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� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA _____________________________________________________________________________________________ COMPETITIVIDADE INDUSTRIAL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO BRASIL Nota Técnica Extra-Blocos Temáticos O conteúdo deste documento é de exclusiva responsabilidade da equipe técnica do Consórcio. Não representa a opinião do Governo Federal. Campinas, 1993 Documento elaborado pelo consultor Clélio Campolina Diniz (CEDEPLAR/UFMG). A Comissão de Coordenação - formada por Luciano G. Coutinho (IE/UNICAMP), João Carlos Ferraz (IEI/UFRJ), Abílio dos Santos (FDC) e Pedro da Motta Veiga (FUNCEX) - considera que o conteúdo deste documento está coerente com o Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB), incorpora contribuições obtidas nos workshops e servirá como subsídio para as Notas Técnicas Finais de síntese do Estudo. ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX CONSÓRCIO Comissão de Coordenação INSTITUTO DE ECONOMIA/UNICAMP INSTITUTO DE ECONOMIA INDUSTRIAL/UFRJ FUNDAÇÃO DOM CABRAL FUNDAÇÃO CENTRO DE ESTUDOS DO COMÉRCIO EXTERIOR Instituições Associadas SCIENCE POLICY RESEARCH UNIT - SPRU/SUSSEX UNIVERSITY INSTITUTO DE ESTUDOS PARA O DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL - IEDI NÚCLEO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA - NACIT/UFBA DEPARTAMENTO DE POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - IG/UNICAMP INSTITUTO EQUATORIAL DE CULTURA CONTEMPORÂNEA Instituições Subcontratadas INSTITUTO BRASILEIRO DE OPINIÃO PÚBLICA E ESTATÍSTICA - IBOPE ERNST & YOUNG, SOTEC COOPERS & LYBRAND BIEDERMANN, BORDASCH Instituição Gestora FUNDAÇÃO ECONOMIA DE CAMPINAS - FECAMP ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX EQUIPE DE COORDENAÇÃO TÉCNICA Coordenação Geral: Luciano G. Coutinho (UNICAMP-IE) João Carlos Ferraz (UFRJ-IEI) Coordenação Internacional: José Eduardo Cassiolato (SPRU) Coordenação Executiva: Ana Lucia Gonçalves da Silva (UNICAMP-IE) Maria Carolina Capistrano (UFRJ-IEI) Coord. Análise dos Fatores Sistêmicos: Mario Luiz Possas (UNICAMP-IE) Apoio Coord. Anál. Fatores Sistêmicos: Mariano F. Laplane (UNICAMP-IE) João E. M. P. Furtado (UNESP; UNICAMP-IE) Coordenação Análise da Indústria: Lia Haguenauer (UFRJ-IEI) David Kupfer (UFRJ-IEI) Apoio Coord. Análise da Indústria: Anibal Wanderley (UFRJ-IEI) Coordenação de Eventos: Gianna Sagázio (FDC) Contratado por: Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP Programa de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico - PADCT COMISSÃO DE SUPERVISÃO O Estudo foi supervisionado por uma Comissão formada por: João Camilo Penna - Presidente Júlio Fusaro Mourão (BNDES) Lourival Carmo Mônaco (FINEP) - Vice-Presidente Lauro Fiúza Júnior (CIC) Afonso Carlos Corrêa Fleury (USP) Mauro Marcondes Rodrigues (BNDES) Aílton Barcelos Fernandes (MICT) Nelson Back (UFSC) Aldo Sani (RIOCELL) Oskar Klingl (MCT) Antonio dos Santos Maciel Neto (MICT) Paulo Bastos Tigre (UFRJ) Eduardo Gondim de Vasconcellos (USP) Paulo Diedrichsen Villares (VILLARES) Frederico Reis de Araújo (MCT) Paulo de Tarso Paixão (DIEESE) Guilherme Emrich (BIOBRÁS) Renato Kasinsky (COFAP) ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX José Paulo Silveira (MCT) Wilson Suzigan (UNICAMP) ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX SUM`RIO RESUMO EXECUTIVO .......................................... 1 INTRODUÇÃO ................................................ 11 1. TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS .............................. 14 2. DIAGNÓSTICO DA QUESTÃO REGIONAL NO BRASIL ............... 15 2.1. Mudanças Recentes no Padrão Regional da Indústria Brasileira ........................................ 15 2.1.1. A reversão da polarização da Área Metropoli- tana de São Paulo .......................... 15 2.1.2. O espraiamento industrial no país .......... 19 2.2. Mudanças nas Economias de Aglomeração, Unificação do Mercado Nacional, Concorrência e Especialização Regional .......................................... 25 2.2.1. Economias de urbanização ................... 25 2.2.2. Desenvolvimento da infra-estrutura e unifica- ção do mercado ............................. 27 2.3. O Papel da Política Econômica em Termos de Investi- mento Direto e Incentivos Fiscais ................. 31 2.3.1. Investimento direto ........................ 31 2.3.2. Incentivos fiscais ......................... 32 2.4. A Fronteira de Recursos Naturais e seu Papel para o Desenvolvimento Regional Brasileiro ............. 35 2.4.1. Fronteira agrícola ......................... 35 2.4.2. A fronteira mineral ........................ 39 2.5. O Impacto Regional das Exportações, da Abertura Ex- terna e da Criação do Mercosul .................... 41 2.6. O Desenvolvimento dos Transportes e seu Papel na In- tegração do Mercado e na Expansão da Fronteira Geo- gráfica e Econômica ............................... 45 2.7. Mudanças Tecnológicas e o Potencial para Aglomeração Poligonal ......................................... 50 2.8. Conclusão ......................................... 56 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 3. PROPOSIÇÕES DE POLÍTICA ................................ 58 BIBLIOGRAFIA .............................................. 63 1 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX RESUMO EXECUTIVO 1.TEND˚NCIAS INTERNACIONAIS A experiência dos EUA e da Europa, nas últimas décadas, revela que a mudança de padrão industrial-tecnológico tem provocado expressivas modificações no padrão locacional da indústria. No caso norte-americano, que pelas suas dimensões continentais guarda lições para o Brasil, as mudanças tecnológicas abriram novas fronteiras espaciais, como confirmam os pólos industriais do Sul, da Costa Oeste e da Região das Montanhas. De outro lado, a decadência de muitos setores manufatureiros deprimiu áreas industriais tradicionais, embora algumas tenham conseguido se reestruturar, a exemplo da Região de Boston. No caso europeu, são comumente referidos os exemplos de desindustrialização nos tradicionais centros industriais ingleses (Liverpoool, Manchester, entre outros), enquanto ocorre renovação e expansão industrial no chamado Corredor M-4 e no Sul da Inglaterra. Na França, verifica-se a expansão industrial no sentido sul, inclusive com o desenvolvimento de atividades de alta tecnologia em uma rede de cidades no chamado "cinturão francês do sol". Experiência diferente vem tendo o Japão. Embora o país não tenha passado por um processo de desindustrialização ou estagnação industrial, o governo japonês tomou a decisão de estabelecer um programa de tecnópolis pelo qual se articula a política científica e tecnológica com o desenvolvimento industrial e regional. Foram criados 25 pólos tecnológicos, cada um com determinada especialização, distribuídos ao longo do território japonês, sendo que as áreas metropolitanas não podem ser eleitas como tecnópolis, inclusive porque o objetivo é impedir a contínua concentração industrial em Tokyo, Nagoya e Osaka. No entanto, avaliações mais recentes indicam o fracasso de 2 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX algumas iniciativas, demonstrando que a intencionalidade política não foi capaz de alterar certas tendências econômicas. 3 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 2. DIN´MICA REGIONAL RECENTE DA ECONOMIA BRASILEIRA Após um século de concentração industrial no Estado de São Paulo e de polarização na sua Área Metropolitana, nas últimas duas décadas esse processo foi invertido, iniciando um movimento de reversão da polarização e de desconcentração industrial para várias regiões do país. Em função desse fenômeno, a participação do Estado de São Paulo e da Área Metropolitana de São Paulo na produção industrial do país reduziu-se de 58% para 49% e de 44% para 26%, respectivamente, entre 1970 e 1990, apesar do crescimento da participação relativa da produção industrial do interior daquele Estado. Entretanto, essa marcada reversão da polarização na Área Metropolitana de São Paulo não implicou uma sustentada desconcentração para o país como um todo. Na primeira fase, o processo de reversão da polarização se fez com um relativo espraiamento industrial para o próprio interior do Estado de São Paulo e para quase todos os demais estados brasileiros. Na segunda fase, no entanto, vem ocorrendo uma relativa reconcentração na faixa que vai da região central do Estado de Minas Gerais ao nordeste do Rio Grande do Sul, incluídos o interior de São Paulo e de Santa Catarina, dentro da qual estão sendo formados os principais pólos de alta tecnologia. Embora sem dispor de resultados censitários, essas mudanças já podiam ser indicadas e observadas desde a década de 1970, especialmente devido ao comportamento regional dos investimentos industriais. No entanto, houve certa relutância em entender e aceitar tal fenômeno, tendo sido necessário que os resultados censitários de 1975, 1980 e 1985 e os indicadores de produção industrial posterior confirmassem tal movimento. Esse processo resultou de mudanças da economia brasileira, para a análise das quais torna-se fundamental a avaliação dos seguintes fatores: a) deseconomias de aglomeração na Área Metropolitana de São Paulo e criação de economias de aglomeração em vários outros centros urbanos e regiões; b) ação do Estado em 4 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX termos de investimento direto, incentivos fiscais e construção da infra-estrutura; c) busca de recursos naturais, traduzida pelo movimento das fronteiras agrícola e mineral, com reflexos na localização de um conjunto de atividades industriais; d) unificação do mercado, potenciada pelo desenvolvimento da infra- estrutura de transportes e comunicações, com efeitos sobre a competição interindustrial e a localização; e) mudanças tecnológicas e seu efeito sobre os requisitos locacionais das atividades de alta tecnologia. Os quatro primeiros fatores agiram no sentido da desconcentração, enquanto o último freou e redirecionou o processo. Assim sendo, a reconcentração derivada das mudanças tecnológicas e a redução da intervenção estatal se aliam à concentração prévia da produção industrial, da pesquisa, do mercado de trabalho profissional e da renda dentro da macro- região mencionada. Face a isto, a continuidade do processo de desconcentração macro-espacial vem sendo obstaculizado e uma nova configuração regional da indústria no Brasil vem sendo esboçada. Concilia a existência de reversão da polarização da Área Metropolitana de São Paulo com uma relativa aglomeração nos estados da Região Centro-Sul, excluído o Rio de Janeiro. Isso significa que as regiões que vinham sendo objeto de políticas regionais, como o Nordeste e o Norte não têm demonstrado capacidade de sustentar um crescimento diferenciado que se traduzisse em alteração macro-espacial substantiva, apesar do crescimento industrial do Estado da Bahia e de Manaus e de uma relativa alteração na distribuição regional do produto interno bruto (PIB) brasileiro. Finalmente, as mudanças da política econômica no sentido de ampliação da abertura externa da economia, a criação do MERCOSUL e a redução dos investimentos diretos pelas empresas estatais e na construção da infra-estrutura seguramente terão efeitos de redução da desconcentração macro-espacial da economia brasileira. 5 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Apesar disso, o potencial das fronteiras agrícola e mineral indica a possibilidade de indução de alterações regionais desde que a política econômica em termos de transporte, de incentivos fiscais e de pesquisa sejam reorientadas. Assim, a busca de competitividade internacional, aliada aos desafios sociais, trazem à tona a difícil tarefade conciliar eficiência econômica com busca de eqüidade, as quais exigirão esforço sistemático em termos da política regional brasileira. 6 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 3. PROPOSI˙ÕES DE POL˝TICA Tendo em vista o objetivo de compatibilizar competitividade industrial com desenvolvimento regional, seis linhas de política são propostas, uma geral e cinco específicas. i) Reformulaçªo global do sistema institucional e de incentivos regionais. Considerada a existência dos mecanismos de incentivos para as Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, através do FINOR, FINAM, PIN, PROTERRA e Fundos Constitucionais, além do FISET, das transferências negociadas e do Fundo de participação de Estados e Municípios, entre outros, e questionado o seu custo e resultados, torna-se necessário avaliar e racionalizar sua aplicação, inclusive unificando esses instrumentos a fim de evitar sua simultaneidade e concorrência. Dada a dimensão territorial do país e o desnível econômico e social entre as regiões, não se pode pensar na retirada do Estado da questão regional brasileira. No entanto, torna-se necessário o estabelecimento de orientações claras e explícitas sobre os critérios e prioridades na aplicação desses recursos. A existência de mecanismos de tráfico administrativo e corrupção e o pequeno resultado obtido exigem ação enérgica das várias instâncias governamentais. Para isto deveriam ser consideradas as seguintes orientações gerais1: - Restabelecimento do sistema de planejamento da economia brasileira, compatibilizando os objetivos de desenvolvimento econômico, eficiência produtiva, justiça social e ordenação do território; 1 As orientações deste ponto basearam-se em uma das alternativas formuladas em Araújo, Tânia Bacelar de et alii. Planejamento Nacional e Planejamento Regional, texto apresentado ao Fórum O Novo Mapa da Economia Brasileira: Desafios do Planejamento Regional, Rio, IPEA, 1993. 7 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX - Substituição do sistema de incentivos fiscais regionais pela criação de um Fundo de Desenvolvimento Regional, com alocação de recursos através de um plano plurianual de investimentos aprovado pelo Senado; - Extinção dos Ministérios da Integração Regional e Ação Social, extinção ou reformulação profunda dos órgãos regionais de desenvolvimento; - Estudo da forma institucional mais adequada para a formulação e operação dos programas de desenvolvimento regional e aplicação do Fundo de Desenvolvimento Regional, de forma descentralizada, eficiente, leve e não-corporativa. ii) Desenvolvimento do sistema de transportes rodoviÆrios visando integrar o mercado nacional e acelerar a desconcentraçªo industrial das Æreas metropolitanas, especialmente da de Sªo Paulo, potenciando o crescimento industrial da Regiªo Centro-Sul. São consideradas prioritárias as duplicações das seguintes rodovias: - BR 381, ligando São Paulo a Belo Horizonte; - BR 116, no tronco sul, ligando São Paulo a Curitiba e Porto Alegre, pelo interior; - BRs 376 e 101, no trecho Curitiba - Florianópolis; - BR 116, no tronco norte, ligando Volta Redonda - Além Paraíba - Salvador; - BRs 262 e 381, ligando Belo Horizonte - Ipatinga - Governador Valadares; - BRs 040 e 050, ligando Brasília - Delta, na divisa com São Paulo. A duplicação destes trechos rodoviários teria um grande efeito sobre a reestruturação do espaço industrial no Brasil, permitindo articular o processo de reversão da polarização da Área Metropolitana de São Paulo com um processo de desconcentração industrial dentro da grande macro-região que vai 8 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX da região central de Minas até o nordeste do Rio Grande do Sul, incluída toda a faixa litorânea do Paraná e Santa Catarina. Além disso, dada a existência de grandes troncos rodoviários ligando o litoral e a Área Metropolitana de São Paulo com o nordeste e oeste daquele Estado, penetrando no sentido do norte do Paraná, Mato Grosso do Sul e Triângulo Mineiro, a grande macro-região mais desenvolvida do país se completaria e abriria a possibilidade de expansão industrial em padrões de eficiência, complementaridade e competitividade. Ao mesmo tempo permitiria uma melhor distribuição da malha urbano-industrial, evitando o processo de concentração econômica e populacional em poucos pontos e conseqüentemente reduzindo os custos econômicos e sociais da concentração. iii) Construçªo de grandes troncos ferroviÆrios, ligando as fronteiras agrícola e mineral aos portos de exportaçªo. São listadas algumas alternativas, das quais se destacam: - Ferronorte, ligando Cuiabá a Santa Fé do Sul (SP) e em seguida pela FEPASA até os portos de Santos e São Sebastião (SP); - Corredor Leste-Oeste, ligando Cuiabá ao Triângulo Mineiro, continuando pela RFF até Belo Horizonte e pela EFVM até os portos de Capuaba-Tubarão (ES). Alternativamente, o traçado seria desviado no sentido do Norte-Noroeste de Minas e Goiás; - Corredor Norte, ligando o Mato Grosso a Carajás onde encontraria a Estrada de Ferro da Cia. Vale do Rio Doce, ligando ao porto de Itaqui (MA). Como essas três alternativas são em princípio concorrenciais, por estabelecer a ligação de Mato Grosso a três portos alternativos; como o Corredor Norte permite compatibilizar o ganho de competitividade da fronteira, pelo barateamento do custo do frete internacional; e como o Maranhão se apresenta como alternativa macro-espacial para o desenvolvimento regional brasileiro, considero-o como prioritário, embora o Projeto da Ferronorte pareça já estar em vias de concretização. 9 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX iv) Políticas para o Nordeste. Dentro do quadro de atraso relativo e de problemas sociais que se acumulam no Nordeste Brasileiro, e dado o objetivo de compatibilizar eficiência produtiva com geração de emprego e renda, são indicados um conjunto de medidas que contribuiriam para reestruturar a economia e o espaço nordestinos: a) Reforço do Corredor de Exportação Norte, canalizando excedente do Centro-Oeste e da Fronteira Nordestina no sentido do Maranhão. Este corredor poderia permitir a formação de um complexo agroindustrial naquele Estado. Simultaneamente, a Grande Carajás poderia permitir a expansão do pólo metalúrgico do Maranhão. Estes dois projetos poderiam servir de base para efeitos diversificantesposteriores, tornando o Maranhão uma alternativa macro-espacial de desconcentração da economia brasileira, bem como para a solução dos problemas econômicos e sociais do Nordeste. b) Reforço da expansão e integração do complexo químico da Bahia e sua integração com a cloroquímica de Sergipe e Alagoas. c) Expansão e integração do complexo agricultura irrigada- agroindústrias nos Vales do São Francisco e Açu. d) Expansão, modernização e integração do complexo têxtil- confecções no Ceará. e) Apoio ao desenvolvimento do Turismo na Orla Nordestina. f) Transformação da agricultura da faixa úmida, com concentração de pesquisa na área biotecnológica. g) Seleção de cadeias produtivas ou projetos, mediante avaliação dos setorialistas. 10 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX v) Política tecnológica e educacional. Na linha dos pólos tecnológicos ou dos centros de modernização tecnológica, reforçar a criação de centros de pesquisa e integração com o sistema produtivo. Considerada a tendência concentradora desses centros na região mais desenvolvida do país, e considerado o objetivo de ganho de eficiência e de excelência nas áreas específicas, dever- se-ia buscar a montagem de centros especializados, segundo a vocação das regiões, evitando instituições politécnicas, incapazes de formar massa crítica nas regiões menos desenvolvidas. Ao mesmo tempo, esse critério evitaria a pulverização de recursos. Neste sentido, é importante reforçar as iniciativas locais e orientar o apoio de instituições como o SEBRAE para as especificidades regionais. vi) Reavaliaçªo do sistema de incentivos para a Zona Franca de Manaus. Avaliar o custo e os resultados obtidos pelo parque industrial instalado em Manaus com vistas a uma redefinição desse sistema à luz dos objetivos de crescimento industrial e de desenvolvimento regional para o país. Estudar a viabilidade de construção de um porto em Macapá e modernização do sistema de navegação Manaus-Macapá, de forma a transformar a Zona Franca de Manaus e facilitar seu papel como centro exportador. 11 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX QUADRO-RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ A˙ÕES/DIRETRIZES DE POL˝TICA AGENTE/ATOR EXEC. LEG. JUD. EMP. TRAB. ONGs ACAD. ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ 1. Reformulação global do Sistema Institucional e de Incentivos Regionais - Restabelecimento do planejamento e da ordenação territorial X - Extinção do atual sistema de incentivos fiscais regionais X - Criação do Fundo de Desenvolvimento Regional X X - Extinção e reformulação do sistema institucional X X - Criação de novas formas institucionais X X X X X X 2. Desenvolvimento do sistema de transportes para in- tegração do mercado e acelerar desconcentração - Duplicação das BRs 38l, ll6, 376, 101, 262, 040 e 050 X X 3. Ligação das regiões de fronteira aos portos - Definição do corredor Centro-Oeste/Porto com prioridade para o corredor norte X X 4. Políticas específicas para o desenvolvimento do Nordeste - Reforço do corredor norte de transportes X X - Expansão e integração da indústria química X X - Adequação, avaliação e expansão da agricultura irrigada X X - Expansão da indústria têxtil X X - Expansão do turismo X X X X X - Transformação da agricultura da faixa úmida X X X X X X - Seleção de cadeias produtivas X X X X X 5. Regionalização da política tecnológica e educacio- nal - Criação de pólos de tecnologia avançada X X X X X - Criação de pólos de modernização tecnológica X X X X X 6. Reformulação da Zona Franca de Manaus - Reforma do sistema de incentivos X X X X X X - Construção de porto em Macapá e melhoria do sis- tema de transportes Manaus-Macapá X X 12 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ Legenda: EXEC. - Executivo LEG. - Legislativo JUD. - Judiciário EMP. - Empresas e Entidades Empresariais TRAB. - Trabalhadores e Sindicatos ONGs - Organizações Não-Governamentais ACAD. - Academia Nota: Em caso de coluna em branco, leia-se "sem recomendação". 13 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX INTRODU˙ˆO2 Após um século de concentração industrial no Estado de São Paulo e de polarização na sua Área Metropolitana, nas últimas duas décadas esse processo foi invertido, iniciando um movimento de reversão da polarização e de desconcentração industrial para várias regiões do país. Em função desse fenômeno, a participação do Estado de São Paulo e da Área Metropolitana de São Paulo na produção industrial do país reduziu-se de 58% para 49% e de 44% para 26%, respectivamente, entre 1970 e 1990, apesar do crescimento da participação relativa da produção industrial do interior daquele Estado (Tabelas 1 e 2). Entretanto, essa marcada reversão da polarização na Área Metropolitana de São Paulo não implicou uma sustentada desconcentração para o país como um todo. Na primeira fase, o processo de reversão da polarização se fez com um relativo espraiamento industrial para o próprio interior do Estado de São Paulo e para quase todos os demais estados brasileiros. Na segunda fase, no entanto, vem ocorrendo uma relativareconcentração no polígono definido por Belo Horizonte - Uberlândia - Londrina / Maringá - Porto Alegre - Florianópolis - São José dos Campos - Belo Horizonte, dentro do qual estão sendo formados os principais pólos de alta tecnologia (Diniz, 1991). Embora sem dispor de resultados censitários, essas mudanças já podiam ser indicadas e observadas desde a década de 1970, especialmente devido ao comportamento regional dos investimentos industriais (Diniz, 1981; Diniz, 1986; Diniz & Lemos, 1986). No entanto, houve certa relutância em entender e aceitar tal fenômeno (Azzoni, 1986; Storper, 1991), tendo sido necessário que os resultados censitários de 1975, 1980 e 1985 e os indicadores de produção industrial posterior confirmassem tal movimento. 2 A base teórica do presente trabalho encontra-se, em grande parte, desenvolvida em Diniz, Clélio Campolina. Desenvolvimento Poligonal no Brasil: Nem Desconcentração nem Contínua Polarização, Belo Horizonte, Nova Economia, v.3, nº 1, 1993. Algumas idéias daquele trabalho foram aqui reproduzidas ou transcritas. 14 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Esse processo resultou de mudanças da economia brasileira, para cujo entendimento torna-se fundamental a análise e avaliação dos seguintes fatores: a) deseconomias de aglomeração na Área Metropolitana de São Paulo e criação de economias de aglomeração em vários outros centros urbanos e regiões; b) ação do Estado em termos de investimento direto, incentivos fiscais e construção da infra-estrutura; c) busca de recursos naturais, traduzida pelo movimento das fronteiras agrícola e mineral, com reflexos na localização de um conjunto de atividades industriais; d) unificação do mercado, potenciada pelo desenvolvimento da infra- estrutura de transportes e comunicações, com efeitos sobre a competição interindustrial e a localização; e) mudanças tecnológicas e seu efeito sobre os requisitos locacionais das atividades de alta tecnologia. Os quatro primeiros fatores agiram no sentido da desconcentração, enquanto o último freou e redirecionou o processo. Assim sendo, a reconcentração derivada das mudanças tecnológicas e a redução da intervenção estatal se aliam à concentração prévia da produção industrial, da pesquisa, do mercado de trabalho profissional e da renda dentro do polígono mencionado. Face a isto, a continuidade do processo de desconcentração macro-espacial vem sendo obstaculizado e uma nova configuração regional da indústria no Brasil vem sendo esboçada. Concilia a existência de reversão da polarização da área metropolitana de São Paulo com uma relativa aglomeração nos estados da Região Centro-Sul, excluído o Rio de Janeiro. Isso significa que as regiões que vinham sendo objeto de políticas regionais, como o Nordeste e o Norte, não têm demonstrado capacidade de sustentar um crescimento diferenciado que se traduzisse em alteração macro-espacial substantiva, apesar do crescimento industrial do Estado da Bahia e de Manaus. Finalmente, as mudanças da política econômica no sentido da ampliação da abertura externa da economia, a criação do MERCOSUL e a redução dos investimentos diretos pelas empresas estatais e na construção da infra-estrutura seguramente terão efeitos 15 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX decisivos sobre a configuração regional da indústria no Brasil, contendo o processo de desconcentração macro-espacial da economia. Assim, a busca de competitividade internacional, aliada aos desafios sociais, trazem à tona a difícil tarefa de conciliar eficiência econômica com busca de eqüidade, as quais exigirão esforço sistemático em termos da política regional brasileira. 16 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 1. TEND˚NCIAS INTERNACIONAIS A experiência dos EUA e da Europa, nas últimas décadas, revela que a mudança de padrão industrial-tecnológico tem provocado expressivas modificações no padrão locacional da indústria. No caso norte-americano, que pelas suas dimensões continentais guarda lições para o Brasil, as mudanças tecnológicas abriram novas fronteiras espaciais, como confirmam os pólos industriais do Sul, da Costa Oeste e da Região das Montanhas (Hall & Markusen, 1985; Markusen et alii, 1991). De outro lado, a decadência de muitos setores manufatureiros deprimiu áreas industriais tradicionais (Bluestone & Harrison, 1982), embora algumas tenham conseguido se reestruturar, a exemplo da Região de Boston. No caso europeu, são comumente referidos os exemplos de desindustrialização nos tradicionais centros industriais ingleses (Liverpoool, Manchester, entre outros), enquanto ocorre renovação e expansão industrial no chamado Corredor M-4 e no Sul da Inglaterra (Carney et alii, 1980; Raymond et alii, 1988). Na França, verifica-se a expansão industrial no sentido sul, inclusive com o desenvolvimento de atividades de alta tecnologia em uma rede de cidades no chamado "cinturão francês do sol" (Laffitte, 1988). Experiência diferente vem tendo o Japão. Embora o país não tenha passado por um processo de desindustrialização ou estagnação industrial, o governo japonês tomou a decisão de estabelecer um programa de tecnópolis pelo qual se articula a política de pesquisa científica e tecnológica com o desenvolvimento industrial e regional. Foram criados 25 pólos tecnológicos, cada um com determinada especialização, distribuídos ao longo do território japonês, sendo que as áreas metropolitanas não podem ser eleitas como tecnópolis, inclusive porque o objetivo é impedir a contínua concentração industrial em Tokyo, Nagoya e Osaka (Sthor & Ponighaus, 1991). No entanto, avaliações mais recentes indicam o fracasso de algumas 17 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX iniciativas, demonstrando que a intencionalidade política não foi capaz de alterar certas tendências econômicas (Sasaki, 1993). 18 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 2. DIAGNÓSTICO DA QUESTˆO REGIONAL NO BRASIL 2.1. Mudanças Recentes no PadrªoRegional da Indœstria Brasileira 2.1.1. A reversªo da polarizaçªo da `rea Metropolitana de Sªo Paulo Foi na virada da década de 1960 para 1970 que teve início o processo de reversão da polarização da Área Metropolitana de São Paulo3. Com a retomada do crescimento econômico e a concentração econômica e populacional na referida região, esta começou a apresentar deseconomias de urbanização. Ocorreu aumento do preço da terra e dos aluguéis, dos salários relativos, dos custos de congestão e de infra-estrutura4. Além desses, dois tipos de custos não quantificados passaram a ter efeito significativo sobre a decisão empresarial: a crescente pressão sindical, acompanhada de greves, e o controle de poluição pela CETESB5. Em contrapartida, outros elementos agiram no sentido de levar ou atrair atividades industriais para outras regiões. Ao lado das deseconomias de aglomeração na Área Metropolitana de São Paulo, as economias de aglomeração foram ampliadas ou criadas em várias outras cidades, no próprio interior de São Paulo e em outros estados do país - principalmente no eixo Belo Horizonte- Porto Alegre, onde está a maior rede urbana do país, a maior parte da produção industrial e a melhor infra-estrutura. Complementar a isso, a política econômica, em termos de 3 Sobre o conceito de reversão da polarização veja Richardson (1980). A questão da reversão da polarização ou não da área metropolitana de São Paulo tem sido motivo de interpretações controversas. Townroe e Keen (1984), utilizando apenas dados de população, concluíram ser este o primeiro caso de polarização reversa no terceiro mundo. Azzoni (1986) e Storper (1991) negaram que tal processo estivesse ocorrendo. No entanto, suas análises cometem um grande engano, ao tomar os dados do Estado de São Paulo e não de sua Área Metropolitana. Diniz (1991) demonstrou que o processo de reversão da polarização é claro e inegável. 4 A SABESP (Saneamento Básico do Estado de São Paulo) estimou que o custo na Região Metropolitana em relação às cidades do interior do Estado de São Paulo eram superiores em 20% para abastecimento de água, 17% para esgoto, 28 a 52% para saúde, 9% para construção de escolas (Secretaria, 1987). Os salários industriais eram 30% superiores à média nacional (Azzoni, 1988). 5 Pesquisa direta realizada pelo autor, em 1989, junto a empresas paulistas que construíram novas plantas no sul do Estado de Minas Gerais confirmou que estas duas razões foram as principais responsáveis pela decisão locacional. 19 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX investimento público direto em atividades industriais, incentivos fiscais e construção da infra-estrutura, foi decisiva para as alterações regionais da produção industrial. A distribuição geográfica dos recursos e a fronteira agropecuária e mineral também contribuíram para que algumas atividades industriais seguissem essas fronteiras (Tabela 1). Ressalte-se, ainda, a unificação do mercado proporcionada pelo desenvolvimento dos transportes e das telecomunicações que permitiram ampliar o movimento de concorrência em termos de ocupação desse mercado, levando à localização de novas atividades em outras regiões. TABELA 1 BRASIL - PARTICIPAÇÃO RELATIVA DAS REGIÕES NA ÁREA CULTIVADA, PRODUÇÃO AGRÍCOLA, PRODUÇÃO E INVESTIMENTO MINERAL 1940-1980 (%) ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ REGIÃO AGRICULTURA PRODUÇÃO MINERAL INVEST. 1940 1960 1980 MINERAL Área Valor Área Valor Área Valor 1940 1960 1980 1975-84 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ Norte 4,9 1,1 1,5 1,2 2,7 3,2 0,0 10,4 4,6 13,8 Nordeste 30,6 20,6 30,4 22,2 28,9 19,8 13,6 10,7 8,5 17,3 Sudeste 22,1 23,6 18,3 17,2 12,6 12,8 38,6 30,5 60,9 40,2 Estado de São Paulo 22,9 35,0 16,6 24,0 12,1 20,6 15,7 10,6 8,8 2,9 Sul 15,6 16,8 28,3 30,0 29,7 35,9 30,5 34,2 9,0 13,5 Centro-Oeste 3,9 2,9 4,9 5,1 14,0 7,7 0,3 3,6 8,2 12,3 Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Área absoluta (1000 ha) 18.835 28.703 49.043 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ Nota: Excluído petróleo. Fonte: IBGE - Censos Agropecuários; DNPM; Anuários Industriais 1975-85. O resultado foi que, a partir do final da década de 1960, pela primeira vez o Estado de São Paulo começou a perder posição relativa na produção industrial brasileira, em função do menor crescimento de sua Área Metropolitana, apesar de haver sido este um período de grande crescimento da produção industrial no país6. 6 Ressalte-se que a década de 1970 foi um período de grande crescimento da economia brasileira, tendo o PIB crescido de 8,7% ao ano e o produto industrial 9% ao ano. Assim, todas as regiões cresceram, porém de forma significativamente diferenciada. 20 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Enquanto o Estado de São Paulo participava com 58% da produção industrial do país em 1970, participou com apenas 38% dos investimentos industriais decididos na década, segundo uma amostra de 7.514 projetos aprovados pela Comissão de Desenvolvimento Industrial do Ministério da Indústria e Comércio (CDI-MIC)7. Os dados dos Censos Industriais de 1975 e 1980 confirmaram a tendência de alteração, tendo o Estado de São Paulo reduzido sua participação na produção industrial do país de 58% para respectivamente 56% e 53%, naqueles anos. Essa perda de posição se deveu à sua Área Metropolitana, que reduziu sua participação de 75% para 63% da produção industrial do Estado entre 1970 e 1980, e respectivamente de 44% para 33% da produção industrial do país (Tabela 3). Na década de 1980, tanto o Estado de São Paulo quanto sua Área Metropolitana continuaram perdendo posição relativa. Embora a crise econômica tenha reduzido os investimentos e a recessão tenha castigado a indústria paulista, os indicadores regionais demonstram que a mudança relativa tem fatores estruturais, inclusive porque tanto o Estado de São Paulo quanto sua Área Metropolitana perdem posição relativa em praticamente quase todos os ramos industriais. Em 1990, estima-se que a participação do Estado de São Paulo na produção industrial nacional tenha caído para 49% (Tabela 2) e a da Área Metropolitana na produção do Estado de São Paulo e do país caído respectivamente para 53% e 26% (Tabela 3)8. 7 À época, considerada a importância das distintas formas de incentivo, praticamente nenhum projeto industrial de alguma expressão (novo ou ampliação) deixava de passar por aquela Comissão. Embora não haja uma relação direta entre investimento e produção, dependendo das respectivas relações capital/produto, a magnitude da diferença indicava que mudanças regionais estavam se processando (Diniz, 1981). 8 Ao lado de São Paulo também os Estados do Rio de Janeiro e Pernambuco continuaram em posição de perda relativa, porém em um processo que remonta ao início do século. O Rio de Janeiro em um primeiro momento coma decadência da cafeicultura e seus efeitos, inexistência de recursos naturais e fraca base empresarial. Posteriormente, com o esvaziamento das atividades públicas com a transferência da capital para Brasília, conjugada com a crise social da cidade, o que tem afugentado o capital privado (Cano, 1977; Leopoldi, 1984; Melo & Considera, 1986). Pernambuco, pelo peso da indústria açucareira, que não conseguiu enfrentar a concorrência com São Paulo, por uma estrutura industrial desintegrada e recentemente pela disputa com os demais estados nordestinos em termos de atração dos investimentos incentivados (Diniz, 1988). 21 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX TABELA 2 BRASIL - DISTRIBUIÇÃO DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL SEGUNDO REGIÕES E PRINCIPAIS ESTADOS 1970-1990 (%) ---------------------------------------------------------------------------------------------- -------------- REGIÕES E ESTADOS SELECIONADOS 1970 1975 1980 1985 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ NORTE 0,8 1,5 2,4 2,5 Amazonas 0,4 0,7 1,6 1,7 Pará 0,4 0,6 0,7 0,6 Demais Estados 0,0 0,2 0,1 0,2 (RO, AC, RR, AP) NORDESTE 5,7 6,6 8,1 8,6 Pernambuco 2,2 2,2 2,0 2,0 Bahia 1,5 2,1 3,5 3,8 Demais Estados 2,0 2,3 2,6 2,8 (MA, PI, CE, RN, PB, AL, SE) SUDESTE 80,8 76,3 72,6 70,9 São Paulo 58,1 55,9 53,4 51,9 Rio de Janeiro 15,7 13,5 10,6 9,5 Minas Gerais 6,5 6,3 7,7 8,3 Espírito Santo 0,5 0,6 0,9 1,2 SUL 12,0 14,8 15,8 16,7 Paraná 3,1 4,0 4,4 4,9 Santa Catarina 2,6 3,3 4,1 3,9 Rio Grande do Sul 6,3 7,5 7,3 7,9 CENTRO-OESTE (MT, MS, GO, DF) 0,8 0,8 1,1 1,4 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ Fonte: 1970, 1975, 1980 e 1985 - FIBGE - Censos Industriais. 1990 - Negri & Pacheco (1992); estimativas do autor. TABELA 3 ÁREA METROPOLITANA DE SÃO PAULO PARTICIPAÇÃO NA PRODUÇÃO E NO EMPREGO INDUSTRIAL 1950-1990 (%) ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ DISCRIMINAÇÃO 1950 1970 1980 1985 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ AMSP/Estado de São Paulo Produção 72,0 75,0 63,0 56,6 Emprego Industrial 65,0 70,0 64,0 62,0 AMSP/Brasil Produção 34,0 44,0 33,0 29,4 Emprego Industrial 27,0 34,0 29,0 28,4 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ Fonte: 1970, 1975, 1980 e 1985 - FIBGE - Censos Industriais. 1990 - Negri & Pacheco (1992); estimativas do autor. 22 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 2.1.2. O espraiamento industrial no país Conjugado com a reversão da polarização da Área Metropolitana de São Paulo, ocorreu um relativo espraiamento dos investimentos e da produção industrial em direção a várias regiões do país. Tanto o interior de São Paulo quanto a maioria dos estados brasileiros ampliaram suas participações na produção industrial do país. Inicialmente, a produção industrial do Estado de São Paulo, excluída sua Área Metropolitana, ampliou sua participação na produção industrial do Estado de 25% para 47% entre 1970 e 1990, ou seja, de 14% para 23% da produção nacional. Esse crescimento foi facilitado pela existência de uma rede de centros urbanos de tamanho médio e dotados de serviços modernos, por certa tradição industrial, pela existência de uma rede estadual de centros de pesquisa e ensino distribuídos por várias cidades, que vem atraindo indústrias de alta tecnologia, e pelo crescimento quantitativo da produção de álcool, devido aos incentivos do Pro-Álcool. Por outro lado, à medida que a Área Metropolitana começou a apresentar saturação, o Governo do Estado orientou seus investimentos para o interior, especialmente com a construção de uma rede de transportes ligando o litoral e a Área Metropolitana com o interior do estado. Isso veio facilitar a reorientação geográfica do crescimento industrial dentro do próprio estado, reduzindo o vazamento para outros estados ou regiões do país (Diniz & Lemos, 1989). Simultaneamente, vários outros estados e regiões ampliaram suas participações na produção industrial do país. Tomando-se as regiões e/ou estados em ordem geográfica, verifica-se que a Região Norte ampliou sua participação de 0,8% para 3,1% da produção industrial e de 1,5% para 2,5% do emprego entre 1970 e 19909. Esse crescimento foi beneficiado pelos incentivos fiscais proporcionados pela SUDAM e pela SUFRAMA - para a Região Norte e para a Zona Franca de Manaus, respectivamente, o que permitiu a instalação de indústrias de bens eletrônicos de consumo (45% da produção industrial local) e outros bens leves (relógios, óculos, 9 Todas as cifras de emprego mencionadas neste trabalho estão baseadas no Censo Industrial de 1985. 23 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX bicicletas, motos, material aquático de pesca e lazer)10. Em segundo lugar, pelo aproveitamento de recursos naturais (ferro, alumínio, amianto, ouro, madeira, entre outros), principalmente no Estado do Pará. Em terceiro, pelo crescimento urbano da Região, que passa a constituir um mercado local de alguma expressão, atraindo atividades industriais leves voltadas para o mercado regional. A seguir vem a Região Nordeste, composta por 9 estados e com uma situação interna muito diferenciada (Diniz, 1988). De forma agregada, a região aumentou sua participação na produção industrial do país de 5,7% para 8,4% entre 1970 e 1990. Embora o Estado de Pernambuco tenha perdido participação, praticamente todos os demais estados ganharam. No entanto, o ganho total é praticamente explicado pelo Estado da Bahia, que aumentou sua participação de l,5% para 4% da produção industrial do país, correspondendo a quase 50% da região nordeste em 1990. Além dos incentivos fiscais, o fato marcante foi a decisão de construção do Pólo Petroquímico de Camaçari (com grande peso de investimentos públicos através da Petroquisa e Norquisa), como indica a participação de 48% da indústria química na produção industrial do Estado. Por outro lado, os incentivos fiscais através da SUDENE viabilizaram a implantação de projetos industriais diversos em vários estados nordestinos, voltados para o mercado local, nacional e para exportação (Guimarães, 1983). Mais recentemente vêm sendo criadas áreas dinâmicas, com relativo sucesso produtivo. Além da indústria química, representada pelo pólo petroquímico de Camaçari e da cloroquímica em Alagoas e Sergipe, são destacados: a agricultura irrigada e as agroindústrias a ela vinculadas, no Vale do São Francisco; a indústria têxtil e de confecções no Ceará; a agricultura de grãos nos cerrados da Bahia, Piauí e Maranhão, atraindoagroindústrias processadoras e fornecedoras de insumos; a minero-metalurgia no Maranhão; o turismo na vasta orla marítima nordestina. 10 A rigor Manaus transformou-se em uma zona livre de importação, já que a quase totalidade da produção local é baseada em insumos e componentes importados, livres de impostos, e destinada ao mercado interno protegido. 24 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX A emergência desse conjunto de atividades indica, por outro lado, que é possível encontrar vantagens regionais e oportunidades produtivas capazes de alavancar o desenvolvimento econômico do nordeste. Seguindo a ordem, tem-se a Região Centro-Oeste que, apesar de sua baixa densidade econômica e populacional, se expandiu nas últimas décadas, beneficiada com a transferência da Capital Federal para Brasília e com a expansão gradual da fronteira agrícola, especialmente da produção de grãos. Sua produção industrial ainda é modesta porém vem crescendo, especialmente pelos efeitos da expansão da fronteira agrícola e do aproveitamento de recursos minerais, principalmente fertilizantes no Estado de Goiás. O próprio crescimento populacional e urbano da região também poderão vir a exercer algum efeito sobre o seu crescimento industrial. Análises mais recentes indicam grande expansão das agroindústrias processadoras de soja e frigoríficos, que acompanham o grande crescimento da produção agrícola e as expectativas de sua contínua ampliação. Os Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo apresentaram comportamento diferenciado. O Estado do Rio de Janeiro, como antes se indicou, vem num processo de decadência ao longo do século, no que se poderia chamar "desindustrialização relativa". Os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, ao contrário, vêm ganhando posição relativa. O Estado do Espírito Santo possui pequena participação, apesar do seu incremento na década de 1970, em razão de alguns projetos produtores de bens intermediários ligados ao complexo exportador e beneficiados pelos incentivos regionais e pela política de diversificação da Cia. Vale do Rio Doce (papel e aço). O Estado de Minas Gerais foi um dos poucos que conseguiu manter sua participação relativa na produção industrial do país, no período de forte concentração em São Paulo, graças à sua base de recursos minerais e sua proximidade com aquele estado. Agiu como economia complementar ao grande centro industrial do país, inclusive como fornecedora de bens intermediários (aço, cimento, etc.), alimentos e matérias- 25 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX primas minerais e agropecuárias. Entre 1970 e 1990, sua participação ampliou de 6,5% para 8,8% do produto e de 7,1% para 8,2% do emprego industrial do país. Em um primeiro momento, a indústria de bens intermediários expandiu e, mais recentemente, foi potenciada por um amplo aparato institucional de apoio à industrialização por parte do governo estadual, através de incentivos fiscais, pressões políticas junto ao Governo Federal e outros mecanismos (Diniz, 1981). Por outro lado, a proximidade geográfica com São Paulo tem-se traduzido em uma expansão diversificada nas Regiões Sul e Triângulo. Essas duas regiões têm-se aproveitado das deseconomias de aglomeração da Área Metropolitana de São Paulo e do avanço industrial no sentido do oeste paulista e sua penetração em direção ao Triângulo Mineiro, que se articula com os rumos da fronteira agrícola em direção ao Centro-Oeste. Quanto à Região Sul, o que se constata é que ampliou sua participação na produção industrial do país de 12% para 17% entre 1970 e 1990 e de 17% para 20% no emprego até 1985. No Rio Grande do Sul, o crescimento deveu-se a três aspectos. Primeiro, devido à expansão agrícola com o aumento da produção de grãos e seus efeitos multiplicadores sobre as agroindústrias processadoras de produtos agrícolas e das agroindústrias a montante, especialmente máquinas, equipamentos e insumos (FEE, 1976). Segundo, pelo crescimento da indústria de bens de capital e duráveis de consumo na região de Porto Alegre-Caxias, com certa tradição industrial, de economias externas geradas pelo crescimento industrial e dos incentivos regionais (Almeida et alii, 1986). Por último, pelo crescimento da indústria de couro e calçados, que aproveitara das vantagens de especialização acumuladas e dos incentivos à exportação (Lagemann, 1986). O Estado de Santa Catarina aproveitou-se de sua dupla base industrial. A indústria frigorífica do oeste, especializada em aves e suínos (a mais desenvolvida do país), devido ao crescimento do mercado interno e das exportações. A outra, a tradicional região de Blumenau-Joinville, com produção 26 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX diversificada (têxteis, instrumentos musicais, motores, fundidos e, mais recentemente, bens eletrônicos). A expansão industrial desse Estado sustenta-se fundamentalmente no empresariado local, constituindo-se talvez no estado brasileiro com maioria de indústrias de capitais nacionais e regionais voltadas para o mercado nacional e internacional. O Paraná, que tradicionalmente tinha suas indústrias ligadas ao complexo da madeira, inclusive de papel, teve grande expansão das agroindústrias processadoras de insumos agrícolas em função da excepcional qualidade de suas terras e da expansão da produção agrícola. Mais recentemente vem ocorrendo um processo de diversificação industrial no estado, especialmente na região de Curitiba, que recebeu a localização de vários projetos estrangeiros, como indústria automobilística (Volvo) e de componentes eletrônicos, atraídos pelos incentivos fiscais locais, pelo suporte urbano de Curitiba e por sua relativa proximidade com a área metropolitana de São Paulo. Articuladas à desconcentração industrial e ao movimento das fronteiras agrícola e mineral, ocorreram também alterações regionais dos serviços e dos movimentos migratórios. Como conseqüência, alterou-se a distribuição regional do PIB, a qual acompanhou o movimento de desconcentração apontado (Tabela 4). Apesar deste movimento, as desigualdades econômicas e sociais entre as regiões continuam marcantes, como se pode observar pelos dados da Tabela 5. Face aos resultados registrados, torna-se imperativo analisar, de forma mais detalhada, o comportamento histórico dos principais fatores locacionais e suas possíveis alterações, bem como os novos elementos decisivos para a dinâmica regional da indústria no Brasil, à luz das mudanças estruturais e tecnológicas em curso, das novas orientações da política econômica e da necessidade de compatibilizar eficiência produtiva com busca de solução para os problemas sociais. 27 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � �� � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX TABELA 4 BRASIL - PIB A CUSTO DE FATORES POR UNIDADE DA FEDERAÇÃO 1970-1990 (%) ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ REGIÃO/ESTADO 1970 1975 1980 1985 1990 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ BRASIL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 NORTE 2,15 2,09 3,02 3,05 3,49 Rondônia 0,10 0,12 0,23 0,25 0,31 Acre 0,13 0,08 0,12 0,14 0,15 Amazonas 0,69 0,75 1,09 1,22 1,40 Roraima 0,02 0,03 0,04 0,06 0,09 Pará 1,10 1,05 1,65 1,30 1,45 Amapá 0,11 0,06 0,07 0,08 0,09 NORDESTE 11,70 11,30 11,96 12,54 13,21 Maranhão 0,82 0,76 0,84 1,10 1,41 Piauí 0,37 0,37 0,38 0,39 0,38 Ceará 1,44 1,32 1,54 1,62 1,72 Rio Grande do Norte 0,54 0,59 0,61 0,62 0,63 Paraíba 0,71 0,71 0,65 0,63 0,61 Pernambuco 2,91 2,72 2,54 2,60 2,57 Alagoas 0,68 0,65 0,66 0,66 0,67 Sergipe 0,43 0,40 0,40 0,41 0,42 Bahia 3,80 3,78 4,34 4,51 4,80 SUDESTE 65,56 64,21 62,35 62,41 60,91 Minas Gerais 8,28 8,59 9,27 11,80 12,52 Espírito Santo 1,18 1,06 1,45 1,66 1,71 Rio de Janeiro 16,67 15,37 14,18 12,34 10,91 São Paulo 39,43 39,19 37,45 37,61 35,77 SUL 16,71 18,11 16,97 16,93 16,75 Paraná 5,43 6,71 5,82 6,12 6,32 Santa Catarina 2,68 2,79 3,18 3,27 3,33 Rio Grande do Sul 8,60 8,61 7,97 7,54 7,01 CENTRO-OESTE 3,88 4,27 5,51 5,07 5,64 Mato Grosso Sul 0,00 0,82 1,09 1,43 1,74 Mato Grosso 1,09 0,44 0,59 0,62 0,64 Goiás 1,52 1,60 1,85 1,97 2,13 Distrito Federal 1,27 1,41 1,98 1,05 1,13 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ Fonte: Kasznar (s.d). 28 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX TABELA 5 BRASIL - INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL POR REGIÃO 1970-1988 REGIÕES PIB PER CAPITA (US$) ESPERANÇA DE VIDA AO NASCER TAXA DE ALFABETIZAÇÃO* 1970 1980 1988 Crescimento absol. (%) 1970 1980 1988 Crescimento ( % ) 1970 1980 1988 Norte 697 1416 1401 101 54.1 64.2 68.2 26 63.4 70.7 88.1 Nordeste 488 928 918 88 44.4 51.6 58.8 32 45.3 54.6 63.5 Centro-Oeste 889 1971 1949 192 56.0 64.7 68.4 22 64.0 74.7 83.1 Sudeste 1920 3253 3217 68 56.9 63.6 67.1 18 76.0 83.1 88.2 Sul 1179 2408 2382 102 60.3 67.0 70.1 16 75.5 83.7 87.5 BRASIL 1253 2266 2241 79 52.7 60.1 64.9 23 66.0 74.6 81.1 (*) Pessoas de 15 anos ou mais que sabem ler e escrever. Fonte: FIBGE - Censos 1970, 1980; PNAD 1988, apud Albuquerque & Vilela (1991). 2.2. Mudanças nas Economias de Aglomeraçªo, Unificaçªo do Mercado Nacional, ConcorrŒncia e Especializaçªo Regional 2.2.1. Economias de urbanizaçªo As economias de aglomeração são decompostas em economias de escala (economias internas, crescentes com o tamanho), localização (economias externas devido à proximidade com outras indústrias ou fatores produtivos) e urbanização (economias externas pela oferta de serviços em geral). Estes três elementos agem em conjunto, principalmente nas primeiras fases do desenvolvimento, criando economias de aglomeração e promovendo a concentração industrial (Isard, 1956, 1960). No entanto e contraditoriamente, a partir de certo momento a concentração começa a criar deseconomias de aglomeração pelo limite à expansão técnica e o fim das economias internas de escala, e em função de deseconomias externas, decorrentes do aumento da renda urbana, materializada no preço dos terrenos e aluguéis, no custo do controle ambiental e de congestão, e no aumento do salário, entre 29 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX outros. Adicionalmente, a megalopolização acaba por gerar outros custos coletivos, pressionando o Estado (Castells, 1983), ou custos pendulares pela movimentação improdutiva de pessoas (Boventer). Assim, a partir de certo momento a concentração abre por si mesma a possibilidade de desconcentração. Para que a desconcentração ocorra, esta por sua vez requer novas economias de aglomeração em outras regiões. Isto ocorre como resultado da difusão do conhecimento, crescimento da população e renda, expansão do mercado, disponibilidade de recursos e expansão da infra-estrutura recriando novas formas de concentração, o que Richardson chamou de condições para que haja polarização reversa (Richardson, 1980). A mais recente contribuição para a teoria da aglomeração (se é que ela é uma teoria) postula que os novos distritos industriais são criados pela desintegração vertical, que amplia as economias externas em detrimento das economias internas. Esse processo tende a fortalecer as relações entre plantas, pela necessidade de contato direto, troca de informações, contatos face a face, fluxo de materiais e de pessoas, implicando a necessidade de proximidade geográfica e, portanto, recriando o distrito industrial (Piore & Sabel, 1984; Scott & Storper, 1988; Harrison, 1990). Esses distritos poderão ser encontrados em novas locações na medida em que as novas atividades exijam novos requisitos e condições, não encontrados nos velhos centros. Por outro lado, esses novos distritos poderiam ser encontrados em velhos centros, cujos recursos básicos seriam desviados para novas atividades quando as velhas entram em declínio (Friedman & Wolfe, 1982). No caso do Brasil, como se analisou, as forças centrífugas para a desconcentração da Área Metropolita de São Paulo estão claramente presentes. Deseconomias de aglomeração surgiram em várias áreas. Se por um lado esse fenômeno explica o potencial para desconcentração, por outro não explica onde e por que novas economias de aglomeração apareceram em outros lugares. 30 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX Neste sentido, é fundamental analisar a situação atual da malha urbana brasileira, não só pelo seu tamanho populacional, como principalmente pela dotação de serviços modernos. Dos 180 municípios com mais de 100 mil habitantes em 1991, um total de 119 estão na faixa de Minas Gerais ao Rio Grande do Sul. Por outro lado, essas cidades são dotadas de melhores serviços, reflexo do maior nível de renda e de atividade econômica. À luz da tendência de desconcentração da área metropolitana de São Paulo, da reestruturação produtiva e da abertura externa, incluídos os efeitos do MERCOSUL, essas cidades se transformaram nas melhores alternativas locacionais para os novos investimentos industriais. 2.2.2. Desenvolvimento da infra-estrutura e unificaçªo do mercado Embora a unificação do mercado brasileiro tenha se processadoao longo de todo o século XX, só se consolidou nas últimas décadas, com a construção e ampliação da malha rodoviária11, levada a efeito a partir da década de 1950; com a ampliação e melhoria da frota de veículos12; e com o desenvolvimento e modernização das telecomunicações. Nas últimas décadas foi feito um esforço extraordinário em termos de construção de infra-estrutura, com o objetivo de estimular o crescimento econômico das regiões atrasadas ou vazias e de integrar a economia nacional. A capacidade de geração de energia elétrica subiu de 11 para 37 milhões de kW entre 1970 e 1980 e para aproximadamente 60 milhões em 1990, sendo a quase totalidade de propriedade de empresas estatais. A malha rodoviária, estadual e federal, pavimentada subiu de 2.OOO km em 11 O sistema ferroviário brasileiro nunca cumpriu este papel. Além de sua pequena extensão (máximo de 38.000 km), não era integrado, ligando basicamente cada a região exportadora ao respectivo porto, além de possuir distintas bitolas. A navegação fluvial não foi desenvolvida e os principais rios estavam fora das regiões de maior importância econômica. 12 A indústria automobilística brasileira começou a produzir no ano de 1960 (até então existiam apenas montagens), porém a grande expansão da produção ocorreu a partir do final daquela década, com a retomada do crescimento da economia brasileira. Entre 1967 e 1973, a produção saltou de 200.000 para 1.000.000 veículos/ano, estabilizando-se a partir de então. A frota nacional subiu de 400 mil unidades em 1955 para aproximadamente 13 milhões em meados da década de 1980 (Diniz, 1987). 31 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX 1955 para 50.000 km em 1970 e 130.000 km em 1990. O sistema de telecomunicações, até então privado, que operava em condições precárias até o final da década de 1950, foi estatizado, ampliado e modernizado, o que permitiu integrar praticamente todas as cidades brasileiras, inclusive da região amazônica13. O número de terminais instalados subiu de 1,42 milhões em 1972 para 5,09 milhões em 1980 e 9,31 milhões em 1990 (Villela, 1992). Após a grande recessão econômica da primeira metade da década de 1960, ocorreu a retomada do crescimento a partir de 1967, conhecida como "milagre econômico". Naquele momento, a concorrência ganhou importância no âmbito regional. Apoiadas na infra-estrutura mínima e em algum potencial de mercado e incentivos regionais e setoriais, várias empresas lançaram-se na busca de recursos naturais, de ocupação e abertura de mercado, de criação de barreiras à entrada. Guimarães fala na passagem da integração comercial para a integração produtiva, demonstrando o crescimento das grandes empresas nacionais em praticamente quase todas as regiões brasileiras (Guimarães, 1986; Redwood III, 1984; Oliveira, 1977; Cano, 1977; Diniz, 1987)14. Aquele movimento conjugou a estratégia geográfica da concorrência com a pressão sindical, com o custo de controle de poluição e com o preço do terreno na Área Metropolitana de São Paulo. Por outro lado, esse movimento tornou-se possível com criação de economias urbanas em outras cidades e regiões brasileiras. Com a unificação do mercado ficou superada a possibilidade de que regiões ou estados brasileiros venham a construir estrutura industrial integrada como é o caso de São Paulo. Este foi industrializado primeiro e sozinho, na medida em que a economia do Rio de Janeiro estava em plena decadência e as demais regiões eram atrasadas (Cano, 1977; Leopoldi, 1984). As novas 13 A preocupação militar em termos de geopolítica contribuiu evidentemente para a expansão da infra-estrutura na região amazônica (Silva, 1978). 14 Este processo poderia ser comparado ao movimento internacional de capitais ou da própria criação e ocupação do mercado norte-americano, a partir da segunda metade do século XIX. 32 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX regiões têm que entrar na disputa do mercado nacional, cujo êxito está relacionado com as vantagens relativas de cada uma. Desse modo, as alterações de estrutura produtiva, decorrentes de mudanças técnicas e de composição da demanda, alteram a posição relativa das regiões, segundo suas condições objetivas e os diferentes requisitos locacionais de cada setor. Estudos elaborados por Galvão (1993), tomando as matrizes de comércio por vias internas para os anos de 1943, 1947, 1961 e 1969, mostram que o comércio inter-regional no Brasil cresceu de forma significativa, naqueles anos. O grande avanço da infra-estrutura na década de 1970, a expansão acelerada da economia e a diversificação produtiva ampliaram ainda mais os fluxos comerciais inter-regionais. Dados do comércio por vias internas para os anos de 1975, 1980 e 1985, por estados, em relação ao PIB, mostram que este já representava 24,5% do PIB em 1975, subindo para 37,9% em 1980, reduzindo em 1985 em função da crise econômica. Em nível regional, os coeficientes têm comportamento altamente diferenciado, não só em magnitude como em saldo. O saldo positivo indicaria que a região ou estado estaria transferindo recursos, o que é mais claro para São Paulo e para a região Sudeste (Tabela 6). Ao contrário, as regiões Norte e Nordeste têm um coeficiente de importações maior que o coeficiente de exportações, indicando que estas regiões estariam recebendo transferências de recursos. Um balanço final, no entanto, somente poderá ser feito adicionando o saldo do comércio internacional. 33 ESTUDO DA COMPETITIVIDADE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � IE/UNICAMP - IEI/UFRJ - FDC - FUNCEX TABELA 6 COMÉRCIO POR VIAS INTERNAS - BRASIL E UNIDADES DA FEDERAÇÃO PARTICIPAÇÃO RELATIVA NO PIB ESTADUAL 1975-1985 ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ 1975 1980 1985 DISCRIMINAÇÃO EXPORT. IMPORT. EXPORT. IMPORT. EXPORT. IMPORT. (%) (%) (%) (%) (%) (%) ------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------ NORTE 10,7 22,9 34,3 42,0 31,5 41,3 Acre 3,8 23,2 11,8 39,8 13,8 44,0 Amazonas 18,7 21,7 69,4 48,8 67,9 49,2 Pará 7,7 28,6 14,5 36,0 14,5 33,9 Amapá 24,1 41,2 11,3 54,8 Rondônia 21,7 46,3 16,5 42,4 Roraima 10,8 67,7 12,0 106,5 NORDESTE 18,9 32,5 30,4 45,6 29,4 41,8 Maranhão 3,4 24,0 12,2 38,1 19,4 67,2 Piauí 14,0 34,7 24,8 58,5 18,0 46,2 Ceará 17,5 33,5 25,0 48,6 23,0 42,4 Rio Grande do Norte 14,4 28,5 25,0 53,0 26,4 38,5 Paraíba 21,9 31,2 38,8 59,2 23,7 53,6 Pernambuco 29,8 40,2 36,9 54,3 15,1 55,1 Alagoas 17,3 36,5 21,1 44,1 19,4 45,7 Sergipe 10,3 32,5 23,5 60,8 21,5 35,4 Bahia 16,7 28,5 34,0 35,5 30,9 32,6 Fernando de Noronha CENTRO-OESTE 11,4 35,2 24,4 48,3 17,6 32,7 Mato Grosso 13,0 49,4 22,5 61,7 31,3 66,3 Mato
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