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Inteligência Emocional Aplicada

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ESPIRITO SANTO 
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADA 
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO – FAVENI 
 
 
 
 
ESTUDANDO SOBRE O TEMA 
 
Fonte: www.fasdapsicanalise.com.br 
Inteligência e emoção são dois temas tradicionalmente polêmicos que, 
mesmo após várias décadas de estudos, ainda despertam interesse e fomentam 
debates dentro e fora do ambiente acadêmico, existindo, para cada um deles, 
um vasto campo de teorização e pesquisa. Desde o século XIX a inteligência 
humana tornou-se objeto de estudo de cientistas em todo o mundo, quando 
Herbert Spencer e Francis Galton apontaram para uma capacidade humana 
geral, distinta de todas as outras (Butcher, 1968/1972). 
Nessa época, movidos pelo interesse em compreender os processos 
mentais, neurologistas, psiquiatras psicólogos e outros estudiosos se 
envolveram na investigação científica da inteligência, compreendida, então, 
como uma capacidade geneticamente determinada. 
Entretanto, as provas relacionadas a esta proposição teórica eram muito 
frágeis, pois desprezavam as influências do meio e não efetuavam o correto 
controle de variáveis, como idade e tempo de aplicação dos testes, para avaliar 
a inteligência. Os estudos sobre a inteligência orientaram-se, segundo a visão 
de Almeida (1996), por dois eixos básicos de definição: um concebendo-a como 
um fator geral com função integradora das diversas habilidades intelectuais 
 
 
 
(Binet & Simon, 1905; Wechsler, 1950) e outro tendo-a como um conjunto de 
aptidões independentes (Guilford, 1959). 
Dentro do primeiro enfoque de inteligência, surgiu em 1905 a primeira 
escala satisfatória para avaliar diferenças intelectuais desenvolvida por Binet e 
Simon, tendo sido significativamente alterada nos anos subsequentes. Em 1909, 
Burt publicou os primeiros testes padronizados para crianças tidas como 
mentalmente deficientes (Butcher, 1968/ 1972). 
A revisão das escalas Binet-Simon deu origem aos testes de Quociente 
Intelectual Stanford-Binet, que passaram a levar em consideração, pela primeira 
vez, a idade cronológica como uma variável importante para se compreender o 
significado de idade mental (Telford & Sawrey, 1968/ 1977). O modelo de 
inteligência que se constituiu com estes primeiros testes de quociente intelectual 
(Q.I.) estimulou a visão da inteligência como a capacidade de processamento de 
informações ligadas às habilidades necessárias para o sucesso acadêmico. Isto 
ocorreu em função de se buscar avaliar os aspectos relacionados às 
capacidades lógico-matemática e lingüística dos indivíduos, o que proporcionou 
aos testes de inteligência ampla aceitação nos mais diversos contextos e, em 
especial, no ambiente escolar, como forma de avaliar os alunos e separá-los de 
acordo com o nível intelectual que apresentavam. 
O segundo eixo de concepção da inteligência orientou-se pelo 
entendimento de que ela seria formada por conjuntos de aptidões 
independentes. Guilford (1959) elaborou um modelo tridimensional de formato 
cúbico para representar as categorias de funcionamento intelectual. As três 
faces do intelecto, segundo o modelo de Guilford, dizem respeito à capacidade 
de realizar operações, dar origem a produtos e manifestar conteúdos a nível 
intelectual. As aptidões independentes apontadas por Guilford referem-se à 
compreensão verbal, fluência verbal, aptidão numérica, rapidez perceptiva, 
aptidão espacial, memória e raciocínio (Almeida, 1996). 
Este modelo deu origem a uma bateria de testes multifatoriais muito úteis 
para escolas e empresas, usados em situações de orientação vocacional e 
avaliações psicológicas nos mais diversos contextos. Paralelamente a estes 
estudos surgiram, nas primeiras décadas do século, as proposições iniciais 
 
 
 
sobre inteligência social (Broom, 1928, 1930; McClatehy, 1929; Thorndike, 1936) 
cujo âmbito de interesse eram as habilidades para decodificar informações do 
contexto social. Em 1966, O’Sullivan e Guilford elaboraram um teste de seis 
fatores de inteligência social com vistas a representar, através desta medida, a 
face comportamental do modelo de Guilford (1959; 1967) sobre a estrutura do 
intelecto. Essa nova modalidade de inteligência foi, posteriormente, revisada por 
Ford e Tisak (1983) e redefinida como um critério comportamental, representado 
por habilidades para atingir objetivos relevantes em ambientes sociais 
específicos. Essas proposições sobre a inteligência social atribuíram maior 
ênfase ao processamento de informações produzidas pelo meio social do que 
àquelas de cunho lógico-matemático e linguístico tão amplamente ressaltadas 
dentro do contexto acadêmico. Inicia-se, com a inteligência social, uma tentativa 
de compreender a inteligência como um fenômeno mais amplo. Dentro deste 
enfoque, as informações presentes no meio social seriam os elementos 
principais que alimentariam o processo intelectual. Redireciona-se, desse modo, 
o eixo central de teorização sobre essas habilidades, saindo-se de um foco que 
priorizava o processamento de estímulos lógico-matemáticos e linguísticos para 
uma ênfase nos sinais produzidos pela vida social. 
A inteligência social, portanto, aparece como uma proposta de 
compreender as capacidades intelectuais humanas tornando como área de 
teorização o processo cognitivo de captar e decodificar, com habilidade, 
informações providas pelo meio social e de apresentar estratégias 
comportamentais eficazes para atingir objetivos sociais, dentro de um contexto 
particular. Tal postura teórica é defendida pelos seus proponentes (Keating, 
1978; Ford & Tisak, 1983) como uma complementação ao campo abarcado pela 
visão tradicional de inteligência, a qual não contempla outras áreas de 
habilidades relevantes para o processo educacional. Em 1995, Gardner introduz, 
no meio cientifico, uma outra abordagem sobre a inteligência, entendida como 
“capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos que são importantes 
em um determinado ambiente ou comunidade cultural” (Gardner, 1993/1995, p. 
21). O autor argumenta que vários conjuntos de habilidades humanas possuem 
as características necessárias para serem classificadas como inteligências 
 
 
 
distintas. Configura-se, desta maneira, uma inovadora leitura do intelecto 
humano denominada teoria das inteligências múltiplas, constituindo uma visão 
pluralista do intelecto humano, assemelhando-se àquela posição já 
anteriormente apresentada por Guilford. Na proposição de Gardner, entretanto, 
a multidimensionalidade da inteligência humana não seria constituída por um 
conjunto de aptidões independentes como defendia Guilford mas, sim, por 
inteligências específicas que iriam se manifestar na medida em que existisse a 
necessidade de criar um produto cultural. 
Assim sendo, a abordagem das inteligências múltiplas, reconhecendo as 
capacidades universais da espécie humana, baseia-se num sistema 
computacional com base neurológica, tendo cada uma das inteligências 
determinados tipos de informações internas e externas que as desencadeariam. 
Em sua formulação teórica, Gardner identifica sete tipos de inteligência. 
Mantendo em sua lista as já tradicionais inteligências lógico-matemática e 
linguística, ele inclui as inteligências musical, espacial e corporal-cinestésica, 
ressaltando possíveis influências socioculturais sobre o potencial humano e 
postula duas outras inteligências de cunho predominantemente sócio emocional, 
denominadas inteligência intrapessoal e interpessoal. 
Esta teorização mescla a visão clássica com as recentes descobertas 
neurofisiológicas sobre o funcionamento do intelecto. Assim, a grande 
contribuição de Gardner para o estudo da inteligênciaé justamente a 
sedimentação das mais diversas teorias que, há décadas, buscavam ampliar a 
concepção de inteligência para além das habilidades acadêmicas. Em um outro 
âmbito de produção científica, encontram-se os estudos relacionados ao tema 
emoção. No século passado, em 1884, James foi o primeiro a sugerir que as 
alterações fisiológicas que ocorrem no corpo são a base da experiência 
emocional e que a percepção destas alterações no organismo é que 
constituiriam a emoção (Cofer, 1972/1980). 
Essas primeiras formulações e as recentes descobertas no campo da 
neurologia, como as relatadas por Damásio (1994/1996), tornaram-se 
fundamentais para ampliar a compreensão das experiências emocionais. Este 
autor descreve a emoção como alterações orgânicas de nível neural e químico, 
 
 
 
desencadeadas por estímulos externos ou internos, relacionados a imagens 
mentais e pensamentos que sofrem influência do contexto social e cultural onde 
se encontra o indivíduo. O autor afirma que este processo ocorre sob o controle 
de estruturas subcorticais e também neocorticais, introduzindo uma relação mais 
próxima entre emoção e as funções intelectivas do neocortex. 
Damásio (1994/1996) também propõe uma classificação dos 
sentimentos divididos entre os de cunho emocional e os de fundo. Os primeiros 
são relacionados à leitura de estados emocionais como alegria e tristeza e, os 
segundos, à leitura da imagem do corpo quando o mesmo não se encontra 
agitado pelos estados emocionais. 
Assim, os sentimentos seriam os responsáveis pela cognição do estado 
visceral, muscular e esquelético do corpo, o que permitiria ao indivíduo efetuar 
uma leitura do que acontece durante os estados emocionais e de fundo. Desta 
maneira, a justaposição das imagens do corpo, produzidas pelas emoções, com 
outras imagens presentes ou despertadas na memória estimulariam atribuição 
positiva ou negativa a uma determinada situação como sendo, por exemplo, de 
prazer ou dor. 
Damásio (1994/1996) supõe que os estados emocionais necessitam de 
uma ligação neocortical para serem decodificados e compreendidos pelo 
indivíduo. Suposições como essas talvez sejam os grandes influenciadores da 
noção de que existam capacidades intelectivas específicas para a decodificação 
dos estados emocionais e de todas as informações por eles produzidas. Isto 
posto, é possível perceber, tanto na história da inteligência como da emoção, um 
percurso teórico que gradativamente as aproxima. 
Observam-se que as proposições teóricas sobre a inteligência 
paulatinamente passaram a levar em consideração as influências dos estímulos 
sociais e dos aspectos emocionais, enquanto que a emoção teve sua 
compreensão teórica cada vez mais relacionada às descobertas sobre os 
centros neocorticais, responsáveis pelas funções intelectivas. 
Os estudos realizados até então apontavam não para uma superposição 
entre inteligência e emoção, mas, sim, para a compreensão da influência do 
 
 
 
intelecto na leitura dos estados emocionais e, por outro lado, para a influência 
das emoções sobre as funções neocorticais. 
É notório que os conceitos de inteligência e emoção foram estudados 
em dois blocos separados, mas o aprofundamento científico aproximou-os de tal 
maneira que se tornou evidente a necessidade de uma nova teorização de 
interdependência entre ambos. Proposições mais atuais, apresentadas por 
diversos estudiosos (Damásio, 1994/1996; Goleman, 1995/1996; Lane, Quinlan, 
Schwartz, Walker & Zeitlin, 1990; Mayer, DiPaolo & Salovey, 1990; Mayer & 
Geher, 1996; Mayer & Salovey 1997; Salovey & Mayer, 1990), têm apontado 
uma estreita relação entre intelecto e emoção. 
Esta proposta de interdependência tornou-se teoricamente mais 
organizada quando nos Estados Unidos, no início da década de noventa, 
Salovey e Mayer apresentaram a concepção de inteligência emocional, 
definindo-a como a “habilidade de monitorar sentimentos e emoções pessoais e 
alheias, realizar discriminações entre elas e usar essas informações para guiar 
os próprios pensamentos e ações” (p. 189). As proposições de Salovey e Mayer 
(1990) descrevem os processos mentais relativos à informação emocional, 
incluindo avaliação e expressão das emoções, sua regulação e utilização. Estes 
processos, subjacentes à inteligência emocional, teriam início quando 
informações de natureza afetiva fossem captadas pelo sistema perceptivo. 
O primeiro processo mental diz respeito a avaliação e expressão das 
emoções pessoais e dos outros. Em relação a si mesmo, o indivíduo baseia-se 
na observação de informações verbais e não verbais para realizar sua auto-
avaliação e escolher a melhor maneira de expressar suas próprias emoções. 
Em relação ao outro, o indivíduo utilizaria manifestações não verbais de 
comportamento e de sua empatia pessoal para efetuar a avaliação da expressão 
de estados emocionais alheios. 
O segundo processo mental inclui a regulação das emoções, ou o 
controle delas, em si mesmo e nos outros. Em si mesmo, permitiria ao indivíduo 
regular e direcionar seus humores e, na relação com o outro, favoreceria a 
regulação das relações alheias, ou seja, facilitaria avaliar respostas afetivas 
 
 
 
externas e escolher o melhor comportamento social a ser emitido durante a 
interação social. 
O terceiro processo constitui a utilização das emoções durante a 
resolução de problemas cotidianos, ou que requeiram complexidade de 
raciocínio. Nessas situações, segundo Salovey e Mayer (1990), o uso correto 
das emoções possibilitaria ao indivíduo elaborar com maior habilidade planos 
para o futuro, ter pensamentos criativos, ser capaz de dosar e direcionar sua 
atenção e seu bom humor e, ao mesmo tempo, motivar-se, persistindo, mesmo 
diante de dificuldades, em seus propósitos anteriormente estabelecidos. 
Com o surgimento do conceito de inteligência emocional, criou-se um 
eixo específico de teorização sobre processamento de informações de natureza 
emocional, tornando mais amplas as ideias elaboradas por Gardner (1993/1995) 
quando apresentou as inteligências intrapessoal e interpessoal como duas 
modalidades de habilidades cognitivas para lidar com conteúdos emocionais. 
Por outro lado firmou-se, definitivamente, um campo de pesquisa em que as 
habilidades intelectivas tornaram-se associadas às experiências emocionais. 
Em 1996, também nos Estados Unidos, dando sequência à discussão 
sobre inteligência emocional, Goleman supõe que ela reja a maior parte das 
relações e experiências cotidianas e, diferentemente das aptidões acadêmicas, 
permitiria que as pessoas se saíssem bem em suas atividades cotidianas. Para 
Goleman (1995/1996), o conceito de inteligência emocional pauta-se em cinco 
habilidades básicas e interdependentes denominadas por autoconsciência, 
automotivação, autocontrole, empatia e sociabilidade. 
As três primeiras referem-se a exames de reações do eu e ao que o 
indivíduo faz com seus próprios sentimentos, enquanto que as duas últimas 
voltam-se para fora, em direção aos sentimentos dos outros e às interações 
sociais. Dentre as habilidades citadas por Goleman (1995/1996), a 
autoconsciência pode ser considerada a mais importante, uma vez que ela abre 
caminho às demais habilidades. 
A autoconsciência permitiria ao indivíduo perceber, observar, distinguir 
e nomear seus próprios sentimentos, de modo a se reconhecer e aceitar-se em 
seus mais diversos estados emocionais. Há na literatura alguns conceitos que 
 
 
 
fazem fronteira conceitual ou se sobrepõem à definição de autoconsciência. A 
autoimagem (Advinícula, 1991; Erthal, 1986) refere-se à percepção do eu e à 
representação que o indivíduo faz de si mesmo. 
Oautoconceito (Diniz & Mettel, 1986; Farias & Carvalho, 1987; 
Mendonça, 1989; Novaes, 1985; Rodrigues, 1985; Tamayo, 1981) diz respeito à 
elaboração de um juízo a respeito do eu e à capacidade de fazer distinções a 
respeito das ocorrências internas. A inteligência intrapessoal, definida por 
Gardner (1993/1995) como acesso e discriminação entre os sentimentos 
pessoais constitui também um correlato à habilidade denominada 
autoconsciência. 
 
 
Fonte: www.saopaulocenter.com.br 
A automotivação, segunda habilidade da inteligência emocional, seria a 
capacidade de elaborar metas para si mesmo, persistindo e entusiasmando-se 
com os objetivos pessoais. É a capacidade de resistir a quaisquer obstáculos 
que impeçam a concretização de metas pessoais, envolvendo, no indivíduo que 
a retém em alto nível, elevado grau de esperança e otimismo. 
A automotivação assemelha-se aos conceitos de crescimento pessoal e 
propósitos na vida apresentados por Ryff (1989), que referem-se à elaboração 
de metas, ao seu avanço, à crença em sua concretização e confiança nos 
próprios objetivos, bem como abertura a novas experiências. O autocontrole, por 
 
 
 
sua vez, refere-se à capacidade de administrar sentimentos e desenvolver 
habilidades pessoais para atingir metas anteriormente estipuladas. 
Um nível elevado de autocontrole levaria o indivíduo a reinterpretar a 
situação ocorrida e dar-lhe um significado mais positivo, além de possibilitar o 
adiamento de um impulso momentâneo em prol de uma meta futura. Conceitos 
como autocontrole e autonomia (Ryff, 1989), percepção de controle pessoal 
(Barroso, 1975) e locus de controle (Levenson, 1981; Tamayo, 1989) promovem 
uma compreensão completível a esta habilidade, uma vez que definem-se pelo 
entendimento dos indivíduos a respeito do que acontece em suas reações e 
atuações pessoais, bem como de que forma percebem a ocorrência dos fatos 
que permeiam suas vidas. 
Como quarta habilidade da inteligência emocional, a empatia encontra-
se como um conceito vastamente estudado (Chlopan, McCain, Carbonell & 
Hager, 1985; Santana, 1989). Constitui-se na habilidade de perceber os 
sentimentos dos outros, através da leitura e compreensão de comportamentos 
não verbais de comunicação, tais como expressões faciais, tom de voz e postura 
corporal. Santana, Alta e Bastos (1993) elucida que a empatia possui um 
componente cognitivo (se o indivíduo sente da mesma maneira como a outra 
pessoa) e um componente motivacional (se a empatia, quando experienciada, 
leva o indivíduo a fazer algo). 
A inteligência interpessoal, proposta por Gardner (1993/1995), abarca o 
conceito de empatia, pois é definida como “a capacidade de observar e fazer 
distinções entre os indivíduos e, em particular, entre seus humores, 
temperamentos, motiva- ções e intenções” (p. 185). Dessa forma, a habilidade 
denominada por empatia permite que um indivíduo hábil leia as intenções e 
desejos das pessoas que o cercam, além de possibilitar a este mesmo indivíduo 
percepção mais acurada dos sentimentos do outro. 
Define-se como sociabilidade, quinta habilidade da inteligência 
emocional, a capacidade de iniciar, aprofundar e manter relações sociais. Ter 
alta sociabilidade significa ser capaz de substituir sentimentos negativos por 
outros positivos e disseminá-los naqueles que estão ao redor, tornando os 
relacionamentos extensos, profundos e verdadeiros. Os conceitos de inteligência 
 
 
 
social (Ford & Tisak, 1983), domínio do ambiente (Ryff, 1989), competência 
social (Del Prette, Del Prette & Correia, 1992), competência interpessoal 
(Buhrmester & Furman, 1988) e habilidades sociais (Hidalgo & Melo, 1991; 
Gresham, 1992; Del Prette, Del Prette, Torres & Pontes, 1998), descritos na 
literatura, guardam rela- ções conceituais estreitas com a noção de 
sociabilidade. 
Assim como a inteligência social definida por Ford e Tisak (1983), as 
outras definições tratam de comportamentos que um indivíduo emite em um 
contexto social de modo a aplicar estratégias adequadas e satisfatórias para 
seus relacionamentos. 
As diversas suposições, atuais ou mais antigas, que dão suporte 
conceitual e teórico à estrutura do recente conceito de inteligência emocional, 
têm em comum a importância atribuída aos fenômenos psíquicos que se 
relacionam com a configuração interna do indivíduo como também àqueles que 
fortalecem uma interdependência equilibrada entre ele e seu meio social. 
Desse modo, entende-se que as três habilidades denominadas 
autoconsciência, automotivação e autocontrole seriam as bases de natureza 
psicológica responsáveis pelo fortalecimento das estruturas internas do 
indivíduo, enquanto as outras duas, empatia e sociabilidade, constituiriam os 
componentes psicossociais que assegurariam a sua competência no mundo 
social. 
Assimilando as diversas concepções sobre a inteligência humana aqui 
apresentadas, entende-se que a inteligência emocional configura-se como um 
constructo de natureza cognitiva, cujo elemento primordial de sua constituição 
seriam as informações de cunho emocional produzidas pelo próprio indivíduo 
quando experiência emoções e as organiza em forma de sentimentos, bem como 
informações oriundas do meio social fornecidas pela expressão de emoções e 
sentimentos dos outros. 
 
 
 
DEFINIÇÕES DAS CINCO HABILIDADES INTEGRANTES DA INTELIGÊNCIA 
EMOCIONAL 
 
Fonte: paramais.com.br 
Autoconsciência: 
Conotação positiva: facilidade de lidar com os próprios sentimentos no 
que se refere a identificação, nomeação, avaliação, reconhecimento e atenção 
a estes sentimentos. 
Conotação negativa: dificuldade de lidar com os próprios sentimentos no 
que se refere a identificação, nomeação, avaliação, reconhecimento e atenção 
a estes sentimentos. 
Automotivação: 
Conotação positiva: facilidade de elaborar planos para a própria vida, de 
modo a criar, acreditar, planejar, persistir e manter situações propícias para a 
concretização das metas futuras. Manter-se esperançoso e otimista nas diversas 
fases da vida. 
Conotação negativa: dificuldade de elaborar projetos para a vida. 
Duvidar dos projetos e ser pessimista e desesperançoso. 
Autocontrole: 
 
 
 
Conotação positiva: facilidade de administrar os próprios sentimentos, 
impulsos, pensamentos e comportamentos. 
Conotação negativa: dificuldade de administrar os próprios sentimentos, 
impulsos, pensamentos e comportamentos. 
Empatia: 
Conotação positiva: facilidade de identificar os sentimentos, desejos, 
intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, através da leitura e 
compreensão de comportamentos não verbais de comunicação, tais como, 
expressões faciais, tom de voz e postura corporal. 
Conotação negativa: dificuldade de identificar os sentimentos, desejos, 
intenções, problemas, motivos e interesses dos outros, através da leitura e 
compreensão de comportamentos não verbais de comunicação, tais como, 
expressões faciais, tom de voz e postura corporal. 
Sociabilidade: 
Conotação positiva: facilidade de iniciar e preservar as amizades, ser 
aceito pelas pessoas, valorizar as relações sociais, adaptar–se a situações 
novas, liderar, coordenar e orientar as ações das outras pessoas. 
Conotação negativa: dificuldade de iniciar e preservar amizades, ser 
pouco aceito pelas pessoas, evitar reuniões sociais, não adaptar-se a situações 
novas, bem como possuir dificuldades em liderar e coordenar grupos ou ações 
de outras pessoas. 
O conceito de Inteligência Emocional (IE) surgiu no âmbito acadêmico, 
em 1990, formalizado pelos pesquisadores Peter Salovey (Yale University) e 
John Mayer (University of New Hampshire), que introduziramo termo na 
literatura científica por meio de dois artigos (Mayer, DiPaolo & Salovey, 1990). 
Na primeira publicação, de natureza teórica, os autores propuseram uma 
definição inicial de inteligência emocional como sendo “a habilidade para 
controlar os sentimentos e emoções em si mesmo e nos demais, discriminar 
entre elas e usar essa informação para guiar as ações e os pensamentos” 
(Mayer, DiPaolo, & Salovey, 1990, p. 189). 
O segundo artigo ofereceu as primeiras demonstrações empíricas de 
como a inteligência emocional poderia ser considerada como uma habilidade 
 
 
 
mental. Apesar de ter se originado na comunidade acadêmica – ou talvez por 
isso –, o novo conceito passou praticamente inadvertido, até que, em 1995, o 
psicólogo e redator científico Goleman (1995) publicou o livro, que viria a ser um 
bestseller mundial, intitulado Inteligência Emocional. Apoiando-se em pesquisas 
sobre o cérebro, as emoções e a conduta, o autor explana, em linguagem 
acessível e persuasiva, as concepções em torno da inteligência de tipo 
emocional e, baseando-se no conceito inicialmente formulado por Mayer e 
Salovey (1990), concebe uma perspectiva mais ampla de IE, acrescentando, às 
habilidades cognitivas, vários atributos da personalidade. 
Para Goleman (1995), a IE inclui características como a capacidade de 
motivar a si mesmo, de perseverar no empenho apesar das frustrações, de 
controlar os impulsos, de adiar as gratificações, de regular os próprios estados 
de ânimo, de evitar a interferência da angústia nas faculdades racionais, de sentir 
empatia, de confiar nos demais, etc. Apesar do apanhado de concepções 
teóricas bem comentadas ao longo da obra, das histórias ilustrativas usadas, das 
abundantes referências científicas e das explicações sobre a IE, a nosso ver, 
Goleman (1995), nessa ocasião, não oferece uma definição conceitual clara de 
inteligência emocional. 
Essa expansão do conceito, embora amplamente difundida 
popularmente, tem recebido muitas críticas no âmbito científico. Nesse sentido, 
Mayer, Salovey e Caruso (2002) criticam o uso do termo inteligência emocional 
para fazer alusão a áreas amplas da personalidade, que vão além da emocional 
e da cognitiva. Também julgam inadequado considerar a teoria de Goleman 
como científica, posto que, segundo os pioneiros do conceito, ela “foi inicialmente 
apresentada como uma narrativa jornalística de [sua] própria teoria [de Salovey 
e Mayer]” (Mayer, Salovery & Caruso, 2002, p. 88), não apresentando nenhuma 
contribuição ou formulação teórica própria. 
Da mesma forma, Hedlund e Sternberg (2002) consideram que uma das 
limitações do uso que Goleman faz do termo inteligência emocional consiste no 
fato de ele incluir, dentro desse construto, tudo o que não seja o Q.I. Igualmente, 
esses autores defendem que o trabalho de Goleman está fundamentalmente 
embasado em “evidências anedóticas e extrapolações questionáveis de 
 
 
 
pesquisas passadas” (Hedlund & Sternberg, 2002, p. 118). Navas e Berrocal 
(2007) destacam duas conseqüências do trabalho de Goleman: uma positiva e 
outra negativa. Por um lado, o êxito do best-seller dinamizou e favoreceu o 
interesse pela IE, mas, por outro, tergiversou em certa medida as ideias de 
Salovey & Mayer (1990), desviando o conceito para o campo dos traços da 
personalidade. Segundo Mestre (2003), as habilidades sociais e pessoais que 
Goleman (1995) inclui em sua proposta de IE são tantas e tão abrangentes que 
configurariam a um ser humano perfeito, cujo perfil, obviamente, seria garantia 
de êxito. 
Em defesa de sua proposta integradora da inteligência emocional, 
Boyatzis, Goleman e Rhee (2002, p. 253) sustentam que “se for definido como 
um conceito único, o termo inteligência emocional pode ser ilusório e sugerir uma 
associação com a capacidade cognitiva tradicionalmente definida [fator g].” 
Argumentam que um conceito integrador seria ideal para oferecer um modelo 
teórico para a organização da personalidade e para a conexão entre a 
inteligência emocional e uma teoria de ação e desempenho no trabalho. 
O interesse deflagrado pela propagação do termo inteligência emocional 
mobilizou também os criadores do construto que, preocupados com a variedade 
de definições, reinvenções e reivindicações da importância do conceito, tomaram 
algumas medidas cautelares no sentido de preservar o cientificismo da IE. Assim 
sendo, revisaram e clarificaram o conceito primitivo e estabeleceram uma 
nomenclatura para diferenciar os Modelos de Inteligência Emocional centrados 
nas habilidades cognitivas (modelos de aptidões ou habilidades) daqueles que 
incluíssem traços de personalidade, fatores motivacionais ou outros (modelos 
mistos). 
Os primeiros são, portanto, mais restritos e os segundos, mais 
abrangentes. Na revisão conceitual, Mayer e Salovey (2007) procuraram 
focalizar a IE como um conjunto de aptidões, capacidades ou habilidades 
mentais, aproximando-a mais do campo de estudos da inteligência. A IE passa 
a ser definida, mais precisamente, em termos de quatro grupos de habilidades 
relacionadas: 
 
 
 
A inteligência emocional implica a habilidade para perceber e valorar 
com exatidão a emoção; a habilidade para acessar e ou gerar 
sentimentos quando esses facilitam o pensamento; a habilidade para 
compreender a emoção e o conhecimento emocional, e a habilidade 
para regular as emoções que promovem o crescimento emocional e 
intelectual (Mayer & Salovey, 1997/2007, p. 32). 
A percepção e identificação emocional se referem à habilidade para 
perceber e identificar as emoções próprias e alheias, incluindo na voz das 
pessoas, nas obras de arte, na música, nas histórias. O segundo componente, a 
facilitação emocional, envolve a habilidade para usar as emoções para facilitar 
os processos cognitivos (na solução de problemas, tomada de decisões, 
relações interpessoais). Compreender a emoção implica conhecer os termos 
relacionados com as emoções e as formas como estas se combinam, progridem 
e mudam. 
O último nível, o de regulação emocional, trata da habilidade de saber 
usar estratégias para mudar os próprios sentimentos e saber avaliar se elas são 
eficazes ou não. Mayer e Salovey (2007) creem que essa definição atualizada 
consegue unir as ideias de que a emoção nos faz pensar mais inteligentemente 
e, por outro lado, pensamos inteligentemente sobre as emoções. O Modelo de 
Inteligência Emocional como Aptidão (Salovey & Mayer, 1990; Mayer & Salovey, 
2007) coexiste com o Modelo de Competências Emocionais (Goleman, 1995), 
Modelo de Inteligência Social e Emocional (BarOn, 1997) e, com menor 
expressividade, com o Modelo de Cooper e Sawaf (1997). 
Embora a proposta de Goleman seja a mais divulgada, no âmbito 
acadêmico o Modelo de Aptidões tem sido considerado como autêntico modelo 
explicativo da IE (Mestre, 2003) e tem se consolidado na Psicologia como 
modelo de referência para as pesquisas na área devido ao rigor teórico e 
empírico, tanto no que se refere à formalização conceitual, quanto aos 
instrumentos de medida de auto informe e de execução, cujas experimentações 
têm aumentado seu índice de fiabilidade; também tem sido considerado como o 
mais factível para o desenvolvimento de programas de intervenção (Pacheco & 
Berrocal, 2005). A elucidação do construto da IE tem ocorrido de forma paulatina, 
porém constante. A aceitação do seu status de inteligência ainda encontra 
muitas resistências, mas também tem recebido muito apoio científico. 
 
 
 
A esse respeito, Bechara, Tranel e Damasio (2002, p. 163) prestam uma 
inestimável contribuição à compreensão das evidências neurológicas da IE, 
partindo dos resultados das pesquisas em pacientescom lesões bilaterais do 
córtex pré-frontal ventro-mediano. Tais descobertas demonstram a influência 
das emoções nas funções cognitivas e comportamentais do indivíduo, incluindo 
a memória e a tomada de decisão, e dão um bom exemplo de que possuir 
conhecimentos e um Q.I. elevado não bastam para que as decisões tomadas 
pela pessoa representem escolhas vantajosas para sua vida pessoal e social. 
De acordo com esses pesquisadores, o prejuízo na capacidade de lidar 
eficazmente com as exigências sociais e ambientais, observado na conduta dos 
pacientes estudados, deve-se a um déficit na sua habilidade de processamento 
de sinais emocionais. Para eles, “isso proporciona amplas evidências para a 
noção de que as emoções são os ingredientes de uma forma distinta de 
capacidade, que é crítica para a inteligência global na vida social” Bechara et al. 
(2002, p. 162). Encerram sua colaboração com uma conclusão afiançadora: 
Nossos estudos de pacientes neurológicos não defendem um modelo de 
inteligência emocional em detrimento de outro. Entretanto, nossas pesquisas 
proporcionam fortes evidências para o principal conceito de inteligência 
emocional, a qual pode ser vista como um conjunto de aptidões emocionais que 
constituem uma forma de inteligência diferente da inteligência cognitiva ou do 
QI. Essa inteligência emocional faz com o indivíduo seja socialmente mais eficaz 
em certos aspectos da vida do que outros indivíduos. 
Essa afirmação cobra especial relevância considerando-se a grande 
contribuição que a Neurociência tem proporcionado à elucidação das emoções 
e dos sentimentos na mente humana. O avanço das pesquisas de Damásio e 
colaboradores evidenciaram que as emoções e os sentimentos não só podem 
ser abordados, medidos, explicados e compreendidos cientificamente, como 
também podem ser distinguidos neurobiologicamente. 
Em função dessa descoberta, Damásio (1996, 2000, 2004) usa de forma 
distinta os dois termos. O termo emoção fica reservado para referir-se ao 
“conjunto de mudanças que ocorrem quer no corpo, quer no cérebro e que 
normalmente é originado por um determinado conteúdo mental” (Damasio, 1996, 
 
 
 
p. 301), enquanto o termo sentimento é usado para referir-se à percepção 
dessas mudanças. De acordo com essa teoria, “ao contrário da opinião científica 
tradicional, [as emoções e os sentimentos] são tão cognitivos como qualquer 
outra percepção” (Damasio, 1996, p. 15). 
Outro aspecto da pesquisa de Damásio que precisa ser melhor 
apreciado pelos estudiosos da IE é a relação entre as emoções e a consciência. 
As emoções são componentes essenciais do kit de sobrevivência com o qual 
nascemos equipados. Nós, humanos, além das emoções, podemos ser capazes 
de ter sentimentos e de saber que os temos. Esse saber que temos sentimentos 
só é possível porque temos consciência. Segundo Damásio (2000, p. 80), “a 
consciência permite que os sentimentos sejam conhecidos e, assim, promove 
internamente o impacto da emoção, permite que ela, por intermédio do 
sentimento, permeie o processo do pensamento”. Para Damásio, tanto a emoção 
como a consciência estão ligadas à sobrevivência do organismo. 
Em outras palavras, a consciência amplia a proteção proporcionada pelo 
nosso kit de sobrevivência. Acreditamos que essa relação entre emoção e 
consciência é especialmente importante para explicar a habilidade de 
administrar ou regular as emoções. Todas essas contribuições da neurociência 
têm proporcionado uma visão mais conciliadora e integradora às clássicas 
dicotomias razão versus paixão, pensamento versus sentimento, cabeça versus 
coração, cognição versus emoção... Termos como conciliar e integrar merecem 
ser ressaltados nessa fase da pesquisa no campo da IE. 
A constatação de que “a cognição não é tão lógica como se pensava 
outrora, e nem sempre as emoções são tão irracionais” (LeDoux, 2001, p. 33) 
não deve conduzir a outro antagonismo: inteligência emocional versus 
inteligência cognitiva. Às vezes, as discussões sobre a natureza da inteligência, 
incluída a emocional, tendem a sugerir uma substituição de inteligências ou uma 
alternância de posição de supremacia. Essa advertência será mais bem 
compreendida nos parágrafos seguintes, especialmente quando fazemos 
referência à “metáfora do elefante”. 
O construto da IE une dois complexos campos de estudo que têm uma 
larga história na Psicologia. Apesar da abundante produção científica das duas 
 
 
 
áreas de conhecimento, ambas têm questões cruciais a serem esclarecidas 
acerca da natureza de seus respectivos objetos principais de estudo: a 
inteligência e a emoção. Sobre a emoção já foram apresentadas algumas 
relevantes e atuais considerações para justificar o uso do termo emocional na 
configuração da inteligência em análise. Segundo LeDoux (2001, p. 22), “os 
cientistas não estão conseguindo chegar a um acordo quanto ao que sejam as 
emoções”; mas essa falta de consenso não impede o avanço da pesquisa em 
IE. E quanto à inteligência? 
Para situar a IE nesse campo, faremos uma digressão nos próximos 
parágrafos para tratar da inteligência. Em dois históricos momentos, em 1921 e 
em 1986, pesquisadores de reconhecido prestígio no âmbito da Psicologia foram 
convidados a responderem à pergunta: O que é a inteligência? 
Além de emitirem seu parecer acerca do conceito de inteligência e a 
melhor forma de medi-la por testes coletivos, os psicólogos selecionados 
deveriam indicar futuras direções para a pesquisa na área em debate. 
Contrastando os dois simpósios, as conclusões são as seguintes: 
a) o campo de estudo da inteligência evoluiu, passando de uma atenção 
primordial aos aspectos psicométricos a um interesse maior pelo processamento 
da informação, o contexto cultural e a interação entre ambos; 
b) a compreensão da conduta inteligente passou a ser mais importante 
do que a sua predição; 
c) houve avanço quanto à compreensão das bases cognitivas e culturais 
relacionadas com os resultados dos testes de Q.I.; 
d) as definições de inteligência estão mais bem elaboradas, apesar de 
não haver consenso na aceitação de uma delas; 
e) o estudo da inteligência se situa num contexto social mais amplo; f) 
houve pouco avanço, se é que realmente se avançou, quanto aos problemas 
relativos à natureza da inteligência, e continua preocupando o dilema da 
unicidade frente à multiplicidade (Sternberg & Berg, 2003; Detterman, 2003). 
Duas décadas depois da realização do segundo simpósio, continuam os 
esforços por conseguir definir “um construto escorregadio em um campo 
escorregadio: o da inteligência” (Sternberg & Detterman, 2003, p. 16). Segundo 
 
 
 
Horn (2003), em sua participação no segundo simpósio, a quase inutilidade das 
tentativas de descrever a inteligência se deve à insistência em tratá-la como uma 
“entidade unitária”, quando os conhecimentos disponíveis na atualidade lhe 
sugeriam que o termo inteligência denota uma mistura de fenômenos 
importantes. Segundo ele, para entender essa “mistura confusa”, a investigação 
devia partir daquilo que já se conhece. E o que se conhece: 
Aponta para uma ideia da capacidade intelectual humana como algo 
integrado por diferentes “inteligências”, que têm diferentes 
determinantes genéticos e ambientais, que estão a serviço de 
diferentes funções da personalidade, que se baseiam em histórias 
filogenéticas e ontogenéticas distintas e que se relacionam de modo 
diferente com as predições dos resultados profissionais, educativos, 
adaptativos e de ajuste. (Horn, 2003, p. 113). 
Nesse sentido, a inteligência emocional surge como uma forma 
alternativa de explicação à natureza da inteligência, integrando-se ao grupo das 
habilidades mentaisconsideradas emergentes. Essas habilidades emergem das 
teorias que têm reivindicado uma reformulação da compreensão clássica da 
inteligência como uma capacidade geral, comumente designada fator g, que 
pode ser medida em algumas horas, pelos testes de Q.I., aferindo 
conhecimentos linguísticos, lógico-matemáticos e espaciais. 
No entanto, as propostas alternativas de inteligência demonstram que o 
Q.I. pode ser muito eficaz para predizer o sucesso acadêmico (mede a 
inteligência acadêmica), mas não garante o êxito na vida real. Sternberg (1997, 
p. 24-25), um dos mais reconhecidos representantes contemporâneos da 
pesquisa em inteligência, diz que “a ideia de relacionar o coeficiente intelectual 
com os logros na vida é uma ideia descabelada, pois o coeficiente intelectual é 
um elemento pobríssimo de predição dos logros na vida”. 
Partindo dessas constatações, os pesquisadores emergentes desse 
movimento científico de reforma das concepções de inteligência humana têm 
sugerido definições menos restritas, enfatizando a natureza multifacetada da 
inteligência humana. Para marcar essa oposição à unicidade conceitual, os 
teóricos têm adotado o uso de qualificativos que enfatizam o aspecto que se 
prioriza em sua concepção de inteligência. 
 
 
 
Nesse elenco de inteligências emergentes destacam-se a inteligência 
prática, exitosa, plena (Sternberg, 1985, 1997), as inteligências múltiplas 
(Gardner, 1983) e a inteligência emocional (Salovey & Mayer, 1990; Goleman, 
1995; Bar-On, 1997). 
Embora essas propostas representem abordagens diferentes, 
compartem alguns pontos de vista: a) distanciam-se da visão unitária da 
inteligência; b) discordam do conteúdo e/ou da forma de avaliação clássica das 
capacidades intelectuais; c) postulam a existência de outros fatores na 
configuração da inteligência humana; d) esses fatores (que variam segundo a 
abordagem) seriam, em certa medida, os responsáveis pelo sucesso na vida. 
Observando a multiplicidade de enfoques sobre a inteligência, parece 
bastante oportuno relembrar a metáfora do elefante, resgatada por Humphreys 
(2003) em sua contribuição no segundo simpósio, para ilustrar a complexidade 
desse campo de estudos que cada pesquisador tenta abarcar desde sua 
perspectiva teórica sem, contudo, conseguir fazê-lo de forma totalmente 
aceitável, adequada e convincente. Para Humphreys (2003, p. 119): 
É uma tentação comparar os psicólogos, que tratam da inteligência, 
com os cegos que, situados ante diferentes partes da anatomia de um 
elefante, tentavam descrever este animal. Não somente os diferentes 
psicólogos descrevem a inteligência de distintas maneiras, senão que, 
alguns deles, também se comportam como cegos que, sem tocar a 
totalidade da anatomia, especulam acerca do elefante ideal ou das 
qualidades intrínsecas da “elefanticidade”. Iniciar a descrição da 
totalidade do elefante é um objetivo científico que pode ser alcançado 
se cada uma das partes interessadas aceita a limitação de sua 
experiência e deseja colaborar entre si. É preciso ter consciência de 
que estamos observando o [mesmo] elefante. 
Qual é a parte do elefante que compete à Inteligência Emocional 
analisar? Como a IE pode contribuir à compreensão da “elefanticidade”? Essas 
respostas já começaram a surgir, mas, por enquanto, elas ainda são 
aproximativas, incompletas, oscilantes. 
Certamente, considerando o ritmo de produção na área, dentro de 
alguns anos essas respostas serão menos hipotéticas e mais constatáveis. Não 
obstante os escassos anos de existência (menos de duas décadas), o construto 
da IE superou o interesse popular e tem se consolidado na esfera científica. 
 
 
 
Atualmente, o campo da IE conta com uma sólida base teórica 
proporcionada por diferentes linhas de pesquisa, das quais se originaram os 
modelos teóricos disponíveis, os instrumentos de avaliação, alguns deles 
empiricamente corroborados. 
 
Fonte: www.22bebes.com 
Foi tema monográfico de conceituadas revistas de divulgação científica, 
como, por exemplo: Emotion (2001, vol. 1), Psychological Inquiry (2004, vol. 15), 
Journal of Organizacional Behavior (2005, vol. 26), Psicothema (2006, vol. 18), 
Ansiedad y Estrés (2006, vol.12/ nº 2-3). Recentemente, o construto foi debatido 
no I Congresso Internacional de Inteligência Emocional, sediado pela 
Universidade de Málaga (Espanha), em setembro de 2007, do qual participaram 
mais de duzentos pesquisadores, de diferentes partes do mundo, com o objetivo 
de: revisar os modelos teóricos existentes, analisar os avanços no que tange à 
avaliação da IE e mostrar o impacto da IE no campo aplicado. 
A publicação dos anais do evento dará uma ideia mais fidedigna dos 
reais avanços na área. Em um interessante trabalho realizado com o intuito de 
analisar a importância da IE como novo âmbito de estudos da Psicologia, os 
pesquisadores Salgueiro, Iruarrizaga e Berrocal (2004) proporcionam uma visão 
aproximada de como se desenvolveu e evoluiu o conceito desde sua aparição, 
 
 
 
em 1990. Tomando como fonte de informação a maior base de dados 
internacional de Psicologia (PsychoInfo), os autores revisaram todas as 
publicações que se referiram à inteligência emocional, na forma de artigo e 
livro/capítulo de livro. Os resultados indicaram a existência de um progressivo 
interesse pelo construto, principalmente a partir de 1997, coincidindo com o 
período em que começa a proliferar a elaboração de medidas de avaliação da IE 
e a surgirem os primeiros estudos relacionando o conceito com diferentes áreas. 
Também se constatou que entre os três principais representantes dos 
Modelos de IE (Mayer e Salovey, 2007; Bar-On, 1997; Goleman, 1995), os que 
mais publicações realizaram no período analisado foram Mayer e Salovey, tanto 
se consideradas as publicações individuais como conjuntas, somando um total 
de 90 trabalhos de sua autoria, em contraste com a diminuta quantidade de 
publicações de Bar-On (2 livros e ou capítulos) e Goleman (3 livros e ou 
capítulos). Essa expressiva diferença quantitativa confirma a consolidação e 
persistência das pesquisas dos autores do conceito de IE no âmbito acadêmico. 
Quanto à vinculação do conceito IE com outros âmbitos de estudo, 
observa-se a predominância de quatro áreas aplicadas: Educação (118 
publicações); Saúde (73 publicações); Liderança (70 publicações) e Ajuste 
Social (44 publicações). Os autores concluem que o conceito de IE evoluiu 
notavelmente nos seus primeiros catorze anos de existência e destacam, como 
principais contribui- ções para alcançar esses resultados, as proporcionadas por 
Mayer e Salovey, tanto no que tange à abordagem teórica, quanto no que se 
refere aos instrumentos de avaliação de seu Modelo de Inteligência Emocional. 
A análise desenvolvida neste artigo mostra que a inteligência constitui 
um campo de pesquisa instigante, atrativo e fecundo. Há muito que desvendar 
ainda sobre a sua natureza. Assim sendo, seria naturalmente esperável que 
qualquer proposta teórica desenvolvida nessa área provocasse reações 
científicas, sejam elas favoráveis ou contrárias ao que se propõe. Em linhas 
gerais, a inteligência emocional tem mobilizado os estudiosos da inteligência. 
Na Espanha, por exemplo, a Universidade de Málaga tem se convertido 
no principal centro de referência da pesquisa em IE nesse país, desenvolvendo 
uma profícua linha de pesquisa baseada no modelo de aptidões. Além das 
 
 
 
numerosas contribuições em revistas científicas nacionais e internacionais, da 
publicação do primeiro manual de inteligência emocional em Espanhol (2007), 
entre outras obras (Berrocal & Díaz, 2002, 2004), o grupo de pesquisa 
malaguenho encabeça um programa de Doutoradoem Inteligência Emocional. 
No Brasil, estima-se que o best-seller de Goleman (1995) alcançou a 
cifra de 360 mil exemplares vendidos, segundo informações divulgadas pela 
revista Mente e Cérebro, em 2007, nº 179, Ano XV, no artigo intitulado “Emoção: 
a outra inteligência”. No entanto, mais que o impacto popular, interessava-nos 
conhecer o impacto científico da inteligência emocional no ambiente científico 
brasileiro. No intuito de explorar o campo da pesquisa em Inteligência Emocional 
no Brasil, analisamos a produção acadêmica proveniente dos cursos de pós-
graduação stricto sensu para averiguar em que medida o construto da IE tem 
sido objeto de estudo nos programas de Mestrado Profissionalizante (MP), 
Mestrado Acadêmico (MA) e Doutorado. 
Os cursos na modalidade stricto sensu se caracterizam, essencialmente, 
pela cientificidade, tendo, portanto, uma função dinamizadora na pesquisa 
nacional. Há, consequentemente, um estreito vínculo entre a produção científica 
e a universidade, determinado por fatores históricos e medidas políticas de 
fomento ao desenvolvimento nacional, por meio da qualificação docente. Por 
isso, optamos por explorar a produção científica relacionada com o construto da 
IE mediante cursos de pós-graduação,2 âmbito privilegiado e prioritário da 
pesquisa brasileira. 
A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 
A Inteligência Emocional tem como um dos pontos de suporte o estudo 
de um grupo de pesquisa, que teve como objetivo principal demonstrar uma 
visão pluralista da mente (Gardner, 1995:13). 
Após analisar as diferentes capacidades em crianças normais e como 
estas capacidades se manifestam sobre condições de dano cerebral, 
investigadores envolvidos na pesquisa apontada pelo autor concluíram que as 
 
 
 
facetas da inteligência caminham muito além do simples pensamento 
cognitivista, para uma concepção pluralista de inteligência. 
Os pesquisadores do grupo de pesquisa de Gardner (1995), admitem 
ser possível uma infinidade de classificações para esta pluralidade de 
inteligências, mas, por uma questão metodológica, e considerando como base 
para outros tipos de inteligência, apresentaram inicialmente sete tipos: a 
Inteligência Linguística, a Lógico-Matemática, a Musical, a Espacial, a 
Intrapessoal, a Interpessoal e a Corporal-Cinestésica. Mais recentemente, esses 
autores acrescentaram a essas inteligências a naturalista e espiritual. 
Partindo das inteligências Intrapessoal e Interpessoal, Goleman, a partir 
da metade da década de 90, popularizou os estudos e o termo Inteligência 
Emocional, para indicar que, nas ações do ser humano, os aspectos emocionais 
são conjugados com a razão para a tomada de decisão. Segundo Goleman 
(1995:46, 1999:32), o “sucesso” das pessoas, em estudos mais otimistas, 
depende apenas 20% do nível de inteligência lógico-matemática, o restante é 
devido a outros tipos de inteligência, entre elas a inteligência emocional. 
A afirmação anterior indica que é quase impossível preparar 
adequadamente um indivíduo para os desafios da vida somente com uma 
excelente formação cognitiva pura e simplesmente. 
AS COMPETÊNCIAS E APTIDÕES DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 
Embora a literatura sobre Inteligência Emocional (competências e 
aptidões) seja recente, encontramos referências que apresentam visões e 
concepções que nos parecem sólidas em relação a essa complexa e instigante 
problemática. Destacamos, pois, Goleman (1995:55), que, com base nos 
trabalhos de Sternberg e Salovey, indica que são cinco domínios principais ou 
aptidões da Inteligência Emocional: conhecer as próprias emoções, lidar com as 
emoções, motivar-se, reconhecer emoções nos outros e lidar com 
relacionamentos. 
Na sequência, são comentadas essas aptidões: 
 
 
 
 Conhecer as próprias emoções refere-se à autoconsciência, ou 
seja, o reconhecimento de quando uma emoção está ocorrendo. 
 Lidar com as emoções refere-se ao desenvolvimento e gerência 
das mesmas; por isso, essa aptidão é denominada também de 
autocontrole. 
 Motivar-se indica a relação entre o estado motivacional, ou seja, 
os motivos pelos quais as pessoas agem, e o campo da 
inteligência emocional. Os motivos pessoais que levam às mais 
surpreendentes ações são características do estado motivacional 
interno, denominado de intrínsecos pelos psicólogos e são de 
grande relevância para o campo da inteligência emocional. 
 Reconhecer emoções nos outros é a capacidade de traduzir os 
sinais verbais e não-verbais em interpretações do estado 
emocional apresentado por uma pessoa. O termo utilizado para o 
reconhecimento das emoções nas outras pessoas é dado pela 
palavra empatia. 
 Lidar com relacionamentos ou interações, também denominada 
de “artes sociais”, é a capacidade de mobilizar, inspirar, 
convencer e influenciar os outros e, em situações de encontros 
sociais, é também a capacidade de deixar os outros à vontade 
para se posicionarem. 
Ainda sobre as aptidões, Märtin & Boeck (2004:100) referem que estas 
são compostas pelo manejo de nossas emoções. As aptidões são compostas 
por: reconhecer e aceitar as emoções; manejar as próprias emoções; tirar 
proveito do potencial existente; colocar-se no lugar de outra pessoa e criar 
relações sociais. 
Nesse mesmo contexto, Bar-On & Parker (2000: 19), no instrumento 
para mensurar o QE em crianças e adolescentes, avaliam cinco competências 
emocionais: a Inteligência Intrapessoal, a Interpessoal, a Adaptabilidade, o 
Gerenciamento do Estresse, o Humor Geral e a Impressão Positiva. A 
Inteligência Intrapessoal está relacionada com a capacidade de entender as 
 
 
 
próprias emoções, expressar e comunicar os sentimentos ou necessidades ao 
próximo. 
Já a Inteligência Interpessoal é caracterizada pela capacidade do 
indivíduo de ouvir, entender e apreciar os sentimentos dos outros. A 
Adaptabilidade indica a capacidade de o indivíduo ser flexível, realista, efetivo 
gerenciador de mudança e capaz de encontrar caminhos positivos nas 
negociações com problemas diários. 
A competência de Gerenciamento do Estresse é característica de 
indivíduos calmos que desenvolvem atividades sobre pressão com bons 
resultados. O Humor Geral representa a positividade no sentido da perspectiva 
positiva frente a situações desfavoráveis. A Impressão Positiva é caracterizada 
pela capacidade excessiva de auto impressão sobre as próprias boas 
qualidades. 
A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 
Nesta seção faremos a explanação pertinente no que diz respeito às 
concepções vigentes no âmbito científico relacionadas à Inteligência Emocional, 
as quais permitirão uma reflexão mais adequada sobre sua relação e o possível 
desenvolvimento de suas competências e aptidões promovido pela Inteligência 
Emocional. 
Inteligências Múltiplas – Passos Iniciais 
A formulação da teoria das inteligências múltiplas tem seu início histórico 
em 1979, com a contribuição de um grupo de pesquisadores da Harvard 
Graduate School of Education. Os estudos desenvolvidos por esse grupo 
culminaram, em 1983, na publicação de Estruturas da Mente, de 
responsabilidade de um dos membros da equipe, Howard Gardner (Gardner, 
1995:3-5). 
A partir de 1986, com o objetivo principal de demonstrar uma visão 
pluralista da mente, que se contrapunha à visão piagetiana de inteligência 
 
 
 
dominante – fator geral (G) –, ao significado conferido por senso comum e aos 
meios científicos de então, o autor e seu grupo realizaram uma abrangente 
pesquisa, analisando duas fontes principais. 
Uma das fontes referia-se ao desenvolvimento das diferentes 
capacidades em crianças consideradas normais, e a outra, às capacidades 
manifestadas em condições de danocerebral. Além destas duas fontes, também 
foram pesquisadas populações especiais como superdotados, crianças autistas 
(também chamados de ”idiotas sábios”) e crianças com dificuldades de 
aprendizagem. 
Após diversas análises, estes pesquisadores concluíram que as facetas 
da inteligência caminham, muito além do simples pensamento cognitivista e do 
quociente de inteligência (QI), para uma concepção pluralista e integrada – teoria 
dos módulos da mente. Assim, na perspectiva de Gardner (1995:14-15), são 
apontados sete tipos de inteligências, como já mencionado no primeiro capítulo 
desta investigação. Na sequência, detalhamos a que se refere cada um desses 
tipos. 
A Inteligência Linguística é representada pelo dom da linguagem. 
Biologicamente é localizada em uma área no cérebro denominada centro de 
Broca, região onde são produzidas as sentenças gramaticais. Esta inteligência 
é ativada pela palavra falada, pela leitura e pela escrita dos próprios 
pensamentos ou ideias. 
Talvez, por esse motivo, seja atribuída aos poetas a apresentação pura 
dessa capacidade. Essa inteligência nos possibilita realizar a comunicação com 
outra pessoa ou grupos de indivíduos. Pessoas com grande desenvolvimento 
nesta área são hábeis em realizar discursos e comunicar seus pensamentos pela 
escrita. Esse tipo de inteligência pode ser desenvolvido, por exemplo, pela 
exposição gradativa a prática de redações, leituras e interpretações de texto, 
apresentações verbais para outras pessoas ou colegas de escola, debates e 
discussões sobre um dado tema, montagem de um pequeno jornal, produção de 
textos científicos ou poéticos e representação teatral. 
A Inteligência Lógico-Matemática está relacionada ao processo de 
resolução de problemas e pode ser ativada em situações de desafio, de maneira 
 
 
 
não-verbal, pois a mesma pode ser construída antes de ser apresentada. 
Pessoas hábeis nesta inteligência são capazes de realizar cálculos matemáticos 
de forma rápida e precisa. Essa inteligência também está associada à lógica de 
pensamento, podendo ser desenvolvida, por exemplo, pelo estímulo ao uso de 
cálculos, jogos de memória, problemas de lógica, resolução de problemas, 
elaboração de planilhas, manipulação de fórmulas. 
Historicamente, esse tipo de inteligência é apontado pelos psicólogos, 
juntamente com a inteligência linguística, como a principal base para o Scholastic 
Aptitude Test (SAT). O SAT é um teste de aptidão escolar exigido para admissão 
em universidades americanas que representa a medida do quociente de 
inteligência (QI), criada por Binet (s/d apud Gardner, 1995:12). Binet iniciou a 
utilização desses testes de inteligências em Paris em 1905, a pedido do Ministro 
da Educação, que tinha a intenção de separar crianças “educáveis” dos “idiotas 
sábios”. 
A Inteligência Musical está localizada biologicamente no hemisfério 
direito do cérebro, embora não seja possível vir a localizar precisamente uma 
zona cerebral específica responsável por essa inteligência. Esse tipo de 
inteligência é responsável por identificar sons, notas musicais, etc., e é ativado 
quando a pessoa utiliza música ou ritmos para lidar com sequências 
harmoniosas de sons. Pode ser desenvolvida, por exemplo, com atividades de 
diferenciação de sons e tons, manipulação de instrumentos musicais e cantos. 
A Inteligência Espacial é, segundo Gardner (1995:26), a capacidade 
de formar um modelo mental de um mundo espacial e de manobrar e operar 
utilizando esse modelo. Biologicamente, o hemisfério direito é responsável pelo 
processamento espacial. A solução de problemas espaciais pode estar 
representada na leitura de um mapa, na orientação pelas estrelas, em um jogo 
desportivo para analisar a altura e velocidade da bola em relação ao espaço, etc. 
Esta inteligência é ativada, quando a pessoa usa sua imagem mental, para 
realizar uma obra artística. Pode ser desenvolvida, por exemplo, na manipulação 
de materiais como massas de modelar, pinturas, jogos pré-desportivos e 
atividade de orientação. 
 
 
 
A Inteligência Intrapessoal é uma forma de autoconhecimento com 
implicação no modo de conduzir a vida, permitindo ao ser humano o 
desenvolvimento pessoal pelo reconhecimento e gerenciamento de suas 
particularidades e potencialidades. Gardner (1995:95) profere que esse tipo de 
inteligência é: A capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si 
mesmo e utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. O conhecimento 
de aspectos internos, o acesso aos sentimentos próprios da vida, a gama das 
próprias emoções, a capacidade de discriminar essas emoções e eventualmente 
rotulá-las e utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio 
comportamento. 
Um ponto importante observado pelo mesmo autor é que esse tipo de 
inteligência é o mais privado e difícil de analisar, sendo ativado quando a pessoa 
utiliza a autorreflexão e o pensamento para realizar algo. Essa inteligência 
caracteriza-se pelos debates internos, o que é inerente à vivência e ao 
pensamento humano. Pode-se dizer também que é formada por um conjunto de 
“paradigmas pessoais” ou entendida pela definição da autoimagem e do auto 
relato sobre “virtudes” e “defeitos”. 
O desenvolvimento dessa inteligência geralmente decorre de atividades 
de imagem corporal, jogos individuais de superação de obstáculos e 
autodescrição interna ou para um grupo. 
A Inteligência Interpessoal é a capacidade de entender e interagir com 
outras pessoas. Biologicamente, a área para esse tipo de inteligência está 
localizada nos lóbulos frontais do cérebro. Outras duas evidências biológicas se 
devem ao comportamento exclusivo dos seres humanos: o apego pela mãe nos 
primeiros anos de vida e a interação social advinda de atividades em que são 
exigidas coesão, liderança, organização e solidariedade. 
Essa interação pode acontecer em qualquer ambiente, partindo do 
familiar, passando pelos ambientes escolar ou acadêmico, pelos ambientes de 
trabalho e pelos ambientes que definem o convívio social com amigos Esse tipo 
de inteligência envolve a capacidade de perceber diferenças individuais, 
contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções. 
 
 
 
Gardner (1995) sugere que a inteligência interpessoal não depende, 
exclusivamente, da linguagem verbal. 
Por consequência, se entende que saber reconhecer sentimentos nos 
outros pela linguagem corporal parece ser um ponto chave da inteligência 
interpessoal. Ainda sobre essa inteligência, cabe mencionar que é ativada 
quando a pessoa interage com outros em diversos encontros sociais. Essa 
inteligência pode, pois, ser desenvolvida pelo estímulo a atividades em grupo 
como a proposição de resoluções de problemas e o estabelecimento e alcance 
de metas que exijam o trabalho e o esforço de todos os membros do grupo. 
A Inteligência Corporal-Cinestésica é a capacidade de utilizar o 
próprio corpo ou parte dele para resolver um problema ou elaborar produtos. 
Essa inteligência é ativada quando uma pessoa utiliza o corpo para realizar, por 
exemplo, uma atividade física, sendo, assim, caracterizada, principalmente, pela 
atividade desportiva. Afinal, as técnicas que são desenvolvidas nos desportos 
nada mais são do que a resolução de um problema pela elaboração de um 
produto, a própria técnica desportiva. O desenvolvimento desse tipo de 
inteligência pode acontecer de forma individual ou coletiva nos desportos, 
danças ou jogos e brincadeiras motoras. 
É importante ressaltar que possui uma ligação íntima com o 
desenvolvimento da Inteligência Espacial. Para agarrar uma bola que foi lançada 
por um companheiro de equipe ou adversário, é necessáriaa noção espacial e 
uma técnica adequada de recepção. Destarte, o desempenho do ser humano é 
resultado das combinações de inteligências. 
Os diferentes tipos de inteligência podem funcionar simultaneamente 
para resolver um problema. Apesar de Gardner ter provado que as inteligências 
são independentes entre si, ou seja, que é possível ser um excelente músico, 
sem possuir um quociente de inteligência lógico-matemática elevada, elas 
trabalham combinadas para atingir um desempenho, funcionam juntas para 
resolver um problema. O resultado desta interação ou combinações define a 
ação e o desempenho final. 
As relações estabelecidas entre as diferentes inteligências, embora não 
determinantes, corroboram para a formação do perfil do indivíduo, na maneira 
 
 
 
como age e se comporta diante de diferentes circunstâncias e diferentes 
ambientes, incluindo aí os demais indivíduos com os quais convive. Do ponto de 
vista temporal, a Inteligência Interpessoal e as relações estabelecidas com as 
demais inteligências parecem ser criadas ou adquiridas, principalmente, durante 
os primeiros anos de vida. 
Muitos autores parecem concordar que esse desenvolvimento ocorre na 
infância, principal e primeiramente, na interação com os pais e, posteriormente, 
na interação com os professores e em outros ambientes. Desta forma, grande 
parte deste perfil parece se desenvolver em uma idade que compreende a 
infância. Muito do que se aprende nestas idades fica marcado ou registrado para 
sempre, ainda que, até aproximadamente 20 anos, os jovens não tenham 
atingido plena maturação cerebral – lobos/lóbulos pré-frontais. 
Além da constatação referida anteriormente, parece haver concordância 
de que o indivíduo nasce com uma pré-disposição maior para uma ou outra 
inteligência. Nem todos serão grandes atletas ou grandes músicos. Ainda assim, 
a noção do constante aperfeiçoamento e aprendizado necessários para a 
sobrevivência não é desconsiderada e pode ser exposta da seguinte forma: 
Acreditamos que os indivíduos podem diferir nos perfis particulares de 
inteligência com os quais nascem e que certamente eles diferem nos perfis com 
os quais acabam. (Gardner, 1995:15). Esse fato, provavelmente, é resultado 
natural de um processo de aquisição de conhecimento, treino e ensino, que 
envolve a mudança e retenção do comportamento. 
Para que ocorra tal mudança, são necessários estímulos adequados e 
direcionados aos objetivos que se pretende atingir. Gardner (1995) defende que 
os estímulos devem ser dados já nos primeiros dias de vida e reconhece que 
cada inteligência decorre de uma série de estímulos, que podem ser produtos do 
meio exterior ou de combinação interna. 
Desta forma, apesar de o indivíduo nascer com um perfil e com maior 
facilidade para desenvolver determinadas inteligências, a característica 
individual final ou o conjunto das características atuais do indivíduo é formada 
pela prática da combinação destas inteligências desencadeadas pelos estímulos 
que lhe são apresentados ao longo da vida. Isso se evidencia, como já 
 
 
 
comentado, na dinâmica vivenciada pelo indivíduo, em primeiro lugar, na família 
e, depois, no ambiente escolar, na interação com professores e colegas, 
caracterizando seu perfil. 
Seguindo o raciocínio apresentado anteriormente, com base nos 
relacionamentos e dinâmicas expressas, parece que, de algum modo, uma 
inteligência pode auxiliar ou influenciar outra. 
Por exemplo, o termo psicomotricidade indica a grande relação ou 
ênfase existente entre os aspectos psicológicos do desenvolvimento humano e 
as ações motoras. Muitas escolas utilizam como base essa relação para justificar 
que a aprendizagem motora contribui para a aquisição da fala e da escrita ou, 
nos termos da teoria de Gardner, a Inteligência Corporal-Cinestésica serve de 
auxílio para o desenvolvimento da Inteligência Linguística. Pode ser dado outro 
exemplo: o aprendizado de um jogo desportivo envolve a Inteligência Corporal-
Cinestésica e, ao mesmo tempo, necessita da Inteligência Espacial. 
As combinações de diferentes tipos de inteligência apontam para a 
relevância do entendimento e da investigação das diversas relações possíveis 
entre as diferentes inteligências na formação e educação do ser humano. No 
aspecto da educação formal, muitas instituições de ensino, em diferentes países, 
buscam alternativas metodológicas para desenvolver o ser humano em todas as 
suas potencialidades, priorizando, assim, uma formação global, no sentido de 
estimular e desenvolver todas as inteligências simultaneamente. 
No Brasil, apesar de ocorrer um discurso de formação global, em muitas 
escolas, públicas ou privadas, muito tempo é destinado para a formação 
acadêmica – entendida como o desenvolvimento e aperfeiçoamento das 
inteligências Linguística e Lógico-matemática. Comparativamente, pouquíssimo 
tempo é destinado ao estímulo, formação, desenvolvimento e aperfeiçoamento 
de outras inteligências. 
Aplicando esse conhecimento à área do Desporto, constatamos que, 
além da Inteligência Cinestésica e Espacial, para desenvolver uma atividade em 
cooperação com outros, é necessária a Inteligência Interpessoal com confiança 
em si mesmo ou a Inteligência Intrapessoal. 
 
 
 
Certamente, essa constatação reflete bem os diferentes tipos de relação 
que existem na dinâmica das inteligências. Assim sendo, ratifica-se aí a 
importância dessa dimensão da vida humana (Desporto) para o seu pleno 
desenvolvimento. 
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – OUTROS OLHARES 
A teoria da Inteligência Emocional ganhou popularidade a partir dos 
trabalhos publicados por Daniel Goleman, em 1995. Na verdade, o estudo das 
emoções iniciou-se antes dos trabalhos publicados por Goleman. Bar-On & 
Parker (2000:33) indicam obras anteriores sobre a Inteligência Emocional: Bar-
On (1988), Gardner (1983) e Mayer & Salovey (1989; 1990). 
Essa posição é confirmada por Shapiro (2002:26), que expõe que os 
estudos sobre Inteligência Emocional são numerosos e têm sido realizados há, 
no mínimo, cinquenta anos. Portanto, é um tema de estudo relativamente novo 
(mas amplamente debatido por outras terminologias) e obteve grande 
popularidade na metade da década de noventa, estendendo-se as discussões 
até aos dias atuais. Analisando a palavra emoção, seus dois derivados do latim 
“e” - “movere”, “emoção”, significam afastar-se, mover-se; observa-se que na 
ação está implícita uma emoção (Goleman, 1995:20) ou, como apontam Märtin 
& Boeck, (2004:79), mover-se para fora, no movimento e na mudança. 
Neste sentido, podemos interpretar que não existem emoções sem que 
ocorra um movimento, que pode ser entendido, literalmente, como uma ação 
motora ou, em outra interpretação, como a oposição ao conformismo, à 
estagnação, ao parar no tempo e no espaço. Partindo desta análise, são muitas 
as definições do termo Inteligência Emocional. As definições são pautadas por 
possuir argumentação e focos distintos para explicar os fenômenos emocionais 
que ocorrem com o ser humano, e compartilham pontos comuns em alguns 
aspectos e diferem em outros. 
A esse respeito, Greenberg & Snell (1999:126) argumentam que as 
emoções possuem várias facetas, incluindo pelo menos quatro consideradas 
básicas. 
 
 
 
A primeira é um componente expressivo e motor; a segunda, um 
componente sentimental; a terceira, um componente controlador e a quarta, um 
componente de processamento de informação. 
O componente expressivo e motor refere-se ao fato de o ser humano 
expressar as suas emoções por meios motores, pela linguagem corporal. 
O componente sentimental refere-se aos estados de espírito internos ou 
sentimentos derivadosde diferentes situações vivenciadas. 
O componente controlador indica a capacidade de controlar os 
sentimentos ou os estados de espírito internos desencadeados por diferentes 
circunstâncias. E o processamento de informação é a capacidade de processar 
as informações transmitidas pelos outros ou aquelas que fazem parte dos três 
primeiros componentes. 
A capacidade de processar informações, portanto, faz parte do processo 
da inteligência emocional – Teoria cognitiva das emoções. A relação 
estabelecida entre a capacidade de processamento da informação e as medidas 
de inteligência emocional foi estudada por Austin (2005) e desse estudo resultou 
o trabalho intitulado Emotional intelligence and emotional information processing. 
A autora buscou identificar o grau de relação entre testes para medir a 
capacidade de processar informação emocional e testes de auto relato – 
antigamente denominado de introspecção – para medir a Inteligência Emocional. 
Na realização da pesquisa, a estudiosa aplicou vários instrumentos em 95 
estudantes. 
Para identificar a capacidade de processar informação emocional, 
utilizou os seguintes instrumentos: Facial emotion inspection time tasks, Symbol 
inspection time task, Word inspection time tasks e Ekman-60 faces test. Para 
mensurar a Inteligência Emocional aplicou o questionário de Bar-On EQ-i: S e o 
EI scale versão curta de Schutte e colaboradores (1998, apud Austin 2005:407). 
As principais conclusões do estudo suggest that performance on 
emotionrelated tasks can be linked to the information-processing approach to 
psychometric intelligence, ou seja, fornece um forte indício de que a capacidade 
de processamento da informação emocional está relacionada com a 
mensuração da Inteligência Emocional. 
 
 
 
Em relação a esses aspectos apontados, Brenner & Salovey (1999:216) 
conceituam as emoções em uma perspectiva funcionalista, entendendo-as como 
respostas que orientam o comportamento do indivíduo e servem como 
informação que ajuda este indivíduo a conquistar metas. Os mesmos 
pesquisadores definem que as emoções possuem dois componentes, o 
cognitivo-empírico, que expressa o comportamento, e o fisiológico-bioquímico, 
que reflete os sinais corporais. 
Para Bridoux, Merlevede & Vandamme (2004:21-22), apesar de 
contraargumentarem o uso de definições nos fenômenos humanos, 
principalmente, na área de Psicologia, fazem uma distinção entre aquilo que 
denominam inteligência clássica (ou QI) e inteligência emocional. A última é 
definida pelos autores como o complexo conjunto de comportamentos, 
capacidades (ou competências,) crenças e valores que permite que um indivíduo 
realize de maneira bem-sucedida a sua visão e missão, dado o contexto dessa 
escolha. 
Ainda nesse envolvimento, Bridoux, Merlevede & Vandamme (2004) 
afirmam que as emoções têm uma relação muito íntima com crenças e valores 
e metas “pessoais”. Se os valores estão relacionados com a cultura, sofrem, 
portanto, diferentes influências da cultura local e, por consequência, os 
indivíduos membros desses grupos possuem diferentes visões e missões. Tal 
definição de Inteligência Emocional pode, até certo ponto, ser considerada como 
limitada à solução de um determinado problema ou à busca de uma determinada 
meta dentro de uma rede pré-determinada de ações que ocorrem em uma 
cultura. 
Essa consideração se reafirma, principalmente, se a noção de 
relacionamento entre indivíduo e sociedade estiver voltada à predominância da 
influência da sociedade sobre o indivíduo. Pelas interpretações supracitadas, 
verificamos que as competências do ser humano podem ser consideradas como 
reproduções ou respostas pré- programadas pelos acertos sociais dentro de uma 
cultura, durante muitos anos. Isto explica, por exemplo, o fato de as reações 
emocionais nos países que celebram a morte serem de alegria e festejos, ao 
passo que em países que desenharam seus valores e crenças sobre a morte na 
 
 
 
perda, sofrimento e dor, as respostas emocionais produzidas serem o choro e a 
resignação. 
Ainda no que concerne a essa problemática, Shapiro (2002:24) defende 
que a Inteligência Emocional está embasada nas características da 
personalidade de uma pessoa ou de um grupo cultural. Em outros termos, como 
conhecida até então, formação do caráter. Essa noção, de certa forma, 
complementa o conceito anteriormente proposto por Bridoux, Merlevede e 
Vandamme, o de que a personalidade de uma pessoa é formada ou moldada, 
de acordo com o que é aceitável em uma determinada cultura. 
INTELIGÊNCIA EMOCIONAL – MENTE QUE SENTE, MENTE QUE PENSA 
Goleman (1995:11) relata que as discussões sobre o tema da 
Inteligência Emocional foram despertadas por duas tendências opostas. Uma 
dessas tendências é a constatação da calamidade atual na sociedade, 
representada por uma série de fatos que traduzem o afastamento das relações 
interpessoais e o isolamento do ser humano. 
A outra tendência pretendia mais que identificar ou remediar o problema, 
oferecer medidas preventivas para essas situações apontadas. Partindo da 
teoria de inteligências múltiplas, o autor apresenta o termo inteligência emocional 
para indicar: Que nossos sentimentos mais profundos, nossas paixões e anseios 
são guias essenciais, e nossa espécie deve grande parte de sua existência à 
força deles nos assuntos humanos... Nossas emoções, dizem, nos guiam 
quando enfrentamos provações e tarefas demasiado importantes para serem 
deixadas apenas ao intelecto... Quanto mais intenso o sentimento, mais 
dominante se torna a mente emocional e mais intelectual a racional. É uma 
disposição que parece originar-se de eras e eras da vantagem evolucionária de 
termos as emoções e intuições como guias de nossa resposta instantânea nas 
situações em que nossa vida está em perigo. (Goleman, 1995:17). 
Segundo o mesmo autor, o ser humano possuiu dois tipos distintos de 
mente, uma que pensa e a outra que se emociona. Esses dois tipos de mente 
interagem para formar a vida ou para viver a vida. Goleman (1995) ainda afirma 
 
 
 
que, quanto mais ocorre o envolvimento de sentimento em uma situação, maior 
o controle da mente que sente, quanto mais ocorre o envolvimento da razão ou 
raciocínio, maior o controle da mente que pensa. 
O estudioso sugere, então, que o ser humano busque uma jornada 
equilibrada entre estas duas mentes. O pesquisador aponta também que nossas 
emoções foram e continuam a ser, desde os primórdios da evolução humana, 
orientadores para a sobrevivência da raça, pois em situações de alto risco, a 
reação ao problema é determinada pela memória emocional de sobrevivência, 
acumulada ao longo da existência da espécie. 
Na anatomia emocional, essa constatação é explicada pelo fato de os 
estímulos recebidos serem processados, primeiramente, pela amídala. Esta é 
uma estrutura do cérebro primitivo que processa a informação com base nas 
experiências emocionais armazenadas e produz respostas rápidas, dispensando 
um processamento elaborado e refinado, o que economiza tempo para a 
produção da reação. 
O que ocorre, muitas vezes, é que esta resposta no mundo social atual 
nem sempre é a mais adequada. Portanto, a depender da situação, utilizar 
somente a mente que sente pode acarretar um erro de julgamento e produzir 
uma resposta inadequada. O oposto também é verdadeiro; em determinadas 
situações, ao utilizar somente a mente que pensa também é possível que o 
indivíduo subjugue sentimentos envolvidos com a situação, produzindo uma 
resposta inadequada. Para reforçar o envolvimento desta dinâmica e também 
para demonstrar que o ser humano não é, exclusivamente, produto dos aspectos 
lógicos, Goleman

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