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Artigo Os meios alternativos

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OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS E A 
IMPORTÂNCIA DE SUA DIVULGAÇÃO PARA A SOCIEDADE 
Marina Matos Sillmann1 
 
Pode-se afirmar que a função precípua do Direito é garantir a pacificação social. Porém, ao 
contrário do que muitos pensam, não é apenas através da justiça comum que se consegue 
obter a paz social. Os meios alternativos de pacificação social são métodos eficientes de 
resolução de conflitos, pois, além de colocarem um ponto final no problema, eles são mais 
céleres, econômicos e menos desgastante para os envolvidos do que a justiça comum. O 
grande porém é que eles ficam esquecidos, já que grande parte da população não tem 
conhecimento sobre quais são e como funcionam os meios alternativos de resolução de 
conflitos. O objetivo desta pesquisa é justamente este: ampliar a possibilidade de 
conhecimento de quais são esses outros métodos de resolução de confrontos para a população 
leiga em Direito. Como conseqüência, o trabalho deseja que o número de casos demandados 
ao Judiciário seja reduzido e a paz social seja promovida. Justifica-se, portanto, a escolha 
deste tema devido a importância de se promover os meios alternativos de pacificação social. 
Como metodologia a pesquisa se vale de métodos basicamente teóricos, partindo de estudos 
de posicionamentos a respeito do tema para se chegar às conclusões e objetivos propostos. O 
trabalho ainda se encontra em fase inicial da pesquisa, portanto os resultados encontrados são 
parciais. Entretanto, pode – se observar a necessidade da adoção e da inclusão de meios 
alternativos de resolução de conflitos trazendo não só vantagens já mencionadas para o Poder 
Judiciário, como para os conflitantes também. 
Palavras-Chave: Meios alternativos de resolução de conflitos. Direito de Bairro. Pacificação 
Social. 
 
ALTERNATIVE MEANS OF DISPUTE RESOLUTION AND THE IMPORTANCE OF 
HIS RELEASE TO SOCIETY 
 
It can be argued that the primary function of law is to ensure social peace. However, contrary 
to what many think, not only through the common justice it possible to achieve social peace. 
The alternative means of social pacification are efficient methods of conflict resolution, 
because in addition to putting an end to the problem, they are faster, economical and less 
stressful for those involved than the regular courts. The big however is that they are forgotten, 
since much of the population has no knowledge of what they are and how the alternative 
means of conflict resolution. The objective of this research is precisely that increase the 
possibility of knowledge of what these other methods of resolving clashes to lay people in 
law. As a result, the work you want the number of cases ask the judiciary to be reduced and 
social harmony is promoted. Justified, therefore, the choice of this theme due to the 
importance of promoting alternative means of social pacification. The methodology draws on 
the research methods largely theoretical, from studies on the subject positions to arrive at 
 
1
 Graduanda do 3o ano da Faculdade “Prof. Jacy de Assis”da Universidade Federal de Uberlândia – Bolsista 
PEIC 2011 – PROEX pelo projeto: Utilize os meios alternativos de pacificação social. 
marinasillmann@hotmail.com 
 
2 
 
conclusions and goals. The work is still in early stages of research, so the results are partial. 
However, it can - there is the need for adoption and inclusion of alternative dispute resolution 
not only bring advantages already mentioned for the Judiciary, as well as for the conflict. 
 
Keywords: Alternative means of conflict resolution. Right of Neighborhood. Social 
Pacification. 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
A função do Direito na sociedade é a de coordenar os interesses da vida social, 
apaziguando, de acordo com os critérios do justo e do equitativo, os conflitos que surgirem. O 
direito deve resolver esses problemas com a máxima realização dos valores sociais humanos, 
mas com o mínimo de sacrifício e desgaste, para que assim o Estado realize o controle social. 
Porém, esta área não é atendida pelo Estado com a eficiência que se espera. A 
resolução de um conflito pelo Poder Judiciário, na maioria das vezes, é lenta, onerosa e 
insatisfatória para as partes envolvidas. Este fato ocorre, principalmente, pela demanda 
excessiva. Assim, a busca de soluções alternativas, que podem agilizar a resolução dos 
conflitos e desafogar o Poder Judiciário, deve ser estimulada. 
Além do mais uma lide julgada nem sempre é sinônimo de lide resolvida. Apesar do 
Juiz de Direito ter determinado uma sentença e com isso colocado um ponto final ao processo, 
para as partes a lembrança deste perdurará por um bom tempo: a angústia, o longo tempo de 
espera, a raiva, isso sem falar que é muito provável que o relacionamento que uma parte 
possuía com a outra, antes do confronto, nunca venha a se restabelecer. 
Os meios alternativos de pacificação de conflitos, se executados na linguagem 
adequada, podem, além de solucionar o conflito, restaurar o relacionamento deturpado pela 
discórdia. Estes meios trabalham com a reconstrução do diálogo e por isso apresentam uma 
eficiente solução para o confronto com um desgaste bem menor do que a solução via Poder 
Judiciário. 
Em outras palavras, a utilização dos meios alternativos de pacificação social finaliza 
de forma definitiva o problema, pois acabam com este de acordo com o pensamento das 
partes e não apenas com a aplicação da Lei conforme o pensamento do Juiz. E pode-se dizer 
também que se trata de uma maneira mais humana de resolução de conflitos. 
3 
 
2 O CONFLITO 
 O conflito é um fenômeno próprio da convivência humana e pode ser iniciado por 
diversos motivos, tais como, pensamentos divergentes, insatisfação de uma necessidade, 
acordos descumpridos, entre outros. Quando tratado de forma pacífica, o conflito pode ser 
aproveitado para a solução do problema inicial. Porém, quando as pessoas não estão 
preparadas para lidarem com o conflito ou lidam de uma forma inadequada, ele se transforma 
em um violento confronto. (SOUZA, 2009, p. 2) 
 O conflito pode ser dividido em três elementos: a pessoa, que consiste no ser humano 
com seus sentimentos e crenças; o problema, que são as necessidades e interesses contrariados 
e o processo, ou seja, as formas e procedimentos adotados para a resolução do conflito. 
Durante a resolução de um conflito todos esses elementos devem ser analisados e ponderados 
para que a melhor solução possível possa ser encontrada. (SOUZA, 2009, p.2), 
 Geralmente analisa-se o conflito de forma negativa, atribuindo a este palavras como 
agressão, insulto, tristeza, problema, etc. Estes pensamentos levam também a reações 
negativas, exemplificando: raiva, insônia, hostilidade, linguagem verbal agressiva, dentre 
outros. Se agregar comunicação ao conflito ao invés de reprimi-lo ou lidar com ele de maneira 
bruta, pode-se ter a análise deste de uma forma positiva e utilizá-lo como forma de 
amadurecimento, aproximação das partes conflitantes, autoconhecimento, compreensão e 
harmonização de interesses. (TJMG, 2011, p. 10) 
 Muitas pessoas acreditam que um confronto só pode ser solucionado por meio de um 
processo judicial. O processo judicial pode ser definido como o método de compor a lide em 
juízo através de uma relação jurídica vinculativa de direito público (THEODORO JUNIOR, 
2010, p. 55). Esta crença se mostra verdadeira quando o problema versar sobre direito 
indisponível, que são os direitos tutelados pelo Estado e quanto aos quais não há possibilidade 
de declínio. Isto também traz um problema para o Poder Judiciário. A quantidade excessiva 
de demandas torna os processos lentos e por causa disso o Estado não pode cumprir de forma 
eficaz sua missão pacificadora. 
 Porém, quando a ação versa sobre direitos disponíveis (geralmente relacionadosa 
direitos patrimoniais) existem outros métodos para a resolução do problema. Como o conceito 
de jurisdição engloba meios nãos estatais de resolução de conflitos, uma solução que se 
4 
 
mostra bastante satisfatória para resolver os confrontos são os meios alternativos de resolução 
da lide. 
 Neste sentido, o entendimento de Suelen Agum dos Reis: 
Em certas áreas ou espécies de litígios, a solução normal – o tradicional 
processo litigioso em juízo - pode não ser o melhor caminho para ensejar a 
vindicação efetiva de direitos, assim, a sociedade moderna possui razões 
para buscar essas alternativas que fazem parte da essência do movimento de 
acesso à justiça, qual seja o processo judicial acessível a toda a população, 
ou que pelo menos deveria ser, com solução dos conflitos até mesmo fora do 
sistema formal. (REIS, 2007, p. 13) 
 
3 OS MEIOS ALTERNATIVOS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
 Os meios alternativos são formas extrajudiciais de resolução do processo e possuem, 
se executados da forma correta, a mesma validade perante terceiros e inter partes, que o 
procedimento judicial. Inclusive, a decisão tomada terá poder coercitivo, sendo passível, se 
não cumprida, de execução por via judicial. 
 Além do mais, os meios alternativos de resolução de conflitos trazem para as partes 
um ganho que muitas sentenças não conseguem: o sentimento de que o conflito acabou de 
uma forma justa. Segundo Taís Schilling Ferraz: 
A vida forense diária ensina que a melhor sentença não tem maior valor que 
o mais singelo dos acordos. A jurisdição, enquanto atividade meramente 
substitutiva, dirime o litígio, do ponto de vista dos seus efeitos jurídicos, mas 
na imensa maioria das vezes, ao contrário de eliminar o conflito subjetivo 
entre as partes, o incrementa, gerando maior animosidade e, em grande 
escala, transferência de responsabilidades pela derrota judicial: a parte 
vencida dificilmente reconhece que seu direito não era melhor que o da 
outra, e, não raro, credita ao Poder Judiciário a responsabilidade pelo revés 
em suas expectativas. O vencido dificilmente é convencido pela sentença e o 
ressentimento, decorrente do julgamento, fomenta novas lides, em um 
círculo vicioso. (FERRAZ, 2006, p.1) 
 
 Essas formas alternativas de pacificação social são divididas em três grandes grupos: 
autotutela, heterocomposição e autocomposição. 
 A primeira forma consiste em uma das partes impor sua vontade à outra, sem 
negociação, em outras palavras, seria o “direito feito com as próprias mãos”. Atualmente a 
autotutela é vedada no Direito Brasileiro, salvo nos casos previstos em lei, como a legítima 
defesa. (COMINI, 2010, p.4) 
5 
 
 Na segunda forma, o confronto é solucionado com a ajuda de um terceiro, são 
exemplos a mediação, a arbitragem e a conciliação. Na mediação o papel do terceiro é o de 
conduzir o debate para que as partes escolham qual é a melhor solução para o conflito, ou 
seja, colaborar na reconstrução da conversa (o mediador auxilia na transformação da 
linguagem negativa para a positiva). 
Na arbitragem, o terceiro assume o papel de árbitro e é ele quem decide o conflito. A 
decisão do árbitro equivale à decisão de um juiz togado. Por fim, na conciliação, o papel do 
terceiro também é de facilitador do diálogo, porém com a diferença de objetivos em relação à 
mediação: enquanto o objetivo do primeiro é a obtenção de um acordo, o do segundo é a 
restauração do diálogo. 
 A terceira forma, a autocomposição, é semelhante à autotutela, porém o conflito é 
resolvido de modo bilateral, ou seja, as partes chegam a um consenso juntas, sem o auxílio de 
um terceiro estranho ao conflito. Um exemplo dessa forma de resolução de conflito é a 
negociação. (COMINI, 2010, p.5) 
 
3.1 A Arbitragem 
 A arbitragem é regida no Brasil pela Lei 9.307/96 e, ao contrário da mediação não são 
as partes que conduzem o processo, mas sim o árbitro que é quem define o procedimento a ser 
utilizado, quem é o possuidor do direito posto em pauta e qual será a melhor solução para o 
conflito. As partes escolhem o árbitro e qual é o prazo máximo para que o confronto seja 
resolvido, caso não desejem usar o prazo legal de seis meses. (COMINI, 2010, p.7) 
 O árbitro deve ser capaz, possuir uma reputação ilibada e ter certo conhecimento sobre 
o tema do conflito, e embora não seja uma exigência o bacharelado em Direito, é aconselhável 
que possua conhecimento jurídico. O Estado confere alguns poderes ao árbitro como o de 
outorgar às decisões arbitrais a força de coisa julgada, sem necessidade de homologação pelos 
tribunais. Inclusive a sentença arbitral pode ser executada judicialmente caso não seja 
cumprida de forma espontânea. 
 A lei supra mencionada apresenta os requisitos obrigatórios da sentença arbitral e os 
casos em que a sentença é nula: 
Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral: 
I - o relatório, que conterá os nomes das partes e um resumo do litígio; 
6 
 
II - os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e 
de direito, mencionando-se, expressamente, se os árbitros julgaram por 
eqüidade; 
III - o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhes forem 
submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o 
caso; e 
IV - a data e o lugar em que foi proferida. (BRASIL, 1996) 
 
Art. 32. É nula a sentença arbitral se: 
I - for nulo o compromisso; 
II - emanou de quem não podia ser árbitro; 
III - não contiver os requisitos do art. 26 desta Lei; 
IV - for proferida fora dos limites da convenção de arbitragem; 
V - não decidir todo o litígio submetido à arbitragem; 
VI - comprovado que foi proferida por prevaricação, concussão ou corrupção 
passiva; 
VII - proferida fora do prazo, respeitado o disposto no art. 12, inciso III, 
desta Lei; e 
 VIII - forem desrespeitados os princípios de que trata o art. 21, § 2º, desta 
Lei. 
Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos 
os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou 
alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal 
fato. 
 
 Caso as partes não cumpram espontaneamente a sentença arbitral é possível o 
cumprimento forçado da sentença através da via jurisdicional comum. Nas palavras de 
Leandro Comini “a possibilidade de execução judicial é inequívoca no caso de arbitragem, 
inclusive das sentenças arbitrais estrangeiras, a que a lei 9307 dedica um capítulo inteiro”. 
(2010, p. 10) 
 A arbitragem é o meio de resolução extrajudicial de conflitos que mais se aproxima de 
um juízo possuindo vantagens tais como economia, flexibilização e celeridade e desvantagens 
entendidas como a possibilidade de o árbitro ser parcial, a necessidade de execução judicial da 
sentença e o risco de anulação do procedimento. Cabe aos conflitantes analisarem e decidirem 
qual será o melhor meio para a solução do conflito. 
 É também o meio alternativo de resolução de conflitos mais formal, dando desta forma 
menos liberdade de escolha para as partes conflitantes. 
 
 
 
 
7 
 
3.2 A Negociação 
 A negociação é o meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes 
conflitantes, sem o auxílio de um terceiro estranho ao conflito, buscam a solução do 
confronto. 
 É um processo bem natural, pois as pessoas passam boa parte de suas vidas 
negociando, por exemplo, qual o preço a ser pago, o local em que ficará a mesa do trabalho, 
datas de entrega de compromissos, lugares para passear, entre outros. (TJMG, 2011, p. 15) 
 No dizer de Lília Maia de Morais Sales, 
O cumprimento das decisões apresentadas através da negociação não é 
obrigatório. As partes são livres para cumpri-las ou não. É certo que, tendo 
as partes negociado conscientemente, a conseqüência natural é a do 
cumprimento da decisão. Há dese ressaltar que, quando a negociação é 
atribuída à validade jurídica, como um contrato, o cumprimento torna-se 
obrigatório. (2004, p.37). 
 
 E a autora completa: 
Para a negociação apresentar-se eficaz, impõe-se a existência da vontade das 
partes envolvidas para a solução do problema, dependendo exclusivamente 
das suas habilidades a superação das desconfianças e a dissipação das 
animosidades, criando vínculos cooperativos entre elas. (2004, p.37). 
 
3.3 A Mediação 
 A maior dificuldade na resolução de um conflito é devido à perda da comunicação 
eficaz entre os conflitantes. A função do mediador é justamente restaurar essa capacidade de 
comunicação através de técnicas de linguagem (abordadas em item posterior) e regras 
decididas entre conflitantes e mediador. O mediador não decide o conflito, mas sim 
encaminha as partes a chegarem a um acordo justo. (TJMG, 2011, p.16) 
 Nas palavras de Lília Maia de Morais Sales: 
 A mediação, como um meio para facilitar a solução de controvérsias, deve 
ser entendida, em todo o seu procedimento como prevenção, já que evita a 
má administração do problema e procura o tratamento dos conflitos, ou seja, 
durante o processo de mediação, o mediador, com sua visão de terceiro 
imparcial, deve aprofundar-se no problema exposto, possibilitando o 
encontro e a solução real do conflito. (2004, p.30) 
 
8 
 
 Ainda, conforme a autora: 
Fala-se em ‘solução real’ porque o fato de dar ganho de causa a uma parte 
não significa obrigatoriamente que o conflito esteja resolvido. Muitas vezes 
resolve-se uma querela judicial e outras dezenas aparecem como 
conseqüência. Isso se dá comumente porque o impasse revelado, exposto, 
não é o real. Pouco adianta resolver o problema aparente, pois o real 
continuará a existir. No momento em que o mediador ajuda a solucionar 
efetivamente a controvérsia, ele faz ligações entre as pessoas, cria vínculos 
que não existiam. Dessa forma, alcança o impasse real e daí passa a prevenir 
a má administração de outros futuros. 
 
 Em relação à figura do mediador, este não precisa ter a formação acadêmica em 
Direito, mas deve ser uma pessoa capaz, em pelo exercício das atividades civis, com certo 
conhecimento jurídico sobre o assunto versado e com capacidade de dialogar. 
 Quanto ao objetivo da mediação entendemos que é “a responsabilização dos 
protagonistas, capazes de elaborar, eles mesmos, acordos duráveis através da restauração do 
diálogo e da comunicação, alcançando a pacificação duradoura.” (REIS, 2007, p.14). 
 O resultado da mediação equivale a um acordo judicial, ou seja, os conflitantes, junto 
com o mediador e duas testemunhas, assinam um documento em que se propõe a cumprirem o 
que foi prometido. Caso ajam de má-fé, cabe a parte que se sentiu prejudicada ingressar na 
justiça comum com um processo de execução para garantir seus direitos. É utilizado o 
processo de execução porque o acordo é um titulo executivo extrajudicial, ou seja, não existe 
mais a necessidade de se conhecer quem possui o direito posto em conflito, mas sim a 
necessidade de forçar seu cumprimento. (THEODORO JUNIOR, 2010, p.333). 
 A mediação possui quatro objetivos: resolução imediata do conflito, prevenção de 
novos conflitos, inclusão social e restauração da paz social. Cabe ressaltar que além dos 
baixos custos e da celeridade, a mediação é um processo sigiloso, exceto quando versar sobre 
interesse público ou se as partes assim quiserem. (SOUZA, 2009, p.10). 
 Em suma, a mediação é uma atividade em que o “eu” busca entender o “outro” e se 
fazer entendido pelo “outro” com o auxílio de um estranho ao conflito. A mediação bem 
sucedida leva à restauração do diálogo e consequentemente diminui o desgaste emocional 
entre os envolvidos. (TJMG, 2011, p.16). 
 
9 
 
3.4 A Conciliação 
 A conciliação é o meio alternativo de resolução de conflitos em que um terceiro neutro 
auxilia as partes a chegarem a um consenso sobre a questão em conflito, obtendo assim um 
acordo. 
 Bem similar à mediação, a conciliação apresenta os mesmos requisitos de validade do 
acordo e em relação a figura do conciliador. Conforme explicado anteriormente, a diferença 
entre a conciliação e a mediação está na finalidade buscada por elas: para o primeiro a 
obtenção do acordo e para a segunda a restauração da comunicação rompida pelo conflito. 
Pode-se dizer ainda que andem de mãos dadas na resolução do confronto, já que é muito tênue 
a linha de separação. 
 Sobre a conciliação, as palavras da Juíza Taís Schilling Ferraz: 
Na conciliação, diferentemente, não existem vencedores nem perdedores. 
São as partes que constroem a solução para os próprios problemas, tornando-
se responsáveis pelos compromissos que assumem, resgatando, tanto quanto 
possível, a capacidade de relacionamento. Nesse mecanismo, o papel do juiz 
não é menos importante, pois é aqui que ele cumpre sua missão de pacificar 
verdadeiramente o conflito. (FERRAZ, 2006, p.1). 
 
4 A LINGUAGEM DO CONFLITO E A LINGUAGEM DA SOLUÇÃO: 
TÉCNICAS DE CONVERSA 
 
 Talvez mais importante que escolher o meio alternativo mais adequado para a 
resolução do conflito que está sendo analisado é possuir o conhecimento de técnicas de 
linguagem fundamentais para a percepção, análise e resolução do confronto. 
 Estas técnicas são extraídas da ciência da programação neurolinguística, que pode ser 
definida como o estudo da modelagem do comportamento humano a partir de técnicas de 
linguagem que criam estruturas comportamentais. Um exemplo prático da aplicação da 
programação neurolinguística é quando se elogia uma pessoa para depois criticá-la. Este gesto 
simples cria na mente da pessoa uma possibilidade de aceitação maior da crítica do que se 
esta for feita de modo direto. (DILTS, 2011, p.1). 
 São as mesmas aplicáveis principalmente na mediação e na conciliação, já que é 
fundamental para estes dois meios a transformação da percepção negativa do conflito em 
positiva. 
10 
 
 O que torna o conflito negativo é a reação que se tem a ele. Caso se passe a perceber o 
conflito como uma oportunidade de aprendizado, pode-se encontrar de forma mais tranqüila a 
sua solução. Para tornar o conflito um instrumento de aprendizagem é fundamental mostrar 
para os conflitantes que o fato que ocasionou o confronto, apesar de ter causado um mal estar, 
deve ficar no passado, para que assim se possa procurar entendê-lo e com isso encontrar uma 
solução que atenda aos interesses de ambos. (TJMG, 2011, p.11). 
 Outro fator fundamental na busca de um acordo é procurar entender os motivos que 
levam a pessoa a ter a posição apresentada, para se chegar a um acordo satisfatório, calculado 
não em uma posição, mas nas razões apresentadas pela parte. O porquê disso é que é mais 
fácil negociar com base nos motivos do que com base em uma posição. (TJMG, 2011, p.12). 
 Em nível esquemático pode-se apresentar os quesitos elaborados por Robert Dilts para 
se solucionar um conflito: 
1. Identifique claramente as questões essenciais envolvidas no conflito. 
Essas questões serão representadas tanto como opostas ou polaridades. 
Determine em que nível lógico o conflito está mais focado. Por exemplo: 
investir ou gastar dinheiro versus economizar o dinheiro = um conflito no 
nível de comportamento. 
2. Estabeleça uma ‘metaposição’ imparcial e claramente distinta dos dois 
grupos em conflito. 
3. Descubra uma intenção ou propósito positivo por trás das questões de 
cada grupo. A intenção positiva estará necessariamente num nível mais 
elevado do que as questões que criaram o conflito. ("Você não pode resolver 
um problema no mesmo nível do pensamento que está criando o problema.") 
Tipicamente as intenções positivas não serão opostas ou polaridades. Elas 
são muitas vezes complementares, e sistematicamente benéficas embora 
opostas individualmente. Por exemplo: gastardinheiro = "desenvolvimento"; 
economizar dinheiro = "segurança" 
4. Certifique-se de que cada grupo reconhece e admite a intenção positiva do 
outro. Isso não significa que qualquer um dos dois grupos têm que aceitar o 
método que o outro está adotando para satisfazer a intenção positiva, nem 
isso significa que qualquer um dos grupos têm de transigir a sua posição. 
5. A partir da ‘metaposição,’ continue ‘segmentando para cima’ até ser 
identificada uma intenção comum num nível mais elevado em que os dois 
grupos compartilhem. Por exemplo: otimização de recursos. 
6. Explore outras alternativas para alcançar a intenção compartilhada pelos 
dois que estão produzindo o conflito. Isso pode incluir a mistura das duas 
escolhas existentes, mas deve incluir pelo menos uma alternativa que é 
completamente distinta das duas em conflito. (por exemplo: Investir algum 
dinheiro e economizar algum dinheiro, emprestar dinheiro, criar uma 
alternativa para produção de renda, achar um parceiro investidor, reduzir 
alguns gastos para esse dinheiro ser investido em outras áreas, etc.) 
7. Identifique que escolha ou combinação de escolhas serão as mais efetivas 
e ecologicamente satisfaça, de maneira sistemática, a intenção comum e as 
intenções positivas individuais com o máximo impacto positivo. (DILTS, 
p.1, 2011) 
11 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 É de conhecimento de todos que o Poder Judiciário não está cumprindo de forma 
eficaz sua função pacificadora. Os motivos são vários como a falta de juízos, servidores da 
justiça, os inúmeros recursos, as brechas na lei para se conseguir tempo e uma quantidade 
enorme de processos tramitando na justiça. 
 Uma solução bastante simples para diminuir a lentidão da justiça é o incentivo ao uso 
dos meios alternativos de resolução da lide. As vantagens destes meios não se resumem à 
celeridade, incluindo aí o baixo custo, o sigilo, o menor desgaste emocional, a restauração do 
diálogo rompido, entre outras. Deve se mostrar à população a eficácia destes meios e seu 
funcionamento, pois muitos não acreditam que as formas alternativas possuem a mesma 
validade que uma sentença dada por um juiz togado. 
 Além do mais, o acesso à justiça não é apenas o acesso ao judiciário. O principal 
acesso a justiça é a certeza de que o conflito foi solucionado de maneira justa e ninguém 
melhor do que os próprios conflitantes para encontrar a melhor solução, pois somente eles 
sabem o que levou ao confronto e somente eles sabem qual será a melhor forma de colocar 
um fim a ele. 
 Para isto, muitas vezes é necessária a ajuda de um condutor da conversa, já que os 
conflitantes podem estar cegados pelo conflito e com o auxílio deste condutor romper as 
barreiras e encontrar a tão sonhada solução. 
 A falta de conhecimento não deve ser um empecilho para que as formas alternativas de 
pacificação social sejam expandidas. Afinal promover a paz social é responsabilidade de 
todos e não apenas dos operadores do Direito. 
 
6 REFERÊNCIAS 
 
BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Apostila do curso de conciliação. Belo 
Horizonte: TJMG, 2011. 
 
COMINI, Leandro Vito. A jurisdição estatal e as alternativas para a solução dos conflitos. 
Conteúdo Jurídico, Brasilia: DF: 09 jul. 2010. Disponível em: 
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.27520>. Acesso em: 05 ago. 2010. 
12 
 
DILTS, Robert. Resolvendo conflitos com a PNL. Disponível em: 
<http://www.golfinho.com.br/artpnl/artigodomes200607.htm>. Acesso em: 12 abr. 2011 
 
FERRAZ, Taís Schilling. A conciliação e sua efetividade na solução dos conflitos. 
Disponível em: < http://www.cnj.jus.br/programas-de-a-a-z/acesso-a-
justica/conciliacao/historico>. Acesso em 14 ago. 2011 
 
REIS, Suelen Agum dos. Meios alternativos de solução de conflito. Revista eletrônica da 
Faculdade de Direito de Campos, RJ: Campos dos Goytacazes, v. 2, n. 2, p. 1-22, abr. 2007. 
Disponível em: <http://www.fdc.br/Arquivos/Revista/24/01.pdf>. Acesso em: 14 ago. 2011. 
 
SALES, Lília Maia de Morais Sales. Justiça e mediação de conflitos. Belo Horizonte: Del 
Rey, 2004. 
 
SOUZA, Fábio Araujo de Holanda. As formas alternativas de resolução de conflitos e a 
mediação familiar. Conteúdo jurídico, 17 jun. 2009. Disponível em: 
<http://www.artigonal.com/divorcio-artigos/as-formas-alternativas-de-resolucao-de-conflitos-
e-a-mediacao-familiar-976048.html> Acesso em: 8/04/2011 
 
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. Vol. I. 51. ed., Rio de 
Janeiro: Forense, 2010.

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