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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS HEPATOZOONOSE CANINA Autor: Camila Serina Lasta Orientador: Félix H. D. González Co-orientador: Andrea Pires dos Santos PORTO ALEGRE 2008 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE VETERINÁRIA HOSPITAL DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS VETERINÁRIAS HEPATOZOONOSE CANINA Camila Serina Lasta Monografia para obtenção do certificado de Residência Médica em Patologia Clínica Veterinária Orientador: Prof. Félix H. Díaz González Co-orientador: Andrea Pires dos Santos PORTO ALEGRE 2008 3 TÍTULO: ―HEPATOZOONOSE CANINA” AUTOR: CAMILA SERINA LASTA ORIENTADOR: FÉLIX HILÁRIO DÍAZ GONZÁLEZ BANCA EXAMINADORA: Prof. Félix Hilário Díaz González Orientador ___________________________________________________________________________ Doutoranda Andrea Pires dos Santos Co-orientador Prof. Flávio Antônio Pacheco de Araújo Membro da Banca Examinadora Profª. Sílvia Gonzalez Monteiro Membro da Banca Examinadora Porto Alegre 2008 4 AGRADECIMENTOS: Ao Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) e ao Laboratório de Análises Clínicas Veterinárias (LACVet) pela oportunidade uma realizar uma Residência de qualidade, que proporcionou um aperfeiçoamento de meus conhecimentos. À Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que apesar da falta de investimentos no ensino superior e do constante sucateamento das Universidades Públicas, oferece ensino de qualidade e desempenha seu papel no incentivo à pesquisa científica. Agradeço às minhas colegas e amigas Vanessa, Lu e Simon, por tudo! Pelo apoio nos momentos difíceis, por tudo que me ensinaram, pelo companheirismo e espírito de equipe. Com cada uma aprendi coisas importantes, na veterinária, e para a vida. Amo vocês. Aos estagiários do LACVet, uma equipe maravilhosa que ―veste a camisa‖! É um prazer trabalhar com estudantes dedicados e comprometidos. Meu orientador, professor Félix, obrigada por acreditar em mim e pela sua pela confiança. Minha co-orientadora e amiga Dea, obrigada pelas dicas e pela ―correria molecular‖. Você foi muito importante para este trabalho. Ao Ricardo, pelo computador e pelo companheirismo. Pretinha e Fino, que com suas bagunças, agitos e amor incondicional tornaram a preparação deste trabalho mais divertida. Meus colegas residentes do HCV, pelas conversas e discussões de casos; acredito que nos ajudamos mutuamente, cada um contribuindo com sua área de maior conhecimento. A todos os animais que têm suas vidas mais breves em nome da ciência. 5 “ Animais não fazem guerras Animais não destroem selvas Animais não constroem bombas Animais não poluem o ar Animais não matam por prazer Seria bom, se todos animais Pudessem contar com todos vocês Pra apoiar, pra defender A liberdade de ser... Animais!! ” (Banda Cólera) 6 RESUMO: Este trabalho visa discutir a etiologia, taxonomia, epidemiologia, patogênese, diagnóstico e o tratamento da hepatozoonose canina, uma doença transmitida pela ingestão de artrópodes vetores. Duas espécies diferentes de Hepatozoon são capazes de infectar cães - Hepatozoon canis, descrito na Europa, Ásia, África e América do Sul; e Hepatozoon americanum no sul dos Estados Unidos. De acordo com pesquisas recentes, no Brasil a espécie de importância é o H. canis. A infecção por H. canis varia de assintomática com baixa parasitemia, a doença grave, que cursa com anemia, letargia e caquexia em cães com grande número de parasitas circulantes. A infecção por H americanum manifesta-se principalmente por anormalidades musculoesqueléticas como miosite e lesões periosteais. O diagnóstico é feito principalmente através da detecção de gamontes em esfregaços sanguíneos no caso de H canis, e por biópsia muscular em H. americanum. A terapia de ambas as formas da doença envolve tratamento por longo prazo com combinações de fármacos. Palavras-chave: Protozoários, Hepatozoon spp., caninos 7 ABSTRACT This study’s purpose is to discuss the etiology, taxonomy, epidemiology, pathogenesis, diagnosis and treatment of canine hepatozoonosis, a disease transmitted by ingestion of arthropod vectors. Two distinct Hepatozoon species are capable of infecting dogs – Hepatozoon canis, described in Europe, Asia, Africa and South America; and Hepatozoon americanum, found in the south of the United States. According to recent researches, the most important species in Brazil is H. Canis. Its infection varies from asymptomatic with low parasitemia, and severe disease, cursing with anemia, lethargy and cachexy with large number of circulating parasites. The infection by H. americanum manifests itself mainly by musculoskeletal abnormalities such as myositis and periosteal lesions. The diagnosis is established mainly through the detection of gamontes in blood smears for H. canis, and through muscular biopsy for H. americanum. The treatment of both forms of the disease involves long time therapy with combining drugs. Keywords: Protozoa, Hepatozoon spp., dogs. 8 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ 9 LISTA DE TABELAS ......................................................................................................... 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 11 1. INTRODUÇÃO: .............................................................................................................. 12 2. ETIOLOGIA .................................................................................................................... 12 2.1. Cães .......................................................................................................................... 12 2.2. Hepatozoonose em outras espécies ............................................................................ 13 3. HISTÓRICO E TAXOMOMIA: ...................................................................................... 14 4. EPIDEMIOLOGIA: ......................................................................................................... 15 4.1.Distribuição Geográfica e Prevalência ....................................................................... 15 4.1.2. Hepatozoon canis ............................................................................................... 15 4.1.3. Hepatozoon americanum .................................................................................... 17 4.2. Transmissão .............................................................................................................. 17 4.2.1. Vetores ............................................................................................................... 18 4.2.1.1. Hepatozoon canis ............................................................................................ 18 4.2.1.2. Hepatozoon americanum ................................................................................. 19 4.3. Características Epidemiológicas ................................................................................ 20 5. PATOGÊNESE ................................................................................................................ 21 5.1. Hepatozoon canis: ..................................................................................................... 21 5.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 23 6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ...................................................................................... 25 6.1. Hepatozoon canis ...................................................................................................... 25 6.1.2. Parasitemia ......................................................................................................... 26 6.1.3. Infecções Concomitantes .................................................................................... 27 6.2. Hepatozzon. americanum .......................................................................................... 28 7. ACHADOS LABORATORIAIS ...................................................................................... 29 7.1 Hepatozoon canis ....................................................................................................... 29 7.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 31 8. DIAGNÓSTICO .............................................................................................................. 32 8.1. Hepatozoon canis ...................................................................................................... 32 8.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 35 9. TERAPIA ........................................................................................................................ 35 9.1. Hepatozoon canis ...................................................................................................... 35 9.2. Hepatozoon americanum ........................................................................................... 36 10. PREVENÇÃO ............................................................................................................... 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 37 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Carrapatos adultos da espécie Amblyomma ovale. (a) fêmea e (b) macho (Forlano et al., 2005) Figura 2. Fases de desenvolvimento do Hepatozoon canis no carrapato e no cão: a. oocisto de H. canis no hemocele de Rhipicephalus sanguineus. b. Meronte de H. canis em aspirado de medula óssea. c. Gamonte de H. canis na circulação periférica de cão infectado experimentalmente (Baneth et al., 2001) Figura 3. Gamontes de H. canis em esfregaço sanguíneo de sangue periférico de cão (Kiral et al., 2005). 10 LISTA DE TABELAS Tabela 1. Classificação dos protozoários parasitas (Fischer, 2002). 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ALT Alanina amino transferase AST Aspartato amino transferase CPK Creatina fosfoquinase DNA Ácido desoxirribonucleico ELISA Enzime-linked-immunosorbent serologic assay FA Fosfatase alcalina GGT Gama glutamil transferase GSH Glutation IFA Imunofluorescência indireta IgG Imunoglobulina G IgM Imunoglobulina M LDH Lactato desidrogenase MDA Malondialdeído NO Óxido nítrico PCR Reação em Cadeia da Polimerase RNA Ácido ribonucléico SP São Paulo 12 1. INTRODUÇÃO: Hepatozoonose é uma doença causada pelo protozoário Hepatozoon spp., que pertence ao filo Protozoa, subfilo Apicomplexa, família Hepatozoidae, subordem Adeleorina. Mais de 300 espécies de Hepatozoon têm sido descritas em anfíbios, répteis, pássaros, marsupiais e mamíferos. Destas, aproximadamente 50 espécies foram reportadas em mamíferos (Mathew et al., 2000). As espécies. que infectam anfíbios, répteis e aves parasitam principalmente os eritrócitos, enquanto os gamontes de Hepatozoon spp. que infectam mamíferos são vistos nos leucócitos (Baneth, 2006). Hepatozoon spp. tem um ciclo de vida que inclui desenvolvimento assexuado com merogonia seguida de gametogonia em um hospedeiro intermediário vertebrado, como o cão, e desenvolvimento sexual até esporogonia em um hospedeiro definitivo invertebrado e hematófago. Uma variedade de artrópodes, como carrapatos, ácaros, mosquitos, piolhos, entre outros, podem atuar como hospedeiro definitivo para as diferentes espécies de Hepatozoon spp. (Baneth et al., 2003). Até o momento, duas espécies de Hepatozoon foram identificada em cães: H. canis e H. americanum. Esta classificação foi baseada principalmente nos sinais clínicos, tropismo tecidual, achados patológicos e morfológicos, bem como em características genéticas. O H. americanum foi descrito no sul dos Estados Unidos, enquanto H. canis é encontrado na Europa, África, Ásia e na América do Sul (Vincent-Johnson et al., 1997; Baneth et al., 2003). A presente monografia tem como objetivo discutir a patogênese, o diagnóstico, o tratamento e as pesquisas recentes publicadas sobre a hepatozoonose canina, com ênfase à doença causada pelo agente Hepatozoon canis, a espécie presente no Brasil. 2. ETIOLOGIA: 2.1. Cães: Até 1997 todos os casos de hepatozoonose canina foram atribuídos ao H. canis devido a morfologia muito semelhante dos gamontes das duas espécies. H. americanum foi identificado como uma nova espécie com base em diferenças na localização da merogonia do agente no hospedeiro vertebrado, vetor, sinais clínicos e severidade da infecção, distribuição geográfica, características genéticas e antigênicas (Vincent-Johnson et al., 1997; Baneth et al., 2000). Com base na morfologia, os gamontes de H.canis e H. americaum são muito semelhantes e, de acordo com seqüências da subunidade 18S do gene para RNA ribossômico há 96% de similaridade genética entre as duas espécies (Mathew et al., 2000). Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce13 Hepatozoon canis e H. americanum são protozoários transmitidos por carrapatos que parasitam leucócitos e o parênquima de tecidos. Carrapatos de diferentes espécies têm sido descritos como hospedeiro definitivo do hemoparasita (Voyvoda et al., 2004). A hepatozoonose canina já foi descrita na Ásia, África, Sul da Europa, América do Sul e Estados Unidos (Baneth, 2006). 2.2. Hepatozoonose em outras espécies: H. canis ou Hepatozoon spp. morfologicamente semelhantes ao H. canis têm sido reportados em diversas espécies de caninos selvagens como a raposa (Vulpes vulpes silacea) (Conceição et al., 1988; Majláthová et al., 2007), o chacal-dourado (Canis aureus) (Shamir et al., 2001), o cachorro-selvagem-africano (Lycaon pictus) (Van Heerden et al., 1995), a hiena malhada (Crocuta crocuta) (McCully et al., 1975) e o graxaim (Cerdocyon thous) (Alencar et al.,1997). Existem relatos de infecção por H. americanum em coiotes (Canis latrans) naturalmente e experimentalmente infectados. H. americanum tem sido diagnosticado em carnívoros silvestres através da identificação de cistos e merontes nos músculos ou gamontes na circulação (Kocan et al.,1999; Kocan et al., 2000). Kocan e colaboradores (2000) afirmam que não foram encontradas lesões ósseas em coiotes naturalmente infectados, entretanto, coiotes filhotes infectados experimentalmente desenvolveram a doença. Coiotes podem ser reservatórios naturais da infecção, contribuindo para a ocorrência de H. americanum em cães (Garret et al., 2005). Segundo Macintire et al. (2006) H. americanum é um parasita natural de outras espécies de animais silvestres, e o cão um hospedeiro acidental. Estes canídeos selvagens adaptam-se a uma grande variedade de habitats, e são frequentemente encontrados tanto em zonas rurais como em urbanas, padrão de comportamento que resulta em um maior contato com o cão doméstico (Canis lupus familiaris). Como a relação filogenética entre estas espécies é muito próxima, o risco de transmissão de doenças infecciosas entre elas é significativo (Conceição et al., 1988; Shamir et al., 2001). Apesar disto, a trasmissão experimental do Hepatozoon spp. de um chacal infectado para cães através de carrapatos infectados apresentou resultados inconclusivos (McCully et al., 1975). Conceição e colaboraboradores (1988) encontraram diferença significativa na prevalência de infecções por H. canis em cães e raposas de uma mesma área. Os autores acreditam que as raposas possam ser um importante reservatório natural do agente. Eduardo Araújo Realce 14 Hepatozoonose também já foi descrita em felinos selvagens como o leopardo (Panthera pardus) (McCully et al., 1975), o lince-vermelho (Lynx rufus) (Mercer et al., 1988), o gato-de-pallas (Felis manul) (Barr et al., 1993), a jaguatirica (Felis pardalis) (Mercer et al., 1988; Metzger et al., 2007), o leão (Panthera leo), a chita (Acinonyx jubatus), o gato- do-mato (Leopardus tigrinus), o gato-maracajá (Leopardus wiedii) e o jaguarundi (Puma yagouaroundi) (Metzger et al., 2007), além de felinos domésticos (Baneth et al., 1995; Perez et al., 2004). Não se sabe ao certo se os felinos são infectados por H. canis ou outra espécie desconhecida de Hepatozoon (Baneth, 2003). Embora seja grande a possibilidade de H. canis infectar outras espécies animais, particularmente aquelas estreitamente relacionadas com o cão doméstico, isto não tem sido demonstrado por transmissão experimental. Relatos publicados antes de 1997 na América do Norte, sobre organismos similares ao H. canis, tratam provavelmente da espécie conhecida hoje como Hepatozoon americanum, ou a uma outra espécie diferente (Baneth, 2006). 3. HISTÓRICO E TAXONOMIA: A hepatozoonose canina foi descrita pela primeira vez em 1906 na Índia, causada pelo microorganismo na ocasião chamado Leukocytozoon canis (James, 1905 apud Mathew et al., 2000), hoje conhecido como Hepatozoon. Em 1922, Hepatozoon spp. foi classificado como da família Haemogregarinidae por Lègger, mas em 1926 foi removido desta e colocado na família Hepatozoidae. Para isso, Wenyon baseou-se na observação de que gêneros da família Haemogregarinidae produzem esporozoítos livres que são transmitidos ao hospedeiro vertebrado através da picada de um artrópode vetor, enquanto esporozoítos de Hepatozoon desenvolvem-se dentro de esporocistos e são transmitidos através da ingestão do artrópode infectado, por parte do hospedeiro vertebrado (Mathew et al., 2000). Espécies de Hepatozoon pertencem ao subfilo Apicomplexa (Tabela 1) e têm muitas características em comum com outros gêneros deste grande grupo de protozoários parasitas, como Plasmodium spp., Toxoplasma gondii e Babesia spp., entre outros (Ewing & Pancieira, 2003). Todos os representantes do subfilo Apicomplexa são parasitas obrigatórios, desenvolvem-se intracelularmente e possuem uma estrutura chamada complexo apical, que facilita a invasão e fixação do parasita nas células do hospedeiro (Baneth, 2003). Eduardo Araújo Realce 15 A sistemática e taxonomia de muitas espécies de Hepatozoon spp. permanece incerta, pois as características morfológicas e de desenvolvimento disponíveis na literatura são, de certa forma, inconsistentes. O seqüenciamento genético tem se mostrado uma ferramenta particularmente útil na diferenciação de espécies estreitamente relacionadas como Toxoplasma, Neospora, e Sarcocystis (Mathew et al., 2000). Tabela 1. Classificação dos protozoários parasitas (Fisher, M. Endoparasites in the dog and cat – Protozoa. In Practice. March, 2002). Subfilo Gênero Características Gerais Apicomplexa Isospora Neospora Toxoplasma Sarcocystis Cryptosporidium Babesia Hepatozoon Reprodução sexual e assexuada, ciclo de vida largamente intracelular Sarcomastigophora Giardia Leishmania Possuem flagelo 4. EPIDEMIOLOGIA: 4.1. Distribuição Geográfica e Prevalência: 4.1.2. Hepatozoon canis: Semelhantemente a todas as doenças que têm artrópodes como vetores, a distribuição da hepatozoonose está estreitamente vinculada aos seus hospedeiros definitivos. O principal vetor do H. canis é o carrapato marrom do cão, Rhipicephalus sanguineus, encontrado em regiões tropicais, subtropicais e temperadas do mundo todo, tornando potencial a distribuição mundial deste protozoário (Baneth et al., 2003). A infecção em cães já foi descrita em países no sul da Europa como Grécia (Kontos & Koutinas,1991), Itália (Gavazza et al., 2003), França (Rioux et al., 1964) e Espanha (Jauregui & Lopez, 1995 apud Baneth, 2006); no Oriente Médio em Israel (Voyvoda et al., 2004), Egito (Fahmy et al., 1977 apud Baneth, 2006) e Turquia (Karagenc et al., 2006); na África foi descrito na África do Sul (McCully et al. 1975), Nigéria (Ezekoli et al., 1983) e Sudão (Oyamada et al., 2005); na Ásia na Índia (James, 1905 apud Baneth, 2006), Sri Lanka, Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 16 Singapura (Laird, 1959 apud Baneth, 2006), Malásia (Rajamanickam et al., 1985), Tailândia (Jittapalapong et al., 2006) e Japão (Murata et al., 1991); e na América do Sul no Brasil (Massard et al., 1979; Gondin et al., 1998) e na Argentina (Eiras et al., 2007). No Brasil a infecção já foi descrita nos estados do Rio de Janeiro (Massard et al., 1979; O’Dwyer et al., 2001), São Paulo (O’Dwyer et al., 2004; Gondim et al., 1998), Minas Gerais (Mundim et al., 1992; Mundim et al., 1994), Distrito Federal (Paludo et al., 2003) e Rio Grande do Sul (Souza et al., 2001; Mello et al., 2006). A prevalência de infecções por H. canis em diferentes regiões varia consideravelmente. Assim, na Nigéria houve prevalência de 22%dos cães examinados (Ezekoli et al., 1983), na Malásia de 1% (Rajamanickam et al., 1985), no Sudão de 42,3% (Oyamada et al., 2005), na Tailândia (Bangkok) de 11,4% (Jittapalapong et al., 2006), e na Turquia a prevalência de infecções por Hepatozoon spp. foi de 25,8% através de técnicas de PCR (Karagenc et al., 2006). No Brasil, gamontes de H. canis foram detectados em 39% dos cães em zona rural do Rio de Janeiro (O’Dwyer et al., 2001), enquanto em São Paulo a prevalência mostrou apenas 8,3% de cães infectados (Garcia de Sá, 2007). Estudos sorológicos demonstraram que 33% dos cães de Israel (Baneth et al., 1996), 36,8% da Turquia (Karagenc et al., 2006) e 4,2% de Yamaguchi (Japão) (Inokuma et al., 1999) foram expostos ao parasita, fato demonstrado pela presença de anticorpos anti-H. canis detectados por imunofluorescência indireta. Após a identificação e caracterização molecular, com base na seqüência do gene 18S RNA ribossômico (18S rDNA), concluiu-se que no Brasil, assim como no Japão (Inokuna et al., 2002) e Sudão (Oyamada et al., 2005) a espécie presente é o H. canis (Rubini et al., 2005, Rubini et al., 2006). Estudos moleculares recentes apontam H. canis como o agente responsável pela hepatozoonose canina também na Turquia (Karagenc et al., 2006) e Argentina (Eiras et al., 2007). Caracterização genética também permitiu confirmar que a espécie de Hepatozoon que infecta raposas vermelhas na Eslováquia é similar à do Brasil (Majláthová et al., 2007). Em 2005, Rubini e colaboradores identificaram e caracterizaram espécies de Hepatozoon spp. em cães do estado de São Paulo como sendo H. canis através de técnicas moleculares. Ainda em 2005, Paludo e colaboradores identificaram H. canis em cães em Brasília, e em 2007, Garcia de Sá e colaboradores também identificaram H. Canis em cães do Rio de Janeiro. Eduardo Araújo Realce 17 Existe a possibilidade de que doenças emergentes causadas por agentes parasitários possam ser introduzidas em regiões até então livres do agente. O alcance geográfico de alguns artrópodes vetores está se expandindo devido a variáveis condições climáticas e ecológicas, facilitando a transmissão de organismos patogênicos para outras regiões (Gavazza et al., 2003). Deve-se dar atenção particular a infecções como a hepatozoonose, que por se tratar geralmente de infecção inespecífica, pode não ser diagnosticada e tratada adequadamente devido à ausência de suspeita clínica por parte do médico veterinário (Vilar et al., 2005). Vilar et al. (2005) registraram a entrada em território brasileiro de um cão proveniente de Aruba (Antilhas holandesas) infectado por Hepatozoon spp. e Ehrlichia spp. e alertam sobre a ausência de um programa sanitário específico para controle destes bioagentes. Ehrlichia spp. e Hepatozoon spp. são, sem dúvida, de importância para a vigilância sanitária brasileira para que outras espécies, consideradas mais patogênicas do gênero Hepatozoon, por exemplo, não se tornem enzoóticas em nosso país. 4.1.3. Hepatozoon americanum: De acordo com Kocan e colaboradores (2000) Hepatozoon americanum já foi descrito no Alabama, Georgia, Louisiana, Mississippi, Texas e Oklahoma, infectando tanto cães quanto canídeos silvestres. 4.2. Transmissão: Diferente de muitos protozoários e bactérias transmitidos por carrapatos via glândulas salivares (Baneth, 2003), a transmissão do H. canis para o cão ocorre após a ingestão de um carrapato contendo oocistos esporulados (Gondim et al., 1998; Paludo et al., 2003; Assarasakorn et al., 2006). Da mesma maneira, o carrapato torna-se infectado ao ingerir sangue de um cão parasitêmico (Baneth, 2003). No carrapato, que serve de hospedeiro definitivo do agente, H. canis é transmitido de forma transestadial, da ninfa para o estágio adulto. Transmissão trans-ovariana não pôde ser demonstrada em condições experimentais. Um modelo experimental de infectar R. sanguineus por injeção percutânea de sangue canino com gamontes foi estabelecido, ocorrendo assim a transmissão de H. canis aos carrapatos sem estes se alimentarem de cães infectados; permitindo desta forma o estudo da infecção nos carrapatos (Baneth et al., 2001). No cão, H. canis pode ser transmitido via transplacentária. Cadelas prenhes naturalmente infectadas, mantidas em ambiente livre de carrapatos transmitiram H. canis aos filhotes de forma vertical. Gamontes ou merontes foram encontrados nos filhotes 16 a 60 dias Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 18 após o nascimento. Merontes foram encontrados no baço de um dos filhotes, que morreu 16 dias após o nascimento, e gamontes foram detectados no sangue de outros desses filhotes (Murata et al., 1993b). Transmissão vertical de H. americanum não tem sido documentada, embora se acredite que assim como o H. canis, H. americanum possa ser transmitido da mãe para os filhotes durante a gestação. Sugere-se também que o cão possa tornar-se infectado após alimentar-se de tecidos contaminados, pois apesar deste modo de transmissão não estar comprovado experimentalmente, isto ocorre com outras espécies de Hepatozoon (Macintire et al., 2006). 4.2.1. Vetores: 4.2.1.1. Hepatozoon canis: Segundo O’Dwyer e colaboradores (2001), o carrapato Rhipicephalus sanguineus foi descrito como vetor de H. canis por Christophers em 1906; entretanto, em alguns países onde existem relatos de hepatozoonose canina por H. Canis, R. sanguineus não é o carrapato mais encontrado em cães. No Brasil, conforme a região estudada encontram-se cães parasitados por diferentes espécies de carrapatos. Apesar disto, Rhipicephalus sanguineus é considerado o principal vetor e transmissor do H. canis, pois, de maneira geral, esta é a espécie mais associada aos cães. R. sanguineus é encontrado freqüentemente sobre cães com infestações mistas, juntamente com carrapatos do gênero Amblyomma (O’Dwyer et al., 2001, Forlano et al., 2005). Freire (1972 apud O’Dwyer et al., 2001) observou uma grande variedade de carrapatos em cães no Rio Grande do Sul, incluindo Amblyomma ovale, A. tigrinum, A. cajennense, A. humerale, A. incisum, Boophilus microplus, além de R. sanguineus. Szabó e colaboradores (2001) identificaram 179 carrapatos adultos em 140 cães na região de Franca (SP) das espécies R. sanguineus, A. ovale, Boophilus microplus e A. cajennense. Todos os carrapatos coletados de cães urbanos eram R. sanguineus. Kiral e colaboradores (2005), afirmam que todos os 14 cães infectados naturalmente com H. canis eram parasitados exclusivamente por R. sanguineus. De acordo com Massard e colaboradores (1981), cães de áreas urbanas são parasitados principalmente por R. sanguineus, enquanto animais que vivem em zonas rurais são visto mais frequentemente infestados com Amblyomma ovale, A. tigrinum, A. cajennense e A. aureolatum. Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 19 Segundo Forlano et al. (2005), o Amblyomma ovale (Figura 1) também pode estar envolvido na transmissão da hepatozoonose canina em áreas rurais do Brasil. Quatro espécies de carrapatos foram encontradas parasitando cães na zona rural do estado do Rio de Janeiro: A. cajennense (23%), R. sanguineus (12,4%), A. aureolatum (2,8%) e A. ovale (2,0%); os autores encontraram uma correlação positiva entre a presença de A. cajennense e H. canis, pois 31,6% dos cães com H. canis estudados eram parasitados por A. cajennense, o que sugere que este carrapato também atue como vetor de H. canis (O’Dwyer et al., 2001). A maior freqüência de H. canis em áreas rurais e a possibilidade de que carrapatos Amblyomma ssp. posam ser o principal vetordeste protozoário demonstra a necessidade de mais estudos sobre a epidemiologia, transmissão e patologia da hepatozoonose canina no Brasil (O’Dwyer et al., 2001; Forlano et al., 2005; Garcia de Sá et al., 2007). No Japão, oocistos de H. canis foram encontrados no hemocele de carrapatos do gênero Haemaphysalis flavas e Haemaphysalis logicornus, que desde então têm sido reportados como possíveis vetores (Murata et al., 1995). FIGURA 1: Carrapatos adultos da espécie Amblyoma ovale. (a) fêmea e (b) macho. Fonte: Forlano et al.2005. Diagnosis of Hepatozoon spp. in Amblyomma ovale and its experimental transmission in domestic dogs in Brazil. 4.2.1.2. Hepatozoon americanum: Mathew e colaboradores (1998) demonstraram que o carrapato Amblyomma maculatum, é um excelente vetor do H. americanum. Ninfas alimentadas de cães naturalmente infectados apresentaram oocistos em seu hemocele quando adultas; cães experimentalmente infectados pela ingestão destes oocistos desenvolveram doença, com manifestações que incluíram elevação da temperatura corporal, miastenia e dor óssea a partir Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 20 de 4 a 5 semanas pós exposição, além de leucocitose; gamontes foram encontradas em leucócitos 5 semanas depois dos cães ingerirem oocistos. Coiotes também tornaram-se infectados após ingestão de A. maculatum infectados; em 3 semanas o parasita foi detectado em células do músculo esquelético e em 5 semanas observou-se a presença de gamontes dentro de leucócitos (Kocan et al., 2000). Outros três comuns Ixodídeos (R. sanguineus, Dermacentor variabilis, e A. americanum), expostos ao agente por alimentação experimental, mostraram-se refratários à infecção (Ewing et al., 2002). Entre outras, uma grande diferença entre H. canis e H. Americanum que justificaram a definição de uma nova espécie incluiu a incapacidade de se infectar R. sanguineus com H. americanum (Ewing & Panciera, 2003). 4.3. Características Epidemiológicas: Não foi observada predileção por raça ou sexo (Baneth et al., 1997; Baneth & Weigler, 1997; Inokuma et al., 1999; O’Dwyer et al., 2001), embora Gavazza e colaboradores (2003) tenham observado 81,25 % de machos e 18,75 % de fêmeas infectadas, após analisarem 11 casos de hepatozoonose canina. Kontos & Koutinas (1991) afirmam que a taxa fêmeas:machos infectados foi de 1,2:1, o que demonstra a grande variabilidade da doença nos diferentes países. Hepatozoonose canina é descrita em grupos de todas as idades (Baneth et al., 1996; Baneth et al., 1997; Baneth & Weigler, 1997; O’Dwyer et al., 2001, Gavazza et al., 2003), porém parece haver maior prevalência em animais jovens (Baneth & Weigler, 1997; Gavazza et al., 2003). Após estudo epidemiológico utilizando avaliação microscópica do esfregaço sanguíneo como método diagnóstico, Massard (1979) concluiu que a infecção por H. canis ocorre mais frequentemente em cães de áreas rurais (31,6%, 36/114) que em cães urbanos (4,5%, 3/67), devido a maior exposição aos carrapatos. A sazonalidade da infecção é controversa entre os pesquisadores, alguns afirmam que a maioria dos casos de hepatozoonose canina é detectada nos meses quentes do ano, quando os vetores são mais abundantes no ambiente (Gavazza et al., 2003; Eiras et al., 2007). Entretanto, um estudo com 100 cães infectados mostrou falta de sazonalidade da doença, o que, segundo os autores pode ser devido a cronicidade da infecção (Baneth & Weigler, 1997). Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 21 5. PATOGÊNESE: 5.1. Hepatozoon canis: Acredita-se que a patogênese do H. canis seja fraca, pois infecções subclínicas são comuns, geralmente causando doença leve que pode afetar baço, linfonodos e medula óssea, resultando em anemia e letargia (Baneth & Weigler, 1997; Baneth, 2003a). Protozoários do gênero Hepatozoon têm um ciclo de vida onde esquizogonia e gametogonia ocorrem no hospedeiro vertebrado, enquanto a fase sexual e esporulação ocorrem em hospedeiros invertebrados (Gavazza et al., 2003). Evidências experimentais mostram que tanto machos quanto fêmeas adultas da espécie R. sanguineus podem abrigar oocistos de Hepatozoon canis, e desta forma são potencialmente infectantes para os cães (Baneth et al., 2001). A fase assexuada inicia-se após a ingestão do carrapato infectado com esporozoítos; estas formas atravessam o epitélio do tubo digestivo do hospedeiro vertebrado e alcançam o sistema porta, chegando ao fígado, pulmões, baço, medula óssea, rins e linfonodos, onde se multiplicam por esquizogonia ou merogonia. Quando há invasão do fígado, pulmões ou rins pode ocorrer o desenvolvimento de hepatite, pneumonia e glomerulonefrite, respectivamente. Os merozoítas formados nos tecidos são fagocitados por monócitos ou neutrófilos evoluindo até gamontes (Figura 2c), formas que são encontradas no sangue dos cães e que são ingeridas pelos carrapatos, onde ocorre a fase sexuada do ciclo (esporogonia) (Baneth & Shkap, 2003). Os gamontes de H. canis são liberados no tubo digestivo do carrapato, e após a fertilização ocorre esporogonia com a formação de oocistos no hemocele. Os oocistos (Figura 2a) são grandes formas esféricas que consistem em uma membrana que envolve inúmeros esporocistos com esporozoítos (Baneth,2003). Alternativamente, merozoítas podem produzir merontes secundários nos tecidos alvo do cão. Merontes de H. canis são detectáveis por citologia ou histopatologia de órgãos infectados (Gonen et al., 2004). Pequenos cistos de H. canis contendo um único parasita têm sido observados em tecidos de cães experimentalmente e naturalmente infectados (Baneth & Shkap, 2003). O’Dwyer e colaboradores (2004) necropsiaram cinco cães infectados com H. canis afim de observar os estágios de desenvolvimento do protozoário nos tecidos. Lesões macroscópicas não foram observadas; três cães apresentaram apenas gamontes em células polimorfonucleadas e os outros dois cães apresentaram gamontes em células Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 22 polimorfonucleadas e merontes em vários estágios de desenvolvimento no baço e medula óssea (Figura 3b). Baço, fígado, pulmões, coração, rins, gânglios linfáticos e medula óssea estavam infectados. Apenas não foi observada a presença do parasita na musculatura esquelética. Exame histopatológico do músculo esquelético de cães infectados com H. canis revelou degeneração e atrofia muscular, semelhante àquela causada por H. americanum; no entanto, a estrutura cística típica do H. americanum não foi observada (Paludo et al., 2005), demonstrando a grande variabilidade das manifestações caninas da hepatozoonose por H. canis. FIGURA 2. Fases de desenvolvimento do Hepatozon canis no carrapato e no cão: a. oocisto de H. canis no hemocele de Rhipicephalus sanguineus. b. Meronte de H. canis em aspirado de medula óssea. c. gamonte de H. canis na circulação periférica de cão infectado experimentalmente. Fonte: Baneth G, Samish M, Alekseev E, Aroch I.; Shkap, V. 2001.Transmission of Hepatozoon canis to dogs by naturally fed or percutaneously injected Rhipicephalus sanguineus ticks. McCully e colaboradores (1975) observaram merontes de Hepatozoon spp. no fígado, pulmões, baço, linfonodos, músculo esquelético e miocárdio, além de gamontes no sangue periférico de carnívoros silvestres na África do Sul. Através de teste de imunofluorescência indireta (IFAT), IgM foi detectado em cães experimentalmente infectados após 16 dias e IgG após 22 dias, enquanto a presença degamontes foi observada apenas 28 dias depois. Apesar das variações individuais, pôde-se observar que, de modo geral, baixos títulos de IgM, e altos de IgG estão presentes em infecções por H. canis. Acredita-se que a formação de anticorpos ocorra antes do desenvolvimento do protozoário no parênquima tecidual (Baneth et al., 1998b). A patogênese da hepatozoonose canina é influenciada por condições de imunodeficiência, imaturidade do sistema imune e infecções concorrentes. Co-infecções com Toxoplasma gondii, Babesia spp. ou Erlichia spp. predispõem o aparecimento de Eduardo Araújo Realce 23 manifestações clínicas (Harmelin et al., 1992). Paludo et al (2005) sugerem que H. canis atua como um agente oportunista e sua presença não altera o sistema imune. Em cães experimentalmente infectados, a parasitemia tornou-se evidente somente após administração de terapia imunossupressora com prednisolona (Baneth et al., 2001; Gonen et al., 2004). Este fato sugere que os cães, ao serem infectados, podem tornar-se portadores e abrigar nos tecidos formas de H. canis até imunossupressão ou eventual doença que facilite a conclusão do ciclo de vida do protozoário, com subseqüente lançamento de gamontes maduros na circulação sanguínea (Gonen et al., 2004). Imunossupressão pode desempenhar um papel importante na progressão da parasitemia em cães. Sob efeito de uma doença imunossupressora concomitante, o grau de parasitemia pode ser marcadamente aumentado. Este aumento do número de gamontes circulantes provavelmente reflete uma maior produção e liberação de merozoitas dos merontes teciduais seguido da entrada dos parasitas nos leucócitos, ou uma diminuição na eliminação dos parasitas por parte dos neutrófilos (Baneth et al., 1997). Além disto, neutrófilos parasitados são mieloperoxidase deficientes, o que pode ser responsável por uma resposta insatisfatória por parte do hospedeiro. Esta disfunção dos leucócitos leva os animais a tornarem-se mais suscetíveis a infecções sistêmicas e recorrentes, que podem ser responsáveis pela febre associada à hepatozoonose (Ibrahim et al., 1989). Leucócitos infectados perdem algumas de suas características típicas; contêm diversas pequenas vesículas, poucos grânulos citoplasmáticos, poucos retículos endoplasmáticos rugosos e mitocôndrias, além da perda de algumas enzimas (Murata et al., 1993a). Alencar e colaboradores (1997) afirmam que os neutrófilos infectados em uma raposa vermelha apresentavam degeneração nuclear e apresentavam-se maiores que os neutrófilos não parasitados. 5.2. Hepatozoon americanum: O desenvolvimento sexual do H. americanum ocorre no hospedeiro definitivo, A. maculatum, com subseqüente produção de esporozoítos infectantes localizados em oocistos. O cão torna-se infectado através da ingestão do carrapato com oocistos (Mathew et al., 1998). Após a ingestão os oocistos se rompem, libertando esporocistos que, sob influência da bile liberam numerosos esporozoitos; estes penetram na mucosa e são disseminados para vários órgãos e tecidos. Os tecidos alvo para o desenvolvimento dos merontes são a musculatura esquelética e cardíaca (Panciera et al., 1998). Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 24 O processo de merogonia do H. americanum ocorre primariamente entre fibras musculares, enquanto H. canis se reproduz especialmente em tecidos hemolinfáticos e órgãos viscerais (Droleskey et al., 1993; Panciera et al., 1998). Lesões associadas aos estágios de desenvolvimento asexual do parasita foram observados na musculatura esquelética e cardíaca, e também no tecido adiposo subcutâneo de coiotes infectados (Kocan et al., 2000). Os merontes de H. americanum são geralmente encontrados dentro de cistos ―em pele de cebola‖ (onion skin cyst), que são formados por ricas camadas de mucopolissacarídeos, aparentemente elaboradas pela célula hospedeira (Droleskey et al., 1993, Panciera et al., 1998). Segundo Cunnings e colaboradores (2005) o agente induz a célula hospedeira a produzir e secretar o cisto de material mucopolissacarídeo que protege o parasita contra os mecanismos de defesa do hospedeiro. Essa característica não está associada com merontes de H. canis, que são raramente encontrados no músculo e têm sua característica morfológica própria, um arranjo de merozoítas dentro do meronte (Baneth et al., 2003). A lesão histológica mais frequentemente reconhecida em casos de hepatozoonose por H. americanum é a presença dos cistos. Não há resposta inflamatória enquanto o protozoário permanece nesta forma (Panciera et al., 1998; Macintire et al., 2006), mas depois de concluída a multiplicação assexuada, a célula hospedeira degenera, a camada de mucoplissacarídeos que envolve o parasita se dispersa e merozoitas são liberados, iniciando uma reação inflamatória aguda e localizada que progride para a formação de um piogranuloma no local onde existia o meronte (Panciera et al., 1999; Macintire et al., 2006). Alguns merozoítos desenvolvem-se em gamontes nos leucócitos, que são ingeridos pelo carrapato, completando desta forma o ciclo (Panciera et al., 1998; Panciera et al., 1999). Os sinais clínicos ocorrem quando o cisto se rompe e induz severa miosite piogranulomatosa; esta miosite, adjacente aos ossos pode estimular uma marcante reação periosteal, principalmente em animais jovens (Macintire et al., 2006). Casos de hepatozoonose canina causada por H. americanum comumente cursam com proliferação periosteal em ossos longos, pélvis, vértebras e crânio. A patogênese da proliferação periosteal é desconhecida, mas pode ser semelhante à osteopatia hipertrófica (Drost et al., 2003). Além de miosite cardíaca e esquelética houve proliferação periosteal disseminada na maioria dos animais que apresentaram manifestações clínicas da doença. As lesões ocorreram principalmente na diáfise proximal dos ossos longos dos membros. As primeiras lesões apareceram 32 após a exposição aos oocistos esporulados de H. americanum (Panciera et al., 2000). 25 Lesões musculares foram observadas em filhotes de coiote experimentalmente infectados 4 semanas pós infecção. Aos 123 dias após infecção experimental, observou-se grau variável de depósito periosteal em muitos ossos (longos, planos e curtos), com grande proliferação periosteal envolvendo particularmente o úmero e fêmur (Kocan et al., 2000). Infecções experimentais mostram que o aparecimento de gamontes circulantes ocorre em poucos até 35 dias desde a ingestão do carrapato infectado (Panciera et al., 1999). No carrapato, 42 dias são necessários para que ocorra o desenvolvimento de oocistos maduros (Mathew et al., 1999). Evidências sugerem que um único episódio de infecção por H. americanum possa causar infecção prolongada, perpetuada por repetidos ciclos de reprodução assexuada (Panciera et al., 1998). Teorias quanto ao mecanismo de persistência da infecção incluem redistribuição hematogênica, recirculação de merozoitos, esporozoítos quiescentes e polimorfismo dos esporozoítas (Bogdan & Rollinghoff, 1999; Ewing & Panciera, 2003). 6. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: 6.1. Hepatozoon canis: Os sinais clínicos e achados laboratoriais da hepatozoonose canina não são claramente definidos (Assarasakorn et al., 2006), pois são inespecíficos e similares àqueles vistos em outras doenças que afetam comumente os cães (Gavazza et al., 2003). Descrições de infecções por H. canis em cães variam de inaparentes a severas (Assarasakorn et al., 2006). O protozoário é freqüentemente encontrado em cães saudáveis (Paludo et al., 2003), mas a doença geralmente é intercorrente a outras enfermidadesimunossupressoras (Baneth &. Presentey, 1996; Gondim et al., 1998; O’Dwyer et al., 2001; Baneth et al., 2003; Gavazza et al., 2003) ou outros hemoparasitas (Aguiar et al., 2004; Gavazza et al., 2003), o que dificulta a individualização dos seus sinais clínicos (Aguiar et al., 2004; Gondin et al., 1998; Villar et al., 2005). Conforme o nível de parasitemia, a hepatozoonose por H. canis pode causar doença séria e morte (Baneth &Weigler, 1997; Gavazza et al., 2003; Paludo et al., 2003). Segundo Paludo e colaboradores (2003), poucos dados na literatura indicam que a infecção por H. canis resulte em sinais clínicos detectáveis de doença, entretanto, Baneth e colaboradores (2003) afirmam que a infecção com H. canis provoca uma síndrome clínica Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 26 caracterizada por febre, anorexia, perda de peso, anemia, descarga ocular e fraqueza dos membros posteriores. Sinais inespecíficos como anorexia, membranas mucosas pálidas, perda de peso, febre, poliúria e polidipsia, dor, vômitos e diarréia foram observados em 8 cães naturalmente infectados, a maioria com parasitemia leve, porém todos os casos cursavam com outra doença (Gondim et al., 1998). Febre, anorexia, baixo peso, claudicação, descarga ocular e conjuntivite foram os sinais clínicos descritos por Ibrahim e colaboradores (1989) em 18 cães infectados na Nigéria, com parasitemia variando entre 1 a 9%. Depressão, anorexia e perda de peso foram relatados por Gavazza e colaboradores (2003) em 16 cães com hepatozoonose. Os 14 cães infectados descritos por Kiral e colaboradores (2005) apresentaram sinais de doença como febre, letargia, perda de peso, rigidez, sinais de dor, paralisia e descarga ocular. Anorexia, depressão, linfadenopatia, alterações da pelagem e mucosas pálidas foram alterações observadas em alguns dos animais. Voyvoda e colaboradores (2004) descreveram um caso de infecção natural por H. canis sem doença concomitante em que o paciente apresentou fraqueza, depressão, incoordenação dos membros posteriores, emaciação, alterações da pelagem, linfadenopatia periférica, mucosas pálidas e febre. Inokuma e colaboradores (2002) descrevem cão com rigidez muscular, membros posteriores inchados, sinais de dor, desidratação leve, paralisia, depressão e anorexia infectado com H. canis, cuja mãe também estava infectada, porém sem sinais clínicos. Gamontes foram detectados em 11% dos neutrófilos circulantes. Achados radiográficos incluíram proliferação óssea periosteal bilateral no fêmur e úmero. O outro cão descrito no trabalho apresentou parasitemia de 3%, sem alterações clínicas e hematológicas. Linfadenomegalia severa foi observada em 37,5% dos cães naturalmente infectados descritos por Gavazza e colaboradores (2003), enquanto linfadenomegalia leve ocorreu em 25% dos animais. 6.1.2. Parasitemia: Alguns pesquisadores sugerem que existe relação entre a severidade dos sinais clínicos e o nível de parasitemia de H. canis (Baneth & Weigler, 1997; Karagenc et al., 2006). Desta forma, baixos níveis de parasitemia (1-5% de leucócitos infectados) têm sido associados à infecção assintomática ou doença leve (Baneth &Weigler, 1997), enquanto cães com alta parasitemia apresentam-se com sinais de doença debilitante crônica (Gondim et al., 1998; Baneth, 2003). Segundo Karagenc e colaboradores (2006), cães com parasitemia até 3% Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 27 desenvolveram doença leve, até 18% de leucócitos parasitados apresentaram doença moderada e aqueles com parasitemia até 39% desenvolveram doença severa. Parasitemia de aproximadamente 100% está associada à doença grave; neutrofilia marcante (> 150.000 leucócitos/mL de sangue) comumente acompanha estes casos, mas o mecanismo que induz resposta tão severa não está elucidado (Baneth, 2003). Febre, linfadenomegalia e dor muscular foram sinas descritos por Gavazza e colaboradores (2003) em um cão com alta parasitemia. Segundo os autores, a elevada percentagem de neutrófilos parasitados foi uma manifestação da dispersão generalizada de merontes de H. canis nos tecidos do cão. Baneth e colaboradores (1995) relatam alto nível de parasitemia em 2 cães com 60 a 90% dos neutrófilos parasitados em que os animais apresentaram letargia, anorexia, emagrecimento, além de alterações hematológicas e bioquímicas marcantes. Necropsia revelou dispersão generalizada de esquizontes em tecidos parenquimatosos, porém sem envolvimento de tecidos músculo-esqueléticos. Gavazza e colaboradores (2003) descrevem níveis de 1 a 70% de neutrófilos e monócitos parasitados por H. canis, enquanto que O’Dwyer e colaboradores (2001) afirmam que o número de leucócitos infectados não ultrapassou 3% nos cães analisados, e Baneth & Weigler (1997) encontraram 1-10% dos neutrófilos circulantes infectados. Achados histopatológicos nos casos de elevados níveis de parasitemia incluem hepatite, pneumonia e glomerulonefrite associadas com intensiva merogonia nos tecidos hemolinfáticos, incluindo baço, medula óssea e linfonodos. Parasitemia elevada torna maior a demanda de nutrientes por parte do hospedeiro e exerce injúria tecidual direta, o que explica perda de peso que leva a caquexia, e a grave letargia observada nestes cães (Baneth, 2003). De acordo com O’Dwyer e colaboradores (2001), a patogenicidade e manifestações clínicas da infecção por H. canis varia de acordo com a idade do hospedeiro, grau de infecção e associação com outras doenças. Enquanto a infecção por H. canis geralmente é subclínica, aquela causada por H. americanum usualmente é fatal (Rubini et al., 2005). 6.1.3. Infecções Concomitantes: A imunossupressão causada por outras doenças pode predispor a infecção por H. canis ou permitir expressão de uma infecção até então subclínica. De acordo com Gavazza e colaboradores (2003), a hepatozoonose pode ser considerada como uma infecção oportunista indicativa de um status de imunodeficiência. Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 28 Infecções concomitantes com outros patógenos caninos como parvovírus, Erlichia canis, Toxoplasma gondii, e Leishmania infantum são frequentemente encontradas em associação com H. canis onde estas doenças são endêmicas (Harmelin et al., 1992; Mundim et al., 1992; Baneth, 2003; Oyamada et al., 2005; Villar et al., 2005; Karagenc et al., 2006). R. sanguineus é o vetor tanto da hepatozoonose quanto da erliquiose canina e pode permitir a exposição simultânea dos organismos. Além disso, H. canis pode aumentar a susceptibilidade ou promover a manifestação clínica da erliquiose. Já foi descrita, inclusive, a infecção de um único monócito com um gamonte de H. canis e uma mórula de E. canis (O’Dwyer et al., 2001). Infecção concomitante também já foi descrita em um chacal dourado infectado com H. canis e E. canis (Shamir et al., 2001). 6.2. Hepatozoon. americanum: Ao contrário da infecção por H. canis, a maioria dos cães com H. americanum exibem síndrome clinica severa mesmo na ausência de doença concomitante ou imunossupressão (Paludo et al., 2003; Rubini et al., 2005; Macintire et al., 2006). Garret e colaboradores (2005) sugerem que a severidade da infecção pode estar relacionada com a idade do hospedeiro vertebrado, bem como com a quantidade de oocistos ingeridos. Segundo Kocan e colaboradores (2000), coiotes são muito sensíveis à infecção por H. americanum e podem desenvolver doença clínica grave, além de servirem como fonte de infecção para A. maculatum. Sinais clínicoscomuns em infecções por H. americanum incluem febre, caquexia, descarga ocular, dor, rigidez e paresia (Macintire et al., 1997). Cães doentes podem tornar-se relutantes para se movimentar, devido intensa dor causada pela proliferação periosteal e inflamação muscular, deixando inclusive de procurar alimento e água. Esforços devem ser feitos para garantir que os animais afetados permaneçam hidratados e com alimento disponível próximo, pois ao contrário da infecção por H. canis, estes pacientes normalmente não apresentam anorexia (Macintire et al., 1997; Panciera et al., 1997). Cães que sofrem de hepatozoonose americana são periodicamente ou persistentemente febris; provavelmente uma reação associada à ruptura dos merontes e liberação dos merozoítos. Secreção ocular mucopurulernta bilateral é comum principalmente durante os episódios de febre. Os animais doentes frequentemente apresentam-se febris, musculatura rígida, letárgicos e deprimidos; claudicação e atrofia muscular são especialmente notáveis (Macintire et al., 1997; Panciera et al., 1997). Cães naturalmente infectados em Oklahoma Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 29 apresentaram febre, proliferação periosteal, mialgia e fraqueza muscular generalizada. Os animais possuíam sinais de doença inflamatória crônica, sem resposta à terapia antimicrobiana (Panciera et al., 1997). 7. ACHADOS LABORATORIAIS: 7.1 Hepatozoon canis: Anormalidades laboratoriais classicamente observadas na hepatozoonose incluem anemia normocítica normocrômica (Inokuma et al., 2002; Paludo et al., 2003) e leucocitose neutrofílica (Gondim et al., 1998; Gavazza et al., 2003; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004). Segundo Gaunt (2000), infecção por H. canis pode induzir leucocitose severa, com até 200.000 leucócitos/µL, com desvio a esquerda e ausência de neutrófilos tóxicos. Segundo alguns pesquisadores (O’Dwyer et al., 2006; Eiras et al., 2007), a infecção por H. canis não causa importantes mudanças hematológicas ou bioquímicas nos cães infectados. De 13 cães naturalmente infectados, apenas 3 destes apresentaram anemia e apenas 1 apresentou leucocitose, achados descritos como comuns em casos de hepatozoonose por H. canis (O’Dwyer et al., 2006). Anemia discreta ou valores próximos ao limite inferior foram observados em cães naturalmente infectados em Brasília, enquanto valores de leucócitos totais apresentaram-se dentro dos limites de referência (Paludo et al., 2005). Inokuma e colaboradores (2002) relatam leucocitose leve e trombocitopenia como achados hematológicos em cão infectado com H. canis, enquanto Gonen e colaboradores (2004) descrevem caso de cão naturalmente infectado com 96.000 leucócitos totais/µL de sangue. Anemia regenerativa, anisocitose e policromasia leves, leucocitose devido neutrofilia, monocitose e eosinofilia, além, de elevação do fibrinogênio foram observados em uma raposa vermelha infectada por Hepatozoon spp.. (Alencar et al., 1997). Assarasakorn e colaboradores (2006) analisaram amostras de 342 caninos infectados com Hepatozoon spp. e, diferentemente de outros relatos, afirmam que anemia microcítica hipocrômica foi encontrada na maioria dos pacientes, enquanto a contagem de leucócitos totais foi muito variável (desde leucopenia à leucocitose). Achados hematológicos de 18 cães infectados na Nigéria incluem leucocitose por neutrofilia e eosinofilia (Ibrahim et al., 1989). Eosinofilia também foi observada em cães naturalmente infectados na Argentina, sendo inclusive a única alteração na contagem dos leucócitos (Eiras et al., 2007). Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 30 Em Israel a hepatozoonose é considerada como uma infecção oportunista, com contagens de eritrócitos e leucócitos normais (Baneth & Weigler, 1997). De acordo com Gavazza et al. (2003), leucocitose leve a severa foi observada em 43,75% (7/16) dos casos analisados. Eosinofilia foi a anormalidade hematológica mais observada, em 87,5% (14/16), neutrofilia esteve presente em 31,25% (5/16) dos cães, monocitose em 25% (4/16) e linfocitose em 18,75% (3/16). Aproximadamente metade dos cães apresentava-se anêmica, e apenas um deles com anemia não regenerativa. Quanto aos parâmetros bioquímicos, existem relatos da diminuição na concentração de albumina (Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004; Eiras et al., 2007), aumento da atividade da fosfatase alcalina (Gondim et al., 1998; Inokuma et al., 2002; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004), elevação sérica de creatina fosfoquinase (CPK) (Gondim et al., 1998; Inokuma et al., 2002; Aguiar et al., 2004), gama-glutamil transferase (GGT) (Aguiar et al., 2004), globulinas (Gondim et al., 1998; Gavazza et al., 2003; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004) e proteína C reativa (Inokuma et al., 2002). As proteínas totais apresentam concentração acima dos valores de referência devido à hiperglobulinemia, comumente relatada em cães infectados com H. canis (Gondim et al., 1998; Gavazza et al., 2003; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004; O’Dwyer et al, 2006; Eiras et al., 2007), que pode ser atribuída ao estímulo da resposta humoral induzida pela infecção por H. canis (Aguiar et al., 2004). Hiperglobulinemia foi a única alteração bioquímica encontrada em todos os cães naturalmente infectados analisados por O’Dwyer et al. (2006), enquanto elevação sérica da enzima fosfatase alcalina - tida como uma alteração comumente observada - foi vista em apenas um cão. Hipoalbuminemia ocorre devido a anorexia, que leva à diminuição da síntese protéica (Aguiar et al., 2004; Eiras et al., 2007), à condição inflamatória crônica ou à perda renal causada por glomerulonefrite (Gavazza et al., 2003; Eiras et al., 2007). Foi observado proteinúria (indicando possibilidade de glomerulonefrite) de leve a severa em 8 de 11 cães infectados na Grécia (Kontos & Koutinas, 1990), e também 9 dentre 16 cães positivos apresentou proteinúria na Itália (Gavazza et al.). A elevação dos níveis de GGT e de FA pode ser justificada pelo desenvolvimento de hepatite secundária à agressão tissular provocada pelo agente (Aguiar et al., 2004). Além disto, elevação da FA pode ocorrer devido proliferação óssea periosteal (Inokuma et al., 2002). Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 31 Elevação na concentração de CPK é decorrente de inflamação gerada pela invasão do H. canis na musculatura (Aguiar et al., 2004). Assarasakorn e colaboradores (2006), ao analisarem amostras de 342 caninos infectados com Hepatozoon spp. concluíram que os parâmetros bioquímicos são muito variáveis, porém, a média dos resultados permaneceu dentro dos limites de referência, o que indica a grande variabilidade dos achados clínicos laboratoriais na hepatozoonose canina. Kiral e colaboradores (2005) determinaram as concentrações séricas de glutation (GSH), malondialdeido (MDA), óxido nítrico (NO) e ceruloplasmina em cães com H. canis a fim de estabelecer sua relevância no tratamento e mecanismo patológico da doença, já que o aumento nos níveis de produtos da peroxidação lipídica tem sido associado a uma variedade de doenças crônicas, incluindo infecções parasitárias. Os resultados sugerem que cães infectados com H. canis apresentam níveis significantemente maiores – em comparação com cães saudáveis - de GSH, MDA e NO, o que pode estar relacionado com as defesas do hospedeiro contra infecções parasitárias. Esteaumento da peroxidação lipídica em cães infectados pode ser considerado como uma indicação de injúria celular causada pelo microorganismo. É possível que o aumento da produção de GSH, MDA e NO em animais infectados aumente a defesa do hospedeiro contra o parasita evitando danos induzidos pelas espécies reativas de oxigênio produzidas como resultado da infecção por H. canis, e ajude a eliminá-la. 7.2. Hepatozoon americanum: Neutrofilia persistente é um achado comum em casos de hepatozoonose americana, assim como contagens acima de 200.000 leucócitos/µL. Neutrófilos são os principais participantes nos estágios iniciais da formação do granuloma, mas são em grande parte substituído por células mononucleares nos estágios seguintes do processo inflamatório (Panciera et al., 1997; Panciera et al., 1998). Filhotes de coiote que desenvolveram hepatozoonose após ingestão de oocistos de H. americanum apresentaram leucocitose neutrofílica cerca de 4 semanas após a exposição ao agente que persistiu durante todo o decurso da infecção (Kocan et al., 2000 ). O perfil bioquímico é semelhante ao de cães infectados com H. canis, com elevação da enzima fosfatase alcalina e diminuição de proteínas totais e albumina, além de hiperfosfatemia (Macintire et al., 1997). As lesões renais observadas por Macintire e Eduardo Araújo Realce 32 colaboradores (1997) incluíram amiloidose, nefrite intersticial e glomeruloefrite em alguns cães. Achados radiográficos incluem extensa proliferação óssea periosteal, frequentemente e mais grave na porção proximal dos ossos dos membros. Apesar de ossos planos serem menos comumente afetados, ocasionalmente apresentam-se marcadamente afetados (Panciera et al., 2000; Drost et al., 2003). Cintilografia óssea revelou lesões 35 a 47 dias após exposição experimental, com variação individual entre os cães. As lesões ósseas foram difusas, bilateralmente simétricas e homogêneas (Drost et al., 2003). 8. DIAGNÓSTICO: 8.1. Hepatozoon canis: O diagnóstico baseia-se principalmente na identificação dos gamontes dentro de neutrófilos (Figura 3), mas também de monócitos em esfregaços sangüíneos (Gondim et al., 1998; O’Dwyer et al., 2001; Aguiar et al., 2004; Voyvoda et al., 2004), sendo que muitas vezes o parasita é encontrado casualmente em cães sem sinais clínicos (O’Dwyer et al., 2001; Forlano et al., 2005; Kiral et al., 2005; Oyamada et al., 2005). Os gamontes podem não ser detectáveis no sangue periférico, uma vez que a doença pode cursar com parasitemia intermitente (O’Dwyer et al., 2001, Eiras et al., 2007). Como a hepatozoonose é uma doença crônica, que pode permanecer longos períodos em remissão, é possível que o protozoário seja observado mais frequentemente durante a fase aguda da infecção, quando os gamontes são mais facilmente detectados no sangue periférico (Gavazza et al., 2003). Eiras e colaboradores (2007) acompanharam cães infectados com H. canis durante um ano e apesar de não observarem sinais de doença, os níveis de parasitemia flutuaram durante o período. A ausência de parasitemia não indica ausência de infecção (Eiras et al., 2007), por isso a observação do esfregaço sangüíneo não pode ser usada na exclusão e confirmação do diagnóstico de hepatozoonse canina, devido sua baixa sensibilidade. Exame da capa leucocitária (capa flogística) pode ser utilizado na tentativa de aumentar a sensibilidade do teste (Karagenc et al., 2006). Os gamontes estão frequentemente situados no centro dos neutrófilos comprimindo os lóbulos do leucócito contra a membrana celular (Baneth, 2003). Aparecem como inclusões Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 33 elípticas, alongadas e de coloração pálida, núcleo central ou excêntrico de cor azul escuro ou violeta. Possuem cerca de 6-11 mícrons de comprimento por 3-5 mícrons de largura. (Gavazza et al., 2003). Inclusões intra-citoplasmáticas compatíveis com Hepatozoon canis, observadas em neutrófilos de uma raposa apresentavam uma cápsula azul pálida, forma elíptica e cerca de 9,1 µm x 5,3 µm (Alencar et al., 1997). Figura 3: Gamontes de H. canis (setas) em esfregaço sanguíneo de sangue periférico de cão. Fonte: Dogs with Hepatozoon canis respond to the oxidative stress by increased production of glutathione and nitric oxide. Kiral et al., 2005 Imunofluorescência indireta (IFAT), western blot e biópsia tecidual têm sido usadas como técnicas alternativas no diagnóstico (Aguiar et al., 2004), entretanto, tais métodos são trabalhosos e demorados, além de possuir baixa especificidade (Sellon, 2003). ELISA utilizando antígenos de gamontes purificados também foi descrito recentemente (Gonem et al., 2004). O teste de imunofluorescência indireta (IFAT) desenvolvido por Shkap e colaboradores (1994) apresenta maior sensibilidade comparado à observação microscópica. Baneth e colaboradores (1998b) demonstraram que anticorpos anti-gamontes podem ser detectados por IFAT em cães infectados experimentalmente mesmo antes dos gamontes aparecerem na circulação periférica. Visualização microscópica apontou 1% dos cães como positivos, enquanto IFAT detectou 33,1% de cães expostos ao agente (Baneth et al., 1996). Métodos baseados na pesquisa de anticorpos têm sido usados principalmente em estudos epidemiológicos (Baneth et al., 1996; Inokuma et al., 1999). Embora IFAT e ELISA Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 34 não apresentem diferenças significativas quanto à sensibilidade e especificidade, ELISA falhou na detecção de anticorpos em alguns cães parasitêmicos (Gonem et al., 2004). Recentemente, técnicas moleculares pela reação em cadeia da polimerase (PCR) e análise de seqüências têm sido usadas no diagnóstico e em estudos epidemiológicos de infecções por Hepatozoon canis (Oyamada et al., 2005; Jittapalapong et al., 2006; Karangec et al., 2006). As vantagens dos métodos moleculares sobre as outras técnicas são a alta especificidade e sensibilidade na detecção dos patógenos no sangue periférico (Oyamada et al., 2005; Sellon, 2003), pois os iniciadores moleculares projetados são específicos para a seqüência genética do alvo, o que faz da PCR uma ferramenta de diagnóstico específica e sensível devido sua habilidade de detectar um número muito pequeno do DNA alvo, facilitando a detecção de alguns microorganismos abaixo do ponto inicial de detecção de culturas microbiológicas rotineiras, de citologia, histologia, ou imunohistoquímica (Sellon, 2003). Jittapalapong e colaboradores (2006) relatam em estudo sobre a prevalência de Hepatozoon spp. em Bangkok, onde gamontes foram observados microscopicamente no esfregaço sanguíneo de 2,6% dos cães e 0,7% dos gatos, enquanto a técnica de PCR detectou o parasita em 11,4% dos cães e 32,3% dos gatos testados, comprovando a maior especificidade e sensibilidade da PCR no diagnóstico de hepatozoonose. Rubini e colaboradores (2005) examinaram 31 cães de áreas rurais: 7 (22,6%) foram identificados como positivos através de observação microscópica do esfregaço sanguíneo e 21 (67,7%) positivos por PCR, demonstrando a elevada ocorrência de H. canis em cães de áreas rurais. Na Turquia, a prevalência de infecções por Hepatozoon spp. foi de 10,6% através da observação microscópica do esfregaço sanguíneo e 25,8% por PCR (Karagenc et al., 2006). Além de servirem como ferramenta de diagnóstico e de estudos epidemiológicos, as técnicas moleculares têm facilitado análises importantes para a caracterização e distinção das espécies de Hepatozoon spp.(Rubini et al., 2005; Rubini et al., 2006; Eiras et al., 2007; Oyamada et al. 2005). Baneth e colaboradores (2000) utilizaram as técnicas de western immunoblotting e sequenciamento, que revelaram uma diferença de 13,59% de homologia entre o H. americanum e H. canis na região 18S do gene para RNA ribossômico, assim como diferenças antigênicas, comprovando definitivamente que as espécies são diferenciadas e causam doenças também distintas. Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 35 8.2. Hepatozoon americanum: O diagnóstico através do exame de esfregaços sanguíneos é problemático, pois leucócitos com gamontes de H. americanum normalmente representam menos de 0,1% dos leucócitos circulantes (Baneth, 2003). Gamontes circulantes foram observados em apenas 12 de 53 cães que possuíam formas de desenvolvimento na musculatura esquelética (Macintire et al., 2001). Macintire e colaboradores (1997) diagnosticaram H. americanum através da identificação microscópica de esquizontes e merozoitos no músculo esquelético, mas não encontraram gamontes em esfregaços, capa flogística ou avaliação de medula óssea. Os gamontes observados na circulação periférica podem apresentar núcleo visível ou não (Panciera et al., 1998). A confirmação do diagnóstico deve ser feita através de biópsia do músculo esquelético (Panciera et al., 1999), e frequentemente existem numerosas fases da merogonia em uma vasta gama de músculos. Procedimentos de imunohistoquímica utilizando anticorpos de coelho também têm se mostrado eficazes (Panciera et al., 2001); teste descrito por Mathew et al. (2001) mostrou 93% de sensibilidade e 96% de especificidade, comparado à biopsia muscular. Segundo os autores, ELISA pode ser útil não apenas no diagnóstico da hepatozoonose canina por H. americanum, mas também em investigações epidemiológicas. 9. TERAPIA: 9.1. Hepatozoon canis: Não existem estudos controlados a respeito da terapia contra infecções por H. canis (Baneth, 2003), entretanto, vários fármacos como imidocarb, toltrazuril, clindamicina, diminazene, primaquina, tetraciclinas, trimetoprim-sulfonamida, entre outros, têm sido usados tratamento da hepatozoonose canina, apesar da reposta ser variável (Baneth et al. 1995; Baneth & Weigler, 1997; Gondim et al., 1998). Em 1983, Ezeokoli e colaboradores afirmavam que não havia terapia efetiva contra a doença, porém Voyvoda e colaboradores (2004) afirmam que o uso do toltrazuril combinado com trimetoprim- sulfametoxazole pode ser considerado efetivo tratamento da hepatozoonose canina. Baneth (2003) recomenda uso de dipropionato de imidocarb 5 a 6 mg/kg (SC ou IM) a cada 14 dias e doxiciclina VO 10 mg/kg por no mínimo 21 dias, enquanto Gavazza et al. Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 36 (2003) afirmam que a combinação de tetraciclina (22 mg/kg, três vezes dia) e dipropionato de imidocarb (6 mg/kg, SC, repetidos após 14 dias) é eficaz no tratamento de cães com hepatozoonose. Antiinflamatórios não esteróides (AINES) como aspirina, fenilbutazona e flunixin meglumine são recomendadas como terapia de suporte no controle da dor, febre e inflamação (Inokuma et al., 2002; Voyvoda et al., 2004), além de complexos vitamínicos (Voyvoda et al., 2004). O tratamento deve ser empregado até que os gamontes não sejam observados na circulação periférica, o que pode exigir um longo período de terapia (Baneth, 2003). Indica-se a realização de hemograma com minuciosa análise do esfregaço sanguíneo a cada 2 semanas. Todos os cães parasitêmicos, com ou sem manifestação clínica da doença devem ser tratados (Gavazza et al., 2003). 9.2. Hepatozoon americanum: A combinação de trimetoprim-sulfadiazina, clindamicina e pirimetamina administrados diariamente durante 14 dias mostrou-se eficaz para atenuar as manifestações clinicas da doença; e embora nenhum tratamento tenha se mostrado eficaz na eliminação completa do parasita nos tecidos, o tratamento com trimetoprim-sulfadiazina, clindamicina e pirimetamina seguido pela administração por longo prazo de decoquinato resultou em maior tempo de sobrevivência e excelente qualidade de vida aos animais infectados com H. americanum (Macintire et al., 2001). Controle da dor é conseguido com antinflamatórios não esteroidais (Ewing & Panciera, 2003). Infelizmente, se o protocolo não é rigorosamente seguido, é provável que dentro de semanas a meses haja retorno dos sinais (Macintire et al., 2001). Tratamento com toltrazuril, apresentou resposta favorável inicialmente, mas não evitou retorno das manifestações clínicas após cerca de 6 meses (Macintire et al., 1997) 10. PREVENÇÃO: A prevenção da hepatozoonose canina pode ser feita através do controle de ectoparasitas, visando anular o contato do cão com o vetor responsável pela transmissão (Baneth, 2003). Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS: Hepatozoon é um protozoário que parasita cães em leucócitos e tecidos. O cão torna- se infectado quando ingere um vetor com oocistos maduros. Diversas espécies de carrapatos têm sido incriminadas como vetor da hepatozoonose. Enquanto a infecção por H. canis geralmente é subclínica, aquela causada por H. americanum usualmente é fatal. Em cães infectados com H. canis a infecção varia de assintomática em cães aparentemente saudáveis à doença séria que cursa com anemia, letargia e perda de peso. Pesquisas recentes mostram que a patogenicidade e manifestações clínicas da infecção por H. canis varia de acordo com a idade do hospedeiro, grau de infecção e associação com outras doenças, já que imunossupressão pode predispor o aparecimento das manifestações clínicas. A infecção por H. americanum está associada a uma síndrome clínica que envolve miosite crônica, dores ósseas, debilitação e comumente cursa com óbito. O diagnóstico ainda é feito principalmente através da identificação de gamontes em esfregaços sanguíneos, porém, técnicas moleculares têm se mostrado uma ferramenta útil, tanto no diagnóstico como em pesquisas, pois trata-se de um método sensível e específico. De uma perspectiva clínica, o médico veterinário deve estar ciente que a hepatozoonose por H. canis está presente no território brasileiro, infectando não só os cães, como também felinos domésticos, e deve fazer parte do diagnóstico diferencial quando se trata de animais com sinais clínicos inespecíficos, principalmente na presença de infestações de carrapatos. Uma combinação de fármacos torna a terapia eficaz, embora muitas vezes seja necessário um longo período de tratamento, até que não se observe gamontes na circulação. No Brasil a hepatozoonose canina pode estar sendo subdiagnosticada por parte dos médicos veterinários devido principalmente a falta de estudos a respeito de sua patogênese e epidemiologia. Existem relatos da infecção no Rio Grande do Sul, mas o estado carece de investigações quanto caracterização genética e epidemiologia do agente. REFERÊNCIAS: - Aguiar D.M.; Ribeiro M.G.; Silva W.B.; Dias Jr J.G.; Megid J.; Paes A.C. 2004. Hepatozoonose canina: achados clínico-epidemiológicos em três casos. Arquivo Brasileiro de MedicinaVeterinária e Zootecnia.56: 411-413. Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce Eduardo Araújo Realce 38 - Alencar N.X.; Kohayagawa A.; Santarem V.A. 1997. Hepatozoon canis infection of wild carnivores in Brazil. Veterinary Parasitology. 70: 279-282. - Assarasakorn, S.; Niwetpathomwat, A.; Techangamsuwan S.; Suvarnavibhaja S. 2006. A retrospective study of clinical hematology and biochemistry
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