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Livro Sustentabilidade O que é – o que não é

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Sustentabilidade: O que é – o que não é. 
Leonardo Boff
A carta da terra, refundar o pacto social entre os humanos e o pacto natural.... Valorizar a imaginação: Já Albert Einstein observava que quando a ciência não encontra mais caminhos é a imaginação que entra em ação e sugere pistas inusitadas. (Pag. 16)
Sustentabilidade é um modo de ser e de viver, que exige alinhar as práticas humanas às potencialidades limitadas de cada bioma e às necessidades dos presentes e das futuras gerações. (Pag. 16)
A especulação e a fusão de grandes conglomerados multinacionais transferiram uma quantidade inimaginável de riqueza para poucos grupos e para poucas famílias. Os 20% mais ricos consomem 82,4% das riquezas da Terra, enquanto os 20% mais pobres têm que se contentar com 1,6% apenas. As três pessoas mais ricas do mundo possuem ativos superiores a toda riqueza de 48 países mais pobres ondem vivem 600 milhões de pessoas. 257 pessoas sozinhas acumulam mais riqueza que 2,8 bilhões de pessoas, o que equivale a 45% da humanidade. Atualmente 1% dos estado-unidenses ganha o correspondente à renda de 99% da população. São dados fornecidos por um dos intelectuais mais respeitados dos Estados Unidos, e duro crítico da política mundial, Noam Chomsky. (Pag. 18-19)
A avaliação Ecossistêmica do Milênio, organizada pela ONU entre os anos 2001 e 2005, envolvendo cerca de 1.300 cientistas de 95 países, além de 850outraspersonalidadesda ciência e da política, revelou que dos 24 serviços ambientais essenciais para a vida (agua e ar limpos, regulação dos climas, alimentos, energia, fibras etc.), 15 deles se encontravam em processo de degradação acelerada. (Pag. 24)
Em 1691 precisávamos apenas de 63% da terra para atender a demanda humana. Em 1975 já necessitávamos de 97% da terra. Em 1980 exigíamos 100,6%, portanto, precisávamos de mais de uma terra. Em 2005 já atingíamos a cifra de 145% da terra. Quer dizer, precisávamos de quase uma Terra e meia para estar à altura do consumo geral da humanidade. Em 2011 nos aproximamos a 170%, portanto, próximos a dois planetas Terra. A seguir este ritmo, no ano de 2030 precisaremos de pelo menos três planetas Terra iguais a que temos. Se hipoteticamente quiséssemos universalizar o nível de consumo que os países ricos como os Estados Unidos, a União Europeia e o Japão desfrutam, dizem-nos Biólogos e cosmologos, seriam necessários cinco planetas terra, o que é absolutamente irracional (BARBAULT, R. Ecologia geral, 2011, p. 418). (Pag. 25)
Nos últimos séculos, desde o começo do processo de industrialização, estão sendo lançados na atmosfera bilhões de toneladas de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono, nitritos, metano – que é 23 vezes mais agressivo que o dióxido de carbono – e outros gases. Com isso o aquecimento da terra foi crescendo lentamente até alcançar um nível perigoso. Isso foi detectado e denunciado pelo Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas (em inglês IPPC), que reuniu mais de mil cientistas no dia 2 de fevereiro de 2007 em Paris. Constataram então que não estamos indo ao encontro do temido aquecimento global, se não já estamos dentro dele. Não falta muito para acercarmos 2° C. Isto está exigindo duas medidas fundamentais: adaptar-se à nova situação, e quem não o conseguir, como muitas espécies de seres vivos, estará condenado a lentamente desaparecer; a segunda medida consiste em procurar, por todos os modos possíveis, mitigar os efeitos danosos para a biosfera e para espécie humana. Tais medidas só surtirão efeito caso a humanidade como um todo se predisponha a reduzir a emissão de gases poluentes, produtores de aquecimento. O protocolo de Kyoto, ao redor do qual se reuniram os chefes de Estado e de governo da Terra, previa uma redução de 5,2% de gases. Os principais países poluidores, como os Estados Unidos e a China, não subscreveram tais medidas. Este dado é ridículo, pois a comunidade cientifica aconselha urgentemente a redução, ao menos de 60% destes gases danosos. O aquecimento global esconde eventos extremos: por um lado, arrasadoras enchentes, por outro, tórridas secas, irrupção de tufões devastadores, a fome de milhões a destruição de safras provocando a emigração de populações inteiras e a alta dos preços dos alimentos (commodities), a disputa por espaço e por recursos, e guerras tribais. (Pag. 27)
Na saxônia e na Prussia fundaram-se academias de Silvicultura, para onde acorriam estudos de toda a Europa, da Escandinávia, dos Estados Unidos e até da Índia. Esse conceito se manteve vivo nos círculos ligados à Silvicultura e fez-se ouvir em 1970, quando se criou o Clube de Roma, cujo primeiro relatório foi sobre Os Limites do crescimento, que deslanchou acaloradas discussões nos meios científicos, nas empresas e na sociedade. (Pag. 34)
O alarme ecológico provocado por este relatório levou a ONU a ocupar-se do tema. Assim, realizou entre 5 e 16 de junho de 1972 em Estocolmo a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem o Meio ambiente. Os resultados não foram significativos, mas seu melhor fruto foi a decisão de criar o Programa das Nações unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). A outra conferência, muito importante, realizou-se em1984, dando origem à Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, cujo lema era: “Uma agenda global para a mudança”. Os trabalhos desta comissão, composta por dezenas de especialista, encerraram-se em 1987 com o relatório da Primeira-Ministra norueguesa Gro Harlem Brundland, com o sugestivo título: “Nosso futuro comum” (chamado também de relatório Brundland). Ai aparece claramente a expressão “desenvolvimento sustentável” definido como “aquele que atende as necessidade da gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas necessidades e aspirações. ” (Pag.34)
Em consequência desde relatório, a Assembleia das Nações Unidas decidiu dar continuidade à discussão, convocando a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de julho de 1992, conhecida também como a Cúpula da Terra. Produziram-se vários documentos, sendo que a Agenda 21: Programa de Ação Global, com 40 capítulos, e a Carta do Rio de Janeiro são os principais. A categoria “desenvolvimento sustentável” adquiriu também plena cidadania, constituiu o eixo de todas as discussões e aparece quase sempre nos principais documentos. (Pag. 34-35) 
Para os analistas ficava cada vez mais clara a contradição existente entre a lógica do desenvolvimento de tipo capitalista, que sempre procurava maximalizar os lucros às expensas da natureza, criando grandes desigualdades sociais (injustiças), e entre a dinâmica do meio ambiente, que se rege pelo equilíbrio, pela interdependência de todos com todos e pela reciclagem de todos os resíduos (a natureza não conhece lixo). (Pag.35)
Se na Eco-92 no Rio de Janeiro reinava ainda um espírito de cooperação, favorecido pela queda do Império Soviético e do Muro de Berlim, em Joanesburgo se notou uma disputa feroz por interesses econômicos corporativos, especialmente por parte das grandes potências, que boicotaram a discussão das energias alternativas em substituição do petróleo, altamente poluidor. (Pag.36) 
O saldo positivo de todas estas conferências da ONU foi um crescimento de consciência da humanidade concernente à questão ambiental, não obstante persista ainda ceticismo em um bom número de pessoas, de empresas e até de cientistas. Entretanto, os eventos extremos têm se multiplicado tanto, que os céticos já começam a levar a sério a questão das mudanças climáticas da Terra.
A expressão “desenvolvimento sustentável“ começou a ser usada em todos os documentos oficiais dos governos, da diplomacia, dos projetos das empresas, no discurso ambientalista convencional e nos meios de comunicação.
O “desenvolvimento sustentável” é proposto ou como um ideal a ser atingido ou então como um qualificativo de um processo de produção ou de um produto, feito pretensamente dentro de critérios de sustentabilidade, o que, na maioriados casos, não corresponde à verdade. Geralmente entende-se a sustentabilidade de uma empresa se ela consegue se manter e ainda crescer, sem analisar os custos sociais e ambientais que ela causa. Hoje o conceito é tão usado e abusado que se transformou num modismo, sem que seu conteúdo seja esclarecido ou criticamente definido.
De 20-22 de junho de 2012 ocorreu no Rio de Janeiro uma megaconferência, outra Cúpula da Terra, promovida pela ONU, intitulada Rio+20, que se propôs fazer um balanço dos avanços e dos retrocessos do binômio “desenvolvimento e sustentabilidade” no quadro das mudanças trazidas pelo aquecimento global, pela clara diminuição dos bens e serviços da Terra, agravada pela crise econômico-financeira iniciada em 2007, que atingiu o sistema global a partir dos países centrais da ordem capitalista e aprofundando-se mais e mais a partir de 2011. Os temas geradores da Rio+20 foram “sustentabilidade”, “economia verde” e “governança global do ambiente”.
Infelizmente o documento definitivo “Que futuro queremos”, cuja redação final foi confiada à delegação brasileira, por falta de consenso dos 193 representantes dos povos, não chegou a propor nenhuma meta concreta para erradicar a pobreza, controlar o aquecimento global e salvaguardar os serviços ecossistêmicos da Terra. Por ser vazio e temeroso não ajudará a humanidade a sair da atual crise. Nesse momento, não progredir é retroceder. (Pag.36-37)
3 erres: (...) Carta da Terra: reduzir, reutilizar e reciclar os materiais usados. (Pag.39)
Daí se introduziu a responsabilidade socioambiental, com programas que têm por objetivo diminuir a pressão que a atividade produtiva e industrialista faz sobre a natureza e sobre a Terra como um todo. As inovações tecnológicas mais suaves e ecoamigáveis ajudaram neste propósito, mas sem, entretanto, mudar o rumo do crescimento e do desenvolvimento que implica a dominação da natureza. (Pag.39-40)
Mas pelo menos o esforço deve orientar-se no sentido de proteger a natureza, de agir em sinergia com seus ritmos e não apenas não fazer-lhe mal; importante é restaurar sua vitalidade, dar-lhe descanso e devolver mais do que dela temos tirado, para que as gerações futuras possam ver garantidas as reservas naturais e culturais para o seu bem-viver.
Vamos submeter uma análise crítica com os vários modelos atuais que buscam a sustentabilidade. (Pag.40)
O grande ideal da Modernidade: (...) da exploração sistemática da Terra, tida como um baú de recursos, sem espírito e entregue ao bel-prazer do ser humano. (...). Este ideal e este tipo de sociedade foram globalizados e praticamente todas as sociedades do mundo atual se veem obrigadas a alinhar-se a eles, o que equivale a ocidentalizar-se. O decisivo é consumir, e para isso produzir de forma crescente, desconsiderando as externalidades (degradação da natureza e geração de desigualdades sociais, que não são computadas como custos).
Hoje já distantes daqueles primórdios, apercebemo-nos que este processo capitalista/industrial/mercantil trouxe, indubitavelmente, grandes benéficos à humanidade, melhorou as condições da vida e da saúde, colocou os seres humanos com suas culturas em contato uns com os outros, encurtou distâncias, prolongou a vida, enfim, trouxe um sem-número de comodidades que vão da geladeira ao automóvel e ao avião, da luz elétrica à televisão e à internet. (Pag.41) 
Atualmente, tudo leva a crer que ele esgotou suas virtualidades e passou a ser altamente dilacerador dos laços sociais e destrutivo das bases que sustentam a vida. Essa vontade de superexploração da Terra nos fez sentir, nos últimos anos, os limites do nosso planeta, de seus recursos não renováveis e a percepção do mundo finito. Conclusão: um planeta finito não suporta um projeto infinito. (Pag.42)
Grandes nomes da ciência nos têm dado alertas dramáticos sobre o que poderemos esperar caso não fizermos uma travessia bem-sucedida para outro paradigma de habitar o planeta. Cito apenas quatro, pois são da mais alta qualificação científica e gozam de grande credibilidade. 
O primeiro, astrônomo real do Reino Unido, Martin Ress: Hora final: um desastre ambiental ameaça o futuro da humanidade; as palavras não necessitam explicação.
O segundo, o mais famoso biólogo vivo, criador da palavra biodiversidade, Edward O.Wilson: A criação – Como salvar a vida na Terra; parte do pressuposto de que pesa grave ameaça à vida humana e à nossa civilização; segundo ele, somente uma aliança entre a religião e a ciência nos poderá salvar.
O terceiro, o conhecido geneticista francês Albert Jacquard, cujo livro diz tudo: A contagem regressiva começou? (Le compte à rebours a-t-il commencé?); um dos capítulos se intitula “A preparação do suicídio coletivo”.
O quarto, James Lovelock, bioquímico e médico, autor da Teoria de Gaia, a Terra como um superorganismo vivo: Gaia: alerta final, prevê para o final do século o desaparecimento de grande parte da humanidade. (Pag.42-43)
(...) A pergunta: quanto posso ganhar? Ou como posso, ao produzir, estar em harmonia com a Terra, com as energias terrestres e cósmicas, com os outros, com meu próprio coração e com a Última Realidade?
(...) O modelo-padrão de desenvolvimento sustentável como normalmente é pensado e buscado nas empresas e aparece nos discursos oficiais. 
Para ser sustentável o desenvolvimento deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente correto. (Pag.43)
Desenvolvimento economicamente viável: (...) Desenvolvimento na prática, é sinônimo de crescimento material. (...) Este é antropocêntrico, contraditório e equivocado. (...)
É antropocêntrico, (...) É o defeito de todas as definições dos organismos da ONU, o de ser exclusivamente antropocêntricas e pensarem o ser humano acima da natureza ou fora dela, como se não fosse parte dela. 
É contraditório, pois desenvolvimento e sustentabilidade obedecem a logicas diferentes e que se contrapõem. O desenvolvimento como vimos, é linear, deve ser crescente, supondo a exploração da natureza, gerando profundas desigualdades – riqueza de um lado e pobreza do outro – e privilegia a acumulação individual. (...) A categoria sustentabilidade, ao contrário, provém do âmbito da biologia e da ecologia, cuja a logica é circular e includente. 
É equivocado, porque alega como causa aquilo que é efeito. (Pag.44-45)
Socialmente justo: (...)
O Atlas Social do Brasil de 2010, (...) O regime de terras é um dos mais escandalosos do mundo, porque 1% da população detém 48% de todas as terras. (...)
Mas há um ideal de sustentabilidade que vale a pena ser considerado, embora exista, por ora, apenas como ideal e não como prática. Ele se encontra na Declaração da ONU sobre o Direito dos Povos ao Desenvolvimento, de 1993. Ali se compreende o desenvolvimento em sua dimensão integral. (...)
Ambientalmente correto: as referências feitas à economia valem, com mais razão, para o ambiente.
O assalto aos commons, quer dizer, aos bens comuns.
Em conclusão, no modelo padrão de desenvolvimento que se sustentável, o discurso da sustentabilidade é vazio e retórico. (Pag.46-47)
Gestão da mente sustentável: (...). (Pag.48)
Generosidade: (...). (Pag.49)
Cultura: (...). (Pag.50)
Ignacy Sachs, um polonês, naturalizado francês e brasileiro por amor. Veio ao Brasil em 1941, trabalhou vários anos aqui, e atualmente mantém um centro de estudos brasileiros na Universidade de Paris. (Pag.58)
Não se trata de assumir a tese discutível do decrescimento, mas de conferir outro rumo ao desenvolvimento, descarbonizando a produção, reduzindo o pacto ambiental e propiciando a vigência de valores intangíveis como a generosidade, a cooperação, a solidariedade e a compaixão. Enfaticamente repete Sachs que a solidariedade é um dado essencial ao fenômeno humano. (...)
É dele a bela expressão de uma “biocivilização”, uma civilização que da centralidade à vida, à Terra, aos ecossistemas e a cada pessoa. Daí se alimenta o esperançoso sonho de “Terra da Boa Esperança” (veja Ecodesenvolvimento: crescer sem destruir, 1986,e a entrevista em Carta Maior, 29/08/11).
No Brasil é o Prof. Ladislau Dowbor da PUC de São Paulo que apresenta reflexões da linha de Sachs, (...). (Pag.59)
(veja MANCE, E. A revolução das redes – Colaboração solidária como alternativa pós-capitalista, 1999) (...). Ela pode ser entendida, como faz um de seus teóricos e presidente nacional da Secretaria para o Desenvolvimento Solidário, Paul Singer, “como um jeito de produzir, vender, comprar, consumir e trocar sem explorar, sem querer vantagens e sem destruir a natureza” (Introdução à economia solidária, 2002. Economia solidária no Brasil, 2003).
Este modelo se caracteriza mediante as cooperativas de produção e consumo, pelos fundos rotativos de crédito, pelas ecovilas, pelo banco de sementes criolas, pelas redes de lojas de comercio justo e solidário, pela criação de incubadores de novas tecnologias em articulação com as universidades ou até pela recuperação de empresas falidas e gestionadas pelos próprios trabalhadores. (Pag.60-61)
A sabedoria aymara resume nestes valores o sentido do bem-viver (MAMMANI, F.H. Vivier bien/Buen vivir, 2010, p. 446-448): saber comer (alimentos sãos); saber beber (dando sempre um pouco à Pachamama); saber dançar (entrar numa relação cósmico-telúrico); saber dormir (com a cabeça ao norte e os pés ao sul); saber trabalhar (não como peso, mas como uma autorrealização); saber meditar (guardar tempos de silêncio para a introspecção); saber pensar (mais com o coração do que com a cabeça); saber amar e ser amado (manter a reciprocidade); saber escutar (não só com o ouvido, mas com o corpo todo, pois todos os seres enviam mensagens); saber falar bem (falar para construir, por isso atingindo o coração do interlocutor); saber sonhar (tudo começa com o sonho criando um projeto de vida); saber caminhar (nunca caminhamos sós, mas com o vento, o Sol e acompanhados pelos nossos ancestrais); saber dar e receber (a vida surge da interação de muitas forças, por isso dar e receber devem ser recíprocos, agradecer e bendizer). (Pag.63)
Em conclusão podemos dizer: pouco importa a concepção que tivermos de sustentabilidade, a ideia motora é esta: não é correto, não é justo nem ético que, ao buscarmos os meios para a nossa subsistência, dilapidemos a natureza, destruamos biomas, envenenemos os solos, contaminemos as águas, poluamos os ares e destruamos o sutil equilíbrio do Sistema Terra e do Sistema Vida. Não é tolerável eticamente que sociedades particulares vivam às custas de outras sociedades e outras regiões, nem que a sociedade humana atual viva subtraindo das futuras gerações os meios necessários para poderem viver decentemente. (Pag.64-65)
Depois de quase quatro séculos de domínio desta visão da Terra, composta de coisas que estão aí uma do lado da outra, sem conexão entre si, regidas por leis mecânicas e sem valor próprio e ser reconhecido, percebemos, perplexos, que tocamos nos limites da Terra. Ela é um planeta pequeno, velho, com escassa imunidade e com resiliência enfraquecida. Subiu a sua febre, começou a ficar crescentemente aquecida e a mostrar eventos naturais extremos. Tais fenômenos sugerem que ela não é, como se imaginava, simplesmente uma coisa sem vida e sem proposito, mas possui reações como um ser vivo. Acresce ainda a explosão demográfica (somos mais de 7 bilhões de pessoas) que demanda recursos vitais, provocando uma alta pressão sobre os ecossistemas, responsáveis pela manutenção e reprodução da vida em todas as suas formas. (Pag.68)
O fato de sentir-se, na expressão de Descartes, “mestre e dono da Terra” fez com que o ser humano tratasse todos os seres de forma senhoril, de cima para baixo, ao invés de colocar-se juntos deles, como irmãos e irmãs. Tal atitude abriu o caminho para a exploração, a indiferença e a falta de compaixão para com o sofrimento que ocorre na natureza, especialmente nos animais. Transformamo-nos em satã da Terra, ao invés de seu anjo bom, um anjo da guarda. (Pag.70)
Se quisermos uma sustentabilidade viável precisamos, consoante a Carta da Terra, de “um novo começo”. Isso equivale a dizer: temos que construir um novo paradigma civilizatório. (Pag.75)
Para vinho novo, novas barricas. Para um novo paradigma precisamos mais do que ciência. Necessitamos de imaginação, de paixão e de entusiasmo criativo. Devemos recolher todos os cacos do paradigma anterior, acolher toda a sabedoria da humanidade, valorizar todos os saberes benéficos para a vida e para a humanidade, deixar-nos inspirar pelos sonhos generosos das tantas culturas, especialmente daquelas originárias que souberam guardar um sagrado respeito e uma respeitosa convivência com a Mãe Terra. (Pag.76)
Como se há de entender a expressão “novo paradigma”: Desde que foi lançada em 1970 pelo filósofo da ciência norte-americano Thomas Kuhn (...) e difundida a partir de então pelo físico quântico e ecologista Fritjof Capra (O ponto de mutação, 1980) (...) mudanças profundas em qualquer área do conhecimento ou da realidade. (...). Mas existe certo consenso em seu sentido mais geral, que nó assumiremos.
Por paradigma entendemos o conjunto articulado de visões da realidade, de valores, de tradições, de hábitos consagrados, de ideias, de sonhos, de modos de produção e de consumo, de saberes, de ciências, de expressões culturais e estéticas e de caminhos ético-espirituais. Este conjunto articulado, criando uma visão sistêmica, relativamente coerente, é denominado também de cosmologia, que significa uma visão geral do universo, da Terra, da vida e do ser humano, que serve de orientação para as pessoas e para as sociedades e que atende a uma necessidade humana por um sentido globalizador de tudo.(Pag.76-77)
Dois paradigmas ou duas cosmologias: (...) moderna, que nós qualificamos de cosmologia da dominação. (...) 
O outro paradigma ou cosmologia que nós denominamos de cosmologia da transformação, expressão da era do ecozoico. (...) Carta da Terra. (Pag.77)
O que caracteriza esta nova cosmologia é o reconhecimento do valor intrínseco de cada ser e não de sua mera utilização humana, o respeito por toda a vida, a dignidade da natureza e não sua exploração, o cuidado no lugar da dominação, a espiritualidade como um dado da realidade humana e não apenas expressão de uma religião.
(...) “Nosso grande desafio, ao deixar para trás a velha cosmologia, é reinventar a nossa civilização. As principais instituições do período moderno, incluindo a agricultura, a religião, a educação e a economia, precisam ser reimaginadas no interior de um universo vivo, inteligente e auto-organizativo. (Pag.78)
A sustentabilidade não vem imposta de fora. Ela nasce da própria logica das coisas e do tipo de relação de cooperação, respeito, veneração do ser humano por tudo o que existe e vive. (Pag.79)
Partimos de três pressupostos, aceitos por grande parte da comunidade científica:
O primeiro é que o universo forma um incomensurável todo. (...)
O segundo nos vem da Teoria da Relatividade de Einstein, (...) Matéria é energia, (...).
O terceiro pressuposto nos vem da mecânica quântica, segundo a qual a matéria não possui apenas massa, de onde se originou toda a física moderna, nem somente energia, base para todo o processo industrial, mas possui também informação. Esta se origina da interação permanente que vigora entre todos os seres. (Pag.79)
“Energia de Fundo” ou ao “Vácuo Quântico” (Pag.80)
O Vácuo representa a plenitude de todas as possíveis energias e informações e suas eventuais densificações como matéria dos seres existentes. (...)
Tudo começa com essa misteriosa Energia de Fundo que se sustenta o todo e cada ser e que pervade os espaços infinitos do universo. (...) anterior a tudo de existe. (Pag.80)

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