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AVALIAÇÃO DO PROGRAMA CTC CIÊNCIA E TECNOLOGIA COM CRIATIVIDADE NO MUNICÍPIO DE SALVADOR - BAHIA Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network R E L A T Ó R I O P A R C I A LA g O s TO d E 2 0 0 7 P E S Q U I S A D O R E S C O O R D E N A D O R E S Eliane Ribeiro Andrade (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ) Luiz Carlos Gil Esteves (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO e Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ) Miguel Farah Neto (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO) P E S Q U I S A D O R E S D E C A M P O Alexandre da Silva Aguiar (Serviço de Apoio à Pesquisa em Educação – SAPÉ) Renato Pontes Costa (NEAd Raízes Comunitárias - Núcleo de Educação de Adultos – PUC-Rio; Serviço de Apoio à Pesquisa em Educação – SAPÉ) A S S I S T E N T E S D E P E S Q U I S A Lia Dias de Alencar (Graduanda em Pedagogia na UFF, Bolsista da RITLA) Marina de Castro Ripper Cordeiro (Graduanda em Pedagogia na UERJ, Bolsista da RITLA) Equipe responsável 1. Introdução 10 1.1 A importância do estabelecimento do conhecimento científico 10 1.2 O Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade 13 1.3 O espaço de implementação do projeto-piloto do Programa CTC em Salvador 14 2. Metodologia 18 3. A trajetória do Programa CTC na SMEC de Salvador 23 3.1 A experiência da SMEC na área de Ciências e a adoção do CTC 23 3.2 As opiniões dos técnicos e da equipe gestora da SMEC sobre o CTC 27 3.2.1 A proposta do CTC 27 3.2.2 O processo de formação e a atuação da equipe pedagógica da Sangari Brasil 30 3.2.3 Os impactos iniciais do CTC 32 4. O Programa CTC nas escolas 36 5. Idéias, sugestões e perspectivas dos atores envolvidos para o aprimoramento do Programa CTC na Rede Pública Municipal de Educação de Salvador 60 5.1 Quanto ao planejamento e à organização do Programa em Salvador 60 5.2 Quanto à formação inicial e ao acompanhamento ao Programa nas escolas 62 5.3 Quanto aos recursos materiais e às atividades pedagógicas 64 5.4 Quanto à conclusão do projeto-piloto e às perspectivas do Programa 67 5.5 Recados 70 6. Considerações finais 71 7. Referências bibliográficas 77 Tabelas Tabela 1 – Distribuição dos alunos por sexo 19 Tabela 2 – Distribuição dos alunos por cor 19 Tabela 3 – Distribuição dos alunos por idade 20 Quadros Quadro 1 – Relação das escolas participantes do CTC 15 Quadro 2 – Unidades do CTC adotadas no projeto-piloto de Salvador 16 Quadro 3 – Proposta de Formação dos Professores 16 Quadro 4 – Trabalho de campo – Atores participantes 19 Quadro 5 – Distribuição dos conteúdos programáticos do CTC por ciclos e séries 21 Gráficos Gráfico 1 – Acompanhamento da vida escolar dos alunos 41 Anexos Anexo 1 – Roteiro de Grupo Focal - Alunos 79 sumário Apresentação O avanço da ciência e da tecnologia não é tarefa de demônios, mas sim a expressão da criatividade humana. Paulo Freire Ciente do desafio representado pelos baixos índices de qualidade verificados, no âmbito da educação, na maioria dos países da América Latina, e preocupada em agregar esforços que con- tribuam para operar mudanças significativas nesse quadro, a Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana – RITLA, vem investindo na realização de avaliações de programas educa- cionais no campo da Ciência e da Tecnologia, com o propósito de montar um painel de experi- ências que possam referenciar o estabelecimento de novas políticas públicas. No conjunto de necessidades básicas de aprendizagem e de saberes necessários a uma educa- ção para o futuro, o ensino de Ciência e Tecnologia se destaca, por constituir fator importante para a construção de um mundo mais eqüitativo, próspero e sustentável. Desta forma, consi- derando que uma parcela expressiva da população ainda é excluída dos processos de criação e dos benefícios desse tipo de conhecimento, ações capazes de promover sua introdução, com- preensão, valorização e qualificação, desde os anos iniciais da educação básica, assumem total relevância, pelo próprio potencial transformador que lhes é inerente. Precisamos de um ensino de ciências que cause impacto e valorize essa aprendizagem cientí- fica e a escola pública, vinculando a teoria, a prática e a realidade dos estudantes, promovendo o trabalho em equipe, dando condições necessárias aos alunos e professores para uma educação de qualidade. Um ensino que contribua também para a alfabetização científica da comunidade onde estão localizadas as escolas. Para tanto, um conhecimento mais aprofundado do terreno em que as ações voltadas para o ensino de Ciência e Tecnologia serão implantadas mostra-se fundamental, a fim de que se possa, dentre uma infinidade de outros aspectos, desvelar a trajetória do ensino de Ciências no referido espaço, o perfil dos professores responsáveis pela ação, o lugar por ela ocupado nos planos de estudo e currículos praticados, a concepção de Ciência e Tecnologia trabalhada e a necessidade de contextualizar as estratégicas políticas dos distintos governos no campo educacional. Além disso, a compreensão do contexto em que o programa ou projeto incidirá pode, certamente, permitir uma apropriação mais ampla e consistente do seu conteúdo por parte dos sujeitos e ins- tituições responsáveis pela ação, consolidando o processo e gerando resultados mais eficientes e eficazes para a esfera pública. Sendo assim, este trabalho tem por objetivo apresentar resultados da primeira etapa da ava- liação do Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade (CTC), no âmbito de um projeto piloto desenvolvido em 11 escolas que fazem parte da rede pública de educação do Município de Salvador, no Estado da Bahia. A avaliação vem sendo efetivada em dois momentos-chave do processo, quais sejam, o momento pós-inicial e o momento final das ações, no período de um mesmo ano letivo. Espera-se, com isso, identificar, caracterizar e analisar, através do confronto dos dados e informações recolhidos nessas duas etapas, a pertinência e a eficiência das diferen- tes estratégias, dos procedimentos e instrumentos por meio dos quais se busca cumprir as metas e atingir os objetivos do Programa. Dessa forma, a avaliação vem sendo desenvolvida a partir de um enfoque abrangente, que pretende responder, na medida do possível, às diferentes dimensões da totalidade em que o Programa se insere, visando, em linhas gerais, determinar seu mérito, sua utilidade ou efetivi- dade, sua relevância e sua qualidade, produzindo subsídios e recomendações para sua própria ampliação, correção ou melhoria. Nesse sentido, para a realização de uma avaliação mais efetiva, é essencial considerar que, em cada estado ou município onde o Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade se encontra implantado, o mesmo assume características específicas, tanto no formato quanto na execução. Tal diversidade é desejável e mostra que a solução de problemas pode ser encontrada nos pró- prios lugares onde estes ocorrem. Sendo assim, o projeto-piloto que ora se avalia em escolas da rede de ensino público municipal de Salvador já traz mudanças significativas, frutos de uma soma de avaliações que vêm sendo desenvolvidas em outras cidades brasileiras. Nessa perspectiva, é fundamental que as experiências sejam avaliadas e divulgadas, para que possam inspirar e dar subsídios a outras iniciativas comprometidas com a criação de novos caminhos para a educação no país, oferecendo contribuições importantes para a construção de políticas públicas que venham concretizar o processo de democratização do conhecimento científico desde a infância, requisito essencial para o exercício da cidadania no contexto das sociedades contemporâneas.Por fim, os resultados aqui apontados, sem dúvida, projetam-se além da avaliação lato sensu do Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade, reforçando a potencialidade da escola e, particularmente, mostrando, de forma contundente, como uma alternativa de grande impacto é tão pouco lembrada: a incorporação do ensino de Ciências no âmbito da Educação Básica. J o r g e W e r t h e i n Diretor-Executivo da RITLA Agradecimentos A todos os alunos, pais de alunos, professores, coordenadores pedagógicos, diretores de escolas, coordenadores regionais, técnicos e gestores da Secretaria de Educação e Cultura do Município de Salvador, que, generosamente, receberam os avaliadores e prestaram depoimentos francos e comprometidos com a melhoria da qualidade da educação, compartilhando suas experiências, opiniões e esperanças. Ao Secretário de Educação e Cultura, professor Ney Campello, por abrir a Secretaria e as escolas para a realização do processo de avaliação. À equipe da Sangari Brasil, na pessoa de Ana Rosa Abreu, pela contribuição valiosa para a formulação desta avaliação. Eu acho que está sendo uma coisa muito boa. Junta o senso de responsabilidade - quer dizer, eles sabem que eles têm aquilo pra fazer - e o aprendizado, que daí você aprende. Você não decora, você aprende. DePoimento Da mãe De um aluno 11 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 1. Introdução O ensino deveria ser assim: quem o receber o recolha como um dom inestimável, mas nunca como uma obrigação penosa. alber t einstein 1.1 A importância do estabelecimento do conhecimento científico Embora, nos últimos anos, o Brasil venha caminhando no sentido de alargar seu capital cien- tífico e tecnológico, as iniciativas de aproximação com o saber cientifico ainda são inacessíveis à maioria da população brasileira, especialmente às novas gerações. A fala do Ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Machado, traduz essa percepção: Sabemos bem que o desenvolvimento científico é cada vez mais acelerado. Nos últimos 50 anos, como testemunha esta academia, as descobertas científicas superaram todo o saber acu- mulado pela Humanidade em sua História. O nosso País ingressou com atraso nessa prova de fundo. (REZENDE, 2006). De fato, em pleno século XXI, ainda é preciso chamar a atenção do público em geral, e em especial dos governantes, no sentido de se compreender a real importância do ensino das Ciên- cias na melhoria das condições de vida, no desenvolvimento social, político e econômico de um país e na construção de um mundo melhor. Sem dúvida, o domínio público dos conceitos de ciência e tecnologia pode contribuir, sensi- velmente, para alargar as possibilidades do exercício de cidadania e solidificar processos demo- cráticos, como afirma Tedesco (2006): O principal argumento para justificar a prioridade ao ensino básico é de natureza sóciopolítica. O domínio dos saberes científicos básicos é um componente imprescindível na formação de um cidadão da sociedade da informação. Essa é a razão pela qual a formação científica deve estar incorporada ao conteúdo do ensino universal e obrigatório. (TEDESCO, 2006) O precário acesso ao conhecimento científico e, ainda menor, à possibilidade de produzir ciência e tecnologia, é reflexo das imensas desigualdades sociais, “naturalizadas”, que, sem dúvi- da, são reificadas de forma incisiva pelo sistema educacional brasileiro. Embora o Brasil tenha conquistado a universalização do Ensino Fundamental nessa década, deve-se atentar para o que Charlot (2004) sinaliza - o cuidado para uma suposta igualdade na partida e uma profunda Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 12 desigualdade na chegada: “hoje, o cofre do possível se abriu mas, na realidade, as oportunidades estão muito estreitas, exigem mais que o mero aumento da oferta de vagas em salas de aula, ou de escolas - muitas vezes sem qualidade alguma, na rede pública.”. Assim, para muitos, a supera- ção das desigualdades tem, hoje, na escola pública, “o último espaço republicano que nos resta” (HENRIQUES, 2004), colocando-se a instituição como lugar acolhedor para se democratizar o acesso ao conhecimento e à produção científica e tecnológica, incentivando o interesse pela Ciência e pelas relações entre os conceitos científicos e a vida. A busca pela ampliação de um ensino de qualidade nas escolas públicas brasileiras passa, sem dúvida alguma, por um investimento real e simbólico na socialização do ensino de Ciências. Nas palavras dirigidas aos jovens cientistas pelo Ministro da Educação, Fernando Haddad, a valo- rização da produção científica aparece com força: “Vocês podem ajudar o MEC com a mesma criatividade e dedicação que usaram em seus projetos e estudos. Queremos descobrir maneiras mais adequadas para chegar ao jovem e descobrir talentos.” (HADDAD, 2007). Para Pavão (2005), condicionantes claros para o desenvolvimento científico e tecnológico do país são: uma educação científica de qualidade nas escolas, a formação de profissionais quali- ficados, a existência de universidades e instituições de pesquisa consolidadas, a integração da produção científica e tecnológica com a produção industrial, na busca de resolução dos graves problemas sociais e na superação das desigualdades que afetam o país. O reconhecimento da importância do ensino de Ciências ainda não está estabelecido no campo educacional brasileiro, conforme aponta Chaves (2005): Alem de empreender um vigoroso programa de educação em ciências, é necessário que no Brasil se reveja profundamente a forma como a ciência é ensinada. Temos uma enraizada tra- dição de educação livresca, excessivamente formal, na qual as pessoas acabam acreditando que saber o nome das coisas equivale a conhece-las. A educação cientifica deve começar pelo con- tato da criança com os fenômenos da natureza, em situações simples em que ela possa alterar o ambiente ou as condições inicias de um sistema natural e observar como ele se comporta. (CHAVES, 2005, p. 58) Alguns autores levantam a questão de que, por conta da situação precária relativa à alfabeti- zação nas primeiras séries do Ensino Fundamental, o sistema educacional se concentrou nesse segmento, investindo de forma maciça na alfabetização lato sensu e na matemática instrumen- tal, o que acabou por secundarizar a alfabetização científica e, de um modo geral, redundar na formação de gerações de professores sem segurança suficiente para trabalhar nesse campo educacional, fortalecendo um sistemático círculo vicioso. Começar a fazer ciência é, na verdade, ensinar aos alunos a se perguntarem. Contudo, essa não é uma tarefa tão simples como parece ser: Para os alunos, existe um alto grau de desvinculação entre a atividade científica e a vida cotidia- na. Em geral, entre eles não há consciência de em que medida a atividade científico-tecnológica participa e afeta nossa realidade diária. A ciência escolar é rotineira, chata, pouco útil e muito 13 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network difícil. Sabemos que os interesses dos alunos estão centrados na ação, no diálogo, na confron- tação de idéias, no trabalho em equipe, na experimentação, na reflexão conjunta, na busca de novos questionamentos. Entretanto, as aulas de Ciências não conseguem transmitir o caráter de empresa vital, humana, fascinante, indagadora, aberta, tolerante, útil e criativa que tem a atividade científica. (Pavão, 2005). Nesse espaço, ainda por ser desvelado, descoberto e estabelecido, cabe entender as possi- bilidades de articulaçãoentre conteúdos, disciplinas e currículos, chamando a atenção para o papel essencial dos professores como mediadores do processo educativo. Como aponta Santomé (1998), cabe ao educador mostrar aos estudantes as relações entre os conhecimentos, além de gerar interesses, já que esses não são inatos. Por fim, o ensino de ciências, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental, pode ser argu- mentado a partir da importância de se estimular outros conhecimentos, como o próprio desen- volvimento da Língua Portuguesa; com a possibilidade de dar oportunidade ao surgimento de talentos entre as crianças das camadas populares para as carreiras científicas; e, ainda, pelo fato de que o conhecimento científico e as novas tecnologias são fundamentais para que a população possa se posicionar frente a processos e inovações sobre os quais precisa ter uma opinião crítica e cidadã (WERTHEIN, 2004). 1.2 O Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade Faço questão enorme de ser um homem de meu tempo e não um homem exilado dele. Paulo Freire O Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade - CTC, foi idealizado pela Sangari Brasil, instituição plurinacional de origem inglesa, com mais de quarenta anos de atuação, presente no Brasil há cerca de dez anos, que tem como objetivos conceber, desenvolver, fornecer e implantar soluções e projetos para todos os níveis de aprendizado e pesquisa científica. Sua proposta central é apoiar docentes, criando um contexto formativo capaz de propiciar transformações nas práticas educativas, de modo a contribuir para que as escolas promovam e garantam a inclusão científica das novas gerações. A Sangari Brasil considera como sua missão promover a educação com qualida- de e a inclusão social para todos, por meio do desenvolvimento das estruturas nacionais existentes. Nesse contexto, o Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade se propõe a ressignificar, de forma criativa, o conhecimento científico, possibilitando o resgate da autoria de seus alunos, ele- vando sua auto-estima e valorizando o processo de aprendizagem do qual participam. Para tanto, desenvolve uma proposta pedagógica pautada na metodologia da investigação, valendo-se da uti- lização de diferentes materiais didáticos, como livros, jogos, vídeos, materiais para experimentos, Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 14 entre outros, visando à compreensão dos fenômenos de ciências naturais estudados, pautada em documentos oficiais (LDB, CNE, DCN e PCNs). Apóia-se, ainda, em um trabalho formativo junto aos professores, ampliando e qualificando suas opções pedagógicas na área. O CTC está organi- zado em módulos para todo o Ensino Fundamental, com uma proposta curricular que abrange habilidades, conceitos e atitudes necessários para essa fase da Educação Básica. Sua organização permite flexibilidade de implementação, por meio da articulação dos conteúdos, conforme as ne- cessidades particulares de cada sistema de ensino e de cada proposta curricular adotada. No geral, pode-se afirmar que o foco maior do programa está na inclusão do conhecimen- to científico como gerador de ampliação de conhecimento, tanto para o aluno, quanto para o professor, considerando que o capital mais importante de um país é o conhecimento. O conheci- mento deve ser compartilhado por meio de uma aprendizagem que aconteça por meio do ativo envolvimento do aprendiz na sua construção, como também das idéias prévias dos estudantes, que devem desempenhar um papel importante no processo de aprendizagem. Contudo, tal co- nhecimento depende da formação de pessoas capazes de produzi-lo. Para tanto, a inclusão das Ciências desde o Ensino Fundamental deve ser associada, necessariamente, a uma política de formação de docentes. Nessa perspectiva, a formação de educadores para o desenvolvimento da tarefa é quesito fundamental para o desenvolvimento do CTC. Enfim, o que se prevê é um impacto significativo do ensino de Ciências sobre a qualidade da educação, considerando o fato de que ele envolve um exercício extremamente importante de raciocínio, que deve despertar na criança seu espírito criativo, seu interesse, melhorando a aprendizagem do conjunto de disciplinas, já que deve ser praticado garantindo a conjugação entre a experimentação e o alargamento da expressão oral e escrita. 1.3 O espaço de implementação do projeto-piloto do Programa CTC em Salvador O projeto-piloto para desenvolvimento do Programa Ciência e Tecnologia com Criatividade em escolas da Rede Municipal de Ensino de Salvador teve início no primeiro semestre de 2007. Segundo informações apresentadas pelo “Relatório de implementação do Programa CTC na Rede Municipal de Educação de Salvador” (SANGARI BRASIL, 2007), as ações do CTC foram pensadas para que os educadores da Rede Municipal se apropriassem de suas concepções, enrique- cessem e incorporassem as práticas divulgadas pelo Programa, adequando-as à sua realidade, de modo que o CTC se torne parte da cultura pedagógica local. O objetivo do projeto-piloto foi o de assegurar, em 11 (onze) escolas da Rede, cada uma delas integrada a uma das 11 Coordenadorias Regionais de Ensino (CRE) da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), uma formação científica de qualidade, de forma a contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional de professores e alunos, possibilitando uma formação sólida e integrada. O piloto envolve aproximadamente 100 professores e 10.000 alunos de turmas do Ensino Fundamental dessas escolas. 15 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network Para dar início ao trabalho, a equipe da Sangari organizou encontros com diretores das es- colas envolvidas e um evento de apresentação do CTC, aberto para toda a Rede e a comunidade local, seguido de uma ação de formação específica para os formadores. O desdobramento dessa etapa inicial foi a realização de ações de formação continuada dos professores e encontros siste- máticos para acompanhamento e apoio ao desenvolvimento do Programa nas escolas. Quadro 1 - Relação das escolas participantes do CTC Nome da escola CRE Escola Municipal de Pituaçu Itapuã Escola Municipal d. Arlete Magalhães Pirajá Escola Municipal da Palestina Cajazeiras Escola Municipal de Fazenda Coutos subúrbio I Centro Educacional Carlo Novarese Liberdade Escola Municipal Olga Figueiredo de Azevedo Centro Conjunto Assistencial Nossa senhora de Fátima Orla Escola Municipal do Beiru Cabula Centro social Mangueira Cidade Baixa Centro Municipal de Educação Infantil Cid Passos subúrbio II Escola Comunitária Amai Pró são Caetano Fonte: Relatório sangari Brasil. O piloto foi organizado em consonância com o currículo local, adotando-se, em seu desen- volvimento, as seguintes unidades do CTC: Quadro 2 – Unidades do CTC adotadas no projeto-piloto de Salvador Unidade CTC Série A Vida das Plantas CEB intermediário Ciclos de Vida CEB final Tempo e Clima 3ª série Corpo Humano 4ª série Ecossistemas 5ª série diversidade de Animais 6ª série Regulação e Reprodução no Organismo Humano 7ª série Energia e sociedade 8ª série Fonte: Relatório sangari Brasil. Para o desenvolvimento dessas unidades, as escolas receberam materiais didáticos para todos os experimentos (kit de equipamentos), livro do professor e livro do aluno. A formação foi reali- zada envolvendo grupos de professores coordenados pelos formadores locais, selecionados para servir de multiplicadores da experiência do CTC dentro das escolas. A formação inicial esteve voltada para a prática da sala de aula, estudos, troca de experiências e discussão de questões emergentes ao longo do desenvolvimento do trabalho. Cada uma das Unidadesadotadas foi Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 16 objeto de um encontro de formação específica, com acompanhamento semanal por parte dos formadores. Foram abordadas as concepções gerais do ensino de Ciências, a metodologia de investigação e as especificidades das Unidades. Quadro 3 - Proposta de Formação dos Professores Ações Objetivos Temas Fonte: Relatório sangari Brasil. Com esses princípios, planejamentos e articulações, o CTC foi iniciado na SMEC e nas escolas participantes do projeto-piloto. Entretanto, vale ressaltar que, do mundo das propostas e idéias para a prática em sala de aula, um longo caminho é percorrido e que pode ser exatamente nesse percurso que muito se define das possibilidades e dos limites dos programas educacionais. Com essas premissas, apresentam-se, a seguir, os primeiros resultados da avaliação do CTC, na visão dos principais atores desse processo: alunos, professores, coordenadores pedagógicos, diretores, técnicos e gestores da SMEC. Formação inicial Formação continuada Avaliação processual • Apresentação do Programa CTC e preparação para o seu início • Encontros sistemáticos de formação • Apoio ao desenvolvimento das atividades do CTC em sala de aula • Avaliação processual • Metodologia e fundamentação geral da proposta de ensino e de aprendizagem do CTC • Concepções pedagógicas, didática, ensino de Ciências • Formação específica para o desenvolvimento das primeiras Unidades nas salas de aula • desenvolvimento do CTC • gestão da sala de aula • Reflexão sobre a prática • Metodologia do ensino de Ciências pela investigação • demais temas relacionados ao desenvolvimento do CTC na sala de aula • Relatórios reflexivos sobre aspectos relacionados à aprendizagem do aluno, ao seu próprio desenvolvimento profissional e demais temas do programa 17 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 2. Metodologia Poucos estudos avaliativos, no campo dos programas educativos, seriam completos se despro- vidos do olhar qualitativo. Os estudos descritivos, de monitoramento e de estimativa de necessi- dades são tanto mais acurados quanto mais ricos em informação qualitativa. No caso da avaliação do CTC, cujo desenvolvimento aglutina uma série de variáveis cuja natureza escapa às análises fundamentadas em abordagens quantitativas, o recurso a esse olhar é de inegável importância. Assim, assumindo o ato de avaliar como processo de compreensão da ação em pauta, a partir de critérios definidos, com vistas a determinar sua relevância, efetividade e qualidade e, dessa forma, produzir subsídios para sua própria ampliação, correção ou melhoria, optou-se por utili- zar, aqui, uma combinação de métodos capaz de propiciar uma análise múltipla e abrangente do desenvolvimento do Programa em Salvador, resguardando a visão do seu todo. Grupos focais (com alunos, pais de alunos, professores, coordenadores pedagógicos e coor- denadores regionais), entrevistas individuais estruturadas (com diretores de escolas, técnicos e gestores da SMEC) e observação direta das onze escolas onde o Programa está implantado foram os procedimentos básicos desse processo, complementados por instrumentos voltados à obtenção de algumas informações quantitativas (questionários, fichas de caracterização), sobre- tudo no que tange ao perfil das escolas e dos atores nelas abordados. A técnica do “grupo focal”, por meio da qual componentes de um determinado grupo narram e dis- cutem percepções sobre o tema em questão, destaca-se entre as aqui apontadas, por permitir a obtenção de informação qualitativa consistente sobre comportamentos, práticas e percepções junto a um número de pessoas que, por meio de outros recursos, dificilmente seria produzida em curto espaço de tempo. A seleção dos atores pesquisados considerou a necessidade de se compreender a estruturação, o funcio- namento e as repercussões do CTC. Assim, por se tratar de uma avaliação de caráter diagnóstico, retratan- do a primeira etapa de implantação do Programa, foram abordados os atores desse processo, para se co- nhecer os seus efeitos junto aos alunos, às escolas e às comunidades, nas escolas onde o piloto se realiza. No quadro a seguir, apresenta-se a síntese do trabalho de campo realizado: Quadro 4 – Trabalho de campo – Atores participantes Atores Nº de Entrevistados Estratégia de Pesquisa* Alunos 49 gF (6) Pais ou responsáveis 10 gF (2) Professores 19 gF (2) e EI (2) Coord. pedagógicos 6 gF (1) diretores 11 EI (11) Coord. Regionais** 6 gF (1) Equipe da sMEC*** 7 EI (7) TOTAL 108 * gF – grupo focal; EI – Entrevista individual. ** O grupo inclui coordenadores regionais e equivalentes. *** Técnicos e gestores da área pedagógica, secretário de Educação e Cultura. Fonte: Avaliação do Programa CTC em salvador, 2007. Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 18 Do total de alunos participantes da avaliação, 59,2% são do sexo feminino e 40, 8% do sexo masculino, conforme mostra a tabela 1. Do ponto de vista da auto-identificação pela cor, a ta- bela 2 permite verificar que os que se declaram negros e pardos respondem, no conjunto, pela grande maioria, compreendendo 69,4%; os brancos constituem 8,2% e os que não têm cor de- clarada 22,4% do grupo. Tabela 1 – Distribuição dos alunos por sexo Sexo Quantidade % Feminino 29 59,2 Masculino 20 40,8 49 100 Fonte: Avaliação do Programa CTC em salvador, 2007. Tabela 2 – Distribuição dos alunos por cor Sexo Quantidade % Negra 17 34,7 Parda 17 34,7 Branca 4 8,2 Não declarada 11 22,4 49 100 Fonte: Avaliação do Programa CTC em salvador, 2007. No que se refere à idade, os alunos participantes variam de 6 a 16 anos, havendo predomi- nância da faixa de 11 a 14 anos, que totaliza cerca de 51,0%. A faixa de 6 a 10 anos compreende 38,8%, enquanto os alunos de 15 e 16 anos perfazem 10,2%. Tabela 3 – Distribuição dos alunos por idade Idade 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Alunos 2 3 9 5 1 6 7 7 5 3 2 49 % 4,1 4,1 18,4 10,2 2,0 12,2 14,3 14,3 10,2 6,1 4,1 100 Fonte: Avaliação do Programa CTC em salvador, 2007. Visando à abordagem desses alunos - crianças e adolescentes de turmas de Ensino Funda- mental -, desenvolveu-se um procedimento específico para a realização dos grupos focais. Ape- sar de estarem pautados em um roteiro prévio, os grupos focais fundamentaram-se na proposi- ção, aos alunos, de atividades lúdicas, destacando-se, dentre elas, o uso do desenho como forma de registro de suas opiniões e de seu conhecimento. A opção pelo desenho como objeto de estudo parte do pressuposto de ser este um importante meio de expressão no campo do desenvolvimento da aprendizagem de crianças e jovens (cogni- tiva, psicomotora, social, cultural e afetiva), assumindo papel relevante no processo educativo. Soma-se a isto o fato de ser um recurso acessível a todos, já que é uma prática freqüente nas 19 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network escolas e, em parte, em suas próprias vivências cotidianas. Como lembra Vigotsky, as crianças não desenham o que vêem, mas sim o que conhecem: Com muita freqüência, os desenhos infantis não só não têm nada a ver com a percepção real do objeto como, muitas vezes, contradizem essa percepção... quando uma criança libera seus repositórios de memória através do desenho, ela o faz à maneira da fala, contando uma histó- ria. Aprincipal característica dessa atitude é que ela contém um certo grau de abstração, aliás, necessariamente imposta por qualquer representação verbal. Vemos assim, que o desenho é uma linguagem gráfica que surge tendo por base a linguagem verbal... esses fatos nos fornecem os elementos para passarmos a interpretar o desenho das crianças como um estágio preliminar no desenvolvimento da linguagem escrita (VIGOTSKY: 1991, p.127 e 128). Por meio do desenho, foi possível observar variadas percepções em relação ao conhecimento científico e à forma como esse conhecimento vem sendo trabalhado, assim como sua influência como propulsor da leitura e da escrita, elemento importante da proposta do CTC. O roteiro utilizado na condução dos grupos focais (Anexo 1) foi adaptado para as diferentes séries, de acordo com a Unidade CTC adotada, dividindo-se o conteúdo programático confor- me o quadro abaixo: Quadro 5 – Distribuição dos conteúdos programáticos do CTC por ciclos e séries Série Unidade CTC CEB intermediário A Vida das Plantas CEB final Ciclos de Vida 3ª série Tempo e Clima 4ª série Corpo Humano 5ª série Ecossistemas 6ª série diversidade de Animais 7ª série Regulação e Reprodução no Organismo Humano 8ª série Energia e sociedade Fonte: Avaliação do Programa CTC em salvador, 2007. Trabalhou-se de forma unificada com alunos do CEB intermediário e final, a partir dos itens 3 e 4 do referido roteiro, por meio da seguinte atividade: em uma cartolina, as crianças escre- viam o que mais gostavam nas aulas de ciências e, em uma outra, aquilo de que não gostavam nas aulas. Os alunos também registraram, nas folhas de uma grande “árvore” de papel que lhes foi oferecida, os assuntos que tinham aprendido, explicitando-os oralmente, a seguir. Com os alunos da 3ª série, o procedimento de registro na cartolina também foi adotado. Além disso, esses alunos desenharam e explicaram em poucas linhas o que mais lhes tinha cha- mado a atenção daquilo que aprenderam. Alunos de 4ª e 7ª série, cujo tema de estudo era o corpo humano, puderam mostrar o que aprenderam fazendo o contorno de um corpo em tamanho real (esboçado por eles mesmos), Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 20 dentro do qual desenharam órgãos do aparelho digestivo, microorganismos causadores de doenças, o processo de nascimento de um bebê – assuntos trabalhados por eles nas aulas de Ciências. Já os alunos de 5ª e 6ª série mostraram o que aprenderam elaborando folders sobre os conte- údos de Ciências, nos quais escreveram poesias ou pequenos verbetes explicativos de assuntos abordados nas aulas, tais como: a construção de um terrário, o conceito de mimetismo e camu- flagem, a anatomia dos insetos, a definição de ecossistema etc. Finalmente, os alunos de 8ª série registraram, em uma folha de papel, o que aprenderam du- rante as aulas de ciências e, em seguida, explicaram para o resto do grupo o que fizeram. 21 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 3. A trajetória do Programa CTC na sMEC de salvador 3.1 A experiência da SMEC na área de Ciências e a adoção do CTC A análise da trajetória do CTC em Salvador, nessa primeira etapa de implantação, permite constatar que sua adoção se encontra pautada nas diretrizes políticas da Secretaria Municipal de Educação e Cultura, que trazem, entre seus pressupostos, a “garantia de condições materiais, físicas e pedagógicas que permitam a expressão do aluno por meio de múltiplas linguagens, incluindo as novas tecnologias” e o “desenvolvimento do espírito investigativo e do domínio dos conhecimen- tos básicos, especialmente da leitura, da escrita, da Matemática, das Ciências Naturais, da História, da formação da sociedade brasileira e dos conteúdos e práticas de respeito à diversidade étnica, religiosa, de geração, de gênero e de promoção da solidariedade, da cultura da paz e da igualda- de” (PREFEITURA MUNICIPAL DE SALVADOR, SMEC, 2005, p. 20). Os depoimentos obtidos entre os entrevistados, por sua vez, apontam para a existência de uma concepção do ensino de Ciências sintonizada com esses pressupostos, porém não totalmente concretizada na prática. Antes do Sangari, já tínhamos um caminho construído em relação a essa metodologia, que era o projeto “Mão na Massa”, que é uma parceria com uma escola de São Paulo e com a Fran- ça também. Eu não entendo bem essa parceria, mas que chegou assim como um projeto-pi- loto para algumas escolas de Salvador, eu acho que umas duas escolas... A nossa e mais uma outra escola. Então, assim a gente já buscava esse caminho, se bem que a gente não conseguia fazer Ciência na escola como a gente está conseguindo agora, por conta de todo esse aparato que o Sangari traz e que a gente não tinha como, porque a Secretaria não proporcionava. (GF Coordenadores Pedagógicos) Os marcos de aprendizagem trazem essa proposta, de estar trabalhando a Ciência pelo pro- cesso de investigação. Então, o professor, independente de um recurso mais especializado, já fazia um trabalho que fazia com que o aluno avançasse no processo de investigação. (GF Coordenadores Regionais) Nós tínhamos formação de professor, onde eram trabalhados os conteúdos, em oficinas, para que o professor trabalhasse, mas material concreto a gente não tinha. O professor é que tinha que buscar esse tipo de ferramenta. (Equipe SMEC) Eu creio que no nosso trabalho faltava muito pouco, justamente o suporte de materiais, suporte pedagógico mesmo, para que esse trabalho acontecesse de uma forma muito mais consistente. (GF Coordenadores Regionais) Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 22 As aulas de Ciências eram mais teóricas. As escolas não eram dotadas de equipamentos para fa- zer toda essa riqueza de experiências que a Sangari vem proporcionando. Então, os professores adoraram a capacitação, fizeram algumas experiências. (Equipe SMEC) Nesses depoimentos, é possível perceber como áreas de fragilidade o trabalho de formação específica dos professores e, principalmente, a infra-estrutura material para o trabalho de inves- tigação e experimentação nas escolas. A adoção do CTC apóia-se, exatamente, na necessidade de oferecer alternativas para esse quadro, conforme se constata nas palavras do Secretário de Educação e Cultura: Nós tínhamos a intenção de promover a educação científica aqui na Rede, que era um ab- soluto vácuo, uma coisa inóspita. O professor completamente desarticulado, desanimado, sobretudo o de Ciências, sem nenhum tipo de apoio, de suporte, porque nós não podemos pensar numa promoção de educação científica sem suporte. (Prof. Ney Campello, Secretário de Educação e Cultura) O Programa constitui uma das várias alternativas que a SMEC vem experimentando (há vários outros programas/projetos em curso) e, segundo o Secretário, despertou interesse por sua logística - a forma como eles estruturam o programa, como eles customizam a sala de aula, de modo a não ter desperdício de material -, por seu investimento em Pesquisa e pela qualidade do material didático - muito bem articulado, tanto para o professor como para o aluno. Ainda de acordo com o Secretário, sua escolha teve a participação das escolas, convidadas a opinar so- bre diversas possibilidades de programas/projetos, a partir da realização de duas mostras sobre novas tecnologias educacionais: Não foi uma coisa imposta de cima para baixo, e isso é muito importante para ganhar o compromisso da escola. Nos depoimentos de vários dos entrevistados, são corroboradas essas razões para que o CTC fosse implementado, como se observa na fala de umatécnica da área pedagógica: Eu acredito que o Programa foi adotado porque o material da Sangari foca também a investigação, ele aproxi- ma as novas tecnologias do aluno. Outro técnico destaca o fato de o Programa vir ao encontro do esforço da Secretaria em fazer uma escola que tenha capacidade de discutir as demandas atuais e oferecer educação pública com qualidade, que é o sonho de todo mundo que está no público, inte- grando-se a iniciativas já existentes, como o PETI - projeto de articulação da prática pedagógica com elementos tecnológicos, desenvolvido por meio de laboratórios de informática -, voltadas ao investimento em novas tecnologias. O mesmo técnico ressalta, ainda, a necessidade de revitalização das escolas de 5a a 8a série, de incorporação recente pela Secretaria, como uma das razões para tal investimento: Nós temos escolas que não foram projetadas pra ser escolas. Aquela proposta, que vem ao longo da nossa história, de um caixote fechado... Uma escola sem área, sem quadra e sem laboratório também. Para ele, o piloto do Programa responderia, ainda, à necessidade de se criar uma coisa uniforme, que as escolas estivessem trabalhando em um único momento, para ver realmente quais os pontos positivos e negativos, fazer um recorte. 23 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network Considerando essas pontuações, foi possível também, a partir das entrevistas realizadas, in- ferir algumas das expectativas que cercam a experiência ora em curso nas onze escolas onde o CTC se encontra implantado, destacando-se: A perspectiva de impacto na aprendizagem do aluno, como resultado do investimento na formação continuada dos professores. A perspectiva de consolidação dos pressupostos e diretrizes para a área de Ciências nas escolas. A articulação com os projetos político-pedagógicos das escolas. A perspectiva de impacto na aprendizagem nas demais áreas (Língua Portuguesa, Matemática etc.). A perspectiva de impacto no envolvimento da família. A interação com outros programas/projetos. A seleção das escolas que integram o piloto teve, como referência primeira, o propósito de se testar o Programa em cada uma das 11 Coordenações Regionais de Educação em que se organiza a rede municipal, para que a gente tivesse toda a rede conversando, como afirma o Secretário, que tam- bém aponta como outro critério significativo o atendimento a todos os segmentos do Ensino Funda- mental. Segundo um entrevistado, as Coordenações Regionais convidaram escolas que, a princípio, tivessem uma certa experiência em lidar com projetos e condição de dar retorno da experiência-piloto à Secretaria, com vistas a uma possível expansão do Programa para as demais escolas da rede. As entrevistas realizadas com outros atores mostram que esses critérios e procedimentos são do conhecimento da maioria deles: O trabalho que a escola desenvolve, né? Uma escola comprometida, os professores também envolvidos com a questão, que entram de cabeça nos projetos. Aí eu senti que a escolha foi em cima disso. (GF Coordenadores Regionais) A gente ofereceu o projeto à escola que realmente tem demonstrado um envolvimento muito grande. (GF Coordenadores Regionais) Eu acho que a escolha foi mais porque é uma escola de educação infantil, onde existe um envolvimento dos professores. E aí investimos nesse envolvimento, nesse compromisso. (GF Coordenadores Regionais) Na minha foi a de 5ª a 8ª. A gente apresentou esse Programa para a escola, que tem uma co- munidade muito presente, participativa em todos os aspectos. E também há professores que se envolvem, que abraçam a idéia e se interessam. (GF Coordenadores Regionais) No que tange à seleção dos professores que participaram da formação específica para o Pro- grama, com a incumbência de promover “efeito multiplicador” nas escolas, coube a estas indi- cá-los, segundo o Secretário, tendo o cuidado de considerar a disponibilidade de professores Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 24 da área, sua identidade com ela e o desejo de participar. No caso dos professores do CEB à 4ª, sem formação específica em Ciências, solicitou-se que os diretores convidassem docentes que tivessem, ao menos um perfil de multiplicador, com vistas ao trabalho a ser realizado com os demais, conforme relata uma entrevistada. Mesmo assim, segundo outra técnica, os professores convidados tiveram a liberdade de participar ou não, segundo sua decisão. 3.2 As opiniões dos técnicos e da equipe gestora da SMEC sobre o CTC 3.2.1 A proposta do CTC A sintonia entre a proposta do CTC e o currículo adotado pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Salvador, segundo os entrevistados, parece se dar em diversos aspec- tos, trazendo ainda, na opinião de muitos, visão compatível com a dos Parâmetros Curricu- lares Nacionais: Coincide com os PCN, buscando uma postura reflexiva do aluno, esse cidadão de que a gente tanto fala, e exigindo que o professor seja um desafiador. (Equipe SMEC) Já existe um projeto político-pedagógico da escola, existem os Parâmetros Curriculares e, na verdade, a Sangari veio complementar, não só na área de Ciências, porque é um projeto que a gente pode trabalhar interdisciplinarmente. (Equipe SMEC) O CTC tem articulação com aquilo que a rede já trabalha. Na realidade, o Programa vem somar, vem melhorar o que já vinha sendo feito, não existe choque. (GF Coordenadores Regionais) O Projeto não traz exatamente uma novidade, porque, como trabalhamos em consonância com os PCN, já fazíamos um trabalho com este tema. (Equipe SMEC) De maneira generalizada, o CTC, na sua concepção e nos seus pressupostos, é muito bem avaliado pelos entrevistados: Eu acho que ele tem um aspecto muito interessante, que é justamente fomentar esse envolvimento de todos para um espírito científico, para construir esse olhar científi- co. Alguns ressaltam o fato de o mesmo constituir-se como um programa de inclusão científica, considerando, ainda, o despreparo dos professores: Nós, os professores, ainda temos uma cultura fragmentada das ciências exatas, e esse Programa vem casar as ciências exatas com as ciências humanas. Nele, o aluno pode usar na sua prática o que ele aprende em sala de aula, trazendo também a sua prática para dentro da sala de aula e trabalhando essa questão da sua autonomia, tomada de decisões, resolução de problemas. O mais importante é o ponto de vista social, que esses alunos possam pegar esse conteúdo e levar para as relações entre o homem, o meio ambiente e a natureza. (Equipe SMEC) 25 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network Uma gestora considera que há uma nova concepção de Ciências, no sentido de se pensar a Ciência como se pensa a própria vida, em qualquer espaço, com qualquer material, de não se reduzir a Ciência ao estudo em laboratório: Aprender Ciências nessa perspectiva, do que eu posso ver aqui, observando as fotos das crianças, a própria reação das crianças diante das atividades, vem a ser uma outra concepção do aprender Ciências. Outro aspecto valorizado refere-se à gestão do conhecimento em sala de aula, porque os alu- nos também opinam, eles têm o poder de estar decidindo, de estar gerenciando todo o seu processo de ensino-aprendizagem, e isso é diferente daquilo que o professor normalmente faz. Além disso, os entrevistados enfatizam o fato de o CTC possibilitar aos professores desenvolver um trabalho rico em experiências, coisas de que eles falavam muito em sala de aula, mas apenas teoricamente, não podiam concretizar. A riqueza toda é essa, o menino poder constatar as coisas,as experiências. O depoimento de uma coordenadora regional é bastante ilustrativo: O que eu percebo é que o Programa dá sentido ao conteúdo trabalhado. As aulas acontecem de uma forma prática e, aí, o tempo todo, se está relacionando a teoria com a prática. O conteúdo se torna uma coisa significativa, porque às vezes se trabalha o conteúdo de Ciências e as crian- ças não sabem para que serve aquilo... E a avaliação pode acontecer de forma processual e mais direta, porque, se você detectar alguma dificuldade no aluno, pode saná-la ali e agora, quando está acontecendo. (GF Coordenadores Regionais) Destaca-se, também, a percepção de que o Programa pode abrir a possibilidade para o traba- lho no coletivo, em contraposição ao caminho mais individual que trilham os professores, em sua maioria: A proposta vem com algo que agrega uma rede, vem numa outra dimensão, de forma mais ampla, que pode estar formando uma rede, não só um trabalho isolado, de um professor. Traz isso como algo conjunto, do grupo mesmo. A conjugação de diversos elementos constitutivos como solução integrada para a constituição de uma proposta de educação científica, de formação do aluno para as Ciências é destacada pelos entrevistados: O CTC é uma solução integrada de educação científica, de modo que atua olhando de maneira mais sistêmica o ensino-aprendizagem de Ciências. Na medida em que ele entra com a forma- ção, os livros, os insumos, a metodologia, a logística, para mim, é um destaque, que assegura o contínuo do programa. Isso, na Rede pública, é fator preponderante. (Prof. Ney Campello, Secretário de Educação e Cultura) É uma ação que promove a ruptura do que é ensinar na escola. A inovação é que o Sangari saiu da teoria e botou a mão na massa. A gente não só pensa que é assim, mas a gente dá duro para chegar a ser assim. Tem aqui uma proposta, tem um material, tem um livro e um material de formação do formador. (Equipe SMEC) No que concerne aos recursos materiais que integram o Programa, as opiniões levantadas nas entrevistas são igualmente valorizadas, constituindo-se como uma das facetas mais importantes Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 26 do CTC, principalmente quando se considera a carência de recursos dessa natureza nas escolas da rede e a prática pedagógica pouco atraente que lhe é conseqüente. Os depoimentos a seguir são ilustrativos: O professor geralmente faz o quê? Dá aquela aula expositiva, nada motivadora, né? E aí, com toda essa coisa de estar experimentando, de estar investigando com esse material, o aluno se sente mo- tivado também em aprender, fica curioso, no mesmo sentido que o professor. (Equipe SMEC) O livro do aluno, o livro do professor, essa coisa de cada escola ter o seu material específico, isso é ótimo. (Equipe SMEC) Com relação ao material, eu não ouvi queixa nenhuma dos professores... Pelo contrário, eles só elogiam. (Equipe SMEC) É um material que subsidia, do ponto de vista do suporte, a metodologia do professor. E tem uma coisa que me encantou: o professor tem um manual, em que ele visualiza o que o aluno tem em mãos. (Equipe SMEC) De início, a gente até podia estar assim um pouco preocupada, sobre como os alunos iriam re- agir... Mas a curiosidade é igual na criança, seja ela de classe alta, média, baixa, né? Não houve distância, de maneira nenhuma, pelo contrário! Eu acho que as nossas crianças têm que ter essas oportunidades, têm que ter acesso a essa riqueza de material. É só dar essa oportunidade que elas chegam lá. (GF Coordenadores Regionais) Vale ressaltar que algumas observações se colocam no que se refere à adequação dos mate- riais impressos aos alunos da fase inicial do Ensino Fundamental. Entretanto, tal fato não é tido como obstáculo ao trabalho do professor, ainda que demande atenção. 3.2.2 O processo de formação e a atuação da equipe pedagógica da Sangari Brasil O processo de formação adotado pelo CTC constitui um dos eixos importantes do Programa, segundo a maioria dos entrevistados. Sua concepção é bem avaliada e se coaduna com a pers- pectiva do Secretário de Educação e Cultura, que aponta como um erro freqüente das políticas de formação de professores o fato de não estarem pautadas na realidade: Você faz uma política de formação que não vai ao ambiente empírico, à sala de aula. Contrata consultores, profissionais com um acervo teórico impressionante, mas aquilo não expressa o interesse da sala de aula, não é ela que está ali. Você não teoriza a prática. Apesar de ser recorrente a sinalização de que a lógica do “efeito multiplicador” não atende às neces- sidades dos professores que não participam do trabalho diretamente desenvolvido pela equipe pedagó- gica da Sangari, principalmente daqueles que não têm formação específica na área de Ciências, como é o caso dos que atuam nas turmas do CEB à 4ª, são muitos os depoimentos que avalizam o processo: 27 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network Eu percebo que tem um princípio que orienta o trabalho na perspectiva do que se espera que o professor faça com as crianças. Se eu quero que o ele trabalhe o mundo em forma dinâmica, usamos materiais concretos, para que ele pense sobre esses materiais na sua experiência de formação. Normalmente, os modelos de formação ainda são centrados no formador e nem sempre naquilo que o professor precisa aprender para ensinar às crianças. (Equipe SMEC) O importante do CTC é essa formação continuada, essa prática de estar mensalmente vindo, avaliando. Visitam as escolas e ali, na própria escola, tiram as dúvidas dos professores. É um acompanhamento sistemático, muito comprometido com o trabalho. Uma equipe maravilho- sa, comprometida. (Equipe SMEC) Muitas vezes, o professor não tem, na sua própria formação, acesso a recursos tão inovadores como os que um programa como esse pode apresentar, né? Eu vi professores que parecia que, pela primeira vez, estavam tendo contato com esse tipo de recurso. (Equipe SMEC) Os professores foram muito bem acolhidos. Todos foram muito receptivos, souberam real- mente motivar e incentivar, prepararam o terreno, mostrando que tudo aquilo que estavam fazendo estava atrelado aos Parâmetros Curriculares, eles tiveram esse cuidado. Os professores gostaram, não tivemos problema nenhum. (Equipe SMEC) O primeiro momento de formação, pra mim, foi um momento de encantamento, de total sedu- ção. Eu acho que saiu todo mundo de lá extremamente envolvido com a proposta, todo mundo queria sair com uma caixa daquela para começar imediatamente a pôr em prática, mesmo sendo Coordenadores Pedagógicos de Regionais. (GF Coordenadores Regionais) O fato de esse processo incluir outros atores além do professor, como o diretor da escola, o coordenador pedagógico, é visto como importante para facilitar a articulação do Programa no universo da escola, como ressalta um gestor, de forma a se integrar e atender às diretrizes da rede para a área de Ciências. A atuação da equipe pedagógica da Sangari é bem vista pelos entrevistados, traduzindo-se num dos pontos mais ressaltados, o que se evidencia em diversas falas: Eles deram todo o suporte possível, inclusive para escolas cujas demandas até fugiam da com- petência da Secretaria de Educação. Esso é um ponto positivo, a questão do vínculo, do com- promisso. (Equipe SMEC) Eles têm ido às escolas, observado as aulas dos professores, tirado dúvidas com eles, dando esse apoio. Não basta só formar e deixar o professor lá desenvolver a coisa sozinho. Então, esse acompanhamento está sendo feito de forma eficaz, porque está chegando onde o professor faz o seu trabalho, a sala de aula. (Equipe SMEC) Eu acho importante destacar o vinculoque passaram a ter com as unidades escolares. Foi um contato que começou a partir das formações. O Programa é muito próximo da escola, da mes- ma forma que da Secretaria. (Equipe SMEC) Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 28 Chegando ao Município, ele vai ter que conhecer primeiro qual é o Município em que ele está chegando, quais são as nossas diretrizes, qual é o projeto da escola... Nós tivemos esse diálogo com a Sangari, de contextualização. (Equipe SMEC) Nem todas as escolas, entretanto, vêm sendo acompanhadas com a mesma regularidade, conforme sinalizam alguns entrevistados, que demandam mais atenção, principalmente, para aquelas que dispõem de poucos recursos de comunicação, para as quais as possibilidades de acompanhamento a distância, por meio da Internet, se mostram inviáveis. 3.2.3 Os impactos iniciais do CTC As percepções dos entrevistados sobre os impactos iniciais do CTC no universo da esco- la, considerando seus principais atores, baseiam-se, sobretudo, no acompanhamento indireto – caso dos técnicos e gestores da SMEC – e nas visitas aos estabelecimentos pelos coordenadores regionais. Apesar do pouco tempo de implementação do Programa, são recorrentes as falas que identificam sintomas de mudanças, principalmente no que se refere aos alunos e professores. Em relação aos alunos e seus familiares Com relação aos alunos, os impactos mais perceptíveis, de ocorrência praticamente imedia- ta, referem-se ao entusiasmo e ao interesse pelos experimentos, propiciados, sobretudo, pela utilização de recursos materiais atraentes e pela associação das atividades com suas vivências cotidianas, como revelam diversos depoimentos: Eu não acho que é tão cedo, não, pra gente falar de impacto. A gente vê o impacto assim! Se você for observar as aulas, você vê de imediato, né? Pela reação dos alunos. (Equipe da SMEC) Os alunos ficam encantados. São crianças que dificilmente têm acesso a essas novas tecnolo- gias que estão aí. Esse material faz com que eles fiquem envolvidos, porque é uma aula viva! (Equipe SMEC) Em uma escola que eu tive oportunidade de visitar, perguntei para alguns alunos o que eles achavam de mais interessante, e era a parte dos experimentos, da coisa prática, da coisa lúdica, né? Um me disse assim: professora, eu já estou me sentindo um cientista! (Equipe da SMEC) Tem uma escola que estava participando do campeonato de robótica. E eles faziam comparação de como armar aquilo ali, como calcular o espaço, o tempo, né? E eu achei muito interessante eles fazerem essa consonância de um determinado projeto com o outro! (Equipe SMEC) Alguns entrevistados se referem ainda a indícios de mudanças de comportamento por parte dos alunos. Além disso, destacam repercussões junto aos seus familiares: • 29 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network A gente percebe que a auto-estima dos meninos já melhorou, a motivação para estar em sala. Os meninos estão se sentindo mais seguros em falar, em dar opinião nas coisas que estão expe- rimentando, ali, na hora da experiência... Meninos que não falavam, até pela própria timidez, medo de errar, estão mais motivados, falando mais... (Equipe da SMEC) Os alunos eram muito violentos, né? Então, a escola vinha buscando alguns projetos que pudessem trabalhar a questão da agressividade dos alunos, e o Sangari, esse ano, veio colaborar, contribuir com o envolvimento dos alunos nas aulas e dos pais também. (GF Coordenadores Regionais) Os alunos começam a questionar, né? Eles são questionados na escola, é muito “por quê?”. E eles vão com esses “por quês” para casa, e, segundo a professora, a repercussão disso na família é evidente. Os pais vêm perguntando: O que é isso que vocês estão fazendo com os meninos, que eles estão bombardeando a família de perguntas? (GF Coordenadores Regionais) O impacto junto aos familiares é também evidenciado no depoimento de um gestor, que, ao participar de um fórum com pais, por ocasião da inauguração de uma escola, ouviu, de alguns presentes, a reivindicação por aquele projeto de Ciências que o meu filho tem na outra escola. Em relação aos professores Entre os professores, de acordo com os entrevistados, os impactos mais perceptíveis se dão pelo processo de formação inicial – no caso específico daqueles que participaram do trabalho desenvolvido diretamente pela equipe pedagógica da Sangari – e pelo uso de recursos materiais aos quais, em sua prática cotidiana, não têm acesso: O que eu pude perceber é que o professor, durante a sua formação, também veio na perspectiva de trabalhar na investigação, na pesquisa. Então, não é só para o aluno, eu acho que o professor também passa por um novo perfil, né? Ele está aprendendo, de fato, a usar a Ciência de uma maneira mais prazerosa e mais prática, trazendo-a para dentro do contexto da realidade do aluno. (Equipe da SMEC) Tinha um programa, tinha os conteúdos a serem trabalhados e o professor foi adicionando, trazen- do o que já estava planejado dentro da sua prática, da sua escola, e adequando ao Programa e vice- versa. Eu acho que eles estão maravilhados, pela questão do material, assim rico. Na formação, que foi de alto nível, eles puderam experimentar... Eles mostravam satisfação! (Equipe SMEC) Eles estão muito felizes pela questão de não ter só o CTC lá, mas sim todo o material pedagó- gico-didático, que é de uma relevância muito grande. Eles podem estar acompanhando todo o processo, não só do aluno, mas a própria formação deles. (Equipe SMEC) É possível constatar, também, algum impacto nas relações dos professores, com vistas ao plane- jamento das atividades na escola, ainda que esse processo, na opinião de vários entrevistados, seja lento e difícil, sobretudo nas escolas de 4ª a 8ª série. Os depoimentos de abaixo são ilustrativos: • Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 30 Há pouco tempo, eu conversava com alguns professores e com a gestora da escola e ela falava do entusiasmo do grupo, que estava todo mundo muito envolvido, que esse projeto tinha vindo para agregar a equipe, porque havia um diálogo entre o grupo, e essa interdisciplinaridade é um desafio, porque exige mesmo essa mobilidade, de cada um estar cedendo um pouco e oferecen- do um pouco, um diálogo mais profundo. (GT Coordenadores Regionais) Uma questão em relação ao currículo é que está se rompendo aquela visão de que Ciência é para poucos eleitos. No nosso caso, a escola está articulando com outras disciplinas, o professor pega e faz uma articulação com a Língua Portuguesa, enfim, tenta fazer esse trabalho sem mui- tas “redomas”. Vendo que a Ciência é para todos, que ela está acessível a todos, inclusive para alunos de classe populares. Então, rompe-se um pouquinho aquela visão elitista da Ciência meio distante, principalmente quanto aos experimentos. (GT Coordenadores Regionais) Em relação a outras áreas de atuação das escolas, a outras escolas e projetos Entretanto, talvez o impacto do CTC que mais reflita sua aceitação por professores e gestores nas escolas seja o fato de, em muitas delas, o Programa estar extrapolando os limites das turmas, segmentos e escolas nos quais foi implantado, ao mesmo tempo em que outras, não selecionadas para a experiência-piloto, demandam a sua implantação: Quando o material da Sangari chega às escolas, as outras escolas que não têm o Programa co- meçam a ligar, e esse foi o primeiro impacto que eu notei. (Equipe SMEC) Em escolas que funcionam nos três turnos, os professores pediram pelo amor de Deus para am- pliar para a EJA, no noturno. Embora não tenhamosampliado, até porque o próprio material não é destinado à EJA, eles estão usando, fazendo adaptações. Na Educação Infantil também pediram e outras escolas, que não estão no projeto, pedem material emprestado às outras, está havendo essa troca... (Equipe SMEC) Tem escolas que estão multiplicando o Programa dentro do próprio espaço. Inclusive, tem al- guns gestores que queriam levar isso até para a “Escola Aberta”! (Equipe SMEC) Quando o professor do diurno trabalha com a Sangari e extrapola isso para a EJA, é porque ele sabe que a EJA faz parte da escola como um todo, né? E aquilo que está sendo oferecido para o diurno e que pode ser adaptado, adequado, ele faz, até porque a gente quer tirar essa visão excludente da EJA. É bom para a escola estar fazendo essa relação entre os vários projetos e modalidades que ela oferece. (GF Coordenadores Regionais) Por fim, vale destacar o fato de alguns entrevistados apontarem esboços de articulação entre o CTC e outros projetos correntes nas escolas, embora esse processo não pareça ainda consistente: Na escola tem o PETI, que é um suporte pedagógico para o professor. O professor tem o seu planejamento e ele vai para o laboratório pesquisar, e isso casa muito bem com o Sangari, por- • 31 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network que o Sangari tem todo o material. E, normalmente, as escolas de 5ª a 8ª todas têm laboratório de informática. (GF Coordenadores Regionais) O projeto “História e Memória de Itapagipe” tem uma vertente sobre o meio ambiente e é de todas as escolas da CR, que está fazendo um link com o Sangari, pra que o grupo possa ampliar um pouco mais a visão em relação a Itapagipe, a partir de suas experiências sobre o ambiente. (GF Coordenadores Regionais) Este ano, as escolas, praticamente todas, estão trabalhando as diretrizes ambientais, cada uma fazendo o seu projeto, o seu trabalho. Então, quem abraçou o Sangari só veio a ganhar. (GF Coordenadores Regionais) Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 32 4. O programa CTC nas escolas É assim a vida, nasce cresce e morre... Aí, é tudo de novo, é como uma roda. (aluno Da 4ª série) O resultado do trabalho de campo realizado junto às escolas que desenvolvem o CTC em Salvador, apresentado nesse item, oferece um rico conjunto de depoimentos e análises sobre o Programa, a partir do olhar daqueles que a ele estão vinculados mais diretamente: diretoras de escolas, professores, coordenadores pedagógicos, alunos e pais. Referencia-se, pois, nas visitas realizadas às 11 escolas, onde foram aplicados questionários, realizadas entrevistas e grupos focais e se procedeu à observação direta do espaço físico e social. De início, com relação às escolas, chama a atenção a boa aceitação e a avaliação positiva do Programa. Até o momento, o CTC é, praticamente, uma unanimidade entre educadores, alu- nos e responsáveis por alunos. As entrevistas e os grupos focais realizados buscaram conhecer a opinião dos envolvidos sobre questões relativas à sua implantação e ao desenvolvimento nas escolas; às relações com a Sangari Brasil e com a SMEC; ao envolvimento de coordenadores pedagógicos, diretores e professores com o Programa; à sua aceitação por parte dos alunos e aos impactos percebidos em seu processo de aprendizagem. Um primeiro aspecto a ser destacado refere-se ao modo como o Programa chegou às escolas de Salvador e como se deu o seu processo de implantação e apropriação por parte dos educado- res. Ao contrário do que se costuma ouvir sobre projetos que chegam às escolas desrespeitando trajetórias, “caindo de pára-quedas” como “pacotões” a serem adotados como a última novidade pedagógica, sem considerar os acúmulos e escolhas político-pedagógicas de cada unidade es- colar, a avaliação dos educadores, diretores e alunos com relação ao CTC é muito favorável, por ressaltarem o modo respeitoso como ele chegou às escolas, não só possibilitando como também estimulando adaptações e adequações ao currículo, aos programas já existentes e à realidade de cada estabelecimento. Ele trouxe uma coisa e deixou ao critério do professor estar viabilizando. Não disse assim: “você vai ter que implantar esse projeto”. É um projeto que é aberto, flexível, então, o respeito começa aí. Só em deixar você à vontade para estar articulando dentro do seu processo, é muito melhor do que chegar e dizer assim: “muda tudo, agora vai ser assim”. Aí, não só você, mas também seus alunos ficam perdidos, tentando fazer uma coisa que não convém, só porque é obrigação do sistema, tem que ser. Então, ele, pelo contrário, está contribuindo para o bom andamento do processo aqui na escola. (GF Professores de CEB a 4ª série) 33 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network Não foi simplesmente aquela história de chegar uma montoeira de equipamentos na escola, um monte de livros e “execute!”. Não, você executou antes, então você vivenciou e, se eu vivenciei, para passar é muito mais fácil. (GF Professores de 5ª a 8ª série) É claro que nós temos alguns projetos que chegam pra gente de forma macro, mas enquanto gestora - e eu também assumo aqui a coordenação pedagógica - eu procuro fazer com que aquilo que chegou perpasse pela nossa proposta pedagógica. Então, eu procuro que chegue à escola da maneira mais suave possível. Que aquilo seja, de fato, importante pra nossa comuni- dade. E o CTC, eu posso lhe garantir que não chegou de pára-quedas não. Chegou assim muito bem, caiu em solo fértil. (Diretora) Os diretores, coordenadores e educadores também ressaltam a qualidade da formação inicial, que apresentou a proposta e o material do CTC, mas se ressentem do fato de nem todos os pro- fessores de Ciências terem dela participado, uma vez que foi adotado o modelo de formadores- multiplicadores. Apresentam também uma recorrente demanda por maior acompanhamento por parte dos assessores e consultores educacionais da Sangari, através de uma presença mais sistemática nas formações continuadas que, de preferência, devem ocorrer na própria escola. A implantação foi excelente. Nós fomos pro Hotel Vila Velha, lá no Corredor da Vitória. Foi assim de Primeiro Mundo a implantação. Agora, o acompanhamento,eu achei regular para bom, porque eu achei que nós íamos ter um acompanhamento maior. Aqui, nós tivemos uma dificuldade com tempo e clima, a questão da estação meteorológica. Aí, a gente sentiu um pouco a falta deste suporte mais próximo. Eles vieram, não deixaram de vir aqui, mas eu achei que podia ser um acompanhamento mais efetivo. De estar aqui, olhando, vendo as aulas. (GF Professores de CEB a 4ª série) Eu acho que, diferente dos outros projetos, o que o Sangari levou em vantagem foi que eles nos mos- traram o que faziam e como faziam, ou seja, eles tiveram a habilidade de trazer a gente para dentro do projeto e não a gente tentar entrar na marra no projeto. (GF Professores de 5ª a 8ª série) Como o projeto trabalha com a questão teórico-prática, então, na minha opinião, faltou assim aquele maior respaldo quanto à prática e à utilização dos instrumentos. A questão teórica foi muito bem colocada pelo pessoal da Sangari, qual a visão, quais os objetivos maiores do pro- jeto. Mas a questão da prática... Porque, em cada aula, você manuseia muitos materiais para chegar o objetivo da aula... Então, eu acho que ficou faltando esse apoio. (Vice-diretora) Na minha escola houve uma reclamação assim maciça, porque todo mundo queria ter partici- pado, todo mundo queria ter ido e, infelizmente, não pôde, assim as pessoas ficaram um pouco chateadas. (GF Professores de5ª a 8ª série) O pessoal gostaria de ter participado lá, porque uma coisa é você viver com os outros professo- res aquele momento e outra completamente diferente é você estar na escola e eu estar passando pra você... Por mais que eu me esforce para fazer bem feito, não é a mesma vivência. (GF Pro- fessores de 5ª a 8ª série) Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 34 O material pedagógico utilizado no Programa é também alvo de entusiasmados comentários dos entrevistados. Quando eu vi o material, eu fiquei tão encantada que eu pedi para entrar e, aí, eu entrei sem dúvida... É, eu invadi o programa! (GF Professores de 5ª a 8ª série) As professoras da noite se encantaram com o material e os meninos também, inclusive o pesso- al do Telecurso, que não se encaixava de 5ª a 8ª (GF Professores de 5ª a 8ª série) O vocabulário dele é fácil, não é rebuscado, dá realmente para qualquer um sentar, ler e enten- der. (GF Professores de 5ª a 8ª série) Quando questionados sobre o porquê desta demanda por um acompanhamento mais siste- mático dos assessores da Sangari, uma vez que, conforme critério estabelecido entre a SMEC e a Sangari, por ocasião da implantação do Programa, se enfatiza a importância de que a formação continuada seja de responsabilidade de um profissional efetivo da rede de ensino local, estes educadores demonstram uma forte tendência, comum a muitos profissionais da educação, para seguir modelos já estabelecidos, já vivenciados por outros. Uma certa dificuldade para lidar com a liberdade de vivenciarem suas próprias experiências com o Programa, como se observa nos depoimentos a seguir: Primeiro, porque a convivência deles com o Projeto é bem maior que a nossa. Segundo, porque as dúvidas seriam sanadas na hora. Porque eles devem saber a dosagem. Por exemplo, quando eu te digo assim: “o texto é denso”. Alguém do Sangari aqui, com certeza, teria uma praticidade maior, por já ter trabalhado com o Projeto em outros Estados, em lidar com esses problemas, como nos sinalizar e amenizar isso até resolver isso imediatamente. A gente não ficaria no “eu acho que isso vai dar certo”. Já ia com uma coisa que já deu certo. (Diretora) Indiretamente que eu falo é assim... comunicação... que vai ter encontro, que vai se reunir tal dia, tal hora, é isso que eu falo indiretamente... Avaliação elas mandaram por e-mail, a gente tirou e aconteceu... Então, eu vejo isso indiretamente, porque diretamente eles estariam aqui dentro ajudando. (Diretora) Cabe ressaltar, entretanto, que a maioria das escolas que adotam o Programa em Salvador não possui coordenadores pedagógicos ou supervisores, e todo o acompanhamento é feito pela própria direção, que deve se ocupar das questões pedagógicas e administrativas. Por parte dos professores, eles conversam, eles sentam, trocam as experiências e tudo que vi- venciaram com o projeto. Só. Não há um acompanhamento ou um grupo sistemático para estudo. A gente precisaria deste coordenador pedagógico para estar fazendo esta interligação. É uma escola imensa, eu não tenho vice, eu não tenho coordenador, então, sou eu para as ques- tões pedagógicas, sou eu também para as questões administrativas. (Diretora) 35 Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network A precariedade nas condições de trabalho pode ajudar a entender, também, a demanda por um acompanhamento mais sistemático por parte da SMEC. Quanto à Secretaria, faltou um pouquinho mais aí o acompanhamento. E até nesse sentido, nós já nos comunicamos com eles e uma pessoa vai estar acompanhando a gente a partir de amanhã. Já veio ontem pra uma reunião e vai estar acompanhando a gente de forma mais sis- temática. (Diretor) Outra questão, relacionada à precariedade nas condições de trabalho, refere-se ao espaço físico, tanto para a realização das experiências quanto para armazenar as produções e experi- ências dos alunos. As escolas, além de possuírem turmas muito cheias, têm ainda dois ou, em alguns casos, três turnos. Alguns alunos ressentem-se pelo fato de não poderem acompanhar seus experimentos. Na minha sala, que é o turno da manhã, que fez um terrário. Botou uma garrafa, com sementes lá e fechou pra poder crescer. Só que, tem hora, vêm os alunos e abrem e ficam mexendo... Aí, tem hora que não dá, que acaba. (GF Alunos - 5ª série) A gente faz e a gente fica na expectativa do que vai acontecer e, na hora, jogam fora. Aí eu não gosto! Eu acho assim, que deviam guardar num lugar melhor, pra saber o que foi feito com aquilo que você fez. (GF Alunos - 5ª série) A turma da manhã, da tarde e da noite só têm aquele espaço para guardar o material do CTC. Aí, no caso, poderia ter prateleira separada pra manhã, pra tarde e pra noite. (GF Alunos - 6ª série) Já com relação à manutenção dos equipamentos e materiais do CTC, os depoimentos são de que há um grande zelo por parte dos alunos e professores. Somente em uma escola registrou-se um relatado de arrombamento dos armários, que, mesmo assim pode não ser atribuído aos alunos. Os pais também aprovam o sistema de manutenção do equipamento e ressaltam a importância de o aluno ter o seu material, mas não levar para casa, por uma questão de segurança e zelo. De um modo geral eles não levam o material pra casa. Às vezes a gente permite, mas com muito medo. Aí um menino falou: oh professora eu vou até guardar esse livro para o meu cachorro não rasgar. Eu falei: venha cá, o seu cachorro abre a porta do guarda-roupa? Ele sobe no guar- da-roupa? Não né? Então pronto. (GF Professores de 5ª a 8ª série) Tudo é tratado com muito cuidado, tanto pelo aluno, como pelo educador. Que já é uma coisa nossa. Tipo assim, você nunca tem, você tem que zelar, porque você não sabe quando vai ter de novo. Então, nós não temos aquele hábito de descartar nada. A gente usa e guarda. A gen- te pensou no início assim: o Sangari pode não estar aqui no ano que vem, mas o que a gente aprendeu do Projeto vai ficar... Então, todo esse material vai ser reutilizado por outra turma, é pra tratar com carinho, porque a gente vai precisar dele ano que vem. E, disso, os meninos têm consciência, porque eles já lidam assim com o próprio livro didático, com o material que Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana Red de Información Tecnológica Latinoamericana Latin American Technological Information Network 36 eles têm na sala, com os jogos. Tudo que eles dispõem, eles sabem que não é deles. Ele vai usar e vai ficar ali. No ano seguinte, ele vai para outra sala que vai ter tudo, mas que foi alguém que preservou pra que ele tivesse. (Diretora) Logo que o CTC chegou, essa questão era uma preocupação nossa. Como é que eles vão estar manuseando? Porque é uma turma grande. Nossas turmas são, em média, de trinta alunos. Será que eles vão quebrar? Será que vão destruir? Será não vão ter cuidado? E, felizmente, eu ainda não tive nenhum registro dos professores nesse sentido. De que o aluno não tem cuidado com o material. Eles estão cuidando de forma bem satisfatória do material deles. (Diretora) É individual, achei ótimo, é bem organizado, e achei melhor ainda não levar pra casa, porque vai quebrar, vai estragar. Tem muita mãe que está trabalhando, entendeu? A criança fica sozi- nha. A gente sabe que criança com mãe é triste, sem mãe é pior ainda. Então, eu gostei muito disso, porque recebe, fica aqui e eles usam aqui, porque é aqui mesmo que tem de ser usado. Gostei desse sistema. (GF Mães de alunos de CEB a 4ª série) Este último depoimento aponta a situação de muitas crianças cujo processo de autonomia pre- coce na vida escolar é ditado pelas condições de sobrevivência dos pais, que os impedem de acom- panhar mais de perto
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