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Crimes contra a pessoa IV

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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL
INTRODUÇÃO À PARTE ESPECIAL
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES DE ACORDO COM O RESULTADO:
1) Crime material: O tipo penal prevê uma conduta + resultado naturalístico, 
sendo que para a consumação do delito necessário que se verifique 
ambos. Ex: Homicídio, roubo.
2) Crime formal: O tipo penal também prevê uma conduta + resultado 
naturalístico, entretanto, para ficar caracterizada a consumação do 
crime, se faz necessária apenas a conduta, sendo o resultado 
naturalístico mero exaurimento do crime, influenciando na dosimetria da 
pena. Ex: :Corrupção, extorsão, extorsão mediante sequestro.
3) Crime de mera conduta: O tipo penal prevê apenas uma conduta, não 
fazendo qualquer menção a resultado naturalístico e, 
consequentemente, a realização da conduta consuma o delito. Ex: 
Invasão de domicílio. 
Por se tratarem de normas penais incriminadoras, a interpretação 
deve ser sempre restritiva, não se admitindo analogia.
Todo crime é uma conduta (ação ou omissão), sempre sendo um 
verbo, chamado de núcleo do tipo penal.
Também ficar atento que muitos crimes não possuem apenas núcleo 
do tipo, mas também um ou mais complementos, que 
obrigatoriamente devem ser observados, chamados de 
elementos objetivos do tipo.
Por fim, há crimes em que a conduta do autor deve ter finalidade 
específica, não bastando a mera prática do verbo, sendo 
chamados de elementos subjetivos do tipo. 
 
DOS CRIMES CONTRA A PESSOA
ARTIGO 121 - HOMICÍDIO
- Elementos objetivos do tipo: Matar (eliminar a vida) alguém 
(pessoa humana).
- Consumação e tentativa: Crime material, consuma-se com a 
morte encefálica da vítima. A tentativa é admissível.
- CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA - §1º – Também chamado 
homicídio privilegiado
a) Relevante valor social ou moral: Relevante é algo importante 
ou de elevada qualidade, como o patriotismo, lealdade, 
fidelidade, amor paterno). Valor social envolve interesse de 
ordem geral ou coletiva (ex: matar o traidor da pátria). Valor 
moral é interesse particular ou específico (ex: matar o 
traficante que viciou seu filho ou estuprador da sua filha). 
b) Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da 
vítima: Exige-se que o agente esteja dominado (fortemente envolvido) por 
violenta (forte, intensa) emoção (excitação causado por um sentimento 
como amor, ódio, rancor), sendo exigido ainda que tenha sido 
previamente provocada injustamente (sem razão plausível) pela vítima.
HOMICÍDIO QUALIFICADO - §2º
I) Motivo torpe: Inclui a paga (recebimento de qualquer vantagem) ou 
promessa de recompensa (expectativa de receber vantagem, chamados 
de homicídio mercenário. Torpe é o motivo repugnante, indecente, 
provocador de excessiva repulsa à sociedade. Ex: Traficante que mata 
seu concorrente para aumentar seus pontos de venda. 
II) Motivo fútil: Motivo insignificante. É a flagrante desproporção entre o 
motivo e o resultado obtido, ou seja, a morte de alguém. Ex: Matar o dono 
de um bar que recusou-se a vender-lhe bebida. 
III) Meio insidioso, cruel ou que possa resultar em perigo comum: 
A própria lei usa como exemplos o emprego de veneno, fogo, 
explosivo, asfixia ou tortura. Meio insidioso é o meio enganoso, 
camuflando a ação do agente, ex. veneno. Meio cruel é aquele 
que gera sofrimento desnecessário na vítima, tendo como 
exemplos fogo, tortura e asfixia. Já o meio que pode resultar 
perigo comum é aquele que constrói cenário extenso o 
suficiente para atingir terceiro além da própria vítima, sendo 
exemplo, explosivos ou fogo de grandes proporções. 
IV) Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do 
ofendido: A própria lei usa como exemplos a traição, a 
emboscada e a dissimulação. São recursos que causam 
surpresa na vítima, mas uma surpresa imprevisível. 
V) Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem 
de outro crime: É uma torpeza particular. Ex: Matar a testemunha de 
um outro crime que praticou, somente para evitar ser preso. 
VI) Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino - É o 
chamado crime de feminicídio. Não basta que a vítima seja mulher, 
necessário que fique caracterizada a situação violência doméstica e 
familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 
Muitos entendem tratar-se do último degrau da violência contra a 
mulher, que começa com as agressões leves e vai progredindo até a 
prática do crime capital. O §7º ainda prevê causas de aumento de 
pena específicos para este crime: I - durante a gestação ou nos 3 
(três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 
(catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - 
na presença de descendente ou de ascendente da vítima
VII) Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da 
Constituição Federal (Forças armadas, polícia federal, polícia 
rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, 
polícias militares e corpos de bombeiros militares), 
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de 
Segurança Pública, no exercício da função ou em 
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou 
parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa 
condição - Ou seja, exige-se do agente que saiba que a 
vitima é integrante de uma das carreiras acima, quando o 
mesmo não estiver no exercício do cargo.
OBS: Para ser considerado crime hediondo, o homicídio deve 
ser qualificado (art. 1o. inciso I da Lei 8.072/1990). 
§3º – HOMICÍDIO CULPOSO
- Causa de aumento de pena do homicídio culposo – previsto no §4º: 
a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício.
b) Omissão de socorro: Pune-se mais severamente o autor que 
demonstra insensibilidade ao deixar de socorrer pessoa que não 
desejava atingir. Obviamente tal socorro só é exigível quando não 
oferecer risco ao autor. 
c) não procurar diminuir as consequências do seu ato: Ainda que 
não possa socorrer a vítima, exige-se do autor que busque 
praticar alguma atitude solidária para amenizar o mal causado. 
Ex: Procurar a vítima no hospital e prestar-lhe auxílio moral ou 
financeiro).
d) fuga da prisão em flagrante.
- Perdão judicial previsto no §5º: Pode ser aplicado pelo juiz 
quando as consequências do crime atingirem o agente de 
maneira tão grave que a sanção penal torna-se 
desnecessária. O agente pode ser atingido de forma física, 
como p.ex. sofrer lesões graves, de difícil cura e 
tratamento), ou de forma moral, p.ex., perda de um ente 
querido, um filho”.
 
- Causa de aumento de pena previsto no §6º: A pena é 
aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for 
praticado por milícia privada (grupo paramilitar, que age 
inoficiosamente, prometendo segurança à população em 
lugar da atividade estatal regular), sob o pretexto de 
prestação de serviço de segurança, ou por grupo de 
extermínio (associação de pessoas que se julgam 
justiceiros, eliminando suspeitos de crimes e outras pessoas 
consideradas nocivas à sociedade) – Tal causa de aumento 
de pena é aplicável tanto ao homicídio simples quanto ao 
qualificado. 
OBS: A questão do homicídio privilegiado-qualificado: Acontece 
quando se verifica no mesmo fato típico a ocorrência de 
circunstâncias atenuantes e qualificadoras. A maioria da 
doutrina entende ser possível, desde que a qualificadora 
seja de caráter objetivo, ou seja, somente as previstas nos 
incisos III e IV do §2º. Uma parte minoritária entende não 
ser possível, sendo que neste caso o homicídio será apenas 
privilegiado. 
OBS 2: Homicídio sem motivo: Não existe, pois todo agir 
humano tem alguma motivação, por mais íntima ou 
subconsciente que seja. 
ART. 122 - INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A 
SUICÍDIO
- Núcleos-verbos do tipo:
a) Induzir – Fazer nascer a ideia
b) Instigar: Reforçar ideia já existente
c) Auxiliar: Darassistência material 
- Conceito de suicídio: “É a eliminação voluntária e direta da 
própria vida”. 
Diz-se voluntária pois se exige capacidade do suicida. Se ele for 
incapaz, ficará caracterizado o homicídio. Prevalece o 
entendimento de que incapaz é aquele que tem menos de 14 
anos completos (por analogia ao art. 217-A do CP: Estupro 
de incapaz).
Diz-se direta, pois os atos executórios da morte devem ser 
realizados pelo próprio suicida, pois caso o auxiliar os 
execute, fica também caracterizado o homicídio. Ex: A pede a 
B que arrume uma corda para que possa se enforcar. B 
entrega a corda a A, este se amarra no teto e pede que B 
chute o banquinho que o sustenta. A faz isso e B morre 
enforcado. B responderá por homicídio.
- A vítima deve ser determinada/certa. Ex: Banda de rock faz 
música incentivando o suicídio e várias pessoas se matam 
ao ouvir a música. Não tipifica o crime. 
- Consumação e tentativa: 
Prevalece o entendimento de que o crime possui dois 
momentos consumativos: 1) Quando o suicida morre (pena 
de 2 a 6 anos); 2) Quando o suicida sofre lesão corporal 
grave (pena de 1 a 3 anos).
E caso o suicida tente efetivamente o suicídio e nada sofra ou 
sofra lesões leves? Prevalece o entendimento de que será 
fato atípico.
A tentativa é inadmissível. 
ART. 123 - INFANTICÍDIO
- Considerado um homicídio privilegiado, quando se verificam os 
seguintes elementos:
1) Sujeito ativo especial: É crime próprio. Só pode ser praticado 
pela parturiente/mãe
2) Sujeito passivo especial: Deve ser o próprio filho, que está 
nascendo ou acabou de nascer. Matar outro filho, mais velho, 
ainda que sob efeito do estado puerperal, é homicídio. 
3) Circunstância elementar de tempo: O crime tem de ser praticado 
durante o parto ou logo após. O que é considerado “logo após”? 
Segundo a doutrina e a jurisprudência, perdura enquanto 
perdurar o estado puerperal, ou seja, varia conforme o caso. 
4) Estado psíquico: Sob influência do estado puerperal 
(comprovado por perícia médica), que é o estado que 
envolve a parturiente durante a expulsão da criança do 
ventre materno, trazendo profundas alterações psíquicas e 
físicas, transformando a mãe, deixando-a sem plenas 
condições de entender o que está fazendo. Dependendo do 
grau destas alterações, pode-se considerar a mãe 
inimputável ou semi-imputável. 
- Consumação e tentativa: Crime material. Consuma-se com a 
morte da vítima. A tentativa é admissível. 
ARTS. 124 A 128 - ABORTO
- Conceito de aborto: “É a interrupção da gravidez com a destruição 
do produto da concepção”.
- Quando se inicia a gravidez e, consequentemente, pode-se falar 
em aborto? 
Juridicamente, considera-se iniciada a gravidez com a nidação, ou 
seja, a fixação do óvulo já fecundado na parede interna do útero.
- Consumação e tentativa: Consuma-se com a morte do feto, pouco 
importando se esta ocorre dentro ou fora do ventre materno, 
desde que seja decorrente das manobras abortivas. Ou seja, se o 
feto acaba nascendo com vida e depois morre, desde que este 
evento seja decorrente das manobras abortivas, ficará 
caracterizado o crime em estudo. A tentativa é admissível. 
ARTIGO 124: ABORTO PRATICADO PELA GESTANTE OU 
COM SEU CONSENTIMENTO:
- Sujeito ativo: Somente a gestante. Admitindo-se a 
participação (auxílio moral ou material), mas nunca a 
coautoria já que este responderá pelo crime previsto no art. 
126 do CP, sendo uma exceção à teoria monista prevista no 
Código Penal. 
- Sujeito passivo: É o feto. Assim, caso a mãe faça o 
abortamento de gêmeos, haverá concurso formal de delitos, 
pois houve dois abortos.
- O art. 124 pune duas condutas:
1) O autoaborto
2) O consentimento da gestante para que outro lho provoque o 
abortamento. Quem provoca, pratica o crime previsto no art. 
126.
- OBS: Gestante suicida – Gestante não morre, mas 
interrompe a gravidez. Entende-se que fica caracterizado o 
crime em estudo, pois a gestante agiu com dolo eventual em 
relação ao abortamento. 
ART. 125 – ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO
- Sujeito ativo: Crime comum. Qualquer pessoa pratica este delito. 
- Sujeito passivo: É chamado de crime de dupla subjetividade 
passiva, sendo os ofendidos o feto e a gestante que não 
consentiu para este abortamento. 
Nos termos do § único do art. 126, quando a gestante for menor de 
14 anos, alienada ou débil mental; ou se o consentimento for 
obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência, ficará 
caracterizado o crime em estudo, ainda que tenha havido o 
consentimento para o abortamento, sendo que tais circunstâncias 
devem fazer parte do dolo do agente, ou seja, ele tem de ter 
ciência de que a vítima tem menos de 14 anos ou que é 
alienada/débil mental. 
OBS: Pessoa que atira para matar uma mulher grávida, sabendo da 
gravidez, pratica os crimes de homicídio e aborto em concurso formal. 
ART. 126 – ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM O 
CONSENTIMENTO DA GESTANTE
- Diferença para o art. 125: Aqui o sujeito passivo é somente o feto, pois 
a gestante consentiu com o abortamento, inclusive praticando o crime 
previsto no art. 124. 
- Namorado que leva a namorada ou a convence a praticar o aborto é 
considerado partícipe do crime previsto no art. 124. Caso o namorado 
pague o aborto, a jurisprudência entende que ele é partícipe do crime 
do art. 126, pois ele está induzindo o agente provocador do aborto 
com este pagamento. 
ART. 127 – CAUSAS DE AUMENTO DE PENA
- Aplicadas aos crimes previstos nos arts. 125 e 126, quando 
resultam lesão de natureza grave ou a morte da gestante. 
Porque não se aumenta a pena do crime do art. 124? Neste, o 
agente é a própria gestante, sendo que o direito penal não pune a 
autolesão e se a mesma morrer fica extinta a sua punibilidade. 
- O crime é preterdoloso, ou seja, os resultados mais graves são 
atingidos a título de culpa.
- A consumação continua sendo a morte do feto. Assim, se o 
abortamento não é conseguido e o feto nasce com vida, mas em 
razão das manobras a gestante morre, fica caracterizada a 
tentativa de aborto com essa causa de aumento de pena. 
ART. 128 – ABORTO LEGAL OU PERMITIDO
- Inciso I prevê o aborto necessário ou terapêutico
Requisitos:
1) Tem de ser praticado por médico. Se for praticado por qualquer 
outra pessoa, e se enquadre nos demais requisitos, também não 
será punido, já que ficará caracterizado o estado de necessidade. 
2) Perigo de vida à gestante. Caso seja um perigo à saúde da 
gestante, não ficará caracterizado. 
3) Inevitabilidade do meio, sendo impossível salvar a vida da 
gestante por outro meio, não bastando ser apenas o meio mais 
eficaz.
OBS: Esta espécie de aborto permitido dispensa o 
consentimento da vítima e autorização judicial.
O inciso II prevê o abortamento sentimental, humanitário ou 
ético, tendo também três requisitos:
1) Praticado por médico. Mas desta vez, caso seja praticado por 
qualquer outra pessoa será crime, pois esta hipótese não 
caracteriza um estado de necessidade. 
2) Gravidez resultante de estupro, sendo também dispensada a 
autorização judicial. 
3) Consentimento da gestante ou de seu representante legal. 
OBS: ADPF 54 – Acórdão publicado em 30/04/2013.
Decidiu ser inconstitucional a interpretação dos arts. 124, 125 
e 126 do CP (os crimes de aborto) quando o feto for 
anencefálico, sendo considerado este “o embrião, feto ou 
recém-nascido que, por malformação congênita não possui 
uma parte do sistema nervoso central, faltando-lhe os 
hemisférios cerebrais e uma parcela do tronco encefálico”.
CAPÍTULO II – DAS LESÕES CORPORAIS
ARTIGO 129 – LESÃO CORPORAL
- Bem jurídico tutelado: É a incolumidade pessoal do indivíduo, 
incluindo a saúde física, a saúde fisiológica (correto 
funcionamento do organismo) e a saúde mental. 
- Sujeito ativo: Crime comum,pode ser praticado por qualquer 
pessoa.
- Sujeito passivo: Também pode ser qualquer pessoa. 
OBS: A tenta dar um soco em B, que desvia, mas acaba perdendo o 
equilíbrio e caí, fraturando o braço. A responderá pela lesão 
CONSUMADA, pois a fratura do braço é concausa relativamente 
independente que não produziu o resultado por si só, logo A 
responde pela fratura. Fundamentação jurídica: art. 13 §1º do CP 
– Somente a superveniência de causa relativamente 
independente afasta o nexo de causalidade. 
- Consumação e tentativa: É crime material, consumando-se 
com a efetiva ofensa à incolumidade pessoal, constatada 
por perícia. A tentativa é admissível.
ARTIGO 129 “CAPUT”- LESÃO DOLOSA LEVE
- O conceito de lesão leve se dá por exclusão, pois será leve 
aquela que não for grave (prevista no §1º), gravíssima 
(prevista no §2º) ou seguida de morte (prevista no §3º).
ART. 129 §1º – LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE
I) Se resulta incapacidade para as ocupações habituais por 
mais de 30 dias - “Ocupação habitual é qualquer atividade 
corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou 
ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral”.
Há jurisprudência no sentido de que a mera vergonha da lesão 
não tipifica esta qualificadora. 
Esta qualificadora exige realização de perícia, a ser realizada 
no 30o. dia após a lesão. 
 
II) Se resulta perigo de vida, que é a probabilidade séria, 
concreta e imediata do êxito letal, devidamente comprovado 
por perícia. Assim, pouco importa o local da lesão, p.ex., 
próxima ao coração, mas sim a necessidade de perícia 
afirmando que a vítima correu risco de vida. 
III) Debilidade permanente de membro, sentido ou função do 
corpo. Debilidade significa enfraquecimento, diminuição da 
capacidade funcional. Já permanente significa recuperação 
incerta e por tempo indeterminado, não devendo ser 
confundida com perpetuidade, que é sem chance de 
recuperação. A Jurisprudência ainda entende que se o uso de 
prótese para reduzir ou até mesmo eliminar a debilidade, o 
crime NÃO estará excluído. 
IV) Se resulta aceleração de parto: Cuidado. Esta hipótese 
contempla a antecipação do parto e não o aborto. Aqui o 
feto nasce com vida antes do momento. Imprescindível que 
o autor saiba ou devesse saber da gravidez, já que o crime 
é doloso. 
§º 2 – LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA
I) Se resulta incapacidade permanente para o trabalho. 
Prevalece o entendimento de que a vítima deve ficar 
incapacitada para qualquer tipo de trabalho, o que torna esta 
qualificadora de difícil aplicação prática. 
II) Se resulta enfermidade incurável, que é a alteração 
permanente da saúde em geral por processo patológico, ou 
seja, a transmissão intencional de uma doença para a qual não 
existe cura no estágio atual da medicina. Cuidado!, se a 
doença for letal, o STJ já decidiu que caracterizar-se-á uma 
tentativa de homicídio. 
III) Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou 
função. Perda é a amputação (realizada por médico) ou 
mutilação (realizada pelo próprio autor do crime). Tratando-se 
de órgãos duplos, ambos tem de ser perdidos ou inutilizados, 
caso seja um só, ficará caracterizada a debilidade. Se em 
razão da lesão a vítima ficar impotente para gerar vida 
(impotência generandi), ficará caracterizada esta qualificadora. 
IV) Se resulta deformidade permanente, que é dano estético, 
aparente, considerável, irreparável pela própria força da 
natureza e capaz de provocar impressão vexatória, que é o 
desconforto para quem olha e a humilhação para a vítima. A 
deformidade abrange todo o corpo, desde que passível de 
exposição, ainda que esta exposição se der em um 
momento mais íntimo. 
V) Se resulta aborto. Esta qualificadora é necessariamente 
preterdolosa, ou seja, o autor age com culpa no aborto, pois 
se lesionar com intenção de causar o aborto, haverá 
concurso de crimes. Também é necessário que o agente 
saiba ou devesse saber que a vítima estava grávida. 
OBS: É possível que em um contexto fático, o agente cause 
lesões graves e gravíssimas ao mesmo tempo. Neste caso, 
responderá apenas pela lesão gravíssima, devendo o juiz 
considerar a lesão grave no momento de fixação da pena. 
§3º – LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE
- Obviamente, trata-se de crime preterdoloso, pois se o 
resultado morte for querido pelo autor estar-se-á diante de 
um homicídio. 
§4º – CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA - “ Se o agente 
comete o crime impelido por motivo de relevante valor social 
ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em 
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a 
pena de um sexto a um terço”.
Neste caso, aplica-se o mesmo que já foi estudado em relação 
ao homicídio privilegiado. 
§5º – SUBSTITUIÇÃO DE PENA - “O juiz, não sendo graves as 
lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de 
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre 
qualquer das hipóteses do parágrafo anterior e II - se as 
lesões são recíprocas”. Cuidado!, Este parágrafo só é 
aplicado no caso de lesões leves.
§6º - LESÃO CORPORAL CULPOSA. Tal hipótese engloba 
todas as gravidades de lesão. Assim, pouco importa se a 
lesão é leve, grave ou gravíssima. Se foi causada com 
culpa, responderá por este crime, sendo a gravidade da 
lesão apenas considerada pelo juiz no momento da fixação 
da pena. 
§7º – CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - Aumenta-se a pena 
de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º 
(No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um 
terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica 
de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar 
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 
conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em 
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 
1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 
14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos) e 6º (A pena é 
aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for 
praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de 
serviço de segurança, ou por grupo de extermínio) do art. 
121 deste Código.
§8º – PERDÃO JUDICIAL - “ Aplica-se à lesão culposa o 
disposto no § 5º do art. 121” (Na hipótese de homicídio 
culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as 
consequências da infração atingirem o próprio agente de 
forma tão grave que a sanção penal se torne 
desnecessária).
§9º – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E/OU FAMILIAR - “Se a lesão for 
praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou 
companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, 
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação 
ou de hospitalidade”.
Nesta qualificadora, a vítima pode ser tanto o homem como a mulher, 
desde que a violência tenha ocorrido no ambiente familiar e/ou 
doméstico.
Abrange relações familiares, de coabitação ou até mesmo de 
hospitalidade, ou seja, visitas. 
Aplica-se somente no caso de lesão leve, já que se a lesão for grave, 
gravíssima ou seguida de morte, aplica-se a respectiva pena, com 
a causa de aumento prevista no §10º (“Nos casos previstos nos §§ 
1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o 
deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)”. 
§11º - “Na hipótese do §9º deste artigo (violência doméstica ou 
familiar), a pena será aumentada de um terço se o crime for 
cometido contra pessoa portadora de deficiência”. Assim, esta 
causa de aumento de ena também só incidirá no caso de lesão 
leve.
§12º - “Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente 
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes 
do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, 
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu 
cônjuge, companheiroou parente consanguíneo até terceiro 
grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a 
dois terços. Aplica-se a esta causa de aumento de pena o 
mesmo estudado no art. 121 §2º inciso VII. 
AÇÃO PENAL NA LESÃO CORPORAL
- Regra: A ação é publica incondicionada.
- Exceções: 
1) Lesões leves, desde que a vítima não seja mulher e esteja 
em situação de violência doméstica e/ou familiar, pois neste 
caso também será incondicionada. 
2) Lesão culposa
Nestes casos, a ação será pública condicionada à 
representação.
CRIMES CONTRA A HONRA
DISPOSIÇÕES GERAIS: 
- Espécies de honra:
1) Honra OBJETIVA: É o seu conceito perante a sociedade. É 
o que terceiros pensam sobre você. Conforme o caso a 
ofensa à honra objetiva pode caracterizar crime de calúnia 
ou difamação.
2) Honra SUBJETIVA: É o que você pensa sobre você mesmo. 
É sua autoestima, sua dignidade, seu decoro. A ofensa a 
esta espécie de honra caracteriza tão somente o crime de 
injúria.
CALÚNIA – ART. 138
“Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato 
definido como crime”
- Este fato imputado falsamente deve ser DETERMINADO, ou 
seja, deve ter elementos suficientes que possam 
individualizá-lo no tempo e no espaço, não sendo um mera 
qualidade negativa. Ex: A diz que B assaltou o Banco do 
Brasil no mês passado. 
- O fato imputado falsamente deve ser um CRIME. Assim, se 
for uma CONTRAVENÇÃO PENAL, não caracterizará a 
calúnia, sim difamação. Ex: A afirma que B possui uma 
banca de jogo do bicho. 
- Sujeito ativo: Qualquer pessoa, exceto as que possuem inviolabilidade 
– Deputados Federais e Estaduais, Senadores e Vereadores desde 
que a opinião tenha sido emitida na circunscrição do município.
A auto-calúnia caracteriza o crime previsto no art. 341 do Código Penal- 
Autoacusação falsa. 
- Sujeito passivo: Qualquer pessoa, até mesmo o menor de idade, já 
que corrente majoritária entende que menor pratica fato previsto 
como crime chamado de ato infracional. 
Segundo o STF, a empresa NÃO pode ser vítima de calúnia, pois não 
pratica crime, só podendo ser responsabilizada penalmente no caso 
de infrações penais ambientais.
O § 2º do art. 138 afirma que “É punível a calúnia contra os mortos”. 
Mas isso não quer dizer que o morto é a vítima, e sim sua família, 
que é a interessada na manutenção do seu bom nome. 
- Haverá calúnia quando: a) O fato imputado jamais ocorreu 
(falsidade que recai sobre o fato) ou, quando real o 
acontecimento, não foi a pessoa apontada (falsidade que recai 
sobre a autoria do fato).
- Consumação e tentativa: O delito se consuma quando terceiro 
toma conhecimento da imputação falsa, independentemente de se 
verificar efetivo dano à reputação do ofendido. A tentativa só é 
possível quando a conduta é praticada por escrito e a mensagem 
é interceptada pela vítima. Se for interceptada por qualquer outra 
pessoa que não o destinatário, o crime se consuma, pois também 
é terceiro.
FIGURA EQUIPARADA
“§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a 
imputação, a propala ou divulga”.
- Aqui é punida a pessoa que divulga a notícia, ou seja, o 
fofoqueiro. 
- Esta figura típica é punida apenas a título de dolo direto, ou 
seja, o autor tem de ter certeza que o fato é inverídico e 
mesmo assim o divulga. O crime do caput admite o dolo 
eventual. 
EXCEÇÃO DA VERDADE
- É um incidente processual, forma de defesa indireta, através da 
qual o acusado pretende provar a veracidade do que alegou.
§ 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo:
I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o 
ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível – Se o 
crime é de ação privada, só interessa à vítima sua apuração, não 
podendo terceiros, através deste incidente, discutir a matéria. 
II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I 
do art. 141 – Presidente da República ou Chefe de Governo 
Estrangeiro, por razões políticas e diplomáticas. 
III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido 
foi absolvido por sentença irrecorrível – Se já absolvição 
transitada em julgado, não se pode rediscutir a matéria, sob 
pena de se afrontar a coisa julgada e gerar insegurança 
jurídica. 
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