Buscar

AULA INVERTIDA

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

AULA INVERTIDA: CIÊNCIA MODERNA
1. PRINCIPAIS TÓPICOS A SEREM INVESTIGADOS E DISCUTIDOS
Surgimento da ciência moderna
Bases da ciência moderna
2. VÍDEO
Descartes e o Nascimento da Ciência Moderna. Acesso:
https://www.youtube.com/watch?v=iiedvN9Unqw
Galileu Galilei - Resumo. Acesso:
https://www.youtube.com/watch?v=YrnKWKYrn3A
3. TEXTO
O texto segue abaixo.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
28
6.2 Considerações Gerais
A evolução da Ciência na Europa do século XVII se deu em complexo, conturbado e diferenciado contexto político, social, econômico, artístico, filosófico e religioso, originado no século anterior. Os Estados nacionais não formavam um conjunto político, econômico e cultural
Homogêneo (repúblicas e monarquias, católicos e protestantes, potências marítimas e terrestres, unificados e divididos), o que tornava a Europa uma região propensa a acirrada competição e a sérias divergências.
Dada a necessidade de expansão econômica e comercial para satisfazer as crescentes demandas da emergente burguesia e dos cofres do Tesouro nacional, a Europa seria, de modo geral, palco de conflitos e rivalidades, divergências que atestavam o desequilíbrio político e a desigualdade
Social e econômica, tanto no âmbito externo quanto no plano interno.
Com a expansão geográfica pelas descobertas de terras e povos, e com a cisma religiosa, a rivalidade, que até o século XV fora entre os reinos para uma supremacia regional, adquiriria novas dimensões e escala mundial. As meras disputas dinásticas, circunscritas ao continente,
ROSA, Carlos Augusto de Proença. História da Ciência, vol. II.
Brasília: FUNAG, 2012: 30-34, 28-39, 66-70.
A Ciência Moderna
29
Dariam lugar a sangrentos e acirrados conflitos pela expansão do poder nacional, por meio da exploração de terras e povos recém-descobertos.
A formação de entrepostos e colônias nas Américas, na África e na Ásia, e as consequentes expansão comercial e criação de novas fontes de matérias-primas e de novos mercados consumidores alterariam o quadro político da Europa ocidental pela modificação radical da correlação de forças entre os Estados1. Portugal e Espanha, as primeiras potências coloniais, e as cidades comerciais italianas, de tanto prestígio, riqueza e poder no século XVI, teriam papéis secundários na grande cena política europeia do século XVII, com o surgimento de novas potências de âmbito continental e mundial. Em consequência, o antagonismo político e
comercial entre esses novos Estados se exacerbaria, gerando guerras na Europa e nos domínios de ultramar. A hegemonia política, econômica e militar, no século XVII, caberia à França, mas já ao final do período, a Inglaterra competiria pelo domínio dos mares, expandiria seu império
colonial e iniciaria uma primeira revolução industrial, o que lhe permitiria, no século XVIII, assumir posição hegemônica no cenário internacional.
Os reinos do Sacro Império Romano-Germânico, e mesmo os Estados da Europa setentrional, central e oriental continuariam a limitar suas atividades políticas e econômicas ao continente europeu.
A formação dos Estados nacionais, que seria rude golpe no
feudalismo medieval, ensejaria, em termos gerais, a centralização do poder político, a ingerência do Estado na economia por meio da regulamentação e propriedade de atividades produtivas e comerciais, o
absolutismo monárquico, a ascensão da burguesia e o enfraquecimento da nobreza parasita. O período era, assim, de afirmação nacional e de criação e controle da máquina do Estado. No plano interno, o poder do governante era incontrastável, ainda que na primeira metade do século
houvesse reações, rebeliões e resistências ao absolutismo centralizado; os Estados Gerais, na França; o Parlamento, na Inglaterra; as cortes, na Espanha; a Dieta, na Suécia; e a Assembleia, nos Países Baixos, ou não eram convocados, ou se reuniam esporadicamente para referendar decisões.
No plano internacional, a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), as disputas dinásticas e a ameaça expansionista do Império Otomano dominariam o cenário europeu. A expansão colonial se acentuaria no período; as novas colônias inglesas, francesas e holandesas nas Américas, na África e na Ásia contribuiriam, de forma decisiva, para o aumento do poder político e econômico das metrópoles, alterando o equilíbrio de poder no continente
1 AQUINO, Rubim et al. História das Sociedades.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
30
Europeu2. A Dinamarca e a Suécia teriam um papel importante (Guerra dos Trinta Anos) no cenário político continental na primeira metade do século XVII, e a Rússia, de Pedro, o Grande, surgiria, no final do período, como uma potência emergente. O Sacro Império Romano-Germânico, verdadeiro conglomerado de reinos independentes e rivais, não teria condições para exercer o papel catalisador na política da época, apesar dos esforços do Imperador Leopoldo. Figuras representativas do poder absoluto do governante seriam, na Inglaterra, os Stuarts, Jaime I, Carlos I e Carlos II, assim como Oliver Cromwell; na França, os Cardeais Richelieu
e Mazarino, e Luiz XIV; nos Países Baixos, Maurício de Nassau e João de Witt; na Espanha, Felipe III e Felipe IV; na Suécia, Gustavo Adolfo e Carlos XII; e na Rússia, Pedro I, o Grande.
Esse desenvolvimento na esfera política deve ser considerado em conjunção com a evolução econômica, social, religiosa, artística e filosófica da Europa3. No campo econômico, o Estado e a burguesia seriam os grandes patrocinadores do vitorioso Capitalismo mercantilista.
A principal atividade econômica seria, ainda, a agrícola, com a indústria manufatureira desenvolvendo-se rapidamente. A ingerência do Estado na indústria e no comércio, por meio de monopólios e concessões, incentivaria o desenvolvimento econômico e financiaria, com pesada carga tributária, os excessivos gastos do Tesouro real, comprometido com despesas militares e a vida luxuosa da corte. O protecionismo comercial seria instituído, com o Ato de Navegação de 1651, que motivaria a guerra anglo-holandesa (1652-1654). As alfândegas, até então fontes de recursos financeiros para o Estado, passariam, também, a controlar as importações, de forma a proteger a nascente indústria nacional contra a concorrência estrangeira. 
A colonização dos novos domínios, fundamental para o desenvolvimento das metrópoles (França, Inglaterra e Países Baixos), se faria, em boa medida, por Companhias com privilégios comerciais concedidos pela Autoridade soberana. Inovações nas técnicas agrícolas (Inglaterra, Países Baixos), novos equipamentos e implementos do setor industrial, desenvolvimento
da indústria naval e de armamentos, e expansão da economia monetária, com reflexos no sistema bancário (criação do Banco da Inglaterra em 1694), seriam fatores determinantes da expansão econômica ocorrida.
A indústria manufatureira substituiria o artesanato como a importante indústria urbana; fábricas e empreendimentos industriais se adaptariam para atender à crescente demanda, promovendo especialização da mão de obra e maior divisão de trabalho, da qual resultaria o surgimento
2 AQUINO, Rubim et al. História das Sociedades .
3 ANDERY, Maria Amália et al. Como Compreender a Ciência.
A Ciência Moderna
31
Da classe operária, cujo trabalho, eficiente e competitivo, colocaria em posição desvantajosa o trabalho artesanal. Grandes obras públicas seriam patrocinadas pelo Estado. Com a expansão comercial, o Báltico e o Mar do Norte (portos da Antuérpia, Amsterdã, Dantzig, Londres,
Liverpool, Havre, Hamburgo) cresceriam em importância, em detrimento do Adriático e do Mediterrâneo, cujas cidades portuárias entrariam em declínio político e econômico.
No âmbito social, transformações marcantes ocorreriam na estrutura da Sociedade europeia do período. O desmoronamento do sistema feudal reduziria significativamente o poder da aristocracia rural, proprietária de extensas áreas, já que o poder econômico se transferira
do campo para os centros urbanos. A nobreza de corte, que se manteve próxima ao Soberano, perderiapoder, mas manteria seus privilégios e influência. A grande maioria da população era, no entanto, composta de camponeses, pequenos proprietários, foreiros e meeiros, sem qualquer
participação na vida pública. A burguesia, ativa na indústria, no comércio e nas finanças, assumiria, cada vez mais, um papel relevante nas estruturas econômica e social, como no caso de alguns reinos alemães, Países Baixos, França e Inglaterra, ainda que ausente da estrutura de poder do Estado.
A nova classe operária, vinculada à nascente indústria manufatureira, adquiriria, gradualmente, importância no cenário econômico, sem sua correspondente valorização social, países que mantiveram arcaicas e obsoletas estruturas (Portugal, Espanha) perderiam, por seu imobilismo,
a posição central ocupada na cena política europeia no século anterior, e suas populações entrariam num processo de atraso social, em comparação com outras comunidades do continente4.
Na esfera religiosa, o período seria de intolerância, perseguições e discriminações no âmbito interno e de conflitos armados entre reinos, dados o dogmatismo e as intransigências decorrentes dos movimentos da Reforma protestante e da Contrarreforma católica, estabelecida no Concílio de Trento (1546-1563)5. As Igrejas Luterana, Calvinista, Anglicana e Presbiteriana eram as principais do movimento protestante. A Europa ocidental se encontrava dividida em dois grandes campos: o católico, com Portugal, Espanha, França, Reinos italianos, parte de Flandres, Polônia, Irlanda, e vários Reinos do Sacro Império (Áustria, Baviera) e o protestante, com a Inglaterra e Escócia, Suécia, Dinamarca, Países Baixos, Reinos alemães (Prússia, Würtemberg, Baden, Palatino, Saxônia), Suíça; no interior desses Reinos, havia minorias que professavam religião distinta 4 AQUINO, Rubim et al. História das Sociedades.
5 JAGUARIBE, Helio. Um Estudo Crítico da História.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
32
da oficial. No plano interno, exemplos da intolerância seriam a Inquisição em Portugal e Espanha; as perseguições na Inglaterra, que levaram à emigração dos quakers para a América do Norte; a revogação do Édito de Nantes, por Luiz XIV, em 1685; e os diversos tipos de discriminações adotados nos reinos alemães contra as minorias religiosas. No plano externo, a Guerra dos Trinta Anos, terminada pelo Tratado de Westfalia (1648), confirmaria a religião do Soberano como a do Estado e manteria, assim, a divisão religiosa da Europa. A liberdade religiosa e a separação do Estado e da Religião seriam conquistas da Revolução Francesa, no
final do século XVIII. As crenças religiosas exerciam extraordinária influência em todas as camadas e classes da Sociedade da época. Por sua proximidade do poder, as instituições religiosas, em decorrência de seus diversos privilégios seculares, se faziam presentes no cotidiano da vida da comunidade, como no ensino e na formação moral e intelectual, no atendimento hospitalar, na celebração de casamentos e registros de nascimentos, na direção dos cemitérios (campo-santo). A Religião atuava intensamente junto aos crentes, por meio de prédicas e sermões em missas e cultos, confissões, promessas, penitência e procissões. A credulidade, o misticismo e a superstição predominavam, e a religiosidade seria, assim, uma das características da Sociedade do século XVII, como fora nas épocas passadas.
6 JAGUARIBE, Helio. Um Estudo Crítico da História.
A CIÊNCIA MODERNA
35
6.3 Bases da Ciência Moderna
Três aspectos fundamentais na evolução da Ciência Moderna serão examinados neste capítulo. O início do entrosamento Ciência e Tecnologia, a formulação de metodologias adequadas para o avanço de diversos ramos das Ciências e para a formação de um pensamento científico, e o surgimento de um novo ambiente intelectual representado pelas Sociedades científicas que foram responsáveis, em grande parte, pelo advento no século XVII do que se convencionou chamar de Ciência Moderna. Esse processo não abarcaria, contudo, o universo científico. Os ramos da Ciência a se beneficiarem dessa evolução, no século XVII, seriam, principalmente, os da Astronomia, Mecânica, Óptica e Magnetismo, os quais, agrupados como Ciências Exatas, seriam os primeiros a se firmarem e a se constituírem em novas bases metodológicas, embora ainda inspirados por uma metafísica predominante no meio intelectual. Outros ramos da Ciência Moderna (Química, Biologia, Sociologia) só viriam a se estabelecer, em bases metodológicas científicas, nos séculos seguintes. Um exame mais específico desses aspectos da evolução da Ciência no século XVII se torna conveniente.
6.3.1 Ciência e Tecnologia
É evidente, nos dias atuais, a íntima vinculação Ciência-Tecnologia, cuja interação tem sido alta e reciprocamente benéfica. A Ciência, por exemplo, permite a criação de técnicas e a melhoria das já existentes, enquanto a tecnologia contribui com instrumentos e máquinas para o desenvolvimento científico. A relevância dessa interdependência e entrosamento na evolução
da Ciência é reconhecida e comentada11. Na realidade, a História da Ciência seria incompleta e imperfeita se limitada à história da conceituação e das realizações científicas, sem atentar para a evolução e colaboração, nesse contexto, da Tecnologia12. Essa mútua dependência é, contudo, relativamente 10 BARBOSA, Luiz Hildebrando Horta. História da Ciência.
11 HENRY, John. A Revolução Científica.
12 BUTTERFIELD, Herbert. As Origens da Ciência Moderna.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
36
Recente, pois difere bastante daquela que prevalecera em outras etapas da História da Ciência. A confluência de interesses, principalmente a partir do século XVII, determinaria uma cooperação e uma complementação responsáveis pelo extraordinário desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia nos séculos seguintes, que, por sua vez, por meio de inovações, descobertas e invenções, possibilitariam a eclosão da Revolução Industrial.
A Filosofia Natural, criada na Grécia, era abstrata, dedutiva, racional, especulativa, fruto da observação e do bom senso, mas destituída de qualquer sentido utilitário. Tratava-se de pura construção intelectual teórica, essencial para a explicação dos fenômenos naturais e compreensão do Mundo, mas sem aplicação prática na vida cotidiana, já que não havia interesse em colocar o conhecimento intelectual a serviço das necessidades da comunidade. A elite cultural desdenhava o trabalho manual, reputado subalterno e sem nobreza e dignidade. O trabalho manual escravo sustentava uma economia que prescindia da, ou tornava antieconômica, utilização de máquinas, não havendo, portanto, incentivo a inovações e descobertas no campo técnico. Assim, não havia diálogo, nem troca de conhecimentos e informações entre os filósofos naturais e os práticos e artífices. Poucas e brilhantes exceções a essa atitude geral de menosprezo por atividades de pesquisa e experimentação seriam, no período alexandrino, Ctesíbio, Herão e Arquimedes, este considerado como o maior cientista da Antiguidade. O grande avanço técnico alicerçava-se, portanto, em bases empíricas, acumuladas ao longo do tempo pela observação e experiência, razão principal de sua lenta evolução. Havia, assim, um fosso separando o conhecimento intelectual científico e o trabalho técnico artesanal, impedindo-os de interagirem13.
O desenvolvimento técnico durante toda a Idade Média teve as mesmas características da época clássica, tanto mais que o conhecimento
científico grego estava indisponível, ou era insuficiente e inadequado no período medieval. Como o trabalho manual continuava relegado às classes sociais inferiores de servos, práticos e artesãos, ignorantes do saber teórico, e como não dispunha a elite cultural de experiência e de espírito pragmático, a distância e a falta de comunicação entre esses dois campos se mantiveram
por séculos, ao ponto em que o mútuo desconhecimento e a independência das respectivas atividades e realizações inviabilizavam o estabelecimento de uma útil cooperação e interação. Deve-se ressaltar, ainda,que o latim, língua franca e cultural adotada pelos meios científicos, era, praticamente, desconhecido dos artesãos, engenheiros e práticos, impossibilitando seu acesso a essa fonte de conhecimento. Desta forma, as importantes inovações 13 ROSSI, Paolo. O Nascimento da Ciência Moderna na Europa.
A CIÊNCIA MODERNA
37
técnicas havidas nessa época decorreram das crescentes necessidades da Sociedade, e não da utilização do conhecimento científico14. Somente a partir do Renascimento Científico a situação começaria a se alterar, pelo reconhecimento, por ambos os lados, da necessidade de dispor de conhecimento teórico e prático para o avanço de suas respectivas atividades. Engenheiros, marinheiros, médicos, matemáticos, artesãos e artistas contribuiriam de diversas maneiras para o começo de um entrosamento e complementaridade entre a Ciência e a Técnica,
inclusive com a divulgação de suas experiências. 
Vários exemplos comprovam essa evolução: o autodidata Leonardo da Vinci foi um ardoroso apologista da experimentação e da matematização, famoso por seus estudos anatômicos, inovações e invenções na engenharia; Vanoccio Biringuccio, autor de Pirotechnia, em que descreveu a fundição de metais, a fabricação de canhões e sinos, a cunhagem de moedas e a fabricação da pólvora; o filósofo Juan Luis Vives, no livro De tratendis disciplinis, sugeriu aos estudiosos prestarem atenção aos problemas das máquinas, da tecelagem, da agricultura e da navegação, e a visitarem as oficinas e as fazendas, e, na obra De causis corruptarum artium, escreveu que a ciência da Natureza não era monopólio dos filósofos e dos dialéticos15; o
médico Georg Bauer Agrícola, que escreveu De Re Metallica sobre métodos de mineração; o matemático Girolamo Cardano, inventor do anel de suspensão cardan; o anatomista Andrea Vesalio, crítico da dicotomia, na época, entre o médico-professor e o seccionador; o cirurgião Ambroise Paré, autor de muitas obras de divulgação de sua experiência profissional; o inventor e ceramista Bernard Palissy, ardoroso defensor da importância do laboratório sobre a cultura livresca; o matemático e físico Simão Stevin, que projetou e construiu máquinas e moinhos movidos a água; o marinheiro Robert Norman, autor de A Nova Atração, sobre Magnetismo
e inclinação da agulha magnética, estudo que viria a ser aproveitado por William Gilbert.
O valor dos métodos e processos dos artesãos, artistas e engenheiros, para fins do progresso do saber, seria gradualmente aceito. Francis Bacon (1561-1626) seria um dos primeiros a reconhecer a importância da experiência, do conhecimento artesanal e da experimentação no processo científico16, tornando-se um dos principais arautos da Ciência Experimental.
14 ANDERY, Maria Amália et al. Para Compreender a Ciência.
15 ROSSI, Paolo. O Nascimento da Ciência Moderna na Europa.
16 MASON, Stephen F. Historia de las Ciencias (volume 2).
A CIÊNCIA MODERNA
39
6.3.2 Metodologia para o Conhecimento
Para a emergente Sociedade intelectual do século XVII, beneficiada e influenciada pelas transformações havidas principalmente no Renascimento Científico, as ideias e as explicações do Mundo medieval sobre a Natureza não eram satisfatórias. O conhecimento via observação,
acumulação de dados empíricos e enumeração dos fenômenos, resultara equivocado, conforme comprovavam os recentes avanços no campo da Astronomia, da Mecânica, da Anatomia, da História Natural e outros18. Os descobrimentos marítimos, as invenções (bússola, pólvora) e as inovações técnicas abriram novos horizontes e novas perspectivas para uma intelectualidade interessada em compreender o Mundo. O saber da Antiguidade, da Autoridade e da Escolástica já era abertamente contestado, pois era inadequado para satisfazer a mudança ocorrida na
estrutura do pensamento, agora requerendo uma explicação objetiva e racional do Universo. A perda de confiabilidade nos métodos utilizados para atingir um real conhecimento levaria à necessidade de se buscar uma nova metodologia, mais apropriada para esse fim. Dois filósofos e dois cientistas do século XVII se dedicaram a essa tarefa, da qual resultariam procedimentos metodológicos divergentes, mas não conflitantes: os filósofos Francis Bacon, defensor do empirismo e da indução, e pioneiro da Ciência experimental; René Descartes, defensor do
racionalismo e da dedução pura, e respeitado como fundador da Filosofia Moderna; o físico e matemático Galileu Galilei, iniciador do método matemático e experimental, e considerado o fundador da Física Moderna; e o físico Isaac Newton, que se utilizaria de uma síntese metodológica, com a incorporação do empirismo indutivo baconiano, o racionalismo dedutivo cartesiano e o matemático experimental galileano. 18 MASON, Stephen F. Historia de las Ciencias.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
66
6.3.3 Sociedades Científicas
O movimento de criação de universidades, como as de Paris, Oxford, Salamanca, Pádua, Cambridge, Florença, Palermo, Cracóvia, Sorbonne, 65 GIANFALDONI, Mônica. Para Compreender a Ciência.
A Ciência Moderna
67
Viena, Heidelberg e tantas outras, do século XIII ao XVI, tinha a função precípua de ensinar e divulgar a doutrina oficial da época, o aristotelismo- -ptolomaico, dogmatizado pelo tomismo. Tratava-se, no entanto, de um sistema educacional superior ao de períodos anteriores, pois fora concebido e estruturado de forma a transmitir aos estudantes o conhecimento recém- -descoberto e herdado da Antiguidade clássica. Imunes a quaisquer novas ideias e contrários a pesquisas e investigações, limitavam-se os professores a repetir os ensinamentos dos mestres, das autoridades do passado, estando fora de propósito qualquer crítica ou rejeição ao que já fora anteriormente adotado66. Era o magister dixit. O ensino, acadêmico, insípido e repetitivo, não
contribuía para o desenvolvimento científico, ao mesmo tempo em que era refutado pelo movimento humanista. Divorciadas das reais necessidades de classes e atividades emergentes (burguesia, negociantes, mercadores, artesãos) e de uma nova economia (monetarismo, mercantilismo, incipiente industrialização), as universidades tampouco satisfaziam o meio intelectual, cada vez mais interessado na busca de um conhecimento do Mundo e de seus fenômenos, de acordo com a realidade comprovada da época, do que na aceitação passiva de um desacreditado saber antigo. Mesmo os filósofos naturais, que foram professores, como Galileu, fizeram suas pesquisas fora da universidade, pois em aula seus ensinamentos deveriam seguir a doutrina oficial do geocentrismo ptolomaico, ou da Física de Aristóteles. Nos centros de Medicina, em vez de pesquisa para melhor conhecimento do corpo humano, os catedráticos se limitavam à leitura de textos de Celso, Galeno e outros médicos da Antiguidade, repetindo os ensinamentos, ainda que contrários à evidência; nesse campo, a superstição e os preconceitos impediam qualquer progresso na base de observação e verificação. Como mencionado por Rossi, a insatisfação com as universidades era de tal ordem que John Hall, em 1640, em uma moção dirigida ao Parlamento, escreveu que “nas Universidades não se ensinam nem a Química, nem a Anatomia, nem as línguas, nem os experimentos. Na verdade, é como se os jovens tivessem aprendido há três mil anos atrás toda a ciência redigida em hieróglifos e em seguida tivessem ficado dormindo como múmias para acordar somente agora”67. Esse estado de coisas frustrava um eventual interesse em pesquisa e não satisfazia aqueles desejosos de abandonar o currículo e a doutrina oficiais. O desenvolvimento do conhecimento científico se faria, em boa parte, fora das universidades, através de estudos e pesquisas individuais de
dedicados filósofos naturais. Impossibilitados de pesquisar e de procurar novas explicações para os fenômenos físicos, grupos de intelectuais e 66 HALL, A. Ruppert. A Revolução na Ciência – 1500-1750.
67 ROSSI, Paolo. O Nascimento da Ciência Moderna na Europa.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
68
“filósofos naturais” passariam a se reunir, de maneirainformal, no século XVII, com vistas a debater temas científicos de interesse geral e a estabelecer contatos com outros intelectuais de outros países. Sendo o latim a língua cultural por excelência, as comunicações e as correspondências fluíam sem maiores dificuldades, bem como facilitava o acesso a livros e diversas publicações, que começaram a proliferar. Um dos primeiros a defender a ideia de criação de institutos de pesquisas ou centros de estudos científicos foi Francis Bacon (Casa de Salomão, na Nova Atlântida) para quem o enorme domínio do conhecimento natural era demasiado vasto para que um Homem se dedicasse sozinho a essa tarefa. Nessa concepção, seria criada a Sociedade Real de Londres, pois por mais esplêndido que seja o gênio do pioneiro individual, é preferível a força conjunta de muitos homens68. A Itália, que começara o Renascimento Artístico e o Renascimento Científico, seria, igualmente, a pioneira nessa iniciativa de constituição de grupos, academias ou Sociedades com o objetivo de pesquisar e
desenvolver os diversos ramos da Ciência, além de divulgar o resultado de seus trabalhos. No curso do século XVII, Academias seriam criadas na França, na Inglaterra e na Alemanha, com características e regulamentos diferentes, mas com o mesmo objetivo; grupos informais de intelectuais, observatórios e laboratórios se estabeleceriam, contribuindo para o desenvolvimento da Ciência. Seria o início da formação de uma comunidade científica no nível nacional, com os necessários contatos e cooperação com intelectuais e Academias congêneres no estrangeiro. As Academias aceitavam membros estrangeiros em seus quadros.
A preocupação que norteou a fundação desses centros foi a de não se envolver em política e de não aceitar a intromissão das Teologias e das Igrejas. Tais Sociedades deveriam ser laicas e independentes de injunções políticas, com dedicação exclusiva ao estudo, pesquisa, desenvolvimento da Ciência e à sua difusão. Esses ideais nortearam a formação das Academias, como no caso da Sociedade Real, nas palavras de seu historiador Sprat: ...no que concerne aos membros que devem constituir a Sociedade, é preciso notar que são livremente admitidos homens de religiões, países e profissões diferentes... eles declaram abertamente não preparar a fundação de uma Filosofia inglesa, escocesa, papista ou protestante, mas a fundação de uma
Filosofia do gênero humano... eles tentaram colocar sua obra em total condição de desenvolvimento perpétuo, estabelecendo uma correspondência inviolável entre a mão e a mente.
68 HALL, A. Ruppert. A Revolução na Ciência – 1500-1750. 
A Ciência Moderna
69
E mais adiante: “procuraram efetuar tal reforma da Filosofia não mediante solenidades e ostentação de cerimônias, mas mediante uma prática sólida e por meio de exemplos e não com a pompa gloriosa de palavras, mas por meio de argumentos silenciosos, efetivos e irrefutáveis
das produções reais”69.
O matemático John Wallis escreveria (citado por Rossi) que tivera a oportunidade de conhecer várias pessoas que, como ele, tinham excluído a Teologia de seus discursos, pois “o nosso interesse se voltava para matérias como Física, Anatomia, Geometria, Estática, Magnetismo,
Química, Mecânica e experiências naturais”. Em 1560, o físico Giambattista Della Porta fundou, em Nápoles, a Academia dos Mistérios da Natureza, de duração efêmera, pois teve de
encerrar suas atividades, dada a perseguição do Santo Ofício. A primeira Academia, cronologicamente, foi a Accademia dei Lincei (seus integrantes se chamavam linces por causa da própria perspicácia), fundada com o patrocínio do Príncipe Frederico Cesi, em Roma, em 1603. Seu mais ilustre membro foi Galileu70. Uma segunda Academia seria fundada em Florença, em 1657, sob patrocínio do Grão-Duque da Toscana, Ferdinando II, e iniciativa de seu irmão, o Príncipe Leopoldo de Médici. A Accademia Del Cimento (Academia da Experimentação), da qual foram membros ativos Viviani, Borelli, Redi, Stenon e outros, conseguiu reunir a melhor coleção de equipamentos (nove) científicos da época; sua existência duraria apenas dez anos (1667), porém os laboratórios particulares foram mantidos71.
A Academia publicou em 1667 os saggi, ensaios que recapitulavam e demonstravam experimentalmente o trabalho científico de Galileu, bem como uma série de experiências sobre pressão atmosférica, movimentos de projéteis, propriedades cronométricas do pêndulo, radiação do gelo, incompressibilidade da água e outras. Como escreveu o citado Ruppert Hall, “pode dizer-se que as origens do laboratório residem na Accademia del Cimento”.
Na década de 1660, formou-se uma Academia Filosófica, em Bolonha, que seria formalizada em 1714. Muito ativa em Astronomia e microscopia, seus mais conhecidos integrantes foram Domenico Cassini (1625-1712), Eustachio Manfredo (1674-1739) e Geminiano Montanari
(1633-1687). Por essa época, formou-se, igualmente, em Nápoles, grupo de filósofos naturais interessados no desenvolvimento da pesquisa científica, como a Accademia dei Investiganti (1663-1700).
69 ROSSI, Paolo. O Nascimento da Ciência Moderna na Europa.
70 ROUSSEAU, Pierre. Histoire de la Science.
71 HALL, A. Ruppert. A Revolução na Ciência – 1500-1750.
CARLOS AUGUSTO DE PROENÇA ROSA
70
Apesar desse pioneirismo na Itália, a Ciência experimental teria na França e na Inglaterra seus principais centros de estudo e de pesquisa, com a criação de Academias e Sociedades, devotadas ao avanço da ciência experimental, na divulgação de seus trabalhos e na mútua cooperação
entre cientistas e instituições. Flandres, Países Baixos e Reinos alemães também se notabilizariam no campo científico, porém, somente no final do século, seria criada na Prússia uma Academia.
Na Inglaterra do início do século XVII, o foco principal do interesse científico era o Gresham College, fundado por Sir Thomas Gresham em 1597, com o objetivo de promover conferências, em inglês, sobre os temas tradicionais, como Matemática, Medicina, Astronomia, Direito e Música. Destacaram-se nessa Instituição o geômetra Henry Briggs, o matemático Isaac Barrow, Robert Hooke e o arquiteto e astrônomo Christopher Wren.Funcionava, também, em Londres, o Colégio dos Médicos (fundado em 1518 por Thomas Linacre), com carta régia concedida por Henrique VIII, bastante deficiente, não dispondo de biblioteca e em constante luta contra
os charlatães, parteiras, boticários e intromissões políticas. Seu principal objetivo era limitar a admissão na profissão aos que se encontravam devidamente qualificados por meio da aprendizagem e penalizar os praticantes não qualificados. O ensino, a prática e a pesquisa no campo da Medicina na Inglaterra estavam em nível inferior ao de outros países do continente72. Apesar das exortações de Harvey aos seus colegas para se dedicarem à pesquisa e às experiências, transformando o Colégio dos Médicos em centro científico, pouco foi realizado, no século XVII, nesse sentido. Em 1651, William Harvey fez importante doação ao Colégio e o Marquês de Dorchester enriqueceu a biblioteca com expressiva contribuição. Por volta de 1645, um pequeno grupo de oito cientistas (conhecido como Colégio Filosófico), se reunia semanalmente no Gresham College para discutir teorias científicas e realizar experimentos. Seus integrantes iniciais foram: o clérigo matemático e astrônomo John Wilkins (1614-1672), o clérigo matemático John Wallis (1616-1703), o astrônomo e médico Samuel Foster (? –1652), o médico e astrônomo Jonathan Goddard (1617-1675) e mais quatro médicos; em 1648, juntaram-se a esse grupo Robert Boyle (1627-1691) e o médico William Petty (1623-1687)73.
72 HALL, A. Ruppert. A Revolução na Ciência – 1500-1750.
73 MASON, Stephen. Historia de la Ciencia.

Outros materiais