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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MINAS GERAIS ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DIEGO BERTOLDO FRANCISCO ANÁLISE DO INDICADOR DE PERDA METÁLICA VZ NO PROCESSO DE ACABAMENTO DE TUBOS DE AÇO SEM COSTURA: UM ESTUDO DE CASO NO SETOR SIDERÚRGICO. CONGONHAS 2017 DIEGO BERTOLDO FRANCISCO ANÁLISE DO INDICADOR DE PERDA METÁLICA VZ NO PROCESSO DE ACABAMENTO DE TUBOS DE AÇO SEM COSTURA: UM ESTUDO DE CASO NO SETOR SIDERÚRGICO. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Federal de Minas Gerais como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Bacharel em Engenharia de Produção. CONGONHAS 2017 Orientadora: Dra. Renata Veloso Santos Policarpo III Folha de Aprovação IV AGRADECIMENTOS “Damos-te graças, ó Deus, damos-te graças, pois perto está o teu nome; todos falam dos teus feitos maravilhosos.” (Salmos 75:1). Agradeço a Deus, o princípio e fim, razão de tudo em minha vida, por ser minha força e vitória, sem o Senhor nada poderia e o meu caminhar não seria completo. O meu sonho realizado devo a Ti, pois me destes a glória. E agradeço a benção da minha mãezinha, a puríssima Virgem Maria que esteve todo tempo intercedendo junto a Jesus Cristo pelos meus pedidos e me cobrindo com seu manto de amor e paz nos momentos mais difíceis. Agradeço a minha mãe Rosilda, por estar sempre me ajudando e me apoiando nos meus sonhos; por todos os seus pedidos junto ao Senhor Deus em minha razão. Agradeço a minha irmã Tamara, que sempre me ajudou com tudo que estava em seu alcance, sem sua ajuda esta vitória não seria possível. Agradeço a minha segunda família, Paula, Célia e Omar, que acreditaram que eu chegaria neste momento e sempre me disseram palavras de incentivo e amor. Agradeço a todos os meus amigos que rezaram e acreditaram que minha hora chegaria, mesmo com tantas dificuldades. Agradeço a todos os meus professores, companheiros de curso e os funcionários do IFMG que contribuíram de forma direta ou indireta na minha caminhada, partilhando muita experiência e também confiando na minha vitória. Agradeço aos meus companheiros de trabalho que sempre me ajudaram e não mediram esforços para apoiar as diversas situações que aconteceram durante o curso. Agradeço especialmente a minha professora e orientadora, Dra. Renata Veloso Santos Policarpo, pelo conhecimento transmitido, pelo apoio em diversos momentos e voto de confiança durante toda minha caminhada desde o momento em que a conheci. O agradecimento vai além da execução deste trabalho, pois em tudo que precisei durante o curso de Engenharia de Produção, ela esteve presente e sem medir esforços. V RESUMO Este projeto objetivou, primariamente, analisar como o indicador VZ - ou índice de perda metálica - auxilia no processo de redução de perdas em um processo de acabamento de tubos de aço sem costura. Além disso, pretendeu demonstrar quais os benefícios de se controlar essas reduções, bem como analisar os desperdícios no processo de acabamento; apontar ainda de que maneira essas perdas influenciam negativamente o resultado geral da organização; definir e apresentar as ações para correção dos problemas que causam as perdas; demonstrar dentro do indicador qual redução foi realizada e quais os ganhos obtidos; e desenvolver a gestão de controle de custos da não qualidade. Para o presente trabalho, aplicou-se o método de pesquisa bibliográfica a fim de se construir o quadro teórico e o conhecimento prévio das ferramentas e recursos para aplicação no projeto. Para a evolução deste estudo, utilizou-se estudo de caso aplicado em um processo produtivo de acabamento de tubos de aço sem costura. A partir da exploração dos resultados, foi possível verificar o quão importante é análise de perdas e como se chega às reduções propostas, sobretudo por meio do trabalho em grupo utilizando a gestão Lean. Enfim, por meio da pesquisa efetivada neste projeto, pôde-se confirmar que as perdas de processo e não qualidade podem ser resolvidas por meio da análise do indicador intitulado VZ ou índice de perda metálica. Palavras-Chave: Custos da Não Qualidade, Perdas, Indicador VZ, Lean, Ferramentas da Qualidade. VI ABSTRACT This project aimed, primarily, to analyze how the VZ indicator – or metal decay rate – helps in the loss reduction process in a process of finishing touches in a seamless steel pipes production. Besides, it intended to demonstrate which benefits from controlling these reductions, as well, to analyze the waist in the finishing touches process; to point out how the loss influence negatively the general result in the organization; to define and present the actions to correct the problems that cause loss; to demonstrate in the indicator which reduction was done and which gains were obtained; and to develop the control management of the (non) quality costs. For the present report, the method of bibliographical research was used to build a theoretical framework and the previous knowledge of the tools and resources to apply in the project. For the development of the studies, the case studies were applied in the productive finishing process in the seamless steel pipes production. Based on the results, it was possible to verify how important the loss analysis is and how it gets to the proposed reductions, mainly by means of a working group specialized in Lean Management. Finally, through the research done in this project, it was possible to confirm that the loss in the process and (non) quality can be resolved by the analysis of the VZ indicator or the metal decay rate. Key words: Costs of non-quality, Loss, VZ Indicator, Lean, Quality tools. VII LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Benefícios da redução dos desperdícios. ............................. 6 Figura 2 - Relação de entradas, saídas e perdas ................................ 10 Figura 3 - Gráfico da relação dos custos das falhas com os gastos de qualidade ....................................................................................................... 12 Figura 4 - Sete Ferramentas da Qualidade ......................................... 15 Figura 5 - Fluxograma de processos ................................................... 27 Figura 6 - Histograma Minitab Fonte: .................................................. 37 Figura 7 – Gráfico de resultado do VZ ................................................ 39 VIII LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Divisão de família de produtos .......................................... 31 Quadro 2 - Brainstorming dos problemas ........................................... 33 Quadro 3 - VZ por família de produto .................................................. 35 Quadro 4 - Plano de ações.................................................................. 38 IX LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS BW Business Work US Ultrassom UV Ultravioleta VD Visual dimensional VSB Vallourec Soluções Tubulares do Brasil VZ VerbrauchZiffen X SUMÁRIO AGRADECIMENTOS .................................................................................. IV RESUMO ....................................................................................................... V ABSTRACT ..................................................................................................VI LISTA DE FIGURAS ................................................................................... VII LISTA DE QUADROS ................................................................................ VIII LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ....................................................... IX 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1 1.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................... 2 1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................. 2 1.3 JUSTIFICATIVA ....................................................................................... 3 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ..................................................................... 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................. 6 2.1 LEAN MANUFACTURING .................................................................... 6 2.2 PERDAS DE PROCESSO .................................................................... 9 2.3 CUSTOS DA NÃO QUALIDADE ........................................................... 11 2.4 FERRAMENTAS DA QUALIDADE ........................................................ 14 2.5 INDICADORES................................................................................. 18 3 METODOLOGIA .................................................................................. 21 4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EMPRESA E DO SETOR DE ANÁLISE . 26 5 APRESENTAÇÃO DE DADOS E RESULTADOS ............................... 29 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 41 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 45 1 1. INTRODUÇÃO Para garantir o aumento da produtividade em plantas de tubos de aço sem costura e a evolução dos processos produtivos, as siderurgias têm estabelecido como meta a constante busca por melhores resultados, com vistas à garantia de competitividade no mercado. Assim, os processos produtivos devem ser constantemente aperfeiçoados para assegurar os resultados e a concorrência dos produtos. Costa Junior (2008) afirma que a utilização do kaizen, palavra japonesa que significa mudança, representa esse aprimoramento contínuo com a eliminação de problemas, por meio da identificação dos potenciais de melhoria, a partir do envolvimento de todos os indivíduos que compõem a organização. Nesse sentido, melhores resultados e a garantia de produtividade nas capacidades instaladas fazem com que as empresas atuem diretamente na gestão do controle de custos da produção e foco nas perdas. Com o intuito de administrar a minimização dessas perdas, as melhorias contínuas na qualidade do produto e no processo se constituem essenciais. Conforme apresentam Morgan e Liker (2008), aplicando-se o kaizen é possível aperfeiçoar diariamente os processos e criar um verdadeiro sistema enxuto que evolua constantemente. Nesse contexto, a redução das perdas entra como parte importante da melhoria contínua, uma vez que sua aplicabilidade bem-sucedida implica em redução dos custos e aumento nos lucros. Diante dessa perspectiva, aplicações de melhoria contínua em processos e produtos podem contribuir para tornar as organizações mais competitivas, fato esse sustentado pelas teorias de Liker e Meier (2007) que tratam da coleta e mensuração dos dados, com ferramentas da qualidade, para garantir a estratégia de se eliminar as perdas. Portanto, a busca de informações e a pesquisa realizada neste trabalho tiveram o propósito de responder ao seguinte problema: como a análise do indicador de perda metálica VZ pode auxiliar na redução das perdas de processo? Investigar as perdas produtivas pode fornecer subsídios para sustentar o princípio da redução ou eliminação dos desperdícios e da não qualidade, além de validar as vantagens de se controlar essas perdas. Esses propósitos 2 apontam para outros benefícios futuros para além deste trabalho, como redução de estoques, otimização de operações e fluxos, como bem asseguram Palmeira e Tenório (2002). Para a evolução desse estudo, foi utilizado o estudo de caso. No sentido de se obter conhecimento inicial e aprofundamento da temática, a pesquisa bibliográfica foi necessária. O estudo de caso foi desenvolvido, em sua integralidade, por meio da análise das informações de perda metálica por processo e produto disponibilizadas pelo setor de produção de acabamento de tubos de aço sem costura, ou recurso como conhecido internamente, na empresa do setor siderúrgico objeto de análise. Para esta pesquisa, utilizou-se o indicador de rendimento metálico conhecido como VZ. Este é definido por Nascimento (2008) como a quantidade aplicada para se produzir um valor definido de um produto, muito empregado nos processos de transformação como Aciaria e Laminação. Para o acabamento, é aplicado de forma mais simples, pois relaciona o quanto o recurso produtivo empregou e quanto foi produzido a partir desta entrada. Nessa ótica, o rendimento metálico, como define esse mesmo autor quando em valores elevados pode ser um demonstrativo de que a qualidade está com desvios ou problemas. Esse indicador começou a ser utilizado dentro da organização a partir deste trabalho, assim pode-se considerar o mesmo como novo no contexto da empresa. Face ao exposto, torna-se relevante pesquisas que direcionem esforços para a redução de desperdícios nesse setor. 1.1 Objetivo geral Analisar como o indicador de perda metálica - VZ auxilia na redução de perdas de processo e produto, na área de acabamento de tubos de aço sem costura, com a finalidade de apresentar o benefício do controle e redução das perdas de não qualidade no setor siderúrgico. 1.2 Objetivos específicos 3 • Levantar os possíveis desperdícios na área de acabamento de tubos, a partir das percepções das equipes envolvidas no processo. •Analisar e apontar como os desperdícios influenciam no processo de acabamento e como essas perdas provocam aumentos nos custos gerais e redução no valor do produto final. •Apresentar possíveis ações de melhorias para redução dos gastos encontrados, a partir da análise e conhecimento dos envolvidos, para atuação rápida e retorno imediato para o recurso de acabamento de tubos. •Demonstrar as possíveis reduções, após a adoção de melhorias dentro do processo produtivo, averiguando os números do indicador VZ implantado para monitoramento a partir dessa pesquisa. •Implementar o controle de custos da não qualidade como ferramenta permanente na organização, após a estabilização do indicador, para que as análises futuras tenham parâmetros e maior efetividade nos resultados. 1.3 Justificativa A melhoria contínua é o modelo de gestão com ferramentas capazes de sustentar as mudanças necessárias para a adequação ao novo padrão de mercado. Mintzberg, et al. (2007) afirmam que a utilização desse modelo é necessário e vital nas organizações que pretendem reagir à instabilidade do mercado. Dentro dessa perspectiva, estabilidade e flexibilidade são essenciais para atendimento aos clientes, maximização dos lucros e minimização de perdas. Para tal, as análises de perdas e da não qualidade dentro das organizações são indispensáveis, a fim de que os lucros sejam aumentados e os custos reduzidos. Além disso, vale ressaltar que a crise da indústria brasileira, que impacta a economia desde o segundo semestre de 2013, levou as organizações a buscarem soluções para economiae manutenção da produtividade. Liker e Hoseus (2009) argumentam que trabalhar de forma enxuta, eliminando as perdas em processo e produto, apresenta-se como ferramenta de importante utilidade nessa situação. Os desperdícios para as organizações podem ser revertidos em ganhos se trabalhados com as 4 ferramentas adequadas. Dessa forma, devido à necessidade de se melhorar continuamente e reduzir perdas em tempos de crise, faz-se importante medir as atividades e avaliar como está o andamento do trabalho em termos de desempenho dos produtos e processos. Assim, os indicadores de desempenho aparecem como ponto focal dessa atividade e Slack e et al.(2013) demonstram que os indicadores são importantes para avaliação, bem como para mesurar o nível de trabalho que é implementado. Nesse sentido, nesse projeto utilizou-se a análise do indicador de perda metálica VZ, sigla alemã da palavra Verbrauch Ziffen, que fornece informações de consumo e rendimento de produção para auxiliar na redução de perdas de processo e produto, na área de acabamento de tubos de aço sem costura. Esse indicador proposto focou em fornecer referências suficientes para monitorar o processo de redução de perdas e não qualidade, com foco no aperfeiçoamento dos processos e produtos e aumento de produtividade. A partir do exposto, fica claro os benefícios de se eliminar as perdas, propósito dessa pesquisa, em que os ganhos estão relacionados ao produto final e também dentro do processo produtivo (GIANNINI, 2007; NEUMAN, 2013). Nessa direção, ações para atuar nas perdas devem ser objeto de estudo dentro das instituições que visam à melhoria. Para tanto, o entendimento das perdas deve ser analisado, aprofundado e compreendido. Em seguida, planos devem ser traçados para atuar nesses desvios que impedem o desenvolvimento do conjunto processo/produto e aumento na competitividade. Em tese, as perdas foram objeto de estudo, assim como a aplicação de ações para sua diminuição ou eliminação, utilizando como metodologia algumas ferramentas de qualidade visando atuar nas possíveis causas, com intuito de atingir as melhorias necessárias para o conjunto processo/produto. 1.4 Estrutura do Trabalho A pesquisa foi estruturada em seis capítulos, além desta introdução. O capítulo dois apresenta a fundamentação teórica, a partir do Lean 5 Manufacturing e toda sua abrangência, seguido pelo conceito de perdas do processo e dos problemas que essas causam nas organizações; também são apresentadas as concepções de custos da não qualidade e seus impactos. A partir daí são mencionadas as ferramentas de qualidade e, depois disso, os indicadores caracterizam a forma correta de se medir as melhorias para um processo. O capítulo três expõe a metodologia utilizada na pesquisa. O capítulo quatro contextualiza o local de realização da pesquisa; o capítulo cinco mostra os resultados evidenciados e discutidos, seguido pelo último capítulo que traz as considerações finais do estudo. 6 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Lean Manufacturing Lean Manufacturing significa manufatura enxuta (limpa), é uma ferramenta de gestão que foca na redução das perdas e, assim, no aumento da qualidade. Isso porque reduz custos e tempo, como asseguram Antunes (2008) e Alvarez et al. (2008). Os autores ainda apresentam que o Lean, conhecido também como Sistema Toyota de Produção, se resume em obter materiais de modo correto, no local exato, na quantidade precisa, minimizando as perdas com aumento de qualidade, e na produção flexível e tolerante às mudanças que o mercado impõe. Na visão de Caxito (2008), esse conceito de gestão de produção é entendido como a habilidade de reagir de forma rápida e eficaz às alternâncias de demanda do mercado, desenvolvendo produtos e serviços específicos para cada cliente. Para esse processo, os níveis de qualidade precisam ser os mais altos, uma vez que perdas e não qualidade não devem ocorrer, pois têm reflexo no cliente – que é o foco das atividades, dentro do conceito Lean, a fim de garantir sua satisfação para com a organização. A figura 1 demonstra que aplicando os conceitos do Lean nas organizações, a melhoria de qualidade é direta, tal como a redução dos custos; dentre eles, os custos com perdas. Figura 1 - Benefícios da redução dos desperdícios Fonte: Extraído de Wekema (2012, p.23). 7 Ainda é importante destacar, analisando a figura 1, que as ações para redução dos desperdícios e aumento de qualidade são conjuntas, seja para redução dos problemas, seja para alcance de melhorias com foco no cliente, assegurando as bases para melhoria contínua do processo e produto. Werkema (2012) garante que utilizando flexibilidade, qualidade, segurança, ergonomia, motivação dos empregados e capacidade de inovação como eixo de trabalho, os custos, as exigências e a necessidade de espaço dentro de uma planta serão reduzidos. Na esteira desse pensamento, Koenigsaecker (2011) apresenta uma visão do Lean dividida em dois pilares: o conceito e a prática da melhoria contínua e a perspectiva comportamental, alcançada por meio de uma cultura que deve ser instituída em todos os envolvidos no processo. O autor deixa claro que o Lean não é somente identificar e eliminar os desperdícios, mas envolve o todo e cria raízes em quem aplica o conceito. No entanto, o pesquisador ressalta que conhecer o conceito não é o bastante e que a dificuldade está em construir essa cultura nas pessoas para que pratiquem diariamente a melhoria contínua. A partir das ideias apresentas anteriormente pelos autores Koenigsaecker (2011); Caxito (2008); Antunes (2008) e Alvarez et al. (2008), nota-se que a ferramenta Lean tem grandes benefícios que ultrapassam a eliminação dos desperdícios, visto que esse modelo de gestão cria a cultura para o desenvolvimento das pessoas que, consequentemente, aplicarão essas melhorias em suas atividades. Os autores deixam claro que a implementação e a construção dos conceitos no dia a dia podem ser difíceis, mas os ganhos são constantes e a organização só tende a maximizar seu desempenho em função disso. Em termos de ganhos no processo e produto, as principais fontes de perdas e de não qualidade são identificadas e melhoradas. Dessa forma, o gasto com qualidade pós-produto e processo são reduzidos, como afirma Werkema (2012). Além disso, o autor apresenta que o valor agregado dos produtos traz retorno para as organizações. A metodologia Lean, de acordo com Werkema (2012), traz em sua concepção a redução de sete perdas, que são oriundas dos trabalhos de Shingo (1996) e Ohno (1997), a saber: i) o defeito, que é problema durante o 8 processo; ii) a superprodução, que se explica pelo excesso de produção; iii) a espera ou gargalos; iv) o transporte, que gera gastos extras para levar as matérias primas ou produtos de um lugar para outro; v) a movimentação, que se descreve pelas atividades logísticas realizadas; vi) os processos ineficientes, quando não é garantida a produção; e, vii) o estoque de material, que é constituído pela espera para entrada em um recurso (processo). As sete perdas demonstradas na literatura estão envolvidas com processo e produto, todas elas têm suas particularidades de acordo com a atividade da organização, mas podem ser facilmente identificadas. Conforme explicado acima, essa metodologia é um modo de gestão que tem influência direta também no comportamento das pessoas, pois a criação da cultura muda a forma de lidar dentro das organizações. Nessa perspectiva, conforme advoga Dennis (2008): [...]a meta é fornecer a mais alta qualidade com o menor custo, dentro do menor tempo, através da contínua eliminação do desperdício. Porém, hoje em dia os clientes têm expectativas mais amplas. Portanto as empresas Lean acrescentaram: segurança, meio ambiente e moral aos seus princípios (p. 37). Esse mesmo autor enfatiza quais os objetivos que as empresas que utilizam a gestão Lean possuem para apresentar ao cliente e, com isso, mostrar a importância de tal modelo dentro da organização. Como já mencionado, o Lean engloba outras áreas dentro das empresas, tais como segurança, meio ambiente e a área comportamental, visando ser referência e a cada dia ter um processo interligado com os mesmos preceitos da metodologia, em busca da melhoria contínua em todos os setores que a compõem. Dessa forma, evidencia-se o quão relevante é a aplicabilidade do Lean para o processo e produto e também para as pessoas que podem incorporar uma nova cultura no cotidiano, pois a visão de melhoria contínua é aplicada em várias dinâmicas diárias como segurança, comportamento e meio ambiente, fazendo com que os colaboradores se desenvolvam sempre. A implantação do modelo de gestão Lean torna-se mais adequada quando associada a outras ferramentas de qualidade, no intuito de monitorar e medir as ações a fim de mostrar os ganhos e o avanço do processo. As 9 ferramentas para compor a gestão Lean são variadas e faz-se muito importante definir, no início do trabalho de grupos de melhoria, quais as mais aplicáveis. Esse tópico será discorrido em seção posterior nesse trabalho. 2.2 Perdas de processo Estudos e ações para eliminação dos desperdícios estão muito difundidos dentro das organizações, uma vez que se faz necessário o aumento dos lucros e a redução dos desperdícios para uma empresa se manter em um estado competitivo no mercado. Diante disso, Oliveira (2003) demonstra que para melhores condições de uma organização estável e permanente no mercado é requerido adotar o controle, a gestão e a eliminação das perdas. Na visão de Antunes (2008), as perdas podem ser consideradas ações que estabelecem a geração de custo e não acrescem nenhum valor ao produto. Por isso, devem ser eliminadas o mais rápido possível após sua identificação. Entre as perdas identificadas por esse autor, podem ser citadas: geração de sobras, que significa a produção acima do solicitado pelo cliente; retrabalhos, que podem ser por problemas no processo de produção ou na matéria prima, sendo necessário que o material retorne para produção ocupando o recurso; espera dos materiais acabados ou matéria prima nos processos ou gargalos gerados por recursos que são mais rápidos que os outros; estocagem desnecessária, ou seja, material parado aguardando envio ao cliente ou entrada de pedidos; por fim, transporte não previsto, que são os gastos logísticos extras para o material ser mobilizado de um ponto a outro na fábrica. Em se tratando de perdas de processo, o autor destaca sobras e retrabalhos como desvios a serem tratados. Assim, uma minimização das perdas pode gerar uma maximização dos lucros e o produto final apresentar maior valor agregado para o cliente. É interessante mostrar que as perdas são desvios que ocorrem no fluxo do sistema produtivo formado por entrada, processo e saída, como demonstra Giannini (2007). Esses desvios causam aumento dos gastos em 10 processo e, consequentemente, redução dos lucros no preço final do produto. A figura 2 mostra de forma simplificada como a perda está alocada em um sistema produtivo: Figura 1 - Relação de entradas, saídas e perdas. Fonte: (GIANNINI, 2007, p.43). O processo demonstrado na figura 2 deveria ocorrer em linha da seguinte forma: primeiramente, a entrada; depois disso, o sistema produtivo; por fim, a saída ou a entrega ao cliente. Entretanto, as perdas por vários motivos entram no meio da cadeia e, desagregam valor. Giannini (2007) apresenta a inclusão dessas novas etapas (perdas) que não estavam previamente planejadas e estas, sim, possuem influenciar no valor do produto final. Dessa forma, a eliminação dos desperdícios aumenta o valor do produto e traz benefícios indiretos para organização, que no contexto produtivo também são considerados valores agregados. Neumann (2013) cita o aumento do valor acrescentado no processo e a melhoria da unidade de negócios por meio dos seguintes resultados: maior produtividade, tempo de fabricação mais curto, melhor qualidade, redução dos estoques e redução dos custos. Portanto, o autor deixa claro que a eliminação dos desperdícios, dentre suas diversas concepções, busca maximizar os resultados dos 11 objetivos organizacionais, através de uma série de ações estratégicas que melhor desenvolvam o processo da planta industrial. De maneira complementar, Magee (2008) afirma que: [...] Eliminar os desperdícios pode ser um dos maiores desafios dentro de uma empresa. Pela própria natureza, adição no mundo corporativo empresarial é muito mais fácil que a subtração, porque não depende tanto da aceitação dos funcionários. Para se eliminar o desperdício, no entanto, os funcionários têm de estar dispostos a admitir que a alternativa existente não é a melhor (p.51). A partir da necessidade de eliminar os desperdícios, algumas dificuldades são encontradas e, assim, ações efetivas para as perdas são inteiramente de responsabilidade das pessoas envolvidas no processo. Diante disso, alguns conceitos da Toyota ou do Lean, como vistos na seção anterior, servem como modelo para aplicabilidade e sucesso dessas ações. Dessa maneira, fica evidente que as perdas devem ser objeto de estudo e de bastante atenção nas organizações. Ferramentas precisam ser aplicadas a fim de verificar, monitorar e mensurar como estão e ainda como gerenciar a redução dessas perdas com ações efetivas, minimizando o aumento de custos em virtude da não qualidade. 2.3 Custos da não qualidade Os custos de qualidade em uma organização deveriam ser aqueles para prevenção, ou seja, custos com objetivo de controlar produto e processo. Para tanto, os conceitos de zero defeito e fazer certo da primeira vez têm que funcionar todo o tempo, conforme destaca Rodrigues (2014). Na prática, os custos hoje, na maioria das vezes, estão dispostos para a não qualidade, para os retrabalhos, atendimento das garantias, trocas e devoluções. Nessa perspectiva, o autor afirma que o grande objetivo no processo de melhoria é otimizar esses desperdícios, apresentando o conhecimento e estratificação das perdas, como foco nas organizações. Assim, o controle e detecção devem ocorrer o mais rápido possível em prol da economia e maximização da produtividade e dos ganhos. 12 Como bem nos assegura Lucinda (2010), a partir do conceito de Crosby (1994), a detecção antecipada de problemas tem um custo mais baixo do que a resolução depois de ocorrido. Para garantir essa antecipação ou prevenção, os conceitos de produtos sem defeitos e de fazer correto na primeira vez são as chaves para os quatro preceitos de cautela com a qualidade, são eles: i) prevenção deve ser a filosofia das equipes; ii) os custos da qualidade servem para a gestão e avaliação; iii) zero defeitos deve ser a meta de trabalho e; iv) conformidade deve ditar o ritmo da linha produtiva. A partir de tudo que foi apresentado, vale enfatizar que os custos financeiros para que os problemas não ocorram precisam ser ponto focal das equipes, e não as correções e os gastos pós-desvios. É interessante destacar a abordagem referente aos custos de não qualidade que deve serponto de atenção para controles durante o processo. Conforme citado, o custo da não qualidade é maior e ainda pode acarretar um problema de imagem da organização, gerado quando da ocorrência de um problema. A figura 3 mostra a relação entre os custos e os gastos com qualidade: Figura 2 - Gráfico da relação dos custos das falhas com os gastos de qualidade Fonte: Extraído de Guelbert (2012, p. 26). Guelbert (2012) apresenta um ponto ótimo para os gastos com qualidade, sendo o meio termo entre as ferramentas para controle da qualidade e os custos das falhas. Entretanto, vale salientar que os custos 13 com falhas não devem ocorrer se o produto final já estiver de posse do cliente, pois assim a imagem da empresa será afetada. O custo da não qualidade dentro de uma organização pode ser considerado em duas categorias, como assegura Weill (2005): os custos internos, ocorridos dentro dos domínios da instituição; e os custos externos, encontrados quando o produto já está em posse do cliente. A teoria apresentada pelo autor garante que o custo aumenta quando a falha do produto não está sobre o controle da organização. Ele sustenta também a premissa de que o foco no cliente deve orientar todo o direcionamento da empresa para as garantias de controles internos e prevenção, e não de correção após o fim da produção. Guelbert (2012) defende ainda que quanto maior a qualidade, menor o custo para empresa e para os clientes, além de aumentar o valor final do produto. Nessa direção, as ferramentas de qualidade devem ser utilizadas para auxiliar nesse aperfeiçoamento, na redução de perdas e no consequente aumento e melhoria da imagem da empresa face ao mercado. Conforme explicado, a não qualidade é um grande empecilho para o produto e o processo tanto direta quanto indiretamente, já que causa outras perdas organizacionais, como dificuldades em otimizar o processo com excesso de não qualidade e imagem negativa da empresa. Assim, faz-se importante apresentar que ferramentas de qualidade devem ser incorporadas na rotina organizacional para auxiliar nas melhorias e redução de perdas. Teboul (1991) contribui ao destacar que: [...] Quando a melhoria da qualidade torna-se uma urgência causada pela insatisfação dos clientes ou da pressão da concorrência, a administração tenta dar o seu recado designando um novo objetivo a ser atingido. A mudança não poderá ocorrer sem uma visão de conjunto e uma pilotagem através da qualidade, a partir do nível superior (p. 81). Nessa perspectiva, o autor deixa claro na citação acima o quão importante são as atitudes e ações para garantir a qualidade nas organizações, bem como reduzir as perdas por não qualidade. Nesse 14 sentido, os programas para melhoria contínua e resolução de problemas precisam acontecer de modo dinâmico para sustentar esse processo. Diante do exposto, ressalta-se que os grupos de trabalho com as ferramentas de qualidade devem ser introduzidos no ambiente organizacional a fim de reduzir os custos da não qualidade, como destaca Oakland (1994). De tal forma, pode-se dizer que o ganho de uma empresa está diretamente relacionado à redução da não qualidade, uma vez que esse custo incorpora o valor final do produto, perspectiva essa já sustentada nesta seção. 2.4 Ferramentas da qualidade As ferramentas de qualidade são práticas organizacionais utilizadas com a finalidade de definir, mensurar, analisar e propor soluções para os processos. Elas podem ser aplicadas quando ocorrem desvios que afetam a rotina produtiva e também para melhoria contínua de processos estáveis (SILVA, 2015). Dessa forma, pode-se dizer que as ferramentas da qualidade são técnicas estatísticas simples e úteis na obtenção, organização e análise de informações para a resolução de problemas. Sua utilização atualmente não deve ser considerada como um processo somente da equipe de qualidade, mas uma cultura organizacional presente na rotina de todos os envolvidos. Como bem assegura Lucinda (2008), o aumento da complexidade das atividades organizacionais, seja no contexto de resolução de problemas ou na busca de otimização e aumento do rendimento produtivo, exige a criação de equipes multidisciplinares que apresentem visões diferentes sobre a solução. Assim, desaparecem os atritos que podem travar o desempenho do trabalho. O autor ainda afirma que, nesse cenário, as ferramentas da qualidade devem ser introduzidas, aumentando a qualidade da equipe, pois oferecem método e disciplina no estudo dos problemas e na criação de soluções. Entre as principais razões para sua utilização, pode-se citar: facilidade de entendimento, método eficaz para abordagem de problemas, regularidade e ganho de produtividade da equipe. 15 Dessa maneira, as ferramentas da qualidade participam de forma ativa do modelo de gestão das empresas e devem ser entendidas como um processo cultural, que necessita do envolvimento de todos para que seu funcionamento seja pleno. Pode-se verificar na figura 4 as sete ferramentas básicas da qualidade: Figura 3 - Sete Ferramentas da Qualidade Fonte: Extraído de Dias (2016). Cada uma das ferramentas tem sua particularidade, assim: i) as cartas de controle utilizam gráficos para mensurar um processo; ii) o histograma é um diagrama de barras que estuda a distribuição dos dados; iii) o pareto consiste em um diagrama de barras que prioriza poucos problemas com impacto maior; iv) o diagrama de dispersão avalia o quanto duas variáveis estão relacionadas através dos dados; v) o fluxograma permite, através de representação gráfica, uma visão do processo como um todo; vi) o Ishikawa, ou espinha de peixe, expressa as várias causas que podem levar ao problema em estudo; e, vii) a folha de verificação, através de tabelas ou planilhas, facilita a coleta dos dados. Dias (2016) garante que as sete ferramentas básicas apresentadas têm uma aplicação específica de acordo com a análise de cada problema ou melhoria de processo de que se necessita, tem utilidade singular ou pode ser aplicada de forma conjunta. 16 Para esta pesquisa, entre as ferramentas básicas utilizou-se apenas o histograma para agilizar as análises preliminares em busca das soluções rápidas e aplicáveis ao contexto e demanda imediatista da gerência. Para os histogramas, os resultados são obtidos através da distribuição dos dados em análise. Melo (2012) define que os histogramas facilitam as ações e auxiliam na tomada de decisão, pois fornecem o entendimento dos números, a análise das médias e dos desvios padrão, permitem comparações de resultados, entre outros. Essa ferramenta tem grande utilidade para aplicação em trabalhos que requerem resolução rápida, já que apresenta diferentes interpretações de números em uma mesma ferramenta. Outras ferramentas foram desenvolvidas com objetivo de melhorar as análises após a criação das ferramentas básicas, o Brainstorming, por exemplo, se destaca por ser uma ferramenta de simples aplicação e para auxílio de equipes que desejam atuar sobre um problema em um curto espaço de tempo, como demonstra Rodrigues (2014). O autor ainda atenta que, para aplicação, são necessárias cinco etapas básicas: i) definir o objetivo; ii) estabelecer equipe; iii) eleger um líder para conduzir; iv) definir um membro do grupo para registrar as ideias e controlar o tempo; e, v) fixar o tempo da rodada de ideias. César (2013) argumenta que nenhuma melhoria tem início sem que se possa compreender completamente o problema, a origem, a extensão e as causas, visto que meras especulações não significam bom entendimentodas informações. Nesse sentido, as ferramentas de qualidade aprimoram e focam na problemática com objetivo de produzir soluções. O autor ainda menciona que as melhorias são necessidades evidentes das empresas, e que a utilização de ferramentas da qualidade se apresenta como principal condutor ao sucesso na resolução de problemas, desde que empregadas de forma correta, seguindo devidamente as metodologias. Percebe-se ainda que diversos autores (SILVA, 2015; LUCINDA, 2010; DIAS, 2016) mostram a real importância da utilização das ferramentas de qualidade, que devem modificar a cultura de todos envolvidos, quando se tem a clara necessidade de melhorar e resolver problemas, ou seja, aprimorar o cotidiano das organizações. Lucinda (2010) mostra que, devido às divergências de pensamento, as soluções podem não aparecer por falta de 17 um modo correto de análise e, nesse contexto, as ferramentas da qualidade vêm para auxiliar no encontro de soluções e apresentar facilidade na aplicação. Segundo explicitado, as organizações têm grande necessidade do uso das ferramentas da qualidade, sobretudo quando o objetivo é eliminar perdas e custos da não qualidade e garantir aplicação da melhoria contínua. Uma aplicação, por exemplo, seria reduzir um reprocesso ou padronizar uma atividade, sendo que, em ambos os casos, as ferramentas da qualidade oferecem resolução e resultado favorável. Dessa forma, [..] os processos e modelos que fazem parte do universo da gestão da qualidade possibilitam o incessante aprimoramento das empresas, que a todo instante são impelidas a alterar suas sistemáticas e procedimentos na tentativa de obter maiores níveis de qualidade. Num sentido mais amplo, o conceito da qualidade total passou a significar modelo de gerenciamento que busca a eficiência e a eficácia nas organizações (JUNIOR, et al., 2010, p. 1). Esses mesmos autores mostram que as ferramentas de qualidade no contexto aplicado são mais que controles de produção, são na verdade um conceito para toda organização. Suas respostas ao mercado provocam melhora na eficiência global e na redução de perdas, evolução contínua de processo e produto e criam cultura de aperfeiçoamento nos envolvidos no processo. Os autores esclarecem que, diante das mutações que o mercado sofre a todo instante, as ferramentas da qualidade se fazem necessárias também para o processo de estabilização, através padrões que definem como serem realizados igualmente por todos. Diante do exposto, ressalta-se a necessidade de se utilizar as ferramentas de qualidade para redução de perdas e da não qualidade, pois a metodologia se encaixa nesses moldes, não esquecendo que a Gestão Lean orienta também para a aplicação das ferramentas para o aperfeiçoamento produtivo e as devidas reduções de perdas, bem como para geração da cultura da melhoria contínua dos envolvidos. Aliando todos esses conceitos, torna-se fundamental mensurar o desenvolvimento e monitorar qual a representatividade das ações aplicadas. Assim, os indicadores entram como complemento do processo de redução das perdas e da não qualidade 18 2.5 Indicadores No ambiente em que as empresas precisam ser referência de administração, a avaliação de desempenho, por meio de indicadores, torna- se parte substancial do processo de gestão (TACHIZAWA; FARIA, 2006). Isso porque refletem no desempenho dos produtos e insumos e medem a performance de um processo para subsidiar ações em busca das melhorias. A importância dos indicadores de performance, segundo Moraes (2010), está relacionada com o monitoramento do desempenho do sistema de gestão, de forma a verificar se as estratégias e os métodos obtêm resultado, preocupação frequente dos gestores. Vários são os ganhos em se utilizar e monitorar os indicadores, entre os quais, pode-se citar: melhoria da imagem da organização para apresentação aos clientes e garantia de confiança; melhoria de processos, resultados das evoluções na manufatura; aprendizado para a equipe; demonstração de como foram as ações e efetividade do trabalho; desempenho pessoal com o processo de medir o trabalho e as realizações, dentre outros. É interessante também associar a importância dos indicadores à qualidade, que pode apresentar uma série de análises para pesquisas e trabalhos de grupo. Faz-se necessário a medição do nível de qualidade como ferramenta de desempenho, pois esses valores podem indicar se a organização caminha corretamente ou se deve criar grupos para resolver problemas. Nesse sentido, muitas vezes os indicadores podem mostrar os desvios antes mesmo da efetiva coleta de dados para os trabalhos como assegura Moraes (2010). De acordo com Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2006), os indicadores de qualidade podem ser ferramentas que buscam observar ainda a concepção do cliente sobre um produto e serviço. Os autores enfatizam a importância de se relacionar os indicadores de qualidade e desempenho, uma vez que ambos se completam e trazem análises que devem ser o guia da melhoria contínua dentro de um processo a ser corrigido e aperfeiçoado. Isso porque os indicadores de desempenho são considerados índices numéricos para os desvios no indicador de qualidade. 19 Nesse contexto, pode-se dizer que o uso de indicadores nas organizações deve ser efetivo e estabelecido para verificação de resultados, cuja influência recai em todas as áreas. A visão mais interessante fica por conta da complementação de indicadores de performance e qualidade, em que os autores Tachizawa, Ferreira e Fortuna (2004) demonstram a associação necessária para melhorar as análises ao se iniciar um trabalho. De acordo com os pesquisadores, os indicadores podem ser aplicados como primeiro alerta dos problemas e também como ponto de partida para a busca de soluções e melhorias. Isso visto que muitos números já estão preenchidos em sua base de dados e ainda apresentam os desvios em uma escala de priorização. Dessa forma, os indicadores não são apenas números, são ferramentas de grande importância para análises e busca por resultados. Pode-se dizer que são os primeiros pontos que indicam que alguma coisa não está de acordo. Os indicadores também são importantes para mensurar e mostrar a evolução dos trabalhos que são realizados, como demonstram Liker e Hoseus (2009) em seu estudo, evidenciando que dentro de um diagnóstico eles são parte a se considerar para a correta análise e implantação de ações. Nesse sentido, [...] os indicadores são definidos para quantificar os resultados das ações e para estabelecer e valorar o cumprimento dos objetivos específicos e metas. Os indicadores devem ser usados para guiar processos em direção ao alcance dos negócios em alinhamento com as estratégias (RODRIGUES, 2014, p. 50). Nessa perspectiva, os indicadores de desempenho são ferramentas que as unidades produtivas utilizam não somente para medir sua performance, mas também porque são relevantes na criação de ações em prol do alcance dos objetivos organizacionais e estratégicos. Os modelos de gestão atuais defendem o uso desses indicadores como ferramenta indispensável para o controle de processos produtivos em geral. Nessa ótica, Bond (2002) afirma que os indicadores de desempenho têm sua importância associada ao conhecimento e identificação de pontos críticos que comprometem a execução, auxiliem no processo de implementação e gerenciamento das melhorias. 20 Por essa razão, ressalta-se a necessidade de aplicação de indicadores de desempenho nos processos das empresas em busca da qualidade, performance e melhoria contínua tanto para desenvolvimento,quanto para manutenção competitiva e aumento dos lucros. Os indicadores de qualidade ainda podem ser definidos como balizadores de custos, pois, conforme já apresentado, são potencializadores para iniciar os trabalhos, seja na qualidade, no processo ou em ambos. Logo, pode-se caracterizá-los como primeiro ponto de alerta para a não qualidade e para as perdas de processo. Face ao exposto, essa pesquisa objetiva aplicar o indicador de perda metálica VZ. Indicador esse que não possui muitos estudos na literatura com aplicação direta do mesmo, o que se pode verificar são indicadores parecidos com algumas particularidades de acordo com a área onde está aplicado. Algumas bibliografias trazem nomenclaturas variadas, podendo citar: rendimento metálico, coeficiente de perda metálica e outros mais voltados para setores de produção de aço. 21 3 METODOLOGIA De acordo com Rampazzo (2005), pesquisa é um método reflexivo, sistemático, controlado e crítico que permite descobrir situações novas ou dados, soluções ou leis aplicadas em qualquer área de conhecimento. Pesquisar é uma atividade orientada para soluções de problemas, aplicando processos do método científico. Assim, pode-se dividir o conceito de pesquisa em três elementos básicos: levantamento do problema, solução e metodologia para chegar à solução. Gil (2008, p.27) apresenta o conceito de pesquisa como “processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico cujo objetivo fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. Segundo Fonseca (2009), metodologia é definida como conjunto de procedimentos racionais pré-estabelecidos utilizados pelo pesquisador para alcançar uma meta. O autor ainda descreve que a metodologia científica pode ser determinada como instrumento empregado pela ciência para investigar a realidade através dos seguintes passos: proposição da pergunta, formulação da hipótese, teste por experimentos ou observação e conclusão para validar ou não a hipótese. Para esta pesquisa, determinou-se a combinação das abordagens qualitativas e quantitativas. Alyrio (2009) argumenta que o estudo qualitativo é aquele que observa e analisa um objeto, com vistas a efetuar uma interpretação que possa dar sentido e significado a ele. Para o autor, o objetivo é considerar a integralidade e não apenas dados e aspectos superficiais, indo para além da mera análise estatística, mas examinando o fenômeno estudado minuciosamente. Já o estudo quantitativo é aquele que se preocupa em identificar quantitativamente, por meio de técnicas estatísticas, o nível de conhecimento, a profundidade de opiniões, impressões, hábitos e tendências de comportamentos (ALYRIO, 2009). Complementarmente, a pesquisa qualitativa tem como objetivo, de acordo com Cooper e Schindler (2016), aplicar um conjunto de técnicas de interpretação com a finalidade de 22 descrever, decodificar, traduzir, apreender o significado, e não a frequência de certas ocorrências. Para as pesquisas quantitativas, os autores apresentam que o método se utiliza de dados numéricos para interpretação na forma de gráficos e tabelas de valores. Segundo Gil (2008), as pesquisas qualitativas têm o propósito de apresentar as características do fenômeno e a interpretação está diretamente ligada ao perfil do pesquisador, pois os métodos analíticos não têm fórmulas pré-definidas. O autor ainda determina que as pesquisas quantitativas têm o objetivo de medir alguma observação e apresentar esses valores de forma a chegar a uma interpretação coerente. Neste trabalho, avaliou-se que seriam aplicadas as pesquisas qualitativa e quantitativa combinadas a fim de trabalhar com o problema proposto. Foram utilizadas, a priori, as técnicas de pesquisa bibliográfica para se conhecer sobre assunto proposto e construir um quadro teórico. Em seguida, foi realizada a pesquisa aplicada com a técnica de estudo de caso, para se observar o fenômeno, fazer análises do objeto e obter os resultados. Gil (2008) mostra que o estudo de caso é estruturado pelo profundo exame de um ou poucos objetos, para permitir um maior conhecimento detalhado sobre o problema investigado. Para a pesquisa em questão, foi aplicada a técnica de estudo de caso por se tratar de um problema apresentado em um setor de uma empresa siderúrgica, na qual os dados foram disponibilizados para análise, aplicação de ações e resultados sobre o estudo. Cooper e Shindler (2016, p.168) definem estudo de caso como: [...] metodologia de pesquisa poderosa que combina entrevistas individuais (às vezes) em grupo de análise de registros e observação. Os pesquisadores extraem informações de folhetos anuais, recibos de vendas e artigos de jornais e revistas, com observação direta e as combinam com os dados da entrevista com os participantes, quando for o caso. Para Alyrio (2009, p.65), o estudo de caso consiste “em um estudo intenso de situações do passado que podem ser aplicadas em ocorridos presentes”. Ele é baseado na experiência, sendo necessárias análises e muitas pesquisas para conhecimento da situação. 23 O objetivo deste estudo de caso foi analisar como o indicador de perda metálica VZ auxilia na redução de perdas de processo e produto, na área de acabamento de tubos de aço sem costura. Isso, com a finalidade de apresentar o benefício do controle e redução das perdas de não qualidade no setor siderúrgico. Quanto à classificação, as fontes para a coleta de dados utilizada para efetivação do projeto foram secundárias, uma vez que os dados de pesquisa estão disponíveis na empresa e já são trabalhados em um sistema que os estabelece em forma de tabela ordenada, facilitando sua manipulação para entendimento do problema. Abrão (2002, p.21) estabelece para fonte secundária: [...] é toda fonte escrita (manuscrita ou impressa), oral e visual que trata do tema investigado de modo indireto ou em segunda mão. De um modo geral através da fonte secundária, a aproximação do pesquisador ao tema em foco é sempre indireta medida pelo autor (no caso de fonte escrita, de um livro, por exemplo) que comenta, analisa criticamente ou apenas expõe aquilo que julga importante ou que lhe interessa apresentar ao leitor. Portanto, compreende-se que nesse projeto a fonte de dados foi secundária, já que a informação é usada na empresa para verificação de produtividade e resumo de passagem de turnos. Também foram utilizadas fontes primária para realização do brainstorming. Para garantia de plenitude do projeto, foram utilizados 100% dos dados ou da população referente à perda metálica do ano de 2015 da linha de acabamento de tubos de aço sem costura, o que pode ser considerado de total confiança para embasar este trabalho, já que estatisticamente, como assegura Silvestre (2007), uma população de dados é a apresentação mais completa de uma coleção de dados. Para recurso de obtenção dos dados, foram usados registros institucionais, ou seja, informações do banco de dados da empresa. De acordo com Gil (2008, p.166), registros institucionais ou pesquisa documental são fontes: [...] capazes de proporcionar ao pesquisador dados em quantidade e qualidade suficiente para evitar a perda de tempo e o constrangimento que caracterizam muitas das pesquisas em que 24 os dados são obtidos diretamente das pessoas. Sem contar que em muitos casos só se torna possível realizar uma investigação social por meio de documentos. Para fins de pesquisa científica são considerados documentos não apenas os escritos utilizados para esclarecerdeterminada coisa, mas qualquer objeto que possa contribuir para a investigação de determinado fato ou fenômeno. Aplicando como base o autor anterior, os registros institucionais fornecem dados com qualidade e quantidade eficiente para estudo da pesquisa proposta. Assim, a realização desta pesquisa teve como escopo as perdas metálicas que cada um dos produtos fornecidos por esta linha de acabamento teve durante seu processo produtivo no ano de 2014, para melhoria durante os anos de 2015 e 2016. Foram estabelecidas 27 famílias de materiais, divididos por suas características como diâmetro, parede, tipo de acabamento e necessidade de tratamento térmico. Essa distribuição e caracterização foram apoiadas nos conceitos de Lean para facilitar o entendimento do comportamento e monitorar quais foram os motivos das perdas. Após definição das famílias de materiais, foi realizado o cálculo do VZ de todas elas, utilizando toda a base de dados disponibilizada pela empresa em um sistema automático utilizado pela linha de produção para controle de motivos e locais onde ocorrem os sucateamentos. E também foi calculado o VZ global da linha de acabamento levando em conta o total de perda mensal. Essa fase foi realizada pelo grupo de trabalho montado para essa atividade, assim todos puderam entender como seria o funcionamento desse indicador criado para monitoramento de perdas. Vale ressaltar que as metas foram definidas pela diretoria de produção da instituição. Seguinte aos cálculos, o grupo de trabalho partiu para definição das ferramentas de qualidades que seriam aplicadas no trabalho, e devido a necessidade de rápida atuação neste processo, ficou-se definido que as ferramentas de análise mais rápida seriam aplicadas a fim de acelerar o processo e conseguir os retornos imediatos para a empresa em estudo. Posteriormente à aplicação as ferramentas caminhou-se para implementação de ações e análise dos resultados que as mesmas estão trazendo para o projeto de redução de perdas. E o controle do indicador se tornou uma rotina 25 para analisar como estava sendo o desempenho do grupo em sua atuação e quais os resultados da linha de acabamento dentro do contexto da empresa como um todo. 26 4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA EMPRESA E DO SETOR DE ANÁLISE O local adotado para condução da pesquisa foi o complexo siderúrgico produtor de tubos de aço sem costura, situado a 100 km de distância da capital do estado de Minas Gerais - Belo Horizonte - que entrou em operação em 2011 e possui uma área industrial de 2,5 milhões de m2. Aplicando o que há de mais avançado em tecnologia, o complexo possui uma laminação com capacidade instalada de 600 mil toneladas de tubos de aço sem costura. Seus produtos têm alto valor agregado e respondem à demanda do setor petrolífero mundial (VSB, 2016). O complexo siderúrgico é considerado uma usina integrada composta de vários recursos pertinentes à produção do tubo de aço sem costura. Como objeto de estudo, o recurso em análise é de uma das linhas de acabamento que faz ajustagens, provém material para clientes internos dentro da própria usina e também fornece produtos aos clientes finais. O setor de acabamento em análise, dentro do contexto, é conhecido como área a frio, pois nem todos os processos utilizam altas temperaturas e também não ocorrem etapas de transformação - tem-se apenas a finalização dos produtos e pequenas variações na temperatura devido à movimentação nos equipamentos. A área de acabamentos está localizada ao final da cadeia produtiva e, após o processamento do produto nesta, está liberado para armazenamento na área de expedição da logística. Os equipamentos localizados nessa área são relacionados para testes de qualidade e processamento no corpo e ponta dos tubos, de acordo com a necessidade e especificidade do cliente. A figura 4 abaixo apresenta um fluxograma dos processos que compreendem o setor de acabamentos: 27 Figura 4 - Fluxograma de processos Os processos apresentados na figura 5 demonstram como é sequenciado cada uma das fases que o produto deve realizar na linha de acabamento que será utilizada como objeto da pesquisa. Na mesa de entrada ocorrem identificação e entrada dos tubos na linha produtiva. O teste hidrostático é o processo responsável por fazer o teste de pressão no interior dos tubos para garantia de suas propriedades mecânicas. Em sequência o Drift avalia se o diâmetro interno dos tubos está dentro das especificações do cliente. Já o UT3 é um ensaio não destrutivo conhecido com Ultrasson que avalia defeitos na estrutura interna do material. Por sua vez, as chanfradeiras são os processos de usinagem nas extremidades dos tubos. O VD (visual dimensional) é atividade realizada por operadores que avaliam o tubo em aspectos de qualidade de superfície e o laqueamento compreende a Fonte: Dados da Pesquisa (2016). 28 aplicação da camada protetora sobre os tubos. Por fim, o processo final de embalagem é a preparação dos mesmos para estocagem logística. 29 5 APRESENTAÇÃO DE DADOS E RESULTADOS A pesquisa teve seu início devido à demanda estabelecida pela diretoria de produção referente à redução das perdas em todos os recursos produtivos da usina, a fim de frear os custos e maximizar os lucros do produto final. Foram utilizadas as informações de perdas de processo e sucateamento dos tubos que ficam armazenadas em uma base de dados online, abastecida pela operação durante a manufatura dos produtos turno a turno. Essa base de dados contém todas as informações dos motivos, horários e locais onde ocorreram a (s) perda (s). Esses dados são extraídos em formato de tabela, facilitando sua manipulação e parecer para tomada de decisão. Para as análises das perdas, foi montada uma equipe multidisciplinar de trabalho formada por colaboradores de áreas de produção, qualidade, planejamento, engenharia de produto e manutenção ligados ao processo produtivo de acabamento, cada qual com uma visão diferente sobre os meios para realizar a melhoria e redução das perdas. Decidiu-se que a base de dados de janeiro a dezembro de 2014 seria usada para início dos trabalhos. Posteriormente, durante os anos de 2015 e 2016, a análise deveria ser realizada todos os dias e discutida no grupo de melhoria semanalmente, para controlar o processo de forma mais efetiva. Os estudos foram feitos com base nos conceitos do Lean e utilizaram-se as ferramentas da qualidade para monitorar as ações e seus efeitos no processo como um todo. Foi calculado e implementado o indicador intitulado de VZ, que mede o índice de perda metálica por família de produto. Esse indicador foi apresentado como balizador de acompanhamento das atividades no processo de acabamento. O trabalho teve seu início no mês de fevereiro de 2015, com a definição e divisão das 27 famílias de materiais que são produzidos na linha de acabamento. Após essa etapa, a base de dados das perdas e sucateamento de tubos do ano de 2014, de janeiro a dezembro, foi extraída do sistema automático de apontamento para servir de referência para os trabalhos. Apesar dos dados se apresentarem em formato tabelado, foi 30 necessário que as devidas manipulações fossem realizadas, a fim de se estabelecer a quantidade de material empregado. Para aprofundamento, as famílias foram divididas deacordo com a seguinte ordem: tipo de material LinePipe (LP - tubo com as extremidades chanfradas e aplicação final do cliente) e tubos Ponta Lisa (PE - material que sofre acabamento final nos clientes internos ou externos), faixa de diâmetro (OD), tratamento térmico (tratado e não tratado) e parede (fina, média e grossa). As 27 famílias, de acordo com sua classificação, são exibidas no quadro 1: 31 Quadro 1 - Divisão de família de produtos Fonte: Dados da pesquisa (2016). Isto posto, tem-se 15 famílias de materiais ditos como LinePipe de aplicação final do cliente, os quais a faixa de diâmetro e parede são objetos de classificação e diferenciação desses materiais. Nestes, o tratamento térmico não se aplica, pois a empresa em estudo não trabalha com materiais tratados dessa classe. Para os do tipo PlainEnd (PE), compreendidos entre as famílias 16 e 25, não se aplica a característica de parede; assim, a faixa de diâmetro e tratamento térmico são os atributos de distinção. E, finalmente, nas duas últimas famílias ditas como experiência e reparo, não são aplicadas características de diferenciação, porque compreendem materiais de testes ou novos - em início de produção na planta. Para a família 26 de experiência e 32 para a família 27 de reparo, são inseridos os materiais que necessitam ser corrigidos problemas de qualidade, já identificados nos vários outros setores da empresa em objeto de estudo. O modelo de cálculo de VZ também foi apresentado e relaciona a quantidade de material empregado, ou seja, o que entra na linha de produção e o que sai produzido em unidade de peso. Significa dizer o quanto é necessário para se produzir 1000 kg de tubo. O detalhamento do cálculo segue a estrutura abaixo: As definições de famílias e o modelo de cálculo foram os pontos de partida para aplicação e utilização da base de dados. A primeira questão para o estudo aborda uma análise dos VZ's em 2014: “Quais os motivos que geraram as perdas na linha de acabamento no ano de 2014, compreendido entre os meses de janeiro a dezembro?”. Por se tratar de uma linha de acabamento/ajustagem em que não ocorrem transformações, o grupo observou que os principais problemas poderiam ocorrer em três equipamentos distintos: i) no teste do Ultrassom, equipamento responsável por detectar defeitos internos; ii) na Chanfradeira, responsável em facear e chanfrar as pontas do tubo de acordo com a necessidade; iii) no equipamento Laque UV, responsável em aplicar uma camada protetora e marcação técnica nos tubos. Conhecendo o procedimento, viu-se que os sucateamentos decorrentes dos processos realizados nesses equipamentos eram os principais motivos e as perdas intrínsecas ao processo não se mostraram tão relevantes. Para essa etapa, utilizou-se o brainstorming, onde toda equipe participou e um responsável da produção atuou como moderador anotando tudo que era discutido pela equipe, essa etapa foi realizada na segunda reunião e partir das definições dos problemas, o trabalhou para resolução se iniciou, conforme apresentado no quadro 2: 33 Quadro 2 - Brainstorming dos problemas Fonte: Dados da pesquisa (2016) O quadro 2 foi formulado após a segunda reunião do grupo, em que, ainda sem definição dos valores dos pontos de VZ, foi aplicado somente o conhecimento prévio dos envolvidos na área. Desse modo, o brainstorming indicou quais desvios deveriam ser tratados primeiramente pela equipe. A primeira visualização foi em relação à governança no processo de sucateamento, o qual os tubos eram sucateados sem uma análise mais aprofundada de possível recuperação. Em seguida, foram mencionadas as sucatas que ocorriam no Ultrassom, que poderiam ser três casos: problemas do fornecedor anterior, falta de gráfico no teste de US e também supressão de pontas desnecessárias por interpretação incorreta do requisito aplicado internamente, exceto quando a solicitação vinha do cliente final. O outro ponto de geração de perdas mencionado no Laque UV poderia ser por motivo de marcação incorreta ou camada protetora. Depois foi levantado o faceamento, realizado nas extremidades dos tubos para garantia da perpendicularidade da face, que deveria ser garantida pelo fornecedor anterior, mas não ocorria. Por fim, o maior desvio que ocorria na linha e foi unanimidade no brainstorming decorreu dos defeitos 34 provenientes do fornecedor interno anterior, no caso a Laminação, que somente seriam detectados no processo de VD (Visual dimensional), sendo esse o grande desafio a resolver. Os seis principais desvios foram colocados para ação imediata até que a análise numérica fosse concluída e os pontos de VZ contabilizados. A segunda questão da influência das perdas no processo de acabamento era compreender: “Como as perdas tendem a gerar influência negativa no processo de acabamento?”. Aplicando a forma do VZ, chegou-se ao valor de 1,067 pontos, ou seja, para produzir 1000 kg de tubos era necessário empregar 1067 KG, isto é, perdia-se 67 KG de tubos para cada 1000 KG que saía como produto perfeito da linha de acabamento. Os números de produção de 2014 foram 114.165 ton. e as perdas de processo, sucateamento e na produção foram de 7.644 ton.. Assim, atribuindo um tubo com peso médio de 1000 KG, foi perdido em torno de 7000 tubos. Concedendo um valor fictício de R$ 4000,00 por tubo, baseado no valor médio do produto no mercado de tubos de aço sem costura, temos uma perda estimada em R$28.000.000,00 com não qualidade durante o ano de 2014. Valores expressivos que a empresa esperava compensar a partir da realização desse trabalho. Com o valor do VZ de 2014 calculado em 1,067 pontos, a meta definida pelo comitê da diretoria foi de 1,045 pontos, ou seja, uma redução acumulada durante o ano de 22 pontos. Desses 1067 pontos, foram definidos que dois pontos eram do processo em funcionamento normal. Dessa forma, os outros 65 pontos eram provenientes de perdas, desvios e outros. Com a aplicação da formula do VZ nas 27 famílias chegou-se aos seguintes números: 35 Quadro 3 - VZ por família de produto Fonte: Dados da pesquisa (2016) O VZ de processo é considerado como perda esperada, pois se faz necessário devido atuação dos equipamentos de usinagem que atuam nas famílias (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15) o monitoramento deve ocorrer para que as perdas não sejam maiores por má qualidade de material ou problemas nos equipamentos. Já o VZ de qualidade é a perda devida problemas que o material tem, proveniente dos setores anteriores ou da linha de acabamento, esse problemas podem ocasionar sucateamento de todo o tubo ou partes, por isso apresentam mais impacto para os números do setor. Das 27 famílias apresentadas, seis (3, 9, 15, 20, 22 e 25) não exibiam valores por não terem sido produzidas no ano de 2014, mas foram definidas e delimitadas dentro da metodologia proposta do trabalho. Das 21 famílias produzidas, 16 (1, 4, 5, 6, 7, 8, 10, 11, 12, 13, 14, 18, 19, 24, 26 e 27) apresentavam números maiores que a meta de 1,045 pontos de VZ, assim a redução nessas 18 famílias foi fundamental para que o número chegasse à meta definida. Já as famílias de experiência e reparo, 26 e 27, respectivamente, manifestaram uma característica particular a qual as perdas 36 são necessárias, pois tratam de materiais que estavam sendo testados para vendas futuras e o reparo os considerava já com problemas. No primeiro momento, foram medidos e controlados,no entanto, não teriam ações iniciais para redução. Para as 5 famílias (2, 16, 17, 21 e 23) que estavam dentro da meta definida de 1,045 foi preciso apenas monitorar e garantir que não se desviassem da meta. O VZ pode ser entendido como a quantidade necessária de material para atendimento planejado de um volume proposto pelo cliente. Deste modo, um número não verdadeiro pode significar o não atendimento e reprogramação de material, ou ainda, um número melhor que o planejado pode significar superprodução. Ambos os problemas foram apresentados nos sete tipos de desperdícios da gestão Lean que devem ser reduzidos. Por isso, foi solicitado ao comitê por parte da diretoria uma análise crítica e a correção no sistema de produção de todos os materiais da usina. Para esta correção, foi utilizada a função histograma com o auxílio do software Minitab. Usou-se o material 600946, escolhido aleatoriamente para exemplificar o processo, o mesmo está compreendido na família 17, e conforme apresentado na tabela de famílias podemos classificar o mesmo como sendo um PlainEnd de diâmetro 177,80<OD<=219,1 mm com tratamento térmico. Segue apresentado na figura 6. 37 Figura 6 - Histograma Minitab Fonte: Dados da pesquisa (2016) Com os dados de média de 1,025 pontos, aplicou-se o desvio padrão encontrado de 0,010 pontos para definir o mínimo de 1,005 e máximo de 1,035 de VZ. Os valores eram corrigidos caso os desvios se apresentassem fora do calculado para o número do VZ planejado, dentro do sistema de programação de matéria-prima. Para todas as famílias, foram analisados os vários materiais produzidos e as correções feitas a cada três meses relacionando os dados apresentados. Um terceiro questionamento sobre as ações do grupo de trabalho foi compreender: “Quais ações realizadas a fim de eliminar os desperdícios de produção por perdas e sucateamento?”. As ações foram determinadas de acordo com os desvios levantados no brainstorming e, conforme já apresentado anteriormente, estas ações foram aplicadas em busca dos resultados com retorno mais rápido. Os desvios gerados na linha acabadora são poucos, uma vez que seus tipos de processos são mais simples. Desse modo, o primeiro levantamento de ações compreendeu a grande maioria dos problemas e ficou-se definido que, se ocorressem desvios que ainda não estivessem monitorados no primeiro estudo do grupo, as análises seriam realizadas no dia posterior e as ações empregadas o mais rápido possível a fim de acertar os novos desvios. No 38 quadro 4 seguem as ações levantadas na base dos desvios da linha acabadora: Quadro 4 – Plano de Ações Fonte: Dados de Pesquisa (2010) . Todos os problemas identificados tiveram ações para correção. Já as ações relacionadas ao fornecedor anterior foram definidas como de maior ganho, porém em relação às mais complexas, por estarem fora da área da linha produtiva em que o grupo atuava, foi necessário criar uma reunião semanal para estudos, análises prévias e feedbacks após a produção. Uma intervenção de longo prazo que não foi relacionada, mas é importante citar, foi a de criação do apontamento de VZ automático no sistema BW (Business Work), concluída em setembro de 2015, proporcionando análises mais rápidas já que a manipulação e cálculo passaram para modo automático. O acesso à base passou a ser por dia, semana, tipo de material, melhorando a sistemática para correção, o que possibilitava o acerto do VZ planejado mensalmente. O quarto questionamento leva em consideração como foram as reduções, no sentido de entender: “Qual foi o resultado do VZ após aplicação das ações?”. 39 No início de 2016, após quase um ano de trabalhos, na mesma sistemática de análise e correção dos problemas, o valor geral se apresentou da seguinte maneira: Figura 7 – Gráfico de resultado do VZ Fonte: Dados da pesquisa (2016) O resultado, segundo apresentado, superou a meta de 1,045 em quase todos os meses, exceto no mês de fevereiro em que foi de 1,048 pontos de VZ, mas vale ressaltar que o trabalho foi iniciado nesse mês. Em termos globais houve redução de 42 pontos de VZ, valor este que foi além da meta estipulada de 1,045 pontos. À vista disso, foi possível chegar a dezembro de 2015 com um VZ acumulado de 1,025 pontos. Essa redução em valores representou aproximadamente R$ 5.000.000,00/ano relacionando a economia com perdas de material e ocupação de processos produtivos. Ressalta-se que, o modelo de cálculo para se chegar a esse valor não pode ser apresentado por definição e garantia de sigilo da empresa estudada. Porém, o valor reduzido é relevante para a empresa no momento de crise e necessidade de reduções de custos. Como pode ser observado, em julho, agosto e setembro não ocorreram apontamentos do VZ, pois nestes meses, devido à crise econômica vivida pelo país, a empresa utilizou um programa de proteção ao trabalhador e colocou aproximadamente 90% dos 40 colaboradores em treinamento fora da planta. Por tal razão, não ocorreu produção nesse período. O último questionamento que se relaciona à continuidade do projeto foi: “Como ficou o processo de controle da não qualidade na linha de acabamento?”. A partir do início do ano de 2016, com os ótimos resultados apresentados, a empresa optou por colocar o VZ como um indicador fixo para monitoramento da não qualidade. Assim, a análise é realizada no sistema automático, material a material, realizando a comparação do planejado versus realizado. Dessa forma, o diagnóstico passou a ser mais minucioso e todo desvio ocorrido devia ter ações para correção dos problemas. O foco da empresa continuou sendo na Gestão Lean e com o VZ em controle, direcionando os trabalhos para novos processos descritos a partir dessa metodologia - modelo de gestão e controle. Após apresentação dos resultados, em que os maiores desafios foram as ações que deveriam ser implementadas em conjunto com os fornecedores internos, verificou-se que esse processo foi um pouco mais acessível do que se presumia, devido aos fornecedores internos também estarem com aplicação própria de trabalho de redução das perdas. As outras ações foram concluídas com sucesso e os resultados apresentados foram de grande importância para a organização. Cabe ressaltar que a mudança de cultura ocorreu, talvez, com as ações mais simples: definição da governança do processo de sucateamento e de quais etapas deveriam ser seguidas para realizar o procedimento de sucatear. Ademais, os números de redução para 1,025 pontos de VZ no resultado global, com 42 pontos abaixo da meta estipulada e a economia de R$5.000.000,00/ano mostraram a qualidade do trabalho desempenhado por toda a equipe do projeto. A partir da ajuda de todos os envolvidos no processo produtivo, houve a evolução no nível de melhoria contínua e diminuição considerável dos desperdícios da área de acabamentos. 41 CONSIDERAÇÕES FINAIS No que se refere aos objetivos definidos, ressalta-se que todos foram alcançados. Observou-se que através do brainstorming foi possível identificar os principais motivos que causavam perdas e, a partir disso, elas foram monitoradas e estudadas para dar início ao trabalho. Após essa primeira fase, as análises passaram a ser mais dinâmicas, com atuações mais rápidas a fim de minimizar os custos com desperdícios. O propósito de apontar os desperdícios que influenciavam no processo de acabamento foi alcançado
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