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�1 AULA 01 ASPECTOS CONCEITUAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. INTRODUÇÃO Muito se procura mostrar a realidade no estudo da Administração Pública porém não é uma tarefa fácil, pois são reduzidos a trabalhos que se propõem a tratá-la de modo sistemático e voltado para um sentido mais prático de sua aplicabilidade. Procura-se discutir a realidade efetiva dos seus aspectos conceituais, porém as instituições não procuram zelar por um serviço de qualidade, que respeite a população e seja eficiente e eficaz nos seus atos. Outro fator que tende a desestimular estudos nessa área do conhecimento é a sua vinculação aos juízos que o senso comum tem da Administração Pública, situando-a como campo de articulação de interesses políticos particularistas, como reino de distorções da burocracia, como campo dominado pela Ciência Política e pelo Direito Administrativo, ou como espaço para aplicação de técnicas gerencialistas desenvolvidas no âmbito da Administração Geral. É perceptível a observância de um distanciamento entre o que a administração pública realmente proporciona à sociedade e o que é formalmente estabelecido pelas leis e regulamentos. É visível qua a população necessita de uma maior transparência nos atos estabelecidos pela administração pública no tocante à realização dos seus projetos e programas de trabalho, considerando a coerência com o que a sociedade realmente carece. Embora a Administração Pública possa prescindir de contribuições de estudos multidisciplinares, Conforme descreve Oliveira (2014) ela própria possui um corpo de conhecimento bastante vasto e profundo 1 desenvolvido durante a sua história. Conhecer o que o estudo sistemático sobre Administração Pública já desenvolveu abre perspectivas fascinantes para a continuidade de investigações científicas e como fonte de ideias, métodos e ferramentas mais contextualizadas para oxigenar a prática dos gestores públicos. No campo das ciências sociais aplicadas, as preocupações de acadêmicos e de praticantes estão na identificação e no desenvolvimento de métodos para a aplicação de conhecimentos gerados no âmbito das ciências sociais para interferir na realidade, como ocorre em estudos de fenômenos administrativos. Na Administração Pública o propósito é encontrar meios mais racionais para a execução eficiente de ações concretas na sociedade. Uma atividade que se concretiza na junção de meios humanos, materiais e financeiros no seio de uma organização é, em geral, o que nós chamamos de administração, onde tomar decisões e efetuar operações com vista à satisfação de determinadas necessidades e o que qualquer organização necessita, mas nem todas as administrações se regem pelos mesmos princípios e regras. Ao resgatar a origem e o desenvolvimento da administração no decorrer da história, veremos que diferentes momentos socioeconômicos sempre demandaram dos administradores diferentes formas de interagir com a realidade. Simultaneamente, estudiosos e pesquisadores desenvolviam teorias que tentavam formalizar e explicar as práticas administrativas adotadas em cada contexto. Desta forma, a Administração é praticada desde que existem os primeiros agrupamentos humanos. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Administração Pública: Foco na otimização do modelo administrativo. São 1 Paulo: Atlas, 2014. UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UnB) FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO, CONTABILIDADE E GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS (FACE) DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO (ADM)� DISCIPLINA CÓDIGO TURMA CRÉDITO S PERÍODO PROFESSOR FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 200794 B 4 2018/1 MARCOS ALBERTO DANTAS �2 De acordo com Clegg et al. (2011) a administração é um processo integrativo da atividade 2 organizacional que permeia a nossa vida diária. A administração não está confinada apenas a setores produtivos de bens e serviços, pois até mesmo um núcleo familiar requer certo grau de administração e quanto maior o grau de complexidade de atividade definida pelo grupo formal, maior a necessidade de aplicar os conhecimentos da ciência administrativa. É pertinente a todo o tipo de empreendimento humano que reúne, em uma única organização, pessoas com diferentes saberes e habilidades, sejam vinculados às instituições com fins lucrativos ou não. Toda organização, pública ou privada, precisa ser administrada para alcançar seus objetivos com a maior eficiência e economia de ações e de recursos. Administrar é buscar otimizar resultados com os recursos disponíveis. A tarefa básica é fazer as coisas por meio das pessoas de maneira eficiente e, ao mesmo tempo, 3 eficaz . A necessidade de administrar surge do confronto entre as variáveis que compõem uma atividade 4 formalmente estruturada, como recursos materiais e humanos, tecnologia, restrições ambientais, entre outros. A prática da administração exige o conhecimento organizacional, permitindo a compreensão dos reflexos que as decisões e ações dos gestores têm sobre toda a organização. As organizações são regidas por aspectos de natureza humana e social, pela confiança, pelo entendimento mútuo e pela motivação. Nas sociedades primitivas, a caçada de um animal para o sustento era um empreendimento que envolvia planejamento, decisão de trabalho, estabelecimento dos líderes e das tarefas. A Administração revela-se nos dias de hoje como uma área do conhecimento humano permeado de complexidades e desafios. O profissional que utiliza a Administração como meio de vida costuma solucionar problemas, dimensionar recursos, planejar aplicações, desenvolver estratégias, efetuar diagnósticos, enfim, tudo que for ligado à organização. Existem vários conceitos de administração que ao longo do século foi se desenvolvendo à medida que novas teorias iam surgindo, como a descrita por Drucker (2006) que descreve a administração como um 5 simples processo de tomada de decisão e o controle sobre as ações dos indivíduos, com o propósito na obtenção de metas predeterminadas. Oliveira (2011) corrobora com Drucker ao entender a Administração como um sistema estruturado e 6 intuitivo, consolidado por um conjunto de princípios, processos e funções. Ao procurar os melhores conceitos que definem as funções organizacionais dos órgãos públicos vimos que não podemos confundir a Administração Pública com conceitos que as descendem e passa a ser tratada de forma a concentrar os seus pressupostos administrativos governamentais. Partindo da relação da Administração Pública com o Estado e suas demais relações percebemos que o foco se contextualiza dentro das organizações complexas, considerando o seu ambiente e a sociedade na qual ela se insere. Portanto vemos a Administração Pública como sinônimo de Gestão Pública, onde prevaleça os processos de mudanças para lograr valores societários. A ideia da administração pública é definida como uma ação racional e corretamente direcionada para os objetivos desejados. A administração pública, como estudo e como atividade, é planejada para incrementar a realização de atividades racionalmente humana. CLEGG, Stewart; KORNBERGER, Martin; PITSIS, Tyrone. Administração e Organização: uma introdução à teoria e à 2 prática. 2 ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. Eficiência é a qualidade de fazer com excelência, sem perdas ou desperdícios de tempo, dinheiro ou energia; é aquilo ou 3 aquele que chega ao resultado, que produz o seu efeito específico, com qualidade e competência, ou com o mínimo de erros. Eficácia é a realização perfeita de determinada tarefa ou função, que produz o resultado pretendido.4 DRUCKER, Peter F. O homem que inventou a administração. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2006.5 OLIVEIRA, Djalma Pinho Rebouças de. Sistemas, Organização e Métodos: uma abordagem gerencial. 21 ed. São 6 Paulo: Atlas, 2013. �3 O entendimento da Administração Pública é aquela que prevalece no conjunto de serviços e entidades incumbidosde concretizar as atividades administrativas, ou seja, da execução das decisões políticas e legislativas. 2. ORIGENS E FUNDAMENTOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A Administração Pública, a exemplo das outras ciências, tais como Ciência Política, Direito e Economia, mesmo que de modo subjacente, sempre fez parte da história e sempre contribuiu para o desenvolvimento, em maior ou menor escala, de todas as sociedades. No seu contexto específico, excetuando as funções do Estado Moderno, a administração é a parte mais óbvia do governo; é o governo em ação; é o lado executivo e operativo mais visível do governo, e, naturalmente, tão antiga quanto o próprio governo, embora só tenha passado a ser objeto de estudo sistemático como ciência de governo a partir de meados do século XIX. Numa perspectiva temporal de longo prazo de desenvolvimento da Administração Pública, na proporção em que foram explicitados conhecimentos que fundamentaram ações práticas em diferentes momentos, a própria história normalmente é contada a partir do surgimento, crescimento e declínio de instituições e de políticas públicas administradas desde períodos históricos prévios a tempos bíblicos. Na história da humanidade, apesar de a administração ter sido substrato importante para a sedimentação de relações de poder, pouco foi dito sobre ela e sobre aqueles que se ocuparam dela em nome de diferentes governos e governantes. O seu tratamento em segundo plano decorre da atenção dos historiadores ser voltada para mais um relato de resultados de atividades pessoais e especuladores de governantes. A história da administração e dos administradores públicos se constitui de um meio para resultados obtidos que nem sempre foi bem explorada. Os poucos estudos existentes são ainda insuficientes para constituir uma explicação integrada do que foi efetivamente a administração pública. Mesmo assim, a História permite, por exemplo, a identificação de registro e de conhecimento sistematizados sobre estratégias de governo, técnicas de administração, a natureza do exercício do poder e da liderança, métodos de produção, proposta de divisão do trabalho. Desde o século XVI vêm sendo aprofundadas as pesquisas para levantamentos e interpretação de dados sobre o desenvolvimento das relações entre Administração Pública e a Política em diferentes contextos. A especialização em Administração Geral, por um lado, foi importante para formar um arcabouço teórico- conceitual próprio da atividade administrativa de organizações que operam em contexto público. A aceitação da generalização de tais conhecimentos para aplicação descontextualizada acabou, em muitos casos, por dificultar a aplicação da prática em ambientes específicos, como o da Administração Pública. No contexto de desenvolvimento da Administração Pública no longo prazo, dentro de uma perspectiva de transposição de interesses individuais para coletivos, os fundamentos para a compreensão da natureza das relações entre política e administração, historicamente, têm vinculações com o processo natural de formação de diferentes sociedades. Segundo Procopiuck (2013) , delas resultam a ação articulada e de interesses de 7 um líder iniciador, normalmente lastreado em fundamentos políticos e ideológicos, o que culmina por abrir espaço para a formação e firmação de uma identidade coletiva. O papel dos administradores estava pautado em técnicas de organização racional de recursos de alocação sistemática de competências com vistas a garantir a sustentabilidade do grupos politicamente organizados durante o exercício do poder. 3. DESENVOLVIMENTO E INTERAÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A administração pública, diante de várias tentativas em adaptar as técnicas gerenciais de desenvolvimento organizacional tem proporcionado, ao longo da sua história, profundas crises de gestão administrativas, originárias das incongruências entre os meios operados e os fins visados por tais técnicas. A administração pública em suas diversas atividades operacionais, tem utilizados ferramentas que destoam das atividades praticadas pela administração privada e isso resultam uma preponderância da lógica econômica PROCOPIUCK, Mário. Políticas Públicas e Fundamentos da Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2013.7 �4 que pautam muitas ferramentas gerenciais em detrimento de fins públicos dependentes de clássicas relações entre Administração e Política. No caso específico da administração pública, a direção racional da consecução de objetivos sociais está relacionada diretamente a uma das funções centrais da atividade social, que é responder aos interesses coletivos sobre interesses individuais. Não atribuir a devida importância para os interesses coletivos traz ainda mais dificuldades para a administração pública, pois quando uma gestão passa pautar sua agenda nos interesses individuais, os processos de ampliação da capacidade de ações na geração e captação de recursos tendem romper uma relação com os propósitos de estruturação de objetivos para uma governança corporativa, primando, assim, mecanismos que conduzem a uma falta de clareza na definição de limites entre a obtenção de equilíbrios sociais e a intensidade da otimização de recursos econômicos para alcançar objetivos organizacionais. (PROCOPIUCK, 2013) 8 4. PESQUISAS EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA A investigação em administração pública têm sua origem na emancipação da função administrativa para obter recursos e competências a fim de concretizar interesses instituídos politicamente pela sociedade. Com esse objetivo podemos situar as seguintes perspectivas: a) Perspectiva de composição e relacionamento institucional – nesse caso a administração pública se preocupa com relações horizontais entre órgãos de mesmos níveis de atuação, bem como as relações verticais que envolvem órgãos centrais, regionais e locais; b) Perspectiva de estruturação de relações profissionais – aqui a administração pública se volta para a formação e interação intra e extra profissional, normalmente formados por cargos, carreiras e funções; c) Perspectiva dos aparatos estatais – tem a preocupação nos estudos que se voltam para a análise de mecanismos de composição de conflitos entre administradores e administrados. É possível, ainda, centrar esforços na obtenção de conhecimentos sobre atividades, estruturas e sistemas de administração em diferentes culturas, épocas e governos a partir de variáveis, como direção e administração superior, funções e organização, pessoal, técnicas, biografias e teorias. 5. PRINCIPAIS CONCEITOS Conforme Matias-Pereira (2010) o conceito de Administração Publica possui uma complexidade em 9 face da amplitude que o sentido da própria expressão da administração que decorre nos diferentes campos de abrangência. A falta de uma definição clara e consistente faz que possamos argumentar o propósito de concretização das atividades administrativas no âmbito da União, Estados-membros, Município e Distrito Federal. Oliveira (2014) entende a administração pública como um processo estruturado de planejamento, 10 organização, orientação, execução, avaliação e aprimoramento das atividades das instituições públicas, visando sempre atender às expectativas e necessidade da sociedade, com objetivo de alcançar o bem comum. PROCOPIUCK, Mário. Políticas Públicas e Fundamentos da Administração Pública. São Paulo: Atlas, 2013.8 MATIAS-PEREIRA, José. Curso de Administração Pública: foco nas instituições e ações governamentais. São Paulo: 9 Atlas, 2008. OLIVEIRA, Djalma de Pinho Rebouças. Administração Pública: Foco na otimização do modelo administrativo. São 10 Paulo: Atlas, 2014. �5 Partindo do pensamento de Amato (1971) apud Berguer (2011) , devemos olhar a administração 11 12 pública como um campo de estudo que possui limites próprios das teorias pioneiras, dentro de perspectivas limitadas, circunscrita apenasà função gerencial. Essa definição acerca da administração pública impacta substantivamente na definição dos contornos das políticas públicas, visto que pressupõe uma falsidade ou uma veracidade acerca dos processos de definição. “A Administração Pública é a parte da ciência da administração que se refere ao governo, e se ocupa por isso, principalmente, do Poder Executivo, onde se faz o trabalho do governo, ainda que haja evidentemente problemas administrativos que se relacionem aos Poderes Legislativo e Judiciário”. (AMATO, 1971, p. 6-7). Administração pública é, em sentido prático ou subjetivo, o conjunto de órgãos, serviços e agentes do Estado, bem como das demais pessoas coletivas públicas (tais como as autarquias locais) que asseguram a satisfação das necessidades coletivas variadas, tais como a segurança, a cultura, a saúde e o bem estar das populações. Sob o aspecto operacional, administração pública é o desempenho perene e sistemático, legal e técnico dos serviços próprios do Estado em benefício da coletividade. Nesse aspecto, a administração pública pode tanto ser direta, quando composta pelos entes federados (União, Estados, Municípios e DF), ou indireta, quando composta por entidades autárquicas, fundacionais e paraestatais. Administração Pública tem como principal objetivo o interesse público, seguindo os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. O conceito de administração pública pode ser entendido em dois sentidos: ➡ Em sentido objetivo, material ou funcional, a administração pública pode ser definida como a atividade concreta e imediata que o Estado desenvolve, sob regime jurídico de direito público, para a consecução dos interesses coletivos. é a atividade administrativa executada pelo Estado, por seus órgãos e agente, com base em sua função administrativa. É a gestão dos interesses públicos, por meio de prestação de serviços públicos. É a administração da coisa pública (res pública). ➡ Em sentido subjetivo, formal ou orgânico pode-se definir Administração Pública, como sendo o conjunto de órgãos e de pessoas jurídicas aos qual a lei atribui o exercício da função administrativa do Estado. É o conjunto de agentes, órgãos e entidades designados para executar atividades administrativas. A natureza da Administração Pública é a de um múnus público para quem a exerce, isto é, a de um 13 encargo de defesa, conservação e aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade, impondo aos administradores públicos a obrigação de cumprir fielmente os preceitos do Direito e da moral administrativa que regem sua conduta, pois tais preceitos é que expressam a vontade do titular dos interesses administrativos – o povo – e condicionam os atos a serem praticados no desempenho do múnus público que lhe é confiado. De acordo com Meirelles (1993) apud Costin (2010:28), a administração pública é usada como 14 15 instrumental pelo Estado para pôr em prática às ações políticas de governo. Isso reflete na opinião de Modesto (2000), apud Costin (2010:28), quando coloca que o estudo da Administração Pública em geral, 16 AMATO, Pedro Muñoz. Introdução à administração pública. Rio de Janeiro: FGV, 1971.11 BERGUE, Sandro Trescastro. Modelos de Gestão em Organizações Públicas: Teorias e Tecnologias para Análise e 12 Transformação Organizacional. Caxias do Sul/RS: Editora EDUCS, 2011. Múnus é o conjunto de funções que são obrigação de um indivíduo; cargo, emprego; ofício. Múnus público, é o que 13 emana do poder público ou da lei e que é exercido em proveito da coletividade. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1993.14 COSTIN, Claudia. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.15 MODESTO, Paulo. Notas para um debate sobre o Princípios da Eficiência. Revista do Serviço Público, ano 51, n. 2, 16 2000. �6 compreendendo a sua estrutura e as suas atividades, deve partir do conceito de Estado, sobre o qual repousa toda a concepção moderna de organização e funcionamento dos serviços públicos a serem prestados aos administrados. As atividades estritamente administrativas devem ser exercidas pelo próprio Estado ou por seus agentes, conforme cita os autores: ✓ “A administração pública são a organização e a gerência de homens e materiais para a consecução dos propósitos de um governo” (WALDO, 1971 apud MATIAS-PEREIRA, 2010:60).17 ✓ “Administração Pública é a ocupação de todos aqueles que atuam em nome do povo – em nome da sociedade, que delega de forma legal – e cujas ações têm consequências para os indivíduos e grupos sociais” (HARMON & MAYER, 1999 apud MATIAS-PEREIRA, 2010:60).18 ✓ “Conjunto de atividades diretamente destinadas à execução das tarefas ou incumbências consideradas de interesse público ou comum, numa coletividade ou numa organização estatal”. (BOBBIO, 1998 apud 19 MATIAS-PEREIRA, 2010:61). ✓ “É uma das manifestações do Poder Público na gestão ou execução de atos ou de negócios políticos”. (DE PLÁCIDO E SILVA, 2001 apud MATIAS-PEREIRA, 2010:61).20 6. ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E ADMINISTRAÇÃO PRIVADA A Administração Pública tal qual a Administração de empresas pode assumir duas vertentes: a primeira repousa na ideia de servir e executar; a segunda envolve a ideia de direção ou gestão. Nas duas visões há a presença da relação de subordinação e hierarquia. Para muitos, administrar significa não só prestar serviços e executá-los, como também governar e exercer atividades com o objetivo de obter um resultado útil à coletividade. Apesar de em ambos os casos se tratar de administração, distinguem-se pelo fim que perseguem, pelo objeto sobre que incidem e pelos meios que utilizam. Ao tratar do tema da distinção entre administração pública e privada, Amato (1971) apud Berguer (2011), aponta para os seguintes pontos: 1) o governo só existe para atender aos interesses coletivos da sociedade e as empresas para atender aos interesses individuais (acionistas, sócios etc.); 2) o governo tem a autoridade suprema sobre todas as instituições, públicas ou privadas; 3) O monopólio do uso legítimo da força só o Estado detém; e 4) é do governo a responsabilidade de corresponder ao clamor da sociedade. No quadro abaixo, a Administração Pública assim como na Administração Privada as atividades que dependem de vontade externa, individual ou coletiva, está necessariamente vinculada ao princípio da finalidade. WALDO, Dwingt. O estudo da administração pública. 2 ed. Rio de Janeiro: FGV, 1971.17 HARMON, Michael M.; MAYER, Richard T. Teoria de la organización para la administración pública. México: Colégio 18 Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública A. C.: Fondo de Cultura Económica, 1999. BOBBIO, Noberto. Estado, governo e sociedade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. 19 DE PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico. 18 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001. 20 �7 Fonte: COSTIN, Claudia. Administração Pública. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. 7. QUEBRAS DE PARADIGMAS Diante da dimensão e complexidade das mudanças que estão ocorrendo no mundo contemporâneo, é perceptível observar transformações aceleradas e irreversíveis, com quebras de paradigmas, principalmente nas áreas das tecnologias das comunicações e informações, organizacionais, geopolíticas, comerciais e econômico-financeiro, culturais, sociais e ambientais (MATIAS-PEREIRA, 2012) . Nesse sentido, é importante 21 ressaltar que as quebras de paradigmas abalam os modelos e estruturas antigas, abrindo, assim, novas oportunidade em quase todos os campos da atividade humana. Diante desse cenário, a administração pública tem um papel fundamental na alteração da sua forma de atuar, considerando os diversos âmbitos sociais, que vai além das esferas políticas e econômicas. Isso remete ao desafio de viabilizar a inclusão, reduzira desigualdade e promover o desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável. É relevante ressaltar, ainda, que a administração pública brasileira ainda possui uma estrutura pesada, burocrática e centralizada em diversas áreas. Apesar das crescentes pressões da sociedade, ela não tem sido capaz de responder adequadamente, enquanto organização, às demandas e desafios da modernidade. Fazendo uma análise conceitual dos pressupostos administrativos, vemos que o governo e a administração pública necessitam adotar novos modelos de gestão para melhorar o seu desempenho e, consequentemente, cumprir adequadamente a função de proporcionar a sociedade um consenso no entendimento dos princípios que regem os direitos constitucionais dos cidadãos. O surgimento de novos conceitos e paradigmas, são os responsáveis em criar condições de avanços na humanidade, revelando, assim, a dimensão e o alcance provocado pelas transformações do mundo atual, gerando incertezas e criando novas oportunidade. Nesse sentido, a principal tarefa da administração pública é compreender a forma como os fenômenos organizacionais são afetados e de que maneiram elas influenciam o ambiente externo. MATIAS-PEREIRA, José. Manual de Gestão Pública Contemporânea. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2012.21 Administração Pública Administração Privada Quanto ao Objeto Incide sobre as necessidades coletivas assumidas como tarefa e responsabilidade da comunidade. Incide sobre necessidades individuais ou de grupo, com ou sem fins lucrativos, mas que não dizem respeito à comunidade globalmente considerada. Quanto ao Fim Prossegue sempre o interesse público, respeitando princípios rígidos de atuação legalmente previstos. Prossegue sempre fins particulares, pois não têm uma vinculação direta ao interesse geral da coletividade, podendo ser ou não lucrativos. Quantos aos Meios Desigualdade entre os intervenientes, havendo poder de comando unilateral por parte das entidades públicas, de forma a prosseguirem o interesse público definido por lei (seja através de atos normativos: os regulamentos administrativos; seja através de decisões individuais e concretas: os atos administrativos). Impera o princípio jurídico da igualdade entre as partes e a liberdade contratual. Os particulares são iguais entre si e não podem impor aos outros a sua própria vontade, salvo acordo entre as partes - o contrato é assim o instrumento jurídico típico das relações privadas. �8 A administração pública brasileira, enquanto área específica do conhecimento, em sintonia com o que se observa no mundo, vem experimentando considerável avanço técnico, institucional e legal nas últimas décadas e a exemplo disso é possível observar os conceitos praticados no passado, como o uso da máquina administrativa em prol da burocracia e da apropriação do bem público. Ao redor do mundo e no Brasil a intervenção estatal tem amenizado sobremaneira os impactos causados pelas disfunções do funcionamento do mercado. Trabalhava-se a burocracia pública com níveis de desempenho e ineficiência a ela equivocadamente associados, causando efeitos catastróficos na crise financeira e econômica. Analisando as especificidades legais, estruturais, culturais e organizacionais observava-se que as áreas estratégicas do governo subsidiavam o funcionamento da administração pública, sistematizando os seus aspectos conceituais e criando referências no exercício da cidadania, mas contrastando com os impactos do crescimento humano diante das inovações e, essencialmente, da necessidade de crescimento cultural e tecnológico. Existe uma efervescência intelectual na contextualização da administração pública e ela remete a uma saudável competição, trazida pela democracia que coloca a busca pela eficiência, efetividade, transparência e participação dos cidadãos cada vez mais perto dos gestores públicos, fiscalizando e acompanhando sua atuação em setores prioritários que demandam maior capacidade administrativa. Nesse aspecto, há um movimento positivo, que se expressa fortemente, em que a sociedade se faz presente e onde os dirigentes públicos assumem a liderança que lhe é requerida. O desenvolvimento das competências aliada aos fundamentos conceituais da administração pública reflete o momento de florescimento e enfrentamento das mazelas do passado, o que torna o cidadão um defensor legal das práticas lícitas fundamentada pela constituição.
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