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Fato, Negócios Jurídicos e seus Defeitos

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FATO E NEGÓCIOS JURÍDICOS
Legislação consultada: Código Civil: arts. 104 a 165 (Negócio Jurídico).
FATOS JURÍDICOS
 É todo acontecimento natural ou humano que a lei atribui efeitos jurídicos.
Obs: para o seminário nos aprofundaremos somente sobre o Fato Jurídico Humano.
FATO JURÍDICO HUMANO
 É o acontecimento que dependente da vontade humana; donde há doutrinadores que ressalvam que tal afirmativa é uma redundância, pois somente ao homem caberia tal atributo. Este fato então pode ser subdividido em ato jurídico (em sentido amplo) e ato ilícito.
ATO JURÍDICO em sentido AMPLO
(também chamado de ato lícito ou voluntário). 
São atos praticados em conformidade com a ordem jurídica e subdividem-se.
Ato Jurídico em Sentido Estrito (ou meramente lícito): há a participação humana, mas os efeitos são os impostos pela lei e não pelas partes interessadas. Não há regulamentação da autonomia privada. Por isso ele é pobre em conteúdo. Quem pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o efeito já preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes interessadas. 
Ex.: o reconhecimento de um filho, fixação de domicílio, perdão, confissão, etc.
Negócio Jurídico: há a participação humana e os efeitos desta participação sãos desejados pelas partes e tutelados pela lei (ex.: contrato, testamento, etc.). Há, portanto, autonomia privada, ou seja, uma autorregulação dos interesses particulares, harmonizando vontades que aparentam ser antagônicas e sem vícios. Ex.: um contrato (de locação, de compra e venda), um testamento, a adoção, etc.
ATENÇÃO: 
O ATO ILÍCITO
(também conhecido como fato jurídico involuntário) 
É uma ação praticada em desacordo com a lei, quando essa conduta consciente e voluntária quebra um dever jurídico acarreta conseqüências alheias a vontade do agente, como a pena, reparação do dano, multa etc. embora seja um fato jurídico, pois repercute no direito, não o é um ato jurídico, pois este só se reveste da licitude, criando direitos e o ato ilícito, não os cria ao invés, cria deveres (indenizações, reparação de dano)
DEFEITOS NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
É todo vício que mancha o negócio jurídico, tornando-o passível de anulação. 
Pode ser grave (quando vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser remediado pelo interessado).
O ato será válido (quanto ao consentimento) “quando eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem que esta conduta prejudique os outros (fiz algo que não queria ou fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os chamados defeitos relativos à vontade. Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, tornando-se anulável (art. 171, II, CC).
São os chamados vícios de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada, sendo que o prejudicado é um dos contratantes.
ATENÇÃO: 
Em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial de quatro anos; se o prazo não for respeitado, o defeito não poderá ser mais alegado, sendo o ato convalidado por decurso de prazo.
DEFEITOS
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC)
Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. Primeiramente: erro e ignorância são sinônimos? A doutrina estabelece distinções entre eles quais sejam:
Erro é a falsa noção. Pode recair sobre as qualidades de uma coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se em falso juízo ou engano. Pensei que era uma coisa, mas na realidade é outra. Atenta-se que aqui a pessoa engana-se sozinha. Ninguém a induz ao erro.
Ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca do objeto ou da pessoa. 
Não é qualquer erro (ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a causa determinante ou principal e subdivide-se em:
Erro essencial ou substancial; Recai sobre circunstâncias relevantes do negócio, de forma que, se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. O art. 138, CC estabelece que o erro, para dar ensejo à anulação do negócio jurídico, há de ser substancial, ou seja, essencial. Mas além da essencialidade do erro, deverá haver a capacidade deste erro ser conhecido ou percebido pela outra parte, pois nosso Código acolheu a chamada teoria da confiança, que tem por base a verificação da discrepância entre a vontade real do agente e a sua equivocada manifestação.
Por isso, torna-se fundamental apreciar se o engano de um negociante poderia ter sido percebido pelo outro. A doutrina acrescenta que o erro essencial ainda deve ser escusável e real.
 	Escusável porque ele é aceitável, desculpável; tem por fundamento uma razão plausível, ou seja, qualquer pessoa com atenção ou diligência normal seria capaz de cometê-lo em face das circunstâncias. Ex.: é aceitável uma pessoa leiga confundir o diamante com zircônio. Mas não se admite este confusão para um joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a distinção (para ele seria um erro inescusável e, portanto, sem possibilidade de anular o ato).
 	Real porque deve acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. 
Portanto não é todo erro que torna o ato anulável, nosso código civil no art 139, descreve as hipóteses de anulação do negócio jurídico. São estes:
Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in ipso negotio). 
O erro recai sobre o contrato celebrado. Pensei fazer um determinado contrato, mas fiz outro. Ex.: empresto um determinado bem para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. Esta situação é muito difícil de ocorrer na prática. 
Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore)
O erro recai sobre objeto diferente do que se tinha em mente. Ex.: comprei um lote em um condomínio que pensava ser muito valorizado, no entanto trata-se de outro condomínio, que tem o mesmo nome, mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. Notem, mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei só. Quando ocorre desse alguém me induzir ao erro chamasse de outro defeito, o dolo. O erro, neste caso, atingiu a substância do ato; portanto o ato é anulável. No entanto, o art. 144, CC dispõe que o erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferece para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. Reaproveitando o exemplo dado se o negociador entender a situação e acabar ofertando o lote do condomínio que ele pensara ter comprado, o negócio é executado e não se tem o que falar de anulação do negócio.
Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in
substantia ou in qualitate) a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do contrato é a qualidade essencial de um objeto que depois se constata que não existe.
Ex.: compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo é apenas
“folheado.
Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se refere a 
declaração de vontade (error in persona) incide sobre a identidade (física ou moral) ou características da pessoa. Geralmente recaem nos contratos personalíssimos (intuitu personae). Exemplo: estou sendo processado por homicídio e contratei um Advogado certo de que ele é um famoso criminalista, excelente orador e especializado em fazer júri. No entanto constato que ele é um Advogado trabalhista. Notem que no caso de um contrato em que a prestação pode ser cumprida por qualquer pessoa (ex.: pintar um muro), mesmo que o contratante tenha se enganado na designação da pessoa, tal fato não será suficiente para a anulação do negócio. 
Reforçando: somente o erro substancial, essencial, escusável, real, anula o negócio jurídico !!!.
Erro acidental; é aquele concernente às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, o negóciojurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo efeitos, porque o defeito não incide sobre a declaração de vontade. Ele decorre do não-emprego da diligência ordinária que deve ter um “homem médio”.
Mesmo sabendo do defeito, a pessoa teria realizado aquele negócio. Ex. comprar um carro usado com uma cor um pouco diferente (preto ou azul escuro) é acidental, não anulando o negócio.
O chamado erro de cálculo (que é a inexatidão material) também não causa 
de anulação do negócio, mas de simples retificação da declaração de vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre o peso, a medida, a quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não incidindo sobre a declaração de vontade e não viciando o consentimento. Ex.: comprei 12 camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo deveria pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente que houve um erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as partes sabiam do valor do negócio, errando apenas no momento da realização do cálculo final.
É importante salientarmos alguns tipos de erros que nosso código civil ainda dispõe, são estes:
Erro de Fato X Erro de Direito
O erro de fato é aquele que recai sobre uma circunstância de fato. Pode
ser essencial ou acidental. Crê-se numa realidade que não é verdadeira. Tudo
o que falamos acima se refere a ele. 
Já o erro de direito diz respeito à existência de norma jurídica. Consiste na ignorância da lei, no falso conhecimento e também na sua interpretação errônea. Como regra ele não desculpas. Não pode ser alegado. No entanto admite-se, excepcionalmente o erro de direito (e, por consequência, o negócio jurídico pode ser anulado), se o ato não implicar em recusa à aplicação da lei e for o motivo único ou principal do negócio jurídico (art. 139, III, CC).
Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (ou seja, impositiva, de ordem pública), mas tão-somente sobre normas dispositivas (ou seja, sujeitas ao livre acordo das partes).
Geralmente o erro recai sobre uma situação de fato (como vimos um contrato propriamente dito, ou o objeto deste contrato, ou uma pessoa, etc.). Este é o erro de fato sobre uma situação concreta. Já o erro de direito é aquele que diz respeito à existência (ou não) de uma norma jurídica. A pessoa supõe que uma lei não existe ou que ela não esteja mais em vigor. Ex.: firmar um contrato de locação com base em uma lei, pensando que ela ainda está vigorando, no entanto já foi
Revogada; Argentino vem para o Brasil trazendo frascos de lança-perfume para revender; na Argentina este produto não é proibido e a pessoa não sabia que era proibido no Brasil; se soubesse, não teria trazido.
Como a ignorância foi à causa determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem com isso se pretender que a lei seja descumprida. 
Erro X Vício Redibitório
O vício redibitório é o defeito oculto na coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o valor. No vício redibitório não há qualquer erro no momento da celebração do negócio; o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), que não foi notado, já que era oculto. 
Já no erro há um engano por parte do adquirente; é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada pela falsa percepção da realidade, não havendo vício no objeto.
O Código Civil prevê outras duas espécies de erro. Vejamos.
Erro acidental in qualitate (art. 142, CC): “O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir à declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada”. Como diz respeito às qualidades secundárias ou acessórias da pessoa (ex: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex: comprei o lote 321, mas recebi o 213 por erro de digitação), não induz a anulação do negócio.
Erro na transmissão de vontade por meios interpostos (art. 141, CC): o negócio é anulável quando na transmissão da vontade do declarante verifica-se falha que a faz chegar ao seu destinatário com conteúdo diverso daquele emitido; é o erro por defeito de intermediação que altera a vontade declarada, como se tratasse de uma declaração direta. Ex.: uma pessoa utiliza rádio ou televisão para transmitir uma declaração de vontade, mas o veículo utilizado, devido a interrupção ou deturpação sonora, faz com que a divulgação saia com incorreções, acarretando uma desconformidade entre a vontade interna e a sua declaração ou manifestação. Somente anula o negócio se a alteração for substancial (art. 138, CC), ou seja, prejudicar o real sentido da declaração expedida. Caso contrário, será insignificante e o negócio será válido.
DOLO (arts. 145 a 150, CC)
Dolo é o artifício malicioso empregado por uma das partes ou por terceiro, com o propósito de enganar a outra parte do negócio, causando-lhe prejuízo. Para a sua caracterização exige-se a vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus decipiendi). O dolo inicialmente pode ser classificado em:
Dolus Bonus (dolo bom): é um comportamento tolerado nos negócios em 
geral. Consiste em reticências, realce e exageros nas boas qualidades da mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade de prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. Por tal motivo ele não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor proíbe a propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em erro.
Dolus Malus (dolo mau): consiste em manobras astuciosas (atos, palavras e 
até o próprio silêncio) para enganar alguém e lhe causar prejuízo. Subdivide-se em:
Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam): art. 
145,CC  é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. Se não houvesse o induzimento, a pessoa não faria o negócio.
Dolo Acidental (dolus incidens) art. 146, CC  leva a vítima a 
realizaro negócio jurídico, porém em condições mais onerosas (ou menos vantajosas), não afetando sua declaração de vontade (embora venha a provocar desvios). Não se constitui vício de consentimento porque não influi diretamente na realização do negócio. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, independentemente das manobras astuciosas, embora de outra maneira, em condições menos onerosas à vítima. O dolo acidental leva a distorções comportamentais que podem alterar o resultado final do negócio, no entanto não anula o negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou a uma redução da prestação pactuada.
Dolo Positivo (ou comissivo): resulta de uma ação dolosa; são 
os Artifícios positivos. Ex.: falsas afirmações sobre as qualidades de uma coisa: pode comprar este “cachorrinho” que eu garanto ele vai ficar bem pequeno, passados alguns meses aquele “cachorrinho” se tornou um “cachorrão”.
Dolo Negativo (ou omissivo): é a manobra astuciosa que 
constitui uma omissão intencional, induzindo o outro contratante a realizar o negócio.Ex.: seguro de vida em que se omite uma doença grave e o segurado vem a falecer dias depois ,neste caso houve uma evidente intenção de lesar a seguradora, beneficiando os sucessores anulação do negócio se o dolo for principal (motivo determinante), pois é necessária a relação de causalidade entre a omissão intencional e a declaração de vontade (art. 147, CC). Se for acidental enseja apenas perdas e danos.
Dolo de Terceiro (art. 148, CC). Em algumas situações o dolo 
Pode ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negócio. Em geral não afeta o contrato, uma vez que o terceiro não é parte do negócio. Somente enseja a sua anulação se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento. Ex.: “C” instiga “A” a comprar o relógio de “B” assegurando que ele é de ouro; porém o relógio é apenas dourado e “C” sabe disso, estando em conluio com “B”. Neste caso o terceiro (“C”)e o contratante (“B”) são tidos como autores do dolo. O negócio é anulável. No entanto se “B” (contratante favorecido) não tinha conhecimento da conduta dolosa por parte do “C”, não se anula o negócio, mas “A” pode reclamar as perdas e danos de “C” (o terceiro causador da situação).
Dolo dos Representantes (art. 149, CC). Aqui a lei prevê duas
situações com soluções diferentes. 
Representação obrigatória ou legal (pais, tutores ou 
curadores), o representado fica obrigado a responder civilmente somente até a importância do proveito que teve. Isto porque o seu representante foi “imposto” pela lei (ou de forma judicial), sem que ele pudesse se rebelar contra isso. Seria injusto responsabilizar o representado por tudo. Por ser incapaz, ele não pode escolher o seu representante e nem vigiar os seus atos, não tendo ciência se ele está agindo de forma maliciosa. 
Representação convencional ou voluntária (que é
o caso do mandato) o representado responderá solidariamente com o representante por tudo, inclusive perdas e danos. Isto porque aquele que escolhe um representante e lhe confere uma procuração, cria um risco para o mundo exterior; o procurador irá agir usando o nome do representado. 
Dolo recíproco (ou bilateral). Ocorre quando ambas as partes agem com 
dolo (comissivo ou omissivo), desejando obter vantagem em prejuízo da outra. Configura-se a chamada torpeza bilateral. Nesta hipótese ocorre a neutralização do delito, pois há uma compensação entre os dois ilícitos. Isto é, não haverá a anulação do ato, pois ninguém pode se valer da própria torpeza. O ato é considerado válido para ambos (art. 150, CC).
Dolo x Erro.
O erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a outra parte tenha concorrido para isso.
Já o dolo é intencionalmente provocado na vítima pelo autor do dolo. 
Em outras palavras: no erro eu errei sozinho; no dolo alguém me enganou, isto é, eu errei, mas fui induzido a cometer este erro pela conduta (má-fé) da outra parte.
COAÇÃO (arts. 151 a 155, CC)
É toda pressão física ou moral exercida sobre alguém (vida, integridade física), seus bens ou honra, para forçá-lo, contra a sua vontade, a praticar um ato ou realizar um negócio jurídico. O que caracteriza a coação é o emprego da violência (física ou psicológica) para viciar a vontade, influenciando a vítima a realizar negócio que sua vontade interna não deseja celebrar, por isso é bem mais grave que o dolo. A coação se subdivide em:
Coação Física (vis absoluta): é o constrangimento corporal que 
retira toda capacidade de querer de uma das partes, implicando ausência total de consentimento ou manifestação de vontade (ex.: amarrar a vítima, segurar sua mão e fazê-la assinar contrato, etc.). A vítima não chega a manifestar uma vontade, agindo de forma mecânica. Segundo a doutrina, a manifestação de vontade é um requisito para a existência do negócio jurídico. Assim, não havendo a vontade, o negócio não existiria, sendo considerado inexistente.
Coação Moral ou Psicológica (relativa ou vis compulsiva): atua
sobre a vontade da vítima, sem aniquilar-lhe o consentimento, pois ela conserva uma relativa liberdade, podendo optar entre a realização do negócio que lhe é exigido e o dano com que é ameaçada (ex.: se não assinar o contrato, vou incendiar sua casa; vou estuprar sua mulher, vou mostrar uma foto sua em uma situação constrangedora, etc.).
ESTADO DE PERIGO (art. 156, CC)
É uma inovação do atual Código. Configura-se o estado de perigo quando
alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa (art. 156, CC). A vítima não errou, não foi induzida a erro ou coagida, mas pelas circunstâncias de um caso concreto, foi compelida a celebrar um negócio que lhe era extremamente desfavorável. Trata-se de uma hipótese de inexigibilidade de conduta diversa, ante a iminência do perigo por que passa o agente, não lhe restando alternativa senão praticar o ato. Ex: vítima de acidente automobilístico que assume obrigação exagerada para ser salva de imediato; venda de imóvel por valor ínfimo para poder pagar cirurgia de filho, que corre risco de morte, etc. É necessário, em todos os exemplos fornecidos, que a outra parte tenha conhecimento da situação de desespero do primeiro e se aproveite dessa situação. Em algumas situações é a própria pessoa em perigo quem promete uma extraordinária recompensa para ser salva. 
LESÃO (art. 157, CC)
Trata-se de outra inovação do atual Código. Lesão é o prejuízo que um contratante experimenta quando, em um contrato comutativo (onde as partes conhecem as prestações de cada um e há equivalência entre elas), deixa de receber valor correspondente ao da prestação que forneceu. Este instituto visa proteger o contratante em posição de inferioridade ante o prejuízo por ele sofrido na conclusão do contrato, devido também à desproporção existente entre as prestações. Decorre do abuso praticado em situação de desigualdade, punindo a chamada “cláusula leonina” e o aproveitamento indevido na realização do contrato. Como se percebe, há uma deformação da declaração de vontade por fatores pessoais do contratante, diante da inexperiência ou necessidade, explorada indevidamente pela outra parte. Ex.: pessoa está em vias de ser despejado e, premido pela necessidade de abrigar sua família e não ver seus bens deixados ao relento acaba realizando outro contrato por valor muito acima do mercado, negócio esse que, se tivesse condição de melhor refletir sobre os seus efeitos, jamais faria. O objetivo é reprimir o enorme desequilíbrio nas relações contratuais. 
Estado de Perigo X Lesão. Diferença básica
No estado de perigo há um perigo de morte (salvar a si ou pessoa de sua família) e o contratante, entre as consequências do dano e o pagamento de uma quantia exorbitante, opta pelo último (com a intenção de minimizar ou sanar o mal). Já na lesão o contratante, devido a uma necessidade econômica, realiza negócio desproporcional; há uma situação de hipossuficiência de uma das partes e o aproveitamento desta circunstância pela outra.
FRAUDE CONTRA CREDORES (arts. 158 a 165, CC)
Constitui fraude contra credores a prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos creditórios alheios. Ressalvadas as hipóteses de credores com garantia real (ex.: penhor, hipoteca e anticrese) os demais credores estão em idênticas condições no recebimento de seus créditos. Se o patrimônio do devedor não for suficiente para o pagamento de todos os credores haverá um rateio (chamado pela doutrina de par conditio creditoris). E no caso do devedor praticar atos com a finalidade de frustrar o pagamento devido, ou tendentes a violar a
igualdade entre os credores, ocorrerá a fraude contra credores. Observem que não é a vontade que se encontra viciada, pois a pessoa faz exatamente o que queria fazer; o vício reside na finalidade ilícita do ato, ou seja, prejudicar seus credores. Por isso é que a fraude contra credores é chamada de vício social (e não vício de consentimento como vimos nos demais defeitos até agora). Exemplo clássico: pessoa contrai um empréstimo; porém, em data próxima ao vencimento da obrigação, doa todos os seus bens, ficando sem patrimônio para saldar a dívida.

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