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SEMANA AULA 01 - APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO. - Finalidades da Introdução ao Estudo do Direito: • Fornecer uma visão global do Direito; • Demonstrar que as disciplinas jurídicas se complementam, ainda que haja autonomia doutrinária; • Estabelecer o sentido do vocabulário jurídico. O Direito, por ser uma ciência, possui linguagem própria; • A IED é o elo entre a cultura geral e a jurídica; • Fornecer as noções básicas do método jurídico. O que é Direito? Qual sua importância na sociedade? É o justo, o que está de acordo com a lei. É a capacidade que se tem de praticar ou não praticar um ato. O benefício que se tem de exigir de quem quer que seja, em proveito próprio, que pratique ou deixe de praticar algum ato. E, do mesmo modo, Direito é o conjunto de normas jurídicas em vigor em um país. O Direito é uma ordem da conduta humana. Uma "ordem" é um sistema de regras. O Direito não é, como às vezes se diz, uma regra. É um conjunto de regras que possui o tipo de unidade que entendemos por sistema. É impossível conhecermos a natureza do Direito se restringirmos nossa atenção a uma regra isolada. As relações que concatenam as regras específicas de uma ordem jurídica também são essenciais à natureza do Direito. "Apenas com base numa compreensão clara das relações que constituem a ordem jurídica é que a natureza do Direito pode ser plenamente entendida". O Direito é um fato ou fenômeno social que não existe senão na sociedade. O Direito estabelece os limites de ação de cada um de seus membros. O estudo da Introdução ao Estudo do Direito é a base que possibilita a construção de uma consciência jurídica e familiariza o estudante com a Ciência do Direito, introduzindo a terminologia técnico-jurídica necessária para a longa e agradável caminhada, rumo à sedimentação de seu conhecimento jurídico. Todas as leis tem caráter de obrigatoriedade? Não, algumas apenas conceituam determinadas situações (ex.: Art. 14, CP), outras apenas permitem que façamos alguma coisa, são uma possibilidade, uma faculdade (ex.: Art. 5º, IV, CF – livre manifestação do pensamento). Direito como um fato social "O fato social direito é a fonte principal das normas que regulam nosso comportamento enquanto vivendo em sociedade." Ato Jurídico X Fato Jurídico - Fato: qualquer acontecimento. - Fato jurídico: qualquer acontecimento regulado pelo direito (LEI). É um acontecimento especial, porque o direito regulou aquele acontecimento. - Ato: qualquer acontecimento originado de nossa vontade. Ex.: namoro. - Ato jurídico: qualquer acontecimento originado de nossa vontade e regulado pelo direito. Ex.: casamento. SEMANA AULA 02 - A SOCIEDADE E O DIREITO - RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA. O direito e a moral O que é moral? São os valores culturais de cada sociedade, regras de convívio. Nem todas as regras morais são regras jurídicas. A semelhança é que ambas são formas de controle social. A moral é autônoma (surge do próprio indivíduo), enquanto o direito é heterônomo (imposto por um indivíduo exterior a ele). Uma das notas fundamentais do Direito é a coercibilidade. Entre os processos que regem a conduta social, apenas o Direito é coercível. A via normal de cumprimento da norma jurídica é a voluntariedade do destinatário, a adesão espontânea. Ou seja, o certo é que todos cumpram a lei espontaneamente. Mas, se isso não acontece, a coação se faz necessária, essencial à efetividade da norma. A Moral, por seu lado, não possui este elemento coativo. É incoercível. Nem por isso as normas da Moral social deixam de exercer certa intimidação. Consistindo em uma ordem valiosa para a sociedade, é natural que o descumprimento de seus princípios provoque uma reação por parte dos membros que integram o corpo social. Moral X Ética: A moral está mais relacionada aos costumes, sendo um conjunto de regras aplicadas no cotidiano, orientando cada indivíduo, norteando seus comportamentos e julgamentos. Os valores são pré-estabelecidos pela própria sociedade. A ética, por sua vez, está mais ligada a o “modo de ser”, ao “caráter” do indivíduo. É um tipo de postura que se refere a um modo de ser, à natureza da ação humana. A influência da moral no Direito Os campos da Moral e do Direito entrelaçam-se e interpenetram-se de diversas maneiras. As normas morais tendem a converter-se em normas jurídicas. A principal diferença entre a Moral e o Direito está objetivamente na sanção (punição). A moral, em razão do fim a que se destina, só permite sanções de foro íntimo (remorso, arrependimento, desgosto íntimo, sentimento de reprovação geral). Mas, sob o aspecto social, essa sanção não é eficaz, porque não se submetem a ela aqueles que não tenham consciência ética. O Direito, ao contrário, tem na sanção um mecanismo eficaz para coagir os indivíduos. Sem esse elemento coercitivo, não existiria segurança nem justiça eficazes para a humanidade. Obs.: Teoria dos Círculos: O Direito como instrumento de controle social Para que a sociedade sobreviva é necessário que os conflitos sejam resolvidos (compostos) e para tanto, os membros dos grupos sociais dispuseram de vários meios com o objetivo de estabelecer limites às ações humanas e promover o equilíbrio à sociedade. Vejamos dois desses meios: SEMANA AULA 03 – A HISTÓRIA DO PENSAMENTO JURÍDICO. Direito Natural – O Jusnaturalismo Chama-se jusnaturalismo a corrente de pensamento que reúne todas as ideias que surgiram, no decorrer da história, em torno do direito natural. Acredita-se que existe uma ordem superior àquela escrita, e que seria a expressão do Direito justo. Direito Natural X Direito Positivo O Direito Natural é um direito espontâneo, não escrito, que se origina na própria natureza social do homem e é revelado pela conjugação da experiência e razão. É o direito justo por natureza. É constituído por um conjunto de princípios, e não de regras, de caráter universal, eterno e imutável. Ex.: O direito à vida e à liberdade. O Direito Positivo é aquele institucionalizado pelo Estado. É a ordem jurídica obrigatória em determinado lugar e tempo. Ex.: A Constituição Federal e as leis. Quando o Direito Positivo é criado sem a observância do Direito Natural é que são criadas as leis injustas. O Direito Natural tem como premissa de que o juízo de valor prevalece sobre a lei positiva. O Direito Natural possui três vertentes básicas: 1) É uma lei estabelecida pela vontade divina – É a concepção teológica (religiosa) do Direito Natural. Os deuses seriam os responsáveis pela criação das regras de conduta, que irão disciplinar a vida em sociedade, sendo as autoridades humanas meras porta-vozes desta vontade superior; 2) É uma lei natural, aplicável universalmente – É a concepção cosmológica do Direito Natural. A realidade não é mais vista como uma emanação da vontade divina e sim como resultado de uma racionalidade observada no próprio funcionamento da natureza, cujos fenômenos podem ser explicados racionalmente. 3) É uma lei racional ou individualista – É a concepção racionalista do Direito Natural. Como ser dotado de racionalidade, o homem lança mão de seu intelecto e da experiência na organização da sociedade política e na produção do Direito Positivo, que deve obedecer a parâmetros gerais ditados pela razão humana. O declínio do Direito Natural No Século XIX deu-se, pela primeira vez, uma separação rigorosa entre o Direito e a Moral. Com as revoluções burguesas da segunda metade do Século XVIII, principalmente a Revolução Francesa de 1789, afirmaram-se princípios jurídicos como legalidade, separação dos poderes e isonomia. Deixaram de lado fontes históricas tradicionais,como o Direito Costumeiro e o próprio Direito Natural, tidas como casuísticas e irracionais. Assim, investiu-se na racionalização e sistematização do Direito, cujo documento referencial foi o “Código de Napoleão” (Código Civil Francês de 1804), base do positivismo jurídico francês. O debate jurídico passou a girar em torno do formalismo e do legalismo de correntes do positivismo jurídico. O POSITIVISMO JURÍDICO Surgiu em decorrência da racionalização e sistematização do Direito, afastando as considerações de ordem moral, que impossibilitavam a criação de um direito impessoal e igual para todos. Em seu afã de focalizar apenas os dados fornecidos pela experiência, o positivismo despreza os juízos de valor, para se apegar apenas aos fenômenos observáveis. Traço marcante do positivismo é o total ceticismo em relação ao ideal de justiça. Para os positivistas, fora o direito reconhecido pelo Estado e em suas leis, não há direito. O direito identifica-se com o direito estatal, na dependência da vontade do legislador, na tradição europeia continental ou nos precedentes jurisprudenciais, na tradição anglo-saxônica do Common Law (Direito Comum). Os casos são resolvidos com base no texto legal e também com base nas decisões proferidas em casos anteriores. As correntes do positivismo jurídico As ideias positivistas são provenientes de duas escolas principais: Escola da Exegese (França) e o Pandectismo Jurídico (Alemanha). A Escola da Exegese tinha caráter formalista, legalista, codicista e livre de qualquer aspecto moral ou fático. Defendia que somente o Estado poderia criar o direito. Foi assim intitulada porque o seu objeto de estudo era o Código de Napoleão, sendo a palavra “exegese” sinônimo de “interpretação”. Para esta escola, o código tinha solução para todos os problemas. O Pandectismo Jurídico (Jurisprudência Conceitual) se identificava com as premissas metodológicas (formalismo, sistematicidade etc) da Escola da Exegese mas, diferente desta, era uma escola que se identificava não com o Código de Napoleão e sim com a doutrina, representada por grandes juristas. Defendia a imperatividade dos conceitos jurídicos como, por exemplo, “direito objetivo”, “direito subjetivo”, “propriedade”, “obrigação”, etc, formados a partir da generalização dos casos solucionados pela jurisprudência romana da Antiguidade. Esta escola deu origem aos fundamentos da Teoria Geral do Direito. O NORMATIVISMO JURÍDICO As tendências de perfil factualista dominavam o debate jurídico das primeiras décadas do Século XX, quando surgiu a figura de um autor austríaco, chamado Hans Kelsen, que mudará por completo o foco do debate da Teoria Geral do Direito, ao questionar tais enfoques, investindo da proposta de construção de uma metodologia própria para a Ciência do Direito. O divisor de águas foi a teoria normativista do austríaco Hans Kelsen, com sua “Teoria Pura do Direito”. O normativismo kelseniano consiste basicamente na defesa da construção de parâmetros metodológicos próprios para a ciência do Direito, expressos na denominada Teoria Pura do Direito, que não fossem uma mera importação das ciências sociais e humanas do século XIX, tampouco a reprodução dos paradigmas teóricos próprios das ciências naturais e exatas. Com base na Teoria Geral do Estado para desenvolver uma teoria sobre o ordenamento jurídico, Kelsen partiu da premissa de que o direito representa uma expressão formal da soberania estatal, não sendo um produto da natureza ou de fatos e sim um resultado da vontade política do Estado. A ordem jurídica formaria uma pirâmide normativa e hierarquizada, onde cada norma se fundamentaria em outra e a chamada Norma Fundamental legitimaria toda a estrutura normativa. O objeto da Ciência do Direito seria o estudo apenas da norma jurídica. A teoria pura do Direito Kelsen adotou uma ideologia essencialmente positivista no setor jurídico, desprezando os juízos de valor, rejeitando a ideia do Direito Natural, combatendo a metafísica. A teoria que criou se refere exclusivamente ao Direito Positivo. O Direito seria um grande esqueleto de normas, comportando qualquer conteúdo fático e axiológico. Para Kelsen, justiça é a aplicação da norma jurídica ao caso concreto. A justiça seria apenas um valor relativo. O centro de gravidade da Teoria Pura localiza-se na norma jurídica. A norma jurídica expressa, pela versão definitiva de Kelsen, um mandamento, um imperativo: “Se A é, B dever ser”, em que “A” constitui um suposto e “B”, a consequência. O conteúdo da norma, para Kelsen, não influencia em sua validade, que observa somente a forma de produção. A aferição (medição) da validade da norma jurídica não se deveria à prescrição nela contida, mas sim à sua posição topográfica na estrutura do ordenamento jurídico e a sua harmonia com as demais normas. A questão do conteúdo da norma somente tem relevo na Teoria Pura do Direito para fins de aferição de validade normativa, em função de um parâmetro de autoridade hierárquica das normas: o conteúdo das normas superiores no ordenamento é determinante do conteúdo das normas inferiores. A pirâmide jurídica e a Norma Fundamental A estrutura normativa, objeto da ciência do Direito, apresenta-se hierarquizada. As normas jurídicas formam uma pirâmide apoiada em seu vértice, estando no ápice a Norma Fundamental (Norma Hipotética). A graduação da pirâmide pode ser assim demonstrada: Norma Fundamental, constituição, lei, sentença, atos de execução. Crítica: O que seria Norma Fundamental? Estado e Direito são iguais? A TEORIA TRIDIMENSIONAL DE MIGUEL REALE Para Miguel Reale, o direito é a síntese histórica de dois elementos pertencentes a realidades diferentes: fato (econômico, geográfico, demográfico etc.) e valor (justiça, ordem, garantia etc.), concretizados dialeticamente na norma jurídica. Assim, o fenômeno jurídico, qualquer que seja a sua forma de expressão, requer a participação dialética do fato, valor e norma, ou seja, “um elemento de fato, ordenado valorativamente em um processo normativo”. O Direito é uma realidade cultural, porque é o resultado da experiência do homem. A bilateralidade é essencial ao Direito. A bilateralidade-atributiva é específica do fenômeno jurídico, de vez que apenas ele confere a possibilidade de se exigir um comportamento. SEMANA AULA 04 – O DIREITO COMO CIÊNCIA E SUA METODOLOGIA. DIREITO NATURAL E DIREITO POSITIVO Direito Natural: considerado expressão da natureza humana ou dedutível dos princípios da razão, o direito natural foi sempre concebido, pelos defensores desta teoria, como superior ao direito positivo, como sendo absoluto e universal por corresponder à natureza humana. O direito natural consiste na permanente aspiração de justiça que acompanha o ser humano. Direito Positivo: o direito positivo é assim denominado porque é o que provém diretamente do estado (do latim jus positum: imposto, que se impõe), vem a ser também, a base da unidade do sistema jurídico nacional. Diferenças entre o Direito Positivo e o Direito Natural: o primeiro é o ordenamento jurídico em vigor num determinado país e numa determinada época; o segundo, o ordenamento ideal, correspondente a uma justiça superior e suprema. DIREITO SUBSTANTIVO E DIREITO ADJETIVO O Direito Substantivo (material) é o conjunto das regras criadas pelo estado que normatiza a vida em sociedade definindo relações jurídicas, constitui o chamado direito material. O Direito Adjetivo (processual) consiste nas regras de direito processual que regulam a existência dos processos, bem como o modo destes se iniciarem, se desenvolverem e terminarem. O direito formal ou "adjetivo" diz respeito à processualística, ou seja, à forma pelaqual se aplica o direito material. Direito objetivo é composto pelas normas jurídicas, as leis, que devem ser obedecidas rigorosamente por todos os seres humanos que vivem na sociedade que adota essas leis. O seu descumprimento dá origem a sanções. O Direito subjetivo, também chamado facultas agendi (faculdade de agir), é o poder de exigir uma determinada conduta de outrem, conferido pelo direito objetivo, pela norma jurídica. Direito Absolutos e Relativos Os direitos absolutos são aqueles que se opõem de forma erga omnes (geral), irradiando efeitos em todos os campos e impondo à coletividade o dever de respeitá-los. Direitos relativos os que se opõem ou obrigam apenas os sujeitos da relação jurídica. Direito Patrimonial é aquele onde é possível a averiguação econômica do direito pretendido, como por exemplo, um dano a um veículo que gera danos materiais. Por outro lado, Direito Extrapatrimonial é aquele impossível de se aferir um valor econômico, pois inexistem critérios objetivos para tanto, como por exemplo, os direitos da personalidade (direito à imagem e direito à honra). Direitos Disponíveis são aqueles onde o titular poderá deles “abrir mão”, ou seja, não invocá-los, sendo até mesmo passíveis de transação (Ex.: Ter direito a uma reparação por danos morais e abrir mão desse direito ou então “trocá-lo” por outro). Direito Indisponíveis são aqueles tutelados pelo Estado e, mesmo que o titular não o queira, dele não poderá abrir mão (Ex.: Pagar alimentos aos filhos menores). Direitos Transmissíveis e Intransmissíveis – são os que podem ou não passar de um titular para outro, seja por absoluta impossibilidade do fato ou por determinação legal. Ex.: direitos reais e personalíssimos. Direito público e privado - os romanos utilizaram o critério da utilidade. Quando o objeto do direito era voltado para o interesse da coletividade este era tido como direito público, se o interesse era do particular este seria direito privado. REPÚBLICA = RES PUBLICA = COISA PÚBLICA O primeiro é o critério do conteúdo ou objeto da relação jurídica, também chamado de teoria dos interesses em jogo. Nesse critério, quando prevalece o interesse geral o direito é público, quando prevalece o particular o direito é privado. O segundo critério é relativo à forma da relação jurídica, ou teoria da natureza da relação jurídica. Assim, se a relação é de coordenação (partes envolvidas no mesmo patamar), trata-se, em regra, de direito privado. Se a relação é de subordinação trata-se, em regra, de direito público. O Estado é o subordinante (em regra) e a outra parte é o subordinado. Ramos do direito público: direitos constitucional, financeiro, tributário, internacional privado, administrativo, processual, ambiental, penal etc. Ramos do direito privado: direito civil, empresarial. SEMANA AULA 05 – TEORIA DA NORMA JURÍDICA. Norma jurídica: A norma jurídica é um comando, um imperativo dirigido às ações dos indivíduos, das pessoas jurídicas e demais entes. É uma regra de conduta social; sua finalidade é regular as atividades dos sujeitos em suas relações sociais. A norma jurídica imputa certa ação ou comportamento a alguém, que é seu destinatário. Segundo o Direito Positivo, a norma jurídica é o padrão de conduta social imposto pelo Estado, para que seja possível a convivência entre os homens. Paulo Nader conceitua como sendo a conduta exigida ou o modelo imposto de organização social. Segundo Orlando Secco, trata-se das regras imperativas pelas quais o Direito se manifesta, e que estabelecem as maneiras de agir ou de organizar, impostas coercitivamente aos indivíduos, destinando-se ao estabelecimento da harmonia, ordem e da segurança da sociedade. As palavras “norma” e “regras jurídicas” são sinônimas. Existe distinção entre norma e lei. Esta é apenas uma das formas de expressão das normas, que se manifestam também pelo direito costumeiro e, em alguns países, pela jurisprudência. Considerando-se, todavia, as categorias mais gerais das normas jurídicas, verifica-se que estas apresentam alguns caracteres que, na opinião dominante dos doutrinadores, são: bilateralidade, generalidade, abstratividade, imperatividade, coercibilidade e heteronomia. Características gerais da norma jurídica 1) Generalidade: Temos que a norma jurídica é preceito de ordem geral, que obriga a todos que se acham em igual situação jurídica. Da generalidade da norma deduzimos o princípio da isonomia da lei, segundo o qual todos são iguais perante a lei. 2) Abstratividade: As normas jurídicas visam estabelecer uma fórmula padrão de conduta aplicável a qualquer membro da sociedade. Regulam casos como ocorrem, via de regra, no seu denominador comum. Se abandonassem a abstratividade para regular os fatos em sua casuística, os códigos seriam muito mais extensos e o legislador não lograria seu objetivo, já que a vida em sociedade é mais rica que a imaginação do homem. 3) Bilateralidade: O Direito existe sempre vinculando duas ou mais pessoas, conferindo poder a uma parte e impondo um dever à outra. Bilateralidade expressa o fato de a norma possuir dois lados: um representado pelo direito subjetivo e o outro pelo dever jurídico, de tal modo que um não pode existir sem o outro, pois regula a conduta de um ou mais sujeitos em relação à conduta de outro(s) sujeito(s). 4) Imperatividade: Revela a missão de disciplinar as maneiras de agir em sociedade, pois o direito deve representar o mínimo de exigências, de determinações necessárias. Assim, para garantir efetivamente a ordem social, o Direito se manifesta através de normas que possuem caráter imperativo. Tal caráter significa imposição de vontade e não simples aconselhamento. 5) Coercibilidade: Possibilidade de uso da coação. Essa possui dois elementos: psicológico e material. O primeiro exerce a intimidação, através das penalidades previstas para as hipóteses de violações das normas jurídicas. O elemento material é a força propriamente, que é acionada quando o destinatário da regra não a cumpre espontaneamente. As noções de coação e sanção não se confundem. Coação é uma reserva de força a serviço do Direito, enquanto a sanção é considerada, geralmente, medida punitiva para a hipótese de violação de normas. Lei em sentido formal e em sentido formal-material: em sentido formal é a que atende apenas aos requisitos de forma (processo regular de formação), faltando-lhe caracteres de conteúdo, como a generalidade ou substância jurídica. Ex.: A aprovação, pela assembleia da Revolução Francesa, da lei que declarava a existência de Deus e a imortalidade da alma. Em sentido formal- material, a lei deve preencher os requisitos de substância e de forma. Lei Substantiva - Reúne normas de conduta social que definem os direitos e deveres das pessoas em suas relações. Ex.: Direito Civil, Penal, Comercial, etc. Lei Adjetiva - Aglutina regras de procedimento no andamento de questões forenses. Ex.: Lei de Direto Processual Civil, Direito Processual Penal, etc. OBS.: As Leis substantivas são, em regra, principais; As adjetivas são de natureza instrumental. AS DIVERSAS CLASSIFICAÇÕES DA NORMA As normas jurídicas podem ser classificadas levando-se em consideração diversos aspectos, dentre eles: Quanto ao TIPO DE COMANDO – leva em consideração o tipo de comando nela contido. Dividem-se em: a) Norma imperativa ou cogente: É aquela que exige de seu destinatário uma conduta positiva ou uma ação, sendo antijurídica qualquer atitude diferente da prescrita na lei ou a omissão. Ex.: Lei que exige o recolhimento do imposto de renda. b) Norma proibitiva: Pressupõe uma omissão por parte do destinatário da prática da conduta prevista pela norma. Neste caso o que se exige é um “não agir” por partedo destinatário da norma. Ex.: Não matar – art. 121 do CP. c) Norma supletiva: Este tipo de norma compreende aquelas situações em que a ordem jurídica cria um padrão de agir, mas permite ao destinatário optar por uma atuação diferente, de acordo com o princípio da autonomia privada. Ex.: Elaboração de legados ou testamentos. Quanto à AMPLITUDE – se refere ao alcance fático da hipótese contida na norma. Dividem-se em: Quanto ao ELEMENTO ESPACIAL – Na tipologia das normas, adota-se também um critério de abrangência territorial ou espacial, que está intimamente ligado às competências políticas em termos legislativos, fixadas pela Constituição e pelo Direito Internacional: a) Norma de Direito Internacional: As relações entre os Estados na ordem internacional contam com normas estabelecidas com base em tratados, convenções e costumes internacionais, cujo fundamento se encontra no princípio da “autolimitação da soberania”, segundo o qual, os Estados se submetem voluntariamente às regras de direito internacional, a elas aderindo e recepcionando no direito interno, de acordo com os pro- cedimentos previstos na legislação de cada país. b) Norma de Direito Interno: De modo geral, a norma jurídica é associada à norma de direito interno, que é criada pelo Estado, no exercício do seu poder soberano, e que se impõe a todos que se encontram em seu território. A Constituição brasileira adotou a forma federativa de Estado, na qual são atribuídas competências legislativas aos entes públicos: União, Estados e Municípios. Quanto ao ELEMENTO TEMPORAL: leva-se em consideração seu período de vigência: Quanto aos EFEITOS SOBRE O FATO: Matéria que é objeto de discussão aprofundada no ponto sobre aplicação da lei no tempo, a incidência da norma jurídica sobre os fatos ocorridos antes da sua entrada em vigor, também inspira uma classificação própria: Quanto às FONTES: a Teoria da Norma Jurídica é resultado de um tratamento genérico das diferentes fontes de direito e pretende identificar traços em comum entre elas, a fim de dar-lhes um tratamento padronizado. A classificação da norma segundo as fontes faz o caminho inverso, ao distinguir as normas em função da maneira como o direito se manifesta (lei, costume, analogia, princípios de direito, jurisprudência etc.). OS PLANOS DA VIGÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DA NORMA Vigência É a porta de entrada de uma norma no ordenamento jurídico. Pra que a norma disciplinadora do convívio social ingresse no mundo jurídico e nele produza efeitos, indispensável é que apresente validade forma, isto é, que possua vigência. Esta significa que a norma social preenche os requisitos técnico-formais e imperativamente se impõe aos destinatários. A sua condição não se resume a vacatio legis, ou seja, ao decurso de tempo após a publicação. Assim, não basta a existência da norma emanada de um poder, pois é necessário que satisfaça a determinados pressupostos extrínsecos de validez. Se o processo de formação da lei for irregular, não tendo havido, por exemplo, tramitação perante o Senado Federal, as normas reguladoras não obterão vigência. Note-se que nem todas as leis possuem vacatio legis, pois ela poderá entrar em vigor tão logo seja publicada. Obs.: o Código Civil brasileiro de 2002 teve um período de vacatio legis de 1 ano. Validade O campo da validade da norma jurídica situa-se em uma posição média entre a questão formal e material do direito. Levando-se em consideração que a norma inicialmente se incorpora à ordem jurídica (plano da vigência), a aferição da validade normativa consiste em verificar a compatibilidade da norma com o restante das normas do ordenamento jurídico. São hipóteses de invalidade das normas: Eficácia As normas jurídicas não são geradas por acaso, mas visando a alcançar certos resultados sociais. Como processo de adaptação social que é, o Direito se apresenta como fórmula capaz de resolver problemas de convivência e de organização da sociedade. O atributo eficácia significa que a norma jurídica produz, realmente, os efeitos sociais planejados. Para que a eficácia se manifeste, indispensável é que seja observada socialmente. A lei que institui um programa nacional de combate a determinado mal e que, posta em execução, não resolve o problema, mostrando-se impotente para o fim a que se destina, carece de eficácia. A rigor, tal lei não pode ser considerada Direito, pois este é o processo de adaptação social; é instrumento que acolhe a pretensão social e a provê de meios adequados. O desuso das leis e as leis anacrônicas Essas seriam situações excepcionais, em que uma norma jurídica é vigente, formalmente válida, mas não é socialmente aceita ou simplesmente não é aplicada no dia a dia. São leis em desuso ou leis anacrônicas, que têm o mesmo efeito em termos práticos (a ineficácia social da norma), mas que se diferenciam pelo aspecto temporal. SEMANA AULA 06 – TEORIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO Ordenamento Jurídico - um conjunto hierarquizado de normas jurídicas que disciplinam coercivamente as condutas humanas, com a finalidade de alcançar a harmonia e a paz social. O legislador procura, por meio da criação de normas jurídicas, proteger os interesses juridicamente relevantes. Na atualidade, o sistema jurídico possui uma estrutura predominantemente dinâmica – hierarquização normativa e interdependência entre as normas – com traços estáticos – importância dos valores da norma. As normas jurídicas não existem isoladamente, tampouco atuam de forma solitária. Ao revés, fazem parte de um “sistema”, devendo ser analisadas e interpretadas sempre levando em consideração todo o ordenamento, de forma harmônica. Para Paulo Nader, o ordenamento jurídico compreende “o sistema de legalidade do Estado, formado pela totalidade das normas vigentes, que se localizam em diversas fontes”. Obs.: Princípio da plenitude (completude) do ordenamento jurídico – O ordenamento não pode deixar de oferecer solução a nenhum litígio ou conflito capaz de abalar o equilíbrio, a ordem e a segurança da sociedade. Dessa forma, para que isso não ocorra, poderá suprir as lacunas do próprio ordenamento com outras fontes do Direito. HIERARQUIA E CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS As normas de um ordenamento não estão todas em um mesmo plano. Há normas superiores e inferiores. As normas inferiores dependem das superiores. Subindo das normas inferiores até aquelas que se encontram mais acima na estrutura do ordenamento, chega-se enfim a uma norma suprema, que não depende de nenhuma outra norma superior, e sobre a qual repousa a unidade do ordenamento: a Norma Fundamental. Podemos situar as normas do ordenamento jurídico em diferentes graus de hierarquia. Eis uma das mais citadas concepções de hierarquia das normas do ordenamento jurídico brasileiro: 1) Normas constitucionais: ocupam o grau mais elevado da hierarquia das normas jurídicas. Todas as demais devem subordinar-se às normas presentes na Constituição Federal, isto é, não podem contrariar os preceitos constitucionais. Quando contrariam, costuma-se dizer que a norma inferior é inconstitucional. 2) Normas complementares: são as leis que complementam o texto constitucional. A lei complementar deve estar devidamente prevista na Constituição. Isso quer dizer que a Constituição declara, expressamente, que tal ou qual matéria será regulada por lei complementar. 3) Normas ordinárias: são as normas elaboradas pelo Poder Legislativo em sua função típica de legislar. Exemplo: Código Civil, Código Penal, Código Tributário etc. 4) Normas regulamentares: são os regulamentos estabelecidos pelas autoridades administrativas emdesenvolvimento da lei. Exemplo: decretos e portarias. 5) Normas individuais: são as normas que representam a aplicação concreta das demais normas do Direito à conduta social das pessoas. Exemplo: sentenças, contratos etc. Obs.: Há hierarquia entre lei complementar e lei ordinária? O STF entende que não. Contudo, o STJ entende que a lei complementar é hierarquicamente superior em razão do seu quórum de aprovação. NORMAS, REGRAS E PRINCÍPIOS As normas jurídicas (gênero) se caracterizam por serem regras ou princípios jurídicos (espécies). As regras disciplinam determinada situação, podendo ser vislumbradas como “modos de agir” (padrão de comportamento). Quando tais fatos ocorrem, há incidência da norma. Não há meio termo. Ou existem ou não existem. Por sua vez, a palavra “princípio” exprime a ideia de começo, onde tudo se inicia. Princípios são as diretrizes gerais do ordenamento jurídico, sendo caracterizados como juízos abstratos de valor que orientam a interpretação e a aplicação do Direito. Violar um princípio é muito mais grave que violar uma norma. A diferença marcante entre as regras e os princípios, portanto, reside no seguinte: a regra cuida de casos concretos e os princípios norteiam uma multiplicidade de situações. O princípio da presunção de inocência, por exemplo, cuida da forma de tratamento do acusado bem como de uma série de regras probatórias (o ônus da prova cabe a quem faz a alegação, a responsabilidade do acusado só pode ser comprovada constitucional, legal e judicialmente etc.). Os princípios desempenham funções estratégicas, a saber: fundamentadora, interpretativa e supletiva ou integradora: por força da função fundamentadora dos princípios, é certo que outras normas jurídicas neles encontram o seu fundamento de validade. Os princípios, ademais, não só orientam a interpretação de todo o ordenamento jurídico, senão também cumprem o papel de suprir eventual lacuna do sistema (função supletiva ou integradora). Obs.: Art. 4º da LINDB – “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.” PODER CONSTITUINTE Trata-se do poder de elaborar e modificar normas constitucionais. Portanto, é o poder de estabelecer uma nova Constituição de um Estado ou de modificar uma já existente. É a expressão da vontade suprema do povo, social e juridicamente organizado. São duas as espécies de poder constituinte: originário e derivado. O poder constituinte originário ou de primeiro grau é o poder de elaborar uma nova ordem constitucional, ou seja, de criar uma Constituição, quando o Estado é novo (poder constituinte originário histórico), ou de substituí-la por outra, quando o Estado já existe (poder constituinte originário revolucionário). Portanto, é um poder inicial, ilimitado, autônomo e incondicionado. Por sua vez, o poder constituinte derivado, instituído pelo poder constituinte originário, é subordinado e condicionado. Subdivide-se em reformador, decorrente e revisor. O reformador modifica as normas constitucionais por meio das emendas, respeitando as limitações impostas pelo poder constituinte originário (artigo 60 da CF). SEMANA AULA 07 – TEORIA DA RELAÇÃO JURÍDICA Relação Jurídica: vínculo que une duas ou mais pessoas, cuja relação se estabelece por um fato jurídico, com regulamentação pela norma jurídica. No plano objetivo, relação jurídica é toda relação social tutelada ou regulada pelo Direito. No plano subjetivo, relação jurídica é o vínculo entre duas ou mais pessoas conferindo-se a uma ou algumas delas o direito subjetivo de exigir da outra o cumprimento de um dever. Em outras palavras, uma relação entre pessoas (relação social) se transforma em relação jurídica quando seus efeitos podem ser subordinados às prescrições e determinações legais. Portanto, nem toda relação social é jurídica, mas toda relação jurídica também é social. Personalidade jurídica: é a aptidão para possuir direitos e deveres, que a ordem jurídica reconhece a todas as pessoas. Em nosso Direito, esse reconhecimento é feito pelo art. 1º do CC – “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Há relação jurídica que se extingue tão logo é produzido o seu efeito (ex.: Relação entre motorista e passageiro do ônibus), bem como há também relação jurídica cujos efeitos são duradouros (ex.: Matrimônio). ELEMENTOS DA RELAÇÃO JURÍDICA São elementos da relação jurídica: 1) sujeito ativo; 2) sujeito passivo; 3) vínculo de atributividade e; 4) objeto. 1) Sujeito Ativo: pessoa que, na relação, ocupa a situação jurídica ativa, ou seja, é o portador do direito subjetivo que tem o poder de exigir do sujeito passivo o cumprimento do dever jurídico. Como na maioria das relações jurídicas as duas partes possuem direitos e deveres entre si, sujeito ativo é o credor da prestação principal. 2) Sujeito Passivo: é o elemento que integra a relação jurídica com a obrigação de uma conduta ou prestação em favor do sujeito ativo. O sujeito passivo é o responsável pela obrigação principal. 3) Vínculo de Atributividade: é o vínculo que confere a cada um dos participantes da relação o poder de pretender ou exigir algo determinado ou determinável. O vínculo de atributividade pode ter por origem o contrato ou a lei. 4) Objeto: o vínculo existente na relação jurídica está sempre em função de um objeto. As relações jurídicas são estabelecidas visando a um fim específico. É sobre o objeto que recai a exigência do sujeito ativo e o dever do sujeito passivo. O objeto recai sempre sobre um bem. Em função deste, a relação pode ser patrimonial ou não patrimonial, conforme apresente um valor pecuniário ou não. ESPÉCIES DE RELAÇÕES JURÍDICAS Podem ser classificadas, quanto à natureza: a) Principais: são aquelas cuja existência não depende de nenhuma outra relação jurídica (são autônomas). Ex.: Contrato de compra e venda. b) Acessórias: são aquelas cuja existência está diretamente determinada à existência e validade de uma relação principal. Ex.: Contrato de fiança. Podem ser classificadas, quanto à eficácia: a) Absolutas: são aquelas que se impõe erga omnes, ou seja, que vinculam aos seus efeitos todas as pessoas. Ex.: Propriedade, uso, habitação. b) Relativas: são aquelas cujos efeitos só se produzem entre as partes diretamente envolvidas na relação – interpartes. Ex.: Contratos em geral. Podem ser classificadas, quanto ao objeto: a) Reais: quando os seus efeitos incidem sobre bens. b) Obrigacionais: quando visa prestações específicas e geralmente economicamente apreciáveis. Aqui o objeto se denomina prestação e pode ser um “dar”, um “fazer” ou um “não fazer”. Podem ser classificadas, quanto aos seus titulares: a) Abstratas: não individualizam os seus titulares até que o fato seja praticado por alguém. b) Concretas: possuem os seus titulares perfeitamente individualizados.
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