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ECV5149 – Geologia de Engenharia 57 Capítulo 3 ROCHAS ÍGNEAS 1. Introdução PETROLOGIA PETROGRAFIA - Descrição e identificação das rochas PETROGÊNESE - Procura explicar a sua origem e transformações posteriores a sua formação Definição “ROCHA, no sentido geológico, é um material que faz parte essencial da crosta sólida da Terra, e é constituída por um agregado de um ou mais minerais, ou vidro vulcânico ou matéria orgânica” Para o estudo e reconhecimento das rochas três parâmetros são de fundamental importância: Textura Estrutura Conteúdo Mineralógico Quando se estuda uma rocha deve-se utilizar esses parâmetros em conjunto, já que muitas vezes o uso de apenas um deles não é diagnóstico. Baseando-se em critérios genéticos, ou seja, como é seu modo de formação na natureza, as rochas podem ser classificadas em 3 grandes grupos: Ígneas -Resultantes da consolidação do magma Metamórficas - Resultam da transformação de outras rochas preexistentes, agora, sob novas condições de temperatura e pressão. Sedimentares - Resultam da deposição de detritos de outras rochas (magmáticas ou metamórficas), ou do acúmulo de detritos orgânicos ou ainda, da precipitação química 2. Ciclo das rochas As rochas ígneas, sedimentares e metamórficas, que aparentemente não mostram relações entre si, apresentam-se intimamente relacionadas no denominado "CICLO DAS ROCHAS” ECV5149 – Geologia de Engenharia 58 3. Rochas ígneas As rochas ígneas derivam de material quente, fundido, proveniente das profundezas da terra. Conforme o seu local de formação, distingue-se dois tipos de rochas ígneas: Plutônicas ou intrusivas – Formadas em profundidade, no interior da crosta terrestre pelos lentos processos de resfriamento e solidificação do magma, resultando em material cristalino geralmente de granulação grossa e de formas definidas. Vulcânica ou extrusivas – Formadas na superfície terrestre, ou nas suas proximidades, pelo extravasamento explosivo, ou não, de lava (material ígneo que alcança a superfície da terra) por condutos vulcânicos. 3.1. Características do magma Magma é qualquer material rochoso fundido, de consistência pastosa, que apresenta uma mobilidade potencial, e que ao consolidar, constitui as rochas ígneas ou magmáticas. Quando extravasa à superfície recebe a denominação de lava. Os magmas apresentam alta temperatura, da ordem de 700 a 1200 oC sendo constituídos por uma parte líquida( rocha no estado de fusão), uma parte sólida (minerais que já se cristalizaram) e outra volátil ( gases). ECV5149 – Geologia de Engenharia 59 Consistência física de um magma (Mobilidade) composição química grau de cristalinidade teor de voláteis dissolvidos temperatura em que se encontra È importante frisar que não existe um “oceano de magma” contínuo por baixo da litosfera O comportamento anômalo (mais plástico) da astenosfera deve-se à perda de rigidez das rochas que constituem a astenosfera, em função das altas temperaturas, mas no estado fundamentalmente sólido. Os locais de formação do magma concentram-se em regiões específicas na astenosfera ou na litosfera. Os magmas apresentam, majoritariamente, composição silicática, em consonância com a composição predominante da crosta e do manto terrestre cujos principais componentes são, além do O e Si, o Al, Ca, Fe, Mg, Na, K, Mn, Ti e P. Dois tipos de magma se destacam amplamente pela sua abundância na crosta terrestre: Magma granítico, com teores de sílica superior a 66% (rico em sódio, potássio e alumínio) Magma basáltico, com teores de sílica entre 45% e 52% (rico em cálcio, Ferro e Magnésio) Alguns pesquisadores acrescentam o magma adensítico que apresenta teor de sílica da variando de 52% a 66%. Derrame de lava basáltica na ilha do Havaí (U. S. Geological Survey) O SiO2 é responsável pela viscosidade do magma e pela sua acidez. Os magmas e as respectivas rochas originadas são classificados segundo a acidez como: Ácidas - 65-80% de SiO2 Sub-ácidas - 60-65% de SiO2 Sub-básicas - 55-60% de SiO2 Básicas - 55-45% de SiO2 Ultra-básicas - 45% de SiO2 ECV5149 – Geologia de Engenharia 60 Magmas basálticos Magmas Graníticos São mais quentes com temperaturas da ordem de 1000 oC a 1200 oC São significativamente mais viscosos com temperatura da ordem de 700 a 800 oC Viscosidade ↑ ↔ Sílica ↑ ↔ Temperatura ↓ ↔ Voláteis ↓ 3.1.1 Cristalização Fracionada A cristalização do magma é um processo complexo e, quando em profundidade, demorado. Quando o magma passa a perder calor (por condução) inicia-se, a determinados valores críticos de temperatura, a formação de germes cristalinos, minúsculos núcleos de cristais, que crescerão para constituir as fases minerais da rocha ígnea resultante. As diferentes fases minerais não se cristalizam concomitantemente: algumas se formam primeiro ECV5149 – Geologia de Engenharia 61 Em um magma em movimento, os primeiros minerais a cristalizar são consideravelmente mais básicos. Eles são deixados para trás à medida que o magma se desloca. Este, que cristaliza por último, dá origem a rochas mais ácidas. Assim, as rochas resultantes da cristalização final do magma teriam composição inteiramente diferente daquela formada pelos primeiros minerais a se cristalizar. Magmas básicos, ricos em magnésio, ferro e cálcio, mas com pouca sílica e potássio, quando cristalizarem o piroxênio e plagioclasio cálco-sódico não restará mais material líquido para reagir e a rocha formada terá a constituição de um basalto. Se o magma que resfria é ácido, com muita sílica, sódio e potássio, os primeiros minerais a se formarem serão a olivina e o plagioclásio cálcico, mas as duas séries da reação progridem até o final, seguindo-se a cristalização do feldspato potássico e quartzo, ou seja um granito 3.2. Formas de ocorrência das rochas ígneas Rochas ígneas extrusivas Os magmas que atingem a superfície e nela fluem originam os derrames de lavas. Na superfície o resfriamento é rápido e as rochas efusivas apresentam-se finamente granuladas ou vítreas. Magma é pouco viscoso - As lavas que fluem dos vulcões em forma de escudo são altamente fluidas e mais velozes, espalhando-se sobre grandes extensões do terreno. Os gases escapam livremente dessas lavas, de sorte que as erupções não são explosivas, porém relativamente contínuas. Vulcão em forma de escudo (magma pouco viscoso) Magma é mais viscoso - As erupções vulcões em cone de lados abruptos, as lavas são pouco fluidas, solidifica mais rapidamente e forma camadas mais espessas. Estes vulcões apresentam um caráter explosivo dando origem às rochas ígneas piroclásticas. ECV5149 – Geologia de Engenharia 62 Monte Santa Helena antes da erupção de 1980 (EUA) Monte Santa Helena após a erupção de 1980 O material piroclástico é formado por fragmentos soltos que saem dos vulcões provocando explosões. Entre eles temos os tufos vulcânicos, os blocos, as bombas, as cinzas e os gases. Blocos - quando tem diâmetro acima de 5cm, com formas irregulares, ásperas, podendo ultrapassar 1m3. Saem do vulcão em estado sólido. Bombas - são massas de lava consolidada durante a trajetória no ar, com formas próprias, desde poucos centímetros de tamanho até um metro. Sua forma arredondada ou alongada, freqüentemente retorcida mostra sua ejeção no estado plástico. Os casos de lava esponjosa de vidro vulcânico são denominados de pedra pome ou hume. Cinzas -é um material de aspecto arenoso, constituído de fragmentos finos, de cerca de 4 a 1/4 de milímetros de tamanho. ECV5149 – Geologia de Engenharia 63 Gases - a exalação de gases pode ocorrer antes, durante e depois da extinção das atividades vulcânicas. A quantidade de gases desprendida durante uma explosão pode danificar tecidos de roupas expostas a cinco mil quilômetros pelos gases ricos em ácido fluorídrico e clorídrico. Exemplo.: Gases do vulcão do Alasca (Katmai) causaram danos em roupas em Chicago. Bomba vulcânica Cone de materiais piroclásticos do vulcão dos capelinhos situado na ilha do Faial (Região Autônoma dos Açores). O cone é composto essencialmente por cinzas e bombas. Ocorrem erupções em fissuras quando as lavas fluem de longas fendas. O vulcanismo em fissura favorece o acúmulo de espessas camadas de lavas sobre áreas enormes. Rochas ígneas intrusivas Se o magma, gerado em profundidade, se consolidar no interior da crosta teremos a formação de rochas plutônicas ou intrusivas. ECV5149 – Geologia de Engenharia 64 Em relação à profundidade de cristalização do magma, os corpos rochosos podem ser: Abissais - A cristalização ocorre em grande profundidade (>10km) Hipabissais - A cristalização ocorre em níveis crustais rasos (<5km) No entanto, estes corpos rochosos podem ser classificados quanto à sua forma, que podem ser alongadas, circulares, tabulares ou mesmo totalmente irregular. Diques – São formados quando o magma invade as rochas encaixantes através de fraturas ou falhas, e apresentam uma atitude vertical semelhante a parede. Podem ser de grandes dimensões (comprimento de até 500 km e largura de 8 km) como de dimensões reduzidas de alguns metros ou centímetros. Podem ocorrer de forma isolada ou como enxames. São geralmente constituídos por magmas básicos, que são mais fluidos e conseguem percolar pelas fraturas e falhas com maior facilidade. Dique de diabásio da praia da Joaquina – Florianópolis/SC Afloramento de dique entre a praia da Joaquina e Mole – Fpolis/SC ECV5149 – Geologia de Engenharia 65 Detalhe mostrando dique de rocha básica intrudido na Formação Serra Geral, Bacia do Paraná (foto cedida por André de Borba, 2003, Pedreira Incopel, rodovia BR-116, km 28, Estância Velha, RS) Sills – São corpos intrusivos tabulares que apresentam atitude horizontal a sub-horizontal, paralelamente à estratificação quando a rocha encaixante for sedimentar, pelo que são chamados de corpos concordantes. Seu tamanho é variável com espessuras praticamente constantes. Os sills se formam preferencialmente em níveis rasos da crosta, próximos à superfície, onde a pressão exercida pelo peso das rochas sobrepostas é relativamente pequena. Sill no Arizona (EUA) ECV5149 – Geologia de Engenharia 66 Lacólitos – Apresentam a forma de um cogumelo, podendo representar uma variação do sill, já que invadem concordantemente camadas de rochas sedimentares em níveis rasos da crosta. No entanto os lacólitos arqueiam as camadas de rochas sobrejacentes. Necks vulcânicos – Corpos intrusivos discordantes formados pela consolidação do magma dentro de chaminés vulcânicas, que são os condutos por onde o magma chega à superfície através dos vulcões. Neck vulcânico no México Batólitos e stocks - São corpos ígneos plutônicos de maior dimensão e possuem uma forma irregular. Convencionalmente, costuma-se chamar de batólitos os corpos que apresentam, em superfície, uma área superior a 100 km2, podendo atingir 20 a 30 km de diâmetro. Quando a área for menor, são denominados de stocks. Ambos, batólitos e stocks, são corpos intrusivos discordantes, que cortam a estrutura das rochas encaixantes. ECV5149 – Geologia de Engenharia 67 Diagrama esquemático mostrando as formas de ocorrência de rochas magmáticas (derrame, sill, dique, batólito, stock, neck vulcânico, diques radiais e lacólitos). 4 Textura das rochas ígneas São as feições de uma rocha determinadas pela análise global das principais características de seus minerais constituintes ( formas, dimensões, estrutura interna, etc.), bem como das relações que estes guardam entre si. 4.1 Grau de cristalização Corresponde ao grau de cristalização do magma, ou seja, a proporção de minerais e vidro que estão presentes nas rochas ígneas classificando-se como: Holocristalinas – A rocha é composta inteiramente de cristais. A maioria das rochas ígneas se encaixa nesta categoria. Todas as rochas plutônicas são holocristalinas. Hipocristalinas – Também conhecida como hialocristalinas, sendo constituída por uma mistura de cristais e vidro. Vítrea –Também conhecida como holohialina. A rocha é composta quase inteiramente de vidro, o que significa resfriamento magmático extremamente rápido. ECV5149 – Geologia de Engenharia 68 Vidro vulcânico 4.2 Tamanho comparativo dos grãos A granulação representa a medida quantitativa do tamanho dos minerais constituintes de rochas ígneas, sobretudo as holocristalinas. Como exemplo prático pode-se apresentar a seguinte definição: Grossa – Granulação superior a 5 mm. Normalmente as rochas compostas de minerais que podem ser identificados com facilidade a olho nu, são descritas como de granulação grossa. Ex.: granito. Média – Granulação de 1 a 5 mm, Esta categoria granulométrica quantitativamente não é bem definida, sendo variável de acordo com cada autor. Ex.: diabásio. Fina – Granulação menor do que 1 mm. Normalmente, as rochas compostas de minerais com tamanho de grãos invisíveis a olho nu ou a lupa são descritas como de granulação fina. 4.3 Composição química Quanto a composição química as rochas ígneas podem ser ácidas, intermediárias, básicas e ultrabásicas. Ácidas - > 65% de SiO2 intermediárias – 52 - 65% de SiO2 Básicas - 45-52% de SiO2 Ultra-básicas - 45% de SiO2 4.4 Índice de cor Diz respeito à proporção entre minerais máficos e félsicos. Minerais Félsicos Termo utilizado em geologia aplicada a minerais silicatos, magmas e rochas, ricos em elementos leves como o silício, oxigênio, alumínio, sódio e potássio. ECV5149 – Geologia de Engenharia 69 Os minerais félsicos são geralmente de cor clara e com peso específico inferior a 3. Os minerais félsicos mais comuns são o quartzo, a biotita, e os feldspatos da série das plagioclases. A rocha félsica mais comum é o granito. Minerais máficos Na extremidade oposta do espectro de rochas encontram-se as rochas e minerais máficos (ricos em ferro) e ultramáficos (ricos em magnésio). O índice de cor é definido pelo número correspondente ao percentual de minerais máficos na constituição volumétrica de uma rocha ígnea qualquer. Segundo esse parâmetro as rochas ígneas podem ser subdivididas em: Félsicas ou leucocráticas – minerais escuros <30% - Coloração clara Mesocrática – minerais escuros entre 30% e 60% - Coloração média Máficas ou melanocráticas – minerais escuros entre 60% e 90% - Coloração escura Ultramáficas ou hipermelânicas – minerais escuros > 90% - Coloração muito escura 4.5 Tamanho absoluto dos grãos Quanto ao tamanho absoluto dos grãos, a textura das rochas ígneas podem ser: Fanerítica – Quando a rocha é formada por grãos cristalinos de diâmetro superior a cerca de 5 mm (granulação grossa) ou compreendido entre 1 e 5 mm (granulação média). Estas rochas podem ser equigranular, ou seja, constituída por grãos de dimensões aproximadamenteiguais – textura equigranular; ou apresentarem cristais que, em relação aos que constituem a massa fundamental da rocha, se destacam pelas suas maiores dimensões, denominados de fenocristais,. Neste caso a textura se denomina de porfirítica. ECV5149 – Geologia de Engenharia 70 Microfanerítica – Quando a rocha é formada totalmente ou em grande parte por grãos cristalinos de diâmetro inferior a cerca de 1 mm (rochas de grãos finos), mas ainda suficientemente grandes para refletirem a luz individualmente, de forma que se distinguem uns dos outros por exame macroscópico. Afanítica – O termo afanítica significa não-fanerítica, e corresponde aos casos em que a rocha é formada total ou principalmente por grãos tão pequenos que não se distinguem uns dos outros, mesmo com o auxílio de lupa. 4.5 Principais Estruturas das Rochas Ígneas Os aspectos estruturais e texturais das rochas ígneas freqüentemente se sobrepõem. Por isto, considera-se como estrutura as feições arquitetônicas do corpo rochoso, melhor observáveis no campo. Como textura, os aspectos meso e microscópicos, tais como tamanho de cristais, grau de cristalização e etc. Comumente, as rochas ígneas apresentam estrutura maciça, fluidal, vesicular, amigdalóide e colunar. Maciça – Rocha cujos minerais não exibem orientação preferencial segundo direções determinadas apresentando-se como uma massa de rocha compacta. Ex.: Granito Fluidal – Rocha com minerais isorientados, expressando movimento direcional do magma antes de seu resfriamento total. È comum em diques, nas proximidades das paredes da rocha encaixante. Vesicular – Vulgar nas rochas lávicas, resulta da ação de vapores que se expandem dentro da massa viscosa da lava, dando origem a cavidades de forma aproximadamente esférica. A vesicularidade que daí resulta atinge expressão máxima na pedra-pome, que pode na verdade descrever-se com espuma de vidro. Basalto ECV5149 – Geologia de Engenharia 71 Amigdalóide –A água a elevada temperatura e com substâncias dissolvidas pode originar a formação de minerais nas vesículas. Quartzo, calcita e clorita são os minerais mais comuns nestas formações. Basalto Colunar – Estrutura fornecida pela disposição da rocha vulcânica segundo prismas colunares de cinco ou seis lados, como resultado da contração da lava durante o seu resfriamento. Estrutura colunar de um derrame basaltico 5. Fraturamento durante o resfriamento do magma 5.1.Plutonismo Abissais Quando uma cordilheira se forma ocorre a fusão do núcleo das placas tectônicas . A medida que cessa o movimento de deslocamento das placas passa a ocorrer um lento resfriamento, dando origem ao BATÓLITO. BATÓLITO – Forma de ocorrência plutônica abissal, definida como um grande corpo intrusivo discordante, formado em elevadas profundidades por rochas supersaturadas, correspondendo a núcleos de montanhas ou onde estas existira, que quando aflorantes, cobrem áreas superiores a 100 km2. ECV5149 – Geologia de Engenharia 72 No Brasil são freqüentes os afloramentos de batólitos graníticos (ex.: Florianópolis/SC) Os blocos de granitos podem ocorrer no meio do solo ou em superfície, tendendo a apresentar encostas acentuadas e rolamento dos mesmos. Em profundidade a dissipação do calor é lenta → Pequena velocidade de resfriamento Ao atingir a temperatura ambiente esta grande massa de rocha terá sofrido contração que provoca a sua ruptura. Resfriamento Lento → Fraturamento espaçado → Geralmente de 1 a 3 m, podendo chegar a 15 m IMPORTÂNCIA PARA A ENGENHARIA Possibilidade de se implantar grandes pedreiras Grande volume Pequena cobertura de solo Pouco fraturado Mostra boa condição de estanqueidade para fins de fundações de barragens Boa estabilidade para teto de túneis 5.2 Plutonismo Hipoabissais Ocorrência intermediária entre as rochas plutônicas abissais e as vulcânicas (ex. Diques e Sills) Velocidade de resfriamento maior que as abissais e menor que as vulcânicas No sul do Brasil os diques de diabásio apresentam comprimentos da ordem de quilômetros a dezenas de quilômetros; espessura de centímetros a dezenas de metros e profundidade da ordem de 40 a 50 km (apost. Victor Hugo) Quando o magma se solidifica transformando-se em rocha ocorre contração A contração provaca a ruptura da rocha A ruptura é mais intensa na direção perpendicular a maior dimensão Diques – maior fraturamento é na vertical, Sills – maior fraturamento é na horizontal Fraturamento espassado da ordem de centímetros a decímetros ( 5 a 60 cm) ECV5149 – Geologia de Engenharia 73 O conhecimento das direções destes fraturamentos é de grande importância na identificação de seu comportamento geotécnico e na identificação da forma de ocorrência. Dique de diabásio encaixado em um batólito granítico (Apost. Victor Hugo) O dique mostra um fraturamento predominantemente horizontal No granito o espaçamento é de metros a dezenas de metros O relevo resultante do intemperismo diferencial tenderá a ser um vale orientado no local de ocorrência do dique devido ao seu maior fraturamento e constituição mineralógica Sill de diabásio encaixado concordantemente em folhelhos e associado a um dique ECV5149 – Geologia de Engenharia 74 Dique fraturado preferencialmente na horizontal Sill fraturado preferencialmente da vertical O dique de diabásio tende a formar uma crista por ser mais resistente ao intemperismo Este dique apresenta um grande potencial para ser utilizado como pedreira Dique encaixado em arenito no Colorado/USA 5.3 Interesse na Engenharia Túnel Um túnel escavado em um dique apresentará instabilidade no teto em função do tipo de fraturamento, necessitando de soluções de contenção. Este problema pode ser mínimo no granito em função dos espaçamento de suas fraturas de resfriamento. Outro problema associado ao fraturamento é o da infiltração de água pelo teto do túnel Poço Em função da maior permeabilidade a localização de um poço é muito mais indicada em um dique de diabásio. Pedreira Quando instalada em um dique a pedreira tenderá a apresentar pequena frente e grande altura. Quando instalada em um Sill apresentará grande frente e grande cobertura. Situação ideal para a instalação de uma pedreira é em batólitos ECV5149 – Geologia de Engenharia 75 Apost. Victor Hugo No sill quanto mais a pedreira penetrar na elevação maior será a cobertura, portanto deve ter grande frente e pequena profundidade. No dique a pedreira deverá ter pequena frente e grande profundidade. Em áreas de granito, os diques de diabásio alteram-se mais rapidamente a solos argilosos, que são frequentementes responsáveis por escorregamentos tais como os observados no Morro da Caixa, junto ao Morro da Cruz. (apost. Victor Hugo) Apostila Victor Hugo ECV5149 – Geologia de Engenharia 76 Fotografia aérea do Morro da Cruz onde pode-se visualizar um dique de diabásio 6. Grupos de Rochas Ígneas São aproximadamente vinte os principais minerais formadores das rochas ígneas. A constituição mineral constitui uma das bases mais sólidas para a classificação das diferentes famílias e tipos de rochas. Entre os critérios básicos para a classificação das rochas ígneas destaca-se: Forma de jazimento (plutônica, hipabissal ou efusiva) Textura De acordo com a forma de ocorrência e as prováveis texturas as rochas ígneas podem classificar-se em cinco grandes grupos que apresentam composição química comum e mineralógica similar: Grupo do granito, sienito, diorito, gabro e ultramáfico. ECV5149 – Geologia de Engenharia 77 OCORRÊNCIA TEXTURA SUPER-SATURADAS – com quartzo SATURADAS – Sem quartzo SUB-SATURADAS Predominam Feldspatos Potássicos Equivalem-se Feldspatos K e Plagioclásios Na PREDOMINAM Feldspatos potássicos PREDOMINAM Plagioclásio Sódicos PREDOMINAM Plagioclásios cálcicos Sem quartzos e os silicatos presentes são def icientes em sílica VULCÃNICAS OU EXTRUSIVAS Fissura, Erupção central Holocristalina; Pórf ira; Microcristalina, Equigranular f ina. RIOLITO DACITO TRAQUITO ANDESITO BASALTO 1. Nas rochas equivalentes às saturadas acrescenta-se como pref ixo o nome do mineral def iciente em sílica. Ex.: Nefelina- sienito Olivina-basalto 2. Há rochas sem quartzo e feldspatos, monominerálicas, anf ibolitos, piroxenitos, etc. 3. Se com olivina; Rochas ultra-básicas PLUTÔNICAS HIPO-ABISSAIS Sills e Diques Pórf ira; Equigranular f ina, média; equigranular f ina à média, Porf irítica matriz f ina RIOLITO PÓRFIRO GRANITO FINO DACITO PÓRFIRO GRANODIORITO FINO TRAQUITO PÓRFIRO SIENITO FINO ANDESITO PÓRFIRO DIORITO FINO DIABÁSIO PLUTÔNICAS ABISSAIS Batólitos, Diques ou Sills muito espesso e profundo Equigranular média à grossa; Inequigranular grossa à média porf irítica matriz grossa GRANITO GRANODIORITO SIENITO DIORITO GABRO Cresce o teor em sílica , k, Na Cr es ce a p rof un did ad e n a c ros ta Branco-róseo Dens.=2.6 – 2.7 g/cm3 Preto Dens.=2.9 – 3.1 g/cm3Tendência para cores escuras Tendência para maior densidade Ca, Fe, Mg ECV5149 – Geologia de Engenharia 78 6.1 Grupo do Granito 6.1.1.Granito Os granitos constituem as principais rochas da parte superior da crosta terrestre, sendo também a rocha ígnea mais freqüente que aflora nos continentes. Normalmente forma corpos homogêneos de rocha sendo freqüentemente cortado por diques e veios de microgranito e pegmatito. Ocorre com diversas cores, cinza claro a cinza escuro, amarelo, rosa ou vermelho. Constituição Mineralógica É constituído por ortoclásio (rosa), predominantemente, e quartzo (incolor); freqüentemente ocorre ainda plagioclásio sódico (leitoso). Contém ainda biotita (preta) ou muscovita (cinza) e anfibólio (escuro), mais comumente hornblenda. Textura e Estrutura A maioria dos granitos possui textura equigranular, ou seja, apresenta grãos equidimensionais. A estrutura em geral é maciça, onde os constituintes em geral não apresentam orientação preferencial. A granulação pode variar de milimétrica a centimétrica. Os granitos são utilizados na construção civil, como material de pavimentação, em estradas, revestimentos de fachadas, etc. Ocorrência As rochas graníticas ocorrem sob a forma de massas discordantes representadas pelas intrusões do tipo batólito ou de menor porte nos stocks, apresentando um contato abrupto com as rochas encaixantes. Neste contato se forma uma auréola metamórfica. A exposição destas rochas em superfície se dá pela erosão das cadeias de montanha. Granito pórfiro, Paranaguá/PR Granito pórfiro de coloração avermelhada, com pórfiros de quartzo, Porto Alegre/RS ECV5149 – Geologia de Engenharia 79 Afloramento de granito na costa norte de Florianópolis/SC 6.1.2 Microgranito porfirítico Apresentam composição essencialmente similar à do granito, no entanto, com granulação média. Sua textura é pórfiritica, com fenocristais de quartzo e feldspato. Sua cor varia do cinza claro ao escuro e ocorre em diques, sills e veios. Microgranito intrusivo, entre Camboriú e Itapema/SC 6.1.3. Riolito Rocha ígnea vulcânica, correspondente extrusiva do granito. É densa e possui uma granulação fina. Sua cor é cinza avermelhada, rosada, podendo ser até preta. ECV5149 – Geologia de Engenharia 80 A textura é porfirítica, possuindo em alguns casos um certo arranjo orientado como conseqüência do movimento da lava. A massa fundamental ou matriz afanítica (não se visualiza os minerais a olho nu) ou vítrea. Os fenocristais são normalmente de quartzo e feldspatos. Em relação aos basaltos, também rochas extrusivas, possuem uma ocorrência muito menor, não chegando a formar grandes corpos. Riolito 6.2 Grupo dos Sienitos 5.2.1.Sienitos Os sienitos formam corpos plutônicos (stocks) de granulação variando de média a grosseira e textura holocristalinas. A forma hipabissal é representada por diques e sills de microsienito de granulação média e textura holocristalina, ocasionalmente porfirítica. O equivalente efusivo, denominado traquito, é finamente granulado e de textura hialocristalina. Quando comparados às rochas de outros clãs, os sienitos possuem ocorrência geográfica bastante restrita. É uma rocha ígnea plutônica, composta essencialmente de feldspato potássico rosa (ortoclásio) e oligoclásio (leitoso), com pequenas quantidades de hornblenda, biotita e piroxênio (os três escuros). Assemelha-se, assim, a um granito, na aparência, mas difere dele porque contém menos de 5% de quartzo. ECV5149 – Geologia de Engenharia 81 Estas rochas cristalizam-se de magmas contendo sílica suficiente para formar silicatos, porém insuficientes para formar quartzo. São rochas faneríticas (com grãos grandes), em geral de textura granular. Dada à fraca proporção de minerais ferro-magnesianos (escuros) as cores predominantes são claras, sendo as mais comuns a branca, a rosada, a vermelha, a cinzenta e também a amarelada. Sienito, Dom Pedrito/RS 5.2.2.Microssienito Estas rochas formam diques, sills e eventualmente derrames de lavas. É constituído essencialmente de feldspatos alcalinos associados, em geral, com pequenas quantidades de biotita, piroxênio e quartzo. Apresenta textura granular (granulação média), freqüentemente porfirítica, com fenocristais de feldspato ou biotita. A textura fluidal é geralmente nítida devido ao arranjo e orientação dos fenocristais de feldspatos. Sua coloração é cinzenta, avermelhada, rosada ou castanha. 6.2.3.Traquito O traquito ocorre como pequenos derrames ou em diques em áreas continentais relativamente estáveis. Esta rocha representa o equivalente efusivo do sienito. É referido como rocha alcalina devido à predominância de feldspatos alcalinos sobre quantidades muito limitadas de quartzo e plagioclásio cálcico. Apresenta estrutura geralmente profirítica. ECV5149 – Geologia de Engenharia 82 Traquito porfirítico com fenocristais de feldspato alcalino em matriz de granulação fina 6.3 - Grupo dos Dioritos 6.3.1. Diorito Os dioritos são rochas formadas essencialmente por plagioclásio sódico com um ou mais minerais máficos, como biotita, hornblenda. A forma plutônica conhecida pela designação de diorito, possui textura holocristalina, equigranular e granulação grosseira, embora às vezes exiba textura porfirítica, com fenocristais de feldspato e hornblenda. Os minerais máficos são responsáveis pela coloração escura. 6.3.2Microdiorito A forma hipabissal, tambem de coloração escura, ocasionalmente esverdeada ou rosada, possui textura holocristalina e granulação média, sendo freqüentemente porfirítica, sendo ECV5149 – Geologia de Engenharia 83 conhecido pela denominação de microdiorito, diferindo do diorito pela sua granulação mais fina. Ocorrem em diques e sills nas vizinhanças das intrusões de diorito ou granito. Forma às vezes enxames de diques. 6.3.3.Andesito A forma efusiva correspondente do diorito é denominada de andesito. Trata-se de uma rocha de textura hialocristalina, de granulação fina, em parte vítrea, muitas vezes porfirítica, contendo fenocristais de plagioclásio, hornblenda ou placas de biotita. Os fenocristais encontram-se dentro de uma massa fundamental muito fina, cuja textura não pode ser percebida a olho nu. O quartzo não ocorre ou então é encontrado em pequenas quantidades. A coloração do adensito possui tons de cinza, púrpura, castanho, verde até quase preta. Os andesitos formam extensos derrames de lava sendo também encontrados em diques. As lavas adensíticas estão associadas aos derrames basálticos e riolíticos. De maneira similar aos dioritos, os adensitos derivam de uma mistura de magmas básicos e silícicos ou de uma magma básico contaminado na sua passagem pelas rochas encaixantes. Os adensitos ocorrem nas regiões onde as placas oceânicas e continental colidem. Na linha divisória entre elas, no lado continental, ocorrem os derrames de adensitos. Na placa oceânica se forma os magmas basálticos, enquanto que na continental se formam os magmas riolóticos e traquíticos. O adensito resultaria de uma mistura entre ambos, e assim também se explica sua associação com basaltos e riolitos. ECV5149 – Geologia de Engenharia 84 6.4 Grupo dos gabros 6.4.1 Gabro O gabro é uma rocha magmática máfica (escura) formada a grandes profundidades (intrusiva) e com textura fanerítica formada por minerais maiores que os do diabásio (> 1mm). O principal constituinte dos gabros é o feldspato calco-sódico (plagioclásio), de cor branca. Os minerais escuros são representados por augita e hiperstênio (piroxênios) e olivinas. Sua composição química é pobre em sílica e rica em álcalis. O magma de origem é o mesmo que aquele que forma os diabásios e os basaltos. Os gabros ocorrem em sills, diques grandes e stocks, com tamanhos superiores a vários milhares de quilômetros quadrados e com espessuras de mais de 7 km O gabro apresenta coloração cinzenta, que vai do claro ao escuro, ou preta, com eventual, tonalidade azulada ou esverdeada. Gabro 6.4.2 Diabásio Diabásio é o correspondente hipabissal (rocha formada em baixa profundidade) dos basaltos, isto é, possui a mesma composição química e mineralógica do basalto, mas a textura é um pouco mais grosseira porque o magma teve mais tempo para esfriar que no basalto. É constituído essencialmente de piroxênio e plagioclásio cálcico. Possui cor preta e textura granular fina, raras vezes porfirítica. O diabásio normalmente ocorre em corpos tabulares, que cortam rochas encaixantes, concordante ou discordantemente, denominados "sill" e dique, respectivamente. 6.4.3.Basalto São rochas vulcânicas mais abundantes, tendo como equivalente plutônico (intrusivo) o gabro. ECV5149 – Geologia de Engenharia 85 A textura é microcristalina (grãos muito pequenos, só visíveis ao microscópio), vítrea (com vidro) ou porfirítica (alguns grãos grandes em uma massa de grãos menores). Pode ser às vezes vesicular, o que torna a rocha porosa, semelhante a uma esponja. Nesses casos, pode ocorrer o preenchimento das vesículas, formando amígdalas, que podem ser constituídas por ágata, quartzo, zeolitas ou outros minerais. Onde se extravasaram a partir de grandes fissuras, formaram enormes platôs como, por exemplo, a Bacia do Paraná, cuja maior extensão localiza-se em território brasileiro. Na era Mesozóica (135 milhões de anos) o Brasil foi palco das maiores atividades vulcânicas que se conhece, onde as lavas basálticas extravasaram através de fissuras da crosta terrestre (na altura do Rio Paraná) e cobriram cerca de 1 milhão de km2. Perto de Torres, RS, por exemplo, a espessura dos derrames ultrapassa 1000 metros. O principal uso dos basaltos é na pavimentação e ornamentação de fachadas. Belos cristais de quartzo-ametistas são explorados no RS, no interior de grandes amígdalas, oca por dentro e atapetadas internamente. São as melhores ametistas do mundo e, por isso mesmo, exportadas para muitos países. 7. Vulcanismo Fissural No vulcanismo de fissura a lava proveniente de grande profundidade atinge a superfície através de grandes fendas que se abriram na crosta. A origem desta lava está no manto superior o que explica a composição basáltica e grande fluidez, cor escura e alta densidade. ECV5149 – Geologia de Engenharia 86 Estravasamento do magma através de fissuras] “Admite-se que a origem das fissuras estejam relacionadas com a separação dos continentes.” ECV5149 – Geologia de Engenharia 87 Derrames de basalto no Brasil e no mundo Os principais derrames de basalto ocorreram no Mesosóico e Terciário Superior Os maiores são os da Bacia do Paraná correspondendo a uma área da ordem de 1.200.000 km2 com espessura média de 650m e máxima determinada em Cuiabá Paulista/SP com 1.700 m. Áreas do Brasil afetados pelas atividades vulcânicas do passado geológico (Victor Leinz, 2003) Pode-se especular que a separação entre os continentes Americano e Africano teria se processado ao longo de um linha correspondente aos Rios Tocantins e Paraná passando posteriormente a romper segundo a Cadeia Meso-oceânica. A rocha basáltica escoou por 28 milhões de anos (147 até 119 milhões de anos) Em Santa Catarina chegou-se a uma espessura média de cada derrame da ordem de 35 m. Dos 95.985 km2 da área dos estado de Santa Catarina, 51,5% estão cobertos por derrames de basalto da Formação Serra Geral. ECV5149 – Geologia de Engenharia 88 Uma das melhores exposições dos derrames de basalto em Santa Catarina pode ser vista ao longo da Serra do Rio do Rastro, onde foram identificados nove derrames com espessura entre 50 e 110 m. Certamente os derrames basálticos prolongavam-se mais para o leste, mas a erosão foi provocando o recuo da Serra Geral para oeste, fato confirmado pelos morros testemunhos. 7 Perfil típico de um derrame basáltico O basalto é uma rocha básica, cuja lava apresenta grande fluidez. Ao se espalhar por grandes extensões da superfície terrestre forma um lago de lava em fusão Ao se resfriar tende a se formar uma sucessão de zonas com características estruturais e texturas distintas, são elas: Zona amigdalóide Zona vítrea Zona tabular Zona colunar Apostila Victor Hugo ECV5149 – Geologia de Engenharia 89 7.1.1 .Zona Amigdalóide Ao escoar a lava (temperatura em torno de 1000 oC ) sofre uma redução brusca de temperatura em sua porção superior formando-se uma crosta Os produtos voláteis ( vapor de água e gases) ficam retidos por esta crosta sólida Os gases se aglutinam sob a forma de bolhas denominadas vesículas No interior destas vesículas pode ocorrer a cristalização de minerais tais como o quartzo, nontronita e calcita. Vesículas preenchidas por minerais são chamadas de amígdalas Se o preenchimento for parcial forma os geodos Entre os minerais que podempreencher as vesículas destaca-se a nontronita, devido à sua grande expansividade, absorção e plasticidade deste argilo mineral do grupo das montmorilonitas. ECV5149 – Geologia de Engenharia 90 Características físicas Espessura Espessura é função da velocidade de resfriamento, quantidade de vapor e gases e espessura do derrame. Pode não estar presente ou compor até 50% da espessura do derrame Textura Devido ao rápido resfriamento, a parte superior tende a apresentar textura vítrea Estrutura Amigdalóide ou vesicular Alterabilidade Zona de maior alterabilidade do derrame devido à grande porosidade, intenso fraturamento e presença de minerais expansivos Espessura do solo Tende a formar solo com grandes espessuras e essencialmente argilosos (grupo da montmorilonita) sendo característica a ausência de matacões e blocos devido ao seu intenso fraturamento. Relevo Suavemente ondulado, com boa produtividade agrícola Propriedades de engenharia A zona amigdalóide não é adequada a produção de brita devido ao seu baixo grau de cristalização, grande alterabilidade e porosidade. Existem diversos casos de obra onde o emprego deste basalto apresentou problemas devido à sua rápida alterabilidade. Exemplo: No início da década de 60, engenheiros do RS, SC e PR, empregaram o basalto amigdalóide na parte inferior da pavimentação (reforço da sub-base). Depois de 2 anos começaram a surgir buracos que inviabilizaram a sua utilização. Constatou-se que o basalto amigdalóide se desagregou devido a presença de nontronita gerando uma deformação do pavimento que levou à sua ruptura. 7.1.2. Zona vítrea Assim como a zona amigdalóide apresenta um rápido resfriamento pelo contato com o ar,a zona vítrea se forma pelo rápido resfriamento da lava por dissipação de calor no contato com a rocha sobre a qual escoa. ECV5149 – Geologia de Engenharia 91 Características físicas Espessura Tende a ser reduzida, da ordem de decímetros a centímetros (5 cm a 1 m) Textura Devido ao rápido resfriamento, tende a apresentar textura vítrea Estrutura Por não aprisionar gases sua estrutura tenderá a ser maciça Alterabilidade Devido ao seu baixo grau de cristalização, intenso fraturamento, é grande a sua alterabilidade Espessura do solo Quando exposta ao intemperismo, a zona vítrea sofre rápida transformação em solo argiloso. A espessura do solo não é tão grande devido a pequena espessura desta região do derrame. Relevo Tende a produzir suavizações na declividade da encosta, formando degraus Propriedades de engenharia Devido à sua grande alterabilididade não se mostra adequada à produção de brita. Em algumas regiões de Santa Catarina, como Chapecó, o basalto da zona vítrea e conhecido como meláfiro. 7.1.3. Zona Tabular Estando formada as zonas vítreas e amigalóide, a lava basáltica continua a fluir, mas de forma mais lenta. Ocorre então a formação da zona tabular O fraturamento desta região se dá na horizontal produzindo fragmentos em forma de placas. Características físicas Espessura Com freqüência esta zona não ocorre e quando ocorre, sua espessura é reduzida, variando de zero a 20% da espessura do derrame. Textura Sendo a velocidade de resfriamento intermedíaria entre as demais zonas, apresenta mais comumente textura mecrocristalina. Estrutura Apresente aparentemente uma estrutura maciça, mas o fraturamento provocado pelo fluxo da lava fica evidente quando a rocha se altera. Fraturamento Predomina o fraturamento horizontal, produzindo fragmentos tabular com dimensões de 10 a 20 cm, por 5 a 15 cm e 2 a 5 cm. Alterabilidade Por apresentar um grau de cristalização e fraturamento intermediário, seu fraturamento também será intermediário em relação às outras regiões. Espessura do solo A sua alterabilidade favorece a formação do solo. Dificilmente afloram sendo observados em escarpas naturais Relevo Quando ocorre com grande espessura forma um relevo suave na encosta Propriedades de engenharia A utilização como brita dependerá do ensaio do índice de forma, apresentado pelos fragmentos produzido por britagem. ECV5149 – Geologia de Engenharia 92 Devido ao fraturamento horizontal os fragmentos apresentam a forma tabular o que é indesejável. Um túnel que tenha seu teto colocado na zona tabular, apresentará problema de queda de fragmentos afetando a forma do túnel projetado. Túnel da Barragem de Jacuí/RS. Fig. A mostra a sobre escavação do teto; Fig. B mostra o primeiro estágio da solução e Fig. C o estágio final. 7.1.4. Zona colunar Parte central do derrame e última porção a se solidificar Resfriamento mais lento quando comparado às outras regiões do derrame. Aos 800 a 900 oC a lava já está totalmente solidificada e apresenta grande contração até atingir a temperatura de 50 oC. A contração ocorre com grande intensidade na direção perpendicular a maior dimensão, portanto no sentido vertical. Resultando fragmentos com forma de colunas. Características físicas Espessura Zona mais espessa do derrame, constituindo de 50 a 90% da espessura total Textura Zona de maior grau de cristalização por ser a última a se resfriar. Pode variar entre equigranular fina (< 1mm) à microcristalina ( não visível) Estrutura Maciça também conhecida como basalto denso. Fraturamento Predomina o fraturamento vertical, gerando prismas que tendem à forma hexagonal, devido à contração. Alterabilidade É a zona de menor alterabilidade do derrame, devido ao seu grau de cristalização, ausência de minerais expansivos, espaçamento das fraturas. Espessura do solo Espessura do solo é reduzida Relevo Tende a ser plano e limitado por encostas escarpadas ECV5149 – Geologia de Engenharia 93 Propriedades de engenharia Intensamente explorada como pedra britada devido ao maior grau de cristalização, maior espaçamento entre fraturas, menor alterabilidade e ausência de minerais expansivos. Relevo plano com encosta escarpada possibilita a instalação de pedreiras. 8 Morfologia dos derrames basálticos no sul do Brasil A permeabilidade horizontal do conjunto de derrames, que era maior que na vertical, pode ficar equilibrada pela interligação vertical dos derrames pelas falhas. A água penetra na região da falha, o intemperismo se processa mais rapidamente com formação de solo. O solo é transportado por ação da água inciando-se a formação de uma vale. Os vales evoluem ampliando-se em todos os sentidos apresentando uma morfologia comandada pelas rochas. A alteração da zona vítrea e tabular de um derrame juntamente com a região vesicular do derrame inferior origina solos argilosos produzindo um relevo suave. Já a zona colunar apresentará pequena espessura de solo com relevo plano limitado por escarpas. Desta forma a encosta do vale se apresentará com a forma e degraus. ECV5149 – Geologia de Engenharia 94 Nas faixas compreendidas entre a zona tabular, vítrea e amigdaloide ocorre a formação de fontes, devido à maior permeabilidade destas zonas em relação à região colunar. Na presença de água e em solo argiloso gerado pela alteração das zonas tabular, vítrea e amigdalóide favorece o crescimento de vegetação. Estas cintas de vegetação tornam-se importantes na identificação da posição das regiões do derrame basáltico e do número de derrames>ECV5149 – Geologia de Engenharia 95 9. Tratamento da Fundação de Itaipú a) Características gerais Localização: Rio Paraná na fronteira Brasil-Paraguai Período de construção: 1975 a 1982 Altura : 180 m Comprimento : 7900 m Tipo de Barragem: Gravidade aliviada e Terra/enrocamento b) Geologia Local Na área do projeto o Rio Paraná se desenvolve em um “canyon” de 125 m de profundidade e 500 m de largura Maciço rochoso é constituído de por uma sucessão de 5 derrames basálticos, com mergulho 2º NE e espessura variando de 20 a 65 m. A cada derrame está associada uma descontinuidade com mergulho paralelo às camadas e que tiveram sérias implicações na estabilidade e projeto de escavação Seção geológica pela barragem principal As falhas horizontais podem se estender por centenas de metros e variar de uma fenda até dois metros de espessura sendo denominadas por Guidicini e Campos (1968) por “Juntas-Falhas”. As “juntas-falhas” apresentam variações em termos de abertura e tipo de preenchimento, com contatos, desde rocha-rocha a preenchimentos que variam desde simples películas a espessuras decimétricas Na Barragem de Itaipu as aberturas destas juntas variaram de 1 a 20 cm apresentando preenchimento com material argiloso e siltoso. Souza e Campos (1987) descrevem estas descontinuidades subdividindo-as em dois grupos: Falhas horizontais de origem primária Falhas horizontais de origem secundária ECV5149 – Geologia de Engenharia 96 Modelo I – Origem Primária Existência de zonas de velocidades diferenciais de fluxo, por ocasião do extravasamento da lava, originando dias descontinuidades horizontais ou sub-horizontais de grande continuidade lateral, localizada no núcleo do derrame. Hipótese sobre a gênese das juntas de grande continuidade em função das diferentes velocidades de fluxo Modelo II – Origem Secundária Após os surgimento das falhas do modelo I e consolidação do núcleo dos derrames teriam ocorrido deslocamentos horizontais ao longo das referidas descontinuidades como resposta a solicitações regionais de natureza compressiva, gerada por esforços interplacas, ou em vales erosivos devido ao desconfinamento lateral. c) Tratamento das fundações da Barragem de concreto Injeção de colagem Executada na fundação da cabeça dos blocos em duas linhas inclinadas de 20º e 30º para jusante. Com a finalidade de promover uma perfeita ligação entre estes blocos e a superfície do maciço rochoso. Injeção de consolidação Objetivo de reforçar a rocha supostamente abalada pelos fogos e as fundações sobre brechas na tentativa de melhorar as suas condições de deformabilidade. Cortina principal de impermeabilização Cortina de calda de cimento injetada com profundidade de 120 m sendo injetados 250.000 m de furo. ECV5149 – Geologia de Engenharia 97 Tratamento por chavetas concretadas As chavetas consistem em túneis, preenchidos com concreto, com o objetivo de minimizar possíveis problemas de deformabilidade e aumentar a resistência ao cisalhamento nas feições mais fragilizadas do maciço de fundação. Este tratamento foi executado ao longo das zonas cisalhadas na fundação dos blocos do leito do rio e no contato entre os derrames C e D. Toda a área tratada por chavetas foi circundada por um túnel de drenagem A execução deste tratamento representou a escavação de 3160 m lineares de túneis para chaveteamento e de mais 700 m referentes ao túnel de drenagem perimetral. Secção da barragem principal com os tipos de tratamento de injeção ECV5149 – Geologia de Engenharia 98 Antes das injeções Após as injeções Perda d´água do maciço rochoso ECV5149 – Geologia de Engenharia 99 Barragem Principal – Tratamento da fundação por chavetas