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4 Nesta seção pretende-se dialogar com as considerações dos autores reunidas anteriormente a partir de uma breve análise dos fluxos migratórios no Brasil contemporâneo. Em função disto, decidiu-se que a realização de uma abordagem mais completa sobre a influência da migração na atual conformação da rede urbana nacional precisa considerar a comparação entre marcos temporais, no caso o período 1980-2000. O objetivo central seria captar as localizações que possivelmente sejam um reflexo das alterações em termos da distribuição espacial da população e da inserção da mesma em atividades econômicas de ponta. A Rede de Localidades Centrais do Brasil consiste em uma seleção de municípios segundo um conjunto de critérios relacionados ao tamanho demográfico e a expressão da urbanização das localidades no contexto regional. Os critérios para seleção de município são: 1) os nove pontos integrantes das Regiões Metropolitanas oficiais, originalmente definidas por decreto/lei de 1973. Cada região metropolitana comparece, na rede urbana, como um nódulo de primeira ordem5; 2) município com população urbana superior a 100 mil habitantes.; 3) município cuja população urbana representasse mais de 3% da população urbana do respectivo estado; 4) exclusão da macrocefalia urbana do estado do Amazonas a partir de 1980. Trata-se de um estado de grande extensão territorial, extremamente beneficiado por políticas públicas que criaram a Zona Franca de Manaus, o que fez aumentar enormemente o peso desse município no estado. Assim faz-se a exclusão de Manaus da população total do estado em 1980 e 2000, recalculando-se a participação percentual dos demais municípios frente ao novo total, filtrando os casos de população urbana superior a 3% da população urbana do estado. Com isso pontos de uma rede dentrítica ganham visibilidade. 5) Todo ponto da rede pressupõe a existência de articulações viárias. Os pontos integram-se à rede de transportes rodoviário, ferroviário ou hidroviário permanente. Ao todo foram selecionados 361 municípios reunidos em 184 localidades. Como a malha territorial sofre constantes modificações em função de emancipações, foi necessário uma compatibilização das áreas municipais a fim de produzir uma “área mínima comparável”. Em virtude deste processo as 184 localidades selecionadas em 2000 foram reduzidas para 1776. Com o objetivo de facilitar a análise dos subconjuntos espaciais na Rede de Localidade Centrais do Brasil, as tabelas e as figuras obedecem a uma divisão em três frações, a saber. O Centro-Sul, a Nordeste e a Norte7. Na análise da migração interna as Localidades em 1980 e 2000, considerando o número total de imigrantes8, já é possível notar que houve alterações nos padrões de movimento da população. A Tabela 1 mostra esses números em cada um dos períodos analisados segundo as frações da rede. Em termos absolutos, os imigrantes alcançam mais de 10 milhões de pessoas em todos os municípios em 2000, significando 11,18% da população total, contra 16,31% em 1980. A queda percentual de 5% ocorrida nos pontos da Rede não é, entretanto, distribuída de forma igual por todas as frações. 5 As regiões metropolitanas consideradas corr espondiam a São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Curitiba e Belém. 6 Ao todo, entre 1981 e 1997, fora m criados 1492 municípios novos, e, destes, 198 tiveram origem em algu m município da Rede de Localidades Centras do Brasil. De sta maneira o procedi mento adotado para criação da área mínima comparável compreendeu a inserção de municípios que, em 1980, faziam parte dos municípios selecionados em 2000, Como eles não pode m ser separados em 1980 optou- se por somar os valores populacionais dos mesmos em 2000. No caso de municípios cuja orige m foi mais de um município da RLC esse foi somado aquele q ue teve maior perda p opulacional com a e mancipação. Em função deste processo o nú mero de Localidades sobre de 361 para 559. Não obstante a preocupação de que tal opção metodológica prej udicaria a constante referência deste estudo as localidades urbana s de maior dinamismo do país, considera- se mais importante preservar as área territorial em ambos os períodos a fim de exi mir-se de possível erros decor rentes da comparação de áreas territoriais completamente distintas. 7 Para maiores informações sobre a Rede de Localidades Centrais do Brasil consulte Matos (2005) . 8 Os imigrantes, tanto em 1980 como e m 2000, são todos aqueles que moram a menos de cinco anos no município de residência na data do censo. Tabela 1 Imigrantes da Rede de Localidades Centrais do Brasil segundo frações e estoques de população total 1980 2000 Frações da Rede Imigrante População Total % de Imigrantes Imigrante População Total % de Imigrantes Norte 610.826 3.649.514 16,74 1.098.301 7.812.684 14,06 Nordeste 1.631.573 11.098.369 14,70 1.837.032 18.368.097 10,00 Centro-Sul 7.446.076 44.661.468 16,67 7.521.596 67.324.251 11,17 Total 9.688.475 59.409.351 16,31 10.456.928 93.505.032 11,18 Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1980 e 2000. A fração Norte mostra a menor perda na participação dos imigrantes (de 16,7% para 14%), mas ostenta os menores valores absolutos. De fato, a área compreendida por estas localidades concentra-se nas porções do território já apontadas pela bibliografia como os novos espaços de recepção dos fluxos populacionais de expansão da malha urbana, o que justifica a menor perda dentro do quadro geral de redução da participação dos migrantes. O Nordeste, que apresentava os menores percentuais durante a década de 80 permanece na tendência geral, exibindo 10% da sua população constituída de imigrantes. O Centro-Sul, que detém mais de ¾ do total de imigrantes nas respectivas localidades, apresentou uma redução na participação ligeiramente maior do que a redução total na rede, na ordem de 5,5%. Os significados desta diminuição percentual possivelmente relacionam-se com transformações sociais e econômicas vividas pelo país nas últimas duas décadas, que, como afirmam Pacheco e Patarra (1997), estariam provocando uma reformulação nos destinos migratórios mais consolidados em função da perda de capacidade de retenção das grandes cidades. Neste aspecto, é possível que grandes correntes migratórias que ligavam determinadas regiões do país às áreas metropolitanas comecem a sofrer um processo de esgotamento, motivado pela formação de novos pólos regionais, que, além de reter parte dos fluxos originalmente destinados aos maiores centros, retêm também as suas próprias populações a partir das novas oportunidades dadas pela expansão dos mercados de trabalho. Desta maneira, os dados mostram que, ao mesmo tempo em que ocorre uma diminuição percentual dos imigrantes dentro da RLC, estes encontram-se melhor distribuídos entre as frações no ano de 2000, comparando-se com 1980. A espacialização dos dados demonstra mais claramente a formação de novos pólos de atração de migrantes. Segundo as informações da Figura 1, em 1980 eram 30 as localidades que possuíam mais de 50.000 migrantes na sua população, já em 2000, somam 40 os pontos nesta classe, ampliando as localizações com mais migrantes especialmente nas Frações Norte e Nordeste. A distribuição das outras duas classes mostram, da mesma forma, um significativo aumento de lugares com um número maior de imigrantes, mesmo que estes tenham sofrido uma redução percentual com relação a população total. Os lugares que possuem entre 15 e 50 mil imigrantes aumentam em 10, enquanto aqueles com menos de 15.000 diminuem em 20. Desta maneira, é preciso tratar com cuidado as informações que demonstram a queda do peso dos imigrantes em toda a rede. Na verdade, os dados vêm demonstrando uma expansão da importância da migração para boa parte dos municípiosda RLC, acompanhada por um declínio da expressividade dos grandes centros em relação ao resto dos centros urbanos do país. Assim, outros lugares constituem-se como novos atores no processo de redistribuição populacional9. Admitindo teoricamente que os migrantes dentro da RLC estaria selecionando um maior número de lugares entre as opções de destino é de se esperar que mais localidades obtivessem saldos positivos nas trocas migratórias com as 177 localidades. A Figura 2 traz essas informações representando o saldo migratório para os fluxos entre os pontos da rede. Os resultados reforçam a idéia aqui apresentada da expansão das opções de destino para os movimentos populacionais. Os mapas mostram que em 1980 existiam 65 localidades com saldo positivo, contra 111 outras que perdiam população para o restante da Rede. Em 2000 esse quadro altera-se substancialmente, aumentam para 84 os nódulos nos quais o saldo migratório é positivo e as perdas reduzem-se a 93 localidades. A espacialização das informações revela elementos interessantes destas transformações. A Fração Norte mantém boa parte das suas tendências, excetuando-se o caso das localidades de Rondônia que, de fortes ganhadores de população do resto da rede passam a enviar mais pessoas do que recebem. Na Fração Nordeste a característica emigratória é marcante em ambos os períodos, entretanto fica claro que o volume das perdas sofreu sensível diminuição nas duas últimas décadas, já que boa parte das localidades que haviam enviado mais de 10.000 pessoas para outros municípios da RLC em 1980 reduziram seus fluxos de saída para valores menores do que 10.000 em 2000. Com relação ao comportamento da Fração Centro-Sul alguns aspectos devem ser considerados. Em primeiro lugar é nesta porção da rede que se encontram as cidades mais importantes em termos de recepção dos migrantes e alocação dos mesmos no mercado de trabalho, com destaque para as áreas metropolitanas. Em 1980 já era possível perceber como a aglomeração de localidades em torno da RMSP criva uma grande área de atração de migrantes, nos moldes do “Campo Aglomerativo” mencionado por Azzoni (1986). Em 2000, no entanto, percebe-se um enorme espraiamento de localidades com saldo positivo na trocas populacionais com outras pontos da RLC, a expansão destas cidades compreende os principais eixos rodoviários conectados a capital paulista, que, em 2000, já apresenta um saldo negativo nas trocas. Desta maneira é possível que estejam ocorrendo dois processos simultâneos a criar novas localidades receptoras de fluxos: i) Ao invés de se dirigirem e fixarem residência na RMSP boa parte dos migrantes internos a rede tem buscado outras localidades dentro do eixo de influência de São Paulo no interior do estado ou mesmo em Mato Grosso do Sul ou Paraná. ii) Além de ser alvo de fluxos anteriormente direcionados a RMSP estas outras localidades também estariam recebendo migrantes da RMSP e de outras grandes aglomerações que convivem com um quadro de desconcentração econômica e populacional. 3) A contribuição relativa dos imigrantes Tendo em conta os aspectos anteriormente abordados a respeito da composição dos fluxos populacionais, resta avaliar em que medida os imigrantes vêm contribuindo para as economias locais. Nos textos anteriormente discutidos10 há varias indicações teóricas e empíricas que atestam o fato de que, na medida em que o tecido social torna-se mais 9 Como um indicativo desta as sertiva tem-se: entre as 30 loc alidades que possuíam mais de 50.000 migrantes e m 1980 quatro localizavam-se na Fração Norte, oito na Fração Nordeste e 18 na Fração Centro-Sul. Já em 2000 essa distribuição altera-se pa ra, respectivamente, 9, 8 e 2 3. Quatro municípios do Cen tro-Sul que estava m nesta classe em 1980 não mais aparecem em 2000: Cariacica (ES), Ribeirão Preto (SP), Foz do Iguaçu (PR), Joinville (SC). Entretanto mais 13 lugares figura m entre as localidades com maior numero de imigrantes em 2000: Porto Velho (RO), Boa Vista (RR), Marabá (PA), Macapá (AP), Porto Nacional (TO), Serra (ES), Praia Grande (SP), São José do Rio Preto (SP), Florianópoli s (SC), Cuiabá (MT), Sinop (MT) , Aparecida de Goiânia (GO) e Luziânia (GO). 10 A exemplo de Balan (1973), Yap (1976), Januzzi (2000) e Matos (2002). complexo e as redes de cidades mais hierarquizadas e dinâmicas, há maior possibilidade da população em movimento experimentar uma mobilidade social e contribuir para requalificar os mercados de trabalho descentralizados. Neste sentido deve-se considerar a formação de novas territorialidades da migração não somente pela constatação de um número mais amplo de direções para os fluxos, mas também em termos da inserção dos migrantes em diferentes mercados de trabalho e da sua contribuição para o desenvolvimento dos lugares. Para tal avaliação os estudos geralmente valem-se da comparação entre migrantes e não-migrantes a partir de diferentes variáveis socioeconômicas, como ocupação, instrução e renda. A comparação entre os dois grupos populacionais permite verificar em que medida a população em movimento consegue se sair na busca pela formação qualificada e pelo trabalho. Os dados da Tabela 2 iniciam esta discussão apresentando a quantidade de imigrantes e não-migrantes ocupados11 nas frações da Rede de Localidade Centrais do Brasil entre a população maior de 20 anos12. A primeira constatação evidente nos dados da Tabela é que há, em ambos os grupos, uma redução do percentual de população ocupada, que ocorre na ordem de 2,96% entre os imigrantes e de 1,28% entre os não-migrantes. Tabela 2 10 entre os imigrantes, o percentual de ocupados sofre uma redução na ordem de 4,5% entre os imigrantes e 2,8% entre os não-migrantes. No Centro-Sul destaca-se que, enquanto os ocupados não-migrantes reduziram-se em cerca de 0,8% a perda entre os imigrantes foi de 2,6%. Embora esses dados não permitam conclusões muito detalhadas, a situação das frações Nordeste e Centro-Sul indica que os imigrantes são mais sensíveis as oscilações que ocorrem na capacidade de absorção da população no mercado de trabalho. Partindo do pressuposto que a maioria dos não-migrantes, em função do tempo de residência mais prolongado, possui maior conhecimento da realidade dos locais onde residem, é possível admitir a existência de determinados mecanismos de proteção aos não-migrantes no mercado de trabalho. Esse fenômeno atuaria, entre outros elementos, como um fator negativo para a absorção dos imigrantes em períodos de maior desemprego, impulsionando o retorno dos mesmos aos locais de origem (MATOS e BRAGA, 2002). Não obstante os imigrantes terem apresentado maior redução percentual entre os ocupados os dados mostram que em todas as frações e em ambos os períodos o grupo dos imigrantes aparece relativamente mais ocupado do que os não-migrantes. Comparando os dados das três frações percebe-se que, a exceção da fração Norte, onde a diferença entre os percentuais de imigrantes e não-migrantes aumenta entre 1980 e 2000 a favor dos imigrantes, a tendência geral é de uma redução das diferenças em termos de ocupação entre os grupos de imigrantes e não-migrantes. Os dados desagregados por município mostram mais claramente a vantagem dos imigrantes quanto à ocupação, como é possível verificar na Figura 3. Em 1980 havia 85 localidades com mais de 60% da sua população migrante acima de 20 anos ocupada, enquanto somente 27 ostentavam os mesmos valores tratando-se dos não-migrantes. As frações Centro- Sul e Norte destacam-se, delimitando porções de alta concentração de migrantes ocupados: o entorno RMSP certamente aglomerava o maior número de lugares com alto percentual de migrantes ocupados, além disto, na maior parte das localidades na Região Sul, Mato Grosso e Goiás eram também altos os valores, assim comonas localidades de Rondônia e Acre na fração Norte. Em relação aos não-migrantes algumas destas áreas já apresentam um comportamento inverso, a exemplo de algumas localidades da Região Sul e Acre. Os mapas de 2000 revelam algumas importantes alterações no quadro das ocupações. Em primeiro lugar, em relação à fração Nordeste, o que se percebe é um sensível decréscimo nas condições de ocupação, em sentido oposto ao das outras porções da Rede. O que se observa nas localidades deste subespaço é o aumento de localidades pior posicionadas no Ranking do percentual de ocupados13. Em relação às Frações Norte e Centro-Sul os mapas deixam claro que, mesmo que tenha ocorrido uma redução estrutural no percentual de ocupados entre a população com mais de 20 anos, os maiores percentuais encontram-se melhor distribuídos entre as localidades da rede. Esse fato atesta o aumento do dinamismo na distribuição das oportunidades de trabalho dentro da rede, especialmente no caso dos imigrantes, o que justifica a maior diversidade de rotas apontada para os movimentos populacionais. A espacialização dos dados demonstra que o entorno da capital paulista já não se mostra tão diferenciado do restante da fração Centro- Sul e que os pontos localizados especialmente nos estados do Sul e Centro-Oeste tem absorvido uma maior quantidade relativa de migrantes ocupados. Na Fração Norte percebe-se 13 Entre as 11 localidades com menos de 55% de ocupados de mais de 20 anos entre os migrantes em 1980, sete eram da Fração Nordeste, no mesmo período entre os não-migrantes eram 16 as localidades entre as 45 presentes nesta classe. Em 2000 quando as localidades co m menos de 55% entre migrantes e não-migrantes são, respectivamente, 31 e 38, há 19 lugares da Fração Nordeste para ambos os grupos populacionais 14 A vantagem dos migrantes em termos de escolarização ocorre em níveis de maior qualificação e em áreas mais distantes dos tradicionais centros dinâmicos do país (frações Norte e Nordeste). Possivelmente isso indica que a população migrante é mais sensível às oportunidades que surgem nos centros urbanos fora do Centro-Sul. Esta Fração concentra a maior massa de migrantes com menor qualificação, não obstante o aumento, em 2000, do percentual de indivíduos com mais escolaridade circulando entre mais municípios da rede, dado que a população adulta como um todo melhorou significativamente em relação a escolaridade nos últimos anos. Ao se admitir que há uma número maior de migrantes com mais escolaridade circulando entre as localidades da RLC cabe discutir quais seriam os pontos privilegiados em termos de recepção de mais qualificados. A Figura 4 apresenta as localidades da rede em 1980 e 2000 a partir do percentual de migrantes e não-migrantes cuja última série concluída com aprovação era do Ensino Médio. Os mapas confirmam a grande diferença existente entre as frações em termos da escolaridade da sua população, expondo a vantagem dos imigrantes. A Fração Centro-Sul, em ambos os períodos, concentra a ampla parcela da população mais escolarizada18. Em 1980 destacam-se várias localidades ao longo da franja litorânea do Centro-Sul, já o interior paulista, que vinha demonstrando maior dinamismo na recepção de migrantes, não ostenta os maiores valores em termos de instrução. Em relação às outras frações, os maiores percentuais de escolarizados ficam restritos, tanto para imigrantes como não-migrantes, às capitais estaduais e localidades mais populosas19. O número de localidades presentes em cada classe demonstra claramente que os imigrantes, já em 1980, possuíam vantagens em termos da escolarização. Enquanto existiam 88 lugares nos quais os imigrantes possuam mais de 9% da sua população com ensino médio, entre os não-migrantes os mesmos percentuais alcançavam somente 44 localidades. Em 2000, com a elevação ampla do percentual de escolarizados, nota-se uma manutenção dos padrões espaciais observados anteriormente. No Centro-Sul os imigrantes detém maiores valores em determinados subespaços já apontados como importantes áreas de desconcentração, a saber, o interior paulista, o eixo Brasília-Goiânia, bem como localidades no norte do Paraná e Mato Grosso do Sul (padrão não observado entre os não-migrantes). Outra alteração substantiva observada no mapa é o aumento da escolaridade dos imigrantes das localidades ao longo do eixo rodoviário Belém-Brasília. A espacialização dos dados mostra que, além de ter ocorrido uma ampliação da escolarização total, os imigrantes mais instruídos também vêm buscando localidades mais distantes dos tradicionais eixos de crescimento populacional. O simples fato de que uma população em movimento mais escolarizada vir alcançando espaços mais amplos do território é um forte indicativo de uma contribuição pouco esperada dos fluxos migratórios. 18 Em todos os quatro mapas o Centro-Sul possui a maioria das localidades na classe mais alta. Em 1980 a classe acima de 11% apresentou, entre os imigrantes, 33 localidades do Centr o-Sul no total de 44, entre os não- migrantes estes valores foram, respectivamente, 9 e 17. Em 2000, em função do aumento geral da escolarização, a divisão de classes não pode ser construída co m os mesmos intervalos do período anterior, desta maneira a maior classe se eleva para percentuais acima de 28%, contudo, a concentração de localidades da fração Centro- Sul se mantém, são 32 locali dades desta fração e m 48 nesta classe entre os imigrantes e 19 em 33 entr e os não- migr an tes . 19 As localidades dentro da maior classe entre os imigrantes nas frações Norte e Nordeste são: Cruzeiro do Sul (AC), Rm de Salvador (BA), Manaus (AM), Macapá (AP), Rm de Recife (PE), São Luís (MA), Coari (AM), Boa Vista (RR), Rm de Belém (PA), Aracaju (SE). Já entre os não-migrantes têm-se: São Luís (MA), Rm de Salvador (BA), Rm de Belém (PA), Manaus (AM), Aracaju (SE), Macapá (AP), Maceió (AL), Teresina (PI). 17 As informações presentes na Tabela indicam que a distribuição de renda é sensivelmente diferente em cada uma das frações. Em 1980 as localidades do Nordeste apresentaram a pior concentração de renda em toda a RLC, com cerca de 50% da população com 20 anos ou mais auferido uma renda menor que 1 Salário Mínimo. As outras duas Frações aparecem com uma distribuição ligeiramente melhor, com vantagem para o Centro- Sul em função do menor percentual de indivíduos com renda menor do que 1 SM (23% entre os imigrantes e 20% entre os imigrantes, contra 34% da Fração Norte em ambos os grupos populacionais). Comparando imigrantes e não-migrantes nota-se que a Fração Norte apresenta as menores diferenças, no Nordeste os migrantes se concentram mais nas faixas de menor rendimento e no Centro-Sul, além dos imigrantes apresentarem maiores percentuais nas classes com renda até 2 SM os não-migrantes mostram-se melhor posicionados nos percentuais de população com renda acima de 3 SM. No ano 2000 merece destaque a ampla redução da população com rendimentos abaixo de 1 Salário Mínimo, especialmente na Fração Nordeste. Uma alteração positiva também pode ser percebida nos maiores estratos de renda, sobretudo entre a população da Fração Centro-Sul. Não obstante a melhora geral no quadro de distribuição de renda as tendências gerais observadas em de 1980 mantém-se. O Norte continua apresentando as menores diferenças entre migrantes e não-migrantes, o Nordeste permanece com a pior distribuição de renda, com altos percentuais de migrantes nas classes mais baixas. O Centro-Sul ainda apresenta as maiores disparidades, com percentuais mais elevados de não-migrantes nos maiores níveis de renda, mas já vêm indicando uma aproximação entre migrantes e não migrantes nos rendimentos abaixo de 2 SM. A Figura 5 dá seqüência a essa análise apresentandoo percentual de imigrantes e não- migrantes com rendimentos acima de 2 salários mínimos21. Os mapas deixam claro que houve uma ampliação significativa do percentual de indivíduos com renda mais elevada. O número de localidades que possuíam mais de 50% da população acima de 20 anos com rendimentos acima de 2 SM aumentou de 14 para 74 entre os imigrantes e de 13 para 70 entre os não migrantes22. A melhoria na distribuição de renda é ampla, no entanto, a distribuição espacial das localidades mostra que a Fração Centro-Sul concentra a maioria absoluta dos municípios nos quais o rendimento da população é mais elevado. Em 1980 percebe-se uma aglomeração de localidades da classe superior do mapa no entorno da RMSP e RMRJ. Em 2000 nota-se que as localidades com mais de 50% da população com renda acima de 2 SM se estendem por todo o interior do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro e para boa parte das localidades da Região Sul. Os mapas demonstram que a ampliação dos ganhos materiais dentro da RLC ainda ocorre espacialmente concentrada, sugerindo um espraiamento do dinamismo econômico das RMs de São Paulo em direção aos centros urbanos mais próximos. Os dados de renda indicam que desde 1980 os imigrantes 21 Esse valor refere-s e a renda mediana total da populaçã o brasileira, segundo dados do IBGE, sendo tomado aqui como uma referência para medir a mobilidade social da população no período 1980-200. 22 As 14 localidades da classe com rendimentos mais altos entre os imigrantes em 1980 são: Tarauacá (AC), Pindamonhangaba (SP), São Vicente (SP), Foz do Iguaçu (PR), Angra dos reis (RJ), Macaé (RJ), Praia Grande (SP), Taubaté (SP), Hu maitá (AM), Marabá (PA), São José dos Ca mpos (SP), Santos (SP), Florianópolis (SC), Jacareí (SP). Entre os não-migrantes as 13 localidades nesta mesma classe são: Santos (SP), Cubatão (SP), Rm de São Paulo (SP), Campinas (SP), Jundiaí (SP), Brasília (DF), Volta Redonda (RJ), São José dos Campos (SP), Americana (SP), São Vicente (SP), Piracicaba (SP), Ipatinga (MG), Foz do Iguaçu (PR). 20 Referências Bibliográficas BAENINGER, Rosana. 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