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DIREITOS REAIS DE GARANTIA É o direito que se confere ao seu titular o poder de obter o pagamento de uma dívida com o valor ou a renda de um bem aplicado exclusivamente à sua satisfação. Colocando o credor a salvo da insolvência do devedor, com sua outorga o bem dado em garantia sujeitar-se-á, por vínculo real, ao adimplemento da obrigação contraída pelo devedor. Tem por escopo garantir ao credor o recebimento do débito, por estar vinculado determinado bem pertencente ao devedor ao seu pagamento. O direito de garantia é o que vincula diretamente ao poder do credor determinada coisa do devedor, assegurando a satisfação de seu crédito se inadimplente o devedor. É um direito real, porque adere imediatamente à coisa, sendo oponível erga omnes e provida de sequela, aperfeiçoando-se após a tradição ou registro; entretanto, apresenta-se como um direito acessório, uma vez que sua existência só se compreende se houver uma relação jurídica obrigacional, cujo resgate pretende assegurar. O débito é o principal e a garantia real, o acessório, seguindo o destino do primeiro, extinguindo-se com a extinção do primeiro. Requisitos subjetivos: além da capacidade genérica para os atos da vida civil, o art. 1420 exige a de alienar, ao prescrever: “Só aquele que pode alienar poderá empenhar, hipotecar ou dar em anticrese; só os bens que se podem alienar poderão ser dados em penhor, anticrese ou hipoteca”. Logo, só o proprietário pode dar um objeto em garantia real, desde que tenha a livre disposição do bem; nula será a constituição desse direito, feita por quem não é dono da coisa. O que não quer dizer que os relativa ou absolutamente incapazes, por meio de seus representantes ou de autorização judicial, não possam dar um bem como garantia real de suas dívidas. Requisitos objetivos: só os bens que se podem alienar poderão ser dados em penhor, anticrese ou hipoteca. Logo, somente bens suscetíveis de alienação é que podem ser dados em garantia real, excluindo-se, portanto, coisas fora do comércio, bens inalienáveis, bem de família, imóveis financiados pelos Institutos e Caixa de Aposentadorias e Pensões. De modo que nulas serão as garantias reais que recaírem sobre bens gravados de inalienabilidade. Igualmente será nula a constituição da garantia real sobre coisa alheia. Efeitos: a) Preferência em benefício do credor pignoratício ou hipotecário, prioritariamente, o valor da dívida, ao promover a excussão do bem dado em garantia, pagando-se com o produto de sua venda judicial. Se sobrar alguma quantia, devolver-se-á o remanescente ao devedor ou pagar-se-á aos seus demais credores. b) Direito à excussão da coisa hipotecada ou empenhada, quando o débito vencido não for pago, isto é, de promover sua venda judicial em hasta pública, para com o preço alcançado pagar-se, prioritariamente, aos outros credores, mas se o prédio for objeto de garantia real a mais de um credor, observa-se quanto à hipoteca a prioridade no registro, ou melhor, o credor da segunda hipoteca tem garantia da coisa hipotecada, gozando desse seu privilégio em segundo plano; quanto à primeira, só será pago depois do credor da hipoteca registrada em primeiro lugar, embora privilegiadamente em relação aos quirografários. c) Direito de sequela, que vem a ser o poder de seguir a coisa dada como garantia real em poder de quem quer que se encontre, pois mesmo que se a transmita por ato jurídico inter vivos ou mortis causa continua ela afetada ao pagamento do débito. Mesmo que passe a incorporar o patrimônio do adquirente, permanece como objeto de garantia da dívida do alienante, até que esta seja solvida. d) Indivisibilidade do direito real de garantia, pois adere-se ao bem gravado por inteiro e em cada uma de suas partes; enquanto vigorar não se pode eximir tal bem desse ônus real e muito menos aliená-lo parcialmente. 1. PENHOR Com fundamento no art. 1.431, poder-se-á definir o penhor como um direito real que consiste na transferência efetiva de uma coisa móvel ou mobilizável, suscetível de alienação, realizada pelo devedor ou por terceiro ao credor, a fim de garantir o pagamento do débito. É direito acessório, como decorrência do fato e ser um direito real de garantia, sendo, portanto, acessório da obrigação que gera a dívida que visa garantir, embora possa ser constituído juntamente com esta ou em instrumento apartado, na mesma data ou em momento posterior. Com isso, o penhor segue o destino da obrigação principal, de modo que se esta se extinguir, por ex., pela prescrição, ou for decretada nula, desaparece o direito real. Esta regra só encontra exceção no art. 1.433, II, C.C., que autoriza o credor a reter o bem até que seja indenizado de todas as despesas devidamente justificadas que realizou com o objeto ou a retê- lo até que receba a indenização ou o ressarcimento de todos os prejuízos que sofreu em virtude de vícios que a coisa empenhada continha (1.433, III). Recai, em regra, sobre coisa móvel, seja ela singular ou coletiva (penhor solidário), corpórea ou incorpórea. Se incidir sobre coisa infungível, deverá ser ela individuada. Entretanto, nem sempre recai o penhor sobre bem móvel, pois há penhores especiais que incidem sobre coisas imóveis por acessão física ou intelectual, como o penhor rural e industrial, e sobre direitos. E casos há em que coisas móveis tornam-se objeto de hipoteca, como sucede com os navios, ferrovias e aeronaves. É nulo o pacto comissório (1.428); logo não poderá o credor pignoratício se apropriar do bem empenhado. É um direito real uno e indivisível, mesmo que a obrigação garantida ou a coisa onerada seja divisível. A amortização não libera parcialmente o bem empenhado, salvo se o contrário se estipulou no título ou na quitação; o ônus real permanecerá indivisível até que se pague o débito por inteiro. É temporário, não podendo ultrapassar o prazo estabelecido. Operada a extinção do penhor por qualquer desses casos, o credor deverá restituir o objeto empenhado. Todavia, a extinção do penhor só produzirá efeitos depois de averbado o cancelamento do registro, à vista da respectiva prova (1.437). 1.1. MODOS DE CONSTITUIÇÃO Por convenção: caso em que o credor e devedor estipulam a garantia pignoratícia, conforme seus próprios interesses. O penhor convencional deverá ser feito por instrumento público ou particular, sendo, portanto, um contrato solene. Tal instrumento deverá ser levado a registro por qualquer dos contratantes; o do penhor comum será registrado no Cartório de Títulos e Documentos. Por lei: quando, para proteger certos credores, a própria norma jurídica lhes confere direito de tomar certos bens como garantia até conseguirem obter o total pagamento das garantias que lhes devem. Constitui-se o penhor legal mediante o requerimento do credor ao magistrado, para que este o homologue, porém, se houver perigo na demora, o credor poderá tornar efetivo o penhor antes de recorrer ao juiz. Art. 1.467. São credores pignoratícios, independentemente de convenção: I. Os hospedeiros, ou fornecedores de pousada ou alimento, sobre as bagagens, móveis, jóias ou dinheiro que os seus consumidores ou fregueses tiverem consigo nas respectivas casas ou estabelecimentos, pelas despesas ou consumo que aí tiverem feito; II. O dono do prédio rústico ou urbano, sobre os bens móveis que o rendeiro ou inquilino tiver guarnecendo o mesmo prédio, pelos aluguéis ou rendas. 1.2. DIREITOS DO CREDOR PIGNORATÍCIO Art. 1.433. O credor pignoratício tem direito: I. À posse da coisa empenhada; II. À retenção dela, até que o indenizem das despesas devidamente justificadas, que tiver feito, não sendo ocasionadaspor culpa sua; III. Ao ressarcimento do prejuízo que houver sofrido por vício da coisa empenhada; IV. A promover a execução judicial, ou a venda amigável, se lhe permitir expressamente o contrato, ou lhe autorizar o devedor mediante procuração; V. A apropriar-se dos frutos da coisa empenhada que se encontra em seu poder; VI. A promover a venda antecipada, mediante prévia autorização judicial, sempre que haja receio fundado de que a coisa empenhada se perca ou deteriore, devendo o preço ser depositado. O dono da coisa empenhada pode impedir a venda antecipada, substituindo-a, ou oferecendo outra garantia real idônea. Art. 1.434. O credor não pode ser constrangido a devolver a coisa empenhada, ou uma parte dela, antes de ser integralmente pago, podendo o juiz, a requerimento do proprietário, determinar que seja vendida apenas uma das coisas, ou parte da coisa empenhada, suficiente para o pagamento do credor. 1.3. ESPÉCIES DE PENHOR A) Penhor legal. Determina a norma jurídica que serão credores pignoratícios, independentemente de convenção, todos aqueles que preencherem as condições e formalidades legais, podendo, então, apossar-se dos bens do devedor, retirando-os de sua posse, para sobre eles estabelecer o seu direito real, revestido de sequela, preferência e ação real exercitável erga omnes. B) Penhor rural. Sob a rubrica “penhor rural” prevê o C.C. tanto o penhor agrícola como o pecuário. O agrícola é o vínculo real que grava culturas e bens a ela destinados, e o pecuário, animais integrantes de atividade pastoril, agrícola ou de laticínios. Podem ser objeto do penhor agrícola (1.442): colheitas pendentes ou em via de formação, quer resultem de prévia cultura, quer de produção espontânea do solo; frutos armazenados, ou acondicionados para venda; lenha cortada e carvão vegetal; máquinas e instrumentos agrícolas; animais do serviço ordinário de estabelecimento agrícola; e do penhor pecuário: os animais (gado vacum, muar, cavalar, ovídeo e caprídeo) que integram a atividade pastoril, agrícola ou de laticínios (1.444). O credor terá direito, sendo penhor rural, de verificar o estado das coisas empenhadas, inspecionando-as, onde se encontrarem, por si ou por pessoa que credenciar (1.441) por meio de procuração ou de mera autorização. Percebe-se que o penhor rural tem por objeto, ao lado dos bens móveis, como frutos já separados ou lenha cortada, os imóveis por acessão física ou intelectual, pois pelos arts. 93 e 79 do C.C. são considerados como imóveis as culturas, frutos pendentes, máquinas e animais empregados no serviço de uma propriedade rural. Dispensa-se o requisito da tradição no penhor rural (art. 1.431, p. ú.), pois os bens empenhados continuarão em poder de seus proprietários devedores. O credor recebe a posse indireta, enquanto o devedor conserva a posse direta, na qualidade de depositário da cultura ou dos animais que deu como garantia do pagamento de seu débito. O penhor rural constituído por instrumento público ou particular deve ser registrado, para ter eficácia contra terceiros, no Cartório de Registro de Imóveis da circunscrição em que estiverem situados os bens ou animais empenhados. Dispensa-se a anuência do credor hipotecário para a formação de penhor agrícola e pecuário, quando gravado o imóvel (1.440). A fim de proteger o credor, a lei não autoriza a venda de animal empenhado sem o seu prévio consentimento (1.445), praticando ato ilícito todo aquele que, de má-fé, adquirir gado empenhado, devendo ser coagido a ressarcir o dano causado ao credor. A violação do art. 1.445 do C.C. configura delito de defraudação do penhor, previsto no art. 171, III, CP. Não pode haver alteração do penhor, logo, se animais empenhados vierem a morrer, o devedor deverá substituí-los por outros, para resguardar a garantia. Tal substituição só valerá contra terceiros, se constar de menção adicional ao contrato de penhor, e se averbada for no respectivo registro (1.446, p. ú.). O penhor comum não sofre limitação no tempo; o mesmo não ocorre com o rural, já que o prazo do penhor agrícola não pode ser superior a 3 anos (1.439), devendo ser averbada no registro respectivo (1.439, §2º). O prazo do penhor pecuário não excederá 4 anos (1.439), suscetível de prorrogação por até mais 4 anos, uma vez averbada à margem do respectivo registro a requerimento do credor e do devedor (1.439, §2º). Se a quantia apurada na venda judicial não for suficiente para solver integralmente o débito, o credor poderá prosseguir na excussão, penhorando outros bens do devedor. A excussão não se suspende nem mesmo em razão de falecimento ou falência do devedor, prosseguindo com os seus herdeiros ou seu administrador judicial. C) Penhor industrial. O penhor industrial recai sobre máquinas, aparelhos materiais, instrumentos, instalados e em funcionamento, com os acessórios ou sem eles; animais utilizados na indústria; sal e bens destinados à exploração das salinas; produtos de suinocultura; animais usados na industrialização de carnes e derivados; matérias-primas e produtos industrializados (1.447). Caracterizando-se pela dispensa da tradição da coisa onerada, o devedor continua na sua posse, equiparando-se ao depositário para todos os efeitos (1.431, p. ú.). Constitui-se o penhor industrial por instrumento público ou particular, devidamente registrado no Cartório de Registro de Imóveis onde os bens gravados se encontrarem (1.448). O devedor não poderá, sem o consentimento escrito do credor, alterar a coisa empenhada, nem mudar-lhe a situação. O credor tem o direito de verificar o estado do bem empenhado, inspecionando-o onde estiver, por si ou por meio de pessoa credenciada (1.450). D) Penhor mercantil. Essencialmente, não há nenhuma diferença entre o penhor mercantil e o civil; distingue-se do civil apenas pela natureza da obrigação que visa garantir. Esta obrigação é comercial decorrente do exercício de atividade econômica organizada para a produção e circulação de bens ou serviços. Não requer a tradição da coisa empenhada ao credor. E) Penhor de direitos. Podem ser objeto do penhor, direitos suscetíveis de cessão, sobre coisas móveis (83, II e 1.451), como: as ações de S/A; as ações de companhias de seguro; as ações de companhias aeronáuticas; as ações ou quotas de capital de bancos de depósito; as patentes de invenções; ações negociadas em bolsas de valores ou no mercado futuro, etc. Art. 1.452. Constitui-se o penhor de direito mediante instrumento público ou particular, registrado no Registro de Títulos e Documentos. Parágrafo único. O titular de direito empenhado deverá entregar ao credor pignoratício os documentos comprobatórios desse direito, salvo se tiver interesse legítimo em conservá- los. F) Penhor de títulos de créditos. O objeto do penhor de título de crédito é o próprio título em que se documenta o direito. O direito de crédito materializa-se ao incorporar-se no documento, sendo, portanto, seu objeto o documento representativo do crédito (coisa corpórea) e não os respectivos direitos (coisas incorpóreas), caso em que se teria o penhor de direitos. Com isso não se tem um penhor de coisa, porque seu objeto não deixa de ser o direito de crédito corporificado no título. O penhor dos títulos de crédito constitui-se mediante instrumento público ou particular ou endosso pignoratício lançado no próprio título, e só produzirá efeitos jurídicos com a tradição do título ao credor, pois a transferência do direito opera-se com a entrega do título ou da cártula ao credor (1.458). G) Penhor de veículos. Podem ser objetodesse penhor veículos empregados em qualquer espécie de transporte (de pessoas ou mercadorias) ou condução (1.461), pelo prazo de 2 anos, prorrogáveis por mais 2 (1.466), mediante instrumento público ou particular, devendo, para produzir efeito erga omnes, ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do devedor e anotado no certificado de propriedade, junto à repartição de trânsito (1.462). Não se poderá fazer tal penhor sem que os veículos estejam previamente segurados contra furto, avaria, perecimento e danos morais e/ou patrimoniais causados a terceiros (1.463). A alienação (onerosa ou gratuita) ou a mudança (troca, alteração substancial, como substituição do motor) do veículo empenhado, sem prévia comunicação escrita ao credor, importam no vencimento antecipado do crédito pignoratício (1.465) por haver presunção de fraude ou diminuição daquele crédito. 2. ANTICRESE É uma convenção, mediante a qual o credor, retendo um imóvel do devedor, percebe, em compensação da dívida, os seus frutos e rendimentos para conseguir a soma de dinheiro emprestada, imputando na dívida, e até o seu resgate, as importâncias que for recebendo. A anticrese autoriza, portanto, o credor a reter o imóvel, para perceber os seus frutos e rendimentos com o escopo de compensar o débito dos juros e amortizar o capital da dívida (1.506), não tendo o direito de promover a venda judicial do bem dado em garantia. Requer capacidade das partes, inclusive para o devedor anticrético, de dispor do imóvel, mas não impede que terceiro ceda ao credor o direito de perceber frutos e rendimentos de um bem de raiz que lhe pertence, para solver dívida do devedor (1.506). Percebe-se que o devedor anticrético ou esse terceiro devem ser proprietários do bem onerado, não ficando privados de aliená-lo, porém o credor anticrético pode ir buscá-lo das mãos do adquirente, para retirar os frutos e pagar-se de seu crédito. Portanto, o credor anticrético ou anticresista é aquele que se investe na posse jurídica do imóvel, fazendo jus aos seus frutos e rendimentos, para cobrar- se de seu crédito, não tendo, como se vê, o jus disponendi ou vendendi. O seu objeto recai sobre coisa imóvel alienável, pois se incidir sobre vem móvel, ter-se-á penhor e não anticrese. Requer a tradição real do imóvel. O anticresista tem direito de preferência (1.509) sobre qualquer outro crédito posterior, de modo que o credor hipotecário, com registro posterior, não pode executar o imóvel, enquanto a anticrese subsistir. O credor anticrético tem a obrigação de restituir o imóvel ao devedor, findo o prazo do contrato ou quando o débito for liquidado, com baixa no registro. 3. HIPOTECA A hipoteca é um direito real de garantia de natureza civil, que grava coisa imóvel ou bem que a lei entende por hipotecável, pertencente ao devedor ou a terceiro, sem transmissão de posse ao credor, conferindo a este o direito de promover a sua venda judicial, pagando-se, preferentemente, se inadimplente o devedor. É, portanto, um direito sobre o valor da coisa onerada e não sobre sua substância. O objeto gravado deve ser da propriedade do devedor ou de terceiro, que dá imóvel seu para garantir a obrigação contraída pelo devedor. Exige que o devedor hipotecante continue na posse do imóvel onerado, que exerce sobre ele todos os seus direitos, podendo, inclusive, perceber-lhe os frutos. Só vem a perder sua posse por ocasião da excussão hipotecária, se deixou de cumprir sua obrigação. Pelo art. 1.428 do C.C., nula será qualquer cláusula comissória que confira ao credor a posse da coisa dada em garantia. É indivisível, no sentido de que o ônus real grava o bem em sua totalidade; enquanto não se liquidar a obrigação, a hipoteca subsiste, por inteiro, sobre a totalidade da coisa onerada, ainda que haja pagamento parcial do débito. Podem ser objeto de hipoteca: Art. 1.473. Podem ser objeto de hipoteca: I. Os imóveis e os acessórios dos imóveis conjuntamente com eles; → Os imóveis por sua natureza (79, C.C.) e seus acessórios, abrangendo o solo e acessões, ou seja, tudo quanto se lhe incorporar natural (por ex. aluvião e avulsão) ou artificialmente (por ex. plantações ou construções (art. 1.474) de qualquer espécie, por ex., casas, edifícios), sendo, também, suscetíveis de hipoteca os apartamentos em edifícios em condomínio (1.331, §1º), independentemente do consentimento dos demais consortes. II. O domínio direto; III. O domínio útil; IV. As estradas de ferro; V. Os recursos naturais a que se refere o art. 1.230, independentemente do solo onde se acham; VI. Os navios; VII. As aeronaves. VIII. Direito de uso especial para fins de moradia; IX. O direito real de uso; X. A propriedade superficiária. Esse direito real de garantia requer a capacidade de alienar do devedor; só o que pode alienar é que poderá hipotecar, já que, se o débito não for pago, o imóvel onerado será vendido em hasta pública. Se, porventura, a hipoteca for constituída por que não é proprietário, nula será, salvo se o devedor estiver de boa-fé, revalidando-se o ônus real se ele adquirir posteriormente a propriedade (1.420, §1º). A hipoteca pode constituir-se por contrato (hipoteca convencional), por disposição legal (hipoteca legal), por sentença (hipoteca judicial). Em qualquer dessas hipóteses há sempre um título ou documento que materializa tal garantia sobre determinado bem. Seu efeito principal é o de vincular um bem imóvel ao cumprimento de uma obrigação. Uma vez constituído o ônus real, passará o devedor a sofrer limitações nos seus direitos sobre o bem onerado, pois não poderá constituir outro direito real sobre o imóvel hipotecado. Será considerada nula a cláusula que proibir o proprietário de alienar imóvel hipotecado. A hipoteca de bem hipotecado denomina-se sub-hipoteca. Só se permite essa nova hipoteca, se não houver cláusula proibitiva e mediante a feitura de novo título, não se admitindo a mera averbação no registro imobiliário. Antes de vencida a primeira hipoteca, não poderá o credor da sub-hipoteca excuti-la, devendo esperar o vencimento da antecedente. Quanto os efeitos em relação ao credor, tem-se que o seu direito de execução pressupõe a exigibilidade da dívida, ou seja, seu vencimento e inadimplemento. O imóvel será executado por meio de ação de execução, iniciando-se com a penhora do bem gravado. Se a execução for insuficiente para pagar o exequente, este poderá penhorar outros bens do devedor e, se sobrevier falência deste, suspender-se-á a execução. No que concerne aos seus efeitos quanto à relação jurídica em si mesma, é preciso salientar que a hipoteca convencional pode ser estipulada por qualquer prazo; a legal, por sua vez, perdura indefinidamente, enquanto se prolongar a situação jurídica que visa garantir. Portanto, a estipulação desse prazo na hipoteca convencional ficará ao arbítrio das partes, devendo o contrato hipotecário mencionar o prazo fixado para o vencimento do ônus real em tela (1.424, II), lapso de tempo esse que não poderá exceder a 30 anos, mas se for estipulado por prazo superior, não há nulidade do contrato, nem do ônus real; opera-se pleno iure, a redução do prazo ao limite legal. Logo, a prorrogação não pode ultrapassar 30 anos da data do contrato. Decorrido este prazo, ter-se-á a perempção da hipoteca, não mais podendo o credor excuti-la, pois a hipoteca não mais prevalece. Entretanto, se as partes quiserem continuar com o ônus real deverão reconstituir nova hipoteca, por novo título e novo registro, mantida a precedência que lhe competia. Relativamente aos seus efeitos em relação a terceiros é precisoobservar que é lícita a alienação do imóvel hipotecado a terceiro, que o recebe juntamente com o ônus que o gravo (1.475). Relativamente aos seus efeitos em relação a terceiros é preciso observar que é possível a sub- rogação, que se dá pela substituição do credor satisfeito por aquele que paga ou fornece o numerário para a solutio. Remição da hipoteca (651) é o direito concedido a certas pessoas, de liberar o imóvel onerado, mediante pagamento da quantia devida, independentemente do consentimento do credor. Se terceira pessoa adquire o bem gravado, como livre e desembaraçado de qualquer ônus real, e não for incomodada durante 10 anos, consuma-se a prescrição aquisitiva (1.242). 3.1. ESPÉCIES DE HIPOTECA A) Hipoteca legal. É aquela que a lei confere a certos credores, que, por se encontrarem em determinada situação e pelo fato de que seus bens são confiados à administração alheia, devem ter uma proteção especial. Art. 1.489. A lei confere hipoteca: I. Às pessoas de direito público interno (art. 41) sobre os imóveis pertencentes aos encarregados da cobrança, guarda ou administração dos respectivos fundos e rendas; II. Aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior; III. Ao ofendido, ou aos seus herdeiros, sobre os imóveis do delinquente, para satisfação do dano causado pelo delito e pagamento das despesas judiciais; IV. Ao coerdeiro, para garantia do seu quinhão ou torna da partilha, sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente; V. Ao credor sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do restante do preço da arrematação. Art. 1.490. O credor da hipoteca legal, ou quem o represente, poderá, provando a insuficiência dos imóveis especializados, exigir do devedor que seja reforçado com outros. Art. 1.491. A hipoteca legal pode ser substituída por caução de títulos da dívida pública federal ou estadual, recebidos pelo valor de sua cotação mínima no ano corrente; ou por outra garantia, a critério do juiz, a requerimento do devedor. Art. 1.497. As hipotecas legais, de qualquer natureza, deverão ser registradas e especializadas. B) Hipoteca judicial. Art. 466. A sentença que condenar o réu no pagamento de uma prestação, consistente em dinheiro ou em coisa, valerá como título constitutivo de hipoteca judiciária, cuja inscrição será ordenada pelo juiz na forma prescrita na Lei de Registros Públicos. Parágrafo único. A sentença condenatória produz a hipoteca judiciária: I. Embora a condenação seja genérica; II. Pendente arresto de bens do devedor; III. Ainda quando o credor possa promover a execução provisória da sentença. C) Hipoteca cedular. Para certas hipotecas constitui-se cédula crédito-hipotecária, que consiste num título representativo de crédito com este ônus real, sempre nominativo mas transferível por endosso e emitido pelo credor.
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