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Catalogo Exp CesarRomero SA

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 • 50 ANOS • UM
 RESUM
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Curadoria Mirian de Carvalho
Texto de Geraldo Edson de Andrade
CÉSAR ROMERO • 50 ANOS • UM RESUMO
C É S A R R O M E R O . 5 0 Y E A R S . A S U M M A RY
Produção Patrocínio 
Curadoria Mirian de Carvalho
Texto de Geraldo Edson de Andrade
Editora Expoart, 1ª Edição, 2016
CÉSAR
ROMERO
50 ANOS
UM RESUMO
C É S A R R O M E R O
5 0 Y E A R S . A S U M M A RY
Acesse www.caixacultural.gov.br
Baixe o aplicatico CAIXA Cultural
Curta facebook.com/caixaculturalsalvador
CAIXA Cultural Salvador
Rua Carlos Gomes, 57 - Centro
Visitação: 26 Out a 27 Nov 2016
Ter a dom, 9 às 18h
caixacultural.ba@caixa.gov.br
(71) 3421-4200
Desde que foi criada, em 1861, a CAIXA sempre buscou ser mais 
que apenas um banco, mas uma instituição realmente presente na 
vida de milhões de brasileiros.
Atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável 
do País, como instituição financeira, agente de políticas públicas e 
parceira estratégica do Estado Brasileiro, é a missão desta empresa 
pública cuja história visita três séculos da vida brasileira. 
Foi no transcurso desta vitoriosa existência que a CAIXA aproxi-
mou-se do artista e da arte nacionais. E vem, ao longo das últimas 
décadas, consolidando sua imagem de grande apoiadora da nossa 
cultura, e detentora de uma importante rede de espaços culturais, 
que hoje impulsiona a vida cultural de sete capitais brasileiras, onde 
promove e fomenta a produção artística do país, e contribui de ma-
neira decisiva para a difusão e valorização da cultura brasileira além 
de promover acesso a obras de grandes artistas internacionais.
Com esta importante exposição, a CAIXA reafirma sua política cul-
tural, sua vocação social e a disposição de democratizar o acesso 
aos seus espaços e à sua programação artística, e cumpre, desta 
forma, seu papel institucional de estimular a criação e dar condições 
concretas para que o artista possa apresentar seu trabalho e divulgar 
sua arte. 
Em 2016, César Romero completa 50 anos de artes Visuais. Neste 
tempo, sua arte nunca sofreu interrupções. Desenvolveu pesquisas 
aprofundadas sobre a religiosidade e a criatividade populares, do 
fluxo inconsciente do povo brasileiro. A exposição passeia pela tra-
jetória do artista e todas suas fases, um resumo dos seus 50 anos 
de atividade contados através de seus trabalhos e todos os temas 
abordados neste período.
A CAIXA agradece sua participação e acredita, desta maneira, estar 
contribuindo para a renovação, ampliação e fortalecimento das artes 
no Brasil, e ampliando as oportunidades de desenvolvimento cultural 
do nosso povo.
Caixa Econômica Federal
Cronologia Temática
Resumo - 50 anos - 15 subtemas
1º Casarios (1966 - 1969)
2º Imaginária (1969 - 1975)
3º Selos Comemorativos (1975 - 1980)
4º Gravuras - litografias e serigrafias (1977 - 1988)
5º Paisagens com Faixas Emblemáticas (1981 - 1987)
6º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - fotografias (1981 -1992)
7º Faixas Emblemáticas (1984 - 2016)
8º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - pinturas (1986 - 1992)
9º Arraias Emblemáticas (1986 - 1993)
10º Enigmas (1987 - 1991)
11º Platibandas Emblemáticas (1988 - 1992)
12º Janelas Emblemáticas (2007 - 2009)
13º Totens Emblemáticos (2008 - 2012)
14º Urdiduras - desenhos (2009 - 2015)
15º Urdiduras - pinturas (2013 - 2015)
“Se não nos é possível atinar para que vivemos, todo o esforço 
consciente é tentar sentir o como viveram e vivem em nós as 
culturas interdependentes e sucessivas, de que somos portadores, 
intérpretes, agentes e reagentes no tempo e no espaço”.
Luis da Câmara Cascudo
in prefácio da 2ª edição do Dicionário do Folclore Brasileiro, 1959.
Este livro foi escrito pelo crítico de 
arte, Geraldo Edson de Andrade (1932 
- 2013), para as comemorações dos 
40 anos de arte do artista visual César 
Romero. Não foi possível editá-lo à 
época por inúmeras razões. Agora, para 
esta exposição, “César Romero - 50 
anos - Um Resumo”, é publicado com 
texto integral e inalterado. Atualizou-
se apenas a cronologia, com o objetivo 
de apresentar, de forma didática, o 
percurso do artista.
Expoart
César Romero
Símbolo, Código e Cor
 Apresentação 11
 Introdução 13
 Nacionalismo x Identidade 14
 Regional, Brasileira, Universal 17
 Atavismo & Sensibilidade 19
 Cultura, Artesanto e Criação. 23
 Ave, César! 26
 Cronologia Temática 35
 Resumo do Currículo de César Romero 40
 Por Conta da Crítica 47
 Autor por Ele Mesmo 68
 English Version 71
 Bibliografia 109
11
Geraldo Edson e César Romero: 
Profissionalismo e Afeto
Ter sido convidada a escrever a Apresentação do livro de Geraldo Edson de Andrade 
sobre César Romero foi para mim motivo de grande alegria. Conheci Geraldo Edson 
em 1981, ano da minha admissão na ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte). 
Em 2001, conheci César Romero na abertura de sua mostra Cromutações, no Rio de 
Janeiro. Desde então, esses dois felizes encontros proporcionaram-me - no campo 
profissional - um grande aprendizado sobre a cultura do povo nordestino, bem como 
grandes surpresas e motivos no plano do afeto. 
Contar histórias longas e plenas de humor e de dados esclarecedores de uma história 
não oficial - complementando e corroborando a história oficial da arte - era um dom de 
Geraldo Edson, nos bares e restaurantes do Centro do Rio de Janeiro, após as reuniões 
de trabalho. Ao ler este livro, que traz a fala atenta do contador de histórias, voltei-me 
para algumas questões da crítica de arte, a qual, entre outras diretrizes, se diversifica 
hoje em dois ramos básicos: a pesquisa acadêmica e o ensaio de divulgação. Conhece-
dor de Teoria e História da Arte, em virtude no exercício do magistério numa das melho-
res Universidades do Rio de Janeiro, Geraldo Edson optou pelo ensaio de divulgação. 
Tendo eu acompanhado de perto seu trabalho em todos esses anos, ora ressalto que 
a importância de tal veio da crítica, voltada para a transmissão de ideias e conceitos 
oriundos da pesquisa acadêmica e levando ao público informações fundamentais, ser-
vindo de guia aos sentidos e traduzindo - de modo simples e direto - a complexidade 
do fazer artístico e a da estética do objeto de arte. No trabalho de Geraldo Edson, tal 
perspectiva crítica, por certo, se relaciona ao seu grande talento de escritor. Nascido 
no Rio Grande do Norte, ele veio na década de 1950 para o Rio de Janeiro e, além de 
atuar com destaque na área jornalística, foi também autor de novela, teatrólogo e exí-
mio contista, o que lhe permitiu delicada agudeza para registrar as difíceis qualidades 
da arte que, no âmago, são também intrínsecas à literatura. Profundo conhecedor da 
obra de Câmara Cascudo, Geraldo Edson enfatizou, no trabalho de César Romero, a 
referência à cultura popular do Nordeste, enfocada como código, símbolo e cor. 
Em minhas pesquisas sobre a arte de César Romero, ainda que seguindo outro rumo 
no campo da crítica, volto-me para as mesmas questões tematizadas por Geraldo Ed-
son. Então, na trilha dos matizes em visitação ao solo nordestino, aproximo-me das 
tramas que reúnem códigos e imagens numa poética da cor. 
Tendo como ponto partida a imagística da colcha de retalhos, que adorna a casa e, nos 
12 13
INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, César Romero jamais prescindiu na pintura a identidade cultural do 
país onde vive e atua. O artista nasceu em Feira de Santana - uma das mais prósperas 
cidades do estado da Bahia -, vive em Salvador, é brasileiro. Não por acaso, o conteúdo 
atávico de sua obra.
O que para alguns artistas brasileiros de diversas áreas chega a ser incômodo, pois 
defendem linguageminternacional na criação, para o pintor baiano é referência funda-
mental. Sua identidade cultural, enfim, é de ser baiano, nordestino, brasileiro e univer-
sal, como ele próprio gosta de se autodefinir.
Muitos estudiosos já se debruçaram sobre a obra de César Romero, tentando inseri-la 
na contemporaneidade brasileira. O crítico Jacob Klintowitz, no livro “A Escritura do 
Brasil”, lançado em 2001, penetra com acuidade nos labirintos emblemáticos da pin-
tura do artista baiano, não só destacando os seus aspectos mais evidentes, mas confir-
mando ser ele “um pintor que se aprofunda na herança popular de seu país como de 
um manancial de vitalidade. Bebe na fonte primeva. Mas é um pintor, e não se quer 
mais ou menos do que isto. Tudo é popular e tudo é erudito. A totalidade é o Brasil. A 
anima nacional. A escritura do Brasil”. 
O crítico vai diretamente ao ponto mais vital da pintura de César Romero, que não se 
cansa de aprofundar seu pensamento pictórico na visualização do popular num plano 
erudito.
Este, a meu ver, proporciona, ao autor baiano, expandir a sua gramática plástica como 
artista que procurou, e encontrou, maneira pessoal de expor, na obra, a visão da cultu-
ra popular do seu estado - ela própria de riqueza sem paralelo no país.
É, pois, esse instigante material, conteúdo e forma que tornam peculiar a obra de um 
dos pintores mais inventivos da arte brasileira contemporânea. 
Através de César Romero - e por causa dele - fica patente o registro de manifestações 
de cunhos folclóricos, pesquisados e sensivelmente transpostos a nível culto. Uma sim-
biose de absorção de culturas díspares, que se complementam na pintura de artista, 
perfeitamente identificado com seus principais fundamentos.
dias frios, serve de abrigo ao morador, César Romero dá vida ao memorial do Nordeste. 
Em suas telas, revivemos costumes e lendas do sertão, ouvimos a fala dos objetos uti-
lizados no dia a dia pelo povo. E, sentidos atentos, percebemos grandes mistérios nas 
mesclas da religiosidade, irmanando Festas de Largo e cultos de origem afro. 
Em minha visitação ao seu trabalho, inicio pelo simbolismo do Candomblé: na pintura 
de César Romero, o encantatório abriu os caminhos para o altar de Oxumaré - o Filho 
do Senhor do Xale Brilhante - deidade do arco-íris. As luzes habitam as telas do pintor. 
Fazendo-se espelho de Oxumaré, os matizes dançam, para exaltar uma das nossas 
identidades, ao passo que também se dá visibilidade à comemoração da terra natal. 
Na pintura de César Romero, o colorido reverbera vozes de uma resistência cultural. A 
cor exalta motivos, pele e nervos da ambiência nordestina como bandeira de alcance 
universal.
Mirian de Carvalho
14 15
Ele morou vários anos em Paris, em plena efervescência de afirmação da arte, que 
caracterizaria os anos subsequentes. 
Foi essa animação cultural na Europa, após a Primeira Guerra Mundial, que ele trouxe 
para o Brasil, este ainda continuando sob o academicismo, ou neoclassicismo, à som-
bra do poder público. 
Inconformado com o meio artístico canhestro do país nos anos 20, Di Cavalcanti pre-
ocupava-se, sim, com as novas linguagens que avançavam mundo afora, infelizmente 
ainda desconhecidas no Brasil, principalmente dos nossos principais artistas plásti-
cos. Curiosamente, alguns dos grandes nomes da nossa pintura acadêmica estavam 
na Europa, desfrutando os prêmios de viagem, patrocinados pelo governo, enquanto 
eclodiam os grandes movimentos que abalariam definitivamente a história da pintura; 
esses artistas, porém, não quiseram ver, nem tampouco foram por eles influenciados. À 
exceção de Ismael Nery (1900-1934), misto de pintor e filósofo paraense. Este residia 
no Rio de Janeiro e viveu de perto o surgimento do surrealismo durante sua estada 
na Europa no princípio dos anos vinte. Consequentemente, o incorporou à sua obra, 
embora na época não tenha sido devidamente reconhecido por essa ousada façanha 
em termos nacionais.
Não faltava talento aos nossos artistas para lidar com as inovações que surgiram su-
cessivamente. Desde quando D. João VI transferiu a coroa portuguesa para o Brasil, 
em 1808, o estado sempre protegeu a arte em geral e as artes plásticas em particular. 
Fez isso não só inovando, ao importar da França artistas e mestres de ofício para es-
tabelecer as bases do ensino da arte entre nós - caso da Missão Artística Francesa de 
1816 - como, igualmente, estimulando-as através de premiações anuais com viagens à 
Europa àqueles que mais se destacavam nos salões de arte promovidos pela Academia 
Imperial de Belas Artes.
A iniciativa governamental proporcionou, a muitos deles, aperfeiçoar no estrangeiro 
seus indiscutíveis méritos artísticos, na Itália e França, principalmente. Como o Bra-
sil continuava estética e oficialmente sob a égide acadêmica e/ou neoclassicismo, a 
maioria dos pintores e escultores premiados naqueles salões de arte esmerava nessa 
linguagem, estimulada pelos membros da Missão Artística Francesa, com o intuito, 
obviamente, de agradar o mecenas patrocinador, no caso, o próprio rei, depois substi-
tuído pelo filho que o sucedeu, o Imperador D. Pedro I.
Curiosamente, havia também o pouco conhecimento, ou divulgação, do trabalho de 
artistas nascidos no Brasil e atuantes em províncias economicamente desenvolvidas - 
Ouro Preto, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. 
NACIONALISMO X IDENTIDADE
Há um falso conceito de que a arte brasileira tende para o folclórico na forma e no 
conteúdo, quando envereda por temas ditos nacionalistas. Um receio infundado de 
que a obra, ao se identificar com a terra, seus usos e costumes, com sua gente, enfim, 
oscila entre maneirismo e a linguagem chamada naïf, estilo de pintura espontânea, não 
querendo outra coisa, a não ser evocar e/ou documentar a vivência do artista no seu 
meio ambiente.
Declarações nesse sentido têm sido frequentemente divulgadas por parcela considerá-
vel de intelectuais brasileiros de variadas áreas, contradizendo alguns dos mais repre-
sentativos nomes do chamado modernismo em nosso país, como Emiliano Di Caval-
canti (1897-1976) e Tarsila do Amaral (1886-1973), para citar dois representantes de 
uma corrente que trabalhou para romper as amarras de uma pintura regional, visando 
a ser, ao mesmo tempo, brasileira e universal. Na verdade, isso foi o que eles mostra-
ram no desenvolvimento posterior de sua obra.
Acrescente-se ainda que os dois pintores mencionados tiveram vivência no exterior, 
sofreram influências de linguagens então em voga na Europa, onde residiram, e re-
tornaram ao Brasil, imbuídos de mudanças, pioneiros que são de uma nova estética 
brasileira, a qual esboçava-se desde os primeiros anos do século XX. 
A pintura de César Romero está inserida nessa corrente. É baiana, nordestina, brasi-
leira e universal. 
É muito bom que isso aconteça. A conscientização de que precisamos caracterizar o 
objeto artístico com o qual trabalhamos é velha luta e pretensão, se é que assim pode-
mos dizer, de nossos intelectuais desde tenra época.
Um dos pintores mais representativos da nacionalidade brasileira, Emiliano Di Caval-
canti, idealizador e mentor da controvertida Semana de Arte Moderna de 1922, cuja 
temática posterior concentrou-se na figura da mulata, como a exemplificar, através 
dela, a miscigenação da raça brasileira. O que torna cada vez mais atual as suas de-
clarações na década de 20, segundo as quais “a nossa arte tem de ser como a nossa 
comida, o nosso ar, o nosso mar. Tem de ser reveladora da nossa cultura, pois a boa 
arte é sempre cultural, e sua dimensão própria é a de antecipar o momento cultural. 
O artista verdadeiro torna-se moderno para a sua época: ele traz o novo, é o arauto de 
uma nova era”. 
O pintor carioca nãoera arraigado tão somente às nossas tradições como intelectual. 
16 17
cia, oscilando entre a paisagem nativa exuberante e a visualização de imagens, exal-
tando o índio em sua plenitude, como na tela Iracema, de 1909.
Todo esse preâmbulo é para situar a presença de César Romero no contexto da arte 
brasileira. Principalmente de sua pesquisa e da profunda observação do que seja cul-
tura popular em relação à chamada arte erudita.
Trabalhando temas brasileiros, investigou e coletou fontes matrizes da invenção do 
povo simples, estabelecendo um acúmulo de informações de grande importância na 
visualidade nacional. 
REGIONAL, BRASILEIRA, UNIVERSAL
O homem César Romero é um múltiplo. Para acompanhar seu trabalho, já conhecido 
nacional e internacionalmente, tantas têm sido suas exposições no Brasil e no exterior, 
necessário se torna conhecer seu universo, seja ele plástico ou literário, sem esquecer 
a sua formação acadêmica como médico, com especialização em Psiquiatria. 
Formatado esse bloco, as suas múltiplas atividades podem ser analisadas isoladamen-
te, para se chegar a um denominador comum: o pintor César Romero.
Esse baiano, nascido em 1950, em Feira de Santana, um dos municípios mais prós-
peros da Bahia, carrega o estígma de ser muito em uma única pessoa; ele não se aco-
moda a uma atividade somente, porém expande a criatividade por outras tantas áreas, 
buscando executar tudo com dedicação e disciplina.
Sendo ele artista de extrema sensibilidade, pelo olhar arguto, capta o inusitado das coi-
sas ao seu redor, incluindo nesse olhar sua própria razão de ser, como homem e pintor. 
Sua sensibilidade, portanto, o torna um homem de sete instrumentos, capaz de transi-
tar com galhardia na pintura, medicina, fotografia, jornalismo, crítica de arte, curadoria, 
conferencista, empresariado e fazendeiro. Mas se alguém lhe pergunta qual, entre as 
profissões citadas, mais lhe toca, ele não hesitará em responder: é a pintura. 
César Romero é baiano. O dado é importante porque, na complexidade antropológica 
do homem brasileiro, a Bahia não só representa a mais perfeita e a maior integração 
racial representada pelo elemento europeu e africano, como também por ser essa 
integração o reflexo da assimilação entre culturas díspares em busca de afirmação da 
raça nacional. 
O maior de todos eles, Aleijadinho, como era conhecido Antônio Francisco Lisboa 
(1738-1814), filho de uma escrava com português, aliava o talento autodidata à arqui-
tetura e à escultura, um gênio do Século XVIII que o Brasil teimava em ignorar. 
Aleijadinho passaria século desconhecido no seu país, até ser motivo da admiração dos 
artistas modernistas de 1922, que se reverenciaram ao seu genial trabalho, no período 
barroco, característico das cidades das Minas Gerais, onde residia.
Um dos seus mais conhecidos admiradores e divulgadores, o francês Germain Bazin, 
estudioso do nosso barroco, dedicou-lhe uma biografia, publicada em Paris, em 1963, 
e em edição brasileira, em 1972. Para Bazin, Aleijadinho foi o Rodin dos trópicos pelo 
admirável trabalho de escultura que fincou, tanto em Minas Gerais como no Rio de Ja-
neiro, a raiz de uma arte essencialmente brasileira, não somente sendo ignorada pela 
Missão Artística Francesa, mas também não lhe dando a importância de vida. 
Não é de admirar, todavia, que nomes como do catarinense Victor Meirelles (1832-
1903) e do paraibano Pedro Américo (1843-1905), exímios pintores de uma mesma 
geração, não tenham avançado ou ousado mais em seus próprios trabalhos após o 
aprendizado europeu. Às vezes eles se aproximavam de temas nacionais, como no 
caso de nossos feitos guerreiros e históricos, que eles tão bem souberam captar em te-
las de grandes dimensões, a exemplo de Primeira Missa no Brasil (1859) e de Batalha 
do Avaí (1877), em concordância, portanto, com a tendência em voga, qual seja a de 
exaltar valores patrióticos nacionais.
Consequentemente, recebiam honorários e fartos elogios da imprensa, de intelectuais 
e do público, sensibilizados pela gama de criatividade que exalavam das duas enormes 
telas.
A pintura de Victor Meirelles e Pedro Américo, porém, não se limitava somente a esses 
temas ditos patrióticos. Iam além, expandindo seus temas às cenas bíblicas, do Velho 
ao Novo Testamento, em versões de impecável acabamento artístico, cada vez mais 
distantes, porém, da nacionalidade de cada um.
Raras vezes, os acadêmicos brasileiros enveredavam pelo indianismo, por exemplo, 
que começava a se firmar nas páginas de romances de José de Alencar e na poesia 
de Gonçalves Dias.
Este já seria um tema destinado a questionar a identidade brasileira. 
Um pintor como o fluminense Antônio Parreiras (1860-1937) acentuava essa tendên-
18 19
Da mesma maneira, Alfredo Volpi (1896-1988), italiano de nascimento que chegou aos 
18 meses no Brasil, radicando-se em São Paulo. Ainda dentro da mesma linguagem 
construtiva, Volpi viu nas fachadas e nas bandeirinhas festivas das cidades do interior 
brasileiro uma forma de geometrizar o nosso cotidiano, dando realce à cor - um cro-
matismo de tons tropicais, valorizado pelas texturas de um artista preciso de impecável 
técnica.
Já o pintor sergipano, Antonio Maia, partiu de um símbolo - no caso o ex-voto ou ofe-
renda para o pagamento de promessas aos santos da devoção popular - para discutir, 
pela pintura, os rumos do homem na sociedade e suas implicações sociorreligiosas. 
O resultado é iconografia de forte expressividade, mormente quando se aprofunda no 
tema, que não só representa as agruras do homem nordestino, região de onde o artista 
vem, como pode ser estendida a qualquer nacionalidade. Trata-se de simbologia, cuja 
crença remonta às mais antigas civilizações, como bem observou o antropólogo Luiz 
da Câmara Cascudo, em diversos estudos publicados sobre a devoção aos santos do 
imaginário popular no Brasil.
A citação desses três pintores - Rubem Valentim, Alfredo Volpi e Antonio Maia - tem 
razão de ser: são artistas pelos quais César Romero sente aproximação, não só no 
campo cromático como, igualmente, por serem pintores que vão fundo ao filão popular. 
Como ele próprio.
Depois, há os chamados artistas naífs. Estes são pintores e artesões que, por intuição, 
espontaneidade ou tradição, transpõem, para as telas, esculturas ou gravuras, um uni-
verso pessoal, transmitindo pela singeleza, criativa e poética ao mesmo tempo e sem 
rigor formal, um trabalho rico em autenticidade concernente à realidade que os cerca. 
César Romero, pois, com sua pintura formatada no mesmo filão, embora transfigura-
da pelo rigor da forma e pelas cores luminosas de sua paleta, não está isolado desse 
contexto. 
ATAVISMO & SENSIBILIDADE
César Romero nasceu em Feira de Santana, 1950, cidade que dista 108km de Salva-
dor, capital do Estado da Bahia. O nome da cidade originou-se da grande feira livre que 
semanalmente acontecia às segundas-feiras. Como não podia deixar de ser, a cidade 
evoluiu em torno desse evento de grandes proporções econômicas, paralelamente a 
forte cultura emanada da terra e de sua gente. Hoje, Feira de Santana é maior muni-
cípio baiano, celeiro de importantes artistas plásticos, principalmente, que convivem 
César Romero respira o mesmo ar e banha-se nas mesmas águas de outros tantos 
baianos ilustres. Como esses, o pintor é arraigadamente atávico, seja na formação, 
seja na maneira como encara o mesmo sotaque nordestino, responsável por fazer a 
grandeza de nomes como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e João Gilberto na música, 
Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro na literatura, Glauber Rocha no cinema e, indo 
além, Castro Alves, o bardo revolucionário que unia, em um mesmo cântico, política, 
liberdade e amor - como se elas não estivessemimplícitas na ordem natural do senti-
mento humano. Não se pode esquecer a sensualidade no sentido mais lato, uma das 
evidências do povo baiano, presente na cor do seu habitante, na diversidade musical 
dos instrumentos de percussão de origem africana, já incorporada à sua harmonia, a 
fluidez da prosa de seus escritores e, finalmente, na criação vinda do povo, represen-
tada pelas Festas de Largo, nos adros de suas igrejas representativas, festas religiosas 
e profanas ao mesmo tempo e unidas pelo sincretismo, que tão bem expressa a alma 
popular.
***
Uma síntese dessas peculiaridades está presente na obra pictórica de César Romero. 
É desse veio abundante de informação e visualização de onde se origina a sua lingua-
gem. 
Não é por nada que, munido de máquina fotográfica, e bloco de anotações, o artista 
capta, por onde passa, os aspectos mais instigantes do fazer e do sentir do homem co-
mum para, mais tarde, depois da proposta digerida, inserir na criação artística, já num 
plano de erudição plenamente incorporada ao seu dicionário plástico.
Certamente César Romero, como pintor, não é o único brasileiro a tentar romper as 
fronteiras entre popular e erudito.
A arte brasileira oferece várias opções com relação a artistas que foram à fonte popular 
em busca de conferir identidade cultural à sua obra. Três deles devem ser destacados, 
porquanto serem alvos da admiração de César Romero: Rubem Valentim, Volpi e An-
tonio Maia. 
O também baiano Rubem Valentim (1922-1991), um construtivista na acepção, tran-
sitou entre diversas áreas da criação, da pintura à escultura, deixando bem claro que 
a linguagem construtiva pode desenvolver uma obra, na qual símbolos do Candomblé 
integram-se plasticamente às formas geométricas, sem perder a magia da fonte inspi-
radora. Principalmente nas esculturas, totens da mais alta significação ritualista, Ru-
bem Valentim alcança momentos de rara expressividade como arte e espiritualidade. 
20 21
faziam as suas transições comerciais; os comerciantes das cidades italianas de Veneza 
e Florença, no Século V, negociavam seus produtos sentados em bancos de praças 
com a mesma finalidade - daí a origem da palavra banco como conhecemos as insti-
tuições financeiras dos nossos tempos. 
Na obra Civilização e Cultura (Livraria José Olimpio, RJ, 1973, 2º Volume) o etnólogo 
norte-rio-grandense, Luis da Câmara Cascudo, acentua que “o aparecimento da feira 
denuncia um adiantamento notável na regularidade das comunicações, garantias in-
dividuais, segurança nas travessias e conhecimento normal da efetuação local, datas, 
gêneros que podiam ser expostos à venda, sabendo-se da prévia necessidade deles na 
região ou de sua compra para outras paragens carecentes”. 
O mesmo autor acentua ainda que “a denominação latina, feria, festa, solenidade, 
dia votivo, feira, fair, também dirá de sua periodicidade, a nundinae, cada nove dias, 
e mercatus, em certa época. (...) De sua importância social deduz-se pelo efeito de 
constituir o veículo mais ativo de comunicação humana, convívio recíproco, influência 
em todos os ramos da atividade, do idioma à culinária”.
***
Mas há outro importante aspecto veiculado às feiras livres: o sócio-cultural, representa-
do pela produção regional - a atividade artesanal à qual se dedicam homens, mulheres 
e crianças de baixa renda que, com esse trabalho específico, contribuem para renda e, 
consequentemente, sustento familiar. É inserido nesse contexto o sentido da frase de 
Marcuse: “A Arte é a expressão, pelo homem, de seu prazer no trabalho”.
Constitui-se, assim, como uma tradição peculiar de criar, porque se trata de criação a 
nível popular, passa de geração em geração, sem que qualquer um de seus seguidores 
tenha a pretensão de ser artista ou fazer arte. 
Mas é Arte. Diante dela, há sempre a lembrança de conceitos, emitidos por William 
Morris (1834-1896), em torno de arte e indústria que tanto incrementaram os questio-
namentos artísticos na virada do século XIX para o XX.
Qual a relação entre William Morris e o artesanato brasileiro? Nada, a não ser que o es-
teta inglês talvez tenha sido o primeiro teórico a reconhecer o toque artístico do objeto 
feito manualmente, embora repudiasse a produção em massa. 
Em todo o Brasil, situado nas pequenas localidades, o artesão, ou artista-artesão como 
definia o estudioso Edson Carneiro, trabalha seu material - barro, madeira, pano, fios 
numa cultura entre a tradição e a contemporaneidade. 
Quem viveu (ou vive) em pequenos burgos ou deles participou, conhece a importância 
desses encontros para a vida da cidade. No Norte e Nordeste do Brasil, sobretudo. 
Nessas feiras livres, vende-se de tudo e, ao mesmo tempo, tais locais transformam-se 
em pontos de encontro para transações financeiras, contribuindo para fortalecer e 
prosperar social e economicamente os municípios que as abrigam; outro aspecto, não 
menos importante, refere-se na verdade a acontecimentos que envolvem a própria 
comunidade local numa confraternização de cunho social.
Não foi diferente em Feira de Santana. A grande feira, conhecida em toda região e 
alhures, atraía gente não só de municípios próximos, como igualmente de outros esta-
dos brasileiros, tendo em vista a variedade de produtos da terra oferecidos. Por outro 
lado, dava oportunidade de iniciar negociações de vulto a nível estadual, tornando-a 
ponto de referência nacional. 
No caso de Feira de Santana, havia duas feiras distintas. A livre, propriamente dita, co-
mercializava produtos regionais e de municípios próximos, tais quais gêneros alimen-
tícios essenciais à rica cozinha local, carnes, aves, verduras, frutas, materiais de uso 
pessoal e decorativo, bem como artesanato em barro e madeira, colchas de retalhos e 
brinquedos. Tudo dentro de inusitada criação popular, onde convivem numa mesma 
peça forma e cor. 
A outra feira, a de gado, no Campo do Gado, é o agrupamento de grandes fazendeiros 
da região e da vizinhança. Enfim, uma espécie de bolsa financeira específica, voltada 
a grandes transações.
Nela, fazendeiros reuniam-se para a compra, venda ou troca de bois (referência pri-
meira e mote principal), cabras, porcos, cavalos, burros e jumentos. O local era cenário 
perfeito para se confrontar preços e estabelecer cotação às mercadorias oferecidas, 
nos parâmetros conhecidos hoje como livre concorrência.
A feira livre, porém, não era exclusividade do comércio e atraía a atenção de outra 
parcela da população local para as novidades trazidas pelos mascates da capital e que 
tanto aguçavam a curiosidade e o interesse de moças e rapazes. Afinal, a feira também 
era ponto de encontro social. Um shopping center ao ar livre, seria a definição perfeita 
para a concentração.
Feira livre existe desde tempos imemoriais. Os gregos denominavam ágora o local onde 
22 23
Com seu espírito empreendedor e visionário, Assis Chateaubriand sonhava em criar ou-
tros museus semelhantes por outras cidades do Brasil, principalmente pelo Nordeste, 
região de origem (ele nasceu na Paraíba). 
Em 1967, ele fundou o Museu Regional de Arte de Feira de Santana, com significativa 
doação de obras de autores brasileiros, bem como uma coleção de trinta obras de 
importantes artistas contemporâneos ingleses dos anos 1950 e 1960. Relacionam-se, 
a seguir, os nomes dos artistas: Antony Donaldson, Alan Davie, Bary Burman, Michael 
VanGhan, Frank Auerbach, David Leverret, Brett Whiteley, Byron Organ, David Oxtoby, 
JR Joe Tilson, Lovis Le Brocquy, Neville Kink, Patrick Procktor, Derek Hirst, Derek 
Snow, Howard Hodgkin, Graham Sutherland, Reynolds, Tery Frost, Wishaw, John Piper, 
John Kiki, Paul Wilks e Pauline Vincent. 
Considerada a maior representação de pintores da Inglaterra em um sómuseu brasilei-
ro, as obras em óleo sobre tela, óleo sobre eucatex, esmalte sobre metal, técnica mista 
sobre eucatex e técnica mista sobre papel, desde então, vêm desafiando não somente 
o visitante de fora, mas, principalmente, os artistas nascidos e criados em Feira de 
Santana, diante do raro privilégio de estar frente a frente com um conjunto de obras 
de primeira grandeza da arte europeia. Melhor formação artística para cada um deles, 
impossível. 
Mas um jovem, em especial, foi tocado por aquelas obras, as quais representavam 
descoberta fundamental para seu modo de ver arte, numa cidade como Feira de San-
tana, também no início do processo desenvolvimentista para se transformar no grande 
centro interiorano da atualidade na Bahia. 
Na verdade, César Romero encontrou, na obra dos artistas nacionais e britânicos, a 
confirmação de que a Arte, mais cedo ou mais tarde, ocuparia de maneira absoluta a 
criatividade já latente no seu interior. 
CULTURA, ARTESANTO E CRIAÇÃO.
Não há povo sem cultura. A partir dessa premissa, verdade inconteste, qualquer um 
pode olhar e começar a sentir que tudo a seu redor tem ligação, direta ou indiretamen-
te, com a cultura á qual pertence. O próprio termo cultura é muito abrangente.
No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o verbete cultura é assim apresentado: 
1.Cultivo; 2.Criação de certos animais; 3.Conjunto de crenças, costumes, atividades 
etc. de grupo social; civilização; 4.Conhecimento; instrução. No registro de Houaiss, 
vegetais, ferro, etc. - sob a admiração e aceitação dos habitantes locais, seus princi-
pais consumidores. Entre esses artesões, destacam- se os escultores de imagens de 
santos e outros ícones sagrados em madeira, os santeiros, de grande penetração po-
pular. Muito desses ultrapassaram os limites regionais para se impor nacionalmente, 
alguns mesmos deixando o anonimato, para serem reconhecidos como escultores sob 
beneplácito da crítica de arte e pesquisadores, chegando às galerias comerciais com 
receptividade por parte dos colecionadores. E vão mais além, quando despertam a 
admiração de artistas da chamada norma culta; ou seja, pintores e/ou escultores de 
formação intelectualizada, de trânsito aberto no mercado de arte.
O mundo mágico de brinquedos de barro e madeira, de objetos de ferro e de utensílios 
domésticos, de panos transformados em colchas de retalhos, formando retângulos e 
círculos coloridos, de palhas sendo usadas na confecção de tapetes, sobretudo, des-
pertavam desusada atenção, quiçá deslumbramento, ao menino César Romero, quan-
do acompanhava o pai, fazendeiro criador de gado, às feiras livres de Feira de Santana 
e de regiões vizinhas. 
Aqueles objetos simples, porquanto puros na acepção, quase ingênuos no fazer e no 
sentir de pessoas humildes e criativas, um dia deixaria o imaginário infantil de César 
Romero, para eclodir na criação plástica de um artista que, a partir de então, procura 
uma pintura de cunho nacionalista, sem jacobinismo; ou, como ele costuma afirmar: 
“... algo que fosse referência da minha cidade natal, Feira de Santana, da minha se-
gunda cidade, Salvador, do meu Estado a Bahia, da minha região, o Nordeste do Brasil, 
enfim...”.
***
César Romero estava com 17 anos, residindo em Salvador, como aluno de Colégio 
Marista, na mesma cidade, quando, em 1967, Feira de Santana ganhava o Museu 
Regional de Arte. Inaugurado no dia 26 de março de 1967 por iniciativa do jornalista 
Assis Chateaubriand (1891-1968), fundador dos Diários Associados, então o maior 
complexo jornalístico do país, e Embaixador do Brasil na Inglaterra.
Chateaubriand tinha compromisso com a cultura brasileira. Uma de suas grandes ini-
ciativas, a criação, em 1947, do Museu de Arte de São Paulo-MASP, detém a maior 
coleção de pinturas e esculturas de arte europeia na América do Sul. Seu patrimônio 
reúne artistas do quilate de Ticiano, Rafael, Goya, Tintoretto, Chardin, Ingres, bem 
como aqueles outros que fizeram e revolução da arte moderna - Manet, Renoir, Matis-
se, Van Gogh, Léger, Degas - e clássicos nacionais do porte de Portinari, Di Cavalcanti, 
Tarsila do Amaral, Anita Malfati e Vicente do Rego Monteiro.
24 25
em 1974, optou pela Psiquiatria, especializando-se em Psicoterapia Individual e Gru-
pal, com intensa atividade clínica, sendo hoje um dos mais conceituados psiquiatras 
baianos.
 Autodidata em pintura, ele iniciou em 1971 a participação em salões de arte nacio-
nais, despertando o interesse crítico para a sua pintura. Outro interesse plástico foi a 
fotografia, com a qual conquistou premiações que muito o incentivaram.
Não resta dúvida de que o olhar de César Romero através da máquina fotográfica 
foi-lhe benéfica, concernente a sua pintura. O material estava ali presente, a sua dis-
posição, não somente em Salvador, onde residia, como também em Feira de Santana 
e outras cidades interioranas, repositórios do que de mais tradicional encontra-se na 
terra baiana.
Portanto, não é de admirar sua escolha pelas manifestações populares, ou a arte que 
vem do povo, como enfoque do seu trabalho. Nesse particular, estava ao seu alcance 
um universo particularmente rico em forma e conteúdo, a cuja interpretação, a nível 
erudito, César Romero deu sempre o melhor de si, como artista.
Há anos, o pintor baiano vem aperfeiçoando cada vez mais a integração do popular na 
sua obra. Nas diversas fases em que trabalhou a temática, com séries intituladas em-
blemáticas, uma coerência estilística estava presente de maneira inquestionável: a cor.
Pelo colorido, César Romero se destaca entre os pintores baianos e os brasileiros, for-
mando com eles uma espécie de corrente, em função de identificar a pintura por eles 
realizada como uma obra brasileira. A cor, nele, já é um elemento autônomo.
O pintor começou intuitivamente, entretanto jamais abdicou suas convicções nacio-
nalistas em termos visuais. Como baiano, sabia haver, ao redor, campo de ilimitadas 
perspectivas plásticas. Nele estavam dois dos elementos de fascínio na arte: a forma 
e a cor. 
As pesquisas representam a maneira de antecipar a obra, razão pela qual merecem 
sua inusitada atenção. Em várias ocasiões, o pintor reafirma essa convicção, quando 
diz “venho pesquisando, estudando, coletando, reinterpretando e recriando a simbolo-
gia do Nordeste e os signos afro-brasileiros. Das colchas de retalhos e seu vocabulário 
(os sinais do povo), que chamo de Faixas Emblemáticas; através de permutações, 
aprofundo e discuto Pintura”. 
À primeira vista, a obra de César Romero parece ser de fácil execução, por causa prin-
salienta-se a cultura agrícola e a criação de animais para definir outras finalidades de-
correntes da mesma palavra. 
Quando falamos de cultura, ou tentamos defini-la, logo nos ocorrem essas especifica-
ções, a mais importante, sem dúvida, caracterizado-a diretamente ao homem e seu 
comportamento no meio em que vive e atua.
César Romero é homem culto. Não só pela formação humanística, como igualmente 
pela preocupação com o meio onde exerce suas atividades profissionais e artísticas. 
Ao mesmo tempo em que a medicina psiquiátrica ocupa parte do tempo dele, exercita 
a parte teórica, como crítico de arte, em jornais da capital baiana por mais de trinta 
anos. Seu interesse, porém, estende-se a outras áreas culturais: música popular, em 
especial a brasileira e a latino-americana, bem como a literatura, sobretudo a poesia. 
Poetas como Fernando Pessoa, Alexandre O`Nell, Mario Quintana, W.H. Audem, Helio 
Pellegrino, Walmir Ayala, Raul Bopp, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Luis Bor-
ges, Manuel Alegre, Konstatntino Kava´Fis, Ferreira Gullar, Anna Akhmátova, Arthur 
Rimbaud, Álvaro Alves de Faria, Mirian de Carvalho, William Blake, Péricles Prade,Jorge Luís Borges dentre outros, são frequentes nos seus solilóquios e conversações. 
Curiosamente, César Romero nasceu em 1950, quatro anos depois que um grupo de 
artistas plásticos de Salvador, com novas ideias, tentava implantar a estética moder-
nista no âmbito estadual, sob a liderança do escultor Mário Cravo Junior (1923-), do 
pintor e depois tapeceiro Genaro de Carvalho (1926-1971) e do pintor Carlos Bastos 
(1925 - 2004). A eles se juntariam depois outros nomes como Lygia Sampaio (1928-), 
Rubem Valentim (1922-1991) e Carybé (1911-1977) - desenhista e pintor argentino 
que, encantado pela terra baiana, nela se radicou. Não se pode esquecer ainda, no 
grupo, a presença do pintor sergipano Jenner Augusto (1924-2003). Este, em 1949, 
marcara historicamente o modernismo em Sergipe, com uma pintura decorativa no Bar 
Cacique, em Aracaju. 
César Romero começou a encarar a pintura com maior seriedade a partir de 1967. 
Neste ano, participa do 1º Encontro Intercolegial de Artes Plásticas (1ºEICAP), reunindo 
colégios da capital baiana. Sua tela - uma igreja pintada de vermelho, e as casas ao 
redor, pintadas respectivamente de amarelo e azul - conquistou prêmio, concedido por 
um júri encabeçado, dentre outros, pelo crítico de arte Wilson Rocha, e pelos pintores 
João José Rescála, Riolan Coutinho e Juarez Paraíso, e pela escultura Mercedes Krus-
chewsky. 
A medicina, porém, era apelo visceral. Formado pela Universidade Federal da Bahia, 
26 27
muito usuais. Não tenho medo da cor, ela faz parte da herança tropical baiana e nor-
destina. A cor me localiza. Sou um observador compulsivo da luz e suas consequên-
cias. Sou intenso.
G.E.A. - Além da cor, você valoriza tema?
C.R. - Sim, tenho um programa teórico, que é fio condutor do meu processo como ar-
tista. É algo defensável. Não sou de improvisações, por não saber o que fazer. Acordo 
cedo e vou cumprir minha missão, minha escolha. Nos últimos 35 anos, investigo uma 
linguagem e uma visualidade brasileira. Não vou desistir nunca, estou condenado a 
essa procura. É algo difícil e trabalhoso. O popular é sempre matriz, e busco registrar 
as marcas que o povo criou, seja na religiosidade afro-brasileira, na católica, nos brin-
quedos populares, na cerâmica, nas festas do povo e lendas do Nordeste. Busco uma 
reinterpretação do que vejo, uma metalinguagem.
G.E.A. - Sua pintura é regionalista?
C.R. - No fundo, busco valorizar minha região, suas características, tradições e peculia-
ridades. Nosso país tem culturas diferenciadas. E isso é bom. Regionalismo é assumir 
identidade. Qualquer arte, que tenha como viés sua terra, é universal. O artista tem 
que produzir o seu meio, voltar-se para suas raízes. Essa é minha verdade pessoal, 
não quer dizer que seja uma lei para todos. É para mim. Aprendi na vida a respeitar as 
diferenças. Respeito todo pensamento alheio e quero que respeitem o meu. Cada qual 
use sua liberdade e crie. 
G.E.A. - Essa busca de brasilidade vem desde quando? 
C.R. - O ponto de partida foi a colcha de retalhos que apareceu em minha pintura 
no início de 1978. A colcha de retalhos é muito comum em localidades mais pobres, 
quando se unem pequenos retalhos que sobram. Costuram-se uns nos outros, até se 
formar uma peça grande, para aquecer nas noites ou servir de cobre-cama pelo dia. A 
variedade de cores, formas, texturas e angulações é fascinante. Aí temos arte popular 
utilitária, que surge de força da privação, da pobreza, da necessidade de viver, resistir. 
- Feita a colcha de retalhos, que é bandeira, que é estandarte, que identifica, festeja 
fatos, aglutina, inscrevi nela um vocabulário nordestino: símbolos, marcas do candom-
blé, dos chapéus e roupas dos cangaceiros, dos vaqueiros, do artesanato, da cerâmica 
popular utilitária e lúdica, mandacarus, árvores e arbustos sintetizados, a zoomorfia 
nordestina, a puxada do xaréu, o bumba meu boi. As arraias e periquitos dos céus de 
verão com suas crianças pançudas na outra extremidade da linha. O sertão, o sol com 
cipalmente do desenho de aparente simplicidade. Este é o primeiro enigma a dela se 
desprender, quando sabemos ser justamente nas coisas mais simples onde qualquer 
autor encontra as maiores dificuldades. Ser simples requer, antes de tudo, conheci-
mento e elaboração, bem como domínio da técnica, sem perder a emoção implícita.
Excelente colorista, César Romero parte de um tom da cor para expandi-lo harmonio-
samente pela superfície da tela, através de pinceladas em busca dos espaços com as 
sutilezas de um pontilhismo de refinada elaboração.
É esse sutil rebuscar que esboça mentalmente, ao iniciar o quadro, uma das peculia-
ridades do pintor nas texturas criadoras da sua gramática plástica, acabando não so-
mente por seduzir o espectador, mas indo mais fundo, estabelecendo a empatia entre 
o olhar e a obra de arte. 
César Romero firma sua crença numa arte nacional, uma ode ao ato de pintar e uma 
declaração de amor à cor; na verdade, a sua razão de viver e trabalhar uma visualida-
de, que reflita a terra e o seu povo.
AVE, CÉSAR!
Nesta entrevista, César Romero procura discutir seu pensamento plástico-visual. Prin-
cipalmente, revela a maneira de criar e como seu fazer artístico o envolve desde a tela 
em branco ao resultado final.
G.E.A. - O que é arte?
C.R. - Arte é invenção de linguagem. Transfigurações. 
G.E.A. - Você é essencialmente um pintor?
C.R. - Sou, exploro a cor à exaustão. As possibilidades de combinações, os ajustes, 
as entonações, as potencialidades cromáticas. Minha pintura é um exercício da cor. 
Trabalho o que resulta de uma cor diferente sobre outra interpenetrante e ela em sua 
integridade. Não é fácil o trabalho de cor. É um desafio que enfrento sem nenhum 
temor, chego à zona de perigo. 
G.E.A. - Você se considera um colorista?
C.R. - Sim, sei manejar cor com certa desenvoltura e crio possibilidades que não são 
28 29
os signos, a carga inventiva e os sinais da nossa gente. Fixar é arrumar o fugaz. 
G.E.A. - Seu trabalho tem um compromisso com o Brasil?
C.R. - Tem sim, busco uma linguagem e uma visualidade brasileira. Não vou desistir 
nunca, estou condenado ao prazer e a tortura desta procura. É algo difícil e trabalhoso. 
Requer responsabilidades para não se cair no banal, no folcloroso puro e simplesmen-
te. O popular é sempre matriz. Busco registrar as marcas que o povo criou em sua 
sabedoria, vivência e intuição. Assim, o popular e o erudito se complementam.
G.E.A. - Você é um documentarista?
C.R. - Não sou um documentarista. Busco uma transfiguração do que vejo e vivo. No 
fundo, faço uma síntese plástico-visual dos sinais do povo. Há coerência e sinceridade 
em todo esse tempo que pinto. Continuo fidelíssimo ao meu pensamento. Não sou de 
improvisar. 
G.E.A. - Você faz anotações do que vê?
C.R. - Faço anotações com caneta tinteiro em qualquer papel disponível. Depois revejo, 
penso, dou a minha interpretação e monto meu arquivo. A primeira coisa que faço, 
quando vou a alguma cidade, é fotografar os mercados populares e o artesanato local. 
O resultado vale como foto mesmo e como referência para as pinturas.
G.E.A. - Existiram outros momentos?
C.R. - Existiram as Paisagens com flâmulas soltas sobre elas; os Enigmas, que são 
relações com os símbolos afro-brasileiros, chapados, funcionando como tatuagens co-
loridas; as Platibandas Emblemáticas são frontispícios das casas simples do interior da 
Bahia, feitas por mestres de obra e pedreiros, que guardam visões populares em seu 
bojo. As Arraias Emblemáticas são pipas, de cores fortes, onde aplico meus símbolos. 
As arraias ou pipas são um dos grandes prazeres dos meninos nordestinos. São pin-
turas que voam. Os Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - é a metageometriados 
tamboretes com tampos dos bancos pintados, para identificar o proprietário. Tenho 
uma série de pinturas e fotografias destes módulos. Tudo é interligado. São diferentes 
momentos de um mesmo pintor, seguindo sempre o popular como matriz, o Nordeste 
e suas invenções, sua cultura, sua forma de viver e conviver, sua essência, a alma de 
um povo simples, que não abre mão de suas tradições.
G.E.A. - Como funciona seu processo de trabalho?
sua dialética vida-morte, a lua e suas lendas, os rios das fazendas, os mata-burros 
separando pastagens. As marcas do couro, da decoração dos arreios, as rendas, os 
ritmos da cestaria, o cordel, instrumentos musicais e ferramentas do candomblé. Os 
monogramas dos santos de devoção, as charolas, as rezas, os estandartes, as flâmulas 
tão usadas nas procissões. O desenho, a pintura dos tambores, bancos, mesas e barra-
cas das festas de largo, do carnaval, as festas de São João e suas bandeirinhas, o natal 
e o presépio. As festas de outros povos que o nordestino abrasileirou. O povo e sua arte 
comunitária, a vida. Aí está minha alma nativa, em minha interpretação plástico-visual. 
A colcha de retalhos é referência inicial, depois inscrevo sobre elas meu vocabulário, 
o risco do meu povo e nomeio de Faixas Emblemáticas. As Faixas Emblemáticas tem 
movimento contínuo e buscam uma dança de elegância e sensibilidade. 
G.E.A. - É uma espécie de teimosia?
C.R. - Prefiro dizer convicção. Meu trabalho vem do que recolhi em minha Região, o 
Nordeste. Uma codificação não verbal. Acolhimento do específico e do geral. São refle-
xões plástico-visuais de um território rico em costumes, ritos, música, folclore e tantas 
outras manifestações de arte. A produção artística popular é vastíssima. Caleidoscó-
pica. O Nordeste, tão marginalizado, visto com preconceito, considerado o Terceiro 
Mundo do Brasil é onde palpita e se forma a maior parte da nossa identidade cultural.
G.E.A. - Essa coisa de indenidade cultural na arte, de brasilidade, incomoda muita 
gente...
C.R.- Que não se incomodem, façam suas coisas, se responsabilizem por elas. O tem-
po se encarregá de depurar. Não quero que ninguém pense como eu. Só quero ter o 
direito de pensar. Só sei que faço pintura e tenho um pensamento estético.
G.E.A. - Qual seu pensamento plástico-visual?
C.R. - Criar meu destino de brasileiro e de artista plástico. Acredito pessoalmente numa 
arte que venha do povo, das suas vivências, das suas crenças. Precisamos de uma his-
tória, formando uma ideia de pátria, um pensamento brasileiro. Trabalho com os sinais 
nordestinos e com os símbolos afro-brasileiros, um vocabulário que qualquer nordesti-
no vivencia no seu dia a dia. Não é necessário que obrigatoriamente se ‘’entenda‘’ essa 
semiótica. No fundo, o que faço é pintura. Sou um pintor, um colorista. 
O popular é sempre matriz, e no exercício da observação, busco uma ruptura com o 
banal. Acredito ser importante registrar, para não deixar morrer as marcas, os símbolos, 
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Não sou um artista desagregado, cada dia ser uma coisa. Sou a continuidade do meu 
propósito. Sou aquele que vive a mudança a cada exposição, sem fugir do meu centro. 
Minha pintura é como minha vida. Venho mudando com os anos, amadurecendo, mas 
tenho minha identidade, meu eu preservado, que vou aprimorando com o passar dos 
anos. Acredito que, hoje, sou uma pessoa melhor, mais informada, mais centrada, 
menos dispersa. Assim tem sido com a pintura. Não sou do ‘’flash‘’, do imediatismo 
das tendências, dos anseios do mercado, da busca de aprovação, da dependência de 
cargos políticos.
G.E.A. - Você é crítico de arte da ABCA e AICA. Como vê a crítica e como você se re-
laciona com ela?
C.R. - Como artista plástico, sempre respeitei a crítica de arte. Ela não é uma ciência, 
mas tem os seus sinais e os seus sintomas, e pode se basear em elementos da ciência. 
Nenhum crítico que seja sério será irresponsável, a ponto de emprestar o seu nome, 
elogiando um artista sem valor, porque aquilo vai depor conta ele. A crítica de arte bra-
sileira é formada, em sua grande maioria, por intelectuais, historiadores, professores 
pós-graduados, pós-doutorados. São estudiosos, pesquisadores renomados. Alto nível. 
Não vejo meus trabalhos como um crítico de arte, vejo como artista.
Acho importantíssimo o acompanhamento da obra de um artista por um crítico de arte. 
Há possibilidades de diálogos, orientações, avaliações. É sempre uma troca saudável. 
O crítico é um elo entre artista, obra, público e a História. 
Não faço o jogo dos curadores improvisados e de quem possa exercer algum poder, que 
é sempre transitório. Sou do atelier, da pesquisa nos mercados populares das cidades 
que conheço. Registro, fotografo tudo, e as imagens me servem de apontamento. Se 
algo me interessa, me toca, vou redesenhar, rever, transfigurar, teimar, insistir, até que 
surja o símbolo, modificando a aparência, nunca a essência. A repetição de intenções 
me liberta. Sou vigilante em minhas buscas. Não faço colagens com obras alheias, de 
outros artistas, sejam nacionais ou internacionais. Não sou um mix, sou uno. 
Meu trabalho tem uma integridade. É autoral. Vem do meu gesto, das mãos, do ritmo 
das pinceladas, da observação contínua de minha iconografia. Meu trabalho é minha 
alma e minha arte é linguagem. Há sinceridade e ética no que faço. Existe em minha 
pintura um misto de espiritualidade, confissionalidade, técnica e uma obstinada busca 
da cor. Eu visto minha cor, que já é pele. Nessa epiderme colorida e plural, movimento 
décadas de pintura. Como esse tempo passou, não sei bem. Descobri por acaso, fa-
zendo um resumo de meu currículo. Só sei que foi muita ação.
C.R. - Sou muito observador. Tudo que vejo funciona como pintura. Logo, penso como 
vou transfigurar o que vejo, materializar as percepções. 
G.E.A. - O que há de novo em seu trabalho?
C.R. - O processo de maturação dele. Minhas coisas são pensadas, ruminadas à 
exaustão. Estas pinturas são ondas de um mesmo oceano. São claramente saídas de 
um mesmo pintor. Trago novos símbolos, novas cores, novos entrecruzamentos, novos 
ajustes. A escala mudou, agora são trabalhos de grandes dimensões. As cores mere-
ceram um cuidado exaustivo, procurei encontrar novas potencialidades cromáticas, 
possibilidades de combinações, ajustes, entonações, claro-escuro, texturas e transpa-
rências. Pintura é cor, é saber manejá-la, torná-la um elemento autônomo, sem esque-
cer meu programa teórico. Sempre separei cor e tema. O que faço é buscar integrá-los 
numa síntese lógica. 
Meu trabalho tem mudado muito. Mais pela delicadeza do que pela força da imposi-
ção. Ele flui, como um lenço solto num espaço enigmático, cercado de luzes e trans-
parências. 
O tempo e a aprendizagem, o fazer e os resultados nos empurram para uma mudança, 
que é progressiva, sem sobresaltos, sem apagões ou rasgos de bravatas desnecessá-
rias. Há algo indizível no processo, chegando através do transluzir, das somações de 
cores, refletindo-se na aparência da epiderme da pintura. Você nota claramente: são 
saídas de um mesmo pintor. Um novo olhar sobre meu eterno tema e pensamento: 
uma semiótica brasileira. Vou viver e morrer buscando a brasilidade, o registro do Bra-
sil. Algo como um Hino Nacional. 
G.E.A. - Fale sobre seu trabalho nestas décadas de pintura...
C.R. - Sou fiel à pintura nestes anos. Símbolo e cor se comportam fraternalmente.
Existe um lugar além dos modismos passageiros, para um artista em busca de manter 
uma linguagem. Há algo sólido no que faço, um rastro de fidelidade aos meus propósi-
tos, à minha busca. Tem uma coerência entre o que falo e a ação. Há firmeza em meu 
comportamento. Uma mistura entre o espiritual e a fisicalidade das coisas. Pinto minhapele, uma epiderme baiana, nordestina e brasileira em sua essência. As linguagens da 
moda nunca me interessaram. Conheço para ter informações do que existe no mundo. 
Meu mundo é a Bahia e sua mística. Sou fidelíssimo ao meu pensamento teórico, ao 
meu fazer, minha busca. Vivo na contramão da moda.
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jos e ritos. Sou do encontro com a alma nativa. Um aprendiz a teimar.
Meu trabalho remonta a uma família, tem o mesmo DNA. Difere apenas na aparência 
externa. Há um claro processo de mudança contínua e o mesmo DNA. Vivo o espaço 
ilusório percorrendo a cor.
Minha arte nunca veio aos saltos e borbotões. Foi desfiada dela mesma, e dela parida. 
Tenho um fio condutor que é a alma nacional. Quero ser um intérprete do Brasil. Minha 
pintura é estudada, pensada. Um modo de representar ilusões coloridas com faixas, 
listras e inscrições da baianidade. 
G.E.A. - Como você vê o tempo?
C.R. - O tempo tem seu preço: ou ajuda a definir um artista ou dilui. Avança ou cai seu 
processo criativo. Assim, temos que estar em permanente alerta. Pintar é correr riscos, 
é jogar certo jogo de sorte ou azar. É um desafio permanente até a finitude, quando a 
dialética encerra.
Procuro cumprir a tarefa de justificar minha existência no bojo do que vivo e vivi, nas 
nódoas que o nordeste fixou em mim. 
G.E.A. - Como você se define? 
C.R. - Nunca me interessei por rotulações. Nunca quis e nunca quererei estar na 
moda. A moda passa e o artista também. Eu faço arte brasileira. Algo diferente das 
‘’internacionalizações‘’, meros arremedos requentados do que se faz lá fora. Muitos 
artistas, para serem modernos, copiam de revistas as ‘’vanguardas internacionais‘’. 
Vanguarda é mostrar ao mundo algo que ele não conhece, ou não percebeu. Então 
a vanguarda pode estar no seu quintal. É mais fácil copiar que criar. Como função, o 
papel da arte é formar consciência humana, resultante de pensamentos e reflexões. 
G.E.A. - Um grande sonho... 
C.R. - Gostaria que o povo simples visse a apropriação que faço de seus sinais, da sua 
simbologia, da criação popular coletiva, que no fundo é de todos nós, brasileiros. 
G.E.A. - Você é conhecido pela organização e metodologia de trabalho. Então vale uma 
pergunta capciosa: como será sua pintura para os próximos anos?
C.R. - Já sei mais ou menos o que pretendo fazer. Já tenho claro na minha cabeça 
G.E.A. - O que é BR-amante?
C.R. - BR-amante foi uma exposição que comemorou meus 40 anos de pintura. O 
nome, eu criei como uma síntese do meu pensamento, que poderá ser lido de três 
maneiras: BR-amante, amante do Brasil. BR-amante, um tecido e através do tecido. 
Busco revelar bens culturais de raiz brasileira. BR-amante do verbo bramar, ser um 
bramador da cultura popular e de um propósito, discutir a alma e a essência do povo 
brasileiro.
BR-amante tem forma, matéria, sensibilidade e cor. Busco emoções estéticas em rit-
mos musicais oriundos do Nordeste. Algo que tenha o encanto da humanidade, da 
espiritualidade, da mistura de raças, de regiões, de achados. Algo plural que se unifica 
no corpo da pintura. Esta exposição começou na Europa. Foi vista em 12 estados bra-
sileiros e terminou em Salvador.
Meu produto é claro. Sou meticuloso, detalhista e atento a pormenores. Meu trabalho 
tem uma história de coletividade, de gerações vividas que deságua em forma, linha e 
cor. Busco ser um intérprete plástico-visual da alma brasileira. 
G.E.A. - Sua pintura tem mudado? 
C.R. - Minha pintura tem mudado nos últimos anos. Há um aprofundamento dela. 
Aproveito ao máximo o branco da tela, que se tornou fundamental para trabalhar as 
transparências das tintas e verificações de erros e acertos. As cores suavizaram, agora 
viajam na delicadeza. Pensar a delicadeza em pintura é rever seus valores intrínsecos 
na totalidade.
G.E.A. - Qual sua busca principal em artes plásticas? 
C.R. - Quero uma pintura sem truques. A pincelada é um ato único, e detono variações 
cromáticas que interferem na retina, numa pulverização de tons. O tema, o assunto 
está resolvido. A cor hoje é meu interesse maior. Sou um instrumento da cor. Quero ser 
tudo que a cor possa dizer.
Imaginação e pensamento estão engajados de forma visceral. Há uma rigorosa dis-
ciplina e adestramento da mão. Tudo resulta de um agrupamento de símbolos que 
interagem de maneira sutil, orquestrados por um pensamento lógico.
Meu trabalho plástico-visual é endógeno e ruminado. Sou da experiência acumulada, 
do produto final enraizado, nos anos vividos com a comunidade nordestina, seus feste-
34 35
CRONOLOGIA TEMÁTICA
César Romero é um dos pintores mais coerentes do Brasil. Em toda sua carreira, tra-
balhou um único tema: O Nordeste. É o resultado de pesquisas, as quais deram, a seu 
trabalho, uma evolução coerente e lógica. Segue o roteiro.
1º Casarios (1966-1969)
Procurava, de forma simples, fixar pontos referência da arquitetura da cidade do Sal-
vador.
À época, grande parte dos artistas começava pelo casario, especialmente em Salvador, 
onde as pessoas estão imersas no Barroco. Esta corrente estética muito influencia a 
pintura de César Romero. O Barroco floresceu em Roma, no início do século XVII. A 
pintura barroca religiosa retratava santos ou a Virgem, envolta por mantos drapeados e 
por nuvens cercadas de querubins.
A preocupação do artista era focar em ângulos simples, de leitura direta, mas não ób-
via, o casario de sua cidade.
2º Imaginária (1969-1975)
Buscava revelar os santos da tradição católica. Ia a igrejas, fazia anotações, reinventava 
as imagens, ressaltando o barroco, tão tradicional na Bahia.
A religião era uma referência para os baianos especialmente nos anos 70. Há ainda 
outro dado que reforça esta escolha. César foi aluno interno do Colégio Marista por três 
anos. Isso o influenciou em suas crenças e aptidões. A missa era obrigatória todas as 
manhãs, com cânticos, incenso e homilias.
3º Selos Comemorativos (1975-1980)
São imagens em que os santos aparecem como garotos propaganda da sociedade 
de consumo. Apresentam uma faixa, contornando a personagem central com picotes 
arredondados nas bordas como selos dos correios. Assim surgia: Selo Comemorativo 
do dia dos Falsos Brilhantes, Selo Comemorativo do Dia dos Direitos Humanos, Selo 
Comemorativo do Dia do Dólar, Selo Comemorativo do Dia do Arrependimento e muito 
mais. O artista ironizava o poder dos santos na sociedade de consumo, nos feriados em 
suas homenagens e nas festas populares.
o que vou fazer, nos próximos anos, com a minha pintura. Sou um pintor amante da 
sua profissão e confia nela como um sacerdócio. Minha tendência estará na máxima 
simplificação.
G.E.A. - Resuma sua pintura.
C.R. - É uma resistência amorosa, uma paixão transmutada em forma e cor. Hoje tem 
a calmaria da convicção. Nunca esperem de mim invencionices de moda passageira. 
Sou fiel a minha pintura, que tem a sinceridade do simples, da pesquisa orientada, 
fixando uma cultura.
G.E.A. - Você trabalha todos os dias?
C.R. - Sim, às vezes até nos domingos e feriados. Eu gosto de trabalhar. Trabalho muito. 
Faço isso com imenso prazer. Eu tenho uma missão e tenho que cumpri-la. O tempo é 
eterno, eu não. A arte é eterna, eu não. Sou um artista com uma fração deste tempo. É 
preciso aproveitá-lo. Não esquecer que existe lazer e prazer.
G.E.A. - Alguma crítica negativa na carreira?
C.R. - Não, nunca. Acho que tenho sorte. Tenho 122 textos de críticos nacionais e 12 
internacionais. Sempre ressaltaram a minha cor, minhas escolhas e a coerência. Pode 
aparecer agora. Alguém poderá ser o pioneiro.
G.E.A. - Você é multimídia. Isso não atrapalha você aprofundar mais os seus assuntos?
C.R. - Não, sei otimizar meu tempo. Eu nasci artista e, como tal, me acho capaz deexperimentar várias coisas, várias tendências, vários aspectos da arte. Sou intenso e 
inquieto. Sou um profissional metódico. Tenho muito cuidado com o que faço. A esta 
altura da vida, não tenho o direito de fazer besteiras.
G.E.A. - Algo mais?
C.R. - Sim, eu quero te dizer, com muita sinceridade: eu dei ao Brasil uma estampa, 
uma imagem, como Volpi, Valentim, Maia e Samico. Olhando esse meu percurso, hoje 
posso dizer na calmaria, tenho uma coerência endógena. 
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pecial. Atualmente as mesas e cadeiras são de plástico. E os barraqueiros tiveram que 
se adaptar à nova realidade. O geometrismo popular pintado nas mesas e banquinhos 
e suas conecções aleatórias formavam painéis de grande beleza e invenção. Existem 
215 imagens registradas.
7º Faixas Emblemáticas (1984-2016)
O artista fazia sempre fotos de seus trabalhos para seu arquivo particular e para divul-
gação na imprensa quando oportuno. Um dia, por acaso, fez um “zoom” na faixa e 
ficou olhando. Fixou e observou que a faixa tomava todo o campo fotográfico. Começo, 
meio e fim, num mesmo plano. Daí em diante, a faixa colorida passou a ocupar todo 
o campo plástico, dando maior possibilidade ao artista de trabalhar seus símbolos/sig-
nos. Faixas Emblemáticas se tornou a fase mais conhecida de César Romero. Flexibili-
zando demarcações das fronteiras, o artista trabalhou outros temas, durante o período 
em que realizava as Faixas Emblemáticas.
As Faixas Emblemáticas visavam à aglutinação de uma semiótica nordestina, traduzida 
de forma plástico visual, por entender Arte enquanto linguagem, uma sucessão de 
símbolos de raízes ancestrais, que emerge do popular. Buscava registrar e não deixar 
morrer as marcas que as comunidades simples criaram. Os sinais do povo. Busca uma 
identidade popular brasileira, que forme a noção de pátria.
Esta série sempre acompanhou a carreira do artista, mesmo ele fazendo incursões por 
outros caminhos coerentes. É o resumo de seu pensamento pictórico. 
8º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - Pinturas (1986-1992)
Vendo e fotografando os tamboretes, César decidiu pintá-los em telas. As fotografias 
dos tamboretes serviam de apontamento e ele inventava novos jogos do olhar, com 
texturizações bem marcadas. As cores acesas, brilhantes, pareciam festejar a vida, os 
folguedos que sempre existiram nas Festas de Largo. A alegria era a tônica.
9º Arraias Emblemáticas (1986-1993)
Na infância, César Romero “empinava” muitas arraias, pandorgas, pipas ou papagaios. 
Relata que tinha imenso prazer em criar geometrizações e cores para as arraias. “Era 
um jogo de armar. Conseguia muitas variações de formas e cuidava das cores. Fazia 
combinações que não eram comuns. Por exemplo, numa arraia eu usava preto, roxo 
e carmim, em outra púrpura, violeta e cinza, assim iam. Minhas arraias eram conhe-
cidas. Quando estavam no ar, de longe os meninos as identificavam pelas cores”. As 
Nos anos 70, a correspondência era quase toda por carta. Ele morava em Salvador 
e a família em Feira de Santana. A correspondência era intensa. E ao manusear os 
selos das cartas, interessou-lhe a forma picotada com que se uniam e se colavam no 
envelope.
4º Gravuras - Litografias e serigrafias (1977-1988)
Várias edições de gravuras pela Imagem (RJ) e Almavera (SP) com trabalhos das fases 
Imaginárias, Paisagens com Faixas Emblemáticas, Arrais Emblemáticas e Faixas Em-
blemáticas. 
5º Paisagens com Faixas Emblemáticas (1981-1987)
César, numa tarde de domingo, foi à Lagoa do Abaeté com amigos, viu as lavadeiras 
trabalhando num dia apregoado para descanso e foi conversar com elas. Cada uma 
contava uma história diferente sobre a Lagoa e sua magia, até que viu um varal com 
roupas para secar. O vento soprava, movimentando as roupas coloridas, formando 
dobras e curvas. Fixou a imagem. Ao chegar em casa, fez um desenho rápido de uma 
colcha voando e concluiu abaixo com uma paisagem. Estava feita a primeira anotação. 
Depois pensou e colocou, na colcha, símbolos e signos do candomblé, da cerâmica 
popular, do vocabulário nordestino.
A paisagem baiana é muito diversificada. Vai dos recortes da Baía de Todos-os-Santos, 
à costa litorânea, à caatinga, ao sertão. Voava a faixa nos céus e, sustentando a com-
posição, a paisagem abaixo e um céu sonhado. Não se pode considerar César Rome-
ro um paisagista. Seu interesse se dava à atmosfera metafísica, por vezes levemente 
surrealista, que impregnava a composição e as colchas de retalhos com seus signos/
símbolos. 
6º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - Fotografias (1981-1992)
Um conjunto de fotografias, dos banquinhos das Festas de Largo, que apresentam 
um geometrismo simples e criativo e determinavam seus proprietários. Os banquinhos 
serviam para os populares sentarem, beberem, comerem, namorarem e observarem o 
entorno. Era a criatividade do povo transformada em arte. 
Com essas fotos, o artista foi amplamente premiado em salões oficiais de vários estados 
brasileiros.
As fotos dos Tamboretes de Festa de Largo da Bahia é um documento, hoje, muito es-
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primiu nelas seu alfabeto visual. Criou assim uma nova possibilidade para sua pintura. 
O artista presenteou com estas janelas alguns moradores de bairros simples. Depois de 
substituídas, provocaram nos passantes reações várias, tanto de admiração pela novi-
dade, quanto de questionamentos e observações de que algo novo estava acontecendo 
nas casas.
13º Totens Emblemáticos (2008 - 2012)
São trabalhos tridimensionais, esculturas em blocos de madeira maciça, sobre a qual, 
em diferentes cortes, surgem pinturas da série Faixas Emblemáticas. A madeira é tra-
tada e, em suas paredes, surgem grandes texturizações com colagens de vários mate-
riais, promovendo uma estimulante curiosidade aos olhos do expectador. Uma experi-
ência instigante. A sutileza de uma pintura fluida, na solidez da natureza. 
14º Urdiduras - Desenhos (2009-2015)
A essência é a mesma. Relembra sabedoria popular, de raiz brasileira, numa interação, 
trazendo o popular ao plano erudito.
Panos de bandeja e pão, porta-copos, rendas, arte do fuxico, guardanapos, centros e 
caminhos de mesa, bico de metro, toalhas de lavabo, jogos de cama e outras urdiduras 
do artesanato popular nordestino são transfigurados, convertidos a outra realidade. 
Memória plástico-visual de longa pesquisa.
O artesanato vem do início da humanidade e está presente nos 27 estados de nosso 
País. Sabe-se que nada é mais regional que o artesanato. Identificador de origens, 
fruto expressivo de culturas e tradições, seja na repetição dos moldes ou na inventiva 
do artesão. Depositário do passado, transmitido por gerações, é fator importante no 
desenvolvimento sustentável de comunidades simples.
Em sua teimosia afetiva, nessas teias, tramas, emaranhados de estruturas organizadas 
e avoengas, ele buscou o sotaque de sua gente. 
15º Urdiduras - Pinturas (2013-2015)
Com a experiência dos desenhos que usava nanquim, lápis aquarelável, guache e gra-
fite, sobre papel, César decidiu pintá-las em telas apenas com tinta acrílica. Na pintura, 
buscou valorizar volumes, texturas, entonações e claro-escuro.
arraias eram uma das diversões mais comuns da criançada e adolescentes. Ainda era 
mais acessível a todas as classes sociais. Papel, duas “taliscas”, carretel e linha enro-
lada nele.
As arraias eram “pinturas” que voavam nos céus de verão e tinham seus símbolos/
signos inscritos no papel. Era o sonho de todo menino entrar numa guerra de arraias 
e ganhar. Primeiro se “temperava” a linha com vidro pisado, bem moído e misturado 
com a goma arábica. Logo se passava na linha e colocava para secar. Depois se empi-
navam as arraias e, nos céus, elas se aproximavam. Soltava-se do carretel a linha queestava enrolada e, com a velocidade que se colocava, partia a linha da outra arraia. O 
campeão tremulava no espaço e o perdedor via sua arraia descer, rodopiando ao chão, 
juntando muitas crianças para pegar a arraia, que, sendo perdedora, pertenceria agora 
a quem conseguisse pegá-la. A guerra de arraias eram atrações dos finais de semana.
10º Enigmas (1987-1991)
Os enigmas são exclusivamente as transfigurações das ferramentas, instrumentos ou 
armas dos orixás. Os orixás são cheios de virtudes e fraquezas como os homens. O 
candomblé é uma religião tão antiga quanto as práticas religiosas primeiras do início 
da humanidade. O enigma é coisa a ser decifrada, que é descrito de forma ambígua. 
Os terreiros são espaços místicos. São a síntese das terras da África, dos reinos de lá. 
Dentro destes enigmas, César Romero criou a série e só o orixá é dono dos espaços, 
de todo campo plástico.
11º Platibandas Emblemáticas (1988-1992)
Viajando pelo interior da Bahia, César Romero ia passando por cidadezinhas do inte-
rior, que beiravam as estradas, de ida e volta. Como sempre, anda portando máquina 
fotográfica e registrando os frontispícios das casas simples das cidades de Anguera, 
Bravo, Serra Preta, Ipirá e Feira de Santana, na Bahia. Estes frontispícios são feitos 
pelos mestres de obras ou pedreiros das localidades. Geralmente são geometrizados e 
coloridos. César inspirou-se nestas fachadas, pintou o recorte e, nas possíveis portas, 
inscreveu os sinais do povo.
12º Janelas Emblemáticas (2007-2009)
Vendo casas de bairro simples, com janelas e portas de colorido forte, foi a casas de 
material de construção comprar janelas de madeira tosca, deu base de tinta látex e im-
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para jornais e revistas brasileiras. 
César iniciou-se na grande imprensa em 1975, ao lado de Justino Marinho, no Jor-
nal da Bahia, com as colunas Arte & Fatos e Especialarte, permanecendo até 1999, 
quando foram indicados ao Editor Cultural Gutemberg Cruz, para escreverem no Jor-
nal Correio da Bahia. São 42 anos escrevendo ininterruptamente, divulgando as artes 
visuais brasileiras. Em 2016, completou 41 anos como especialista. Um esforço pro-
vavelmente sem igual em nosso país. Ainda foi colunista de artes plásticas da Revista 
Slogan e de outras já extintas. Colaborador do Jornal da Crítica, do Jornal da ABCA em 
São Paulo e da Revista Segunda Pessoa na Paraíba.
Foi admitido, como crítico de arte pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), 
com sede em São Paulo, através da indicação dos críticos e escritores Walmir Ayala e 
José Roberto Teixeira Leite. A partir desta data, é oficialmente Crítico de Arte da Asso-
ciação Brasileira de Críticos de Arte e da Association Internationale Des Critiques d´Art, 
ONG reconhecida pela UNESCO com sede em Paris. Publicou mais de novecentos 
artigos sobre arte. Prefaciou aproximadamente trezentos e cinquenta catálogos de ex-
posições para artistas brasileiros e lusófonos. Fez apresentação para livros de poesia, 
contos e romances de escritores nacionais. 
Atuou como organizador de ciclos de palestras e conferências de críticos de arte na 
Bahia, tais com Harry Laus, Vicente de Pércia, Israel Pedrosa, Lisbeth Rebollo Gonçal-
ves e Geraldo Edson de Andrade. 
Foi curador chefe em vários estados brasileiros e países lusófonos, como na Exposição 
“Às Portas do Mundo”, realizada em Évora (Portugal), Exposição de Arte Contemporâ-
nea - Pluralidade na Lusofonia, aberta no Palácio Real Dom Manuel/ Évora, em 30 de 
novembro de 2005, com presença de ministros, embaixadores, e o então Presidente 
da Republica, Jorge Fernando Branco de Sampaio, que prefaciou o catálogo.
Em 2011, publicou o livro “Grafite: Sinais Urbanos” - Canal Produções. Em 2006, dois 
livros: “Bahia - Negras Raízes”, sobre quatro interpretações escultóricas dos artistas 
Rubem Valentim, Agnaldo dos Santos, Mestre Didi e Juarez Paraíso. Também “Carl 
Brusell - Um Artista da Forma e da Cor”, ambos editados pela Expoart. Colaborou em 
livros de arte com capítulos, analisando aspectos do trabalho de artistas como A Obra 
de Juarez Paraíso, 2006 - edição da Idea Design; + 100 Artistas Plásticos da Bahia, 
2001 - pela Omar G. Produções e Artes Gráficas Ltda; Gordas, de Eliana Kertész, 2004 
- Ed. Currupio; Cultura e Artes Plásticas em Feira de Santana - Org. Gil Mario - Edições 
MRA - Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional do Livro - 2002 - Feira de 
Santana; Artes Visuais Sergipe - Conexões 2010 - Minc - Funarte - Petrobrás - 2010 - 
16º Faixas Emblemáticas (1984 - 2016)
Esta série permeou a carreira do artista desde os meados dos anos 80. Foi seu grande 
momento, que o tornou conhecido nacionalmente e internacionalmente, com prêmios 
e referências críticas em quase todo o Brasil e algumas no exterior.
As Faixas Emblemáticas são uma marca na pintura brasileira. César Romero deu ao 
Brasil uma imagem originalíssima, única, que o tornou uma referência na visualidade 
de nosso país. 
RESUMO DO CURRÍCULO DE CÉSAR ROMERO
César Romero nasceu em Feira de Santana, Bahia, no ano de 1950. Autodidata, ini-
ciou-se em artes plásticas em l967. É pintor, fotógrafo, curador e crítico de arte. Vive e 
trabalha em Salvador desde 1966. Formado em Medicina, em 1974, pela Universidade 
Federal da Bahia, optou pela Psiquiatria, especializando-se em Psicoterapia Individual 
e Grupal, com intensa atividade clínica.
Participou de mais de 500 coletivas e 47 individuais no Brasil. No exterior, teve 50 
coletivas e 12 individuais. Mostrou seu trabalho em: As Neves, Barcelona, Berlim, 
Bilbao, Buenos Aires, Bragança, Cayenne, Chiasso, Chaves, Coimbra, Colônia, Düs-
seldorf, Espinho, Fort-de-France, Granada, Hannover, Honolulu, Lisboa, Los Angeles, 
Lousã, Leiria, Madrid, Marsailles, Miami, Montevidéo, New York, Paris, Porto, Punta 
Del Este, San Francisco, Santiago, Washington, Bordeaux, Sorde L´Abbaye, Guimarães, 
Santarém, Oñati, Macau, Orthez, Monein, Lourdes, Tarbes, Saint Savin, Pau, Dax, San 
Sebastian, Jaca, Sabiñanigo, Saragossa, Sevilha e em Pamplona. Fez parte dos princi-
pais Salões Oficiais realizados no Brasil. Obteve 43 prêmios de pintura, 5 de fotografia e 
4 Salas Especiais. Possui trabalhos em 48 museus brasileiros e estrangeiros, inúmeras 
referências nacionais e internacionais sobre suas obras em livros, dicionários, revistas 
e jornais. Curadoria em vários estados brasileiros, países lusófonos e Espanha.
Foi membro de júri em vários concursos e Salões Oficiais de artes plásticas no Brasil e 
alvo de 12 conferências sobre seu trabalho por críticos de arte e historiadores. Em seus 
42 anos que escreve sobre arte - um esforço provavelmente sem igual em nosso país, 
de divulgação da arte brasileira - publicou cerca de 900 artigos e aproximadamente 
350 textos de apresentação em catálogos e livros. Proferiu dezenas de palestras, par-
ticipou de diversos congressos e debates sobre artes plásticas e o papel da crítica de 
arte, ressaltando-se duas Bienais de São Paulo e o V Congresso Nacional da ABPA - 
Associação Brasileira de Pesquisadores de Arte, São Paulo. Realizou trabalhos teóricos 
42 43
etiquetas, ilustrações para contos, livros, novelas, poemas, jornais e revistas. 
Trabalhos seus foram integrados em projetos de decoração e cenário para 25 novelas 
e alguns especiais da Rede Globo de Televisão, programas da Rede Manchete e TV 
Record. Possui 5 vídeos sobre seu trabalho. Painéis e murais em Aracaju, Feira de 
Santana, Fortaleza, Itaparica, João Pessoa, Maceió, Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo, 
Salvador e Teresina. Organizador de ciclos de palestras e conferências de críticos de 
arte na Bahia, tais com Harry Laus, Vicente de Pércia, Israel Pedrosa, Lisbeth Rebollo 
Gonçalves e Geraldo Edson de Andrade. 
César

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