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Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Direito – FD Disciplina: Teoria Geral do Processo 2 Professor: Dr. Vallisney Oliveira Alunas: Andressa Soares Costa (16/0002249) e Carolina Rodrigues de Oliveira (16/0004063) Ministério Público: prerrogativas processuais e atuação como parte e como fiscal da lei Quando se trata do estabelecimento da Justiça Pública e da apuração da imprescindibilidade de o juiz ocupar uma posição imparcial no processo, suscita-se, para o Estado, a necessidade de consolidar um órgão que se incumba da defesa dos interesses da coletividade e da sociedade na coibição dos crimes. Dessa forma, ao analisar a extinção da “vingança privada” (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 610) e reconhecendo que os delitos alcançam mais as condições de convívio social do que os interesses privados dos ofendidos, seria preciso que alguém defendesse os interesses comuns da sociedade diante o Poder Judiciário. Assim sendo, surgiu a figura do Ministério Público como órgão agente da repressão penal, titular da pretensão punitiva do Estado-administração perante o Estado-juiz. Nesse sentido, na atual conjuntura, tanto processo criminal quanto no civil, o Ministério Público “é a personificação do interesse coletivo ante os órgãos jurisdicionais”, ou seja, o representante da “ação do Poder Social do Estado junto ao Poder Judiciário”. (THEODORO JÚNIOR, 2016, p. 610). Além do mais, poder-se-ia dizer que o Ministério Público atua como o órgão em que o Estado tutela ações como: a operação militante, a ordem jurídica e o interesse público, nos procedimentos de jurisdição voluntária e no nexo processual. À medida em que o juiz trata imparcialmente a questão do direito objetivo, com o intuito de constituir litígios e solidificar paridade entre ambas as partes, o Ministério Público se responsabiliza pela defesa do interesse público na composição da lide, com o escopo de que o Judiciário solucione esta, sob a perspectiva do direito, ou administre interesses privados, com análise efetiva e real da ordem jurídica, nos procedimentos de jurisdição voluntária. Funções Segundo o art.176 do NCPC c/c art.127 da CF, o Ministério Público atuará na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses e direitos sociais e individuais indisponíveis. No que tange à prática das tarefas que lhe predispõe a ordem jurídica, o Ministério Público ora age como parte (NCPC, art. 177), ora como fiscal da ordem jurídica (art. 178). Processualmente, a sua função jamais é a de um representante da parte material, haja vista que sua posição jurídica é a de substituto processual (art. 18), em decorrência da própria natureza e dos objetivos da instituição do Ministério Público, ou devido à vontade da lei. Destarte, pode atuar como parte principal, assim como substituto processual. Nessa perspectiva, o Ministério Público torna-se parte quando está em juízo, e nunca procurador ou mandatário de terceiros. O Ministério Público tem legitimidade, e, nesse sentido, seria apenas ativa, ou seja, só pode propor ações, posto que este não pode ser demandado como sujeito passivo ou réu. Entretanto, pode-se assumir a defesa de terceiros, a exemplo da interdição e da curatela especial de revéis citados por edital ou com hora certa. Dado o direito de ação ao Ministério Público, o Código estabelece os mesmos poderes e ônus que tocam às partes, mesmo que isso não seja expresso no art. 177 do NCPC. Sob outro viés, como fiscal da lei, o Ministério Público não tem compromisso nem com a parte ativa nem com a passiva da relação processual, e só protege a manutenção da ordem jurídica e do bem comum. No sistema do Código, a diferenciação entre função do Ministério Público como parte e como custos legis é meramente nominal, porquanto, na prática, os poderes que lhe são atribuídos, em último caso, são tão vastos como os dos próprios litigantes. Desse modo, ao intervir como fiscal da lei, o Ministério Público, segundo o art. 179 “terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado de todos os atos do processo” (nº I); e “poderá produzir provas, requerer as medidas processuais pertinentes e recorrer” (nº II). Além disso, o art. 996 do NCPC deixa nítido que, nos processos em que participa, o Ministério Público se legitima a recorrer sendo parte e fiscal da ordem jurídica. Conquanto, não se pode aplicar ao custos legis as dilatações de prazo para recorrer previstas pelo art. 188, uma vez que esse dispositivo se refere, em específico, à sua atuação como parte. Porém, o novo Código preleciona que o Ministério Público gozará de prazo em dobro para “manifestar-se nos autos”, o que inclui sua atuação tanto como parte quanto como custos legis (art. 180). Portanto, a intimação será pessoal, por carga, remessa ou meio eletrônico (art. 183, § 1º). Só não haverá a contagem em dobro “quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério Público” (art. 180, § 2º). Logo, se o Ministério Público tiver de emitir parecer e não o faça no prazo determinado, o juiz solicitará os autos e prosseguirá o processo, na presença ou na ausência de sua manifestação (art. 180, § 1º). Natureza O Ministério Público não é órgão do Poder Judiciário, nem é um poder da soberania nacional, este situa-se entre os órgãos da Administração Pública, visto que exerce a tutela sobre direitos e interesses, não no exercício da jurisdição, todavia, sob forma administrativa, isto é, oportunizando, fiscalizando, impugnando e ponderando. Na atual estrutura constitucional brasileira, malgrado o Ministério Público seja inculcado numa posição original, como “instituição permanente essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” (CF, art.127). A atuação do processo é feita por parte e não por magistrado. Com isso, não lhe é de competência a decisão ou solução de litígios, mas, tão somente, zurzir ou advogar em prol da preponderância do interesse geral e do bem comum na prestação jurisdicional a habilidade do Poder Judiciário. Ministério Público como parte Ademais, salienta-se alguns casos em que o Ministério Público, segundo a legislação em vigor, atua como parte: (a) na ação de nulidade de casamento (art. 1.549 do Código Civil); (b) na ação de indenização da vítima pobre de delito (art. 68 do Código de Processo Penal), bem como nas medidas cautelares destinadas a garantir a mesma indenização (idem, arts. 127 e 142); (c) nas ações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, relativas a alimentos, suspensão e destituição do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, especialização de hipoteca legal, prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer administradores de bens de crianças e adolescentes, nas hipóteses do art. 98 do ECA (Lei 8.069/1990, art. 201, III e IV); Em súmula, certos privilégios são assegurados ao Ministério Público, quando este atua como parte, a saber: (a) não se sujeita ao pagamento antecipado de custas (NCPC, art. 91), favor que se aplica, igualmente, quando exerce apenas a função de custos legis; (b) o prazo para manifestar-se nos autos será em dobro (art. 180, caput), salvo quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o Ministério Público (art. 180, § 2º). Ministério Público com o custos legis A intervenção do Ministério Público como fiscal da ordem jurídica se dá, no processo civil (NCPC, art. 178): (a) nas causas que envolvam interesse público ou social (inciso I); (b) nascausas que envolvam interesse de incapaz (inciso II); (c) nas causas que envolvam litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana (inciso III); (d) nas demais hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal (inciso IV). Via de regra, ao preponderar o poder dispositivo das partes sobre os direitos privados, sobretudo aqueles de ordem econômica, não concerne ao Ministério Público interferir nas causas a eles relacionadas. Caso o interesse em litígio seja público, como o enleado aos bens e obrigações das pessoas jurídicas de direito público, ou quando envolve uma parcela imprevista da comunidade, como ocorre com a falência, a intervenção do custos legis é de conveniência intuitiva; no entanto, a participação da Fazenda Pública não se enquadra, por si só, situação de intervenção do Ministério Público (art. 178, parágrafo único). Ainda que se delineando acerca de direitos privados, existem casos nos quais o processo contencioso ou procedimento de jurisdição voluntária se perfaz em torno de determinados bens que se encontram arraigados sob tutela especial do Estado, de modo que o litígio passa, outrossim, a atingir um interesse público. Sob esta ótica, é o que se percebe nos casos dos arts. 178, II, 720 e 721 do NCPC. No que toca à jurisdição voluntária, embora o novo Código expresse de maneira genérica em intimação do Ministério Público nos procedimentos da espécie (art. 721), a concepção preeminente na jurisprudência é no sentido de que a obrigação da referida intimação ocorre nas contingências ratificadas pelo art. 178 do NCPC, que corresponde ao art. 82 do CPC/1973. Eventualmente, o Ministério Público opera como custos legis, manifestando- se como sujeito especial do processo ou do procedimento. Referência Bibliográfica: THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum - vol. I. Edição: 56ª - revista, atualizada e ampliada - Rio de Janeiro: Forense. 2015.p. 610-617.
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