêmico convencional — treinado no uso das 
funções de produção Cobb-Douglas e nas funções de utilidade Neumann-
Morgenstern — se depara com esta frase de Mises, ele compreensivelmente 
revira os olhos e critica este "antiquado" pensador austríaco. "Ora, mas é claro 
que podemos usar equações para modelar a ação humana na economia!", diz o 
economista moderno. "De que outra maneira as pessoas em nossa economia 
moderna usam números? Se o consumidor médio é capaz de fazer tais juízos 
de valor, então o que impede que professores treinados e encastelados em 
suas Torres de Marfim ou mesmo planejadores centrais oniscientes façam o 
mesmo?".
E, ainda assim, esse é apenas o outro lado da moeda. Mises não apenas 
identificou a falha crucial do socialismo, como também explicou como uma 
economia de mercado resolve o problema. 
Mais especificamente, a instituição da propriedade privada e o uso de um meio 
comum de troca (dinheiro) permitem o surgimento de genuínos preços de 
mercado para todos os bens e serviços disponíveis. Consequentemente, 
empreendedores tornam-se capazes de fazer os cálculos monetários necessários e, 
com isso, incorrer em projetos que acreditam ser lucrativos e evitar aqueles em 
que acreditam que terão prejuízo.
É este processo de mercado que permite a um sistema capitalista alocar 
recursos eficientemente, ao passo que um sistema socialista, por não ter esse 
sistema de preços livremente formados (por causa da ausência de propriedade 
privada dos meios de produção), não consegue o mesmo — nem mesmo "em 
princípio".
Em minha opinião, foi Joe Salerno quem apresentou a melhor e mais sucinta 
explicação, em um artigo de 1994:
Vejo o ato de se fazer avaliações e estimativas como algo que não é nem 
conhecimento e nem aritmética, mas sim algo completamente novo, introduzido 
ao mundo somente quando os pré-requisitos institucionais de uma economia de 
mercado estão presentes.
Desta forma, o processo social de avaliação e estimativa transcende as operações 
— puramente individuais — de conhecimento e cálculo, ao mesmo tempo em que as 
complementa ao criar as indispensáveis condições para as escolhas racionais feitas 
por empreendedores e proprietários de recursos que operam dentro de um sistema 
de divisão do trabalho. [Negrito meu]
Deixe-me tentar colocar dessa maneira: quando usamos um termômetro para 
mensurar a temperatura dentro de um forno de uma padaria, o aparelho nos 
transmite informação. Há um verdadeiro e objetivo "fato da realidade", que é a 
energia cinética das moléculas de ar indo, voltando e colidindo entre si dentro 
do forno, e o termômetro é uma maneira imperfeita de nos transmitir esses 
dados de uma forma que nossa mente possa compreendê-los e incorporá-los 
em nossas decisões.
Mas a questão é que não há nenhuma dúvida de que o interior do forno 
realmente possui uma temperatura, independentemente de nós a mensurarmos 
ou não com um termômetro.
Em contraste, se perguntarmos "Qual é o valor econômico do forno?", aí já 
teremos uma pergunta fundamentalmente distinta. Este não é um fato objetivo 
incrustado e enraizado no arranjo das coisas. A pergunta leva em contra todas 
as preferências subjetivas de todas as pessoas do planeta, bem como suas 
expectativas quanto à possibilidade de transformar a matéria em formas 
distintas.
Trata-se, com efeito, de uma pergunta estonteante e desconcertante, a qual só 
pode ser respondida se você estiver atuando dentro de uma economia de 
mercado e for capaz de fazer estimativas sensatas e bem informadas sobre o 
quanto as pessoas estariam dispostas a pagar pelo forno.
Conclusão
Mises e Hayek foram ambos economistas brilhantes que fizeram numerosas e 
valiosas contribuições para a tradição austríaca. No entanto, não é correto se 
referir à "posição Mises-Hayek" no famoso debate sobre o cálculo econômico 
no socialismo, pois fazê-lo obscurece o entendimento misesiano do cálculo, o 
qual é necessariamente um cálculo monetário e não um problema de 
conhecimento.
Embora intelectuais e acadêmicos devam sempre exercitar a cortesia em suas 
avaliações, é necessário separar argumentos distintos que às vezes são 
agrupados como se fossem iguais.

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