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SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 1 Aula 2: Imunidades tributárias ...................................................................................................... 2 ............................................................................................................................. 2 Introdução ................................................................................................................................ 3 Conteúdo Conceito, natureza jurídica e institutos afins ............................................................... 3 Nomenclatura .................................................................................................................... 3 Obrigações acessórias (dever jurídicos instrumentais) .............................................. 4 Institutos afins .................................................................................................................... 6 Natureza jurídica e interpretação ................................................................................... 7 Imunidades genéricas ....................................................................................................... 8 Imunidade recíproca ......................................................................................................... 8 Imunidades de culto ....................................................................................................... 10 Imunidades dos partidos políticos e suas fundações ............................................... 11 Imunidades das entidades sindicais de trabalhadores ............................................. 11 Imunidades das entidades de educação e de assistência social ............................ 12 Imunidade da liberdade de expressão ......................................................................... 13 Imunidade musical .......................................................................................................... 14 Imunidades específicas .................................................................................................. 14 Atividade Proposta........................................................................................................... 15 ....................................................................................................................... 15 Aprenda Mais ........................................................................................................................... 15 Referências ......................................................................................................... 16 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 22 ..................................................................................................................................... 22 Aula 2 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 22 SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 2 Introdução Na aula passada, vimos que o tributo pode ser utilizado como forma de desestimular (ou estimular) comportamentos de particulares. Por exemplo: o aumento de um tributo pode desestimular a importação, as compras no exterior. Outro caso exemplar: imagine que o governo, para controlar a divulgação de opiniões contrárias, aumenta o imposto que incide sobre revistas e jornais; temos, portanto, uma situação em que, para proibir o crescimento de um determinado credo, o governo tributa pesadamente suas atividades. E por aí vai! É por isso que a Constituição brasileira proíbe a criação de tributo sobre esses fatos. Isso ocorre por meio da imunidade, que, dessa forma, configura-se, como leciona Ricardo Lobo Torres, como verdadeiras intributabilidades de liberdades fundamentais. Há determinadas situações em que não se pode sequer correr o risco de tributar. Alguém sempre pode errar na dose. Objetivo: 1. Distinguir imunidades tributárias no ordenamento jurídico; 2. Examinar as imunidades tributárias genéricas; 3. Analisar as imunidades tributárias específicas. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 3 Conteúdo Conceito, natureza jurídica e institutos afins Conceito A palavra imunidade significa liberado do encargo; assim, seria um privilégio concedido a uma pessoa que não é obrigada a um ônus qualquer. A imunidade tributária é norma constitucional que afasta a competência tributária, ou seja, é norma negativa de competência, norma de incompetência. Não estamos diante de uma norma que veda a competência (na verdade, ela não existe). Não é renúncia fiscal, favor ou benefício. O tributo não poderia sequer existir. Só há favor quando o ente federativo pode cobrar o tributo e não o faz; na imunidade, ele não pode e nunca pôde. Do mesmo modo que a Constituição outorga competências, ela também afasta determinadas situações. Normalmente, o objetivo é preservar alguns valores ou a manutenção de alguns direitos. Elas só vêm previstas na Constituição porque são regras de competência. Nomenclatura A Constituição não utiliza a expressão imunidade; ela é doutrinária e jurisprudencial. A Constituição veda a instituição de tributo, determina a gratuidade, isenta ou estabelece a não incidência. No Artigo 195, §7º, da Constituição, temos a expressão “isentas”. Veremos, contudo, que a isenção não está na Constituição, que só utiliza “imunidades”. Assim é que, apesar de utilizar esta expressão, o STF já se pronunciou tratando de imunidade. No Artigo 156, §2º, da Constituição, o legislador proíbe que incida o ITBI na hipótese de realização de capital. Esses são alguns exemplos; todos eles veremos nos itens que se seguirão. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 4 Obrigações acessórias (dever jurídicos instrumentais) A imunidade afasta somente o dever de pagar tributos, mas não afasta os deveres instrumentais, como a emissão de notas fiscais, a prestação de informações ou o dever de declarar. E, na hipótese de não cumprimento destas, poderá, se prevista, ser cobrada multa. É por isso que, na próxima disciplina, veremos que não estamos, em verdade, diante de uma relação de acessoriedade e, sim, de uma relação de instrumentalidade; isto porque, pela teoria da gravitação jurídica, o acessório segue a sorte do principal. Mas aqui o principal (recolhimento do tributo) não existe, mas o “acessório” (ex.: declaração) persiste. Classificações A doutrina traz várias classificações para as imunidades. À medida que estudamos as classificações, aprofundamos nossos conhecimentos. Por isso, tentaremos ser abrangentes. Veja a seguir. Quanto à maneira de sua incidência: a imunidade é subjetiva quando são conferidas de acordo com a condição de determinada pessoa. É o caso da imunidade recíproca do Artigo 150, VI, a, da CR. Por outro lado, a imunidade será objetiva quando relacionada a determinados fatos, bens ou situações. Este é o caso da imunidade sobre livros, jornais e periódicos do Artigo 150, VI, d, da CR; assim é que as editoras serão tributadas em tudo aquilo que não disser respeito diretamente aos livros, como é o caso do imposto de renda da pessoa jurídica. Reconhecemos a existência de uma terceira espécie, denominada imunidade mista, que é aquela que alcança a pessoa em função de alguma característica individual e é relacionada a determinados fatos; é o caso SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 5 da imunidade do Artigo 153, §4º, da CR, que imuniza as pequenas glebas rurais (aspecto objetivo), quando as explora,só ou com sua família, o proprietário que não possua outro imóvel. Quanto à eficácia: a imunidade será incondicionada ou condicionável. A imunidade é incondicionada quando estivermos diante de uma norma constitucional de eficácia plena e aplicabilidade imediata, como é o caso das imunidades recíprocas. A imunidade será condicionável quando a norma constitucional for de eficácia contida e aplicabilidade imediata; neste caso, ela poderá atender a requisitos previstos em lei. Quanto à forma de previsão: será explícita quando perfeitamente identificáveis no texto constitucional; é o caso das imunidades do Artigo 150, VI, da CR. Por outro lado, há hipóteses em que, mesmo ausente norma expressa, podemos encontrar a proibição constitucional de tributação no ordenamento jurídico. Neste caso, estaremos diante das imunidades implícitas, como é o caso da intributabilidade, como forma de evitar a tributação confiscatória, ou seja, a intributabilidade do mínimo vital. Quanto à abrangência da vedação: elas serão excludentes quando estiverem reservadas à tributação para um tipo de tributo, e exclusão para outros, como ocorre no Artigo 153, §5º, da CR; ou incisivas quando preverem determinadas situações que só pode haver incidência de algum imposto, excluindo os demais, no exemplo do Artigo 153, §3º, da CR. Quanto aos princípios que privilegiam: as imunidades podem ser ontológicas, como resultado de um princípio constitucional, tendo na isonomia, em suas variadas manifestações, a ligação que identifica as imunidades de natureza ontológica. Exemplos: instituições de educação e assistência social sem fins lucrativos, que decorrem do importante serviço público que prestam. E poderão ser políticas quando conferidas para prestigiar outros princípios constitucionais e podem beneficiar pessoas que tem capacidade contributiva; SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 6 nestas se incluem as imunidades dos templos, das entidades sindicais de trabalhadores, dos partidos políticos e suas fundações, dos jornais, periódicos e do papel destinado à sua impressão. Quanto ao seu alcance: as imunidades podem ser genéricas ou tópicas/específicas. Essa classificação nos permitirá fazer um estudo mais detalhado das imunidades. Por esse motivo, as detalharemos a seguir. Institutos afins Para melhor compreendermos como opera nosso ordenamento, é bom sabermos que nem sempre que deixamos de pagar um tributo estaremos diante de uma imunidade. Imunidade somente quando a Constituição determinar; de outra forma, será não incidência pura e simples, isenção, alíquota zero ou, ainda, remissão. Conheça mais sobre o assunto. Não incidência pura e simples É um fenômeno de nosso ordenamento jurídico, no qual não há a incidência de tributo pelo simples fato de haver lacuna na lei. Ou seja, não se deve nenhum tributo, pois nenhum tributo foi instituído. Podemos citar como exemplo a criação de um possível imposto residual sobre a propriedade de bicicletas. Aqui, deixem-me fazer um registro: procure sempre citar exemplos economicamente desinteressantes. Nunca se sabe, quando criamos exemplos, se eles não podem deixar de ser meramente acadêmicos para se tornarem reais. Pensamos, por ora, que o governo federal não estaria interessado em investir em uma máquina que pudesse fiscalizar a tributação da propriedade de bicicletas. Isenção É, ao leigo, semelhante à imunidade. A isenção também terá previsão de que não poderá ser cobrada; porém, esta isenção não se encontra na Constituição, ela está em norma infraconstitucional. Aliás, essa é a diferença mais importante entre os dois institutos. Podemos então dizer que a imunidade é a hipótese de SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 7 não incidência constitucionalmente qualificada, enquanto a isenção é a hipótese de não incidência legalmente qualificada. Alíquota zero É uma hipótese de incidência. Nesse caso, o tributo índice seria devido. Contudo, um dos aspectos quantitativos é reduzido a zero, e, ao multiplicarmos pelo outro aspecto quantitativo (a base de cálculo), o resultado será sempre zero; isto é muito comum nos tributos regulatórios em que a alíquota é uma exceção do princípio da legalidade e pode ser alterada pelo próprio executivo. Assim, quando se quer incentivar algum setor econômico, ao invés de criar uma isenção – o que demandaria todo um processo legislativo demorado –, o governo pode reduzir a alíquota a zero. Remissão É um favor legal, no qual o tributo era originariamente devido, mas, posteriormente, o seu pagamento foi perdoado. Aqui, o benefício surge depois da ocorrência do fato gerador, diferente de todas as hipóteses acima. Natureza jurídica e interpretação Há certa divergência quanto à forma de interpretar as imunidades, e isto se dá porque a imunidade constitui direito fundamental – cuja regra de interpretação é a extensiva e, para muitos, ela se constitui em exceção à competência –, enquanto as normas excepcionais se interpretam de forma restritiva. Mas a questão não pode ser generalizante. Diante de imunidades como a que protege a liberdade de culto, não podemos admitir restringi-la somente ao tempo físico. Esta não é a finalidade da norma. Por outro lado, não se poderia estender a imunidade à própria editora, pois o verdadeiro alcance da norma seria restrito aos bens editados por esta. De igual forma, não podemos generalizar quando tratamos de autoaplicabilidade. Normas que sejam bastantes em si, por evidente, são autoaplicáveis. Mas as que exigem regulamentação, segundo a doutrina, serão SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 8 autoaplicáveis, enquanto que, para o STF, dependerão de regulamentação para que possam produzir efeitos. Imunidades genéricas Artigo 150, VI, da CR. As imunidades que serão tratadas agora estão no Artigo 150, VI, da CR, e tratam de vedações para qualquer ente federativo e para todo e qualquer imposto. Aqui há uma proteção da liberdade de várias espécies: política, religiosa, etc. Essa imunidade se aplica aos impostos (em princípio todo e qualquer imposto), pois eles não possuem qualquer parâmetro para sua fixação, por se tratar do único tributo não vinculado. Imunidade recíproca Determina que é vedado instituir impostos sobre o patrimônio, rendas e serviços uns dos outros (entes federativos, inclusive suas autarquias e fundações). É como afirma Humberto Ávila: Não se pode olvidar que as pessoas políticas não possuam capacidade econômica. Elas não prestam nenhum serviço que possa ser qualificado de atividade econômica e, portanto, caracterizado como tributável. (ÁVILA, 2012, p. 215). Algumas controvérsias relevantes são aqui levantadas. Vejamos o caso da OAB. Segundo o STF, a Ordem dos Advogados do Brasil, que não é considerada propriamente uma autarquia, mas, sim, pessoa jurídica sui generis (por ser pessoa jurídica de direito privado com prerrogativas de direito público), será imune quando atua no campo que a própria Constituição lhe outorga. Questiona-se, sim, a sua extensão aos órgãos de assistência eventualmente criados por ela. Essa imunidade tem por propósito proteger a federação, garantindo a autonomia de cada ente federativo. Imagine se o Estado pudesse tributar o SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 9 município, a título de IPVA, e o governador fosse inimigo político do prefeito. Poderia o governador pretender fixar alíquotas elevadíssimas de forma a prejudicar o orçamento municipal. Outro aspecto importante é o que se encontra previsto na Súmula nº 591 do STF. Você poderia abrirsua legislação e conferir agora. Ela conclui que essa imunidade só se aplicará aos tributos diretos; ou aos indiretos quando a pessoa jurídica de direito público for a contribuinte de direito. Da mesma forma, ela não exime o comprador (particular) de um bem de entidade beneficiada pela imunidade do pagamento do ITBI, por exemplo. A limitação só se aplica quando estivermos diante do poder público no exercício de sua função pública, quando este estiver desenvolvendo atividade econômica, de tal forma que não pode sequer haver risco à concorrência e à livre iniciativa. Já quanto aos serviços concedidos, devemos observar que a imunidade não beneficia os concessionários de serviços públicos que explorem atividade econômica, desde que o serviço público não seja prestado em caráter de monopólio – como o fazem os Correios e a Infraero. "Imóveis situados no porto, área de domínio público da União, e que se encontram sob custódia da companhia, em razão de delegação prevista na Lei de Concessões Portuárias. Não incidência do IPTU, por tratar-se de bem e serviço de competência atribuída ao poder público (arts. 21, XII, f, e 150, VI, da CF). Taxas. Imunidade. Inexistência, uma vez que o preceito constitucional só faz alusão expressa a imposto, não comportando a vedação a cobrança de taxas. Agravo regimental a que se nega provimento." (AI 458.856-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 5-10-2004, Primeira Turma, DJ de 20-4-2007.) Enfim, você pode resumir em três os requisitos desta imunidade: salvaguarda do pacto federativo, proteção de atividades públicas em sentido estrito (sem fins lucrativos) e evitar o benefício de atividade econômica. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 10 Imunidades de culto Essa regra consagra a separação entre Estado e igreja. Ao contrário do que podem pensar alguns, essa imunidade não é feita para beneficiar a igreja; na verdade, ela se presta a proteger a liberdade de culto, pois atende todos os diversos e incontáveis cultos que possam ser exercidos em nosso território. Ela atinge não só o templo físico – como parece dizer a Constituição – mas tudo aquilo que guarnece a atividade religiosa; é, assim, uma imunidade subjetiva. Isso gerou (e ainda gera) algumas controvérsias. Uma destas que se tornou histórica é a possibilidade de incidir tributo sobre a residência paroquial; se esta pertencer ao patrimônio do templo, ela continuará a gozar da imunidade. Outro ponto é o imóvel da igreja que lhe serve de estacionamento ou, ainda, as vendas realizadas em quermesses. Se os recursos obtidos forem utilizados nas atividades religiosas, tudo permanece imune. Caso contrário, o tributo deve incidir. "Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se encontram alugados. A imunidade prevista no Artigo 150, VI, b, CF, deve abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o patrimônio, a renda e os serviços ‘relacionados com as finalidades essenciais das entidades nelas mencionadas’. O §4º do dispositivo constitucional serve de vetor interpretativo das alíneas b e c do inciso VI do Artigo 150 da CF. Equiparação entre as hipóteses das alíneas referidas." (RE 325.822, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 18-12-2002, Plenário, DJ de 14-5-2004.) No mesmo sentido: ARE 658.080-AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 13-12-2011, Primeira Turma, DJE de 15-2-2012; AI 690.712-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 23-6-2009, Primeira Turma, DJE de 14-8-2009; AI 651.138-AgR, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 26-6-2007, Segunda Turma, DJ de 17-8- 2007. Antes de passarmos para a próxima imunidade, vamos deixar registrado que o objetivo é proteger a liberdade de culto e que a maçonaria não é uma religião. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 11 Podem pertencer a esta instituição homens dos mais diversos cultos, que não precisam compartilhar deste no grupo maçom a que pertencem. E também parece haver entendimento na Constituição que esta imunidade não contempla os cultos satânicos, já que ela foi promulgada sob a proteção de Deus. Nesse sentido, é o entendimento do STF: “O reconhecimento da imunidade tributária prevista no Artigo 150, VI, c, da CF exige o cumprimento dos requisitos estabelecidos em lei. Assim, para se chegar à conclusão se o recorrente atende aos requisitos da lei para fazer jus à imunidade prevista neste dispositivo, necessário seria o reexame do conjunto fático-probatório constante dos autos. Incide, na espécie, o teor da Súmula 279 do STF. (...) A imunidade tributária conferida pelo Artigo 150, VI, b, é restrita aos templos de qualquer culto religioso, não se aplicando à maçonaria, em cujas lojas não se professa qualquer religião”. (RE 562.351, rel. min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 4-9-2012, Primeira Turma, DJE de 14-12-2012.) Imunidades dos partidos políticos e suas fundações Essa imunidade tem por escopo a liberdade política. É uma imunidade também subjetiva, mas que está restrita aos bens aplicados no exercício dessa liberdade. Está limitada, às condições do Artigo 14 do CTN, a não distribuir qualquer parcela de seu patrimônio ou rendas, a aplicar integralmente no Brasil os seus recursos, e a manterem escrituração regular. Imunidades das entidades sindicais de trabalhadores Aqui, o propósito é proteger a liberdade de associação dos trabalhadores. A Constituição centra sua atenção nos sindicatos dos trabalhadores, e não dos empregadores, pois estes nunca tiveram sua liberdade tolhida. Aliás, seu poder econômico é capaz de lhes garantir liberdade. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 12 Imunidades das entidades de educação e de assistência social O propósito dessa imunidade, como se viu, é atender interesses públicos, da própria coletividade. Abra a sua Constituição no Artigo 203 e confira a abrangência da expressão “assistência social”: proteção à família, à maternidade, à infância, etc. O Estado tem se demonstrado incapaz de prestar os serviços públicos constitucionalmente reconhecidos. Assim, é uma imunidade subjetiva na qual se prestigiam aqueles que prestam serviços que deveriam ser satisfatoriamente prestados pelo Estado. Esta é uma imunidade condicionada aos requisitos que se encontram também no Artigo 14 do CTN. Será que uma instituição de educação que cobra elevadas mensalidades e que tem lucro pode se beneficiar dessa imunidade? É claro que sim. Basta que ela aplique esse lucro na sua atividade. Não ter fins lucrativos não é o mesmo que não ter lucro. O lucro é extremamente positivo para alcançar seus propósitos; ele não pode é ser distribuído. Há duas súmulas relativas a esse dispositivo. Sobre a primeira, já falamos, de certa forma, ao tratarmos da imunidade dos templos, que é a Súmula nº 724 do STF, que conclui pela extensão da imunidade sobre o imóvel de propriedade de uma dessas pessoas, ainda quando alugado a terceiro, mas desde que o produto do aluguel seja aplicado nas atividades fins delas. A segunda é a Súmula nº 730 do STF, que colocou uma pá de cal nas tentativas dos planos de previdência de verem reconhecida a incidência da imunidade sobre suas atividades. Em verdade, havendo contribuição de segurados, não estaremos diante de uma instituição de assistência social sem fins lucrativos. Aí se distingue seguridade de assistência. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 13 O que se deve cuidar, entretanto, é da questão do tributo indireto, que gera inúmeras controvérsias. Predomina o entendimento de que a imunidade não persiste, pois ela diz respeito somente ao contribuinte de direito:“Entidade sem fins lucrativos. Imunidade recíproca. (...) Entidade educacional que não é contribuinte de direito do ICMS relativo a serviço de energia elétrica não tem benefício da imunidade em questão, uma vez que esta não alcança o contribuinte de fato.” (AI 731.786-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 19-10-2010, Primeira Turma, DJE de 16-11-2010.) No mesmo sentido: AI 717.793-AgR, Rel. Min Cármen Lúcia, julgamento em 15-2-2011, Primeira Turma, DJE de 17-3-2011. Neste aspecto, contudo, devemos acompanhar a jurisprudência, já que a advocacia privada e os contribuintes não se contentam com esse entendimento e continuam levando essa questão aos tribunais. Imunidade da liberdade de expressão Acho importante deixar claro que não se trata de uma questão cultural. Sei que muitos doutrinadores assim afirmam. O problema é que a questão cultural é menos abrangente do que a liberdade de expressão. Se afirmarmos que o objetivo é de ordem cultural, então o governo poderia analisar toda publicação que lhe interessar e classificá-la como cultural ou não, com o intuito de taxar, e, assim, dificultar a sua circulação. Ao afirmar que é liberdade de expressão, este controle não poderá ser feito e somente poderá haver restrição de circulação quando estivermos diante de um crime, como, por exemplo, o racismo. Então, estarão excluídos apenas os folhetos publicitários que não possuem nenhuma verdadeira expressão. Mas estão protegidas publicações como álbuns de figurinhas. A imunidade atinge livros, jornais, periódicos e o papel destinado à sua publicação. Hoje, não se trata apenas do impresso. Imune é o livro, o SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 14 jornal e a revista e não o meio, que pode ser eletrônico, áudio, etc. Aliás, temos uma lei que define a Política Nacional do livro (Lei nº 10.753/2003) que o define independente do formato. O que está em discussão é se os e-readers serão alcançados pela imunidade. Imunidade musical A Constituição de 1988 foi objeto da Emenda Constitucional nº 75 de 2013, que passou a contar com a seguinte alínea do Artigo 150, VI: “e) fonogramas e videofonogramas musicais produzidos no Brasil contendo obras musicais ou literomusicais de autores brasileiros e/ou obras em geral interpretadas por artistas brasileiros, bem como os suportes materiais ou arquivos digitais que os contenham, salvo na etapa de replicação industrial de mídias ópticas de leitura a laser”. A justificativa da PEC que resultou na emenda foi a barreira econômica imposta aos artigos produzidos licitamente no Brasil, em virtude de sua carga tributária e da concorrência com os artigos de pirataria. Essa imunidade inclui o fonograma – toda fixação de sons de uma execução ou interpretação ou de outros sons, ou de uma representação de sons que não seja uma fixação incluída em uma obra audiovisual; e o videofonograma – gravação de som e imagem de uma interpretação musical, ou seja, os vídeos musicais. Assim, estariam alcançados pela imunidade os impostos que incidem na produção de um CD ou DVD, que vai desde a contratação de estúdio, músico, mixagem, produção, até a distribuição a lojas para venda a consumidores finais (exceto a industrialização na fase final, de multiplicação de cópias idênticas). Imunidades específicas A divisão aqui proposta tem como objetivo maior facilitar o nosso estudo, pois selecionamos aquelas mais importantes, que geram maiores controvérsias, e deixamos as pontuais para este momento final. Estas imunidades dizem SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 15 respeito, em geral, a um único tributo e não a uma única espécie tributária como visto até agora. Vamos, aliás, optar por seguir a ordem do texto constitucional para estimulá-lo a nos acompanhar, conferindo a leitura. Atividade Proposta Consulte o site do STF sobre o tema imunidade e tributos indiretos, consultando alguns ou todos os artigos acima vistos na aula no endereço http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/pesquisarJurisprudencia.asp. Elabore um parecer técnico que reproduza o entendimento do tribunal. Chave de resposta: O aluno irá identificar que prevalece na jurisprudência o entendimento de que em regra não se extende a imunidade nos tributos indiretos. Aprenda Mais Material complementar Para saber mais sobre os assuntos discutidos até agora, assista ao vídeo “Pleno – STF reconhece imunidade tributária recíproca sobre todos os serviços dos correios”, disponível em nossa galeria de vídeos. Para conhecer mais sobre o assunto, entre em nossa biblioteca virtual e baixe o artigo “A imunidade tributária e suas impropriedades constitucionais”. Referências ÁVILA, Humberto. Sistema Constitucional Tributário. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. CARNEIRO, Claudio. Curso de Direito Tributário e Financeiro. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 16 TORRES, Ricardo Lobo. Tratado de Direito Constitucional, Financeiro e Tributário. Vol. 1. Rio de Janeiro: Renovar, 2009. PAULSEN, Leandro. Direito Tributário: Constituição e Código Tributário à luz da doutrina e da jurisprudência. 15. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013. Exercícios de fixação Questão 1 Toda vez que a Constituição Federal estabelece que determinado imposto “não incide”, é correto afirmar que estamos diante de um caso de: a) Imunidade b) Isenção c) Remição d) Remissão e) Anistia Questão 2 A imunidade deve ser interpretada de que forma? a) Exclusivamente literal, para compreender exclusivamente o que está no texto legal. b) Gramatical, limitando-se ao que o leigo poderia compreender do texto constitucional. c) Extensiva, uma vez que se trata de um direito fundamental. d) Restritiva, pois segue o mesmo sentido da isenção. e) Estrita, pois trata de uma simples exceção que não consubstancia nenhuma norma especial. Questão 3 Com relação ao tema das limitações ao poder de tributar, julgue os itens subsequentes. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 17 I – De acordo com a atual jurisprudência do STF, a imunidade tributária recíproca abrange as hipóteses em que a pessoa jurídica de direito público interno é contribuinte de fato. II – As imunidades constitucionais são consideradas objetivas quando exigem, para sua fruição, a comprovação de que os bens, rendas ou serviços estão afetados às finalidades essenciais da entidade. III – Existem imunidades tributárias implícitas na Constituição. IV – A condição legal à fruição concreta da imunidade tributária pode ser veiculada por meio de lei ordinária federal. Estão certos apenas os itens: a) I e II b) I e III c) I e IV d) II e III e) III e IV Questão 4 Assinale a alternativa correta sobre a diferença entre isenção e imunidade. a) Isenção e não incidência são iguais, já a imunidade assemelha-se à chamada alíquota zero. b) A isenção é criada por decreto do chefe do Executivo, já a imunidade é criada por decreto legislativo. c) Isenção somente se refere a taxas e contribuições, já a imunidade abrange todos os tipos de tributos. d) Isenção é prevista em lei, já a imunidade é constitucionalmente estipulada. e) Imunidade e não incidência são sinônimos, pois ambos estão previstos na Constituição e na lei. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 18 Questão 5 As imunidades são normas negativas de competência tributária, figurando na Constituição, ainda, como limitações constitucionais ao poder de tributar. Sobre as imunidades,é correto afirmar que: a) As imunidades constam em diversos artigos do texto constitucional, e, conforme o dispositivo, dizem respeito a impostos, contribuições ou mesmo à taxa, não se podendo, onde a imunidade é relativa a impostos, pretender estendê-la a outras espécies tributárias. b) As imunidades tributárias a impostos em favor dos templos e das entidades educacionais sem fins lucrativos são incondicionadas. c) A imunidade recíproca a impostos tem caráter subjetivo, alcançando tão somente os entes políticos e suas autarquias, jamais se podendo estendê-la às empresas públicas e às sociedades de economia mista, para as quais o texto constitucional, inclusive, veda privilégios fiscais. d) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é uníssona no sentido de que a imunidade dos livros deve ser interpretada restritivamente, não havendo dissenso quanto a isto, porquanto imunidades são normas de exceção. Questão 6 Em decorrência de imunidade tributária, o ICMS NÃO pode ser cobrado em relação: a) À conferência de bens imóveis ao capital de sociedades, em aumento de capital. b) À venda de mercadorias, tendo como destino partidos políticos, para aplicação direta na atividade política aprovada pelo Tribunal Regional Eleitoral. c) A prestações de serviços de comunicação nas modalidades de radiodifusão sonora e de sons e imagens, de recepção livre e gratuita. d) À importação de bens na modalidade “importação por encomenda” realizadas em favor de entidade religiosa (templo de qualquer culto). SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 19 e) À prestação de serviço de provimento de acesso à internet, na modalidade “Serviço de Valor Adicionado”. Questão 7 Determinada empresa pública federal obteve o reconhecimento, no Supremo Tribunal Federal, de equiparação das suas atividades com a União Federal, atingindo, como efeito reflexo, a sua sujeição tributária. Nesse sentido, requereu ao Estado W que não fosse compelida a pagar o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA em relação à sua frota. Tal requerimento está embasado na: a) Anistia b) Moratória c) Imunidade d) Isenção e) Não incidência Questão 8 Conforme a CF, é permitido à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios instituirem impostos sobre: a) Patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos b) Entidades sindicais patronais c) Livros, jornais e periódicos d) Fundações instituídas por partidos políticos e) Templos de qualquer culto Questão 9 O Artigo 150, VI, da Constituição Federal, dispõe sobre as chamadas imunidades tributárias, as quais consistem em normas nas quais fica proibida a tributação sobre situações ou pessoas expressamente indicadas. Nesse sentido, é correto afirmar: SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 20 a) É vedado instituir imposto sobre templos de qualquer culto, bem como sobre o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com as finalidades essenciais das instituições religiosas. b) A imunidade dos livros, jornais e periódicos alcança também o papel destinando à sua impressão, bem como o lucro das editoras responsáveis. c) As fundações mantidas pelos partidos políticos, as demais fundações de direito privado, bem como os sindicatos patronais não são imunes aos impostos, de acordo com o texto constitucional. d) As imunidades tributárias estão todas previstas no Artigo 150, VI, com a única exceção prevista no Artigo 195, §7º, referente à contribuição para a seguridade social das entidades ali mencionadas. Questão 10 Determinada editora de livros, revistas e outras publicações foi autuada pela fiscalização de certo Estado, onde mantém a sede da sua indústria gráfica, pela falta de recolhimento de ICMS incidente sobre álbum de figurinhas. Nessa linha, à luz do entendimento do STF sobre a matéria em pauta, tal cobrança é: a) Inconstitucional, por força da aplicação da isenção tributária. b) Inconstitucional, por força da aplicação da imunidade tributária. c) Constitucional, por força da inaplicabilidade da imunidade tributária. d) Inconstitucional, por estar o referido tributo adstrito à competência tributária da União Federal. e) Constitucional, por força de interpretação literal da imunidade tributária. Questão 11 A respeito da gratuidade de justiça, é correto afirmar que: a) Abrangerá exclusivamente as custas judiciais, mas não os honorários de perito. b) Pode ser conceituada como uma imunidade tributária. c) Não encontra regulamentação infraconstitucional. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 21 d) Compreende as taxas judiciais e as despesas com as publicações dos atos oficiais somente. e) É verdadeira isenção prevista na Lei nº 1.060/50. Questão 12 É correto afirmar que o idoso encontra proteção também nas imunidades. Assim sendo, será ele imune, exceto: a) Rendimentos provenientes de aposentadoria quando maior de 65 anos. b) Rendimentos provenientes de pensão quando maior de 65 anos. c) Imunidade dos transportes coletivos. d) Imunidades que beneficiem outras pessoas também. e) Imunidades relativas aos impostos sobre a propriedade Questão 13 Sobre as exportações, é correto afirmar que incidirá: a) ICMS e IE b) IPI e IE c) ICMS e IPI d) ICMS, IPI e IE e) Somente o IE Questão 14 As instituições de assistência social deverão recolher: a) Todos os impostos, taxas e contribuição de melhoria. b) Somente os impostos e as contribuições da seguridade social. c) Os tributos, excetuados os impostos e as contribuições da seguridade social. d) Taxas e contribuição de melhoria. e) Taxas, contribuições e empréstimos compulsórios. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 22 Questão 15 A imunidade relativa aos registros de nascimento e óbito aos reconhecidamente pobres abrange qual tributo? a) Imposto b) Taxa c) Contribuição de melhoria d) Contribuições especiais e) Empréstimos compulsórios Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - A Justificativa: Resposta fundada no conceito doutrinário. Questão 2 - C Justificativa: Resposta fundada nas regras de interpretação constitucional. Questão 3 - D Justificativa: Resposta fundada na classificação doutrinária das imunidades. Questão 4 - D Justificativa: Resposta fundada no conceito doutrinário dos institutos. Questão 5 - A Justificativa: Resposta fundada em vários dispositivos da Constituição. Questão 6 - C Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, e, da Constituição. SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO 23 Questão 7 - C Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, a, da Constituição. Questão 8 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, da Constituição. Questão 9 - A Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, da Constituição. Questão 10 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 150, VI, d, da Constituição. Questão 11 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 5º, LXXIV, da Constituição. Questão 12 - E Justificativa: Resposta fundada nos Artigos 153, §2º, II, e 230, §2º, da Constituição. Questão 13 - E Justificativa: Resposta fundada nos Artigos 153, §2º, II, e 230, §2º, da Constituição. Questão 14 - C Justificativa: Resposta fundada nos Artigos 150, VI, c, e 195, §7º, da Constituição. Questão 15 - B Justificativa: Resposta fundada no Artigo 5º, LXXVI, da Constituição.
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