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Tutelas Jurisdicionais Diferenciadas - UFRGS/Klaus

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Tutelas Jurisdicionais Diferenciadas
31/08/2017
	a) Apresentação da Disciplina
	b) Matéria
	Unidade 1 - Teoria Geral das Tutelas Jurisdicionais Diferenciadas
		
			1) Conceito e classificação da tutela dos direitos
			1.1) Tutela Jurisdicional
			1.1.1) Aplicação do Direito que incidiu
			1.1.2) Proteção ao patrimônio jurídico (= mérito)
			1.1.3) Processo justo
			1.2) Tutela do Direito
			1.2.1) Noção	
			1.2.2) Objeto da tutela
			1.2.3) Dimensões da tutela (= momento)
			
			1.3) Classificação da tutela dos direitos
			1.3.1) Premissas: ilícito e dano
			1.3.2) Tutelas contra o ilícito
			1.3.3) Tutelas contra o dano
	A) Apresentação da disciplina 
Nosso grande problema é o procedimento comum, e as sentenças condenatórias uniformes para qualquer espécie de direito, um procedimento rígido, rigoroso, com fases muito bem limitadas. A expressão tutelas jurisdicionais diferenciadas foi criada na Itália para designar fundamentalmente duas coisas:
1) precisamos de procedimentos especiais.
Consigo multiplicar os procedimentos especiais ao infinito, ou seja, um procedimento especial para cada situação? E se isso fosse possível, gostaríamos de trabalhar com milhões de procedimentos possíveis. 
	Mas em 2017 estamos menos preocupados com procedimentos especiais, e sim com ferramentas capazes de adequar e flexibilizar o procedimento comum.
	É mais interessante um procedimento comum, enfim, flexível, que permita às partes e ao juiz realizar essa adequação. 
	Tutelas diferenciadas é um termo ligado ao procedimento. Hoje depende muito menos de procedimentos especiais, mas de ferramentas para flexibilizar o procedimento comum.
	 2) precisamos de técnicas capazes de viabilizar, dentro do procedimento comum, tutelas jurisdicionais mais adequadas, efetivas e dentro de um tempo razoável (isso se relaciona ao direito fundamental à tutela - art. 5º, inciso ...)
	O CPC, em seu art. 294, trata da tutela provisória e, consequentemente, de dois assuntos: a antecipação da tutela e as medidas cautelares.
	
	Nosso curso se divide em:
	Unidade 1	- teoria geral das tutelas diferenciadas
			- tutela dos direitos e sua classificação
			- cognição judicial
			- princípio da adequação do processo, em suas três dimensões (adequação legislativa, por meio da criação de procedimentos especiais; adequação jurisdicional ou judicial - ex: art. 139, inciso VI; e adequação convencional - a que as partes podem realizar por meio de negócios jurídicos processuais)
			- calendário processual (art. 191)
			- cláusulas gerais processuais
			- gerenciamento de processos judiciais (aparece fora do CPC)
	Unidade 2	- tutela provisória
			- antecipação de tutela/ tutela cautelar
			- tutela da evidência - art. 311 (qual a diferença entre cautelar e liminar?)
			- antecipação de tutela antecedente - art. 303-304 (ferramenta que me permite postular a liminar antes mesmo de apresentar a medida principal. Exemplo: peço ao juiz a suspensão do protesto de um título; ganho um prazo para aditar a petição inicial e fazer o pedido principal, que é o de indenização de danos morais)
	Unidade 3	- procedimentos especiais (ação de despejo, falência)
			- ação monitória
			- ações possessórias
			- processo coletivo: é como uma verruga que cresceu até se tornar em uma coisa com identidade própria
	Avaliação: começa às 18h30. 2 provas - a 1ª será majoritariamente dissertativa (conteúdo: unidade 1 e parte da unidade 2). As respostas são mais pontuais, mas o professor valoriza respostas bem elaboradas. A 2ª prova será majoritariamente objetiva.
	C: 6,0
	B: 7,5
	A: 9,0
	- Atividade extra valendo até um ponto na média.
	- Recuperação: uma para cada conteúdo.
	Referências bibliográficas: - Fredie Didier Jr. - Curso: vol. 1: princípio da adequação; convenções processuais; cláusulas gerais; cognição. Curso: vol. 3: último capítulo - Tutela Provisória. Curso: vol. 6: Procedimentos Especiais (ainda não foi publicado. Sua conclusão é: não preciso de procedimentos especiais, basta um procedimento comum flexível e técnicas jurisdicionais). Curso: vol. 4: processo coletivo.
- Marinoni, Arenhart, Mitidiero - Novo curso: vol. 2: "antecipação de tutela". A postura desses autores é crítica em relação ao código. Novo curso: vol. 3: ação monitória, procedimentos possessórias, processo coletivo, etc.
- Monografias antigas - Teori Zavascki: Antecipação da tutela, 2009. - Ovídio A. Baptista da Silva (criou a tutela cautelar e a antecipada) - Curso vol 1, t. 2 e vol 2 e Teoria da Ação Cautelar, em Teoria Geral do Processo Civil.
- Monografias novas - Mitidiero, Antecipação da tutela.
- Livros simples - José Miguel Garcia Medina, Processo Civil Moderno
- Livros de concurso - Marcus Vinicius Rios Gonçalves, Processo Civil Esquematizado.
	B) Matéria - Unidade 1
			
	1) Conceito e classificação da tutela dos direitos
	Tutela jurisdicional x tutela dos direitos
	
	1.1.1) Aplicação do Direito que incidiu
	Uma primeira referência é devida a Pontes de Miranda. Pontes diz que tutela significa aplicar a norma (Direito no sentido objetivo, ou seja, de norma jurídica) que incidiu. Ele estabelece a diferença entre mecanismo da incidência e mecanismo da aplicação. A tutela jurisdicional acontece quando o juiz aplica a norma que incidiu.
	A incidência é um mecanismo peculiar ao mundo do Direito. O Direito foi pensado para regular automaticamente o comportamento humano. Ou seja, as normas jurídicas prevêem abstratamente condutas, comportamentos, e ligam essas previsões a determinadas consequências. Ex: todo aquele que celebrar contrato de aluguel fica obrigado a pagar o valor da locação. Toda vez que eu pratico o comportamento descrito na norma, esta norma incide sobre este comportamento, iluminando-o, regulando automaticamente este comportamento. A incidência é um mecanismo automático; a norma incide e surgem direitos e deveres.
	Exemplo do direito tributário: vim de Miami com meu ultrabook super avançado. Ao cruzar a fronteira, passo a ser devedor de tributos que normalmente duplicam o valor do bem. A incidência se dá de forma automática, independente da minha consciência. Incidem normas do direito administrativo, penal, civil, automaticamente, sem que nos demos conta.
	Mas nem sempre as pessoas seguem aquilo que as normas estabelecem. Posso tentar driblar a Receita Federal para não pagar o ICMS e o imposto de importação. Sendo assim, o Pontes pensa no mecanismo complementar da aplicação, coativa e forçada. Se não houvesse esses mecanismos, o direito seria ineficaz.
	A incidência acontece sozinha, mas preciso tornar realidade as normas contra as minhas vontades (isto é a ampliação).
	Para o Pontes, tutela jurisdicional existe quando o juiz aplica a norma. Isto é chamado de fazer justiça. Quem está sendo tutelado aqui? Não é o meu direito, meu interesse, mas o ordenamento jurídico. O beneficiário da tutela é o ordenamento jurídico, o Direito em seu todo, o conjunto de todas as normas.
	Quando o juiz incide o processo sem resolução de mérito, ele está aplicando a norma que incidiu. Quando ele julga a demanda procedente, está havendo tutela jurisdicional. E o mais engraçado é que quando o juiz julga a demanda improcedente, ele também faz justiça. Enfim, a tutela é para o ordenamento como um todo. Esta é uma visão objetiva da tutela.
	Quando eu peço antecipação da tutela, será que é deste tipo de tutela que estou falando? Certamente não é nisso que nós pensamos. 
	
	1.1.2) Proteção ao patrimônio jurídico das pessoas
	
	Essa ideia está encontrada em vários textos do professor Cândido Dinamarco (ele possui um livro chamado Fundamentos do Processo Civil Moderno). Para ele, tutela significa proteção, amparo à pessoa. Sua visão é humanista. Não é o ordenamento que precisa de amparo, mas sim nós, as pessoas. Essa ideia foi desenvolvida pelo professor Carlos Alberto Alvaro. O professor Alvaro também trabalhou o conceito de tutela jurisdicional.
	O professor Alvaro de Oliveira 1, na Teoria e Prática da Tutela Jurisdicional,apresenta a noção de classificação quinária. Ele também faz críticas ao Dinamarco. Diz que a missão do juiz não é proteger o ser humano em sua totalidade (aliás, existem outros órgãos estatais que fazem isso). Não é missão do juiz tutelar nossa personalidade de maneira global; o juiz tutela somente nosso patrimônio jurídico. É patrimonial não exclusivamente no sentido de dinheiro, mas também intimidade, etc. (questões não monetizáveis). 
	A grande questão para qual convergem Dinamarco e Álvaro 1 é que tipo de tutela jurisdicional consegue nos proteger neste sentido? De regra, a sentença terminativa não me impede de ser acionado de novo. Sou réu, e posso ser processado novamente em virtude dos mesmos fatos. Sendo assim, para esses atores, somente a decisão de mérito pode amparar o patrimônio de alguém.
	Para o Pontes, qualquer decisão. Para Dinamarco e Álvaro 1, somente a decisão de mérito (a terminativa não ampara ninguém), seja ela de procedência ou de improcedência (decisão de mérito favorável ao réu), que produzirá de regra coisa julgada material. Essa visão 2 é a subjetiva da tutela.
	
	1.1.3) Processo justo
	Mas o Alvaro 2, que escreveu um livro junto com o professor Mitidiero, pensava em tutela no sentido de exercício, pelo juiz, das garantias inerentes ao processo justo. Existe tutela quando o juiz põe em prática os direitos fundamentais inerentes ao processo justo.
	Processo justo é o que ampara os direitos fundamentais. A CF nos diz no art. 5º, inciso 54, em devido processo legal. No caso, ela está falando em processo justo, que é aquele em que me é assegurado um contraditório forte e efetivo, que é público, com decisão fundamentada, em que tenho acesso a advogado, em que tenho acesso à justiça, etc.
	Existe, enfim, tutela jurisdicional quando o juiz me assegura um processo justo, viabilizando o contraditório, fundamentando de verdade sua decisão, respeitando a coisa julgada e a publicidade, etc. É uma visão mais processual do aspecto da tutela jurisdicional.
	Observação:
	O professor passou a vida inteira pensando em tutela jurisdicional como sinônimo de tutela pelo juiz, do Estado. Para ele, arbitragem não era tutela jurisdicional, justamente porque o árbitro não é órgão estatal, mas privado. Mas nos últimos tempos ele tem repensado isso: hoje tutela jurisdicional não é prestada unicamente pelo Estado. Por isso, aprofundar a compreensão do NCPC, artigo 3º.
	
	Art. 3o Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.
	§ 1o É permitida a arbitragem, na forma da lei.
	§ 2o O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
	§ 3o A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.
	Isso aparece no art. 5º, inciso 35 da CF. Mas o CPC trocou a palavra judicial por jurisdicional. No § 1º, porém, fala-se em arbitragem: quando o CPC fala em tutela jurisdicional, ele se refere à arbitragem. Já no § 3º, há os meios alternativos de resolução de conflitos. Mas estes meios 1) não são alternativos e 2) nem todos eles estão preocupados com a resolução de conflitos. Aqui fala-se de conciliação, mediação, tribunal de justiça desportiva, tribunal eclesiástico, conselho de bairro, órgãos deliberativos da universidade, conselhos de disputa. Tudo isso é jurisdição, enfim. O professor não gosta da palavra "alternativo". Ele prefere MEIOS ADEQUADOS. A mediação não é alternativa, ela é adequada a determinado tipo de conflito, como família, vizinhança... A conciliação é um meio adequado para conflitos episódicos, entre pessoas que não se conhecem.
	Um juiz que não tem família, jovem, que não experimentou conflitos familiares provavelmente é menos capaz do que um mediador com mais experiência, formação em psicologia, etc. Sendo assim, ao invés de falar meios alternativos, melhor é falar em arbitragem. O professor também não gosta da palavra resolução. O papel da mediação não é resolver o conflito, mas tratar do conflito, aproximar as partes.
	A nomenclatura mais adequada é meios adequados de tratamento de conflitos. 
	Justiça multiportas: o autor Fran Sander empregava a expressão multi-door court house. É como se a justiça tivesse várias portas. O papel do juiz é mais me encaminhar para a porta correta, do que me impor uma decisão. 
	1.2) Tutela do Direito
	1.2.1) Noção	
	É a noção mais utilizada hoje pelos doutrinadores. Pela tutela do Direito, penso no amparo, proteção que o juiz, árbitro, conciliador e mediador consideram ao direito subjetivo das pessoas. Estou protegendo os direitos subjetivos que efetivamente forem constatados pelo juiz, no curso do processo.
	Quando falamos em direitos subjetivos, costumamos dar muita importância aos direitos individuais, liberais, burgueses, sobretudo os direitos de caráter patrimonial (os direitos do século XIX). Mas hoje, no século XXI, devemos considerar os direitos transindividuais. Alguns destes direitos emergem já no séc. XIX, como o direito do trabalho e, posteriormente, o direito ambiental, etc.
	O CDC classificou os direitos transindividuais em:
	- direitos difusos: exemplos são o direito ao meio-ambiente, ao patrimônio público, moralidade administrativa, direito a que não haja publicidade abusiva. Estes direitos pertencem a todos.
	- direitos coletivos em sentido estrito: é indivisível, o titular do direito é o próprio público. O direito coletivo, diferente do direito difuso, pertence a um grupo, categoria ou classe. Ex: direito dos advogados ao quinto constitucional. O professor, como advogado, não tem direito de ser nomeado desembargador, mas sim o grupo possui o direito.
	- direitos individuais homogêneos: são individuais, mas só fazem sentido numa sociedade pós-industrial. Ex: defeito no veículo, leite contaminado. Esses direitos geram danos a cada pessoa, mas oriundos de um determinado fato. De um lado, a tutela abrange os meios alternativos. De outro lado, a tutela também engloba a questão dos direitos trans-individuais.
	1.2.2) Objeto da tutela
	Não temos uma tutela coletiva digna. Nós temos muitas fontes retalhadas: lei da ação civil pública, o ECA, o CDC, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do Torcedor, o Estatuto da Igualdade Racial, lei do mandado de segurança, etc. Ou seja, nosso drama é que não temos um código de processo coletivo. 
	Enquanto não temos um código, devemos somar todas as nossas leis. Aqui funciona o diálogo de fontes. Se temos um instituto não presente em uma lei, puxo de outra lei. Todas essas leis se somam para formar um microssistema processual coletivo.
	
	1.2.3) Dimensões da tutela (= momento)
		
	A CF, art. 5º, inciso 35, e o CDC, art. 3º, caput, estabelecem uma baliza.
	A lei não excluirá da apreciação judicial (CF)/jurisdicional (CPC) lesão ou ameaça a direito.
	Lesão significa ofensa efetiva a um direito subjetiva. Ex: não pagamento da pensão alimentícia, não fornecimento de medicamento a que tenho direito. O Poder Judiciário atua depois de consumada a ofensa ao meu direito subjetivo.
	O professor Barbosa Moreira falava em tutela sancionatória ou repressiva: é a que acontece após a ofensa do direito subjetivo. Essa tutela surge da própria Constituição Federal, não é criação do CPC. O juiz pode atuar, enfim, após a lesão ao meu direito. De fato, isso é o que geralmente nós pensamos. Acionamos o judiciário após o calote, após a pensão não ter sido paga, etc.
	Mas a CF prevê apreciação da ameaça (algo que ainda não ocorreu, mas está em via de sê-lo). A CF prometeu tutela diante do mero receio. Está é a tutela preventiva. Posso atuar antes do descumprimento do dever contratual. Posso atuar antes que o Estado viole meu direito líquido e certo, diante da mera ameaça. Não deve ser um temor paranóico, mas preciso de elementos concretos que evidenciem o caráter efetivo da ameaça. 
	A tutela preventiva deve ser pensada, por exemplo, em situações de dano ambiental, em direitosda personalidade, em direitos do consumidor, etc.
		
	1.3) Classificação da tutela dos direitos - NCPC, art. 497, parágrafo único
	O art. 497 é positivistinha.
	Art. 497, Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.
	Além de pensar na distinção entre atuar depois da violação do direito e atuar antes da violação, preciso da distinção entre ilícito e dano.
	
	1.3.1) Premissas: ilícito e dano
	Ilícito: o termo designa o descumprimento, o desrespeito à norma jurídica, seja ela legal, contratual, internacional. Por extensão, quando eu violo um direito subjetivo. Há ilícitos por ação e por omissão: às vezes violo a norma jurídica fazendo o que a norma me proíbe (pode se falar, aqui, em ilícito comissivo - faço o que a norma proíbe); por outro lado, quando deixo de fazer o que a norma comanda, tenho um ilícito omissivo (deixo de pagar o aluguel, a pensão).
	Dano: superficialmente, é o prejuízo experimentado por alguém. Temos prejuízos materiais, que envolvem dano emergente (aquilo que efetivamente perdi) e o lucro cessante (aquilo que deixei de ganhar). Não podemos esquecer do dano moral (prejuízo aos meus direitos da personalidade). Devemos pensar também no dano estético (prejuízo ao meu corpo, como deformidades, cicatrizes, perda de partes do meu corpo).
	Normalmente, o ilícito é fonte de danos; normalmente os danos decorrem de comportamento ilícitos. Mas isso não é necessariamente verdade. Existem ilícitos, porém, sem dano. Não é porque o ilícito não causa dano que o juiz não deverá atuar. Ex: coloquei um produto podre no mercado, que ninguém compra. Não há prejuízo concreto porque ninguém adquire. Nesse sentido, há um ilícito sem dano.
	O 497, parágrafo único, nos diz que é irrelevante a demonstração de ocorrência de dano é existência de culpa ou dolo. Existe, enfim, ilícito sem dano.
	Por outro lado, há dano decorrente de comportamento lícito. Respeitei todas as regras, mas o ordenamento estipula a responsabilidade objetiva. Ex: indústria do tabaco. A publicidade do tabaco é lícita, mas há um caráter perigoso em relação a esse produto; por isso, alguns juízes punem essas empresas.
	1.3.2) Tutelas contra o ilícito
	Posso atuar antes da prática do ilícito diante da simples ameaça de violação futura de norma jurídica. Exemplo: biografias não autorizadas. Supondo que isto não fosse possível, poderia pensar numa ameaça de violação do direito.
	O professor Marinoni cunhou, para isso, o termo tutela inibitória: é a tutela preventiva contra o ilícito. A inibitória é um tipo de tutela preventiva. É a prática de um ato ilícito (ilícito pontual), a continuação de ato ilícito, e a repetição de um ato ilícito (repetição de condutas ilícitas).
	Exemplos de tutelas inibitórias: quero jogar lixo num terreno baldio uma única vez; para impedir este comportamento, tenho inibição de ato ilícito. Exemplo cível: a chaminé continuamente joga fumaça no meio-ambiente, ou dejetos industriais no rio. Exemplo de repetição de ato lícito: vários protestos em sequência. 
	PROVA!!!! Qual é o tipo de sentença judicial, pensando na classificação quinária, mais adequada para impedir que o cara continue jogando poluição na atmosfera? É a SENTENÇA MANDAMENTAL. Não é a sentença declaratória ou constitutiva, e muito menos a sentença condenatória, que irá impedir a prática desses atos. Tenho sentença mandamental em mandado de segurança preventivo; ocorre também em habeas corpus preventivo; ocorre no interdito proibitório procedente (o juiz emite ordem para os caras não violarem a minha posse). 
	
14/09/2017
	Ilícito é simplesmente um comportamento contrário à norma jurídica.
	
	a) Tutela Inibitória: é a tutela preventiva contra o lícito. Ou seja, atuo antes que o comportamento ilícito ocorra. Quero impedir, evitar um ilícito.
	Ler o art. 497, parágrafo único:
Art. 497, Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da existência de culpa ou dolo.
O artigo fala em prática. É um comportamento que se esgota basicamente num instante. Sendo assim, o objeto primeiro da tutela inibitória é inibir a prática do ilícito instantâneo.
	Ex: ato de despejar lixo tóxico num terreno baldio. Vou com meu carrinho de mão, despejo meu lixo hospitalar uma única vez, ou ameaço. 
	O código fala também em reiterações futuras de um ilícito já praticado.
	Fala também em continuação, ou seja, ilícito prolongado. Como o ilícito se prolonga no tempo, ele ainda não terminou, não foi concluído. 
	Ex: uma chaminé jogando fumaça na atmosfera. Ela está permanentemente poluindo o meio-ambiente, ou uma indústria química permanentemente jogando detritos tóxicos no rio.
	Enfim, a tutela inibitória visa impedir a prática e a reiteração. Além disso, há o ilícito prolongado.
	Sentença: há duas sentenças, pensando na classificação quinária de Pontes de Miranda, que podem influir no mundo dos fatos.
	
	- Sentença mandamental, que implica numa ordem do Poder Judiciário, para que não repita no futuro o comportamento, ou para que cesse o comportamento ilícito que se protrai no tempo. Sendo assim, deve-se juntar a ele meios de coerção indireta. Coerção indireta são meios de intimidação sobre a vontade da pessoa. Não há substituição, mas ele substituirá para que ele mesmo faça, realize o comportamento devido. Ex: a justiça proíbe a postagem no facebook.
	Exemplo de coerção indireta: multa coercitiva (multa do 536 e 537 ou multa diária/astreinte) e prisão civil (ela só é possível hoje em caso de inadimplemento de obrigação alimentar).
	- Sentença executiva (lato sensu): é a atitude substitutiva ou sub-rogatória, porque o Estado substituiu o comportamento devido. Isso se dará por meios de coerção direta, por intermédio dos quais substituirei o comportamento devido.
	Exemplo de coerção direta: interdição do estabelecimento (se não quiser cessar o ilícito continuado, interdita-se forçadamente, de modo coativo da indústria poluidora). Interditar estabelecimento, casa noturna são meios de coerção direta. Outro exemplo é o de apreensão de produtos falsificados: o juiz pode determinar a apreensão dos produtos antes de ser distribuído para os revendedores.
	b) Tutela de remoção do ilícito: aqui já terminou o comportamento ilícito. É uma tutela, assim, repressiva contra o ilícito. O objetivo da tutela de remoção do ilícito não é indenização. O que se quer aqui é eliminar o estado de coisas contrário ao Direito gerado pelo ilícito.
	Quando praticamos um ato ilícito. A tutela de remoção do ilícito quer, por sua vez, eliminar o estado de coisas contrário ao Direito.
	Ex 1: joguei meu lixo nuclear no ferro velho uma única vez. Meu comportamento ilícito já terminou. Mas enquanto meu lixo atômico estiver no ferro velho, a simples permanência do lixo constitui um estado de coisas contrário ao direito. Sendo assim, remover o ilícito seria remover o lixo tóxico. Isto não é indenização. A retirada forçada do lixo nuclear do local inapropriado. 
	Ex 2: protesto indevido de uma duplicata calçada. Simulei uma compra e venda mercantil, você não paga, e eu protesto no cartório de documentos. A permanência deste protesto é o estado de coisas contrário ao direito. Cancelar o protesto ou sustar os seus efeitos nada mais é do que remover o estado de coisas contrário ao direito.
	As sentenças adequadas para o oferecimento desta tutela são as:
	- Sentença mandamental
	- Sentença executiva lato sensu: o juiz ordenará aos órgãos estatais competentes para que eles removam, eles mesmos, o lixo nuclear (por exemplo).
	c) Tutela punitiva: aqui se trata de retribuir o ato ilícito. Preciso retribuir o descumprimento de uma norma jurídica, o mal. É uma das teorias que se usa para explicar a pena. Ainda se fala, portanto,em tutela punitiva. A tutela punitiva é algo que, em geral, não se vê sendo aplicada pelo direito privado. Não é uma função precípua do direito privado punir um mal.
	Ex: indignidade para suceder, ou seja, Suzanne von Richtofen não participará da herança porque mandou matar os pais. A própria indenização por dano moral poderia apresentar este caráter punitivo (punitive damages). 
	Não é função do direito privado aplicar punições, tirando estes exemplos. Veremos isso no direito público, administrativo, de trânsito. Isso tudo, porém, é processo civil. O processo civil também trata de conflitos públicos. Concretizar as sanções tributárias, administrativas, ambientais possivelmente será papel do processo civil.
	As multas, por sua vez, combinam com as sentenças condenatórias.
	
	1.3.3) Tutelas contra o dano
	 
	Art. 5º, inciso XXXV, da CF, fala em lesão e ameaça. 
	a) Tutela preventiva contra o dano: o nome dela é tutela cautelar. Isto é a tutela jurisdicional do Direito que visa evitar a ocorrência do prejuízo, não do ilícito. Medidas cautelares não impedem atos ilícitos. Esta é uma briga feia entre o professor Marinoni e o professor Ovídio.
	Ex: arresto. O arresto se usa para evitar que a pessoa dissipe seu patrimônio, e assim venha a frustrar o pagamento do crédito. Arresto significa separar alguns bens do devedor e colocar nas mãos do depositário, que ficará cuidando destes bens para que eles não se percam. O arresto não me impede de atrasar as minhas dívidas. Ele não é capaz de prestar tutela inibitória; ele só presta a tutela preventiva contra o dano.
	Perigo na demora é o perigo de dano iminente. As medidas cautelares são aquelas que visam impedir o dano, e não atos ilícitos. Não confundir isto com a tutela inibitória e contra o ilícito.
	b) Tutela repressiva contra o dano (ou ressarcitória): é chamada também de tutela ressarcitória, também conhecida como tutela indenizatória. Ressarcir significa eliminar o dano, o prejuízo. Temos duas formas no nosso ordenamento de ressarcir danos. 
	
	* Tutela ressarcitória pelo equivalente pecuniário: digamos que eu sofri um dano patrimonial e físico. Mas, ao invés de causar um dano físico no ofensor, condeno-o a pagar uma grana. No caso do dano moral, sofri um dano psicológico. Nós arbitramos um valor em dinheiro e fingimos que ele será suficiente para indenizar o dano causado. O dinheiro é capaz de medir todas as coisas. Condenarei o ofensor a pagar esta quantia. O ressarcimento não se dará na mesma moeda. Ex: perdi o carro no acidente, mas não receberei um carro igual, mas sim uma quantia em dinheiro. Se eu sofri um dano físico, o juiz não arrancará o braço do ofensor; todavia, ele colocará um preço no braço.
	O tipo de sentença adequada para esta tutela é a condenatória.
	- Sentença condenatória: condenar o pagamento de uma quantia. A sentença mandamental impõe uma ordem. A sentença executiva estabelece um meio sub-rogatório, e tutela obrigação de pagar coisa. E a tutela condenatória impõe obrigação de pagar quantia.
	Art. 944, CC: a indenização se mede pela extensão do dano. Terei de quantificar em dinheiro este sofrimento. O grande problema é o dano moral. Quanto vale sua bagagem perdida na lua de mel? Quanto vale uma ofensa racial? Não tenho critério, e precisamos dos precedentes. Posso encontrar no STJ parâmetros. Ele normalmente não examina indenização por dano moral. 
	Os autores de processo costumam fazer críticas à tutela ressarcitória pelo equivalente pecuniário. Os processualistas não gostam dela porque até 1994 era só isso que se podia conseguir. Independentemente do dano que sofri, meu prejuízo necessariamente se materializaria em uma prestação pecuniária. Não havia como conseguir outra coisa que não dinheiro. Enfim, nosso sistema era profundamente patrimonialista. Porém, a partir de 1994, tivemos a tutela ressarcitória na forma específica.
	* Tutela ressarcitória na forma específica (in natura): a partir de 1994, nem tudo se resolve pela indenização. Pois bem. Para nós a obrigação de fazer é extremamente relevante, e isso faz com que nosso sistema acolha outros tipos de indenização.
	O juiz determina a reconstituição do interesse lesado na mesma moeda, não numa moeda equivalente, mas na mesma grandeza em que foi violado.
	Ex: o camarada cortou árvores do local de proteção permanente do qual ele não poderia dispor. Preciso forçá-lo a replantar as árvores cortadas. Ordeno, enfim, o reflorestamento, o replantio das árvores de mesma espécie que foram cortadas. Na mesma linha, há o sujeito que poluiu o rio dos Sinos e matou os peixes. Pôde-se obrigar o poluidor e colocar os mesmos peixes no rio. Outro exemplo é o do cara que derruba o muro da minha casa: quero que o cara arrume o que ele estragou. Quero que o juiz determine que o cara, às suas próprias expensas, reconstrua o muro. 
	Ler o art. 499: arrumar o muro é obrigação de fazer. Somente será convertida em perdas e danos se o autor requerer ou for impossível a tutela específica. O importante é que o sistema me dê alternativas. 
	
	1.3.4 Visão de conjunto
	Na vida real não movemos uma demanda judicial para cada coisa. Eu posso misturar todas estas tutelas na mesma petição inicial. Elas meio que se completam ou se complementam. As tutelas vêm integradas na vida real: na mesma petição inicial posso pedir todas elas.
	Exemplo da poluição atmosférica: tenho uma tutela inibitória para fazer cessar o ilícito continuado. Mas também tenho a poluição que já foi lançada (os detritos que estão na atmosfera, que estão em algum local), de modo que preciso postular a tutela de remoção do ilícito.
	 - Ação civil pública: o MP, numa única ação pública, poderia solicitar todas estas tutelas.	E, também, eu não posso esperar para receber no final do procedimento, posso receber em caráter antecipado. 
	
	1.3.5 Desenho (classificação das tutelas)
							preventiva 		tutela inibitória	
			contra o ato ilícito	
							repressiva 		tutela de remoção
										tutela punitiva
	Tutela		
				
			contra o dano			preventiva		tutela cautelar
				
							repressiva		tutela ressarcitória pelo equivalente pecuniário
										tutela ressarcitória na forma específica
	2) Teoria da cognição judicial
	
	2.1) Noção de cognição
	A tutela jurisdicional pode ser estatal ou não-estatal, por isso a cognição pode ser aplicada à arbitragem. Cognição designa operações intelectuais. Não é necessariamente algo que eu faço, mas sim o que eu penso. Cognição designa, enfim, operações intelectuais realizadas pelo magistrado, dando-se na mente do juiz.
	A cognição se refere à análise, enfrentamento realizado pelo juiz das questões de fato e de direito, que compõem a lide (lide aqui entendida como conflito processual). Conhecer é analisar, enfrentar. O termo conhecer designa esse conjunto de operações intelectuais que o juiz analisa. Cognição, enfim, tem a ver com o pensamento do juiz, algo que ele pense, e não necessariamente o que ele faz. O que ele pensa diz respeito às questões.
	Questão é um termo-chave no pensamento de Francesco Carnelutti: questão são os pontos controvertidos de fato e de direito em que se desdobra a lide, em que se desdobra o conflito social. O conflito tem pontos de fato e de direito.
	Exemplo: a ocorrência de atropelamento é um ponto fático. A ocorrência de dano é claramente um ponto de fato, portanto uma questão fática. O conflito relativo ao acidente de trânsito tem pontos controvertidos de direito. Ex: quem tem a responsabilidade pelo atropelamento? Como quantificar a indenização? Devo ou não levar em conta a riqueza do réu? Enfim, há pontos controvertidos de fato e de direito.
	Cada lide tem suas próprias questões, e o juiz exerce a cognição quando enfrenta essas questões. Algumas questões o juiz examina de ofício; outras ele só pode examinar se for provocado. Há questões processuais, como competência, e materiais, como prescrição e decadência. Há preliminares (me impedem de examinar o mérito), como interesse processual. Há as prejudiciais (condicionamo julgamento do mérito).
	Ler o volume 1, capítulo 11.
	A cognição é o oposto da execução , pelo menos no sentido amplo. Executar não é uma operação intelectual, mas sim satisfazer na prática, no mundo dos fatos, um direito a uma prestação. Execução refere-se a operações fáticas determinadas pelo juiz.
	Operações intelectuais são conhecidas pelo termo cognição. As operações fáticas são conhecidas pelo termo execução . Há, claro, procedimentos, em que predomina a cognição: isto acontece na fase de conhecimento do procedimento comum. Já na fase de cumprimento de sentenca, predomina a execução (as operações fáticas determinadas pelo juiz).
	O professor acredita que cognição sempre age. Ele é uma coisa que o juiz exerce sempre, em maior ou menor medida. Há, assim, um procedimento completamente destituído de cognição judicial? Não, nem menos nos processos autônomos de execução. Há várias questões de fato e de direito que o juiz pode examinar: tem título executivo, está prescrita a obrigação de pagar, o juiz é competente ou não é? Ou seja, mesmo no cumprimento de sentença, o juiz fará as mesmas perguntas. 
	2.2) Planos da cognição
	Professor Kazuo Watanabe tem um livro chamado Cognição no processo civil. Ele diz que podemos estudar a cognição em dois planos distintos: horizontal e vertical.
	
	2.2.1) Horizontal
	Refere-se à uma análise quantitativa, no caso, o número de questões da lide que o juiz está autorizado a analisar. A lide aqui é a lide sociológica, no sentido de lide real, social, como existe efetivamente antes do processo judicial.
		a) Plena: significa que o sistema autoriza o juiz a julgar a lide por inteiro, como um todo, em sua plenitude. A lide social tem um tamanho, e entra para o processo com todo este tamanho. O juiz julga toda a lide, em todos os seus elementos, em sua completude. A lide tem os elementos A, B e C, e o juiz julga-os todos.
		Exemplo supremo: ação reivindicatória. É aquele em que eu peço a devolução do imóvel invadido com base no direito de propriedade. Na ação reivindicatória tenho elementos de fato e de direito (como o direito subjetivo de propriedade). O juiz proclama quem é, de fato, o proprietário.
		Ex 2: o sujeito sofreu danos morais e materiais, e postulou a indenização de todos estes danos. A lide tem os elementos X e Y, e dentro do processo comparecem os elementos X e Y. Na questão da indenização, é a vontade do autor que expõe ao juiz todo o conflito de uma única vez.
		b) Parcial/limitada: o sistema jurídico (ordenamento) ou a vontade do autor/parte realizam corte na cognição. O juiz julgará só uma fatia do conflito social. A lide social será maior do que a lide processual. A lide que existe fora do processo será maior do que a existente dentro do processo. O conflito efetivo será maior do que o representado dentro dos autos.
		Exemplo supremo 1: pizza maravilhosa de 10 queijos. O sistema impõe ao juiz que ele só coma uma fatia da pizza. 
		Exemplo supremo 2: ação possessória. Ler o art. 557, tanto o caput quanto o parágrafo único. O juiz ignora qualquer alegação que as partes possam fazer em torno de direito de propriedade. Não interessa dentro dessa ação quem é o proprietário, e sim quem é o possuidor. Sabendo que posse é fato, compete ao juiz saber a questão fática. Podemos fazer menção ao CC, art. 1.210, § 2º: Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.
		A lei realizou este corte na cognição judicial.
		Ex 3: princípio da demanda. Não sou obrigado a postular a indenização por dano material. Posso, porque eu quis, postular somente o moral.	
	2.2.2) Vertical
	
	Aqui não interessa a quantidade, mas sim a qualidade da análise. Como é, de que forma o juiz irá analisar. Pensa-se aqui em intensidade, profundidade da análise. Como o juiz julga aquilo que o sistema permite que ele julgue. Horizontal me diz o quê o juiz vai julgar, e vertical o como o juiz julga. Tenho dois extremos e, entre eles, vários níveis intermediários.
	Alguns autores tentam analisar várias gradações nos planos da cognição judicial, como o professor Daisson.
		a) Aprofundada ou Exauriente: o juiz esgota, exaure com profundidade a análise da matéria. Quanto mais contraditório, maior o aprofundamento. Uma coisa é ouvir apenas o autor, outra coisa é ouvir apenas o réu. Além disso, é uma questão de prova: quanto mais provas, mais aprofundamento. Quanto mais meios de prova eu tiver, mais completa fica a visão do juiz. Uma coisa é julgar só com base num documentinho. Outra coisa é complementar com prova testemunhal, etc. É uma questão de qualidade da prova: uma coisa é a declaração unilateral que o autor anexa na petição inicial (como atestados médicos); outra coisa é... O exaurimento, enfim, tem a ver com o contraditório e com as provas.
		Ex 1: procedimento comum no NCPC. Ele prestigia o exercício da cognição exauriente porque tem muitas oportunidades de contraditório. Tem contestação, réplica, memoriais, impugnação ao cumprimento de sentença, etc. 
		Há uma relação com a coisa julgada material: para haver coisa julgada material, é necessário que o juiz aprofunde sua cognição. Posso imaginar uma relação entre o caráter exauriente da cognição e a coisa julgada material. Pode haver, inclusive, cognição exauriente só sobre uma parte da lide (não precisa ser plena).
		
		b) Sumária ou "Prima Facie": significa à primeira vista, ao primeiro olhar. O juiz contenta-se apenas com a probabilidade, não com a certeza. Isto está ligado também ao contraditório e às provas, no sentido da falta. O que torna a cognição superficial é que ela não se contenta com a verdade, mas com a mera probabilidade dos fatos e existência do direito.
		O sistema se contenta com a mera probabilidade. A partir de 1994, nosso sistema liberou o juiz para julgar com base na mera aparência. A cognição sumária tem a ver com o juízo de aparência ou probabilidade. O nosso sistema, até 1994 não permitia que o juízo julgasse apenas com base na aparência, e exigia que o juiz tivesse certeza. Ler o art. 273 do CPC/73!!!!! Neste artigo, tínhamos a antecipação de tutela. O instituto de antecipação de tutela foi criado em 94 em uma das minirreformas do CPC em que se introduziu o art. 273. Temos duas coisas importantes: o artigo 273 (que trata da antecipação de tutela) e o 461 (que passou a tratar da tutela específica). Esses dois artigos revolucionaram a prestação da justiça no Brasil.
		Obviamente, isto está relacionado ao contraditório: o juiz poderá decidir antes do contraditório. A urgência ou a evidência do direito é tão grande que o juiz se libera da necessidade de ouvir o réu. Normalmente pedimos liminares na petição inicial, mas na petição só temos provas pré-constituídas (atestado médico, declarações assinadas pelo autor, fotos borradas, etc.). Quanto pior a qualidade das provas, mais superficial será a análise do juiz.
		Cognição aprofundada, enfim, está ligada à ideia de certeza e ao predomínio da segurança jurídica (dogmas liberais do século XIX). O CPC/73 era um bom código do séc. XIX. Já a cognição sumária relaciona-se à aparência: a cognição sumária é instituída em prol da efetividade e celeridade da decisão judicial. 
	
	2.3) Configurações da cognição
	
	2.3.1) Cognição plena e exauriente: significa que, do ponto de vista da extensão, o juiz é liberado para examinar por inteiro; não há restrições. Do ponto de vista da intensidade de análise, é exauriente. Encontramos isto no procedimento comum: o procedimento comum, historicamente, foi vocacionado à obtenção da certeza do direito.
	Mas há procedimentos especiais. Uma maneira de criá-los é mexendo na cognição. Posso criar procedimentos especiais ou diferenciados simplesmente dosando, reconfigurando a questão da cognição judicial.
	
	2.3.2) Cognição parcial e exauriente: no plano da quantidade, existem procedimentos que limitam o número de questões que o juiz pode analisar. Mas naquilo que o sistema permite que o juiz analise será exauriente. Exemplo: ação possessória.Ela continua sendo exemplo de cognição parcial, mas também exauriente. É parcial porque o juiz não se pronunciará sobre o direito de propriedade. Posso provar, porém, minha posse com documentos, testemunhas, perícias, etc. Não há restrições quanto ao tipo de provas a serem produzidas. A ação possessória tem contestação, réplica. Ela tem até audiência de mediação. Há recurso, cabe agravo de instrumento, apelação, recurso especial e extraordinário. É plena porque há amplas oportunidades de exercer o contraditório.	
	Consequência: coisa julgada material. Nas ações possessórias, temos a aptidão da coisa julgada material. Minha vitória é parcial porque não foi analisado o direito de propriedade, mas no plano possessório não é possível rever o que o direito decidiu.
	Na p. 505 do vol. 1 - Didier menciona os embargos de terceiro. Alguém, no processo de execução, que não é parte, teve seus bens constritos (no caso, penhorados indevidamente). Assim, é possível a ela entrar com embargos de terceiro. O art. 680 do cpc limitou as matérias passíveis de serem alegadas em contestação. O réu não pode jogar no ventilador todas as questões que sua criatividade lhe sugeriu: o embargado só pode declarar algumas coisas.
	Devemos levar em conta dois fatores:
	1) direito material, a própria questão discutida em juízo: não porque misturar posse com direito de propriedade.
	2) celeridade: uma das maneiras de conseguir isso é a limitação da cognição. A ideia é que o procedimento será mais célere ou efetivo quando a cognição está limitada.
	
	2.3.3) Cognição exauriente "secundum eventum probationis": numa tradução não literal, seria conforme a suficiência da prova. Isso quer dizer que a cognição judicial só se aprofunda, só se exaure, esgota se a parte (geralmente o autor) apresentar prova considerada pelo sistema (não pelo juiz) como suficiente. Se eu trouxer prova suficiente, a cognição se aprofunda. Se eu não trouxer a prova requerida pelo ordenamento, a cognição não se aprofunda. A abstração dos principais exemplos nos leva a pensar que essa prova é a documental. Se eu trouxer aquela prova, o juiz aprofunda na análise e diz que isto é suficiente. 
	Se trouxer o documento, o juiz pode reconhecer ou NEGAR a existência do direito. Se eu não trouxer este documento, o juiz não poderá aprofundar sua cognição.
	Ex: ação de mandado de segurança (p. 506 do Didier). Combino a súmula 304 do ST com o art. 19 da lei 12.016. Direito líquido e certo: é uma expressão referente à prova do direito subjetivo, que posso demonstrar de plano, com documento pré-constituído. No mandado de segurança preciso trazer prova documental. Se eu não a trouxer, não existe espaço para discussão probatória. Mas isso não me impede de propor uma ação por procedimento comum depois. Se eu não trouxer o documento, o juiz extingue o mandado. Se eu trouxer, ele pode dizer se tenho ou não tenho o direito subjetivo material. O tipo de prova desejada é a prova documental, enfim.
	2.3.4) Cognição exauriente "secundum eventum defensionis": pode ser traduzida como conforme a existência de defesa. A cognição começa superficial e só se aprofunda se o réu tomar a iniciativa de se defender. Se o réu se defender, ele pode inserir todas as alegações que ele quiser, ou quase todas. Mas se ele não tomar a iniciativa de se defender, a cognição do juiz jamais se completará.
	Ex: ação monitória (Art. 600): o juiz pega o documento e o analisa superficialmente. Se ele perceber que isto evidencia o crédito, manda pagar em 15 dias. Além disso, na defesa do réu, ele pode levantar qualquer meio de prova, e trazer para o juiz qualquer ação defensiva. Na ação monitória, se o réu for revel, perder a oportunidade de se defender, não haverá sentença. O juiz passa diretamente para a fase de cumprimento, execução. Enfim, na ação monitória pula-se uma etapa. A cognição do juiz jamais se aprofundará!! Ela será sempre superficial.
	2.3.5) Cognição rarefeita: é a cognição que caracteriza a tutela executiva. Rarefeita significa ao mesmo tempo. Ela é super superficial e super limitada ao mesmo tempo. O juiz só julga algumas questões: ele não analisa se há realmente uma dívida, e se a assinatura é verdadeira. É superficial porque só tem o título de crédito para analisar.
	2.3.6) Funções: as várias cognições são ferramentas, fatores para construção do procedimento adequado. Portanto, não deixam de ser técnicas. Por que, no mandado de segurança, só admito prova documental? Para conseguir um procedimento célere, rápido.
21/09/2017
	Ler Didier, volume 1, páginas 130 e seguintes.
	
	3) Princípio da adequação do processo
	O grande jurista italiano Pierro Calamandrei é o primeiro autor a fazer referência à adequação. Em nosso país, devemos ao pensamento de Galeno Lacerda. De Galeno, encontramos um texto com o título "Código como sistema legal de adequação ao processo". Encontramos alguma coisa nas obras de Carlos Álvaro Alberto de Oliveira.
	3.1) Noção: o processo deve ser ajustado conflito que ele quer resolver (direito material). Normalmente ajuizamos demandas judiciais para discutir interpretação de conceitos de direito material, ou normas de direito público. O processo, enquanto método de solução de conflitos, deve ser minimamente adequada a este conflito cujas normas se vai aplicar.
	Instrumentalidade do processo: o processo não é um fim em si mesmo, mas apenas um meio, apenas um instrumento. Esta ideia foi desenvolvida pelo professor Cândido Rangel Dinamarco. Para o professor, o processo serve para a tutela do direito e para a resolução do conflito. O processo judicial não é o único meio de resolver conflitos (há as mediações, as arbitragens, as negociações diretas, etc.), mas é a construção histórica que a gente tem. 
	
	3.2) Fundamento: Não temos na CF um artigo específico consagrando a ideia de adequação. Mas temos, pelo menos, dois preceitos que sem muito esforço serviriam para adequar a ideia de adequação. Sendo assim, não tenho um artigo expresso, mas posso deduzir a adequação de modo explícito.
		a) CF, 5º, XXXV: é o princípio do “acesso à justiça”. Este artigo não me assegura só o direito de chegar no tribunal, mas sobretudo sair do Poder Judiciário carregando aquilo que eu vim buscar. A tutela jurisdicional significa sair de lá carregando a tutela jurisdicional dos direitos. Quando o constituinte consagra um fim, também consagra os meios para que se alcance este fim. Uma tutela inadequada não seria capaz de tutelar ninguém. A proteção há de ser adequada, adaptada, ajustada ao direito subjetivo, e isto inclui os meios necessários para se chegar a este ajuste.
		O ordenamento brasileiro consagra as obrigações de fazer e não fazer. Segundo o artigo da CF, tenho o direito de chegar ao Judiciário, narrar ameaça ou lesão à obrigação de fazer e não fazer, e sair do Judiciário com medidas capazes para conseguir esta tutela. Mas se o nosso sistema se resumisse à declaração, não teria um direito adequado destinado às tutelas de obrigações de fazer e não fazer. Este artigo permite o direito de receber a tutela. É uma tutela marcada por três características:
		1 - Adequada: ajustada ao conflito, ao direito material.
		2 - Efetiva: segundo os ensinamentos de Barbosa Moreira, efetivo é aquilo que produz efeitos práticos no mundo dos fatos. Efetividade complementa a noção de adequação: preciso que a tutela jurisdicional saia do mundo platônico e se projete no mundo dos fatos. Por que em 2005 se estabelece a penhora online? É que a penhora tradicional não vinha produzindo efeitos práticos, concretos. Sendo assim, tudo gira em torno da ideia de efetividade. Todas as reformas de 1994 até 2006 giraram em torno da efetividade.
		3 - Tempestiva: tutela que chega tarde demais não produz nenhum efeito útil ao cidadão. É óbvio que, se eu não posso fazer justiça com as minhas próprias mãos, que essa proteção judicial não pode chegar lenta nem rápida demais. Tempestividade não é o mesmo que celeridade. Justiça instantânea não nos interessa: preciso de uma justiça que amadureçaa verdade. Eu preciso de um mínimo de tempo para viabilizar outros direitos fundamentais, como direito ao contraditório, ampla defesa e recurso. Para contornar os males do tempo, temos técnicas pensadas e repensadas pelo legislador - entre elas, a técnica da tutela antecipada. É claro que tempestividade ganhou tanta importância, que a emenda 45/2004 dedicou um inciso específico, que é o 78.
		Processo adequado, enfim, é um processo capaz de contribuir à formação do direito subjetivo. Adequação é o instrumento, o meio. O processo e as várias técnicas empregadas dentro deste processo precisam guardar uma relação de instrumentalidade: meio e finalidade à proteção que se quer alcançar. Dependendo do contexto da adequação, até flexibilizar. Processo não deveria ser algo rígido, mas sim flexível.
		b) CF, 5º, LIV: relacionado ao direito fundamental do devido processo legal. Já tenho um princípio constitucional que manda seguir a lei: este é o princípio da legalidade! Sendo assim, devido processo legal significa um processo JUSTO. Esta expressão tem sido entendida como um processo que respeita os direitos fundamentais. Nesse sentido, a expressão devido processo legal me obriga a ir além da lei e, inclusive, contra a lei. É um processo, enfim, que efetivamente respeite os direitos fundamentais. O devido processo legal é uma síntese, um resumo de todos os direitos fundamentais processuais previstos na Constituição. Ele é uma fonte, também, de novos direitos fundamentais, implícitos.
		Dificilmente eu entenderia que o processo fundamental é justo se ele só viabilizasse a tutela condenatória. Mas, enfim, o processo justo é, antes de tudo, adequado ao direito material. A propensão ao se pensar em direito material é pensar em normas jurídicas, mas também posso falar em direito subjetivo material: a parcela juridicamente protegida em decorrência desta norma material.
		O ponto fundamental é destacar que este princípio existe.
	3.3) Extensão
		a) Procedimento: a Constituição Federal me assegura procedimentos adequados às tutelas mais diversas possíveis. Procedimento é sequência de atos. Evidentemente adequação se refere à sequência: dificilmente eu daria conta da multiplicidade de direitos subjetivos com um procedimento único. Quando é idealizado o CPC/73, Buzaid não coloca no anteprojeto de lei os procedimentos especiais. Porém, os procedimentos especiais existem para viabilizar uma tutela adequada a certos tipos de direito. A forma mais simples de pensar na adequação do procedimento é criar procedimentos especiais enquanto alternativa.
		O procedimento comum não viabilizaria a tutela adequada para expulsar o locatário do imóvel, por exemplo. O mesmo ocorre com a dissolução parcial de sociedade, etc, etc. Adequação, enfim, se refere em primeiro lugar, ao procedimento, que deve ser minimamente ajustado. A mesma relação de veículo e carga se dá com o procedimento e o conflito que ele irá carregar. Se eu tivesse um procedimento padrão, flexível, maleável, será que isso não serviria, porém? Multiplicar ao infinito os procedimentos especiais resolveria meus problemas? Ou não seria melhor um procedimento comum flexível?
		O procedimento deve permitir ao juiz modificar a sequência de atos. O professor não acha que o procedimento comum é o procedimento ordinário com outro nome. Na verdade, é outra ideia do CPC/73. O procedimento ordinário era basicamente rígido, pouco maleável. O procedimento comum, porém, já nasceu maleável.
		b) Tutelas: as próprias tutelas jurisdicionais devem ser adequadas. O legislador em 1994 reescreveu o art. 461 do CPC/73 porque faltava no nosso ordenamento a previsão e possibilidade de concessão clara de tutela inibitória, tutela de remoção do ilícito, etc. Adequação é uma crítica do direito vigente, positivo.
		c) Técnicas processuais: técnicas são os meios efetivos que permitem ao juiz moldar tutelas jurisdicionais. Exemplos:
		- Julgamento antecipado parcial de mérito (Art. 356): julgo de modo definitivo e mediante cognição exauriente, com aptidão de formação de coisa julgada, a parcela madura da demanda. O juiz não precisa julgar toda a causa de uma única vez, mas pode julgar aos pedaços, a medida em que ela vai se tornando madura. Essa ferramenta é capaz de amparar, ao menos em parte, o interesse do cliente: alcanço pelo menos parte da tutela que ele gostaria de alcançar.
		- Penhora online: não preciso avaliar nada, nem nomear um depositário, nem alienar o que quer que seja. O juiz torna indisponíveis os valores, que são depositados em conta vinculada e, por meio de alvará, possibilita-se este valor ao exequente.
		- Multa coercitiva: nem sempre existiu no nosso ordenamento com a extensão que ela tem hoje. O art. 287 do CPC/73 só podia ser imposto após o trânsito em julgado. Mas o art. 461, § 5º, do CPC/73 foi revolucionário, ao ampliar a utilização da multa coercitiva, simplesmente a título de medida liminar.
		- Decisão monocrática dos tribunais: a decisão que o relator tomará sozinho, isoladamente.
	3.4) Critérios: adequação tem a ver com a finalidade, mas ele não é o único critério. O professor Galeno pensou em pelo menos três critérios que o legislador, o juiz e as partes poderiam levar em conta para adequar o processo:
		a) Sujeito (adequação subjetiva): leva em conta as partes. Tenho mudanças, regras especiais, dentro do novo CPC, que procurar moldar o procedimento conforme o sujeito que dele participa. Exemplos:
		- Prazos especiais (art. 180, 183 e 186): estes três artigos estabelecem prazos especiais para Defensoria Pública, Advocacia Pública e Ministério Público. Não há mais prazos em quádruplo, mas tudo está unificado em prazo em dobro. Há duas explicações para estes prazos especiais: 1) são as deficiências materiais e de pessoal da Defensoria, Advocacia e MP (mas este argumento é rebatido); 2) impossibilidade de selecionar causas. O advogado privado pode selecionar as suas causas, ao menos substabelecendo aquelas que ele têm; mas os defensores, advogados públicos e membros do MP devem atuar em todas as causas. Isto onera os profissionais destas três carreiras.
		- Regras que preveem tramitação especial para idosos.
		- Adequação subjetiva pensada pelo juiz (Art. 139, inciso VI): possibilidade de dilatar prazos processuais. Ex: julgamento do Mensalão feito pelo STF. Os 40 réus, com seus processos de mais de 1000 mil páginas, tiveram o mesmo prazo de embargo de declaração de 5 dias. Por que não conceder um prazo de 30 dias?
		- Negócio processual: criam ferramentas que levam em conta peculiaridades do sujeito litigante. Por que não colocar no contrato uma forma de intimação e comunicação dos atos processuais já pensada para a pessoa surda ou deficiente ou que resida no exterior? Por que não permitir a citação pelo whatsapp?
		b) Objeto (adequação objetiva): fala-se aqui do conflito e do direito subjetivo. Preciso moldar, pensar no procedimento levando em conta os diferentes tipos de direito que serão veiculados por meio dele. Exemplo: sucessão, inventário e partilha. 
		- Procedimento especial do CPC para as ações de família: a pessoa é citada e não recebe cópia da petição inicial, diferente do que ocorre no procedimento comum. Isso se explica porque ações de família são basicamente lavação de roupa suja. Se o réu tivesse de antemão acesso à petição inicial, qualquer chance de acordo, autocomposição talvez se esvaísse.
		- Audiência de conciliação E mediação: essa audiência é distinta ao do 334 porque mediação tem tudo a ver com direito de família.
		Ler art. 536, § 1º, e 537 do CPC. O novo CPC estendeu a ferramenta da multa coercitiva às obrigações de pagar (obrigações pecuniárias). Ler o art. 139, inciso IV.
 		c) Finalidade do processo judicial (adequação teleológica): o processo judicial pode visar diversos objetivos diferentes, e é natural que ele seja moldado conforme aos objetivos que ele visa atingir.
		- O sujeito é citado para participar de uma audiência e depois para contestar em 15 dias no processo de conhecimento, enquantono processo de execução é intimado ou citado para pagar em 15 dias. Isso ocorre por causa da finalidade. No processo autônomo de execução ou cumprimento de sentença já tenho a certeza jurídica, seja no título judicial quanto no extrajudicial. Não faria tanto sentido citar um executado para se defender.
		- O que justifica as diferenças procedimentais entre a fase de conhecimento e a fase de cumprimento? Na fase de cumprimento, interessa realizar o direito no mundo dos fatos.
	3.5) Dimensões
	O professor Fredie Didier identificou três dimensões para o princípio da adequação:
	
	3.5.1) Ad. Legislativa
		
		a) Noção: é a forma tradicional de realização do princípio da adequação. Encontra-se nos CPCs de 1939 e 1973. Ela é aquela realizada pelo Poder Legislativo; portanto, pelo Estado, por meio da criação de leis que regulamentam procedimentos especiais. O Poder Legislativo edita leis, e elas preveem disciplinam, regulamentam vários procedimentos especiais.
		b) Quem realiza: é realizada pelo Poder Legislativo. A maioria de nós pensa no Poder Legislativo da União Federal, o Congresso Nacional. Ora, primeiramente penso na edição de leis federais, porque o artigo 22, I da CF nos diz que é competência privativa da União legislar sobre direito processual. A criação de procedimentos especiais, seja no Código, seja em leis extravagantes constitui manifestação desta competência. A mesma CF confere, porém, competência legislativa concorrente para os Estados membros legislarem sobre o tema procedimentos. Além da competência exclusiva da União para legislar sobre processo, o art. 24, inciso XI, apresenta a possibilidade de competência concorrente para legislar sobre procedimentos especiais. Aqui começa o nosso problema: qual é a diferença entre direito processual e procedimento?
		Uma das pessoas que estudou este tema foi a professora Paula Sarno Braga, no livro “Norma de processo e norma de procedimento”.
		Seria monopólio da União disciplinar questões relativas à relação processual, à existência e desenvolvimento desta relação (aos poderes, deveres, ônus das partes). Nesse sentido, há o princípio da taxatividade recursal (recursos são só os previstos em lei federal como tais).
		Procedimento especial, porém, diz respeito à sequência de atos, esquema, conjunto de etapas. A ideia é que a União dá as regras gerais, e os estados disciplinam as questões específicas. Sendo assim, devemos levar em contas as diferentes realidades dos estados. Por que as diferenças de comunicação, de transporte, culturais não deveriam influenciar a própria conformação do procedimento? Por que ele deve ser único e uniforme para todo o território nacional? Por que não posso disciplinar uma sequência de atos particular no estado do Acre?
		Por incrível que pareça, os estados não se interessam em legislar sobre procedimento. Na prática, há só os regimentos internos dos tribunais.
		Mas será mesmo que consigo falar na diferença entre processo e procedimento? No fundo, é difícil diferenciar processo e procedimento.
		c) Como? Necessariamente, esta forma de adequação se dá FORA e ANTES do processo judicial. Dá-se por um agente externo do processo judicial. Essa forma se dá pela criação de NORMAS.
		1) Normas gerais: generalidade porque a lei não trata de um caso, mas de uma multiplicidade indefinida de casos. Quando há uma lei que trata sobre um caso específico, não temos uma lei, mas um privilégio (não no bom, mas no mau sentido). É importante pensar que o legislador, ao editar a regra legal, pensa naquilo que normalmente acontece. Para poder disciplinar um grande número de casos, não disciplino com base na exceção. Levo em conta o que é normal, comum, que acontece na maior parte das vezes. A adequação legislativa não é plena, nem perfeita. O legislador não pode e nem deve pensar no MEU contrato de locação residencial, na MINHA ação de família, no MEU procedimento de inventário e partilha. Por isso, é uma adequação pela metade, incompleta. É só o começo da ideia de adequação. Quero disciplinar, enfim, o maior número possível de casos.
		2) Normas abstratas: para poder disciplinar o maior número de casos, preciso empregar expressões gerais, que não contenham um número excessivo de detalhes e particularidades.
		3) Normas editadas a partir do embate político-ideológico: a lei é produto de um embate político. Por mais que questionemos o atual sistema partidário, há um embate ideológico. Há direito de família no CPC porque no momento em que ele foi elaborado, havia um projeto de poder que se importava com direitos das mulheres, minorias, etc. A lei não é neutra, ela reflete uma determinada visão de mundo, e, dentro da nossa visão de democracia, a maioria partidária do momento. O discurso empregado para fundamentar a adequação legislativa é um discurso político.
		d) Meios -	procedimentos especiais: o procedimento comum não é capaz de dar uma resposta adequada, efetiva e tempestiva para todos os procedimentos especiais. Os procedimentos especiais se manifestam como verdadeiras alternativas ao procedimento comum. Essas alternativas dependem daquilo que o legislador identifica como relevante em determinada época. Então, o tema de procedimentos especiais não é estático, mas dinâmico no tempo. Fico dependendo da identificação por parte do legislador. Como isso é dinâmico, tenho procedimentos especiais novos, que foram extintos, que foram conservados, que foram transformados. Encontro quatro situações diferentes em relação ao que o legislador identifica como relevante em determinado momento.		
				- Procedimentos extintos: não temos no NCPC uma série de procedimentos que apareceram no CPC/73. O procedimento de usucapião não existe mais. A posse aliada ao tempo não é a mais digna de tratamento diferenciado. A relevância implica, de um lado, procedimentos que foram eliminados. Ex: procedimento especial de usucapião, procedimento especial de nunciação de obra nova (a única peculiaridade sua era o embargo extrajudicial). Mas a ação de usucapião continua existindo, o que desapareceu foi somente o procedimento especial de usucapião. O legislador reavaliou a situação e descobriu que isto já não é mais relevante.
				- Procedimentos novos: ex: procedimento especial de ações de família; dissolução parcial de sociedade (preciso fazer um balanço da sociedade).
				- Procedimentos mantidos: a relevância permanece. Ex: procedimento especial das ações possessórias. 
				- Procedimentos redefinidos: ex: oposição. No CPC/73, oposição era tratada como forma de intervenção de terceiros, junto com assistência, denunciação da lide e chamamento ao processo. Agora ela é tratada como procedimento especial.
				Há um limite para isso? O elevado número de procedimentos especiais comprometeria a própria praticabilidade do Direito. Se eu tivesse milhares e milhares de procedimentos especiais, teria de consultar a enciclopédia de procedimentos especiais. A edição de procedimentos especiais é algo, enfim, bastante limitado.
				Ler vol. 3, primeiros capítulos, do livro do Marinoni: quando o código velho foi feito, a adequação legislativa era a única forma de adequação. Mas hoje ela certamente não poderá resolver todos os nossos problemas, e não é mais a única. Os procedimentos especiais não esgotam todo o princípio da adequação. Eu não consigo realizar o princípio apenas multiplicando e gerando novas rotas procedimentais.
	OBS.: o que faz um procedimento especial ser especial é o arranjo, a sequência, o esquema do procedimento comum que, de alguma maneira, se diferenciará do esquema do procedimento comum. Temos um procedimento especial, por exemplo, com DUAS FASES de conhecimento: é o procedimento especial de prestação de contas. Na primeira examino a obrigação de prestação de contas, na segunda a ação de prestar contas. Outro exemplo: no procedimento especial de ação de família, tenho a audiência de mediação E conciliação, e não tenho a autorização de dispensa dessa audiência. Mas talvez a maior peculiaridade dos procedimentos especiais consistena existência de uma fase liminar, uma etapa em que o juiz pode antecipar a tutela, a providência final. No velho procedimento ordinário não havia liminares. O juiz não poderia conceder nenhuma medida liminar. Por isso fazia todo sentido nas ações possessórias a possibilidade de intervenção imediata. Na ação possessória, o juiz, ao despachar a petição inicial, concederá liminarmente a medida, se ela estiver bem instruída.
				
			Rotas procedimentais: é uma linguagem empregada pelo doutor Paulo Mendes. Rotas procedimentais designam caminhos alternativos, esquemas alternativos, sequências alternativas DENTRO do próprio procedimento comum. Não apenas tenho esquemas alternativos em relação ao procedimento comum, mas dentro dele tenho caminhos diferentes que podem ser adotados. Esses caminhos são basicamente três:
				- Rota curta: é o indeferimento da inicial ou a improcedência liminar do pedido. Antes mesmo de citar o réu, o juiz extingue o processo. O código novo resguarda a ideia de indeferimento da inicial apenas para questões formais (Art. 330). Para motivos de ordem substancial, material, temos a improcedência liminar (Art. 332). O precedente tem várias funções, e uma delas é permitir a improcedência liminar do pedido.
				- Rota intermediária: é o julgamento antecipado parcial do mérito. É um instituto bem tradicional, e aparece no art. 335. Como não preciso produzir provas em audiência, ou como o réu é revel, o juiz já conhece antecipadamente do mérito.
				- Rota longa: é aquela em que haverá audiência de instrução e julgamento. Preciso ouvir testemunhas, prova pericial, esclarecimentos que o perito haja de me prestar na audiência.
				Esta linguagem também vale para os tribunais. O professor Araken de Assis fala-nos que nos tribunais há a rota abreviada e a rota completa. Rota abreviada é o julgamento por decisão monocrática. A rota completa é aquela em que o relator, por intermédio da presidência do órgão colegiado, marcará uma sessão de julgamento, do qual participarão normalmente os advogados das partes. Dentro do próprio procedimento comum, enfim, posso ter sequências diferentes.
		A adequação legislativa é feita em termos gerais, abstratos, jamais pensado no meu caso concreto.
		
		e) Críticas negativas/vantagens e desvantagens: a grande desvantagem é que ela jamais será perfeitamente adequada ao meu caso, ao meu conflito. Meu caso é particular, específico. Digamos que eu seja uma grande indústria de calçados femininos, e alugo uma loja num shopping de Brasília. Tenho daí uma ação renovatória fake, não para brigar, mas para não perder o prazo de uma negociação em que está quase concluída. Mas o legislador criou uma ação renovatória para brigar. Só que a lei de locações nem se importou muito com os shopping centers. A vantagem, porém, é a segurança jurídica: os procedimentos especiais previstos em normas prestigiam a certeza mínima do Direito. Ler futuramente o livro Segurança Jurídica (Humberto Ávila).
		O que o juiz pode exigir de mim hoje? Isso se chama cognoscibilidade. Se eu desse ao juiz o poder de criar o procedimento do caso concreto, imaginem!!! Se a adequação fosse apenas jurisdicional, eu não teria como prever as mudanças de procedimento no meu caso (estaria sujeito ao arbítrio e à eterna surpresa). 
	28/09/2017
	
	Processo justo é aquele com capacidade de se adaptar às finalidades do processo judicial.
3.5.2) Ad. Jurisdicional/Judicial
Até o CPC/73, a única adequação existente era a legislativa. A adequação legislativa nos traz segurança jurídica; porém, jamais conseguiremos com ela um ajuste, uma adaptação completa do processo ao caso concreto. O NCPC certamente se preocupou com este tema desde a época do anteprojeto apresentado no Senado Federal em 2010.
3.5.2.1) Noção: adequação jurisdicional é a realizada pelo juiz (poder Judiciário como um todo, e tribunais superiores) no caso concreto, dentro do caso concreto. Aqui já podemos estabelecer duas diferenças muito claras entre a adequação legislativa e a jurisdicional: a legislativa é feita pelo Estado e em geral - sem levar em conta qualquer caso específico; a jurisdicional é feita pelo poder estatal do Judiciário, mas dentro de um caso concreto.
3.5.2.2) Características
No caso concreto: na arquitetura do Poder Judiciário compete ao juiz de primeiro grau julgar o caso. Já os tribunais superiores, não é que eles não julguem o caso, mas o foco dele é pegar carona do caso para estabelecer interpretação do direito de modo geral. Essa forma de adequação será realizada também dentro do processo, diante de um processo judicial em curso.
	Há analogia entre o Edito perpétuo e a adequação jurisdicional?
Se eu conhecer o magistrado, posso ter uma ideia de como o juiz irá se comportar, mas, como é feito no caso, e eu não sei de antemão o que o juiz brasileiro fará no meu caso concreto.
Judiciário: Em segundo lugar, é necessário saber que está adequação é feita por um poder do Estado. O foco é que está adequação é capitaneada pelo juiz. As partes podem reclamar, eventualmente recorrer, mas a adequação é feita pelo judiciário. A adequação no caso concreto significa que é dentro de um caso determinado, e ocorre sobretudo por atuação de um um juiz de primeiro grau. O segundo grau só tem a rotina de julgar um recurso, mas a adequação plena será feita no primeiro grau, quando se desenvolvem as principais etapas do procedimento. Este é o campo mais adequado para o exercício desta forma de adequação. 
	Nem todos os desembargadores recebem advogados. Alguns outros adotam a técnica de nunca receber o advogado sozinho, mas sempre acompanhado de outra parte. Ora, isso não seria uma forma de adequação?
Discurso jurídico: é o tipo de argumento empregado pelo Estado. A adequação legislativa passa por argumentos políticos e ideológicos. O procedimento especial das ações de família não seria possível na conjuntura atual (congresso machista, conservador). Porém, aqui é diferente. Não é o que o juiz não tenha ideologia. Neutralidade valorativa não existe, e um juiz não pode se despir de tudo isso na hora de julgar. A independência, porém, não se refere ao juiz, mas ao Poder Judiciário como um todo. A imparcialidade se refere aos interesses concretos existentes na causa (o juiz precisa estar distante delas). O professor Antonio Cabral fala em impartialidade: significa divisão de papéis no processo judicial. Juiz faz papel de juiz, a parte de parte. O juiz não pode exercer papéis que o sistema atribui às partes. Juiz deve se restringir a exercer papel de juiz. Mas o que interessa aqui é a neutralidade.
	Não há dúvida que o juiz tenha um olhar ideológico diferente sobre o processo. Mas o juiz deve fundamentar suas decisões com base em argumentos jurídicos, racionais e universalizados. 
	Certamente o legislador dará vazão a toda uma argumentação política. O juiz, porém, deve se basear em argumentos jurídicos. O prof. Didier dá um exemplo em que o autor protocolou 10 volumes de documentos. Talvez, neste caso, 15 dias seja inadequado, insuficiente para análise os 10 volumes. Neste caso, expande-se o prazo porque o juiz deve assegurar ao réu uma defesa ampla. O devido processo legal não é um dever só para o legislador, por meio da criação de leis infra-constitucionais: o direito fundamental do processo justo também se dirige ao juiz imediatamente. O juiz precisa garantir às partes um processo justo; o que pode significar adequar, ajustar, flexibilizar o que está previsto na lei. Se não tem lei, o juiz cria direito. O juiz cria direitos no caso concreto.
	3.5.2.3) Evolução
CPC/73: rigidez procedimental
O CPC/73 era um bom código para o século XIX, mas não para o XX. Em 73, a ideia é de que o juiz é a boca da lei (Monstesquieu dizia isso). Segurança jurídica se realiza por meio de leis, e não por meio de juízos, que precisam ser amarrados e limitados. A adequação jurisdicional no CPC/73 não seguia, portanto, nenhum papel.
	A postura que o juiz tinha, perante o código velho, era a de seguir um manual (como os manuaisde máquina de lavar roupa). Um exemplo raríssimo é o prazo para contestação da ação rescisória: o réu não tem um prazo fixo para a postulação da ação rescisória. O desembargador, porém, marca um prazo para a ação rescisória, e esta era uma das poucas regras que concedia ao juiz uma base de liberdade.
	Se fôssemos classificar o procedimento no CPC/73, diríamos que o nosso procedimento era rígido, um elefante branco praticamente impossível de ser modificado ou ajustado pelo juiz conforme as particularidades do caso concreto. O juiz, no procedimento ordinário, não tinha o poder de conceder liminares. Só depois do trânsito em julgado poderíamos ter a satisfação do direito. Se eu fosse pedir uma liminar, o sistema só me trazia duas possibilidades: ou eu teria de recorrer ao procedimento especial ou precisaria me servir/abusar do procedimento cautelar. Teria de inventar uma ação cautelar 2. Até o trânsito em julgado, o autor apodrecia.
	Era um procedimento, enfim, rígido, engessado, sem qualquer possibilidade de ajustes, flexibilizações, adequações, realizadas pelo poder judicial.
	Nesta época haviam muitas críticas. O professor C.A.A.O., em um de seus textos (Efetividade e processo de conhecimento), havia proposto que se permitisse ao juiz uma possibilidade de flexibilização, ajustes no procedimento rígido, chato e engessado.
	Na doutrina, há o professor Fernando Gajardoni: seu trabalho de pós-graduação é chamado de Flexibilização procedimental. Ele começa a pensar de que forma dentro do CPC/73 poderíamos flexibilizar o procedimento ordinário.
	
Anteprojeto NCPC, art. 151, § 1º: texto e fonte: Nosso novo código, porém, começa em 2010. O ciclo das minirreformas vai de 1994 a 2006. Mas em 2010 é apresentado ao Senado Federal o anteprojeto (projeto preliminar, original) do CPC/2015. Quem o apresentou foi o senador José Sarney. O art. 151, § 1º, deste anteprojeto dizia:
	Quando o procedimento ou os atos a serem realizados se revelarem inadequados às peculiaridades da causa, deverá o juiz, ouvidas as partes e observados o contraditório e a ampla defesa, promover o necessário ajuste.
	Termos importantes deste artigo:
Inadequado
Deverá
Ajuste
	Este artigo objetivava dar ao juiz um poder genérico de ajustes procedimentais (no procedimento em geral) e em atos processuais individualmente considerados.
	Este artigo se baseava no art. 265-Aº do Código Português velho. Ele dizia:
	Quando a tramitação processual prevista na lei não se adequar às especificidades da causa, deve o juiz, oficiosamente, ouvidas as partes, determinar a prática dos atos que melhor se ajustem ao fim do processo, bem como às necessárias adaptações. 
	Em Portugal temos um novo CPC, de 2013. Eles mantiveram a mesma ideia, mas mudaram o número do artigo (art. 547). Eles se utilizam do princípio da adequação formal.
	O juiz deve adotar a tramitação processual adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir, assegurando um processo equitativo.
	Porém, este artigo morreu no Senado. A OAB foi contra, vários senadores se posicionaram contra este artigo também. O relator no Senado pediu que este artigo fosse suprimido.
	Na versão final, na Lei 13105, publicada em meados de março de 2015:
L. 13.015/2015: temos previsões pontuais agora para o juiz. Substituíram o 131, § 1º, pelo 139, inciso VI. Em vez de um artigo genérico ou indeterminado, o legislador resolveu conceder ao magistrado alguns poderes um pouco delimitados, como o de dilatar prazos processuais.
Mas, ao invés de dar só ao juiz o poder de efetuar adequações, ele resolveu entregar esse poder ao juiz e às partes. Isso aparece no art. 190. O nosso sistema dividiu o poder do juiz, dando, agora sim, um poder genérico e quase sem limites às partes.
Agora temos a adequação legal, jurisdicional e o convencional.
	3.5.2.4) Ferramenta
Cláusula geral processual: quem mais o estuda no processo civil brasileiro é o professor Fredie Didier. Cláusula geral processual não é uma norma, sobretudo não é um tipo de norma. Não temos regras, princípios e cláusulas gerais. Cláusula geral não é uma norma, não é uma classe, mas sim uma forma de redigir o texto normativo (ela tem a ver com o texto, não com a norma). Isso pressupondo a distinção entre texto e norma. A cláusula geral é uma técnica de redação de textos normativos. Que técnica? Essa técnica é caracterizada pela vagueza. Essa vagueza se manifesta de duas formas: ou na hipótese normativa ou na consequência jurídica. A cláusula geral é um texto duplamente vago: vago na hipótese, e vago na consequência (tanto no “se A é”, quando no “B deve ser”). Eu não sei o que acontece se eu descumprir. Ex de cláusula geral: art. 422 do CC.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
Esse artigo não trata de nenhuma consequência do descumprimento da boa-fé.
O contrário da cláusula geral é a técnica da enumeração casuística. O legislador identifica precisamente a hipótese e a consequência por meio de exemplos. Ele identifica com precisão a hipótese da norma e a consequência por meio de exemplos. Um exemplo é a Lei Antidrogas: apresenta um monte de verbos com os comportamentos que está regulando e as consequências destes regulamentos.
A cláusula geral é importante porque ela funciona como uma janela dentro do ordenamento jurídico. Se o ordenamento fosse um prédio, a cláusula geral seria as janelas do prédio. Elas conferem mobilidade e dinamismo dentro do ordenamento jurídico. Elas permitem ao juiz sair do ordenamento e buscar normas em outros sistemas sociais, como a economia, a ética e a religião, e assim enriquecer o nosso ordenamento. Se não tivéssemos as cláusulas gerais, nosso sistema seria engessado. Posso a cada época ou lugar absorver elementos da cultura ou da vivência de pessoas que estão fora do Direito.
Um código com cláusula geral costuma ter maior longevidade. Pois bem, trouxemos esta técnica para o nosso código de processo civil. A cláusula geral não traz segurança jurídica. Ao contrário: ela traz uma certa insegurança para o sistema. Eu não sei o que significa probidade e boa-fé. Essas expressões serão preenchidas pelo juiz!! Ela não traz segurança, mas sim uma certa instabilidade. Só que instabilidade é o que precisamos para o sistema se adequar às novas realidades sociais. Tenho segurança na medida em que os tribunais emitam precedentes para consolidar as cláusulas gerais. São os tribunais que preenchem as cláusulas gerais. A segurança imediatamente não tenho; tenho, na verdade, uma baderna, até que as cortes supremas (STJ e STF) estabeleçam como interpretar as cláusulas gerais.
Exemplos de cláusula geral no processo:
Art. 5º, inciso LIV: inciso do devido processo legal.
Art. 139, inciso IV: dá ao juiz o poder de empregar medidas coercitivas para assegurar cumprimento de ordem, mesmo que se trate de obrigação de pagar.
Art. 536, § 1º: é a cláusula geral executiva.
	O NCPC reclama um outro tipo de juiz: um que usa o CPC como ferramenta do trabalho, e que terá de criar coisas, porque não achará todas as respostas na lei.
Art. 139, inciso VI: poder de dilatar prazos processuais. Ex. do Fredie Didier: petição inicial com 10 volumes, 2 mil documentos.
	FPPC: é um encontro de estudiosos do processo civil. Eles aprovam enunciados, que são propostas de interpretação do NCPC: ler os enunciados 107 (o juiz pode prorrogar prazos para manifestação a respeito de documentos) e o 129 (estabelece que esta prorrogação deve ser considerada antes do término do prazo).
Art. 373, § 1º: é a dinamização do ônus da prova. É a possibilidade que o juiz tem de redistribuir o ônus da prova ou inverter no caso concreto. A diferença entre inversão e dinamização é que inversão está baseada na regra geral (Ex: CDC, art. 6º, inciso VIII), enquanto a dinamização é quando o juiz avalia quem tem melhor condições de provar no caso concreto. Ex: responsabilidade civil do médico. Em geral

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