Buscar

Aborto: Um Debate Polêmico

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ABORTO: Apesentação em 31/10/2015 - Pós-Graduação em Teologia e Cultura. 
NADIA JUNQUEIRA MACIEL FERREIRA
“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento... e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mt 22, 37 e 39)
A palavra aborto origina-se do latim ab (privação) ortus (nascimento) e significa “separação do sítio adequado” ou “privação do nascimento referindo-se ao produto da concepção eliminado pela cavidade uterina”. O termo aborto designa a interrupção da gravidez antes de seu término normal, seja ele espontâneo ou provocado, tenha havido ou não expulsão do feto destruído. Define-se pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como sendo a interrupção da gravidez até a 20ª - 22ª semana de gestação e com o produto da concepção pesando menos de 500g (BRASIL, 2001).
Aborto é um tema de amplo e forte debate social, e vem sendo bastante discutido ao longo da história da humanidade, por estar relacionado aos aspectos éticos, legais, econômicos, sociais e psicológicos. Representa um problema de saúde pública e de justiça social, principalmente em países em desenvolvimento, sendo responsável pela manutenção das altas taxas de mortalidade materna em muitos países em desenvolvimento. Trata-se de um assunto polêmico que articula diversas posições e conflitos pessoais, culturais, religiosos e sociais.
Estima-se que 68.000 mulheres morrem, por ano, em todo o mundo, em decorrência do aborto inseguro, ou seja, oito mulheres por hora. Esses números levam à estimativa de uma razão de mortalidade de 367 mortes por 100.000 abortos inseguros, o que é infinitamente superior à taxa de mortalidade causada pelo abortamento seguro, que é menor que uma morte por cada 100.000 procedimentos (SANTIAGO, 2008), O autor comenta que interromper uma gravidez utilizando métodos seguros é mais seguro do que levar uma gravidez, mesmo que normal e sem complicações, adiante. Dessa forma, o abortamento inseguro deveria ser entendido como um problema de saúde pública.
No Brasil, o aborto é permitido somente quando a gestação apresenta risco à vida da mãe, em casos de gravidez ocasionada por estupro ou, mais recentemente, em 2012, com comprovação de anencefalia fetal. Com relação às estimativas acerca do número de abortos induzidos, os dados que permitem uma aproximação com a realidade são os relativos à internação de mulheres em hospitais públicos para a realização de curetagem pós-aborto - o que exclui mulheres sem nenhum acesso ao sistema público de saúde e mulheres usuárias de saúde suplementar. O número de mulheres tratadas em hospitais públicos, por complicações relacionadas ao aborto, diminuiu nas estatísticas oficiais. Ainda assim, está longe de ser razoável: de 345.000 mulheres internadas, em 1992, para 250.000, em 2005; uma diminuição de 28% (SANTIAGO, 2008).
De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), a incidência de óbitos por complicações do aborto oscila em torno de 12,5%, ocupando o terceiro lugar entre as causas de mortalidade materna com variações entre os estados brasileiros. Chaves et al. (2012) relatam que uma pesquisa no Brasil aponta que:
O aborto ocorre em 31% das gestações de mulheres de 15 a 49 anos.
Estima-se que ocorram 1,4 milhões de abortos clandestinos no Brasil.
A curetagem pós- abortamento representa o segundo procedimento obstétrico mais realizado nas unidades de internação da rede pública de serviços de saúde, superada apenas pelos partos normais.
De 2010 a 2011 foram realizados 45.342 procedimentos de curetagens pós-aborto em mulheres abaixo de 19 anos. 
Os métodos utilizados para provocar os abortos ilegais levam a quadros infecciosos e hemorrágicos graves. As complicações em decorrência desses quadros comprometem a saúde das mulheres e são a causa de 10% a 15% dos óbitos maternos no Brasil.
A mortalidade decorrente do aborto é 2,5 vezes maior em menores de 20 anos. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde, no Brasil uma em cada nove mulheres recorre ao aborto como meio de pôr fim a uma gestação não planejada.
Os principais argumentos morais contrários à legalização do aborto no Brasil amparam-se em valores cristãos sobre o sentido da existência ou do início da vida. As Sagradas Escrituras não tratam especificamente sobre a questão do aborto. No entanto, há inúmeros ensinamentos que mostram claramente a visão de Deus sobre o aborto. Assim, Jeremias (1, 5) nos diz que Deus nos conhece antes de nos formar no útero; Êxodo (21, 22-25) dá a mesma pena a alguém que comete um homicídio e para quem causa a morte de um bebê no útero (um bebê no útero como um ser humano tanto quanto um adulto). Para o cristão, o aborto não é uma questão sobre a qual a mulher tem o direito de escolher. É uma questão de vida ou morte de um ser humano feito à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 26-27; 9, 6).
Tertuliano (150-220), advogado dos primeiros séculos do Cristianismo, Agostinho (354-430), padre da Igreja, assim como Tomás de Aquino (1225-1274) e Alberto Magno (1193-1280) na época medieval, entre outros filósofos, se posicionaram contra o aborto alegando que “a hominização dá-se no ato conceptivo” (ANDRADE, 2015, p. 12).
No Concílio Vaticano II (1961-1965) o Papa João XXIII e, posteriormente, o Papa Paulo VI defenderam a vida desde o momento da concepção, negando o aborto considerado como “crime abominável”. De lá pra cá, muito se tem discutido sobre o aborto. O Papa Francisco considera o aborto como “um drama existencial e moral”. Em uma oportunidade, o Papa anunciou que durante a celebração do Jubileu da Misericórdia (de 08/12 a 20/11/2016) todos os sacerdotes (e não só os bispos, como até agora) terão o poder de "absolver" as mulheres que cometeram “o pecado do aborto”, porque “o perdão de Deus não poder ser negado a todo aquele que se arrepender e muitas delas têm uma cicatriz no coração por essa escolha sofrida e dolorosa”. 
Para aquelas que fizeram um aborto – o pecado do aborto não é menos perdoável do que qualquer outro pecado. Através da fé em Cristo, todos e quaisquer pecados podem ser perdoados (Jo 3, 16; Rm 8, 1; Col 1, 14). Uma mulher que fez um aborto, ou um homem que encorajou um aborto, ou mesmo um médico que realizou um aborto, todos podem ser perdoados pela fé em Cristo.
À primeira vista, o pronunciamento de Francisco parece ser decorrente de uma questão do regime interno da Igreja católica. Porém, em entrevista à revista La Civiltá Católica, o papa Francisco defendeu que a Igreja deve ser “uma casa para todos, não uma capela concentrada na ortodoxia e em uma agenda limitada de ensinamentos morais”, chegando a criticar a obsessão da Igreja Católica com o aborto, o casamento gay e a contracepção.
Assim como não sou favorável ao abortamento anencéfalo, levando em consideração a “gravidade” e às diferentes graduações, pois a ausência do encéfalo pode ocorrer em formas diferenciadas, entende-se que sou também contra o aborto em geral, considerando as exceções previstas pela legislação brasileira. A vida humana não é um valor relativo, que pode ser ‘descartado’; se pode tirar o direito à vida do embrião (pois a partir da concepção ele já é um ser humano), entrarão e conflito os valores éticos e morais que são incorporados à vida do cristão no seio da família e da sociedade ("Os teus olhos me viram a substância ainda informe" Sl 139, 16); Deus diz que Ele se importa com a criança e a está moldando (Sl 139, 13-16).
Dessa forma, há outros meios para se salvar a vida da gestante. Os avanços da medicina podem possibilitar a garantia de uma gestação próxima da normalidade e salvar a vida de ambos. Os tratamentos possíveis sugerem que a probabilidade maior é a da sobrevivência da mãe, não o óbito.
Para a ética cristã o aborto mesmo em caso de estupro e até mesmo para salvar a vida da mãe é visto como um descumprimento de um dos dez mandamentos de Deus (não matar), portanto o aborto no caso de estupro é abominado pelos cristãos, “pois mata um ser vivo”. Sinceramente, quando há concepção decorrente de estupro, há que se refletir e analisar a situação,pois “cada caso é um caso”, como o caso explorado pela mídia sobre a menina do Paraguai que engravidou de gêmeos após ter sido estuprada e o aborto lhe foi negado. 
O estupro é uma afronta a dignidade feminina, pois reduz a mulher a um objeto, a uma criatura cuja importância se restringe a seu uso genital, a alguém “cujo amor e sentido do eu - aspectos da personalidade particularmente importantes no sexo - não têm importância alguma a não ser como veículos de degradação sádica” (DWORKIN, 2003, p. 133).
Bittar (2004, p.154) diz que "de fato, as tradições, os hábitos, os costumes, as crenças populares, a moral, as instituições, a ética, as leis estão profundamente marcadas pelas lições cristãs". Fica claro aqui que a conduta humana é fruto da influência da conduta divina. O agir ético seria conduzido por esses valores intrínsecos em cada pessoa.
O filósofo cristão, teólogo, escritor e palestrante Dr. William Lane Craig (2010) esclarece que:
(…) em tudo isso, não apelei em ponto algum para a Bíblia. A razão é porque, contrário à impressão popular, o aborto não é uma questão religiosa. A primeira questão que levantamos é filosófica: os seres humanos possuem algum valor moral intrínseco? A segunda questão é científica e médica: o feto em desenvolvimento é um ser humano?
Faz-se urgente uma necessidade cada vez maior de estudos sobre o abortamento inseguro, clandestino, principalmente em populações de baixa renda, nas quais há um número maior de casos de aborto nas taxas de morbimortalidade materna e onde se faz mais necessário trabalhar o planejamento familiar preventivo (FUSCO; ANDREONI; SILVA, 2008).
É preciso considerar que o aborto provocado é uma realidade que atinge, com frequência alarmante, a mulher brasileira e que, portanto, merece um tratamento mais sério do que aquele que tem recebido até agora em nossa sociedade. O projeto de lei 5069 (que se aprovado, irá ao Senado para ser sancionado pelo executivo), “tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto”. O texto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e de Cidadania da Câmara dos Deputados, mas já tem provocado polêmica na sociedade, a partir das redes sociais e protestos de mulheres nas ruas de algumas cidades brasileiras (BRASIL, 2013).
Um assunto tão delicado e polêmico como o aborto requer engajamento político de toda a população. A redução da mortalidade materna requer uma emergente vontade política e educacional para investir nos serviços de saúde que prestam atendimento às mulheres. Caso contrário, pouco se poderá fazer para mudar os atuais índices de mortalidade materna brasileiros e a assistência à saúde da mulher no contexto do abortamento.
Segundo Watkins (2008) quem sairá triunfante entre o debate da ética e o progresso da tecnologia? Ou a questão do que é certo ou errado está sendo deixada de lado? O estudo dos sistemas éticos responderá a essas questões. Vamos fazer o feedback?
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Claudionor de. As novas fronteiras da Ética Cristã. 2015. Disponível em: https://books.google.com.br/books?isbn=8526313347. Acesso em: 28 out. 2015.
BÍBLIA. Português. Bíblia Sagrada. Ed. Pastoral. Sociedade Bíblica Católica Internacional. São Paulo: Paulus, 1990.
BITTAR, Walter B. Aspectos Jurídico-Penais da Autorização para o Aborto do Feto Anencéfalo. Disponível em: http://www.advocaciabittar.adv.br/index.php/artigos/artigos escritorio/item/aspectos-jurdico-penais-da-autorizao-para-o-aborto-do-feto anencfalo.html. Acesso em: 27 out. 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília (DF); 2001.
______. Projeto de Lei nº 2013. Acrescenta o art. 127-A ao Decreto-Lei no. 2.848, de 07 de dezembro de 1940 – Código Penal. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=106 163&filename=PL+5069/2013. Acesso em: 30 out. 2015.
CHAVES, José Humberto B. et al. A interrupção da gravidez na adolescência: aspectos epidemiológicos numa maternidade pública no nordeste do Brasil. Revista de Saúde Social. São Paulo, v. 21, p. 216-256, 2012. Disponível em: https://28diaspelavidadasmulheres.wordpress.com/2014/09/13/dados-a respeito-do-aborto/. Acesso em: 25 out. 2015.
CRAIG, William Lane. Apologética para Questões Difíceis da Vida, São Paulo: Vida Nova, 2010.
DWORKIN, Ronald. O domínio da vida: aborto, eutanásia e liberdades individuais. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
FUSCO, Carmen L. B.; ANDREONI, Solange.; SILVA, Rebeca de S. e. Epidemiologia do aborto inseguro em uma população em situação de pobreza - Favela Inajar de Souza, São Paulo. Rev Bras Epidemiol [on-line], v. 11, n. 1, mar, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-790X2008000100007&script=sci_arttext. Acesso em: 24 out. 2015. 
SANTIAGO, Ricardo C. Saúde da mulher e aborto. In: MAIA, Mônica B (org). Direito de decidir: múltiplos olhares sobre o aborto. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.
WATKINS, Tony. Brincando de Deus. São Paulo: UP. 2008.
Site visitado:
Menina de onze anos violentada pelo padrasto http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150819_menina_bolivia_gemeos_mc_rm.

Continue navegando