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C ÉS A R R O M ER O • 50 ANOS • UM RESUM O Curadoria Mirian de Carvalho Texto de Geraldo Edson de Andrade CÉSAR ROMERO • 50 ANOS • UM RESUMO C É S A R R O M E R O . 5 0 Y E A R S . A S U M M A RY Produção Patrocínio Curadoria Mirian de Carvalho Texto de Geraldo Edson de Andrade Editora Expoart, 1ª Edição, 2016 CÉSAR ROMERO 50 ANOS UM RESUMO C É S A R R O M E R O 5 0 Y E A R S . A S U M M A RY Acesse www.caixacultural.gov.br Baixe o aplicatico CAIXA Cultural Curta facebook.com/caixaculturalsalvador CAIXA Cultural Salvador Rua Carlos Gomes, 57 - Centro Visitação: 26 Out a 27 Nov 2016 Ter a dom, 9 às 18h caixacultural.ba@caixa.gov.br (71) 3421-4200 Desde que foi criada, em 1861, a CAIXA sempre buscou ser mais que apenas um banco, mas uma instituição realmente presente na vida de milhões de brasileiros. Atuar na promoção da cidadania e do desenvolvimento sustentável do País, como instituição financeira, agente de políticas públicas e parceira estratégica do Estado Brasileiro, é a missão desta empresa pública cuja história visita três séculos da vida brasileira. Foi no transcurso desta vitoriosa existência que a CAIXA aproxi- mou-se do artista e da arte nacionais. E vem, ao longo das últimas décadas, consolidando sua imagem de grande apoiadora da nossa cultura, e detentora de uma importante rede de espaços culturais, que hoje impulsiona a vida cultural de sete capitais brasileiras, onde promove e fomenta a produção artística do país, e contribui de ma- neira decisiva para a difusão e valorização da cultura brasileira além de promover acesso a obras de grandes artistas internacionais. Com esta importante exposição, a CAIXA reafirma sua política cul- tural, sua vocação social e a disposição de democratizar o acesso aos seus espaços e à sua programação artística, e cumpre, desta forma, seu papel institucional de estimular a criação e dar condições concretas para que o artista possa apresentar seu trabalho e divulgar sua arte. Em 2016, César Romero completa 50 anos de artes Visuais. Neste tempo, sua arte nunca sofreu interrupções. Desenvolveu pesquisas aprofundadas sobre a religiosidade e a criatividade populares, do fluxo inconsciente do povo brasileiro. A exposição passeia pela tra- jetória do artista e todas suas fases, um resumo dos seus 50 anos de atividade contados através de seus trabalhos e todos os temas abordados neste período. A CAIXA agradece sua participação e acredita, desta maneira, estar contribuindo para a renovação, ampliação e fortalecimento das artes no Brasil, e ampliando as oportunidades de desenvolvimento cultural do nosso povo. Caixa Econômica Federal Cronologia Temática Resumo - 50 anos - 15 subtemas 1º Casarios (1966 - 1969) 2º Imaginária (1969 - 1975) 3º Selos Comemorativos (1975 - 1980) 4º Gravuras - litografias e serigrafias (1977 - 1988) 5º Paisagens com Faixas Emblemáticas (1981 - 1987) 6º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - fotografias (1981 -1992) 7º Faixas Emblemáticas (1984 - 2016) 8º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - pinturas (1986 - 1992) 9º Arraias Emblemáticas (1986 - 1993) 10º Enigmas (1987 - 1991) 11º Platibandas Emblemáticas (1988 - 1992) 12º Janelas Emblemáticas (2007 - 2009) 13º Totens Emblemáticos (2008 - 2012) 14º Urdiduras - desenhos (2009 - 2015) 15º Urdiduras - pinturas (2013 - 2015) “Se não nos é possível atinar para que vivemos, todo o esforço consciente é tentar sentir o como viveram e vivem em nós as culturas interdependentes e sucessivas, de que somos portadores, intérpretes, agentes e reagentes no tempo e no espaço”. Luis da Câmara Cascudo in prefácio da 2ª edição do Dicionário do Folclore Brasileiro, 1959. Este livro foi escrito pelo crítico de arte, Geraldo Edson de Andrade (1932 - 2013), para as comemorações dos 40 anos de arte do artista visual César Romero. Não foi possível editá-lo à época por inúmeras razões. Agora, para esta exposição, “César Romero - 50 anos - Um Resumo”, é publicado com texto integral e inalterado. Atualizou- se apenas a cronologia, com o objetivo de apresentar, de forma didática, o percurso do artista. Expoart César Romero Símbolo, Código e Cor Apresentação 11 Introdução 13 Nacionalismo x Identidade 14 Regional, Brasileira, Universal 17 Atavismo & Sensibilidade 19 Cultura, Artesanto e Criação. 23 Ave, César! 26 Cronologia Temática 35 Resumo do Currículo de César Romero 40 Por Conta da Crítica 47 Autor por Ele Mesmo 68 English Version 71 Bibliografia 109 11 Geraldo Edson e César Romero: Profissionalismo e Afeto Ter sido convidada a escrever a Apresentação do livro de Geraldo Edson de Andrade sobre César Romero foi para mim motivo de grande alegria. Conheci Geraldo Edson em 1981, ano da minha admissão na ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte). Em 2001, conheci César Romero na abertura de sua mostra Cromutações, no Rio de Janeiro. Desde então, esses dois felizes encontros proporcionaram-me - no campo profissional - um grande aprendizado sobre a cultura do povo nordestino, bem como grandes surpresas e motivos no plano do afeto. Contar histórias longas e plenas de humor e de dados esclarecedores de uma história não oficial - complementando e corroborando a história oficial da arte - era um dom de Geraldo Edson, nos bares e restaurantes do Centro do Rio de Janeiro, após as reuniões de trabalho. Ao ler este livro, que traz a fala atenta do contador de histórias, voltei-me para algumas questões da crítica de arte, a qual, entre outras diretrizes, se diversifica hoje em dois ramos básicos: a pesquisa acadêmica e o ensaio de divulgação. Conhece- dor de Teoria e História da Arte, em virtude no exercício do magistério numa das melho- res Universidades do Rio de Janeiro, Geraldo Edson optou pelo ensaio de divulgação. Tendo eu acompanhado de perto seu trabalho em todos esses anos, ora ressalto que a importância de tal veio da crítica, voltada para a transmissão de ideias e conceitos oriundos da pesquisa acadêmica e levando ao público informações fundamentais, ser- vindo de guia aos sentidos e traduzindo - de modo simples e direto - a complexidade do fazer artístico e a da estética do objeto de arte. No trabalho de Geraldo Edson, tal perspectiva crítica, por certo, se relaciona ao seu grande talento de escritor. Nascido no Rio Grande do Norte, ele veio na década de 1950 para o Rio de Janeiro e, além de atuar com destaque na área jornalística, foi também autor de novela, teatrólogo e exí- mio contista, o que lhe permitiu delicada agudeza para registrar as difíceis qualidades da arte que, no âmago, são também intrínsecas à literatura. Profundo conhecedor da obra de Câmara Cascudo, Geraldo Edson enfatizou, no trabalho de César Romero, a referência à cultura popular do Nordeste, enfocada como código, símbolo e cor. Em minhas pesquisas sobre a arte de César Romero, ainda que seguindo outro rumo no campo da crítica, volto-me para as mesmas questões tematizadas por Geraldo Ed- son. Então, na trilha dos matizes em visitação ao solo nordestino, aproximo-me das tramas que reúnem códigos e imagens numa poética da cor. Tendo como ponto partida a imagística da colcha de retalhos, que adorna a casa e, nos 12 13 INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, César Romero jamais prescindiu na pintura a identidade cultural do país onde vive e atua. O artista nasceu em Feira de Santana - uma das mais prósperas cidades do estado da Bahia -, vive em Salvador, é brasileiro. Não por acaso, o conteúdo atávico de sua obra. O que para alguns artistas brasileiros de diversas áreas chega a ser incômodo, pois defendem linguageminternacional na criação, para o pintor baiano é referência funda- mental. Sua identidade cultural, enfim, é de ser baiano, nordestino, brasileiro e univer- sal, como ele próprio gosta de se autodefinir. Muitos estudiosos já se debruçaram sobre a obra de César Romero, tentando inseri-la na contemporaneidade brasileira. O crítico Jacob Klintowitz, no livro “A Escritura do Brasil”, lançado em 2001, penetra com acuidade nos labirintos emblemáticos da pin- tura do artista baiano, não só destacando os seus aspectos mais evidentes, mas confir- mando ser ele “um pintor que se aprofunda na herança popular de seu país como de um manancial de vitalidade. Bebe na fonte primeva. Mas é um pintor, e não se quer mais ou menos do que isto. Tudo é popular e tudo é erudito. A totalidade é o Brasil. A anima nacional. A escritura do Brasil”. O crítico vai diretamente ao ponto mais vital da pintura de César Romero, que não se cansa de aprofundar seu pensamento pictórico na visualização do popular num plano erudito. Este, a meu ver, proporciona, ao autor baiano, expandir a sua gramática plástica como artista que procurou, e encontrou, maneira pessoal de expor, na obra, a visão da cultu- ra popular do seu estado - ela própria de riqueza sem paralelo no país. É, pois, esse instigante material, conteúdo e forma que tornam peculiar a obra de um dos pintores mais inventivos da arte brasileira contemporânea. Através de César Romero - e por causa dele - fica patente o registro de manifestações de cunhos folclóricos, pesquisados e sensivelmente transpostos a nível culto. Uma sim- biose de absorção de culturas díspares, que se complementam na pintura de artista, perfeitamente identificado com seus principais fundamentos. dias frios, serve de abrigo ao morador, César Romero dá vida ao memorial do Nordeste. Em suas telas, revivemos costumes e lendas do sertão, ouvimos a fala dos objetos uti- lizados no dia a dia pelo povo. E, sentidos atentos, percebemos grandes mistérios nas mesclas da religiosidade, irmanando Festas de Largo e cultos de origem afro. Em minha visitação ao seu trabalho, inicio pelo simbolismo do Candomblé: na pintura de César Romero, o encantatório abriu os caminhos para o altar de Oxumaré - o Filho do Senhor do Xale Brilhante - deidade do arco-íris. As luzes habitam as telas do pintor. Fazendo-se espelho de Oxumaré, os matizes dançam, para exaltar uma das nossas identidades, ao passo que também se dá visibilidade à comemoração da terra natal. Na pintura de César Romero, o colorido reverbera vozes de uma resistência cultural. A cor exalta motivos, pele e nervos da ambiência nordestina como bandeira de alcance universal. Mirian de Carvalho 14 15 Ele morou vários anos em Paris, em plena efervescência de afirmação da arte, que caracterizaria os anos subsequentes. Foi essa animação cultural na Europa, após a Primeira Guerra Mundial, que ele trouxe para o Brasil, este ainda continuando sob o academicismo, ou neoclassicismo, à som- bra do poder público. Inconformado com o meio artístico canhestro do país nos anos 20, Di Cavalcanti pre- ocupava-se, sim, com as novas linguagens que avançavam mundo afora, infelizmente ainda desconhecidas no Brasil, principalmente dos nossos principais artistas plásti- cos. Curiosamente, alguns dos grandes nomes da nossa pintura acadêmica estavam na Europa, desfrutando os prêmios de viagem, patrocinados pelo governo, enquanto eclodiam os grandes movimentos que abalariam definitivamente a história da pintura; esses artistas, porém, não quiseram ver, nem tampouco foram por eles influenciados. À exceção de Ismael Nery (1900-1934), misto de pintor e filósofo paraense. Este residia no Rio de Janeiro e viveu de perto o surgimento do surrealismo durante sua estada na Europa no princípio dos anos vinte. Consequentemente, o incorporou à sua obra, embora na época não tenha sido devidamente reconhecido por essa ousada façanha em termos nacionais. Não faltava talento aos nossos artistas para lidar com as inovações que surgiram su- cessivamente. Desde quando D. João VI transferiu a coroa portuguesa para o Brasil, em 1808, o estado sempre protegeu a arte em geral e as artes plásticas em particular. Fez isso não só inovando, ao importar da França artistas e mestres de ofício para es- tabelecer as bases do ensino da arte entre nós - caso da Missão Artística Francesa de 1816 - como, igualmente, estimulando-as através de premiações anuais com viagens à Europa àqueles que mais se destacavam nos salões de arte promovidos pela Academia Imperial de Belas Artes. A iniciativa governamental proporcionou, a muitos deles, aperfeiçoar no estrangeiro seus indiscutíveis méritos artísticos, na Itália e França, principalmente. Como o Bra- sil continuava estética e oficialmente sob a égide acadêmica e/ou neoclassicismo, a maioria dos pintores e escultores premiados naqueles salões de arte esmerava nessa linguagem, estimulada pelos membros da Missão Artística Francesa, com o intuito, obviamente, de agradar o mecenas patrocinador, no caso, o próprio rei, depois substi- tuído pelo filho que o sucedeu, o Imperador D. Pedro I. Curiosamente, havia também o pouco conhecimento, ou divulgação, do trabalho de artistas nascidos no Brasil e atuantes em províncias economicamente desenvolvidas - Ouro Preto, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. NACIONALISMO X IDENTIDADE Há um falso conceito de que a arte brasileira tende para o folclórico na forma e no conteúdo, quando envereda por temas ditos nacionalistas. Um receio infundado de que a obra, ao se identificar com a terra, seus usos e costumes, com sua gente, enfim, oscila entre maneirismo e a linguagem chamada naïf, estilo de pintura espontânea, não querendo outra coisa, a não ser evocar e/ou documentar a vivência do artista no seu meio ambiente. Declarações nesse sentido têm sido frequentemente divulgadas por parcela considerá- vel de intelectuais brasileiros de variadas áreas, contradizendo alguns dos mais repre- sentativos nomes do chamado modernismo em nosso país, como Emiliano Di Caval- canti (1897-1976) e Tarsila do Amaral (1886-1973), para citar dois representantes de uma corrente que trabalhou para romper as amarras de uma pintura regional, visando a ser, ao mesmo tempo, brasileira e universal. Na verdade, isso foi o que eles mostra- ram no desenvolvimento posterior de sua obra. Acrescente-se ainda que os dois pintores mencionados tiveram vivência no exterior, sofreram influências de linguagens então em voga na Europa, onde residiram, e re- tornaram ao Brasil, imbuídos de mudanças, pioneiros que são de uma nova estética brasileira, a qual esboçava-se desde os primeiros anos do século XX. A pintura de César Romero está inserida nessa corrente. É baiana, nordestina, brasi- leira e universal. É muito bom que isso aconteça. A conscientização de que precisamos caracterizar o objeto artístico com o qual trabalhamos é velha luta e pretensão, se é que assim pode- mos dizer, de nossos intelectuais desde tenra época. Um dos pintores mais representativos da nacionalidade brasileira, Emiliano Di Caval- canti, idealizador e mentor da controvertida Semana de Arte Moderna de 1922, cuja temática posterior concentrou-se na figura da mulata, como a exemplificar, através dela, a miscigenação da raça brasileira. O que torna cada vez mais atual as suas de- clarações na década de 20, segundo as quais “a nossa arte tem de ser como a nossa comida, o nosso ar, o nosso mar. Tem de ser reveladora da nossa cultura, pois a boa arte é sempre cultural, e sua dimensão própria é a de antecipar o momento cultural. O artista verdadeiro torna-se moderno para a sua época: ele traz o novo, é o arauto de uma nova era”. O pintor carioca nãoera arraigado tão somente às nossas tradições como intelectual. 16 17 cia, oscilando entre a paisagem nativa exuberante e a visualização de imagens, exal- tando o índio em sua plenitude, como na tela Iracema, de 1909. Todo esse preâmbulo é para situar a presença de César Romero no contexto da arte brasileira. Principalmente de sua pesquisa e da profunda observação do que seja cul- tura popular em relação à chamada arte erudita. Trabalhando temas brasileiros, investigou e coletou fontes matrizes da invenção do povo simples, estabelecendo um acúmulo de informações de grande importância na visualidade nacional. REGIONAL, BRASILEIRA, UNIVERSAL O homem César Romero é um múltiplo. Para acompanhar seu trabalho, já conhecido nacional e internacionalmente, tantas têm sido suas exposições no Brasil e no exterior, necessário se torna conhecer seu universo, seja ele plástico ou literário, sem esquecer a sua formação acadêmica como médico, com especialização em Psiquiatria. Formatado esse bloco, as suas múltiplas atividades podem ser analisadas isoladamen- te, para se chegar a um denominador comum: o pintor César Romero. Esse baiano, nascido em 1950, em Feira de Santana, um dos municípios mais prós- peros da Bahia, carrega o estígma de ser muito em uma única pessoa; ele não se aco- moda a uma atividade somente, porém expande a criatividade por outras tantas áreas, buscando executar tudo com dedicação e disciplina. Sendo ele artista de extrema sensibilidade, pelo olhar arguto, capta o inusitado das coi- sas ao seu redor, incluindo nesse olhar sua própria razão de ser, como homem e pintor. Sua sensibilidade, portanto, o torna um homem de sete instrumentos, capaz de transi- tar com galhardia na pintura, medicina, fotografia, jornalismo, crítica de arte, curadoria, conferencista, empresariado e fazendeiro. Mas se alguém lhe pergunta qual, entre as profissões citadas, mais lhe toca, ele não hesitará em responder: é a pintura. César Romero é baiano. O dado é importante porque, na complexidade antropológica do homem brasileiro, a Bahia não só representa a mais perfeita e a maior integração racial representada pelo elemento europeu e africano, como também por ser essa integração o reflexo da assimilação entre culturas díspares em busca de afirmação da raça nacional. O maior de todos eles, Aleijadinho, como era conhecido Antônio Francisco Lisboa (1738-1814), filho de uma escrava com português, aliava o talento autodidata à arqui- tetura e à escultura, um gênio do Século XVIII que o Brasil teimava em ignorar. Aleijadinho passaria século desconhecido no seu país, até ser motivo da admiração dos artistas modernistas de 1922, que se reverenciaram ao seu genial trabalho, no período barroco, característico das cidades das Minas Gerais, onde residia. Um dos seus mais conhecidos admiradores e divulgadores, o francês Germain Bazin, estudioso do nosso barroco, dedicou-lhe uma biografia, publicada em Paris, em 1963, e em edição brasileira, em 1972. Para Bazin, Aleijadinho foi o Rodin dos trópicos pelo admirável trabalho de escultura que fincou, tanto em Minas Gerais como no Rio de Ja- neiro, a raiz de uma arte essencialmente brasileira, não somente sendo ignorada pela Missão Artística Francesa, mas também não lhe dando a importância de vida. Não é de admirar, todavia, que nomes como do catarinense Victor Meirelles (1832- 1903) e do paraibano Pedro Américo (1843-1905), exímios pintores de uma mesma geração, não tenham avançado ou ousado mais em seus próprios trabalhos após o aprendizado europeu. Às vezes eles se aproximavam de temas nacionais, como no caso de nossos feitos guerreiros e históricos, que eles tão bem souberam captar em te- las de grandes dimensões, a exemplo de Primeira Missa no Brasil (1859) e de Batalha do Avaí (1877), em concordância, portanto, com a tendência em voga, qual seja a de exaltar valores patrióticos nacionais. Consequentemente, recebiam honorários e fartos elogios da imprensa, de intelectuais e do público, sensibilizados pela gama de criatividade que exalavam das duas enormes telas. A pintura de Victor Meirelles e Pedro Américo, porém, não se limitava somente a esses temas ditos patrióticos. Iam além, expandindo seus temas às cenas bíblicas, do Velho ao Novo Testamento, em versões de impecável acabamento artístico, cada vez mais distantes, porém, da nacionalidade de cada um. Raras vezes, os acadêmicos brasileiros enveredavam pelo indianismo, por exemplo, que começava a se firmar nas páginas de romances de José de Alencar e na poesia de Gonçalves Dias. Este já seria um tema destinado a questionar a identidade brasileira. Um pintor como o fluminense Antônio Parreiras (1860-1937) acentuava essa tendên- 18 19 Da mesma maneira, Alfredo Volpi (1896-1988), italiano de nascimento que chegou aos 18 meses no Brasil, radicando-se em São Paulo. Ainda dentro da mesma linguagem construtiva, Volpi viu nas fachadas e nas bandeirinhas festivas das cidades do interior brasileiro uma forma de geometrizar o nosso cotidiano, dando realce à cor - um cro- matismo de tons tropicais, valorizado pelas texturas de um artista preciso de impecável técnica. Já o pintor sergipano, Antonio Maia, partiu de um símbolo - no caso o ex-voto ou ofe- renda para o pagamento de promessas aos santos da devoção popular - para discutir, pela pintura, os rumos do homem na sociedade e suas implicações sociorreligiosas. O resultado é iconografia de forte expressividade, mormente quando se aprofunda no tema, que não só representa as agruras do homem nordestino, região de onde o artista vem, como pode ser estendida a qualquer nacionalidade. Trata-se de simbologia, cuja crença remonta às mais antigas civilizações, como bem observou o antropólogo Luiz da Câmara Cascudo, em diversos estudos publicados sobre a devoção aos santos do imaginário popular no Brasil. A citação desses três pintores - Rubem Valentim, Alfredo Volpi e Antonio Maia - tem razão de ser: são artistas pelos quais César Romero sente aproximação, não só no campo cromático como, igualmente, por serem pintores que vão fundo ao filão popular. Como ele próprio. Depois, há os chamados artistas naífs. Estes são pintores e artesões que, por intuição, espontaneidade ou tradição, transpõem, para as telas, esculturas ou gravuras, um uni- verso pessoal, transmitindo pela singeleza, criativa e poética ao mesmo tempo e sem rigor formal, um trabalho rico em autenticidade concernente à realidade que os cerca. César Romero, pois, com sua pintura formatada no mesmo filão, embora transfigura- da pelo rigor da forma e pelas cores luminosas de sua paleta, não está isolado desse contexto. ATAVISMO & SENSIBILIDADE César Romero nasceu em Feira de Santana, 1950, cidade que dista 108km de Salva- dor, capital do Estado da Bahia. O nome da cidade originou-se da grande feira livre que semanalmente acontecia às segundas-feiras. Como não podia deixar de ser, a cidade evoluiu em torno desse evento de grandes proporções econômicas, paralelamente a forte cultura emanada da terra e de sua gente. Hoje, Feira de Santana é maior muni- cípio baiano, celeiro de importantes artistas plásticos, principalmente, que convivem César Romero respira o mesmo ar e banha-se nas mesmas águas de outros tantos baianos ilustres. Como esses, o pintor é arraigadamente atávico, seja na formação, seja na maneira como encara o mesmo sotaque nordestino, responsável por fazer a grandeza de nomes como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e João Gilberto na música, Jorge Amado e João Ubaldo Ribeiro na literatura, Glauber Rocha no cinema e, indo além, Castro Alves, o bardo revolucionário que unia, em um mesmo cântico, política, liberdade e amor - como se elas não estivessemimplícitas na ordem natural do senti- mento humano. Não se pode esquecer a sensualidade no sentido mais lato, uma das evidências do povo baiano, presente na cor do seu habitante, na diversidade musical dos instrumentos de percussão de origem africana, já incorporada à sua harmonia, a fluidez da prosa de seus escritores e, finalmente, na criação vinda do povo, represen- tada pelas Festas de Largo, nos adros de suas igrejas representativas, festas religiosas e profanas ao mesmo tempo e unidas pelo sincretismo, que tão bem expressa a alma popular. *** Uma síntese dessas peculiaridades está presente na obra pictórica de César Romero. É desse veio abundante de informação e visualização de onde se origina a sua lingua- gem. Não é por nada que, munido de máquina fotográfica, e bloco de anotações, o artista capta, por onde passa, os aspectos mais instigantes do fazer e do sentir do homem co- mum para, mais tarde, depois da proposta digerida, inserir na criação artística, já num plano de erudição plenamente incorporada ao seu dicionário plástico. Certamente César Romero, como pintor, não é o único brasileiro a tentar romper as fronteiras entre popular e erudito. A arte brasileira oferece várias opções com relação a artistas que foram à fonte popular em busca de conferir identidade cultural à sua obra. Três deles devem ser destacados, porquanto serem alvos da admiração de César Romero: Rubem Valentim, Volpi e An- tonio Maia. O também baiano Rubem Valentim (1922-1991), um construtivista na acepção, tran- sitou entre diversas áreas da criação, da pintura à escultura, deixando bem claro que a linguagem construtiva pode desenvolver uma obra, na qual símbolos do Candomblé integram-se plasticamente às formas geométricas, sem perder a magia da fonte inspi- radora. Principalmente nas esculturas, totens da mais alta significação ritualista, Ru- bem Valentim alcança momentos de rara expressividade como arte e espiritualidade. 20 21 faziam as suas transições comerciais; os comerciantes das cidades italianas de Veneza e Florença, no Século V, negociavam seus produtos sentados em bancos de praças com a mesma finalidade - daí a origem da palavra banco como conhecemos as insti- tuições financeiras dos nossos tempos. Na obra Civilização e Cultura (Livraria José Olimpio, RJ, 1973, 2º Volume) o etnólogo norte-rio-grandense, Luis da Câmara Cascudo, acentua que “o aparecimento da feira denuncia um adiantamento notável na regularidade das comunicações, garantias in- dividuais, segurança nas travessias e conhecimento normal da efetuação local, datas, gêneros que podiam ser expostos à venda, sabendo-se da prévia necessidade deles na região ou de sua compra para outras paragens carecentes”. O mesmo autor acentua ainda que “a denominação latina, feria, festa, solenidade, dia votivo, feira, fair, também dirá de sua periodicidade, a nundinae, cada nove dias, e mercatus, em certa época. (...) De sua importância social deduz-se pelo efeito de constituir o veículo mais ativo de comunicação humana, convívio recíproco, influência em todos os ramos da atividade, do idioma à culinária”. *** Mas há outro importante aspecto veiculado às feiras livres: o sócio-cultural, representa- do pela produção regional - a atividade artesanal à qual se dedicam homens, mulheres e crianças de baixa renda que, com esse trabalho específico, contribuem para renda e, consequentemente, sustento familiar. É inserido nesse contexto o sentido da frase de Marcuse: “A Arte é a expressão, pelo homem, de seu prazer no trabalho”. Constitui-se, assim, como uma tradição peculiar de criar, porque se trata de criação a nível popular, passa de geração em geração, sem que qualquer um de seus seguidores tenha a pretensão de ser artista ou fazer arte. Mas é Arte. Diante dela, há sempre a lembrança de conceitos, emitidos por William Morris (1834-1896), em torno de arte e indústria que tanto incrementaram os questio- namentos artísticos na virada do século XIX para o XX. Qual a relação entre William Morris e o artesanato brasileiro? Nada, a não ser que o es- teta inglês talvez tenha sido o primeiro teórico a reconhecer o toque artístico do objeto feito manualmente, embora repudiasse a produção em massa. Em todo o Brasil, situado nas pequenas localidades, o artesão, ou artista-artesão como definia o estudioso Edson Carneiro, trabalha seu material - barro, madeira, pano, fios numa cultura entre a tradição e a contemporaneidade. Quem viveu (ou vive) em pequenos burgos ou deles participou, conhece a importância desses encontros para a vida da cidade. No Norte e Nordeste do Brasil, sobretudo. Nessas feiras livres, vende-se de tudo e, ao mesmo tempo, tais locais transformam-se em pontos de encontro para transações financeiras, contribuindo para fortalecer e prosperar social e economicamente os municípios que as abrigam; outro aspecto, não menos importante, refere-se na verdade a acontecimentos que envolvem a própria comunidade local numa confraternização de cunho social. Não foi diferente em Feira de Santana. A grande feira, conhecida em toda região e alhures, atraía gente não só de municípios próximos, como igualmente de outros esta- dos brasileiros, tendo em vista a variedade de produtos da terra oferecidos. Por outro lado, dava oportunidade de iniciar negociações de vulto a nível estadual, tornando-a ponto de referência nacional. No caso de Feira de Santana, havia duas feiras distintas. A livre, propriamente dita, co- mercializava produtos regionais e de municípios próximos, tais quais gêneros alimen- tícios essenciais à rica cozinha local, carnes, aves, verduras, frutas, materiais de uso pessoal e decorativo, bem como artesanato em barro e madeira, colchas de retalhos e brinquedos. Tudo dentro de inusitada criação popular, onde convivem numa mesma peça forma e cor. A outra feira, a de gado, no Campo do Gado, é o agrupamento de grandes fazendeiros da região e da vizinhança. Enfim, uma espécie de bolsa financeira específica, voltada a grandes transações. Nela, fazendeiros reuniam-se para a compra, venda ou troca de bois (referência pri- meira e mote principal), cabras, porcos, cavalos, burros e jumentos. O local era cenário perfeito para se confrontar preços e estabelecer cotação às mercadorias oferecidas, nos parâmetros conhecidos hoje como livre concorrência. A feira livre, porém, não era exclusividade do comércio e atraía a atenção de outra parcela da população local para as novidades trazidas pelos mascates da capital e que tanto aguçavam a curiosidade e o interesse de moças e rapazes. Afinal, a feira também era ponto de encontro social. Um shopping center ao ar livre, seria a definição perfeita para a concentração. Feira livre existe desde tempos imemoriais. Os gregos denominavam ágora o local onde 22 23 Com seu espírito empreendedor e visionário, Assis Chateaubriand sonhava em criar ou- tros museus semelhantes por outras cidades do Brasil, principalmente pelo Nordeste, região de origem (ele nasceu na Paraíba). Em 1967, ele fundou o Museu Regional de Arte de Feira de Santana, com significativa doação de obras de autores brasileiros, bem como uma coleção de trinta obras de importantes artistas contemporâneos ingleses dos anos 1950 e 1960. Relacionam-se, a seguir, os nomes dos artistas: Antony Donaldson, Alan Davie, Bary Burman, Michael VanGhan, Frank Auerbach, David Leverret, Brett Whiteley, Byron Organ, David Oxtoby, JR Joe Tilson, Lovis Le Brocquy, Neville Kink, Patrick Procktor, Derek Hirst, Derek Snow, Howard Hodgkin, Graham Sutherland, Reynolds, Tery Frost, Wishaw, John Piper, John Kiki, Paul Wilks e Pauline Vincent. Considerada a maior representação de pintores da Inglaterra em um sómuseu brasilei- ro, as obras em óleo sobre tela, óleo sobre eucatex, esmalte sobre metal, técnica mista sobre eucatex e técnica mista sobre papel, desde então, vêm desafiando não somente o visitante de fora, mas, principalmente, os artistas nascidos e criados em Feira de Santana, diante do raro privilégio de estar frente a frente com um conjunto de obras de primeira grandeza da arte europeia. Melhor formação artística para cada um deles, impossível. Mas um jovem, em especial, foi tocado por aquelas obras, as quais representavam descoberta fundamental para seu modo de ver arte, numa cidade como Feira de San- tana, também no início do processo desenvolvimentista para se transformar no grande centro interiorano da atualidade na Bahia. Na verdade, César Romero encontrou, na obra dos artistas nacionais e britânicos, a confirmação de que a Arte, mais cedo ou mais tarde, ocuparia de maneira absoluta a criatividade já latente no seu interior. CULTURA, ARTESANTO E CRIAÇÃO. Não há povo sem cultura. A partir dessa premissa, verdade inconteste, qualquer um pode olhar e começar a sentir que tudo a seu redor tem ligação, direta ou indiretamen- te, com a cultura á qual pertence. O próprio termo cultura é muito abrangente. No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o verbete cultura é assim apresentado: 1.Cultivo; 2.Criação de certos animais; 3.Conjunto de crenças, costumes, atividades etc. de grupo social; civilização; 4.Conhecimento; instrução. No registro de Houaiss, vegetais, ferro, etc. - sob a admiração e aceitação dos habitantes locais, seus princi- pais consumidores. Entre esses artesões, destacam- se os escultores de imagens de santos e outros ícones sagrados em madeira, os santeiros, de grande penetração po- pular. Muito desses ultrapassaram os limites regionais para se impor nacionalmente, alguns mesmos deixando o anonimato, para serem reconhecidos como escultores sob beneplácito da crítica de arte e pesquisadores, chegando às galerias comerciais com receptividade por parte dos colecionadores. E vão mais além, quando despertam a admiração de artistas da chamada norma culta; ou seja, pintores e/ou escultores de formação intelectualizada, de trânsito aberto no mercado de arte. O mundo mágico de brinquedos de barro e madeira, de objetos de ferro e de utensílios domésticos, de panos transformados em colchas de retalhos, formando retângulos e círculos coloridos, de palhas sendo usadas na confecção de tapetes, sobretudo, des- pertavam desusada atenção, quiçá deslumbramento, ao menino César Romero, quan- do acompanhava o pai, fazendeiro criador de gado, às feiras livres de Feira de Santana e de regiões vizinhas. Aqueles objetos simples, porquanto puros na acepção, quase ingênuos no fazer e no sentir de pessoas humildes e criativas, um dia deixaria o imaginário infantil de César Romero, para eclodir na criação plástica de um artista que, a partir de então, procura uma pintura de cunho nacionalista, sem jacobinismo; ou, como ele costuma afirmar: “... algo que fosse referência da minha cidade natal, Feira de Santana, da minha se- gunda cidade, Salvador, do meu Estado a Bahia, da minha região, o Nordeste do Brasil, enfim...”. *** César Romero estava com 17 anos, residindo em Salvador, como aluno de Colégio Marista, na mesma cidade, quando, em 1967, Feira de Santana ganhava o Museu Regional de Arte. Inaugurado no dia 26 de março de 1967 por iniciativa do jornalista Assis Chateaubriand (1891-1968), fundador dos Diários Associados, então o maior complexo jornalístico do país, e Embaixador do Brasil na Inglaterra. Chateaubriand tinha compromisso com a cultura brasileira. Uma de suas grandes ini- ciativas, a criação, em 1947, do Museu de Arte de São Paulo-MASP, detém a maior coleção de pinturas e esculturas de arte europeia na América do Sul. Seu patrimônio reúne artistas do quilate de Ticiano, Rafael, Goya, Tintoretto, Chardin, Ingres, bem como aqueles outros que fizeram e revolução da arte moderna - Manet, Renoir, Matis- se, Van Gogh, Léger, Degas - e clássicos nacionais do porte de Portinari, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Anita Malfati e Vicente do Rego Monteiro. 24 25 em 1974, optou pela Psiquiatria, especializando-se em Psicoterapia Individual e Gru- pal, com intensa atividade clínica, sendo hoje um dos mais conceituados psiquiatras baianos. Autodidata em pintura, ele iniciou em 1971 a participação em salões de arte nacio- nais, despertando o interesse crítico para a sua pintura. Outro interesse plástico foi a fotografia, com a qual conquistou premiações que muito o incentivaram. Não resta dúvida de que o olhar de César Romero através da máquina fotográfica foi-lhe benéfica, concernente a sua pintura. O material estava ali presente, a sua dis- posição, não somente em Salvador, onde residia, como também em Feira de Santana e outras cidades interioranas, repositórios do que de mais tradicional encontra-se na terra baiana. Portanto, não é de admirar sua escolha pelas manifestações populares, ou a arte que vem do povo, como enfoque do seu trabalho. Nesse particular, estava ao seu alcance um universo particularmente rico em forma e conteúdo, a cuja interpretação, a nível erudito, César Romero deu sempre o melhor de si, como artista. Há anos, o pintor baiano vem aperfeiçoando cada vez mais a integração do popular na sua obra. Nas diversas fases em que trabalhou a temática, com séries intituladas em- blemáticas, uma coerência estilística estava presente de maneira inquestionável: a cor. Pelo colorido, César Romero se destaca entre os pintores baianos e os brasileiros, for- mando com eles uma espécie de corrente, em função de identificar a pintura por eles realizada como uma obra brasileira. A cor, nele, já é um elemento autônomo. O pintor começou intuitivamente, entretanto jamais abdicou suas convicções nacio- nalistas em termos visuais. Como baiano, sabia haver, ao redor, campo de ilimitadas perspectivas plásticas. Nele estavam dois dos elementos de fascínio na arte: a forma e a cor. As pesquisas representam a maneira de antecipar a obra, razão pela qual merecem sua inusitada atenção. Em várias ocasiões, o pintor reafirma essa convicção, quando diz “venho pesquisando, estudando, coletando, reinterpretando e recriando a simbolo- gia do Nordeste e os signos afro-brasileiros. Das colchas de retalhos e seu vocabulário (os sinais do povo), que chamo de Faixas Emblemáticas; através de permutações, aprofundo e discuto Pintura”. À primeira vista, a obra de César Romero parece ser de fácil execução, por causa prin- salienta-se a cultura agrícola e a criação de animais para definir outras finalidades de- correntes da mesma palavra. Quando falamos de cultura, ou tentamos defini-la, logo nos ocorrem essas especifica- ções, a mais importante, sem dúvida, caracterizado-a diretamente ao homem e seu comportamento no meio em que vive e atua. César Romero é homem culto. Não só pela formação humanística, como igualmente pela preocupação com o meio onde exerce suas atividades profissionais e artísticas. Ao mesmo tempo em que a medicina psiquiátrica ocupa parte do tempo dele, exercita a parte teórica, como crítico de arte, em jornais da capital baiana por mais de trinta anos. Seu interesse, porém, estende-se a outras áreas culturais: música popular, em especial a brasileira e a latino-americana, bem como a literatura, sobretudo a poesia. Poetas como Fernando Pessoa, Alexandre O`Nell, Mario Quintana, W.H. Audem, Helio Pellegrino, Walmir Ayala, Raul Bopp, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Luis Bor- ges, Manuel Alegre, Konstatntino Kava´Fis, Ferreira Gullar, Anna Akhmátova, Arthur Rimbaud, Álvaro Alves de Faria, Mirian de Carvalho, William Blake, Péricles Prade,Jorge Luís Borges dentre outros, são frequentes nos seus solilóquios e conversações. Curiosamente, César Romero nasceu em 1950, quatro anos depois que um grupo de artistas plásticos de Salvador, com novas ideias, tentava implantar a estética moder- nista no âmbito estadual, sob a liderança do escultor Mário Cravo Junior (1923-), do pintor e depois tapeceiro Genaro de Carvalho (1926-1971) e do pintor Carlos Bastos (1925 - 2004). A eles se juntariam depois outros nomes como Lygia Sampaio (1928-), Rubem Valentim (1922-1991) e Carybé (1911-1977) - desenhista e pintor argentino que, encantado pela terra baiana, nela se radicou. Não se pode esquecer ainda, no grupo, a presença do pintor sergipano Jenner Augusto (1924-2003). Este, em 1949, marcara historicamente o modernismo em Sergipe, com uma pintura decorativa no Bar Cacique, em Aracaju. César Romero começou a encarar a pintura com maior seriedade a partir de 1967. Neste ano, participa do 1º Encontro Intercolegial de Artes Plásticas (1ºEICAP), reunindo colégios da capital baiana. Sua tela - uma igreja pintada de vermelho, e as casas ao redor, pintadas respectivamente de amarelo e azul - conquistou prêmio, concedido por um júri encabeçado, dentre outros, pelo crítico de arte Wilson Rocha, e pelos pintores João José Rescála, Riolan Coutinho e Juarez Paraíso, e pela escultura Mercedes Krus- chewsky. A medicina, porém, era apelo visceral. Formado pela Universidade Federal da Bahia, 26 27 muito usuais. Não tenho medo da cor, ela faz parte da herança tropical baiana e nor- destina. A cor me localiza. Sou um observador compulsivo da luz e suas consequên- cias. Sou intenso. G.E.A. - Além da cor, você valoriza tema? C.R. - Sim, tenho um programa teórico, que é fio condutor do meu processo como ar- tista. É algo defensável. Não sou de improvisações, por não saber o que fazer. Acordo cedo e vou cumprir minha missão, minha escolha. Nos últimos 35 anos, investigo uma linguagem e uma visualidade brasileira. Não vou desistir nunca, estou condenado a essa procura. É algo difícil e trabalhoso. O popular é sempre matriz, e busco registrar as marcas que o povo criou, seja na religiosidade afro-brasileira, na católica, nos brin- quedos populares, na cerâmica, nas festas do povo e lendas do Nordeste. Busco uma reinterpretação do que vejo, uma metalinguagem. G.E.A. - Sua pintura é regionalista? C.R. - No fundo, busco valorizar minha região, suas características, tradições e peculia- ridades. Nosso país tem culturas diferenciadas. E isso é bom. Regionalismo é assumir identidade. Qualquer arte, que tenha como viés sua terra, é universal. O artista tem que produzir o seu meio, voltar-se para suas raízes. Essa é minha verdade pessoal, não quer dizer que seja uma lei para todos. É para mim. Aprendi na vida a respeitar as diferenças. Respeito todo pensamento alheio e quero que respeitem o meu. Cada qual use sua liberdade e crie. G.E.A. - Essa busca de brasilidade vem desde quando? C.R. - O ponto de partida foi a colcha de retalhos que apareceu em minha pintura no início de 1978. A colcha de retalhos é muito comum em localidades mais pobres, quando se unem pequenos retalhos que sobram. Costuram-se uns nos outros, até se formar uma peça grande, para aquecer nas noites ou servir de cobre-cama pelo dia. A variedade de cores, formas, texturas e angulações é fascinante. Aí temos arte popular utilitária, que surge de força da privação, da pobreza, da necessidade de viver, resistir. - Feita a colcha de retalhos, que é bandeira, que é estandarte, que identifica, festeja fatos, aglutina, inscrevi nela um vocabulário nordestino: símbolos, marcas do candom- blé, dos chapéus e roupas dos cangaceiros, dos vaqueiros, do artesanato, da cerâmica popular utilitária e lúdica, mandacarus, árvores e arbustos sintetizados, a zoomorfia nordestina, a puxada do xaréu, o bumba meu boi. As arraias e periquitos dos céus de verão com suas crianças pançudas na outra extremidade da linha. O sertão, o sol com cipalmente do desenho de aparente simplicidade. Este é o primeiro enigma a dela se desprender, quando sabemos ser justamente nas coisas mais simples onde qualquer autor encontra as maiores dificuldades. Ser simples requer, antes de tudo, conheci- mento e elaboração, bem como domínio da técnica, sem perder a emoção implícita. Excelente colorista, César Romero parte de um tom da cor para expandi-lo harmonio- samente pela superfície da tela, através de pinceladas em busca dos espaços com as sutilezas de um pontilhismo de refinada elaboração. É esse sutil rebuscar que esboça mentalmente, ao iniciar o quadro, uma das peculia- ridades do pintor nas texturas criadoras da sua gramática plástica, acabando não so- mente por seduzir o espectador, mas indo mais fundo, estabelecendo a empatia entre o olhar e a obra de arte. César Romero firma sua crença numa arte nacional, uma ode ao ato de pintar e uma declaração de amor à cor; na verdade, a sua razão de viver e trabalhar uma visualida- de, que reflita a terra e o seu povo. AVE, CÉSAR! Nesta entrevista, César Romero procura discutir seu pensamento plástico-visual. Prin- cipalmente, revela a maneira de criar e como seu fazer artístico o envolve desde a tela em branco ao resultado final. G.E.A. - O que é arte? C.R. - Arte é invenção de linguagem. Transfigurações. G.E.A. - Você é essencialmente um pintor? C.R. - Sou, exploro a cor à exaustão. As possibilidades de combinações, os ajustes, as entonações, as potencialidades cromáticas. Minha pintura é um exercício da cor. Trabalho o que resulta de uma cor diferente sobre outra interpenetrante e ela em sua integridade. Não é fácil o trabalho de cor. É um desafio que enfrento sem nenhum temor, chego à zona de perigo. G.E.A. - Você se considera um colorista? C.R. - Sim, sei manejar cor com certa desenvoltura e crio possibilidades que não são 28 29 os signos, a carga inventiva e os sinais da nossa gente. Fixar é arrumar o fugaz. G.E.A. - Seu trabalho tem um compromisso com o Brasil? C.R. - Tem sim, busco uma linguagem e uma visualidade brasileira. Não vou desistir nunca, estou condenado ao prazer e a tortura desta procura. É algo difícil e trabalhoso. Requer responsabilidades para não se cair no banal, no folcloroso puro e simplesmen- te. O popular é sempre matriz. Busco registrar as marcas que o povo criou em sua sabedoria, vivência e intuição. Assim, o popular e o erudito se complementam. G.E.A. - Você é um documentarista? C.R. - Não sou um documentarista. Busco uma transfiguração do que vejo e vivo. No fundo, faço uma síntese plástico-visual dos sinais do povo. Há coerência e sinceridade em todo esse tempo que pinto. Continuo fidelíssimo ao meu pensamento. Não sou de improvisar. G.E.A. - Você faz anotações do que vê? C.R. - Faço anotações com caneta tinteiro em qualquer papel disponível. Depois revejo, penso, dou a minha interpretação e monto meu arquivo. A primeira coisa que faço, quando vou a alguma cidade, é fotografar os mercados populares e o artesanato local. O resultado vale como foto mesmo e como referência para as pinturas. G.E.A. - Existiram outros momentos? C.R. - Existiram as Paisagens com flâmulas soltas sobre elas; os Enigmas, que são relações com os símbolos afro-brasileiros, chapados, funcionando como tatuagens co- loridas; as Platibandas Emblemáticas são frontispícios das casas simples do interior da Bahia, feitas por mestres de obra e pedreiros, que guardam visões populares em seu bojo. As Arraias Emblemáticas são pipas, de cores fortes, onde aplico meus símbolos. As arraias ou pipas são um dos grandes prazeres dos meninos nordestinos. São pin- turas que voam. Os Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - é a metageometriados tamboretes com tampos dos bancos pintados, para identificar o proprietário. Tenho uma série de pinturas e fotografias destes módulos. Tudo é interligado. São diferentes momentos de um mesmo pintor, seguindo sempre o popular como matriz, o Nordeste e suas invenções, sua cultura, sua forma de viver e conviver, sua essência, a alma de um povo simples, que não abre mão de suas tradições. G.E.A. - Como funciona seu processo de trabalho? sua dialética vida-morte, a lua e suas lendas, os rios das fazendas, os mata-burros separando pastagens. As marcas do couro, da decoração dos arreios, as rendas, os ritmos da cestaria, o cordel, instrumentos musicais e ferramentas do candomblé. Os monogramas dos santos de devoção, as charolas, as rezas, os estandartes, as flâmulas tão usadas nas procissões. O desenho, a pintura dos tambores, bancos, mesas e barra- cas das festas de largo, do carnaval, as festas de São João e suas bandeirinhas, o natal e o presépio. As festas de outros povos que o nordestino abrasileirou. O povo e sua arte comunitária, a vida. Aí está minha alma nativa, em minha interpretação plástico-visual. A colcha de retalhos é referência inicial, depois inscrevo sobre elas meu vocabulário, o risco do meu povo e nomeio de Faixas Emblemáticas. As Faixas Emblemáticas tem movimento contínuo e buscam uma dança de elegância e sensibilidade. G.E.A. - É uma espécie de teimosia? C.R. - Prefiro dizer convicção. Meu trabalho vem do que recolhi em minha Região, o Nordeste. Uma codificação não verbal. Acolhimento do específico e do geral. São refle- xões plástico-visuais de um território rico em costumes, ritos, música, folclore e tantas outras manifestações de arte. A produção artística popular é vastíssima. Caleidoscó- pica. O Nordeste, tão marginalizado, visto com preconceito, considerado o Terceiro Mundo do Brasil é onde palpita e se forma a maior parte da nossa identidade cultural. G.E.A. - Essa coisa de indenidade cultural na arte, de brasilidade, incomoda muita gente... C.R.- Que não se incomodem, façam suas coisas, se responsabilizem por elas. O tem- po se encarregá de depurar. Não quero que ninguém pense como eu. Só quero ter o direito de pensar. Só sei que faço pintura e tenho um pensamento estético. G.E.A. - Qual seu pensamento plástico-visual? C.R. - Criar meu destino de brasileiro e de artista plástico. Acredito pessoalmente numa arte que venha do povo, das suas vivências, das suas crenças. Precisamos de uma his- tória, formando uma ideia de pátria, um pensamento brasileiro. Trabalho com os sinais nordestinos e com os símbolos afro-brasileiros, um vocabulário que qualquer nordesti- no vivencia no seu dia a dia. Não é necessário que obrigatoriamente se ‘’entenda‘’ essa semiótica. No fundo, o que faço é pintura. Sou um pintor, um colorista. O popular é sempre matriz, e no exercício da observação, busco uma ruptura com o banal. Acredito ser importante registrar, para não deixar morrer as marcas, os símbolos, 30 31 Não sou um artista desagregado, cada dia ser uma coisa. Sou a continuidade do meu propósito. Sou aquele que vive a mudança a cada exposição, sem fugir do meu centro. Minha pintura é como minha vida. Venho mudando com os anos, amadurecendo, mas tenho minha identidade, meu eu preservado, que vou aprimorando com o passar dos anos. Acredito que, hoje, sou uma pessoa melhor, mais informada, mais centrada, menos dispersa. Assim tem sido com a pintura. Não sou do ‘’flash‘’, do imediatismo das tendências, dos anseios do mercado, da busca de aprovação, da dependência de cargos políticos. G.E.A. - Você é crítico de arte da ABCA e AICA. Como vê a crítica e como você se re- laciona com ela? C.R. - Como artista plástico, sempre respeitei a crítica de arte. Ela não é uma ciência, mas tem os seus sinais e os seus sintomas, e pode se basear em elementos da ciência. Nenhum crítico que seja sério será irresponsável, a ponto de emprestar o seu nome, elogiando um artista sem valor, porque aquilo vai depor conta ele. A crítica de arte bra- sileira é formada, em sua grande maioria, por intelectuais, historiadores, professores pós-graduados, pós-doutorados. São estudiosos, pesquisadores renomados. Alto nível. Não vejo meus trabalhos como um crítico de arte, vejo como artista. Acho importantíssimo o acompanhamento da obra de um artista por um crítico de arte. Há possibilidades de diálogos, orientações, avaliações. É sempre uma troca saudável. O crítico é um elo entre artista, obra, público e a História. Não faço o jogo dos curadores improvisados e de quem possa exercer algum poder, que é sempre transitório. Sou do atelier, da pesquisa nos mercados populares das cidades que conheço. Registro, fotografo tudo, e as imagens me servem de apontamento. Se algo me interessa, me toca, vou redesenhar, rever, transfigurar, teimar, insistir, até que surja o símbolo, modificando a aparência, nunca a essência. A repetição de intenções me liberta. Sou vigilante em minhas buscas. Não faço colagens com obras alheias, de outros artistas, sejam nacionais ou internacionais. Não sou um mix, sou uno. Meu trabalho tem uma integridade. É autoral. Vem do meu gesto, das mãos, do ritmo das pinceladas, da observação contínua de minha iconografia. Meu trabalho é minha alma e minha arte é linguagem. Há sinceridade e ética no que faço. Existe em minha pintura um misto de espiritualidade, confissionalidade, técnica e uma obstinada busca da cor. Eu visto minha cor, que já é pele. Nessa epiderme colorida e plural, movimento décadas de pintura. Como esse tempo passou, não sei bem. Descobri por acaso, fa- zendo um resumo de meu currículo. Só sei que foi muita ação. C.R. - Sou muito observador. Tudo que vejo funciona como pintura. Logo, penso como vou transfigurar o que vejo, materializar as percepções. G.E.A. - O que há de novo em seu trabalho? C.R. - O processo de maturação dele. Minhas coisas são pensadas, ruminadas à exaustão. Estas pinturas são ondas de um mesmo oceano. São claramente saídas de um mesmo pintor. Trago novos símbolos, novas cores, novos entrecruzamentos, novos ajustes. A escala mudou, agora são trabalhos de grandes dimensões. As cores mere- ceram um cuidado exaustivo, procurei encontrar novas potencialidades cromáticas, possibilidades de combinações, ajustes, entonações, claro-escuro, texturas e transpa- rências. Pintura é cor, é saber manejá-la, torná-la um elemento autônomo, sem esque- cer meu programa teórico. Sempre separei cor e tema. O que faço é buscar integrá-los numa síntese lógica. Meu trabalho tem mudado muito. Mais pela delicadeza do que pela força da imposi- ção. Ele flui, como um lenço solto num espaço enigmático, cercado de luzes e trans- parências. O tempo e a aprendizagem, o fazer e os resultados nos empurram para uma mudança, que é progressiva, sem sobresaltos, sem apagões ou rasgos de bravatas desnecessá- rias. Há algo indizível no processo, chegando através do transluzir, das somações de cores, refletindo-se na aparência da epiderme da pintura. Você nota claramente: são saídas de um mesmo pintor. Um novo olhar sobre meu eterno tema e pensamento: uma semiótica brasileira. Vou viver e morrer buscando a brasilidade, o registro do Bra- sil. Algo como um Hino Nacional. G.E.A. - Fale sobre seu trabalho nestas décadas de pintura... C.R. - Sou fiel à pintura nestes anos. Símbolo e cor se comportam fraternalmente. Existe um lugar além dos modismos passageiros, para um artista em busca de manter uma linguagem. Há algo sólido no que faço, um rastro de fidelidade aos meus propósi- tos, à minha busca. Tem uma coerência entre o que falo e a ação. Há firmeza em meu comportamento. Uma mistura entre o espiritual e a fisicalidade das coisas. Pinto minhapele, uma epiderme baiana, nordestina e brasileira em sua essência. As linguagens da moda nunca me interessaram. Conheço para ter informações do que existe no mundo. Meu mundo é a Bahia e sua mística. Sou fidelíssimo ao meu pensamento teórico, ao meu fazer, minha busca. Vivo na contramão da moda. 32 33 jos e ritos. Sou do encontro com a alma nativa. Um aprendiz a teimar. Meu trabalho remonta a uma família, tem o mesmo DNA. Difere apenas na aparência externa. Há um claro processo de mudança contínua e o mesmo DNA. Vivo o espaço ilusório percorrendo a cor. Minha arte nunca veio aos saltos e borbotões. Foi desfiada dela mesma, e dela parida. Tenho um fio condutor que é a alma nacional. Quero ser um intérprete do Brasil. Minha pintura é estudada, pensada. Um modo de representar ilusões coloridas com faixas, listras e inscrições da baianidade. G.E.A. - Como você vê o tempo? C.R. - O tempo tem seu preço: ou ajuda a definir um artista ou dilui. Avança ou cai seu processo criativo. Assim, temos que estar em permanente alerta. Pintar é correr riscos, é jogar certo jogo de sorte ou azar. É um desafio permanente até a finitude, quando a dialética encerra. Procuro cumprir a tarefa de justificar minha existência no bojo do que vivo e vivi, nas nódoas que o nordeste fixou em mim. G.E.A. - Como você se define? C.R. - Nunca me interessei por rotulações. Nunca quis e nunca quererei estar na moda. A moda passa e o artista também. Eu faço arte brasileira. Algo diferente das ‘’internacionalizações‘’, meros arremedos requentados do que se faz lá fora. Muitos artistas, para serem modernos, copiam de revistas as ‘’vanguardas internacionais‘’. Vanguarda é mostrar ao mundo algo que ele não conhece, ou não percebeu. Então a vanguarda pode estar no seu quintal. É mais fácil copiar que criar. Como função, o papel da arte é formar consciência humana, resultante de pensamentos e reflexões. G.E.A. - Um grande sonho... C.R. - Gostaria que o povo simples visse a apropriação que faço de seus sinais, da sua simbologia, da criação popular coletiva, que no fundo é de todos nós, brasileiros. G.E.A. - Você é conhecido pela organização e metodologia de trabalho. Então vale uma pergunta capciosa: como será sua pintura para os próximos anos? C.R. - Já sei mais ou menos o que pretendo fazer. Já tenho claro na minha cabeça G.E.A. - O que é BR-amante? C.R. - BR-amante foi uma exposição que comemorou meus 40 anos de pintura. O nome, eu criei como uma síntese do meu pensamento, que poderá ser lido de três maneiras: BR-amante, amante do Brasil. BR-amante, um tecido e através do tecido. Busco revelar bens culturais de raiz brasileira. BR-amante do verbo bramar, ser um bramador da cultura popular e de um propósito, discutir a alma e a essência do povo brasileiro. BR-amante tem forma, matéria, sensibilidade e cor. Busco emoções estéticas em rit- mos musicais oriundos do Nordeste. Algo que tenha o encanto da humanidade, da espiritualidade, da mistura de raças, de regiões, de achados. Algo plural que se unifica no corpo da pintura. Esta exposição começou na Europa. Foi vista em 12 estados bra- sileiros e terminou em Salvador. Meu produto é claro. Sou meticuloso, detalhista e atento a pormenores. Meu trabalho tem uma história de coletividade, de gerações vividas que deságua em forma, linha e cor. Busco ser um intérprete plástico-visual da alma brasileira. G.E.A. - Sua pintura tem mudado? C.R. - Minha pintura tem mudado nos últimos anos. Há um aprofundamento dela. Aproveito ao máximo o branco da tela, que se tornou fundamental para trabalhar as transparências das tintas e verificações de erros e acertos. As cores suavizaram, agora viajam na delicadeza. Pensar a delicadeza em pintura é rever seus valores intrínsecos na totalidade. G.E.A. - Qual sua busca principal em artes plásticas? C.R. - Quero uma pintura sem truques. A pincelada é um ato único, e detono variações cromáticas que interferem na retina, numa pulverização de tons. O tema, o assunto está resolvido. A cor hoje é meu interesse maior. Sou um instrumento da cor. Quero ser tudo que a cor possa dizer. Imaginação e pensamento estão engajados de forma visceral. Há uma rigorosa dis- ciplina e adestramento da mão. Tudo resulta de um agrupamento de símbolos que interagem de maneira sutil, orquestrados por um pensamento lógico. Meu trabalho plástico-visual é endógeno e ruminado. Sou da experiência acumulada, do produto final enraizado, nos anos vividos com a comunidade nordestina, seus feste- 34 35 CRONOLOGIA TEMÁTICA César Romero é um dos pintores mais coerentes do Brasil. Em toda sua carreira, tra- balhou um único tema: O Nordeste. É o resultado de pesquisas, as quais deram, a seu trabalho, uma evolução coerente e lógica. Segue o roteiro. 1º Casarios (1966-1969) Procurava, de forma simples, fixar pontos referência da arquitetura da cidade do Sal- vador. À época, grande parte dos artistas começava pelo casario, especialmente em Salvador, onde as pessoas estão imersas no Barroco. Esta corrente estética muito influencia a pintura de César Romero. O Barroco floresceu em Roma, no início do século XVII. A pintura barroca religiosa retratava santos ou a Virgem, envolta por mantos drapeados e por nuvens cercadas de querubins. A preocupação do artista era focar em ângulos simples, de leitura direta, mas não ób- via, o casario de sua cidade. 2º Imaginária (1969-1975) Buscava revelar os santos da tradição católica. Ia a igrejas, fazia anotações, reinventava as imagens, ressaltando o barroco, tão tradicional na Bahia. A religião era uma referência para os baianos especialmente nos anos 70. Há ainda outro dado que reforça esta escolha. César foi aluno interno do Colégio Marista por três anos. Isso o influenciou em suas crenças e aptidões. A missa era obrigatória todas as manhãs, com cânticos, incenso e homilias. 3º Selos Comemorativos (1975-1980) São imagens em que os santos aparecem como garotos propaganda da sociedade de consumo. Apresentam uma faixa, contornando a personagem central com picotes arredondados nas bordas como selos dos correios. Assim surgia: Selo Comemorativo do dia dos Falsos Brilhantes, Selo Comemorativo do Dia dos Direitos Humanos, Selo Comemorativo do Dia do Dólar, Selo Comemorativo do Dia do Arrependimento e muito mais. O artista ironizava o poder dos santos na sociedade de consumo, nos feriados em suas homenagens e nas festas populares. o que vou fazer, nos próximos anos, com a minha pintura. Sou um pintor amante da sua profissão e confia nela como um sacerdócio. Minha tendência estará na máxima simplificação. G.E.A. - Resuma sua pintura. C.R. - É uma resistência amorosa, uma paixão transmutada em forma e cor. Hoje tem a calmaria da convicção. Nunca esperem de mim invencionices de moda passageira. Sou fiel a minha pintura, que tem a sinceridade do simples, da pesquisa orientada, fixando uma cultura. G.E.A. - Você trabalha todos os dias? C.R. - Sim, às vezes até nos domingos e feriados. Eu gosto de trabalhar. Trabalho muito. Faço isso com imenso prazer. Eu tenho uma missão e tenho que cumpri-la. O tempo é eterno, eu não. A arte é eterna, eu não. Sou um artista com uma fração deste tempo. É preciso aproveitá-lo. Não esquecer que existe lazer e prazer. G.E.A. - Alguma crítica negativa na carreira? C.R. - Não, nunca. Acho que tenho sorte. Tenho 122 textos de críticos nacionais e 12 internacionais. Sempre ressaltaram a minha cor, minhas escolhas e a coerência. Pode aparecer agora. Alguém poderá ser o pioneiro. G.E.A. - Você é multimídia. Isso não atrapalha você aprofundar mais os seus assuntos? C.R. - Não, sei otimizar meu tempo. Eu nasci artista e, como tal, me acho capaz deexperimentar várias coisas, várias tendências, vários aspectos da arte. Sou intenso e inquieto. Sou um profissional metódico. Tenho muito cuidado com o que faço. A esta altura da vida, não tenho o direito de fazer besteiras. G.E.A. - Algo mais? C.R. - Sim, eu quero te dizer, com muita sinceridade: eu dei ao Brasil uma estampa, uma imagem, como Volpi, Valentim, Maia e Samico. Olhando esse meu percurso, hoje posso dizer na calmaria, tenho uma coerência endógena. 36 37 pecial. Atualmente as mesas e cadeiras são de plástico. E os barraqueiros tiveram que se adaptar à nova realidade. O geometrismo popular pintado nas mesas e banquinhos e suas conecções aleatórias formavam painéis de grande beleza e invenção. Existem 215 imagens registradas. 7º Faixas Emblemáticas (1984-2016) O artista fazia sempre fotos de seus trabalhos para seu arquivo particular e para divul- gação na imprensa quando oportuno. Um dia, por acaso, fez um “zoom” na faixa e ficou olhando. Fixou e observou que a faixa tomava todo o campo fotográfico. Começo, meio e fim, num mesmo plano. Daí em diante, a faixa colorida passou a ocupar todo o campo plástico, dando maior possibilidade ao artista de trabalhar seus símbolos/sig- nos. Faixas Emblemáticas se tornou a fase mais conhecida de César Romero. Flexibili- zando demarcações das fronteiras, o artista trabalhou outros temas, durante o período em que realizava as Faixas Emblemáticas. As Faixas Emblemáticas visavam à aglutinação de uma semiótica nordestina, traduzida de forma plástico visual, por entender Arte enquanto linguagem, uma sucessão de símbolos de raízes ancestrais, que emerge do popular. Buscava registrar e não deixar morrer as marcas que as comunidades simples criaram. Os sinais do povo. Busca uma identidade popular brasileira, que forme a noção de pátria. Esta série sempre acompanhou a carreira do artista, mesmo ele fazendo incursões por outros caminhos coerentes. É o resumo de seu pensamento pictórico. 8º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - Pinturas (1986-1992) Vendo e fotografando os tamboretes, César decidiu pintá-los em telas. As fotografias dos tamboretes serviam de apontamento e ele inventava novos jogos do olhar, com texturizações bem marcadas. As cores acesas, brilhantes, pareciam festejar a vida, os folguedos que sempre existiram nas Festas de Largo. A alegria era a tônica. 9º Arraias Emblemáticas (1986-1993) Na infância, César Romero “empinava” muitas arraias, pandorgas, pipas ou papagaios. Relata que tinha imenso prazer em criar geometrizações e cores para as arraias. “Era um jogo de armar. Conseguia muitas variações de formas e cuidava das cores. Fazia combinações que não eram comuns. Por exemplo, numa arraia eu usava preto, roxo e carmim, em outra púrpura, violeta e cinza, assim iam. Minhas arraias eram conhe- cidas. Quando estavam no ar, de longe os meninos as identificavam pelas cores”. As Nos anos 70, a correspondência era quase toda por carta. Ele morava em Salvador e a família em Feira de Santana. A correspondência era intensa. E ao manusear os selos das cartas, interessou-lhe a forma picotada com que se uniam e se colavam no envelope. 4º Gravuras - Litografias e serigrafias (1977-1988) Várias edições de gravuras pela Imagem (RJ) e Almavera (SP) com trabalhos das fases Imaginárias, Paisagens com Faixas Emblemáticas, Arrais Emblemáticas e Faixas Em- blemáticas. 5º Paisagens com Faixas Emblemáticas (1981-1987) César, numa tarde de domingo, foi à Lagoa do Abaeté com amigos, viu as lavadeiras trabalhando num dia apregoado para descanso e foi conversar com elas. Cada uma contava uma história diferente sobre a Lagoa e sua magia, até que viu um varal com roupas para secar. O vento soprava, movimentando as roupas coloridas, formando dobras e curvas. Fixou a imagem. Ao chegar em casa, fez um desenho rápido de uma colcha voando e concluiu abaixo com uma paisagem. Estava feita a primeira anotação. Depois pensou e colocou, na colcha, símbolos e signos do candomblé, da cerâmica popular, do vocabulário nordestino. A paisagem baiana é muito diversificada. Vai dos recortes da Baía de Todos-os-Santos, à costa litorânea, à caatinga, ao sertão. Voava a faixa nos céus e, sustentando a com- posição, a paisagem abaixo e um céu sonhado. Não se pode considerar César Rome- ro um paisagista. Seu interesse se dava à atmosfera metafísica, por vezes levemente surrealista, que impregnava a composição e as colchas de retalhos com seus signos/ símbolos. 6º Tamboretes de Festas de Largo da Bahia - Fotografias (1981-1992) Um conjunto de fotografias, dos banquinhos das Festas de Largo, que apresentam um geometrismo simples e criativo e determinavam seus proprietários. Os banquinhos serviam para os populares sentarem, beberem, comerem, namorarem e observarem o entorno. Era a criatividade do povo transformada em arte. Com essas fotos, o artista foi amplamente premiado em salões oficiais de vários estados brasileiros. As fotos dos Tamboretes de Festa de Largo da Bahia é um documento, hoje, muito es- 38 39 primiu nelas seu alfabeto visual. Criou assim uma nova possibilidade para sua pintura. O artista presenteou com estas janelas alguns moradores de bairros simples. Depois de substituídas, provocaram nos passantes reações várias, tanto de admiração pela novi- dade, quanto de questionamentos e observações de que algo novo estava acontecendo nas casas. 13º Totens Emblemáticos (2008 - 2012) São trabalhos tridimensionais, esculturas em blocos de madeira maciça, sobre a qual, em diferentes cortes, surgem pinturas da série Faixas Emblemáticas. A madeira é tra- tada e, em suas paredes, surgem grandes texturizações com colagens de vários mate- riais, promovendo uma estimulante curiosidade aos olhos do expectador. Uma experi- ência instigante. A sutileza de uma pintura fluida, na solidez da natureza. 14º Urdiduras - Desenhos (2009-2015) A essência é a mesma. Relembra sabedoria popular, de raiz brasileira, numa interação, trazendo o popular ao plano erudito. Panos de bandeja e pão, porta-copos, rendas, arte do fuxico, guardanapos, centros e caminhos de mesa, bico de metro, toalhas de lavabo, jogos de cama e outras urdiduras do artesanato popular nordestino são transfigurados, convertidos a outra realidade. Memória plástico-visual de longa pesquisa. O artesanato vem do início da humanidade e está presente nos 27 estados de nosso País. Sabe-se que nada é mais regional que o artesanato. Identificador de origens, fruto expressivo de culturas e tradições, seja na repetição dos moldes ou na inventiva do artesão. Depositário do passado, transmitido por gerações, é fator importante no desenvolvimento sustentável de comunidades simples. Em sua teimosia afetiva, nessas teias, tramas, emaranhados de estruturas organizadas e avoengas, ele buscou o sotaque de sua gente. 15º Urdiduras - Pinturas (2013-2015) Com a experiência dos desenhos que usava nanquim, lápis aquarelável, guache e gra- fite, sobre papel, César decidiu pintá-las em telas apenas com tinta acrílica. Na pintura, buscou valorizar volumes, texturas, entonações e claro-escuro. arraias eram uma das diversões mais comuns da criançada e adolescentes. Ainda era mais acessível a todas as classes sociais. Papel, duas “taliscas”, carretel e linha enro- lada nele. As arraias eram “pinturas” que voavam nos céus de verão e tinham seus símbolos/ signos inscritos no papel. Era o sonho de todo menino entrar numa guerra de arraias e ganhar. Primeiro se “temperava” a linha com vidro pisado, bem moído e misturado com a goma arábica. Logo se passava na linha e colocava para secar. Depois se empi- navam as arraias e, nos céus, elas se aproximavam. Soltava-se do carretel a linha queestava enrolada e, com a velocidade que se colocava, partia a linha da outra arraia. O campeão tremulava no espaço e o perdedor via sua arraia descer, rodopiando ao chão, juntando muitas crianças para pegar a arraia, que, sendo perdedora, pertenceria agora a quem conseguisse pegá-la. A guerra de arraias eram atrações dos finais de semana. 10º Enigmas (1987-1991) Os enigmas são exclusivamente as transfigurações das ferramentas, instrumentos ou armas dos orixás. Os orixás são cheios de virtudes e fraquezas como os homens. O candomblé é uma religião tão antiga quanto as práticas religiosas primeiras do início da humanidade. O enigma é coisa a ser decifrada, que é descrito de forma ambígua. Os terreiros são espaços místicos. São a síntese das terras da África, dos reinos de lá. Dentro destes enigmas, César Romero criou a série e só o orixá é dono dos espaços, de todo campo plástico. 11º Platibandas Emblemáticas (1988-1992) Viajando pelo interior da Bahia, César Romero ia passando por cidadezinhas do inte- rior, que beiravam as estradas, de ida e volta. Como sempre, anda portando máquina fotográfica e registrando os frontispícios das casas simples das cidades de Anguera, Bravo, Serra Preta, Ipirá e Feira de Santana, na Bahia. Estes frontispícios são feitos pelos mestres de obras ou pedreiros das localidades. Geralmente são geometrizados e coloridos. César inspirou-se nestas fachadas, pintou o recorte e, nas possíveis portas, inscreveu os sinais do povo. 12º Janelas Emblemáticas (2007-2009) Vendo casas de bairro simples, com janelas e portas de colorido forte, foi a casas de material de construção comprar janelas de madeira tosca, deu base de tinta látex e im- 40 41 para jornais e revistas brasileiras. César iniciou-se na grande imprensa em 1975, ao lado de Justino Marinho, no Jor- nal da Bahia, com as colunas Arte & Fatos e Especialarte, permanecendo até 1999, quando foram indicados ao Editor Cultural Gutemberg Cruz, para escreverem no Jor- nal Correio da Bahia. São 42 anos escrevendo ininterruptamente, divulgando as artes visuais brasileiras. Em 2016, completou 41 anos como especialista. Um esforço pro- vavelmente sem igual em nosso país. Ainda foi colunista de artes plásticas da Revista Slogan e de outras já extintas. Colaborador do Jornal da Crítica, do Jornal da ABCA em São Paulo e da Revista Segunda Pessoa na Paraíba. Foi admitido, como crítico de arte pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), com sede em São Paulo, através da indicação dos críticos e escritores Walmir Ayala e José Roberto Teixeira Leite. A partir desta data, é oficialmente Crítico de Arte da Asso- ciação Brasileira de Críticos de Arte e da Association Internationale Des Critiques d´Art, ONG reconhecida pela UNESCO com sede em Paris. Publicou mais de novecentos artigos sobre arte. Prefaciou aproximadamente trezentos e cinquenta catálogos de ex- posições para artistas brasileiros e lusófonos. Fez apresentação para livros de poesia, contos e romances de escritores nacionais. Atuou como organizador de ciclos de palestras e conferências de críticos de arte na Bahia, tais com Harry Laus, Vicente de Pércia, Israel Pedrosa, Lisbeth Rebollo Gonçal- ves e Geraldo Edson de Andrade. Foi curador chefe em vários estados brasileiros e países lusófonos, como na Exposição “Às Portas do Mundo”, realizada em Évora (Portugal), Exposição de Arte Contemporâ- nea - Pluralidade na Lusofonia, aberta no Palácio Real Dom Manuel/ Évora, em 30 de novembro de 2005, com presença de ministros, embaixadores, e o então Presidente da Republica, Jorge Fernando Branco de Sampaio, que prefaciou o catálogo. Em 2011, publicou o livro “Grafite: Sinais Urbanos” - Canal Produções. Em 2006, dois livros: “Bahia - Negras Raízes”, sobre quatro interpretações escultóricas dos artistas Rubem Valentim, Agnaldo dos Santos, Mestre Didi e Juarez Paraíso. Também “Carl Brusell - Um Artista da Forma e da Cor”, ambos editados pela Expoart. Colaborou em livros de arte com capítulos, analisando aspectos do trabalho de artistas como A Obra de Juarez Paraíso, 2006 - edição da Idea Design; + 100 Artistas Plásticos da Bahia, 2001 - pela Omar G. Produções e Artes Gráficas Ltda; Gordas, de Eliana Kertész, 2004 - Ed. Currupio; Cultura e Artes Plásticas em Feira de Santana - Org. Gil Mario - Edições MRA - Ministério da Cultura - Fundação Biblioteca Nacional do Livro - 2002 - Feira de Santana; Artes Visuais Sergipe - Conexões 2010 - Minc - Funarte - Petrobrás - 2010 - 16º Faixas Emblemáticas (1984 - 2016) Esta série permeou a carreira do artista desde os meados dos anos 80. Foi seu grande momento, que o tornou conhecido nacionalmente e internacionalmente, com prêmios e referências críticas em quase todo o Brasil e algumas no exterior. As Faixas Emblemáticas são uma marca na pintura brasileira. César Romero deu ao Brasil uma imagem originalíssima, única, que o tornou uma referência na visualidade de nosso país. RESUMO DO CURRÍCULO DE CÉSAR ROMERO César Romero nasceu em Feira de Santana, Bahia, no ano de 1950. Autodidata, ini- ciou-se em artes plásticas em l967. É pintor, fotógrafo, curador e crítico de arte. Vive e trabalha em Salvador desde 1966. Formado em Medicina, em 1974, pela Universidade Federal da Bahia, optou pela Psiquiatria, especializando-se em Psicoterapia Individual e Grupal, com intensa atividade clínica. Participou de mais de 500 coletivas e 47 individuais no Brasil. No exterior, teve 50 coletivas e 12 individuais. Mostrou seu trabalho em: As Neves, Barcelona, Berlim, Bilbao, Buenos Aires, Bragança, Cayenne, Chiasso, Chaves, Coimbra, Colônia, Düs- seldorf, Espinho, Fort-de-France, Granada, Hannover, Honolulu, Lisboa, Los Angeles, Lousã, Leiria, Madrid, Marsailles, Miami, Montevidéo, New York, Paris, Porto, Punta Del Este, San Francisco, Santiago, Washington, Bordeaux, Sorde L´Abbaye, Guimarães, Santarém, Oñati, Macau, Orthez, Monein, Lourdes, Tarbes, Saint Savin, Pau, Dax, San Sebastian, Jaca, Sabiñanigo, Saragossa, Sevilha e em Pamplona. Fez parte dos princi- pais Salões Oficiais realizados no Brasil. Obteve 43 prêmios de pintura, 5 de fotografia e 4 Salas Especiais. Possui trabalhos em 48 museus brasileiros e estrangeiros, inúmeras referências nacionais e internacionais sobre suas obras em livros, dicionários, revistas e jornais. Curadoria em vários estados brasileiros, países lusófonos e Espanha. Foi membro de júri em vários concursos e Salões Oficiais de artes plásticas no Brasil e alvo de 12 conferências sobre seu trabalho por críticos de arte e historiadores. Em seus 42 anos que escreve sobre arte - um esforço provavelmente sem igual em nosso país, de divulgação da arte brasileira - publicou cerca de 900 artigos e aproximadamente 350 textos de apresentação em catálogos e livros. Proferiu dezenas de palestras, par- ticipou de diversos congressos e debates sobre artes plásticas e o papel da crítica de arte, ressaltando-se duas Bienais de São Paulo e o V Congresso Nacional da ABPA - Associação Brasileira de Pesquisadores de Arte, São Paulo. Realizou trabalhos teóricos 42 43 etiquetas, ilustrações para contos, livros, novelas, poemas, jornais e revistas. Trabalhos seus foram integrados em projetos de decoração e cenário para 25 novelas e alguns especiais da Rede Globo de Televisão, programas da Rede Manchete e TV Record. Possui 5 vídeos sobre seu trabalho. Painéis e murais em Aracaju, Feira de Santana, Fortaleza, Itaparica, João Pessoa, Maceió, Olinda, Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Teresina. Organizador de ciclos de palestras e conferências de críticos de arte na Bahia, tais com Harry Laus, Vicente de Pércia, Israel Pedrosa, Lisbeth Rebollo Gonçalves e Geraldo Edson de Andrade. César
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