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CÁLCULO I Prof. Edilson Neri Júnior | Prof. André Almeida Aula n o 26: Área de Superfície de Revolução e Pressão Hidrostática Objetivos da Aula • Calcular a área de superfícies de revolução; • Definir pressão hidrostática. 1 Área de Superfície de Revolução Uma superfície de revolução é um superfície gerada pela rotação de uma curva plana em torno de um eixo que se situa no mesmo plano da curva. Por exemplo, a superfície de uma esfera pode ser gerada ao girar um semicírculo em torno de seu diâmetro e a superfície lateral de um cilindro pode ser gerada pela rotação de um segmento de reta em torno de um eixo paralelo a ele. Nesta seção, queremos definir a área da superfície de revolução. Para motivar uma definição apropriada de área S de uma superfície de revolução, vamos decompor a superfície em pequenas seções cujas áreas possam ser aproximadas por fórmulas elementares. Somando as aproximações das áreas das seções, obtemos uma soma de Riemann que aproxima S e, tomando o limite da soma de Riemann, obtemos uma integral para o valor exato de S. Suponha que f seja uma função contínua não negativa em [a, b] e que uma superfície de revolução seja gerada pela rotação da parte da curva y = f(x) entre x = a e x = b em torno do eixo x. 1 Cálculo I Aula n o 26 Vamos dividir o intervalo [a, b] em n subintervalos, inserindo os pontos x1, x2, ..., xn−1 entre a = x0 e b = xn. Os pontos correspondentes do gráfico de f definem um caminho poligonal que aproxima a curva y = f(x) acima do intervalo [a, b]. Quando esse caminho poligonal gira em torno do eixo x, gera uma superfície que consiste em n partes, cada uma delas sendo um tronco de cone circular reto. A área de cada parte da superfície aproximante pode ser obtida pela fórmula S = pi(r1 + r2).l (1) para a área lateral de um tronco de cone de geratriz l e raios da base r1 e r2. Vamos tomar o k-ésimo tronco de cone com raios f(xk−1) e f(xk) e altura ∆xk. A geratriz é o comprimento Lk do k-ésimo segmento de reta da poligonal, é dado por Lk = √ (∆xk)2 + [f(xk)− f(xk−1)]2 Assim, a área lateral Sk do k-ésimo tronco de cone é: Sk = pi[f(xk−1) + f(xk)]. √ (∆xk)2 + [f(xk)− f(xk−1)]2 Se somarmos essas áreas, vamos obter a seguinte aproximação da área S da superfície inteira: S ≈ n∑ k=1 pi[f(xk−1) + f(xk)]. √ (∆xk)2 + [f(xk)− f(xk−1)]2 (2) Para colocar isso na forma de soma de Riemann, vamos aplicar o Teorema do valor médio. Esse teorema implica na existência de um ponto x∗k entre xk−1 e xk tal que f(xk)− f(xk−1) xk − xk−1 = f ′(x∗k) ou f(xk)− f(xk−1) = f ′(x∗k)∆xk Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 2 Cálculo I Aula n o 26 e, assim, podemos reescrever (2) como S ≈ n∑ k=1 pi[f(xk−1) + f(xk)] √ 1 + [f ′(x∗k)]2∆xk (3) No entanto, isso ainda não é uma soma de Riemann, pois envolve as variáveis xk−1 e xk. Para eliminar estas variáveis da expressão, observe que o valor médio dos números f(xk−1) e f(xk) está entre esses números. Dessa forma a continuidade de f e o Teorema do Valor Intermediário implicam a existência de x∗∗k entre xk−1 e xk, de tal modo que 1 2 [f(xk−1) + f(xk)] = f(x∗∗k ). Assim, (2) se expressa como S ≈ n∑ k=1 2pif(x∗∗k ) √ 1 + [f ′(x∗k)]∆xk Embora essa expressão esteja próxima à forma de somas de Riemann, ela não é uma soma de Riemann verdadeira, pois envolve duas variáveis x∗k e x ∗∗ k . Entretanto, prova-se em cálculo avançado que isso não tem nenhum efeito sobre o limite, devido à continuidade de f . Desse modo podemos supor que x∗k = x ∗∗ k ao tomar o limite, o que sugere que S possa ser definida como S = lim ∆xk→0 n∑ k=1 2pif(x∗k) √ 1 + [f ′(x∗k)]∆xk = ∫ b a 2pif(x) √ 1 + [f ′(x)]2 dx. Em suma, temos a seguinte definição: Definição 1. Se f for uma função contínua e não negativa em [a, b], então a área da superfície de revolução gerada pela rotação da curva y = f(x) entre x = a e x = b em torno do eixo x é definida por: S = ∫ b a 2pif(x) √ 1 + [f ′(x)]2 dx. Quando for conveniente, essa fórmula pode ser expressa como S = ∫ b a 2pif(x) √ 1 + [f ′(x)]2 dx = ∫ b a 2piy √ 1 + ( dy dx )2 dx Além disso, se g for não negativa e x = g(y) for uma curva contínua em [c, d], então a área da superfície gerada quando a parte da curva x = g(y) entre y = c e y = d gira em torno do eixo y, pode ser expresso como S = ∫ d c 2pig(y) √ 1 + [g′(y)]2 dy = ∫ d c 2pix √ 1 + ( dx dy )2 dy Exemplo 1. Encontre a área da superfície gerada pela rotação da parte da curva y = x3 entre 0 e 1 em torno do eixo x. Solução: A superfície que queremos calcular a área é: Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 3 Cálculo I Aula n o 26 Como y = x3, temos que dy/dx = 3x2 e, portanto, a área da superfície é: S = ∫ 1 0 2piy √ 1 + ( dy dx )2 dx = ∫ 1 0 2pix3 √ 1 + (3x2)2 dx = 2pi ∫ 1 0 x3 √ 1 + 9x4 dx Fazendo u = 1 + 9x4, temos que du = 36x3 dx. Segue que: S = 2pi 36 ∫ 10 1 u1/2 du = 2pi 36 [ u3/2 3/2 ]10 1 = pi 27 (103/2 − 1) ≈ 3, 56. � Exemplo 2. Encontre a área da superfície gerada pela rotação em torno do eixo y da parte da curva y = x2 entre x = 1 e x = 2. Solução: A superfície que queremos calcular a área é: Como a curva gira em torno do eixo y, vamos reescrever y = x2 como x = √ y e observar que os valores de y correspondentes a x = 1 e x = 2 são, respectivamente, y = 1 e y = 4. Uma vez que x = √ y, temos que dx/dy = 1/2( √ y) e, portanto, a área da superfície é: S = ∫ 4 1 2pi √ y √ 1 + ( 1 2 √ y )2 dy = pi ∫ 4 1 √ 4y + 1 dy Fazendo u = 4y + 1, temos que du = 4dy. Segue que: S = pi 4 ∫ 17 5 u1/2 du = pi 4 [ u3/2 3/2 ]17 5 = pi 6 (173/2 − 53/2) ≈ 30, 85. � Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 4 Cálculo I Aula n o 26 Exemplo 3. A curva y = √ 4− x2, com −1 ≤ x ≤ 1, é um arco do círculo x2 + y2 = 4. Calcule a área da superfície obtida pela rotação da curva em torno do eixo x. Solução: A superfície que queremos calcular a área é: Temos que dy dx = 1 2 (4− x2)−1/2(−2x) = −2x√ 4− x2 Segue que: S = ∫ 1 −1 2pi √ 4− x2 √ 1 + ( −2x√ 4− x2 )2 dx = 2pi ∫ 1 −1 √ 4− x2 2√ 4− x2 dx = 4pi ∫ 2 −1 1 dx = 8pi � Exemplo 4. Determine a área da superfície obtida pela rotação, em torno do eixo y, do gráfico de f(x) = x2 2 , 0 ≤ x ≤ 1. Solução: A superfície que queremos calcular a área é: Como a superfície é gera pela rotação da curva em torno do eixo y, temos que x = √ 2y, dx dy = 1√ 2y , f(0) = 0 e f(1) = 1 2 . Segue que: S = ∫ 1 2 0 2pi √ 2y √ 1 + ( 1√ 2y )2 dy = 2pi ∫ 1 2 0 √ 2y + 1 dy Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 5 Cálculo I Aula n o 26 Fazendo u = 2y + 1, temos que du = 2.dx. Quando y = 0, u = 1 e quando y = 1 2 , u = 2. Assim: S = pi ∫ 2 1 u1/2 du = pi [ 2u3/2 3 ]2 1 = 2pi 3 ( 23/2 − 1 ) = 2pi 3 ( 2 √ 2− 1 ) . � Exemplo 5. Calcule a área da superfície gerada pela rotação, em torno do eixo x, do gráfico de f(x) = sen(x), 0 ≤ x ≤ pi. Solução: A superfície que queremos calcular a área é: Temos que: S = ∫ pi 0 2pisen(x) √ 1 + cos2 x dx Fazendo u = cos(x), temos que du = −sen(x).dx. Quando x = 0, u = 1 e quando x = pi, u = −1. Segue que: S = −2pi ∫ −1 1 √ 1 + u2 du = 2pi ∫ 2 −1 √ 1 + u2 du Fazendo u = tg(θ), temos que du = sec( θ).dθ. Quando u = −1, θ = −pi 4 e quando u = 1, θ = pi4 . Segue que: S = 2pi ∫ pi/4 −pi/4 √ 1 + tg2(θ) sec2(θ) dθ = 2pi ∫ pi/4 −pi/4 sec3(θ) dθ Integrando por partes (Veja a nota de aula 22), temos:S = 2pi[ √ 2 + ln( √ 2 + 1)]. � Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 6 Cálculo I Aula n o 26 Exemplo 6. Ache a área da superfície gerada pela rotação da curva y = ex, com 0 ≤ x ≤ 1, em torno do eixo x. Solução: A superfície que queremos calcular a área é: Temos que: dy dx = ex Segue que: S = ∫ 1 0 2piex √ 1 + (ex)2 dx = 2pi ∫ 1 0 ex √ 1 + e2x dx Fazendo u = ex, temos que du = exdx. Segue: S = 2pi ∫ e 1 √ 1 + u2 du Fazendo u = tg(θ), então du = sec2(θ)dθ. Além disso, α = tg−1e. Segue que: S = 2pi ∫ α pi 4 sec3(θ) dθ = 2pi 1 2 [sec(θ)tg(θ) + ln | sec(θ) + tg(θ)|]αpi/4 = pi[sec(α)tg(α) + ln(sec(α) + tg(α)− √ 2− ln( √ (2) + 1)] Como tg(α) = e, temos que sec( α) = 1 + tg2(α) = 1 + e2. Assim: S = pi[e √ 1 + e2 + ln(e+ √ 1 + e2)− √ 2− ln( √ 2 + 1)]. � 2 Pressão e Força Hidrostática Dentre as muitas aplicações do cálculo integral á física e à engenharia, consideramos uma aqui: a força em função da pressão da água. Como em nossas aplicações anteriores, nossa estratégia é fragmentar a quantidade física em um grande número de pequenas partes, aproximar cada pequena parte, somar os resultados, tomar o limite e, então, calcular a integral resultante. Definição 2 (Pressão). Se uma força de magnitude F for aplicada a uma superfície de área A, então definimos a pressão P exercida pela força sobre a superfície como sendo P = F A . Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 7 Cálculo I Aula n o 26 Suponha que uma placa horizontal fina com área de A metros quadrados seja submersa em um fluído de densidade ρ quilogramas por metro cúbico a uma profundidade d metros abaixo da superfície do fluído. O fluido diretamente acima da placa tem volume V = Ad, assim, sua massa é m = ρV = ρAd. A força exercida pelo fluído na placa é, portanto: F = mg = ρgAd em que g é a aceleração da gravidade. Sendo assim: P = F A = ρgd. Um princípio importante da pressão de fluídos é o fato verificado experimentalmente de que em qualquer ponto no líquido a pressão é a mesma em todas as direções. Assim, a pressão em qualquer direção em uma profundidade d em um fluido com densidade de massa ρ é dada por: P = ρgd = δd. Isso nos ajuda a determinar a força hidrostática contra uma placa vertical, parede ou barragem em um fluido. Este não é um problema simples, porque a pressão não é constante, mas aumenta de acordo com a profundidade. Suponha que uma superfície plana esteja imersa verticalmente em um fluido de densidade ρ, e que a parte submersa sa superfície se estenda de x = a até x = b, ao longo da parte positiva do eixo x. Para a ≤ x ≤ b, seja w(x) a extensão da superfície e h(x) a profundidade do ponto x. A ideia básica para resolver este problema é dividir a superfície em faixas horizontais, cujas áreas possam ser aproximadas por áreas de retângulos. Essas aproximações de áreas, nos permitirão criar uma soma de Riemann que aproxime a pressão total na superfície. Tomando um limite das somas de Riemann, obteremos uma integral para F . Definição 3. Suponha que uma superfície plana esteja imersa verticalmente em um fluido com densidade ρ, e que a parte submersa sa superfície se estenda de x = a até x = b ao longo do eixo x cujo sentido positivo seja para baixo. Para a ≤ x ≤ b, suponha que w(x) seja a extensão da superfície e que h(x) seja a profundidade do ponto x. Definimos, então, a força do fluido sobre a superfície por F = ∫ b a ρh(x)w(x) dx. Exemplo 7. A face de um dique é um retângulo vertical com altura de 100 pés e extensão de 200 pés. Encontre a força total que o fluido exerce sobre a face, quando a superfície da água está no nível do topo do dique. Considere ρ = 62, 4 lb/pé3. Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 8 Cálculo I Aula n o 26 Solução: Introduzimos um eixo x com origem na superfície da água, conforme mostra a figura abaixo: Em um ponto x sobre esse eixo, a extensão do dique é de w(x) = 200 pés e a profundidade h(x) = x pés. Assim: F = ∫ 100 0 200.62, 4.x dx = 12480 ∫ 100 0 x dx = 12480 [ x2 2 ]100 0 = 62.400.000lb. � Exemplo 8. Uma placa com o formato de triângulo isósceles, com base de 10 pés e altura 4 pés, é imersa verticalmente em óleo de máquina, conforme mostra a figura a seguir. Encontre a força F que o fluido exerce sobre a superfície da placa se a densidade do óleo for ρ = 30 lb/pé3. Solução: Vamos introduzir um eixo x, conforme mostra a figura abaixo. Por semelhança de triângulos, a extensão da placa, em pés, a uma profundidade h(x) = x + 3 pés, satisfaz w(x) 10 = x 4 ⇒ w(x) = 5 2 x. Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 9 Cálculo I Aula n o 26 Assim: F = ∫ 4 0 30.(3 + x). ( 5 2 x ) dx = 75 ∫ 4 0 (3x+ x2) dx = 75 [ 3x2 2 + x3 3 ]4 0 = 3400 lb. � Prof. Edilson Neri | Prof. André Almeida 10
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