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Fluxos migratórios e a rede urbana brasileira

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 Nesta seção pretende-se dialogar com as considerações dos autores reunidas 
anteriormente a partir de uma breve análise dos fluxos migratórios no Brasil contemporâneo. 
Em função disto, decidiu-se que a realização de uma abordagem mais completa sobre a 
influência da migração na atual conformação da rede urbana nacional precisa considerar a 
comparação entre marcos temporais, no caso o período 1980-2000. O objetivo central seria 
captar as localizações que possivelmente sejam um reflexo das alterações em termos da 
distribuição espacial da população e da inserção da mesma em atividades econômicas de 
ponta. 
 A Rede de Localidades Centrais do Brasil consiste em uma seleção de municípios 
segundo um conjunto de critérios relacionados ao tamanho demográfico e a expressão da 
urbanização das localidades no contexto regional. Os critérios para seleção de município são: 
1) os nove pontos integrantes das Regiões Metropolitanas oficiais, originalmente definidas por decreto/lei de 1973. Cada 
região metropolitana comparece, na rede urbana, como um nódulo de primeira ordem5; 2) município com população 
urbana superior a 100 mil habitantes.; 3) município cuja população urbana representasse mais de 3% da população 
urbana do respectivo estado; 4) exclusão da macrocefalia urbana do estado do Amazonas a partir de 1980. Trata-se de 
um estado de grande extensão territorial, extremamente beneficiado por políticas públicas que criaram a Zona Franca de 
Manaus, o que fez aumentar enormemente o peso desse município no estado. Assim faz-se a exclusão de Manaus da 
população total do estado em 1980 e 2000, recalculando-se a participação percentual dos demais municípios frente ao 
novo total, filtrando os casos de população urbana superior a 3% da população urbana do estado. Com isso pontos de 
uma rede dentrítica ganham visibilidade. 5) Todo ponto da rede pressupõe a existência de articulações viárias. Os pontos 
integram-se à rede de transportes rodoviário, ferroviário ou hidroviário permanente. 
 Ao todo foram selecionados 361 municípios reunidos em 184 localidades. Como a 
malha territorial sofre constantes modificações em função de emancipações, foi necessário 
uma compatibilização das áreas municipais a fim de produzir uma “área mínima comparável”. 
Em virtude deste processo as 184 localidades selecionadas em 2000 foram reduzidas para 
1776. Com o objetivo de facilitar a análise dos subconjuntos espaciais na Rede de Localidade 
Centrais do Brasil, as tabelas e as figuras obedecem a uma divisão em três frações, a saber. O 
Centro-Sul, a Nordeste e a Norte7. 
 Na análise da migração interna as Localidades em 1980 e 2000, considerando o 
número total de imigrantes8, já é possível notar que houve alterações nos padrões de 
movimento da população. A Tabela 1 mostra esses números em cada um dos períodos 
analisados segundo as frações da rede. Em termos absolutos, os imigrantes alcançam mais de 
10 milhões de pessoas em todos os municípios em 2000, significando 11,18% da população 
total, contra 16,31% em 1980. A queda percentual de 5% ocorrida nos pontos da Rede não é, 
entretanto, distribuída de forma igual por todas as frações. 
 
 
5 As regiões metropolitanas consideradas corr espondiam a São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto 
Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Curitiba e Belém. 
6 Ao todo, entre 1981 e 1997, fora m criados 1492 municípios novos, e, destes, 198 tiveram origem em algu m 
município da Rede de Localidades Centras do Brasil. De sta maneira o procedi mento adotado para criação da 
área mínima comparável compreendeu a inserção de municípios que, em 1980, faziam parte dos municípios 
selecionados em 2000, Como eles não pode m ser separados em 1980 optou- se por somar os valores 
populacionais dos mesmos em 2000. No caso de municípios cuja orige m foi mais de um município da RLC esse 
foi somado aquele q ue teve maior perda p opulacional com a e mancipação. Em função deste processo o nú mero 
de Localidades sobre de 361 para 559. Não obstante a preocupação de que tal opção metodológica prej udicaria a 
constante referência deste estudo as localidades urbana s de maior dinamismo do país, considera- se mais 
importante preservar as área territorial em ambos os períodos a fim de exi mir-se de possível erros decor rentes da 
comparação de áreas territoriais completamente distintas. 
7 Para maiores informações sobre a Rede de Localidades Centrais do Brasil consulte Matos (2005) . 
8 Os imigrantes, tanto em 1980 como e m 2000, são todos aqueles que moram a menos de cinco anos no 
município de residência na data do censo. 
Tabela 1 
Imigrantes da Rede de Localidades Centrais do Brasil segundo frações 
e estoques de população total 
1980 2000 
Frações da 
Rede Imigrante População 
Total 
% de 
Imigrantes Imigrante População 
Total 
% de 
Imigrantes 
Norte 610.826 3.649.514 16,74 1.098.301 7.812.684 14,06 
Nordeste 1.631.573 11.098.369 14,70 1.837.032 18.368.097 10,00 
Centro-Sul 7.446.076 44.661.468 16,67 7.521.596 67.324.251 11,17 
Total 9.688.475 59.409.351 16,31 10.456.928 93.505.032 11,18 
 Fonte: FIBGE, Censos Demográficos de 1980 e 2000. 
 
 A fração Norte mostra a menor perda na participação dos imigrantes (de 16,7% para 
14%), mas ostenta os menores valores absolutos. De fato, a área compreendida por estas 
localidades concentra-se nas porções do território já apontadas pela bibliografia como os 
novos espaços de recepção dos fluxos populacionais de expansão da malha urbana, o que 
justifica a menor perda dentro do quadro geral de redução da participação dos migrantes. O 
Nordeste, que apresentava os menores percentuais durante a década de 80 permanece na 
tendência geral, exibindo 10% da sua população constituída de imigrantes. O Centro-Sul, que 
detém mais de ¾ do total de imigrantes nas respectivas localidades, apresentou uma redução 
na participação ligeiramente maior do que a redução total na rede, na ordem de 5,5%. 
Os significados desta diminuição percentual possivelmente relacionam-se com 
transformações sociais e econômicas vividas pelo país nas últimas duas décadas, que, como 
afirmam Pacheco e Patarra (1997), estariam provocando uma reformulação nos destinos 
migratórios mais consolidados em função da perda de capacidade de retenção das grandes 
cidades. Neste aspecto, é possível que grandes correntes migratórias que ligavam 
determinadas regiões do país às áreas metropolitanas comecem a sofrer um processo de 
esgotamento, motivado pela formação de novos pólos regionais, que, além de reter parte dos 
fluxos originalmente destinados aos maiores centros, retêm também as suas próprias 
populações a partir das novas oportunidades dadas pela expansão dos mercados de trabalho. 
Desta maneira, os dados mostram que, ao mesmo tempo em que ocorre uma diminuição 
percentual dos imigrantes dentro da RLC, estes encontram-se melhor distribuídos entre as 
frações no ano de 2000, comparando-se com 1980. 
 A espacialização dos dados demonstra mais claramente a formação de novos pólos de 
atração de migrantes. Segundo as informações da Figura 1, em 1980 eram 30 as localidades 
que possuíam mais de 50.000 migrantes na sua população, já em 2000, somam 40 os pontos 
nesta classe, ampliando as localizações com mais migrantes especialmente nas Frações Norte 
e Nordeste. A distribuição das outras duas classes mostram, da mesma forma, um 
significativo aumento de lugares com um número maior de imigrantes, mesmo que estes 
tenham sofrido uma redução percentual com relação a população total. 
 Os lugares que possuem entre 15 e 50 mil imigrantes aumentam em 10, enquanto 
aqueles com menos de 15.000 diminuem em 20. Desta maneira, é preciso tratar com cuidado 
as informações que demonstram a queda do peso dos imigrantes em toda a rede. Na verdade, 
os dados vêm demonstrando uma expansão da importância da migração para boa parte dos 
municípiosda RLC, acompanhada por um declínio da expressividade dos grandes centros em 
relação ao resto dos centros urbanos do país. 
Assim, outros lugares constituem-se como novos atores no processo de redistribuição 
populacional9. Admitindo teoricamente que os migrantes dentro da RLC estaria selecionando 
um maior número de lugares entre as opções de destino é de se esperar que mais localidades 
obtivessem saldos positivos nas trocas migratórias com as 177 localidades. A Figura 2 traz 
essas informações representando o saldo migratório para os fluxos entre os pontos da rede. Os 
resultados reforçam a idéia aqui apresentada da expansão das opções de destino para os 
movimentos populacionais. Os mapas mostram que em 1980 existiam 65 localidades com 
saldo positivo, contra 111 outras que perdiam população para o restante da Rede. Em 2000 
esse quadro altera-se substancialmente, aumentam para 84 os nódulos nos quais o saldo 
migratório é positivo e as perdas reduzem-se a 93 localidades. 
A espacialização das informações revela elementos interessantes destas 
transformações. A Fração Norte mantém boa parte das suas tendências, excetuando-se o caso 
das localidades de Rondônia que, de fortes ganhadores de população do resto da rede passam 
a enviar mais pessoas do que recebem. Na Fração Nordeste a característica emigratória é 
marcante em ambos os períodos, entretanto fica claro que o volume das perdas sofreu sensível 
diminuição nas duas últimas décadas, já que boa parte das localidades que haviam enviado 
mais de 10.000 pessoas para outros municípios da RLC em 1980 reduziram seus fluxos de 
saída para valores menores do que 10.000 em 2000. 
Com relação ao comportamento da Fração Centro-Sul alguns aspectos devem ser 
considerados. Em primeiro lugar é nesta porção da rede que se encontram as cidades mais 
importantes em termos de recepção dos migrantes e alocação dos mesmos no mercado de 
trabalho, com destaque para as áreas metropolitanas. Em 1980 já era possível perceber como a 
aglomeração de localidades em torno da RMSP criva uma grande área de atração de 
migrantes, nos moldes do “Campo Aglomerativo” mencionado por Azzoni (1986). Em 2000, 
no entanto, percebe-se um enorme espraiamento de localidades com saldo positivo na trocas 
populacionais com outras pontos da RLC, a expansão destas cidades compreende os 
principais eixos rodoviários conectados a capital paulista, que, em 2000, já apresenta um 
saldo negativo nas trocas. 
Desta maneira é possível que estejam ocorrendo dois processos simultâneos a criar 
novas localidades receptoras de fluxos: i) Ao invés de se dirigirem e fixarem residência na 
RMSP boa parte dos migrantes internos a rede tem buscado outras localidades dentro do eixo 
de influência de São Paulo no interior do estado ou mesmo em Mato Grosso do Sul ou Paraná. 
ii) Além de ser alvo de fluxos anteriormente direcionados a RMSP estas outras localidades 
também estariam recebendo migrantes da RMSP e de outras grandes aglomerações que 
convivem com um quadro de desconcentração econômica e populacional. 
 
3) A contribuição relativa dos imigrantes 
 
 Tendo em conta os aspectos anteriormente abordados a respeito da composição dos 
fluxos populacionais, resta avaliar em que medida os imigrantes vêm contribuindo para as 
economias locais. Nos textos anteriormente discutidos10 há varias indicações teóricas e 
empíricas que atestam o fato de que, na medida em que o tecido social torna-se mais 
 
9 Como um indicativo desta as sertiva tem-se: entre as 30 loc alidades que possuíam mais de 50.000 migrantes e m 
1980 quatro localizavam-se na Fração Norte, oito na Fração Nordeste e 18 na Fração Centro-Sul. Já em 2000 
essa distribuição altera-se pa ra, respectivamente, 9, 8 e 2 3. Quatro municípios do Cen tro-Sul que estava m nesta 
classe em 1980 não mais aparecem em 2000: Cariacica (ES), Ribeirão Preto (SP), Foz do Iguaçu (PR), Joinville 
(SC). Entretanto mais 13 lugares figura m entre as localidades com maior numero de imigrantes em 2000: Porto 
Velho (RO), Boa Vista (RR), Marabá (PA), Macapá (AP), Porto Nacional (TO), Serra (ES), Praia Grande (SP), 
São José do Rio Preto (SP), Florianópoli s (SC), Cuiabá (MT), Sinop (MT) , Aparecida de Goiânia (GO) e 
Luziânia (GO). 
10 A exemplo de Balan (1973), Yap (1976), Januzzi (2000) e Matos (2002). 
complexo e as redes de cidades mais hierarquizadas e dinâmicas, há maior possibilidade da 
população em movimento experimentar uma mobilidade social e contribuir para requalificar 
os mercados de trabalho descentralizados. Neste sentido deve-se considerar a formação de 
novas territorialidades da migração não somente pela constatação de um número mais amplo 
de direções para os fluxos, mas também em termos da inserção dos migrantes em diferentes 
mercados de trabalho e da sua contribuição para o desenvolvimento dos lugares. 
 Para tal avaliação os estudos geralmente valem-se da comparação entre migrantes e 
não-migrantes a partir de diferentes variáveis socioeconômicas, como ocupação, instrução e 
renda. A comparação entre os dois grupos populacionais permite verificar em que medida a 
população em movimento consegue se sair na busca pela formação qualificada e pelo 
trabalho. Os dados da Tabela 2 iniciam esta discussão apresentando a quantidade de 
imigrantes e não-migrantes ocupados11 nas frações da Rede de Localidade Centrais do Brasil 
entre a população maior de 20 anos12. A primeira constatação evidente nos dados da Tabela é 
que há, em ambos os grupos, uma redução do percentual de população ocupada, que ocorre na 
ordem de 2,96% entre os imigrantes e de 1,28% entre os não-migrantes. 
 
Tabela 2
10
entre os imigrantes, o percentual de ocupados sofre uma redução na ordem de 4,5% entre os 
imigrantes e 2,8% entre os não-migrantes. 
 No Centro-Sul destaca-se que, enquanto os ocupados não-migrantes reduziram-se em 
cerca de 0,8% a perda entre os imigrantes foi de 2,6%. Embora esses dados não permitam 
conclusões muito detalhadas, a situação das frações Nordeste e Centro-Sul indica que os 
imigrantes são mais sensíveis as oscilações que ocorrem na capacidade de absorção da 
população no mercado de trabalho. Partindo do pressuposto que a maioria dos não-migrantes, 
em função do tempo de residência mais prolongado, possui maior conhecimento da realidade 
dos locais onde residem, é possível admitir a existência de determinados mecanismos de 
proteção aos não-migrantes no mercado de trabalho. Esse fenômeno atuaria, entre outros 
elementos, como um fator negativo para a absorção dos imigrantes em períodos de maior 
desemprego, impulsionando o retorno dos mesmos aos locais de origem (MATOS e BRAGA, 
2002). Não obstante os imigrantes terem apresentado maior redução percentual entre os 
ocupados os dados mostram que em todas as frações e em ambos os períodos o grupo dos 
imigrantes aparece relativamente mais ocupado do que os não-migrantes. Comparando os 
dados das três frações percebe-se que, a exceção da fração Norte, onde a diferença entre os 
percentuais de imigrantes e não-migrantes aumenta entre 1980 e 2000 a favor dos imigrantes, 
a tendência geral é de uma redução das diferenças em termos de ocupação entre os grupos de 
imigrantes e não-migrantes. 
 Os dados desagregados por município mostram mais claramente a vantagem dos 
imigrantes quanto à ocupação, como é possível verificar na Figura 3. Em 1980 havia 85 
localidades com mais de 60% da sua população migrante acima de 20 anos ocupada, enquanto 
somente 27 ostentavam os mesmos valores tratando-se dos não-migrantes. As frações Centro-
Sul e Norte destacam-se, delimitando porções de alta concentração de migrantes ocupados: o 
entorno RMSP certamente aglomerava o maior número de lugares com alto percentual de 
migrantes ocupados, além disto, na maior parte das localidades na Região Sul, Mato Grosso e 
Goiás eram também altos os valores, assim comonas localidades de Rondônia e Acre na 
fração Norte. Em relação aos não-migrantes algumas destas áreas já apresentam um 
comportamento inverso, a exemplo de algumas localidades da Região Sul e Acre. 
 Os mapas de 2000 revelam algumas importantes alterações no quadro das ocupações. 
Em primeiro lugar, em relação à fração Nordeste, o que se percebe é um sensível decréscimo 
nas condições de ocupação, em sentido oposto ao das outras porções da Rede. O que se 
observa nas localidades deste subespaço é o aumento de localidades pior posicionadas no 
Ranking do percentual de ocupados13. 
 Em relação às Frações Norte e Centro-Sul os mapas deixam claro que, mesmo que 
tenha ocorrido uma redução estrutural no percentual de ocupados entre a população com mais 
de 20 anos, os maiores percentuais encontram-se melhor distribuídos entre as localidades da 
rede. Esse fato atesta o aumento do dinamismo na distribuição das oportunidades de trabalho 
dentro da rede, especialmente no caso dos imigrantes, o que justifica a maior diversidade de 
rotas apontada para os movimentos populacionais. A espacialização dos dados demonstra que 
o entorno da capital paulista já não se mostra tão diferenciado do restante da fração Centro-
Sul e que os pontos localizados especialmente nos estados do Sul e Centro-Oeste tem 
absorvido uma maior quantidade relativa de migrantes ocupados. Na Fração Norte percebe-se 
 
 
13 Entre as 11 localidades com menos de 55% de ocupados de mais de 20 anos entre os migrantes em 1980, sete 
eram da Fração Nordeste, no mesmo período entre os não-migrantes eram 16 as localidades entre as 45 presentes 
nesta classe. Em 2000 quando as localidades co m menos de 55% entre migrantes e não-migrantes são, 
respectivamente, 31 e 38, há 19 lugares da Fração Nordeste para ambos os grupos populacionais
 14
 A vantagem dos migrantes em termos de escolarização ocorre em níveis de maior 
qualificação e em áreas mais distantes dos tradicionais centros dinâmicos do país (frações 
Norte e Nordeste). Possivelmente isso indica que a população migrante é mais sensível às 
oportunidades que surgem nos centros urbanos fora do Centro-Sul. Esta Fração concentra a 
maior massa de migrantes com menor qualificação, não obstante o aumento, em 2000, do 
percentual de indivíduos com mais escolaridade circulando entre mais municípios da rede, 
dado que a população adulta como um todo melhorou significativamente em relação a 
escolaridade nos últimos anos. 
 Ao se admitir que há uma número maior de migrantes com mais escolaridade 
circulando entre as localidades da RLC cabe discutir quais seriam os pontos privilegiados em 
termos de recepção de mais qualificados. A Figura 4 apresenta as localidades da rede em 1980 
e 2000 a partir do percentual de migrantes e não-migrantes cuja última série concluída com 
aprovação era do Ensino Médio. Os mapas confirmam a grande diferença existente entre as 
frações em termos da escolaridade da sua população, expondo a vantagem dos imigrantes. A 
Fração Centro-Sul, em ambos os períodos, concentra a ampla parcela da população mais 
escolarizada18. Em 1980 destacam-se várias localidades ao longo da franja litorânea do 
Centro-Sul, já o interior paulista, que vinha demonstrando maior dinamismo na recepção de 
migrantes, não ostenta os maiores valores em termos de instrução. 
 Em relação às outras frações, os maiores percentuais de escolarizados ficam restritos, 
tanto para imigrantes como não-migrantes, às capitais estaduais e localidades mais 
populosas19. O número de localidades presentes em cada classe demonstra claramente que os 
imigrantes, já em 1980, possuíam vantagens em termos da escolarização. Enquanto existiam 
88 lugares nos quais os imigrantes possuam mais de 9% da sua população com ensino médio, 
entre os não-migrantes os mesmos percentuais alcançavam somente 44 localidades. 
 Em 2000, com a elevação ampla do percentual de escolarizados, nota-se uma 
manutenção dos padrões espaciais observados anteriormente. No Centro-Sul os imigrantes 
detém maiores valores em determinados subespaços já apontados como importantes áreas de 
desconcentração, a saber, o interior paulista, o eixo Brasília-Goiânia, bem como localidades 
no norte do Paraná e Mato Grosso do Sul (padrão não observado entre os não-migrantes). 
Outra alteração substantiva observada no mapa é o aumento da escolaridade dos imigrantes 
das localidades ao longo do eixo rodoviário Belém-Brasília. 
 A espacialização dos dados mostra que, além de ter ocorrido uma ampliação da 
escolarização total, os imigrantes mais instruídos também vêm buscando localidades mais 
distantes dos tradicionais eixos de crescimento populacional. O simples fato de que uma 
população em movimento mais escolarizada vir alcançando espaços mais amplos do território 
é um forte indicativo de uma contribuição pouco esperada dos fluxos migratórios. 
 
18 Em todos os quatro mapas o Centro-Sul possui a maioria das localidades na classe mais alta. Em 1980 a classe 
acima de 11% apresentou, entre os imigrantes, 33 localidades do Centr o-Sul no total de 44, entre os não-
migrantes estes valores foram, respectivamente, 9 e 17. Em 2000, em função do aumento geral da escolarização, 
a divisão de classes não pode ser construída co m os mesmos intervalos do período anterior, desta maneira a 
maior classe se eleva para percentuais acima de 28%, contudo, a concentração de localidades da fração Centro-
Sul se mantém, são 32 locali dades desta fração e m 48 nesta classe entre os imigrantes e 19 em 33 entr e os não-
migr an tes . 
19 As localidades dentro da maior classe entre os imigrantes nas frações Norte e Nordeste são: Cruzeiro do Sul 
(AC), Rm de Salvador (BA), Manaus (AM), Macapá (AP), Rm de Recife (PE), São Luís (MA), Coari (AM), 
Boa Vista (RR), Rm de Belém (PA), Aracaju (SE). Já entre os não-migrantes têm-se: São Luís (MA), Rm de 
Salvador (BA), Rm de Belém (PA), Manaus (AM), Aracaju (SE), Macapá (AP), Maceió (AL), Teresina (PI). 
17
 As informações presentes na Tabela indicam que a distribuição de renda é 
sensivelmente diferente em cada uma das frações. Em 1980 as localidades do Nordeste 
apresentaram a pior concentração de renda em toda a RLC, com cerca de 50% da população 
com 20 anos ou mais auferido uma renda menor que 1 Salário Mínimo. As outras duas 
Frações aparecem com uma distribuição ligeiramente melhor, com vantagem para o Centro-
Sul em função do menor percentual de indivíduos com renda menor do que 
1 SM (23% entre os imigrantes e 20% entre os imigrantes, contra 34% da Fração Norte em 
ambos os grupos populacionais). Comparando imigrantes e não-migrantes nota-se que a 
Fração Norte apresenta as menores diferenças, no Nordeste os migrantes se concentram mais 
nas faixas de menor rendimento e no Centro-Sul, além dos imigrantes apresentarem maiores 
percentuais nas classes com renda até 2 SM os não-migrantes mostram-se melhor 
posicionados nos percentuais de população com renda acima de 3 SM. 
 No ano 2000 merece destaque a ampla redução da população com rendimentos abaixo 
de 1 Salário Mínimo, especialmente na Fração Nordeste. Uma alteração positiva também 
pode ser percebida nos maiores estratos de renda, sobretudo entre a população da Fração 
Centro-Sul. Não obstante a melhora geral no quadro de distribuição de renda as tendências 
gerais observadas em de 1980 mantém-se. O Norte continua apresentando as menores 
diferenças entre migrantes e não-migrantes, o Nordeste permanece com a pior distribuição de 
renda, com altos percentuais de migrantes nas classes mais baixas. O Centro-Sul ainda 
apresenta as maiores disparidades, com percentuais mais elevados de não-migrantes nos 
maiores níveis de renda, mas já vêm indicando uma aproximação entre migrantes e não 
migrantes nos rendimentos abaixo de 2 SM. 
 A Figura 5 dá seqüência a essa análise apresentandoo percentual de imigrantes e não-
migrantes com rendimentos acima de 2 salários mínimos21. Os mapas deixam claro que houve 
uma ampliação significativa do percentual de indivíduos com renda mais elevada. O número 
de localidades que possuíam mais de 50% da população acima de 20 anos com rendimentos 
acima de 2 SM aumentou de 14 para 74 entre os imigrantes e de 13 para 70 entre os não 
migrantes22. A melhoria na distribuição de renda é ampla, no entanto, a distribuição espacial 
das localidades mostra que a Fração Centro-Sul concentra a maioria absoluta dos municípios 
nos quais o rendimento da população é mais elevado. Em 1980 percebe-se uma aglomeração 
de localidades da classe superior do mapa no entorno da RMSP e RMRJ. 
 Em 2000 nota-se que as localidades com mais de 50% da população com renda acima 
de 2 SM se estendem por todo o interior do Estado de São Paulo e Rio de Janeiro e para boa 
parte das localidades da Região Sul. Os mapas demonstram que a ampliação dos ganhos 
materiais dentro da RLC ainda ocorre espacialmente concentrada, sugerindo um espraiamento 
do dinamismo econômico das RMs de São Paulo em direção aos centros urbanos mais 
próximos. Os dados de renda indicam que desde 1980 os imigrantes 
 
 
 
21 Esse valor refere-s e a renda mediana total da populaçã o brasileira, segundo dados do IBGE, sendo tomado 
aqui como uma referência para medir a mobilidade social da população no período 1980-200. 
22 As 14 localidades da classe com rendimentos mais altos entre os imigrantes em 1980 são: Tarauacá (AC), 
Pindamonhangaba (SP), São Vicente (SP), Foz do Iguaçu (PR), Angra dos reis (RJ), Macaé (RJ), Praia Grande 
(SP), Taubaté (SP), Hu maitá (AM), Marabá (PA), São José dos Ca mpos (SP), Santos (SP), Florianópolis (SC), 
Jacareí (SP). Entre os não-migrantes as 13 localidades nesta mesma classe são: Santos (SP), Cubatão (SP), Rm 
de São Paulo (SP), Campinas (SP), Jundiaí (SP), Brasília (DF), Volta Redonda (RJ), São José dos Campos (SP), 
Americana (SP), São Vicente (SP), Piracicaba (SP), Ipatinga (MG), Foz do Iguaçu (PR). 
20
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