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Reportagens @@imagem_topo| Mantas asfálticas Construção estanque Bom desempenho depende de projeto detalhado e de cuidados na execução - principalmente nas emendas e arremates O projeto de impermeabilização passou a ser obrigatório com a revisão da norma NBR 9575, em vigor desde dezembro de 2003. No momento de aprovar uma obra na Prefeitura, o construtor ou incorporador tem de apresentá-lo, o que aumentou os cuidados com essa etapa da obra. Já era tempo, afinal as patologias mais comuns na construção civil - corrosão de armaduras, carbonatação do concreto, eflorescências, degradação da argamassa, da pintura e dos revestimentos, bolor e fissuras - devem-se quase sempre a impermeabilizações malfeitas. A existência de um projeto de impermeabilização minimiza a ocorrência das patologias, já que permite controlar a execução, além de prever detalhes como arremates. Dentre as soluções mais utilizadas, a manta asfáltica é sem dúvida a que exige mais cuidados, embora a aplicação seja fácil, por ser um produto pré-fabricado, uniforme e passar por rigoroso controle técnico de produção. O problema mais grave quando se fala em mantas, porém, não é o produto, mas tudo o que envolve a aplicação. "Não adianta a manta ser a mais estanque do mundo se a impermeabilização do entorno do ralo for mal executada", ilustra Julio Cesar Sabadini de Souza, professor da Uniban (Universidade Bandeirante de São Paulo) e autor de tese de mestrado sobre impermeabilização de pavimentos-tipo. É unanimidade que arremates e detalhes são os pontos críticos das mantas asfálticas e onde podem surgir os problemas. Assim, ralos, tubos emergentes, detalhes de piscina e rodapés, por exemplo, Página 1 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... devem ser analisados com cuidado e a instalação, controlada e fiscalizada corretamente. O rodapé, por exemplo, se não for bem dimensionado, pode ficar menor do que o piso final porque existe uma camada de regularização muito grande - e, com o tempo, a umidade passa pela impermeabilização. Até mesmo detalhes paisagísticos alteram o projeto: é preciso saber, por exemplo, o nível de terra do paisagismo para determinar a altura de arremate da manta. Do que são feitas as mantas Asfaltos: os polímeros são responsáveis pela flexibilidade, alongamento, correções dos pontos de escorrimento e penetração dos asfaltos, que proporcionam características específicas e determinam, muitas vezes, o tipo de aplicação. Os asfaltos mais utilizados são os elastoméricos como o SBS (Estireno-Butadieno-Estireno) e os plastoméricos como o APP (Polipropileno Atático). Materiais estruturantes: responsáveis pela resistência à tração. Os mais utilizados são o filme de polietileno, o véu de fibra de vidro e o não-tecido de poliéster. Acabamentos: são inseridos nas mantas asfálticas ainda no processo de fabricação e são escolhidos de acordo com a necessidade funcional, estética ou de aplicação. Para mantas que recebem proteção, os acabamentos são de filme de polietileno ou de areia. Já para as mantas autoprotegidas (que ficam expostas), há opções como alumínio e grãos de ardósia. Patologias O tempo em que as patologias começam a aparecer não é fixo. Vai depender da porosidade dos elementos atingidos pela infiltração - um concreto mais ou menos compacto, por exemplo. "A água atravessa a camada de impermeabilização por uma falha, passa pela argamassa, encontra um ponto fraco da estrutura e escoa pela armadura", explica André Fornasaro, presidente do IBI (Instituto Brasileiro de Impermeabilização). "Essa água pode sair a 6 m de distância de onde entrou", conta. Por isso é complicado encontrar o local exato da patologia. Não existe manutenção preventiva. O que se deve fazer é estimar a vida útil do sistema e, quando essa vida útil chegar ao fim, trocar a impermeabilização. "A aplicação deve ser feita de maneira correta para ser durável e proteger a estrutura, mas um dia deverá ser refeita", alerta Marcos Storte, da Viapol. A estrutura principal continua sendo protegida, porque, com uma proteção adequada, não sofre danos. A vida útil da impermeabilização pode ser calculada no momento do projeto. Dobrar o número de mantas em uma laje, por exemplo, é um artifício para aumentar a expectativa de vida do produto. Normas técnicas NBR 8083 - Materiais e sistemas utilizados em mpermeabilização NBR 9574 - Execução de impermeabilização NBR 9575 -Projeto de impermeabilização Página 2 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... NBR 9685 -Emulsões asfálticas sem carga para impermeabilização NBR 9689 - Materiais e sistemas de impermeabilização NBR 9956 - Mantas asfálticas - estanqueidade à água NBR 9952 - Manta asfáltica com armadura para impermeabilização - requisitos e métodos de ensaio NBR 12171 - Aderência aplicável em sistema de impermeabilização composto por cimento impermeabilizante e polímeros NBR 12190 - Seleção de impermeabilização NBR 13121 - Asfalto elastomérico para impermeabilização Especificação As mantas asfálticas podem ser classificadas de acordo com a composição - como o faz a NBR 9952, que divide o produto em quatro tipos. A falha da norma é não especificar em que locais cada produto pode ser aplicado. Diante disso, aplicadores, consultores e fabricantes seguem uma regra geral para diferenciar as mantas. "Usa-se poliéster em áreas externas e polietileno ou fibra de vidro em áreas internas", recomenda Fornasaro. Assim, leva-se em conta o tipo de armadura e a resistência à tração de cada uma para resistir à movimentação mecânica da estrutura. As mantas com fibra de vidro e de polietileno têm menor capacidade de esticar, por isso são recomendadas para áreas internas que têm pouca movimentação ou como camada de sacrifício quando se aplica uma manta dupla. A especificação também pode levar em conta a espessura dos produtos. A norma prevê que o mínimo que o sistema pode ter é 3 mm. A manta asfáltica não é adequada quando a área a ser impermeabilizada for extremamente recortada - além de aumentar a possibilidade de erros, o rendimento da execução é menor. Em paredes, a manta deve ser sempre aplicada no lado em que há pressão d'água. Check-list � As emendas são o principal ponto crítico da impermeabilização com pré-fabricados (o caso das mantas asfálticas). Por isso, deve-se fazer uma sobreposição de 10 cm entre as mantas � Quando aplicadas duas camadas de mantas, os materiais da camada superior não devem ser aplicados exatamente acima da camada inferior. As mantas complementares devem ser colocadas em 90. ou no mesmo sentido com sobreposição entre 50 e 60 cm � Certifique-se da boa aderência entre a manta e o substrato, evitando, assim, bolhas ou outros problemas que possam comprometer o desempenho do sistema � Deve haver uma camada de separação entre a manta e a proteção mecânica, o que evita atrito entre o cobrimento e o impermeabilizante � Um problema comum pós-ocupação é a perfuração de mantas. Por isso, o construtor deve informar ao usuário até onde se pode furar e, eventualmente, já projetar pontos que permitam tal perfuração Critérios de projeto Página 3 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... O que é preciso para se elaborar um projeto de impermeabilização? Deve-se fazer uma análise de todos os projetos: arquitetura, instalações hidráulicas e elétricas, fôrmas, paisagismo e ar-condicionado. Com isso, é feito um estudo preliminar com estimativa de custos dos sistemas mais adequados para cada caso. O cliente - em funçãoda análise do benefício, custo, da vida útil, tempo de aplicação e condições - escolhe um sistema. A partir daí, projeta-se a impermeabilização para cada local. Como essas interferências podem modificar o projeto? A hidráulica interfere, por exemplo, nas cotas. No projeto elétrico, o cuidado deve ser com os conduítes. O paisagismo interfere na parte elétrica, e os equipamentos de ar-condicionado podem, por exemplo, esmagar a impermeabilização. Quando existe projeto de alvenaria, deve-se avaliar o encaixe das mantas na alvenaria. Ou seja, cada projeto deve ser estudado, mas às vezes o projeto já vem em uma fase mais avançada e em que se pode interferir muito pouco. Em que momento deve ser elaborado o projeto de impermeabilização? No anteprojeto de arquitetura. É quando se tem pré-fôrmas, pré-instalações e se consegue interferir sem grandes modificações. Quando já está no executivo, tem de se adaptar ao que existe. Algumas construtoras já estão habituadas a fazer projeto de impermeabilização, então o orçamento é feito no nascimento do projeto. O que os projetos têm de apresentar? Tudo é feito em fases. Na primeira se faz um estudo preliminar, com as alternativas. A segunda fase é o anteprojeto, quando se analisam as interferências e sugestões de modificações. No executivo, há especificação de todos os materiais, planilha de serviços e indicação do desempenho de cada um dos sistemas indicados. Há, ainda, as plantas baixas com caimentos, vigotas, locação de detalhes e os detalhes em si, tanto genéricos, como ralos, quanto específicos, que levam em conta a estrutura do cliente, os detalhes de paisagismo, de alvenaria, tudo o que interferir. Virgínia Pezzolo engenheira de impermeabilização da Proassp Página 4 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... Fonte: NBR 9952 e IBI (Instituto Brasileiro de Impermeabilização) DEBATE As empresas já estão devidamente conscientizadas da necessidade do projeto de impermeabilização? Leonilda de Fátima Gomes Ferme - Os fabricantes vêm fazendo um trabalho de conscientização. Eu acredito que, atualmente, isso esteja mais evidente, por causa da última revisão da NBR 9575, que tornou o projeto de impermeabilização obrigatório. Marcos Storte - Além da NBR 9575, temos a NBR 6118, em vigor desde abril, que tem um foco muito Página 5 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... forte na durabilidade. Também há o projeto de norma sobre desempenho das edificações, que esbarra na durabilidade. E durabilidade sem estanqueidade não existe. Por isso, é necessário que haja um foco mais apurado na impermeabilização, em relação a sua importância na durabilidade do imóvel. Dados históricos mostram que a impermeabilização sai, dependendo do prédio, de 1% a 0,7% de seu valor. Ou seja, com 1% eu preservo os outros 99% do meu patrimônio. André Fornasaro - A Ponte dos Remédios, em São Paulo, foi construída em 1967 sem impermeabilização. O que aconteceu? Em 1997, com a corrosão das armaduras, a ponte entrou em colapso e teve de ser totalmente refeita. Storte - E vai acontecer de novo. No caso da Ponte dos Remédios, foi mais grave do que somente impermeabilização. As juntas de dilatação não tinham tratamento, teve problema executivo e falta de manutenção. Se olharmos todas as pontes e viadutos que temos em São Paulo, eu recomendaria: passemos o mais rápido possível. Ou seja, apesar de se saber que o projeto é obrigatório, existe uma "falta de costume" em investir na impermeabilização. Fábio Villas Boas - No ramo da construção civil é muito difícil vender durabilidade. Conseqüentemente, as construtoras são levadas a reduzir custos. Não se consegue impor às grandes empresas condições de preço e, assim, sacrifica-se o que não é visível. Apenas empresas mais conscientes, e que têm o nome a zelar, preocupam-se com durabilidade. Alexandre Baumgart - O aspecto da saúde também é fundamental. Porque impermeabilização faz bem para a saúde, já que a umidade proporciona o surgimento de ácaros e de doenças alérgico- respiratórias. O que é importante para a eficiência da impermeabilização? Storte - Há três aspectos importantes: a especificação correta (que depende do projeto), produtos normalizados e mão-de-obra treinada. Sem essas três partes, não há uma boa impermeabilização. E eu acho que o grande desafio hoje é encontrar uma mão-de-obra qualificada para instalação. Fornasaro - Dizer que a mão-de-obra qualificada desapareceu é exagero. Falou-se em um tripé: projeto, material e aplicador. Também vejo como problema não haver nas faculdades, nem de engenharia nem de arquitetura, a cadeira de impermeabilização. Mas se não fosse a força da NBR 9575, iria continuar não tendo projeto. Qual é, ainda, o grande problema dos projetos? Villas Boas - O projeto ainda está muito aquém do que deveria, porque a maioria dos erros se relaciona a problemas construtivos: ou da aplicação ou por detalhes que não são previstos, como o distanciamento entre o cano do ralo e a parede. São detalhes sutis que, às vezes, não são tratados. Mesmo as empresas mais conscientes compram um projeto usando-o como uma solução genérica, não Página 6 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... específica. Poucas vezes vi um projetista de impermeabilização perguntar sobre a deformabilidade da estrutura, como será o revestimento ou o tipo de esquadria que será usado. Isso ajuda a certificar detalhes, arremates, emendas e passagens de tubo. Sergio Pousa - Muitas vezes o projetista entra com um projeto de impermeabilização com quase todos os outros projetos já prontos: alvenaria, estrutura, instalações. E aí é obrigado a fazer adaptação dos trabalhos de impermeabilização. São poucas as obras em que há compatibilização de projeto ou um profissional para desenvolver isso. Ferme - No Brasil também temos o problema de dimensionamento da impermeabilização. Aqui, sempre se baseia no mínimo por causa do custo. Por isso nosso mercado é tão pequeno. Hoje, dificilmente se convence um cliente do beneficio de se usar duas camadas de manta, mesmo com o argumento da durabilidade. Villas Boas - A construção vem trazendo todos os materiais, desde a estrutura até o revestimento, aos seus limites máximos. Os prédios novos são muito mais frágeis no aspecto de durabilidade do que os antigos. Trabalhávamos com margens de segurança absurdas. Quais os principais erros cometidos durante a aplicação? Como eles prejudicam o desempenho do sistema? Villas Boas - Um dos exemplos mais comuns se dá entre a sacada e o interior da edificação. É preciso ter um desnível para poder virar a impermeabilização e colocar uma soleira, o trilho do caixilho. Sem esse cuidado, cria-se uma eclusa entre o lado interno e o externo, que o usuário vai ter que pular. Isso, para muitas empresas - não são poucas, virou detalhe executivo. É comum mantas se romperem por excesso de esforços, como em piscinas. Por que isso acontece? Fornasaro - As causas podem ser diversas. O aplicador pode não ser qualificado e a manta asfáltica utilizada pode não ter capacidade de resistir aos esforços previstos na piscina. O projetista pode ter feito uma especificação incorreta, por exemplo, e quem executou a obra não questionou o material. Uma outra explicação é um problema estrutural que tenha afetado diretamente a impermeabilização. Ferme - Normalmente uma manta não se rompe por deficiência. O ideal é que se tenha, dentro de qualquer circunstância, o projeto com materiais e procedimentosdefinidos, produto dentro da norma e com todos os lotes fornecidos com ensaios de recepção. Assim, elimina-se a possibilidade de falha no produto. Existem ainda muitas marcas desconhecidas no mercado, ou mantas sem identificação de fabricante. O que pode ser feito para evitar problemas? Storte - Se um produto, na obra, está sem identificação, pode-se submetê-lo aos ensaios previstos na norma. Mas classificá-lo previamente minimiza absurdamente a possibilidade de um erro no que se está Página 7 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri... comprando. Há ferramentas para checar o produto antes. Villas Boas - Eu acho que estamos mal-estruturados nesse aspecto. Existem poucos laboratórios qualificados e capacitados a fazer ensaios, e o prazo é longo: a fila é de 60 dias. Além disso, existem alguns aspectos dos ensaios que têm de ser feitos com o próprio fabricante, porque só ele tem os equipamentos necessários, como acontecia com o caixilho. As mantas vão para o laboratório e voltam para o fabricante, porque ninguém tem como ensaiar. Não adianta existir normas se não há como cumpri-las. Fornasaro - Em todo caso, os fabricantes devem fixar uma fita de identificação em volta do rolo. Seja qual for a procedência da manta, mesmo as importadas, tem de ter uma identificação. Villas Boas - Não adianta simplesmente garantir o produto, ter o manual técnico, a área de assistência técnica, se o cliente, na prática, está sendo enganado pelo processo total. E o fabricante hoje dá suporte, vai à obra, se preocupa a ajudar a qualificar os fornecedores, a respaldar os projetos. Os fabricantes enxergaram isso agora. Em geral os produtos são ensaiados, a manta é aplicada corretamente, mas o eletricista vai colocar um holofote na piscina e acaba rompendo a manta. Como controlar isso? Villas Boas - O fabricante, que é o maior interessado, deve atuar mais fortemente na capacitação de engenheiro de obra, porque, em geral, não se sabe como fiscalizar e quais os cuidados que se tem de tomar. É responsabilidade de toda a cadeia formar essa mão-de-obra, desde a escola, mas, também, ofertar cursos, colocar assistência técnica, acompanhar procedimento, ajudar a escrever manuais técnicos, atuar na normalização. Fornasaro - Há várias etapas que devem ser verificadas. Mas, mesmo com todos os cuidados, há sempre o risco de, nos revestimentos finais e acabamento, alguém fixar uma antena na cobertura, um pára-raio e furar a impermeabilização. Isso só pode ser evitado se houver, na conversa com o projetista, o aplicador e o construtor uma orientação com manual de atividades e procedimentos de obra. Texto original de Bianca Antunes Construção Mercado 39 - outubro de 2004 Página 8 de 8REVISTA EQUIPE DE OBRA 28/08/2010http://revista.construcaomercado.com.br/negocios-incorporacao-construcao/39/impri...
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