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AN02FREV001 87 CURSO DE LITERATURA BRASILEIRA, LITERATURA PORTUGUESA MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001 88 MÓDULO IV 3 LITERATURA BRASILEIRA 3.1 O ROMANTISMO O Romantismo é o primeiro período literário da chamada Era Romântica ou Moderna (a literatura portuguesa). Nessa era se incluem também os movimentos literários que o sucederam até os nossos dias. Perceba, pois, que o Romantismo representa uma ruptura bastante sensível entre diferentes momentos da literatura. Essa ruptura não é de maneira alguma exclusiva da literatura e da arte, mas abrange formas de pensar e agir, a vida humana como um todo. Na base dessas transformações sociais se encontram a ascensão das classes burguesas e o progresso técnico e contemporâneo dela. Assumindo o controle político e econômico da sociedade, as camadas burguesas redesenham o sistema de valores vigentes, em detrimento dos privilégios até em poder da nobreza e do clero. Palavras como romantismo e romântico apresentam atualmente uma diversidade de significados que pode produzir erros de interpretação. São empregadas cotidianamente para denominar o modo de ser e o indivíduo “sonhador; fantasioso”, “sentimental”, “apaixonado” ou exagerado, “apelativo”. É importante perceber que não é esse o sentido com que as usamos quando nos referimos ao movimento literário que estudaremos. O modo de ser romântico da literatura é mais complexo e contraditório; além disso, está relacionado com determinada maneira de se sentir e agir própria das condições históricas do final do século XVIII e da primeira metade do XIX. Para compreender o sentido do termo Romantismo nos estudos de literatura, é necessário investigar suas origens. A palavra romance foi primeiramente utilizada AN02FREV001 89 para nomear as formas de língua que sucederam ao latim e que originaram as línguas neolatinas. Passou, depois, a designar as novelas de cavalaria e na cultura medieval. Como veremos, a valorização da Idade Média foi uma das constantes do Romantismo. Em pouco tempo, Romantismo passou a denominar o conjunto do movimento literário e artístico que se manifestou no final do século XVIII e início do século XIX, e a palavra “romântica”, a ser utilizada para indicar valores estéticos opostos aos das formas clássicas. Resumindo, Romantismo designa-se um período literário específico. “Escritor romântico” e “obra romântica” são expressões ligadas a esse período literário, e não ao sentido cotidiano da palavra. Em Portugal, o período romântico pode ser dividido em três momentos principais: o de sua implantação e consolidação, em que se destacam as figuras de Almeida Garrett e Alexandre Herculano; e o de sua exacerbação e dissolução, seja na forma do ultrarromantismo, seja no trabalho de Camilo Castelo Branco, João de Deus e Júlio Dinis, em que já surgem elementos do Realismo e do Naturalismo. Como veremos, esses autores produziram poesia, teatro e principalmente prosa de ficção. 3.1.1 Almeida Garrett João Batista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu no Porto, em 1799, e faleceu em Lisboa, em 1854. Teve vida muito movimentada, refletindo o próprio período agitado da história portuguesa em que viveu. Em 1809, foi com a família para os Açores, a fim de fugir das invasões napoleônicas; lá, foi educado por um tio que era escritor árcade. Posteriormente, estudou direito em Coimbra. Em 1825, teve de exilar-se na Inglaterra, onde entrou em contato com a obra dos românticos ingleses, principalmente Walter Scott e Byron. Daí passou para a França, onde publicou, mas teve de voltar ao exílio em 1828. Só voltou ao seu país em 1832, durante o desembarque das tropas liberais que tomaram o Porto. Com a vitória liberal, passou a ocupar cargos e funções públicas, dentre as quais se destacam as AN02FREV001 90 atividades pela restauração do teatro português. Foi deputado por várias vezes, chegando a ser ministro dos Estrangeiros. Recebeu o título de Visconde. A obra de Almeida Garrett inclui manifestações muito diversas. Escreveu poesia de feição árcade e romântica: O retrato de Vênus, Camões, D. Branca, Lírica de João Mínimo, Flores sem fruto, Folhas Caídas. Em prosa, escreveu o romance histórico O Arco de Sant’Ana e a narrativa Viagens na Minha Terra, deixando inacabado o romance Helena. No teatro, produziu tragédias de feição clássica e dramas históricos, dentre os quais sobressaem um Auto de Gil Vicente, D. Filipa de Vilhena, O Alfageme de Santarém, A Sobrinha do Marques e Frei Luís de Sousa. Garrett deixou ainda, escritos jornalísticos, políticos e pedagógicos, ensaios literários e discursos parlamentares. É considerado o introdutor do Romantismo em Portugal. A seguir analisaremos o poema do Livro Folhas Caídas: Os cinco sentidos São belas – bem o sei essas estrelas, Mil cores – divinas têm essas flores; Mas eu não tenho, amor, olhos para elas: Em toda a natureza Não vejo outra beleza Senão a ti – a ti! Divina – ai! Sim, será a voz que afina Saudosa – na ramagem densa, umbrosa, Será; mas eu do rouxinol que trina Não ouço a melodia, Nem sinto outra harmonia Senão a ti – a ti! Respira – n’aura que entre as flores gira, Celeste – incenso de perfume agreste Sei... não sinto: minha alma não aspira, Não percebe, não toma AN02FREV001 91 Senão o doce aroma Que vem de ti – de ti! Formosos – são os pomos saborosos, E Um mimo – de néctar o racimo: E eu tenho fome e sede... sequiosos, Famintos meus desejos Estão... mas é de beijos, E só de ti – de ti! Macia – deve a relva luzidia Do leito – ser por certo em que me deito. Mas quem, ao pé de ti, quem poderia Sentir outras carícias, Tocar noutras delícias Senão em ti – em ti! A ti! Ai, a ti só os meus sentidos Todos num confundidos, Sentem, ouvem, respiram; Em ti, por ti deliram. Em ti a minha sorte, A minha vida em ti; E quando venha a morte, Será morrer por ti. GARRETT, Almeida. Folhas Caídas. Lisboa: Portugalia, 1969. p. 55-6. Cada uma das cinco estrofes do poema concentra-se em um dos cinco sentidos. O sujeito lírico repete um mesmo esquema: nega-se a experimentar as sensações que a natureza lhe oferece, pois deseja concentrar-se nas que nascem do ser amado. Essa exploração sensorial do amor começa pela visão, pela audição e pelo olfato, sentidos que podem ser sensibilizados sem contato físico, e se encaminha para o paladar e o tato – sentidos cuja sensibilização não pode prescindir desse contato. Caminha-se, assim, para uma realização concreta e física do amor, AN02FREV001 92 sugerida fortemente pelo erotismo de imagens como “pombos saborosos” que se levam à boca, “famintos meus desejos” e pela clareza de imagens como “sentir outras carícias” e “tocar noutras delícias”. A estrofe final demonstra que todas as sensações despertadas pela fruição da pessoa amada se combinam num delírio único, verdadeiro êxtase sensorial e sensual. Há um arrebatamento passional no texto que é claramente romântico. Lembre-se de que a poesia romântica buscava a expressão de uma personalidade,sendo valorizada justamente pelo grau de autenticidade que conseguia transmitir. O sujeito lírico nos contamina com sua paixão, que assoma como verdadeira e irresistível. A real idade é experimentada por meio da emoção e dos sentimentos, e o texto produzido não deixa transparecer as marcas de sua elaboração, comunicando-nos uma forte impressão de espontaneidade. A linguagem é simples, beirando a coloquialidade. Os ornamentos típicos da convenção poética arcádica não aparecem. Pode-se notar certo tom de fala espontânea, marcado pela abundância de pausas e reticências, que sugerem alguém a falar consigo mesmo em voz alta. A aparente simplicidade da linguagem poética de Garrett é, contudo, construída: o texto apresenta um tecido sonoro trabalhado, quer pela alternância rítmica dos decassílabos e hexassílabos, quer pelo jogo de rimas, que são também intensas nos dois primeiros versos de cada uma das cinco estrofes iniciais. O verso “Se não a ti – a ti!” não rima com nenhum outro das cinco estrofes, o que o destaca aos nossos ouvidos. 3.1.2 Frei Luís de Sousa Essa peça é considerada a melhor de Garrett e a obra-prima do teatro romântico português. Seu enredo baseia-se na vida de Manuel de Sousa Coutinho (c. 1555-1632), cavaleiro que, depois de um período de cativeiro em Argel, voltou a Portugal, onde se casou com D. Madalena de Vilhena, viúva de outro cavaleiro, D. João de Portugal, desaparecido na batalha de Acacer-Quibir (a mesma em que desapareceu D. Sebastião). Após mais de vinte anos de casamento e a perda da única filha, D. Manuel e D. Madalena resolveram ingressar na vida monástica. D. AN02FREV001 93 Manuel tornou-se o dominicano Frei Luís de Sousa, que veio a ser um grande prosador. A separação de D. Manuel e D. Madalena sempre foi motivo de indagações. Para transformar esses fatos em trama dramática, Garrett não se preocupou com o rigor histórico, modificando alguns dados a fim de alcançar seus objetivos teatrais. A trama é simples, reforçando-se o caráter trágico: o casamento de C. Manuel e D. Madalena chega ao fim quando D. João de Portugal ressurge após um longo período de desaparecimento. A filha do casal, D. Maria, criança inteligente e sensível, morre pouco antes de os pais professarem. Esse conflito entre a busca individual de satisfação e os obstáculos sociais e o tema de caráter nacional são dois dos ingredientes românticos da peça. No mais, Frei Luís de Sousa aproxima-se muito de uma tragédia clássica: a ação é sintética, os personagens são poucos e nobres, e a peça parece apresentar aos espectadores a situação daqueles que brevemente serão destruídos por um destino austero. Há críticos que veem em Frei Luís de Sousa questões autobiográficas: Garret teve uma filha ilegítima, o que o teria levado a criar a personagem de Maria por quem a plateia sentia forte simpatia e compaixão. Também se apontam relações com o momento histórico português: Maria, símbolo de um Portugal novo – o que saia da Revolução Liberal -, não conseguia viver por causa da persistência de um velho Portugal conservador, personificado em D. João de Portugal (cuja possível reaparição é relacionada no próprio texto com o Sebastianismo). Independentemente dessas interpretações e de outras que sem dúvida proporcionam a peça apresentada méritos indiscutíveis pela eficiência de sua simplicidade trágica. 3.1.3 Alexandre Herculano Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa em 1810 e faleceu nas proximidades de Santarém, em 1877. De família modesta, não pode fazer estudos universitários: foi um autodidata. Exilou-se em 1831, fugindo da perseguição dos absolutistas. No ano seguinte participou da tomada do porto pelos AN02FREV001 94 liberais (juntamente com Garrett). Durante sete anos foi diretor do Panorama, revista de caráter artístico e científico na qual publicou várias de suas obras. Dedicou-se seriamente à atividade de historiador, pesquisando e coletando documentos por todo o país. Herculano foi o responsável pela introdução e pelo desenvolvimento da narrativa histórica em Portugal. Publicou as Lendas e Narrativas, conjunto de contos e novelas predominantemente dedicados a temas históricos. Escreveu poesia (A voz do profeta. A harpa do crente, Poesias) e uma vasta obra historiográfica, que inclui quatro volumes da História de Portugal, também a História da Origem e estabelecimento da Inquisição em Portugal. Destacam-se em suas obras literárias seus textos em prosa, dedicados principalmente ao gênero conhecido como narrativa histórica. Esse tipo de narrativa combina a erudição do historiador, necessária para a minuciosa reconstituição de ambientes e costumes de épocas passadas, com a imaginação do literato, que cria e amplia tramas para compor seus enredos. Sua narrativa de caráter histórico foi desenvolvida inicialmente por Walter Scott (1771 – 1832), poeta e novelista escocês que escreveu A Balada do Último Menestrel e Ivanhoé, entre outros trabalhos. Também o francês Vitor Hugo (1802- 1885) serviu de modelo a Herculano: Vitor Hugo escreveu o romance histórico Nossa Senhora de Paris, em que surge o famoso “Corcunda de Notre-Dame”. A partir desses modelos, desenvolveu-se a narrativa histórica de Herculano, que pode ser considerada ponto inicial para o desenvolvimento da prosa de ficção em Portugal. 3.1.4 Camilo Castelo Branco Camilo Castelo Branco nasceu em 1825 em Lisboa. Suicidou-se em 1890, em San Miguel de Seide. Filho de uma união ilegítima, ficou órfão muito cedo, sendo criado por uma tia. Na juventude, levou vida boêmia e teve várias ligações amorosas. Em 1859, sua amante Ana Plácido abandonou o marido para viver com ele; ambos foram presos por crime de adultério. Em 1866, já morto o marido de Ana AN02FREV001 95 Plácido, o casal se estabeleceu em San Miguel de Seide. Camilo passou a sustentar a família com seu trabalho, desenvolvendo uma atividade profissional intensa. Matou-se ao saber que a cegueira que o acometia era incurável. Escreveu aproximadamente trezentos títulos. Na prosa de ficção, em que produziu novelas passionais, textos satíricos, romances históricos, narrativas curtas. Todo o imenso corpo da obra de Camilo Castelo Branco deve-se destacar seu trabalho de ficcionista, expresso numa grande quantidade de contos, novelas e romances. Suas primeiras obras falam de galãs de boa índole que, corrompidos pelo espaço urbano, são aprisionados por um amor infeliz, de desfecho trágico. Esse amor infeliz e trágico faz parte do esquema básico da chamada novela passional, em que o sentimento se transforma numa verdadeira devoção, capaz de levar os amantes a sacrifícios imensos diante de uma sociedade dominada por interesses materiais. Camilo depurou a novela passional, conseguindo obter textos de elevada intensidade dramática, com um ritmo narrativo bastante ágil. A essas qualidades somam-se as de atento observador das condições sociais contemporâneas. A obra- prima da novela passional camiliana é Amor de Perdição. 3.1.5 Júlio Dinis Júlio Dinis é o pseudônimo de Joaquim Guilherme Gomes Coelho, nascido no Porto em 1839 e falecido na mesma cidade em 1871. Formou-se em medicina, mas a saúde frágil impediu-o de assumir o cargo de professor universitário, levando- o a diversos tratamentos no campo. Morreu de tuberculose. Sua obra inclui poesia, teatro, prosa de ficção e textos jornalísticos. Merecem destaque os contos reunidos em Serões da província e principalmente os quatro romances: As pupilas do Senhor Reitor, Uma família inglesa, A Morgadinha dos Canaviais e Os Fidalgosda Casa Mourisca. AN02FREV001 96 3.2 LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL O início da história da literatura brasileira está relacionado com o nosso início como país, isto é, com o momento de nossa descoberta, quando por aqui chegaram os primeiros portugueses e empreendedores de grandes viagens comerciais. A história da literatura brasileira pode ser dividida em duas grandes eras: a Era Colonial e a Era Nacional. Entre essas duas, há um período de transição que vai de 1808 a 1836. A Era Colonial (de 1500 a 1808) compreende: • O Quinhentismo (de 1500 a 1601). • O Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768); • O Arcadismo (de 1768 a 1808). A Era Nacional (de 1836 até nossos dias) compreende: • O Romantismo (de 1836 a 1881); • O Realismo/ Naturalismo/ Parnasianismo (de 1881 a 1893); • O Simbolismo (de 1893 a 1922); • O Pré-modernismo (de 1902 a 1922); • O Modernismo (de 1922 a 1945); • O Pós-Modernismo (de 1945 até nossos dias). Essas divisões em períodos da história literária não podem ser consideradas estanques. Em geral, estão condicionadas a fatos históricos e políticos. Servem mais como orientação para a caracterização literária do período. AN02FREV001 97 3.2.1 Momento histórico A Europa do século XVI vive o auge do renascimento, com a cultura humanística desmantelando os quadros rígidos da cultura medieval; o capitalismo mercantil avança com o desenvolvimento da manufatura e do comércio internacional; êxodo rural provoca um surto de urbanização. Em consequência dessa nova realidade econômica e social, o século XVI também marca uma crise na Igreja: de um lado, as novas forças burguesas rompendo com o medievalismo católico no movimento da Reforma Protestante; de outro, as forças tradicionais ligadas à cultura medieval e aos dogmas católicos – reafirmados no Concílio de Trento (1545), nos tribunais da Inquisição e em seu Índex (relação de livros proibidos) no movimento conhecido como Contrarreforma. Assim é que o homem europeu, especificamente o ibérico, apresenta em pleno século XVI duas preocupações distintas: as conquistas materiais, resultantes da política das Grandes Navegações, e as conquistas espirituais, resultantes, no caso português, do movimento de Contrarreforma. Essas preocupações determinam as duas manifestações literárias do Quinhentismo brasileiro: a literatura informativa, com os olhos voltados para as riquezas materiais como: ouro, prata, ferro, madeira, etc., e a literatura dos jesuítas, voltada para o trabalho de catequese. Com exceção da Carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da segunda metade do século XVI, fato compreensível, uma vez que a colonização só pode ser contada a partir de 1530. Também a literatura dos jesuítas só teve início no final do Quinhentismo, época em que esses religiosos se fixaram em solo brasileiro. AN02FREV001 98 3.2.2 A literatura informativa A literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos cronistas, reflexo que é das Grandes Navegações, empenha-se em fazer um levantamento da “terra nova”, de sua flora e fauna, de sua gente. Daí ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário. No entanto, seu valor histórico deve ser salientado, pois esses documentos são a única fonte de informação sobre o Brasil do século XVI. Sua principal característica é a exaltação da terra, resultante do assombro do europeu diante do exotismo e da exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o louvor a terra transparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados no superlativo. É curioso perceber que essa exaltação foi a principal semente do sentimento de nativismo que surgiria a partir do século XVII; elemento essencial nas primeiras manifestações contra a Metrópole. 3.2.3 Literatura dos jesuítas Em 1549, chegaram os primeiros jesuítas incumbidos de catequizar os índios e de instalar o ensino público no país. Fundaram os primeiros colégios, que foram, durante bastante tempo, a única atividade intelectual existente na Colônia. Os missionários preocupavam-se em catequizar apenas os índios; os negros, que começaram a chegar, eram ignorados. As obras escritas pelos jesuítas podem ser assim classificadas: • Poemas e peças teatrais com o objetivo de catequizar e moralizar; • Textos informativos, que abordam principalmente questões relativas à catequese; • Poemas sem finalidade catequética ou informativa. AN02FREV001 99 O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesuítas – moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar o índio – foi o teatro. Catequizar e moralizar significava: combater a antropofagia, o politeísmo, a mancebia (união sem o casamento legal) e divulgar o cristianismo. Para tanto, os jesuítas chegaram a aprender a língua tupi, que era então conhecida como “língua geral”, e utilizaram-na como veículo de expressão. Os índios não eram apenas espectadores desse teatro, mas também atores, dançarinos e cantores. Entre as peças de teatro da época, destaca-se o Auto de São Lourenço, escrita pelo padre José de Anchieta. Nela, o autor conta em três línguas (tupi, português e espanhol) o martírio de São Lourenço, que preferiu morrer queimado a renunciar à fé cristã. Na poesia, também merece destaque a obra do padre Anchieta, que escreveu poemas didáticos, com finalidade catequética e poemas não relacionados à catequese, que revelam sua necessidade de expressão. Seus poemas mais conhecidos são: do Santíssimo Sacramento e A Santa Inês. Autores que merecem destaque: • Carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel. • Diário de Navegação de Pero Lopes de Sousa. • Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil, de Pero Magalhães Gândavo (1576). • Narrativa Epistolar e Tratados da Terra e da gente do Brasil, do jesuíta Fernão Cardim (a primeira certamente de 1583). • Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587). • Diálogos das Grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618). • Cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese, dando informações sobre a terra e os costumes. • Diálogo sobre a Conversão dos Gentios, do padre Manuel da Nóbrega. • História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador (1627). AN02FREV001 100 3.3 ESTILOS DE ÉPOCA Denomina-se estilo de época ao conjunto de características comuns a obras de muitos artistas próximos no tempo. ESTILO PORTUGAL BRASIL SÉCULO Barroco 1580 1601 XVII Arcadismo – Neoclassicismo 1756 1768 XVIII Romantismo 1825 1836 XIX 1ª METADE Realismo e Naturalismo 1865 1881 XIX 2ª METADE Simbolismo 1890 1893 XIX FINAL Pré-modernismo - 1902 XIX - XX Modernismo 1915 1922 XX 3.3.1 Barroco em Portugal Características: temas contrastantes como o pecado e a virtude, o bem e o mal, a vida terrena e a vida eterna. Padre Antônio Vieira (Portugal/ Brasil) • Defendeu os cristãos – novos e o capitalismo judaico; • Lutou em benefício dos índios e dos negros; • O tribunal da Inquisição chegou a condená-lo por ser um herege; • Criou sua obra nos dois países: Portugal e Brasil; • Grande orador sacro de sua época; • Defendia os direitos humanos por meio de seus Sermões; AN02FREV001101 • Características Conceptistas: sem exageros e rebuscamentos desnecessários; • Um sermão importante: Sermão da Sexagésima: expõe sua polêmica frente à arte Cultista, analisa o papel do pregador e do ouvinte que não sabendo pregar adequadamente (os padres) faziam perecer à palavra de Deus. Gregório de Matos • Primeiro poeta significativo da literatura brasileira; • Autor de sátiras de extrema irreverência o que fez com que fosse degredado para Angola; • Escreveu poesias líricas, satíricas e religiosas; • Vocabulário forte, não poupava qualquer camada social em suas sátiras; • Seu palavreado chulo intitulou-o de Boca do Inferno; • Desenvolveu o cultismo sem deixar de lado o conceptismo; • Falou do homem brasileiro, do português poderoso, do clero, do rei de Portugal, da sociedade baiana (sátira); • Contraste entre o pecado e o perdão, o antagonismo que vive o homem barroco (religioso); • Fala também do amor, filosofia, natureza das coisas. 3.3.2 Arcadismo Características: - Quanto à escolha dos temas: • A natureza, o campo; • Vida simples, em contato com a natureza; • O resgate do Classicismo greco-romano. - Quanto à linguagem e ao estilo: AN02FREV001 102 • Linguagem simples, natural, clara e direta; • Ordem direta das palavras; • Invocação de musas inspiradoras; • Volta aos clássicos; • Imitação do estilo clássico. Bocage (Portugal) • Grande identificação com Camões; • Escrevia com o pseudônimo Elmano Sabino; • Sequência de amores não correspondidos apresentados em sua literatura; • Existência desregrada e libertina: dificuldades financeiras, amorosas, doenças, prisão, etc.; • Manteve características árcades e pré-românticas; • Escreveu poemas líricos e satíricos; • Conhecido como grande sonetista ao lado de Camões e de Antero de Quental. Tomás Antônio Gonzaga (Brasil) • Participou da Inconfidência Mineira, ao lado de Tiradentes; • Sua obra de destaque: Marília de Dirceu – fala do grande amor nutrido pela noiva; • Essa obra está dividida em duas partes: antes da prisão: otimismo, confiança; depois da prisão: decepção evidente, sofrimento, frustração; • Pseudônimo: Dirceu; • Escreveu também: Cartas Chilenas – crítica aos portugueses em defesa da democracia e liberalismo. Cláudio Manuel da Costa (Brasil) • Publicou obras poéticas, dando início ao arcadismo brasileiro; AN02FREV001 103 • Minucioso na métrica apresentando linguagem muito correta; • Pseudônimo: Glauceste Satúrnio; • A natureza é um consolo para suas aflições; • Paisagem de Minas; • Especializou-se na forma fixa: o soneto. 3.4 ROMANTISMO GRÁFICO SÍNTESE DO ROMANTISMO NO BRASIL 1ª GERAÇÃO (Nacionalista ou indianista) Gonçalves de Magalhães: Poesia religiosa; poema épico – Suspiros Poéticos e Saudades. 2ª GERAÇÃO (Geração Byroniana) Álvares de Azevedo: Mal do século; amor, morte, mulheres idealizadas; influência de Byron. 3ª GERAÇÃO (Condoreira) Castro Alves: Egocentrismo; subjetivismo; observação da realidade; poesia social; luta abolicionista: Navio Negreiro. Gonçalves Dias: Indianismo, natureza pátria, religiosidade, sentimentalismo e brasilidade – Canção do Exílio. Casimiro de Abreu: repetição do estilo dos outros autores. Junqueira Freire: tema do celibato, análise da religião, morte (fuga). Fagundes Varela: sintetizou todos os temas do romantismo. Sousândrade: Causas abolicionistas e republicanas; experiências de viagens; padrões diferentes do Romantismo. AN02FREV001 104 3.4.1 Características gerais • A conquista de um novo público leitor; • Popularização da literatura; • Surgiram quatro tipos de Romances. a) Romance urbano: vida social das grandes cidades com intrigas amorosas. b) Regionalista: características de cada região; as pessoas que vivem longe das cidades. c) Indianista: idealização do índio que vira um herói convivendo com o homem branco. d) Histórico: construção do passado colonial brasileiro. 3.4.2 Produção literária 3.4.2.1 José de Alencar • Romances urbanos, regionalistas, indianistas e históricos; • Destacou-se como um dos maiores romancistas do Romantismo brasileiro; • Faz um grande painel do Brasil mostrando todos os seus cantos; • Idealização extrema de seus personagens; • Valorização do índio; • Aprovação da união entre colonizador e colonizado em suas obras indianistas; AN02FREV001 105 • Apresenta caráter medieval em algumas obras; • Nos romances urbanos: romance de costume; sentimento como enredo; retrato da vida urbana da burguesia. (Lucíola, A Pata da Gazela, Senhora, etc.) • Romances regionalistas: relacionamento do ser humano e a região que habita. Idealização do personagem. (O Gaúcho, O Sertanejo, O Tronco do Ipê). • Romances indianistas: exaltação do herói romântico brasileiro; nacionalismo; a exaltação da natureza (O Guarani, Iracema, etc.). 3.4.2.1.1 Romance urbano: Senhora Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela. Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disputou o certo; foi proclamada a rainha dos salões. Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade. Era rica e formosa. Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de alabastro; dois esplendores que se refletem, como o raio de sol no prisma do diamante. Quem não se recorda da Aurélia Camargo, que atravessou o firmamento da Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de repente no meio do deslumbramento que produzira o seu fulgor? Tinha ela dezoito anos quando apareceu a primeira vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com avidez informações acerca da grande novidade do dia. Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois ao seu tempo saberemos a verdade, sem os comentários malévolos de que usam vesti-la os noveleiros. Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha parenta, viúva, D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanhava na sociedade. Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda, para condescender com os escrúpulos da sociedade brasileira, que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação feminina. AN02FREV001 106 Guardando com a viúva as deferências devidas à idade, a moça não declinava um instante do firme propósito de governar sua casa e dirigir suas ações como entendesse. A descrição da personagem é predominantemente moral e psicológica e suas riquezas são formosura e riqueza (as duas opulências). Caracteriza-se por romance urbano, devido aos fatos ocorrerem em perímetro urbano como: ...“Atravessou o firmamento da Corte como brilhante meteoro...” “Tornou-se a deusa dos bailes...” ...“D. Firmina Mascarenhas, que sempre a acompanha na sociedade”. Alencar faz uma crítica à sociedade brasileira da época, com relação à posição da mulher em que não admitia a emancipação e as moças se faziam acompanhar pelos pais ou parentes. Para saber mais... José de Alencar: o múltiplo. (Mestres da Literatura) http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_acti on=&co_obra=20768 3.4.2.1 Manuel Antônio de Almeida • Precursor do Realismo: Memórias de um Sargento de Milícias. Esta obra é considerada um autêntico romance de costumes. Manuel retrata o homem comum, do povo, com seus problemas e conflitos cotidianos. É totalmente diferente de tudo que já fora publicadono Brasil e, desse ponto de vista, podemos considerá-lo uma obra pré-realista. • Tratou os personagens de forma imparcial; • Proximidade com o real; AN02FREV001 107 • Romance de costumes do século XIX; • Descrevia o povo simples dos subúrbios cariocas; • Criou um anti-herói ou herói pitoresco; • O acontecimento é mais importante que o personagem. 3.5 REALISMO/ NATURALISMO 3.5.1 Portugal 3.5.1.1 Prosa – Eça de Queiros • Importante ficcionista do Realismo Português; • Adultério aparece como um dos principais temas; • Triângulos amorosos; • Anticlericalismo: análise do clero português; • Importante obra: O Primo Basílio: amplia-se o quadro de crítica social; • Constituição moral da sociedade e das famílias. 3.5.1.2 Poesia – Antero de Quental • Defesa dos ideais socialistas; • Lirismo amoroso, erotismo e religiosidade; • Acontecimentos da Questão Coimbrã; • Engajamento político-social; • Reflexão metafísica e pessimismo; • No final da vida, volta-se para a religiosidade e misticismo. AN02FREV001 108 3.5.2 Brasil 3.5.2.1 Aluísio Azevedo • Camada social marginalizada; • Personagens – Retratam grupos humanos; • Influência de Eça de Queirós e Émile Zola; • Homens comparados a animais: rudes, grosseiros; • Cenários sujos, marginais; • Visão racional, científica de mundo; • Personagens naturalistas: o comportamento é determinado pelo meio em que vivem; • Denúncia da estrutura social falha; • Temas: o preconceito racial, a bestialização dos homens pela sensualidade, as taras hereditárias, a corrupção clerical, os marginalizados sociais, o ideal republicano, a crítica ao capitalismo e ao conservadorismo; • Pertencem aos romances românticos: Uma Lágrima de Mulher, A Condessa Vésper, Girândola de Amores (ou Mistérios da Tijuca), Filomena Borges, O Esqueleto, A Mortalha de Alzira; • Romances naturalistas: O Homem, O Coruja, Livro de uma Sogra, e sua trilogia máxima: O Mulato, O Cortiço e Casa de Pensão; • Maior obra: O Cortiço. 3.5.2.2 Machado de Assis • Personagens: estado da alma; • Mostra a sociedade urbana hipócrita; AN02FREV001 109 • O falar do indivíduo regional, mas alcançando o homem universal; isso é contemporâneo no autor; • O personagem é a porta para o autor falar do mundo; • Antes de Memórias Póstumas de Brás Cubas: concessões ao Romantismo; amor; orgulho; ambição; centralização na personagem (Helena; Iaiá Garcia); • Após Memórias Póstumas de Brás Cubas: maior originalidade na construção da personagem; o interior, o eu é explorado; o personagem mais importante que a trama: o pensar sobre a vida mostrando a sociedade da época e seus temas. (Quincas Borba; Dom Casmurro; Esaú e Jacó; Memorial de Aires – Romances psicológicos). SUGESTÕES DE LEITURAS! QUINCAS BORBA http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2118 DOM CASMURRO http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2081 ESAÚ E JACÓ http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2042 MEMORIAL DE AIRES http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2037 3.6 SIMBOLISMO 3.6.1 Características • Misticismo e espiritualismo; • Subjetivismo; AN02FREV001 110 • Musicalidade; • Expressão da realidade de maneira vaga e imprecisa; • Ênfase no imaginário e na fantasia; • Emprego abundante de sinestesia; • Emprego de recursos gráficos; • Produção literária – Portugal. 3.6.1.1 Eugênio de Castro • Iniciador do Simbolismo com seu livro Oaristos, de 1890. 3.6.1.2 Antônio Nobre • Temas: o tempo, a morte, o sofrimento, a desilusão da vida; • Musicalidade sutil, sugestiva; • Nova perspectiva de sensibilidade e visão do mundo. 3.6.2 BRASIL 3.6.2.1 Cruz e Sousa • Intensa adjetivação; • Pessimismo e melancolia; • Desejo de integrar-se ao cosmos; • Musicalidade; AN02FREV001 111 • Metalinguagem; • Erotismo. 3.6.2.2 Alphonsus de Guimaraens • Setenário das Dores de Nossa Senhora; • Câmara Ardente; • Dona Mística. 3.7 MODERNISMO EM PORTUGAL 3.7.1 Fernando Pessoa • Foi um dos diretores da revista “Orpheu”, participando ativamente do modernismo em Portugal; • Quis reconstruir o mundo, organizar o caos; • Queria ser absoluto e abrangente; universal; • Multiplicou-se para poder sentir os vários ângulos da realidade: sua heteronímia; • Tornou-se vários poetas ao mesmo tempo, com características próprias, biografias próprias, etc.; • Escreve como F. Pessoa – ele mesmo e seus heterônimos: 3.7.2 Alberto Caeiro • Nasceu em 1889 onde morreu tuberculoso em 1915; AN02FREV001 112 • Era louro, de olhos azuis; • Foi o mestre dos autores heterônimos; • Pregou a simplicidade e a ligação com a natureza; • Linguagem sem sofisticação; • Para ele o importante na poesia era o “ver”. 3.7.3 Álvaro Campos • Nasceu em 1889 sem constar data da morte; • Era alto, magro, corcunda; • Cursou engenharia naval, mas não exerceu; • Foi o homem da grande cidade, adepto da modernização; agressivo e pessimista; • Exaltou a máquina, as fábricas, o movimento; • É o poeta futurista. 3.7.4 Ricardo Reis • Nasceu em 1887 e não há registros de morte; • Centrou-se nos temas da Antiguidade Clássica; • Tinha uma visão pagã de mundo não acreditando no pecado; • Sempre precisava viver o presente, o momento; • Escreveu de forma sofisticada; usou a emoção como forma de impor suas ideias; • Buscou o equilíbrio e a calma; • É o poeta neoclássico. AN02FREV001 113 Ao longe os montes têm neve ao sol, Mas é suave já o frio calmo Que alisa e agudece Os dardos do sol alto. Hoje, Neera, não nos escondamos, Nada nos falta, porque nada somos. Não esperamos nada E temos frio ao sol. Mas tal como é, gozemos o momento, Solenes na alegria levemente, E aguardando a morte Como quem a conhece. Ricardo Reis. 3.7.5 Fernando Pessoa – ele mesmo • Nasceu em Lisboa em 1888 e morreu em 1935; • Apresentou forte faceta saudosista – Nacionalista; • Mostrou as emoções depuradas pela intelectualidade; • Apegou-se à solidão mostrando-se introvertido; • Análise da função do poeta na vida. Fernando Pessoa “ele-mesmo” publicou Mensagem, livro composto de pequenos poemas que, no conjunto, contam liricamente a história de Portugal e projeta, de forma mística, o sonho de um futuro e glorioso império. São desse livro os versos seguintes: AN02FREV001 114 MAR PORTUGUEZ Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. 3.7.6 Mário de Sá Carneiro • Nasceu em Lisboa em 1890 e cometeu suicídio em Paris, 1916; • Em 1915 lançou a revista “Orpheu” junto com o amigo F. Pessoa; • Profunda crise moral e financeira; • Mostrou inadaptação ao mundo, deixava levar-se pelas emoções, pela megalomania perdendo-se da realidade; • Interiorizou-se mais se mostrando inseguro e egocêntrico; • Principalobra: A Confissão de Lúcio. AN02FREV001 115 3.8 1ª GERAÇÃO MODERNISMO BRASILEIRO – CARACTERÍSTICAS ESPECÍFICAS • Definições de posições bem determinadas e próprias; • Rompimento com as estruturas do passado; • Caráter anárquico e destruidor; • Nacionalismo; • Pesquisa por meio da volta às origens; • Tentativa de criar uma língua brasileira; a língua falada nas ruas, pelo povo; • Repensar a história da literatura no Brasil por intermédio da paródia e do humor; • Valorização do índio-autêntico brasileiro; • É uma fase rica em manifestos: “Pau-Brasil”, Oswald de Andrade – “Verde-Amarelo”, e do “Grupo Anta”, com Plínio Salgado; • Nacionalismo crítico. 3.8.1 Autores modernistas 3.8.1.1 Mário de Andrade • Liberdade formal; • Combate à sintaxe tradicional; • Nacionalismo; • Procura da linguagem brasileira; • Tema principal: a cidade de São Paulo; AN02FREV001 116 • Expressões ítalo-paulistanas; • Linguagem coloquial; • Pesquisa folclórica; • Principais obras: Pauliceia Desvairada – 1922, Lira Paulistana – 1946, Contos Novos – 1946, Amar, Verbo Intransitivo – 1927, Macunaíma – 1928, A escrava que não era Isaura – 1925. Para saber mais... Mário de Andrade: reinventando o Brasil. (Mestres da Literatura) http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co _obra=20779 3.8.1.1.1 Macunaíma Essa obra é construída a partir de um conjunto de lendas a que se misturam superstições, provérbios, anedotas e elementos fantásticos. Macunaíma tenta reaver o amuleto prodigioso (a muiraquitã), que ganhara de sua mulher, Ci, Mãe do mato, único amor sincero de sua vida, e que por desgosto pela morte do filho pequeno subiu aos céus e transformou-se na estrela Beta do Centauro. Macunaíma havia perdido esse amuleto, que acabou ficando em poder do gigante Piaimã, em São Paulo. Depois de várias façanhas, recupera o amuleto, mas perde-o novamente e fica todo machucado. Desiludido, resolve abandonar este mundo e subir aos céus, onde é transformado em constelação. 3.8.1.2 Manuel Bandeira • Influências simbolistas com ligações parnasianas; AN02FREV001 117 • Fez poemas autobiográficos; • Tom melancólico e lírico; • É muito triste em seus textos; • Temas relacionados a doenças e mortes (tuberculose); • Folclore negro; • Às vezes irônico; • Rebeldia e sátira como no poema “sapos”; • Temas populares; • Saudade da infância; • Desejo de libertação; • Principais obras: A cinza das horas – 1917, Ritmo Dissoluto – 1924, Libertinagem – 1930, Estrela da Manhã – 1936, Itinerário de Pasárgada – 1954. Leia, agora, algumas estrofes do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, recitado durante a Semana de Arte Moderna e que traduz o espírito de reação contra a poesia parnasiana. Os sapos Enfunando os papos, Saem da penumbra, Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra. Berra o sapo-boi: -“Meu pai foi à guerra!” -“Não foi!” O sapo-tanoeiro, Parnasiano aguado, Diz: - “Meu cancioneiro É bem martelado. AN02FREV001 118 Vede como primo Em comer os hiatos! Que arte! E nunca rimo Os termos cognatos. O meu verso é bom Frumento sem joio. Faço rimas com Consoantes de apoio. Vai por cinquenta anos Que lhes dei a norma: Reduzi sem danos A formas a forma. Clame a saparia Em críticas céticas: Não há mais poesia, Mas há artes poéticas... Dono de um lirismo muito pessoal, Manuel Bandeira conseguiu expressar com grande sensibilidade os momentos e as emoções que marcam a existência humana; por isso sua poesia é universal. Poema de finados Amanha que é dia dos mortos Vai ao cemitério. Vai E procura entre as sepulturas A sepultura de meu pai. Leva três rosas bem bonitas. Ajoelha e reza uma oração. Não pelo pai, mas pelo filho: AN02FREV001 119 O filho tem mais precisão. O que resta de mim na vida É a amargura do que sofri. Pois nada quero, nada espero. E em verdade estou morto ali. 3.8.1.3 Outros autores • Alcântara Machado: Brás, Bexiga e Barra Funda; • Cassiano Ricardo: Martim Cereré; • Guilherme de Almeida: A flor que foi um homem; • Menotti Del Picchia: Juca Mulato; • Plínio Salgado: O cavaleiro de Itararé; • Raul Bopp: Cobra Norato. 3.9 2ª GERAÇÃO DO MODERNISMO BRASILEIRO 3.9.1 Características específicas • Início com o livro Alguma Poesia, de Carlos Drummond de Andrade; • Aprofundou os ideais e propostas da 1ª fase; • Verso livre; • Poesia sintética; • Buscava o “eu-indivíduo” e o seu “estar no mundo”; • Investigação do papel do artista; • Metalinguagem; AN02FREV001 120 • Corrente mais intimista e espiritualizada; • Evidencia-se a fragilidade do Eu; • Domínio da prosa com o Romance regionalista nordestino, social e politicamente engajado. 3.9.2 Poetas da 2ª fase 3.9.2.1 Carlos Drummond de Andrade a) Temas específicos: o indivíduo; a terra natal; a família; os amigos; o social; o amor; a própria poesia; exercícios lúdicos com a poesia; visão de existência. b) Características: • 1925 – 1940: Poesia irônica; saudosismo; individualismo; contempla o mundo e a si mesmo. Obras: Alguma Poesia; Brejo das Almas e Sentimento de Mundo. • 1941 – 1945: Poesia social; guerra; ditadura; denúncias; a metalinguagem. Obras: A Rosa do Povo; Poemas José e A Procura da Poesia. • 1946 – 1958: Poesia metafísica, ideologia; negativismo; descrença. Obras: Poesia até Agora; Claro Enigma e Fazendeiro do Ar. • 1962 – 1968: Poesia objectual; liberdade poética; atitude lúdica; o prosaico; o irônico; poesia experimental. Obra: Lição de coisas. • 1968 – 1987: Últimas obras: certo erotismo e ecletismo. Obra: Boi tempo, entre outras. AN02FREV001 121 José E agora, José? A festa acabou, A luz apagou, O povo sumiu, A noite esfriou E agora, José? E agora, você Você que é sem nome, Que zomba dos outros, Você que faz versos, Que ama, protesta? E agora, José? Está sem mulher, Está sem discurso, Está sem carinho, Já não pode beber, Já não pode fumar, Cuspir já não pode, A noite esfriou, O dia não veio, O bonde não veio, O riso não veio, Não veio a utopia E tudo acabou E tudo fugiu E tudo mofou, E agora, José? E agora, José? Sua doce palavra, AN02FREV001 122 Seu instante de febre, Sua gula e jejum, Sua biblioteca, Sua lavra de ouro, Seu terno de vidro, Sua incoerência, Seu ódio – e agora? Com a chave na mão Quer abrir a porta, Não existe porta; Quer morrer no mar, Mas o mar secou; Quer ir para Minas, Minas não há mais. José, e agora? Se você gritasse, Se você gemesse, Se você tocasse A valsa vienense; Se você dormisse, Se você cantasse, Se você cansasse, Se você morresse... Mas você não morre, Você é duro, José! Sozinho no escuro Qual bicho do mato, Sem teogonia, Sem parede nua Para se encostar, AN02FREV001 123 Sem cavalo preto Que fuja a galope, Você marcha, José! José, para onde? Carlos Drummond de Andrade, Antalogia Poética, Record. Utopia: coisa irrealizável, fantasia. Teogonia: doutrina que trata do nascimento dos deuses. No poema, a repetição frequente dá cadência,ritmo e ênfase à ideia. E esta repetição faz com que o poema se sobressaia. José representa um personagem ideal, mais amplo, isto é, representa todo o indivíduo que está na situação apresentada pelo poema; ele se vê diante de vários problemas: anonimato, o desamparo – a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, o impasse e sem destino. 3.9.2.2 Cecília Meireles a) Temas específicos: a solidão; o amor perdido; a saudade; o espaço: o oceano; temas históricos; a fugacidade do tempo; a fragilidade do ser humano; os desacertos dos homens; o isolamento; a sombra; o nada. b) Características: • Escreve obras em poesia, prosa e também traduções; • Influência simbolista; • Uso de lirismo; • Ceticismo e melancolia; • Musicalidade como apoio para seus lamentos; • Versos curtos e com ritmo; • Jogo de imagens, sons e cores; AN02FREV001 124 • Subjetivismo; • Corrente espiritualista do modernismo; • Obras: espectros (1919); Viagem (1939); Vaga música (1942); Mar Absoluto (1945); Romanceiro da Inconfidência (1953); A Rosa (1957). 3.9.2.3 Vinícius de Moraes a) Temas específicos: espiritualidade; amor platônico; amor real; a mulher; a sensualidade. b) Características: • Transcendental e místico numa 1ª fase; • Versos mais longos e melancólicos; • Proximidade com o mundo material; 2ª fase; • Versos mais curtos; sonetos, às vezes, um modelo de Camões; versos decassílabos e alexandrinos; • Antíteses e paradoxos; • Letras de músicas e criação de histórias infantis; • Obras: O Caminho para a distância -1933; Ariana, a mulher – 1936; Novos Poemas – 1938; Cinco Elegias – 1943; Arca de Noé – 1970. 3.10 PROSA DO MODERNISMO 2ª FASE: 3.10.1 José Américo de Almeida • A Bagaceira, 1928; início da corrente regionalista nordestina. Retrata a vida dos engenhos de cana-de-açúcar, os retirantes e a seca; • Valores morais do homem nordestino. AN02FREV001 125 3.10.2 Rachel de Queirós • Falou do Ceará; da seca; do povo que lá vive e da Terra; • O Quinze, 1930: o tema é a grande seca de 1915; aspecto social junto com aspecto psicológico. 3.10.2.1 O Quinze O tema deste romance é a seca, enfocando a dimensão social, sem deixar de lado a análise psicológica de algumas personagens. A marcha penosa e trágica de Chico Bento, que representa o retirante, constitui o núcleo dramático da obra. Paralelamente, desenvolve-se o drama da impossibilidade de comunicação afetiva entre Vicente e Conceição – ele, um proprietário rural sensível à miséria que o rodeia, mas impotente para eliminá-la; ela, uma moça da cidade, atraída pela figura livre e franca de Vicente, mas que não consegue penetrar em seu mundo rude, quase selvagem. 3.10.3 José Lins do Rego • Decadência dos engenhos desmantelados pelas usinas. • Ciclo da cana-de-açúcar: sua vivência no engenho. • O narrador de Menino de Engenho é o reflexo do próprio autor em alguns momentos. • Em 1943, o autor publica Fogo Morto, sintetiza o ciclo e conta a história de um engenho chamado Santa Fé. AN02FREV001 126 3.10.4 Jorge Amado • Regionalismo baiano, zonas rurais do cacau e zona urbana de Salvador. • Tipos marginalizados. • Análise da sociedade. • Utilização em suas obras da “fala do povo”. • Romances Proletários: mostra a vida em Salvador com um retrato social – Suor, O país do Carnaval e Capitães de Areia. • Ciclo do cacau: a vida nas fazendas nas regiões de Ilhéus e Itabuna – Cacau, Terras do Sem-Fim, São Jorge dos Ilhéus. • Crônicas de costumes e depoimentos líricos: novelas, romances com temáticas amorosas – Mar Morto, Gabriela Cravo e Canela, A Morte e a Morte de Quincas Berro D’água. 3.10.5 Graciliano Ramos • Início do trabalho com a publicação de Caetés (1933). • Atividades subversivas; preso político; Memórias do Cárcere. • Viagem aos países socialistas; Viagem. • Clima de tensão; relações do homem com o meio natural; meio social. • Final trágico: o suicídio. • O homem muitas vezes se animaliza. • A seca, os retirantes, a vida na caatinga. AN02FREV001 127 3.11 POESIA PÓS-MODERNA 3.11.1 João Cabral de Melo Neto • Linguagem objetiva e seca. • Temas sociais do Nordeste em algumas obras. • Obras: Pedra do Sono – 1942, O Engenho – 1945, Morte e Vida Severina – 1956, etc. • Poesia sintética; objetiva, escreve como um engenheiro. 3.11.2 Concretismo • Fim do verso; • Eliminação da sintaxe tradicional; • Força visual das palavras; • Nova forma de comunicação poética: o gráfico; • Exploração de formas, cores, montagem de palavras; • Principais poetas: Haroldo de Campos, Décio Pignatari e Augusto de Campos. 3.11.3 Ferreira Gullar • Luta social; • O meio e o homem; • Obras: A luta Corporal – 1954; Quem matou Aparecida – 1962, etc. AN02FREV001 128 3.12 PROSA PÓS-MODERNA 3.12.1 Clarice Lispector • Fluxo de consciência compondo com o enredo fatual; • Momento interior é o tema mais importante; subjetividade; • Amostras do mundo de forma metafísica; • Um novo sentido de liberdade a partir da sua leitura do mundo; • Obras: Perto do Coração Selvagem – 1947; estreia: O Lustre – 1946; A cidade Sitiada – 1949; A maçã no escuro – 1961; A paixão Segundo GH – 1961; A Hora da Estrela – 1977, entre outras. 3.12.2 Guimarães Rosa • Aproveitamento da fala regionalista com seus arcaísmos; • Neologismos; • Recorrência ao grego e latim; • Além da experimentação formal, temos uma visão profunda do ser humano e suas experiências; • Cenário: o sertão brasileiro; • Regionalismo universalizante: a problemática atinge o homem em qualquer lugar; • Questionamentos sobre Deus e Diabo; significado da vida e da morte; o destino; • Obras: Sagarana -1948; Corpo de Baile -1956; Grande Sertão: Veredas – 1956; Primeiras Estórias – 1962, etc. AN02FREV001 129 3.13 PRODUÇÕES CONTEMPORÂNEAS A literatura contemporânea proporciona grande variedade de estilos, entre contos e crônicas os quais aparecem em grande número, sendo os gêneros mais lidos pelos brasileiros. A poesia social surgiu em 1957, reagiu também contra o concretismo, e é mais voltada aos problemas do país. Para saber mais.... “O Concretismo surge na Europa, por volta de 1917, na tentativa de se criar uma manifestação abstrata da arte. A busca dos artistas era incorporar a arte (música, poesia, artes plásticas) às estruturas matemáticas geométricas. A intenção deste movimento concreto era desvincular o mundo artístico do natural e distinguir forma de conteúdo. Para os concretistas a arte é autônoma e a sua forma remete às da realidade, logo, as poesias, por exemplo, estão cada vez mais próximas das formas arquitetônicas ou esculturais. As artes visuais não figurativas começam a ser mais evidentes, a fim de mostrar que no mundo há uma realidade palpável, a qual pode ser observada de diferentes ângulos.” VILARINHO, S. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/literatura/concretismo.htm>. Acesso em: 28 jun. 2010. AN02FREV001 130 Na década de 1970, a poesia marginal denunciava a situação de medo que o país ainda atravessava sob a ditadura militar; seus textos próximos à prosa tinham uma maior preocupação com a expressão do que com a construção. 3.13.1 Lygia Bojunga (1932 - ) Lygia Bojunga Nunes, escritora brasileira, nasceu em Pelotas no dia 26 de agostode 1932 e cresceu numa fazenda. Aos oito anos de idade, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em 1951, se tornou atriz numa companhia de teatro que viajava pelo interior do Brasil. Durante essas turnês, conviveu com a pobreza e o analfabetismo e, por isso, fundou uma escola que dirigiu por cinco anos. Trabalhou durante muito tempo para o rádio e a televisão, até estrear como escritora de livros infantis em 1972, com sua primeira obra literária "Os Colegas". A literatura infantil brasileira caracteriza-se por uma acentuada transgressão dos limites entre a fantasia e a realidade. Lygia Bojunga é uma escritora que perpetuou esta tradição e a tornou perfeita. Os sentimentos de tristeza, alegria, aventura e tranquilidade convivem harmonicamente. Ela acredita que o dia a dia está repleto de magia; portanto, os personagens dos seus livros fantasiam livremente. O objetivo maior de seus textos é a perspectiva da criança. O que ela revela de mais sério está sempre em equilíbrio com o humor e a brincadeira. É uma apaixonada pelo social e pela democracia e com muita sutileza e magia exprime suas ideias. Lygia tem o dom da narrativa que prende a atenção do leitor desde o primeiro capítulo. A escritora tem uma longa lista de sucessos da literatura infantil, desde Os Colegas, de 1972, até Retratos de Carolina, de 2002, passando por Angélica, O Sofá Estampado, A Casa da Madrinha e Corda Bamba, entre outros. AN02FREV001 131 As obras de Lygia Bojunga estão traduzidas para várias línguas, dentre as quais: francês, alemão, espanhol, norueguês, sueco, hebraico, italiano, búlgaro, tcheco e islandês. Recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio Jabuti (1973), o prestigiado Prêmio Hans Christian Andersen (1982), o Prêmio da Literatura Rattenfänger (1986) e, em 26 de maio de 2004, em Estocolmo, Suécia, recebe da Princesa Victória o maior e mais importante prêmio da literatura infanto-juvenil, o Prêmio Astrid Lindgren, no valor de 1,9 milhões de reais, aproximadamente. 3.13.2 Rubem Braga (1913-1990) Um dos maiores cronistas brasileiros, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, no dia 12 de janeiro de 1913. Iniciou seus estudos na sua cidade natal e posteriormente veio morar com parentes em Niterói, RJ, para estudar no Colégio Salesiano. Formou-se em Direito (1932). Seu primeiro livro, "O Conde e o Passarinho", foi publicado em 1936 quando ele tinha apenas 22 anos. Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, onde escreveu o livro "Com a FEB na Itália", em 1945. De volta ao Brasil, morou em Recife, Porto Alegre e São Paulo, antes de se estabelecer definitivamente no Rio de Janeiro. Na época do Regime Militar, se escondeu da repressão e foi preso algumas vezes. Com temperamento fechado e por gostar de solidão, só ficou famoso exclusivamente por seu talento. Rubem Braga foi o único autor nacional que conquistou a celebridade por meio das crônicas. Com um estilo muito próprio, suas crônicas, dotadas de extremo lirismo, porém com linguagem coloquial, denotam o cotidiano com suas paisagens, pessoas e respectivo estado de espírito. Trabalhou também como jornalista e cronista em diversos jornais e revistas do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Foi ainda correspondente dos jornais O Globo e Correio da Manhã, em Paris. AN02FREV001 132 Em 1961, foi nomeado Embaixador do Brasil no Marrocos. Entrou para o quadro de funcionários da Rede Globo, onde trabalhou até morrer, em 19 de dezembro de 1990, sozinho num quarto do Hospital Samaritano, no Rio de Janeiro. Rubem deixou muitas crônicas, romances, traduções e adaptações. Na publicação de sua crônica, "As Coisas Boas da Vida", em 1988, Rubem Braga enumera, no texto, "as dez coisas que fazem a vida valer a pena". A última delas: "Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte - o assim chamado descanso eterno". 3.13.3 Fernando Sabino (1923 - 2004) Fernando Tavares Sabino é escritor, nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, no dia 12 de outubro de 1923. Desde cedo revelou sua inclinação para a vida literária e para a música, ouvindo atentamente sua irmã e o pai ao piano. Com 12 anos incompletos, em 1935, foi locutor do programa infantil "Gurilândia", da Rádio Guarani de Belo Horizonte. Suas primeiras tentativas literárias sofreram influências dos livros de aventuras que vivia lendo. Ainda bem jovem, colaborava regularmente com artigos, crônicas e contos nas revistas "Alterosas" e "Belo Horizonte". Participou de concursos de crônicas sobre rádio e de contos, obtendo seguidos prêmios. Aos 17 anos, decidiu ser gramático. Iniciou também o curso na Faculdade de Direito. Conviveu com escritores e ingressou no jornalismo como redator da "Folha de Minas". Reuniu seus primeiros contos no livro "Os Grilos não Cantam Mais", publicado no Rio de Janeiro e muito bem aceito pelos críticos. Consagrou-se como um cronista de primeira linha. Autor de novelas, romances, contos, peças teatrais, artigos e crônicas para jornais e revistas, o mineiro Fernando Sabino tornou-se um dos escritores mais populares no Brasil, com textos de linguagem bem coloquial, bem-humorados e extremamente criativos. AN02FREV001 133 3.13.4 Paulo Coelho (1947 - ) Escritor brasileiro, nasceu em 24 de agosto de 1947, na cidade do Rio de Janeiro. Trabalhou como jornalista, compositor, autor e diretor de teatro. Agora, totalmente dedicado à Literatura, é considerado um dos maiores escritores do mundo, tendo alcançado a marca de 54 milhões de exemplares vendidos. Paulo é um homem que vive numa busca espiritual constante. Seu primeiro livro, "Arquivos do Inferno", de 1982, não teve qualquer repercussão. Em 1986, fez a caminhada de Santiago de Compostela, que resultou no livro "O Diário de Um Mago", grande sucesso literário de 1987. No ano seguinte explodiu com "O Alquimista", um dos maiores fenômenos literários do século XX, o livro brasileiro mais vendido de todos os tempos, traduzido para 56 idiomas. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 25 de julho de 2002, ocupando a cadeira nº 21. Leia mais... A Poética de Manoel de Barros: uma sabedoria da terra <http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S0716-58112004001500005&script=sci_arttext> FIM DO MÓDULO IV AN02FREV001 134 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Fernando Mendes de. Sonetos Bocage: apresentação, seleção e notas de Fernando Mendes de Almeida. São Paulo: Ediouro, Publifolha, 1997. (Biblioteca Folha, 10). AMARAL, Eloy do. Bocage. Lisboa: Ed. Ulisseia, 1965, p.150-1. CADERMATORI, Lígia. Períodos literários. São Paulo: Ática, 1985. CAMPEDELLI, Samira. Literatura, história e texto. São Paulo: Saraiva, 1999. EDUKBR. Disponível em: <http://www.edukbr.com.br/artemanhas/lit_brasil_contemporanea.asp>. Acesso em: 28 jun. 2010. NICOLA, José de. Literatura brasileira: das origens aos nossos dias. 15. ed. São Paulo: Scipione, 1998. PORTAL DOMÍNIO PÚBLICO. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp> Acesso em: 25 jun. 2010. SARAIVA, Antônio José; LOPES, Oscar. História da Literatura Portuguesa. 17. ed. Porto Portugal: Porto Editora, 1996. SAVIO, L. A Poética de Manoel de Barros: uma sabedoria da terra. Literatura y Lingüistíca. Disponível em: <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0716- 58112004001500005&lng=es&nrm=iso > Acesso em: 28 jun. 2010. FIM DO CURSO
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