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DIREITO PENAL – PARTE ESPECIAL INTRODUÇÃO À PARTE ESPECIAL CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES DE ACORDO COM O RESULTADO: 1) Crime material: O tipo penal prevê uma conduta + resultado naturalístico, sendo que para a consumação do delito necessário que se verifique ambos. Ex: Homicídio, roubo. 2) Crime formal: O tipo penal também prevê uma conduta + resultado naturalístico, entretanto, para ficar caracterizada a consumação do crime, se faz necessária apenas a conduta, sendo o resultado naturalístico mero exaurimento do crime, influenciando na dosimetria da pena. Ex: :Corrupção, extorsão, extorsão mediante sequestro. 3) Crime de mera conduta: O tipo penal prevê apenas uma conduta, não fazendo qualquer menção a resultado naturalístico e, consequentemente, a realização da conduta consuma o delito. Ex: Invasão de domicílio. Por se tratarem de normas penais incriminadoras, a interpretação deve ser sempre restritiva, não se admitindo analogia. Todo crime é uma conduta (ação ou omissão), sempre sendo um verbo, chamado de núcleo do tipo penal. Também ficar atento que muitos crimes não possuem apenas núcleo do tipo, mas também um ou mais complementos, que obrigatoriamente devem ser observados, chamados de elementos objetivos do tipo. Por fim, há crimes em que a conduta do autor deve ter finalidade específica, não bastando a mera prática do verbo, sendo chamados de elementos subjetivos do tipo. DOS CRIMES CONTRA A PESSOA ARTIGO 121 - HOMICÍDIO - Elementos objetivos do tipo: Matar (eliminar a vida) alguém (pessoa humana). - Consumação e tentativa: Crime material, consuma-se com a morte encefálica da vítima. A tentativa é admissível. - CAUSA DE DIMINUIÇÃO DA PENA - §1º – Também chamado homicídio privilegiado a) Relevante valor social ou moral: Relevante é algo importante ou de elevada qualidade, como o patriotismo, lealdade, fidelidade, amor paterno). Valor social envolve interesse de ordem geral ou coletiva (ex: matar o traidor da pátria). Valor moral é interesse particular ou específico (ex: matar o traficante que viciou seu filho ou estuprador da sua filha). b) Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima: Exige-se que o agente esteja dominado (fortemente envolvido) por violenta (forte, intensa) emoção (excitação causado por um sentimento como amor, ódio, rancor), sendo exigido ainda que tenha sido previamente provocada injustamente (sem razão plausível) pela vítima. HOMICÍDIO QUALIFICADO - §2º I) Motivo torpe: Inclui a paga (recebimento de qualquer vantagem) ou promessa de recompensa (expectativa de receber vantagem, chamados de homicídio mercenário. Torpe é o motivo repugnante, indecente, provocador de excessiva repulsa à sociedade. Ex: Traficante que mata seu concorrente para aumentar seus pontos de venda. II) Motivo fútil: Motivo insignificante. É a flagrante desproporção entre o motivo e o resultado obtido, ou seja, a morte de alguém. Ex: Matar o dono de um bar que recusou-se a vender-lhe bebida. III) Meio insidioso, cruel ou que possa resultar em perigo comum: A própria lei usa como exemplos o emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou tortura. Meio insidioso é o meio enganoso, camuflando a ação do agente, ex. veneno. Meio cruel é aquele que gera sofrimento desnecessário na vítima, tendo como exemplos fogo, tortura e asfixia. Já o meio que pode resultar perigo comum é aquele que constrói cenário extenso o suficiente para atingir terceiro além da própria vítima, sendo exemplo, explosivos ou fogo de grandes proporções. IV) Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido: A própria lei usa como exemplos a traição, a emboscada e a dissimulação. São recursos que causam surpresa na vítima, mas uma surpresa imprevisível. V) Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: É uma torpeza particular. Ex: Matar a testemunha de um outro crime que praticou, somente para evitar ser preso. VI) Contra a mulher por razões da condição de sexo feminino - É o chamado crime de feminicídio. Não basta que a vítima seja mulher, necessário que fique caracterizada a situação violência doméstica e familiar e/ou menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Muitos entendem tratar-se do último degrau da violência contra a mulher, que começa com as agressões leves e vai progredindo até a prática do crime capital. O §7º ainda prevê causas de aumento de pena específicos para este crime: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto; II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com deficiência; III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima VII) Contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal (Forças armadas, polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros militares), integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição - Ou seja, exige-se do agente que saiba que a vitima é integrante de uma das carreiras acima, quando o mesmo não estiver no exercício do cargo. OBS: Para ser considerado crime hediondo, o homicídio deve ser qualificado (art. 1o. inciso I da Lei 8.072/1990). §3º – HOMICÍDIO CULPOSO - Causa de aumento de pena do homicídio culposo – previsto no §4º: a) Inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício. b) Omissão de socorro: Pune-se mais severamente o autor que demonstra insensibilidade ao deixar de socorrer pessoa que não desejava atingir. Obviamente tal socorro só é exigível quando não oferecer risco ao autor. c) não procurar diminuir as consequências do seu ato: Ainda que não possa socorrer a vítima, exige-se do autor que busque praticar alguma atitude solidária para amenizar o mal causado. Ex: Procurar a vítima no hospital e prestar-lhe auxílio moral ou financeiro). d) fuga da prisão em flagrante. - Perdão judicial previsto no §5º: Pode ser aplicado pelo juiz quando as consequências do crime atingirem o agente de maneira tão grave que a sanção penal torna-se desnecessária. O agente pode ser atingido de forma física, como p.ex. sofrer lesões graves, de difícil cura e tratamento), ou de forma moral, p.ex., perda de um ente querido, um filho”. - Causa de aumento de pena previsto no §6º: A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada (grupo paramilitar, que age inoficiosamente, prometendo segurança à população em lugar da atividade estatal regular), sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio (associação de pessoas que se julgam justiceiros, eliminando suspeitos de crimes e outras pessoas consideradas nocivas à sociedade) – Tal causa de aumento de pena é aplicável tanto ao homicídio simples quanto ao qualificado. OBS: A questão do homicídio privilegiado-qualificado: Acontece quando se verifica no mesmo fato típico a ocorrência de circunstâncias atenuantes e qualificadoras. A maioria da doutrina entende ser possível, desde que a qualificadora seja de caráter objetivo, ou seja, somente as previstas nos incisos III e IV do §2º. Uma parte minoritária entende não ser possível, sendo que neste caso o homicídio será apenas privilegiado. OBS 2: Homicídio sem motivo: Não existe, pois todo agir humano tem alguma motivação, por mais íntima ou subconsciente que seja. ART. 122 - INDUZIMENTO, INSTIGAÇÃO OU AUXÍLIO A SUICÍDIO - Núcleos-verbos do tipo: a) Induzir – Fazer nascer a ideia b) Instigar: Reforçar ideia já existente c) Auxiliar: Darassistência material - Conceito de suicídio: “É a eliminação voluntária e direta da própria vida”. Diz-se voluntária pois se exige capacidade do suicida. Se ele for incapaz, ficará caracterizado o homicídio. Prevalece o entendimento de que incapaz é aquele que tem menos de 14 anos completos (por analogia ao art. 217-A do CP: Estupro de incapaz). Diz-se direta, pois os atos executórios da morte devem ser realizados pelo próprio suicida, pois caso o auxiliar os execute, fica também caracterizado o homicídio. Ex: A pede a B que arrume uma corda para que possa se enforcar. B entrega a corda a A, este se amarra no teto e pede que B chute o banquinho que o sustenta. A faz isso e B morre enforcado. B responderá por homicídio. - A vítima deve ser determinada/certa. Ex: Banda de rock faz música incentivando o suicídio e várias pessoas se matam ao ouvir a música. Não tipifica o crime. - Consumação e tentativa: Prevalece o entendimento de que o crime possui dois momentos consumativos: 1) Quando o suicida morre (pena de 2 a 6 anos); 2) Quando o suicida sofre lesão corporal grave (pena de 1 a 3 anos). E caso o suicida tente efetivamente o suicídio e nada sofra ou sofra lesões leves? Prevalece o entendimento de que será fato atípico. A tentativa é inadmissível. ART. 123 - INFANTICÍDIO - Considerado um homicídio privilegiado, quando se verificam os seguintes elementos: 1) Sujeito ativo especial: É crime próprio. Só pode ser praticado pela parturiente/mãe 2) Sujeito passivo especial: Deve ser o próprio filho, que está nascendo ou acabou de nascer. Matar outro filho, mais velho, ainda que sob efeito do estado puerperal, é homicídio. 3) Circunstância elementar de tempo: O crime tem de ser praticado durante o parto ou logo após. O que é considerado “logo após”? Segundo a doutrina e a jurisprudência, perdura enquanto perdurar o estado puerperal, ou seja, varia conforme o caso. 4) Estado psíquico: Sob influência do estado puerperal (comprovado por perícia médica), que é o estado que envolve a parturiente durante a expulsão da criança do ventre materno, trazendo profundas alterações psíquicas e físicas, transformando a mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. Dependendo do grau destas alterações, pode-se considerar a mãe inimputável ou semi-imputável. - Consumação e tentativa: Crime material. Consuma-se com a morte da vítima. A tentativa é admissível. ARTS. 124 A 128 - ABORTO - Conceito de aborto: “É a interrupção da gravidez com a destruição do produto da concepção”. - Quando se inicia a gravidez e, consequentemente, pode-se falar em aborto? Juridicamente, considera-se iniciada a gravidez com a nidação, ou seja, a fixação do óvulo já fecundado na parede interna do útero. - Consumação e tentativa: Consuma-se com a morte do feto, pouco importando se esta ocorre dentro ou fora do ventre materno, desde que seja decorrente das manobras abortivas. Ou seja, se o feto acaba nascendo com vida e depois morre, desde que este evento seja decorrente das manobras abortivas, ficará caracterizado o crime em estudo. A tentativa é admissível. ARTIGO 124: ABORTO PRATICADO PELA GESTANTE OU COM SEU CONSENTIMENTO: - Sujeito ativo: Somente a gestante. Admitindo-se a participação (auxílio moral ou material), mas nunca a coautoria já que este responderá pelo crime previsto no art. 126 do CP, sendo uma exceção à teoria monista prevista no Código Penal. - Sujeito passivo: É o feto. Assim, caso a mãe faça o abortamento de gêmeos, haverá concurso formal de delitos, pois houve dois abortos. - O art. 124 pune duas condutas: 1) O autoaborto 2) O consentimento da gestante para que outro lho provoque o abortamento. Quem provoca, pratica o crime previsto no art. 126. - OBS: Gestante suicida – Gestante não morre, mas interrompe a gravidez. Entende-se que fica caracterizado o crime em estudo, pois a gestante agiu com dolo eventual em relação ao abortamento. ART. 125 – ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO - Sujeito ativo: Crime comum. Qualquer pessoa pratica este delito. - Sujeito passivo: É chamado de crime de dupla subjetividade passiva, sendo os ofendidos o feto e a gestante que não consentiu para este abortamento. Nos termos do § único do art. 126, quando a gestante for menor de 14 anos, alienada ou débil mental; ou se o consentimento for obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência, ficará caracterizado o crime em estudo, ainda que tenha havido o consentimento para o abortamento, sendo que tais circunstâncias devem fazer parte do dolo do agente, ou seja, ele tem de ter ciência de que a vítima tem menos de 14 anos ou que é alienada/débil mental. OBS: Pessoa que atira para matar uma mulher grávida, sabendo da gravidez, pratica os crimes de homicídio e aborto em concurso formal. ART. 126 – ABORTO PROVOCADO POR TERCEIRO COM O CONSENTIMENTO DA GESTANTE - Diferença para o art. 125: Aqui o sujeito passivo é somente o feto, pois a gestante consentiu com o abortamento, inclusive praticando o crime previsto no art. 124. - Namorado que leva a namorada ou a convence a praticar o aborto é considerado partícipe do crime previsto no art. 124. Caso o namorado pague o aborto, a jurisprudência entende que ele é partícipe do crime do art. 126, pois ele está induzindo o agente provocador do aborto com este pagamento. ART. 127 – CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - Aplicadas aos crimes previstos nos arts. 125 e 126, quando resultam lesão de natureza grave ou a morte da gestante. Porque não se aumenta a pena do crime do art. 124? Neste, o agente é a própria gestante, sendo que o direito penal não pune a autolesão e se a mesma morrer fica extinta a sua punibilidade. - O crime é preterdoloso, ou seja, os resultados mais graves são atingidos a título de culpa. - A consumação continua sendo a morte do feto. Assim, se o abortamento não é conseguido e o feto nasce com vida, mas em razão das manobras a gestante morre, fica caracterizada a tentativa de aborto com essa causa de aumento de pena. ART. 128 – ABORTO LEGAL OU PERMITIDO - Inciso I prevê o aborto necessário ou terapêutico Requisitos: 1) Tem de ser praticado por médico. Se for praticado por qualquer outra pessoa, e se enquadre nos demais requisitos, também não será punido, já que ficará caracterizado o estado de necessidade. 2) Perigo de vida à gestante. Caso seja um perigo à saúde da gestante, não ficará caracterizado. 3) Inevitabilidade do meio, sendo impossível salvar a vida da gestante por outro meio, não bastando ser apenas o meio mais eficaz. OBS: Esta espécie de aborto permitido dispensa o consentimento da vítima e autorização judicial. O inciso II prevê o abortamento sentimental, humanitário ou ético, tendo também três requisitos: 1) Praticado por médico. Mas desta vez, caso seja praticado por qualquer outra pessoa será crime, pois esta hipótese não caracteriza um estado de necessidade. 2) Gravidez resultante de estupro, sendo também dispensada a autorização judicial. 3) Consentimento da gestante ou de seu representante legal. OBS: ADPF 54 – Acórdão publicado em 30/04/2013. Decidiu ser inconstitucional a interpretação dos arts. 124, 125 e 126 do CP (os crimes de aborto) quando o feto for anencefálico, sendo considerado este “o embrião, feto ou recém-nascido que, por malformação congênita não possui uma parte do sistema nervoso central, faltando-lhe os hemisférios cerebrais e uma parcela do tronco encefálico”. CAPÍTULO II – DAS LESÕES CORPORAIS ARTIGO 129 – LESÃO CORPORAL - Bem jurídico tutelado: É a incolumidade pessoal do indivíduo, incluindo a saúde física, a saúde fisiológica (correto funcionamento do organismo) e a saúde mental. - Sujeito ativo: Crime comum,pode ser praticado por qualquer pessoa. - Sujeito passivo: Também pode ser qualquer pessoa. OBS: A tenta dar um soco em B, que desvia, mas acaba perdendo o equilíbrio e caí, fraturando o braço. A responderá pela lesão CONSUMADA, pois a fratura do braço é concausa relativamente independente que não produziu o resultado por si só, logo A responde pela fratura. Fundamentação jurídica: art. 13 §1º do CP – Somente a superveniência de causa relativamente independente afasta o nexo de causalidade. - Consumação e tentativa: É crime material, consumando-se com a efetiva ofensa à incolumidade pessoal, constatada por perícia. A tentativa é admissível. ARTIGO 129 “CAPUT”- LESÃO DOLOSA LEVE - O conceito de lesão leve se dá por exclusão, pois será leve aquela que não for grave (prevista no §1º), gravíssima (prevista no §2º) ou seguida de morte (prevista no §3º). ART. 129 §1º – LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE I) Se resulta incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias - “Ocupação habitual é qualquer atividade corporal rotineira, não necessariamente ligada a trabalho ou ocupação lucrativa, devendo ser lícita, ainda que imoral”. Há jurisprudência no sentido de que a mera vergonha da lesão não tipifica esta qualificadora. Esta qualificadora exige realização de perícia, a ser realizada no 30o. dia após a lesão. II) Se resulta perigo de vida, que é a probabilidade séria, concreta e imediata do êxito letal, devidamente comprovado por perícia. Assim, pouco importa o local da lesão, p.ex., próxima ao coração, mas sim a necessidade de perícia afirmando que a vítima correu risco de vida. III) Debilidade permanente de membro, sentido ou função do corpo. Debilidade significa enfraquecimento, diminuição da capacidade funcional. Já permanente significa recuperação incerta e por tempo indeterminado, não devendo ser confundida com perpetuidade, que é sem chance de recuperação. A Jurisprudência ainda entende que se o uso de prótese para reduzir ou até mesmo eliminar a debilidade, o crime NÃO estará excluído. IV) Se resulta aceleração de parto: Cuidado. Esta hipótese contempla a antecipação do parto e não o aborto. Aqui o feto nasce com vida antes do momento. Imprescindível que o autor saiba ou devesse saber da gravidez, já que o crime é doloso. §º 2 – LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA I) Se resulta incapacidade permanente para o trabalho. Prevalece o entendimento de que a vítima deve ficar incapacitada para qualquer tipo de trabalho, o que torna esta qualificadora de difícil aplicação prática. II) Se resulta enfermidade incurável, que é a alteração permanente da saúde em geral por processo patológico, ou seja, a transmissão intencional de uma doença para a qual não existe cura no estágio atual da medicina. Cuidado!, se a doença for letal, o STJ já decidiu que caracterizar-se-á uma tentativa de homicídio. III) Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função. Perda é a amputação (realizada por médico) ou mutilação (realizada pelo próprio autor do crime). Tratando-se de órgãos duplos, ambos tem de ser perdidos ou inutilizados, caso seja um só, ficará caracterizada a debilidade. Se em razão da lesão a vítima ficar impotente para gerar vida (impotência generandi), ficará caracterizada esta qualificadora. IV) Se resulta deformidade permanente, que é dano estético, aparente, considerável, irreparável pela própria força da natureza e capaz de provocar impressão vexatória, que é o desconforto para quem olha e a humilhação para a vítima. A deformidade abrange todo o corpo, desde que passível de exposição, ainda que esta exposição se der em um momento mais íntimo. V) Se resulta aborto. Esta qualificadora é necessariamente preterdolosa, ou seja, o autor age com culpa no aborto, pois se lesionar com intenção de causar o aborto, haverá concurso de crimes. Também é necessário que o agente saiba ou devesse saber que a vítima estava grávida. OBS: É possível que em um contexto fático, o agente cause lesões graves e gravíssimas ao mesmo tempo. Neste caso, responderá apenas pela lesão gravíssima, devendo o juiz considerar a lesão grave no momento de fixação da pena. §3º – LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE - Obviamente, trata-se de crime preterdoloso, pois se o resultado morte for querido pelo autor estar-se-á diante de um homicídio. §4º – CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA - “ Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço”. Neste caso, aplica-se o mesmo que já foi estudado em relação ao homicídio privilegiado. §5º – SUBSTITUIÇÃO DE PENA - “O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis: I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior e II - se as lesões são recíprocas”. Cuidado!, Este parágrafo só é aplicado no caso de lesões leves. §6º - LESÃO CORPORAL CULPOSA. Tal hipótese engloba todas as gravidades de lesão. Assim, pouco importa se a lesão é leve, grave ou gravíssima. Se foi causada com culpa, responderá por este crime, sendo a gravidade da lesão apenas considerada pelo juiz no momento da fixação da pena. §7º – CAUSAS DE AUMENTO DE PENA - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º (No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as conseqüências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta) anos) e 6º (A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio) do art. 121 deste Código. §8º – PERDÃO JUDICIAL - “ Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121” (Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária). §9º – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E/OU FAMILIAR - “Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade”. Nesta qualificadora, a vítima pode ser tanto o homem como a mulher, desde que a violência tenha ocorrido no ambiente familiar e/ou doméstico. Abrange relações familiares, de coabitação ou até mesmo de hospitalidade, ou seja, visitas. Aplica-se somente no caso de lesão leve, já que se a lesão for grave, gravíssima ou seguida de morte, aplica-se a respectiva pena, com a causa de aumento prevista no §10º (“Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço)”. §11º - “Na hipótese do §9º deste artigo (violência doméstica ou familiar), a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência”. Assim, esta causa de aumento de ena também só incidirá no caso de lesão leve. §12º - “Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiroou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. Aplica-se a esta causa de aumento de pena o mesmo estudado no art. 121 §2º inciso VII. AÇÃO PENAL NA LESÃO CORPORAL - Regra: A ação é publica incondicionada. - Exceções: 1) Lesões leves, desde que a vítima não seja mulher e esteja em situação de violência doméstica e/ou familiar, pois neste caso também será incondicionada. 2) Lesão culposa Nestes casos, a ação será pública condicionada à representação. CRIMES CONTRA A HONRA DISPOSIÇÕES GERAIS: - Espécies de honra: 1) Honra OBJETIVA: É o seu conceito perante a sociedade. É o que terceiros pensam sobre você. Conforme o caso a ofensa à honra objetiva pode caracterizar crime de calúnia ou difamação. 2) Honra SUBJETIVA: É o que você pensa sobre você mesmo. É sua autoestima, sua dignidade, seu decoro. A ofensa a esta espécie de honra caracteriza tão somente o crime de injúria. CALÚNIA – ART. 138 “Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime” - Este fato imputado falsamente deve ser DETERMINADO, ou seja, deve ter elementos suficientes que possam individualizá-lo no tempo e no espaço, não sendo um mera qualidade negativa. Ex: A diz que B assaltou o Banco do Brasil no mês passado. - O fato imputado falsamente deve ser um CRIME. Assim, se for uma CONTRAVENÇÃO PENAL, não caracterizará a calúnia, sim difamação. Ex: A afirma que B possui uma banca de jogo do bicho. - Sujeito ativo: Qualquer pessoa, exceto as que possuem inviolabilidade – Deputados Federais e Estaduais, Senadores e Vereadores desde que a opinião tenha sido emitida na circunscrição do município. A auto-calúnia caracteriza o crime previsto no art. 341 do Código Penal- Autoacusação falsa. - Sujeito passivo: Qualquer pessoa, até mesmo o menor de idade, já que corrente majoritária entende que menor pratica fato previsto como crime chamado de ato infracional. Segundo o STF, a empresa NÃO pode ser vítima de calúnia, pois não pratica crime, só podendo ser responsabilizada penalmente no caso de infrações penais ambientais. O § 2º do art. 138 afirma que “É punível a calúnia contra os mortos”. Mas isso não quer dizer que o morto é a vítima, e sim sua família, que é a interessada na manutenção do seu bom nome. - Haverá calúnia quando: a) O fato imputado jamais ocorreu (falsidade que recai sobre o fato) ou, quando real o acontecimento, não foi a pessoa apontada (falsidade que recai sobre a autoria do fato). - Consumação e tentativa: O delito se consuma quando terceiro toma conhecimento da imputação falsa, independentemente de se verificar efetivo dano à reputação do ofendido. A tentativa só é possível quando a conduta é praticada por escrito e a mensagem é interceptada pela vítima. Se for interceptada por qualquer outra pessoa que não o destinatário, o crime se consuma, pois também é terceiro. FIGURA EQUIPARADA “§ 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga”. - Aqui é punida a pessoa que divulga a notícia, ou seja, o fofoqueiro. - Esta figura típica é punida apenas a título de dolo direto, ou seja, o autor tem de ter certeza que o fato é inverídico e mesmo assim o divulga. O crime do caput admite o dolo eventual. EXCEÇÃO DA VERDADE - É um incidente processual, forma de defesa indireta, através da qual o acusado pretende provar a veracidade do que alegou. § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível – Se o crime é de ação privada, só interessa à vítima sua apuração, não podendo terceiros, através deste incidente, discutir a matéria. II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141 – Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro, por razões políticas e diplomáticas. III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível – Se já absolvição transitada em julgado, não se pode rediscutir a matéria, sob pena de se afrontar a coisa julgada e gerar insegurança jurídica. Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42 Slide 43 Slide 44 Slide 45 Slide 46 Slide 47
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