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Hist da Alta Idade Média livro

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História da Alta 
Idade Média
Carlos Falcão
História da Alta 
Idade Média
Prezados alunos, sejam bem-vindos ao estudo da Alta Idade Média. Nosso objetivo é expor o significado desse período histórico, observar 
e analisar os seus aspectos culturais, econômicos e políticos. Para tanto, o 
livro foi divido em dez capítulos.
No primeiro capítulo, discutiremos os conceitos que buscam definir o 
que é a Idade Média e a sua periodização. Assim, trataremos das concep-
ções formuladas por medievalistas como Jacques Le Goff e Hilário Franco 
Júnior.
No segundo capítulo, daremos atenção à desestruturação do Império 
Romano do Ocidente. Ou seja, como ocorreram fracassos econômicos, o 
recuo demográfico e o chamado processo de ruralização. Ainda, mencio-
naremos alguns aspectos fundamentais relacionados ao Império Romano 
do Oriente, também conhecido como Império Bizantino.
O destaque, no terceiro capítulo, é dado para as invasões germânicas. 
Nesse sentido, buscaremos descrever como os bárbaros vindos de fora do 
Império Romano conseguiram empreender ações colonizadoras. E, tam-
bém, sua articulação com a cultura romana e o cristianismo.
No quarto capítulo, o imperador Carlos Magno ganha evidência. Foi a 
partir dele que a coletividade cristã ocidental afirmou-se como dominante 
em uma Europa em construção. A própria identidade europeia constitui-se 
a partir desse período.
O quinto capítulo é sobre a formação de uma hierarquia eclesiástica, a 
partir da desestruturação do Império Romano. Citaremos as características 
do clero secular, a constituição dos mosteiros, o que são as relíquias e sua 
Apresentação
iv Apresentação
importância para a comunidade religiosa cristã. E, para finalizar, o concei-
to de hierofania que é marcado pela manifestação do sagrado.
No sexto capítulo, trataremos especificamente da filosofia cristã. Dis-
cutiremos os seus pilares, citaremos os fundadores, a Patrística e a esco-
lástica. Também será uma das pautas o surgimento da religião islâmica na 
península arábica.
O sétimo capítulo apresentará definições de tempo para os medievos e 
sua relação com o cotidiano. No oitavo, a educação será o tema principal. 
No nono, invocaremos as artes e como as cidades medievais se estrutura-
vam. Para finalizar, o décimo capítulo privilegiará a cultura medieval, suas 
diversas faces e também as invenções criadas durante esse período.
Importante destacar que este livro, mesmo tratando da Alta Idade Mé-
dia, que tem sua periodização vinculada, desde a desestruturação do Im-
pério Romano, por volta do século IV, até o século X, quando temos o 
princípio do feudalismo, muitas vezes, romperá estas fronteiras periódicas. 
Ou seja, algumas temáticas podem ser tratadas mesmo depois do século X, 
como, por exemplo, quando escrevemos sobre as cidades medievais, não 
nos vinculamos somente ao que ocorreu na Alta Idade Média, mas também 
acabamos por discutir sua nova constituição, a partir do surgimento da 
burguesia que se dá já na Baixa Idade Média.
Esperamos sinceramente que este livro contribua para os seus estudos.
Um grande abraço!
Carlos Falcão
 1 Conceitos de Idade Média e Periodização .............................1
 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente 
e o Império Romano do Oriente ..........................................18
 3 As Invasões Germânicas .....................................................35
 4 O Império Carolíngio, Invasões e a Construção da Europa ....52
 5 Hierarquia Eclesiástica, Relíquias e Hierofania .....................68
 6 A Filosofia Cristã e o Islã.....................................................84
 7 O Tempo e o Cotidiano .....................................................102
 8 A Educação na Idade Média ..............................................120
 9 Artes e Cidade ..................................................................137
 10 Cultura e Invenções da Idade Média .................................153
Sumário
Conceitos de Idade 
Média e Periodização
ÂÂNeste capítulo de abertura do nosso livro, trataremos especificamente sobre diversos conceitos acerca da 
Idade Média. Assim, buscaremos entender melhor qual o 
seu significado em tempos passados e como se configu-
ram esses conceitos nos dias atuais. Também, observa-
remos como os historiadores podem dividir cronologica-
mente esse período histórico.
Carlos Falcão
Capítulo 1
2 História da Alta Idade Média
Conceitos
No século XVI, foi elaborado um conceito sobre Idade Mé-
dia. Segundo Hilário Franco Júnior (2006, p. 11), representou 
“uma rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de 
dar nome aos momentos passados”. De acordo com o histo-
riador, expressava um desprezo, um preconceito, em relação 
ao período localizado entre o século XVI e a Antiguidade Clás-
sica. Ou seja, tudo o que estivera entre o próprio século XVI 
e as civilizações dos gregos e dos romanos “não passara de 
um hiato”, um intervalo sem criatividade literária ou artística, 
portanto, um tempo intermediário.
Conforme Hilário Franco Júnior, para entendermos melhor 
a Idade Média, é importante percebê-la sobre diversos pontos 
de vista. Nesse sentido, é interessante observar como o perío-
do foi percebido por óticas distintas. Assim, veremos, como a 
Idade Média foi conceituada pelos humanistas, iluministas, ro-
mânticos, historiadores do século XX e pelos próprios homens 
e mulheres do período medieval.
De acordo com Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 3) 
a Idade Média é:
“um constructo humanista, o sucesso do conceito 
deve-se sem dúvida ao vigoroso desenvolvimento 
do latim e da gramática nas escolas secundárias. 
Nessas escolas as ideias humanísticas floresceram, 
porque o estudo de línguas clássicas constituía a 
base do currículo. Havia a expectativa de que com 
o estudo das biografias de homens famosos e da 
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 3
história de antigas culturas, inclusive poesia e re-
tórica, as novas gerações se elevariam à imagem 
idealizada dos heróis da Antiguidade. Até o século 
XIX o latim continuou a ser a língua da educação 
universitária, para que todos os intelectuais ficassem 
imersos no banho da Antiguidade.”
Se a Idade Média é um constructo humanista, destacamos, 
entre diversos pensadores, Francesco Petrarca (1304-1374), 
poeta apaixonado pela Roma Antiga que caracterizou a Idade 
Média como tenebrae, palavra que pode ser traduzida por ne-
voeiro. Segundo Franco (2006, p. 11), assim, “nascia o mito 
historiográfico da Idade das Trevas”. Sobre Petrarca, Jacques 
Le Goff reconhece um espírito medieval como o de outros hu-
manistas. Segundo Le Goff (2008, p. 56):
“Ele pretende reencontrar a Antiguidade em toda a 
sua pureza, uma vez que a Antiguidade é a idade 
‘alta’, da qual os homens, ai de nós, não deixaram 
de se afastar. Petrarca tem a impressão de que um 
verdadeiro Renascimento está surgindo, que a cris-
tandade poderá ver o fim do túnel medieval. E se ele 
quer reencontrar esse verdadeiro e grande passado, 
livre das críticas acumuladas ao longo do tempo, é 
também reformar uma Igreja Católica comprometi-
da com o século, carregando o peso da cidade ter-
restre, muito afastada daquela Civitas Dei que Santo 
Agostinho celebrava.”
Segundo Le Goff (2008, p. 57) “Os humanistas julgavam 
que estavam saindo de um período sem nome, de um interme-
4 História da Alta Idade Média
diário”. Retomaram uma teoria judia das Idades do Mundo, na 
qual a humanidade estaria na sexta e última idade. De acordo 
com Le Goff (2208, p. 57), alguns diziam que “os homens 
se apequenavam e ‘envelheciam’: seriam anões em relação 
aos ‘gigantes’ dos tempos heroicos, intrinsecamente gastos. 
Outros chegavam a pretender que nascemos mais ‘velhos’ do 
que nossos ancestrais”.
O bibliotecário papal, Giovanni Andrea, em1469, confor-
me Franco (2006, p. 11), “falava em media tempestas, literal-
mente ‘tempo médio’, mas também com o sentido figurado de 
‘flagelo’, ‘ruína’”. O conceito de tempo médio tornou-se tão 
forte que Giorgio Vasari popularizou o termo Renascimento 
em contraste com outras expressões que surgiram no período 
como medium tempus ou media tempora. De acordo com Le 
Goff (2008, p. 56):
“Está muito clara essa ideia de ‘meio’ no inglês, 
com Middle Ages, no espanhol Edad Media ou no 
Mittelalter alemão – ainda que o alemão, com Al-
ter, introduzam, mais que a noção de idade, uma 
conotação ‘venerável’: a palavra alt (antigo) induz 
um certo prestígio. Observa-se, ao contrário, em 
francês, a evolução depreciativa da palavra Moyen 
[média]. A conotação estritamente formal de ‘mé-
dio’ – intermediário – quase desapareceu: fala-se 
com um certo desprezo de um resultado médio, de 
um espetáculo médio, de um nível médio etc.”
O pintor Rafael Sanzio (1438-1520) chamou a arte medie-
val de gótica, pois não apresentava padrões clássicos e tinha 
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 5
sinônimo de algo bárbaro. Esse tipo de crítica também foi re-
alizada por escritores, tais como François Rabelais que desig-
nava a Idade Média como a “espessa noite gótica”, conforme 
Franco (2006, p. 11)
Já no século XVIII, a expressão médium aevum começa a 
prevalecer, sendo usada pelo Francês Charles de Fresne Du 
Cange em 1678. Assim, mantinha-se o sentido básico renas-
centista, conforme Franco (2006, p. 12):
 “a Idade Média teria sido uma interrupção no pro-
gresso humano, inaugurado pelos gregos e roma-
nos e retomado pelos homens do século XVI. Ou 
seja, para o século XVII os tempos ‘medievais’ te-
riam sido de barbárie, ignorância e superstição. Os 
protestantes criticavam-no como época de suprema-
cia da Igreja Católica. Os homens ligados às pode-
rosas monarquias absolutistas lamentavam aquele 
período de reis fracos, de fragmentação política. Os 
burgueses capitalistas desprezavam tais séculos de 
limitada atividade comercial. Os intelectuais racio-
nalistas deploravam aquela cultura muito ligada a 
valores espirituais.”
Ainda no século XVIII, em que predominava um sentimento 
antiaristocrático e clerical, o preconceito em relação à Ida-
de Média tornou-se mais acentuado, pois se tratava de um 
momento em que a nobreza e o clero determinavam as re-
gras e detinham intenso poder na sociedade. O Iluminismo, 
guiado pela luz da Razão, nos explica Franco (2006, p. 12), 
“censurava, sobretudo a forte religiosidade medieval, o pouco 
6 História da Alta Idade Média
apego da Idade Média a um estrito racionalismo e o peso po-
lítico de que a Igreja desfrutara”.
Entre os filósofos iluministas, um dos quais combateu for-
temente a religião, está Voltaire (1694-1778). Ele chamava a 
igreja de “a infame”. Outro iluminista que criticou a religião 
foi Denis Diderot (1713-1784). Escreveu que “sem religião, 
seríamos um pouco mais felizes”.
O século das Luzes, que foi o XVIII, lançou a Idade Média 
na escuridão, assim como já havia se construído uma ima-
gem pessimista do período, naquele momento, o preconceito 
acentuou-se. Segundo Le Goff (2008, p. 59):
“Os ingleses dirão mesmo Dark Ages, ‘Idades Som-
brias’. A Idade Média não é mais, depois do século 
XVIII, o período incolor que os medievais pensavam 
viver, mas um período sombrio, enfeixado entre o 
passado esplendoroso da Antiguidade e o futuro 
luminoso dos filósofos. É um tempo oco, caracteri-
zado pela ausência da razão e ausência de gosto. 
A palavra gótico – antes da reabilitação feita por 
Walter Scott e Chateaubriand – torna-se sinônimo 
de feiúra, de esquisitice, de falta de jeito... essa de-
preciação buscava, claro, atingir a Igreja. Voltaire o 
diz explicitamente em seu Ensaio sobre os costumes, 
1756: obscurantismo clerical e Idade Média são 
uma só e única coisa.”
No século XIX, os românticos percebem a Idade Média 
como o momento de origem das nacionalidades. A nostalgia 
romântica contribuía para a visão de uma Idade Média posi-
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 7
tiva, ou seja, conforme Franco (2006, p. 13) “um remédio à 
insegurança e aos problemas decorrentes de um culto exage-
rado ao cientificismo”, também era vista como “época de fé, 
autoridade e tradição”. Na visão romântica, são valorizadas 
as recordações, os sonhos, os sentidos; dessa forma, ocorre 
uma modificação de se entender a Idade Média, já que o ilu-
minismo, como corrente filosófica, valorizava a razão e não 
a fé, própria do pensamento medieval. Franco (2006, p. 13) 
destaca diversas obras românticas que são ambientadas no 
cenário histórico medieval:
“Fausto (1808 e 1832) de Goethe, O corcunda 
de Notre-Dame (1831) de Victor Hugo, os vários 
romances históricos de Walter Scott (1771-1832), 
dentre eles Ivanhoé e Contos dos cruzados, diver-
sas composições de Wagner como Tristão e Isolda 
(1859) e Parsifal (1882).”
Importante destacar, segundo Franco (2006, p. 13), que 
a Idade Média conceituada por humanistas, iluministas e ro-
mânticos ainda a mantinha incompreendida, já que os primei-
ros a viam com um olhar pessimista, enquanto, os últimos a 
exaltavam.
Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 4) destacam que a 
literatura romântica escrita por Sir Walter Scott, Heinrich Heine 
e Victor Hugo além de ser inspirada em um passado grandioso 
medieval foram contrastantes em relação ao racionalismo do 
iluminismo e também às ideias dos revolucionários franceses.
Um exemplo marcante, relacionado ao romantismo é do 
historiador Jules Michelet (1798-1874). De acordo com Fran-
8 História da Alta Idade Média
co (2006, p. 13), Michelet escreveu seis volumes dedicados 
à Idade Média (1833-1844) definindo-a “como aquilo que 
amamos, aquilo que nos amamentou quando pequenos, aqui-
lo que foi nosso pai e nossa mãe, aquilo que nos cantava tão 
docemente no berço”. Exaltava a Idade Média. Interessante 
destacar que, nas reedições de 1845-1855, passou a falar 
negativamente do período.
No século XIX, foram construídas na Europa réplicas 
das torres de catedrais góticas. Segundo Blockmans e Ho-
ppenbrouwers (2012, p. 4) “Os prédios dos Parlamentos 
em Londres e Budapeste têm estilo neogótico, assim como 
a prefeitura de Munique”. Dessa forma, conforme esses dois 
historiadores, a Idade Média anteriormente difamada passa-
va a ser elogiada.
Periodização
Foi somente no século XX que se percebeu a importância 
de tentar enxergar a Idade Média com os olhos dela mesma. 
Isso ocorre em função de uma mudança na própria maneira 
do historiador encarar a história. Ou seja, não caberia ao his-
toriador julgar o que se passou, seu principal cargo está em 
compreender a história, sendo assim, para entender a Idade 
Média, nada melhor do que percebê-la a partir do próprio 
olhar. Portanto, podemos começar entendendo a Idade Média 
a partir de si mesma.
Conforme Franco (2006, p. 14), a Idade Média:
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 9
“Trata-se de um período da história europeia de 
cerca de um milênio, ainda que suas balizas cro-
nológicas continuem sendo discutíveis. (...) já se fa-
lou, dentre outras datas, 330 (reconhecimento da 
liberdade de culto aos cristãos), em 476 (deposição 
do último imperador romano) e em 698 (conquis-
ta muçulmana de Cartago) como ponto de partida 
da Idade Média. Para o seu término, já se pensou 
em 1453 (queda de Constantinopla e fim da Guer-
ra dos cem Anos), 1492 (descoberta da América) e 
1517 (início da Reforma Protestante).”
Percebe-se que não há uma unanimidade entre os historia-
dores sobre as datas exatas em que o período iniciou ou qual 
foi o seu término. As balizas podem ser diferentes de historia-
dor para historiador. Sendo assim, os problemas relacionados 
à Idade Média continuam.
SegundoFranco (2006, p. 15), “O período que se esten-
deu de princípios do século IV a meados do século VIII sem dú-
vida apresenta uma feição própria, não mais ‘antiga’ e ainda 
não claramente medieval”. A transição do período antigo para 
o medieval ainda não é clara. Ainda de acordo com Franco 
(2006, p. 15):
“talvez seja melhor chamá-la de Primeira Idade 
Média do que usar o velho rótulo de Antiguidade 
Tardia, pois nela teve início a convivência e a len-
ta interpenetração dos três elementos históricos que 
comporiam todo o período medieval. Elementos 
que, por isso, chamamos de Fundamentos da Idade 
10 História da Alta Idade Média
Média: herança romana clássica, herança germâni-
ca, cristianismo.”
Esses elementos fundadores da Idade Média vão ser trata-
dos ao longo deste livro. Porém, vejamos resumidamente cada 
um desses elementos sobre a ótica de Franco (2006, p. 15). 
O primeiro elemento trata-se da profunda crise do século III 
quando o Império Romano tenta sobreviver com o estabele-
cimento de novas estruturas, tais como, o caráter sagrado da 
monarquia, da aceitação de germanos no exército imperial, 
da petrificação da hierarquia social, do crescente fiscalismo 
sobre o campo, do desenvolvimento de uma nova espiritua-
lidade que possibilitou o sucesso cristão. Mesmo com todas 
essas mudanças na estrutura, não foi possível evitar a deca-
dência do império.
Em relação ao segundo elemento, a herança germânica, 
de acordo com Franco (2006, p. 15):
“a penetração germânica intensificou as tendências 
estruturais anteriores, mas sem alterá-las. Foi o caso 
da pluralidade política substituindo a unidade roma-
na, da concepção de obrigações recíprocas entre 
chefe e guerreiros, do deslocamento para o norte 
do eixo de gravidade do Ocidente, que perdia seu 
caráter mediterrânico.”
Sobre o cristianismo, o terceiro elemento destacado por 
Franco (2006, p. 15), “possibilitou a articulação entre roma-
nos e germanos, o elemento que, ao fazer a síntese daquelas 
duas sociedades, forjou a unidade espiritual, essencial para a 
civilização medieval”. Dessa forma, completada a integração 
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 11
entre esses três elementos, chegamos ao período chamado de 
Alta Idade Média, de acordo com Franco (2006, p. 15-16), 
momento ocorrido em meados do século VIII até fins do século 
X. Segundo o historiador:
 “Foi então que se atingiu, ilusoriamente, uma nova 
unidade política com Carlos magno, mas sem inter-
romper as fortes e profundas tendências centrífugas 
que levariam posteriormente à fragmentação feudal. 
Contudo, para se alcançar essa efêmera unidade, 
a dinastia Carolíngia precisou ser legitimada pela 
Igreja, que pelo seu poder sagrado considerava-se a 
única e verdadeira herdeira do Império Romano. Em 
contrapartida, os soberanos Carolíngios entregaram 
um vasto bloco territorial italiano à Igreja, que dessa 
forma se corporificou e ganhou condições de se tor-
nar uma potência política atuante.”
Além de uma Primeira Idade Média e a Alta Idade Média, 
podemos nomear mais dois períodos subsequentes para a Idade 
Média. São eles a Idade Média Central, decorrente de uma crise 
geral do século X, quando o Estado carolíngio sofre com contra-
dições internas e uma nova onda de invasões realizadas, sobre-
tudo por vikings, muçulmanos e magiares. Teria sido a época do 
feudalismo e sua ocorrência se dá dos séculos XI ao XIII.
Na Idade Média Central, a sociedade cristã ocidental se 
reorganiza em torno das Cruzadas e de uma expansão po-
pulacional. Segundo Franco (2006, p. 16), “Graças à maior 
procura de mercadorias e à maior disponibilidade de mão de 
obra, a economia ocidental foi revigorada e diversificada”.
12 História da Alta Idade Média
Para finalizar, o último período dentro da Idade Média é 
conhecido como Baixa Idade Média que aconteceu do século 
XIV aos meados do século XVI. Nas palavras de Franco (2006, 
p. 16): “com suas crises e seus rearranjos, representou exa-
tamente o parto daqueles novos tempos, a Modernidade. A 
crise do século XIV, orgânica, global, foi uma decorrência da 
vitalidade e da contínua expansão (demográfica, econômica, 
territorial) dos séculos XI-XIII, o que levara o sistema aos limites 
possíveis de seu funcionamento”.
A Idade Média vista pelo século XX, então, utiliza de uma 
periodização que pode ser encarada com balizas diferentes 
para cada autor. Vimos, aqui, a periodização defendida por 
Hilário Franco Júnior. Essa é uma divisão, da Idade Média, em 
quatro períodos.
No entanto, é importante destacar que podemos reconhe-
cer dois períodos básicos da História Medieval. Os quais são 
utilizados para dividir, por exemplo, as duas disciplinas, refe-
rentes ao medievo, em nosso curso de Licenciatura em Histó-
ria. São eles a Alta Idade Média (dos séculos V ao X) e a 
Baixa Idade Média (dos séculos XI ao XV). Portanto, essa 
será a divisão que utilizaremos durante o curso.
Já vimos como a Idade Média foi construída conceitual-
mente por diversas vertentes. Mas ainda falta pensar como os 
medievos encaravam o conceito de tempo, já que eles próprios 
nunca nomearam seu próprio tempo de medieval. Segundo o 
historiador Franco Hilário Júnior (2006, p. 17), o conceito que 
os próprios medievos tinham de Idade Média pode ser encara-
do por duas grandes vertentes: a do clero e a dos leigos “essa 
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 13
bipolarização quanto à História partia de duas visões distintas 
quanto ao tempo”.
 Na antiguidade e na vida cotidiana do camponês, havia a 
aceitação de um tempo cíclico. Esse tempo era marcado pelo 
mito do eterno retorno. Dessa maneira, para as primeiras so-
ciedades, o registro do tempo se relacionava com o biológico. 
Nesse sentido, segundo Franco (2006, p. 17), essas sociedades 
não transformavam o tempo em História, portanto, não tinham 
a consciência de sua irreversibilidade. Franco explica que essa 
concepção sofre sua primeira rejeição com o Judaísmo “que vê 
em Iavé não uma divindade criadora de gestos arquetípicos, 
mas uma personalidade que intervém na História”. O cristianis-
mo, por sua vez, se apropria dessa ideia enfatizando:
“o caráter linear da História, com seu ponto de par-
tida (Gênese), de inflexão (Natividade) e de chega-
da (Juízo Final). Portanto, linear, mas não ao infinito, 
pois há um tempo escatológico – que só Deus co-
nhece – limitando o desenrolar da História, isto é, 
da passagem humana na Terra.”
A liturgia cristã, ao mesmo tempo em que investiu na re-
petição periódica da Natividade, a Paixão e a Ressurreição de 
Cristo, leva o fiel a um sentimento de retorno, uma volta ao 
tempo em que ocorreram esses eventos. Portanto, não foi abo-
lida a teoria cíclica, mas reinventada. Pelo menos até o século 
XII, conforme Franco (2006, p. 17-18) “os medievos não sen-
tiam necessidade de maior precisão no cômputo do tempo, o 
que expressava e acentuava a falta de um conceito claro sobre 
sua própria época”.
14 História da Alta Idade Média
Uma ideia que esteve presente na Idade Média era que se 
caminhava para o Fim dos Tempos. Pode-se dizer que catás-
trofes vivenciadas ou ouvidas pelos sujeitos do medievo eram 
interpretadas como sinais relacionados com o Apocalipse. De 
acordo com Franco (2006, p. 18) “Havia uma difundida visão 
pessimista do presente, porém carregada de esperança no imi-
nente triunfo do Reino de Deus”.
Para finalizar este capítulo, pode-se dizer, segundo Blo-
ckmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 9) que o termo Idade 
Média só tem significado no contexto europeu e situa-se nas 
fronteiras do Cristianismo. Nesse sentido, estudaremos a Euro-
pa a partir da desestruturação do Império Romano até o início 
da Modernidade e concentraremos nossos estudos em uma 
cultura da cristandade europeia.
No próximo capítulo, vamos tratar da desestruturaçãodo Im-
pério Romano e das suas configurações antes da Idade Média.
Referências bibliográficas:
BLOCKMANS, Win; HOPPENBROUWERS, Peter. Introdução 
a Europa Medieval, 300-1550. Rio de Janeiro: Forense, 
2012.
JUNIOR,Hilário Franco. A Idade Média Nascimento do oci-
dente. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006.
LE GOFF, Jacques. Em busca da Idade Média. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 2008.
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 15
Questões:
 1. Sobre o conceito de Idade Média elaborado no século XVI, 
assinale a resposta que não corresponde ao pensamento 
desse período:
 A) expressava um desprezo, um preconceito, em relação 
ao período localizado entre o século XVI e a Antiguida-
de Clássica.
 B) tudo o que estivera entre o próprio século XVI e as civi-
lizações dos gregos e dos romanos “não passara de um 
hiato”, um intervalo sem criatividade literária ou artísti-
ca, portanto, um tempo intermediário.
 C) expressava a valorização do medievo, considerado um 
período de intensa criatividade, um estágio intermediá-
rio para a propagação do futuro da cristandade.
 D) o conceito de Idade Média formulado pelo século XVI 
significou uma rotulação a posteriori, uma satisfação da 
necessidade de dar nome aos momentos passados.
 E) a importância de tentar enxergar a Idade Média com os 
olhos dela mesma ocorreu a partir do século XVI.
 2. A Idade Média é “um constructo humanista, o sucesso do 
conceito deve-se, sem dúvida, ao vigoroso desenvolvimen-
to do latim e da gramática nas escolas secundárias”. Essa 
afirmativa que define a Idade Média como um constructo 
humanista é uma citação de:
 A) Karl Marx e Engels.
 B) Eric Hobsbawm.
 C) Jules Michelet.
16 História da Alta Idade Média
 D) Blockmans e Hoppenbrouwers.
 E) Nenhuma das respostas anteriores.
 3. Relacione os pensadores aos conceitos formulados sobre 
Idade Média. 1. Francesco Petrarca. 2. Giovanni Andrea. 
3. François Rabelais. 4. Jules Michelet. ( ) designava a Ida-
de Média como a “espessa noite gótica”. ( ) falava em 
media tempestas, literalmente tempo médio, mas também 
com o sentido figurado de flagelo, ruína. ( ) definiu-a como 
aquilo que amamos, aquilo que nos amamentou quando 
pequenos, aquilo que foi nosso pai e nossa mãe, aquilo 
que nos cantava tão docemente no berço. ( ) caracterizou 
a Idade Média como tenebrae, palavra que pode ser tra-
duzida por nevoeiro. Assinale a alternativa com a sequên-
cia correta:
 A) 3, 4, 2, 1.
 B) 3, 2, 4, 1.
 C) 4, 2, 3, 1.
 D) 2, 3, 1, 4.
 E) 1, 4, 3, 2.
 4. Leia a afirmação a seguir e complemente selecionando a 
resposta correta. Para o historiador Hilário Franco Júnior, 
o cristianismo possibilitou:
 A) a articulação entre romanos e germanos, o elemen-
to que, ao fazer a síntese daquelas duas sociedades, 
forjou a unidade espiritual, essencial para a civilização 
medieval.
Capítulo 1 Conceitos de Idade Média e Periodização 17
 B) a propagação da fé cristã sem conhecer limites. Todos 
os pagãos foram cristianizados permitindo a edificação 
das almas que anteriormente não conheciam a palavra 
de Deus.
 C) a articulação entre romanos e germanos, sem eliminar 
as identidades de cada um dos grupos, permitindo que 
ocorresse a ascensão e domínio de uma cultura nórdica 
politeísta em que Odin e seu panteão eram extrema-
mente valorizados.
 D) a renovação do contrato entre romanos e bárbaros vin-
dos do sul, forjando sua escolha espiritual e construindo 
a noção de Europa.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
 5. O cristianismo enfatiza o caráter linear da História. Três 
momentos básicos marcavam sua linearidade: ponto de 
partida, inflexão e chegada. Assinale a resposta correta 
que corresponde aos momentos que caracterizam essa li-
nearidade cristã:
 A) Nascimento, Idade adulta e Morte.
 B) Início, meio e fim.
 C) Origem, desenvolvimento e apocalipse.
 D) Gênese, Natividade e Juízo Final.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
Respostas:
1-C, 2-D, 3-B, 4-A e 5-D.
Desestruturação do 
Império Romano do 
Ocidente e o Império 
Romano do Oriente
ÂÂNo segundo capítulo do nosso livro, discutiremos como se desenrola a desestruturação do Império Romano 
do Ocidente, principalmente em termos econômicos e de 
recuo demográfico, levando a um processo de ruraliza-
ção. Para finalizar, abordaremos brevemente alguns as-
pectos básicos sobre o Império Romano do Oriente.
Carlos Falcão
Capítulo 2
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 19
Fundações da europa moderna
De acordo com Blockmans e Hoppenbrouwer (2012, p. 1) “As 
fundações da Europa moderna e da maioria do mundo mo-
derno encontram-se na Idade Média europeia”. Entre essas 
fundações, os historiadores citam:
“a disseminação do Cristianismo, o estabelecimento 
de áreas com linguagem comum, a formação dos 
Estados já com sementes de consciência nacional, a 
urbanização de determinadas regiões, o desenvolvi-
mento renovado de pensamento racional e científi-
co empírico, a criação de estruturas políticas funda-
mentadas em representação e a expansão das redes 
comerciais.”
Segundo os pesquisadores, mesmo após o declínio do Im-
pério Romano e das invasões bárbaras, a riqueza do sul da 
Europa proporcionava a chance de desenvolvimento. Isso se 
dava em função da vantagem dessa região estar associada ao 
mar mediterrâneo. Dessa maneira, foi possível uma economia 
estável e de troca cultural entre cristãos e muçulmanos. Porém, 
esse momento de renovação estrutural ainda teve de passar 
pela construção da própria Europa. Esse processo se dá, em 
primeiro lugar, com a desestruturação do Império Romano.
Recuo demográfico
Desde o século II, no Império Romano, ocorre um recuo de-
mográfico significativo. O aparelho estatal romano sofre com 
20 História da Alta Idade Média
uma crescente desorganização que leva à diminuição das im-
portações de alimentos. Segundo Hilário Franco Júnior (2006, 
p. 19), essas importações permitiram por séculos “a existência 
de uma grande população urbana”. A falta de alimentos con-
tribuiu para o esvaziamento das cidades levando cada região 
a produzir os itens dos quais necessitava. Ao mesmo tempo 
em que ocorria esse esvaziamento, aumentava a insegurança, 
segundo Franco (2006, p. 19) “bastava uma má colheita para 
que a mortalidade naquele local rapidamente se elevasse”. 
Portanto, percebe-se que esse recuo demográfico está asso-
ciado intimamente com a alimentação, que sofre em função 
de um aparelho estatal incapaz de gerenciar a produção. Ou 
seja, esse gerenciamento não dá conta de possibilitar o acesso 
de todos aos gêneros alimentícios. Assim, pode-se dizer que a 
baixa densidade demográfica estaria associada à pobreza, já 
que as pessoas mais abastadas teriam condições de suprir suas 
necessidades. Fome, pobreza e recuo demográfico constituíam 
um verdadeiro ciclo vicioso no período em que o Império Ro-
mano se desestruturava caminhando para o esfacelamento.
Na tentativa de evitar esse recuo demográfico intenso, no 
século V, um imperador romano proíbe que moças menores 
de 14 anos entrem para o clero, visando que possam casar e, 
consequentemente, ter filhos. Também pressiona as viúvas a se 
casarem novamente, impondo punições jurídicas como perder 
metade de seus bens se não estiverem casadas depois de cinco 
anos após a morte do esposo.
Para amenizar essa situação, cometeram-se atrocidades 
tais como sacrificar recém-nascidos do sexo feminino. Dessa 
maneira, os medievos teriam menos bocas para alimentar. Em 
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 21
contrapartida, preservando-se os nascidos do sexo masculino, 
apostava-se em uma produção mais eficaz.
A recuperação populacional, mesmo com essas medidas, 
teria se dado somente ao final do império carolíngioe com as 
invasões dos vikings, dos magiares e dos muçulmanos.
A Europa
Jacques Le Goff (2007, p. 19) afirma que “A Idade Média foi, 
particularmente, pela noção de renascença, mas também, de 
maneira mais difusa, um barqueiro da Antiguidade”. Nesse sen-
tido, percebe-se pela metáfora do historiador que a Idade Mé-
dia transportou a antiguidade junto de si. Ou seja, preservou o 
patrimônio cultural antigo que pôde ser redescoberto, estudado 
e cultuado pelos renascentistas. Assim, veremos que a própria 
noção de Europa é uma herança cultural vinda da antiguidade.
Primeiro, vejamos como Le Goff (2007, p. 20) define Euro-
pa. O historiador, na citação abaixo, concentra-se em aspec-
tos geográficos:
“A Europa é o final do continente euro-asiático. 
Apresenta uma diversidade de solo e de relevo que 
ancoram na geografia a diversidade, que é uma das 
características da Europa. Mas, ao mesmo tempo, 
elementos geográficos unificadores que se impõe. 
A extensão das planícies que favorecerá a cultura 
dos cereais desenvolvida pela Idade Média e que 
continua sendo hoje um dos pontos fortes, embo-
22 História da Alta Idade Média
ra controvertido, da economia europeia comum. Há 
também a importância das florestas que, com a pe-
netração, a exploração e os arroteamentos, fará da 
floresta medieval o mundo de dupla face da abun-
dância em madeira, em caça, em mel, em porcos 
misturados com javalis, e da selvageria, dualidade 
que persistirá até na Europa de hoje. Outro elemento 
geográfico unificador da Europa evidente na Idade 
Média, a presença do mar e a extensão das costas, 
que, apesar do medo do mar entre os homens e as 
mulheres da Idade Média, os levará a domá-lo atra-
vés de importantes inovações tecnológicas, como o 
leme de roda de popa ou a bússola vinda da China.”
Conforme Le Goff (2007, p. 21), é do clima temperado 
europeu que homens e mulheres da Idade Média “louvarão 
as estações intermediárias, a primavera e o outono, que têm 
sempre um lugar tão grande na literatura e na sensibilidade 
europeia”. Vale dizer, muito bem lembrado por Le Goff, que 
esses homens e mulheres do medievo não estavam preocu-
pados com noções ecológicas, algo que somente começa a 
ocorrer de maneira concreta no século XX.
Retomando a ideia de herança antiga. Herança que foi 
transmitida pela Idade Média, do patrimônio cultural, uma 
verdadeira barqueira de valores, conforme Le Goff (2007, p. 
21), dá-se em diversos aspectos. O primeiro deles é o nome 
da própria Europa:
“A Europa começou sendo um mito, uma concepção 
geográfica. O mito faz nascer a Europa no Orien-
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 23
te. É no mais antigo leito de civilização nascido no 
território do que se tornará a Europa que a palavra 
e a ideia aparecem: a mitologia grega. Mas é um 
empréstimo tomado do Oriente. É o embarcamento, 
no século VIII a. C., de um termo semítico que de-
signava para os marinheiros fenícios o pôr do sol. A 
Europa surge como a filha de Agenor, rei da Fenícia, 
atual Líbano. Ela teria sido raptada por Zeus, o rei 
dos deuses gregos, que se apaixonou por ela. Meta-
morfoseado em touro, ele a teria levado a Creta, e 
de seus amores teria nascido Minos, rei civilizador e 
legislador que se torna depois de sua morte um dos 
três juízes dos Infernos. Os gregos dão, portanto, o 
nome de europeus aos habitantes da extremidade 
ocidental do continente asiático.”
A antiguidade, além de legar o nome ao continente euro-
peu, também concede a herança do herói. Entre os gregos, 
eram conhecidos diversos heróis, tais como Hércules, Perseu 
ou ainda Jasão. Na Idade Média, o herói se cristianiza, tor-
nando-se a figura de um santo ou mártir. Os santos serão 
os heróis do medievo. O humanismo presente na antiguidade 
é modificado pelo cristianismo, mas, durante o renascimento 
cultural, retorna com aspectos que resgatam o mundo greco-
-romano. Mesmo a liturgia cristã se apega ao passado roma-
no, a bebida da aristocracia, o vinho, se torna sagrado nos 
momentos de culto.
Segundo Le Goff (2007, p. 24) “A Europa Medieval saiu 
diretamente do Império Romano”. O historiador francês afirma 
que “a primeira herança capital é a língua, veículo de civiliza-
24 História da Alta Idade Média
ção”. Assim, os europeus medievais escrevem e falam latim. 
O latim somente recuará após o século X com a utilização 
das línguas vulgares, ou seja, as línguas românicas: espanhol, 
francês italiano e português. As quais perpetuaram o patrimô-
nio cultural e linguístico europeu.
A ruralização
O mundo romano era fortemente urbanizado. Com a sua 
desestruturação, ocorre uma ruralização que altera a ordem 
econômica do período. Segundo Le Goff (2007, p. 47), desse 
processo resultam a:
“ruína das estradas, das oficinas, dos entrepostos, 
dos sistemas de irrigação, das culturas. É uma re-
gressão técnica que bate particularmente a pedra 
que deixa o lugar a uma volta da madeira como 
material essencial na construção. O reflexo da po-
pulação urbana para a zona rural não enche o va-
zio deixado pela regressão demográfica. No lugar 
da cidade, urbs, é a vila, o grande domínio, que se 
torna a célula econômica e social de base. A uni-
dade de exploração e de povoamento é a mansa, 
de superfície muito variável, mas em geral pequena, 
capaz de manter apenas uma família. A economia 
monetária recua dando lugar a um aumento da tro-
ca. O comércio de grande raio de ação quase de-
saparece, com exceção de matérias indispensáveis 
como o sal.”
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 25
A ordem econômica, como se pode perceber, é alterada 
pela ruralização. A estrada medieval, por exemplo, torna-se 
muito diferente da romana. A romana dispunha de aspectos 
técnicos superiores e objetivos militares. Já a estrada medieval 
servia para o deslocamento de indivíduos que “andam ou em-
purram suas carroças, utilizam asnos e cavalos em estradas de 
terra, não retilíneas, deslocando-se segundo as igrejas a visitar 
ou os mercados móveis a frequentar”, de acordo com Jacques 
Le Goff (2007, p. 25).
O estado romano intervinha na economia assegurando 
rendimentos de impostos para manter em atividade a produ-
ção. Isso significa para o império, segundo Blockmans e Ho-
ppenbrouwers (2012, p. 21):
“manter um exército imenso nas fronteiras, pagar um 
enorme serviço civil e abastecer as cidades com víve-
res a preços que até mesmo as pessoas mais pobres 
podiam pagar. A produção dos domínios estatais 
destinava-se a essa finalidade. Estradas, portos, esta-
belecimentos comerciais e canais foram construídos 
com intuitos militares veteranos com uma proprieda-
de rural nas províncias da periferia do Império.”
Com a dificuldade financeira do Estado romano, devido 
à redução dos rendimentos, ocorreu uma diminuição de co-
mandantes de navios e mercadores trabalhando no território 
do império, isso já nos séculos IV e V. Um dos grandes gastos 
que esvaziava as riquezas do Estado era investir na defesa das 
fronteiras. Fazia-se necessário manter exércitos para evitar o 
ataque de hordas bárbaras e até mesmo subornar alguns des-
26 História da Alta Idade Média
ses indivíduos para que não atacassem os territórios vincula-
dos ao império.
Sem dúvida, a falta de segurança que se abateu sobre as 
regiões rurais causava queda na produção agrícola e redução 
no fluxo dos impostos, o que acarretava menos recursos e, 
portanto, desestruturação econômica. De acordo com Block-
mans e Hoppenbrouwers (2012, p. 22):
“O pagamento do exército exigia o dispêndio de 
grandes somas, mas o ressentimento em relação ao 
crescente ônus dos impostos aumentou. Uma solu-
ção temporária foi desvalorizar a moeda, porém, 
isso acarretou mais e mais transações na mesma 
moeda, e o dinheiro ficou escasso. O fornecimento 
de víveres às cidades ficoumais difícil quando o sis-
tema de distribuição do Estado ruiu.”
Algumas medidas foram adotadas pelo Império para tentar 
amenizar a crise econômica. Uma delas foi vincular heredita-
riamente a terra onde trabalhavam os mancipia e os coloni, a 
partir de 332. Os coloni eram os arrendatários ou proprietá-
rios de terra, enquanto os mancipia tratavam-se de escravos. 
Conforme Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 22), essa 
medida objetiva “enfrentar a escassez de mão de obra, mas ao 
mesmo tempo limitava a liberdade pessoal dos fazendeiros”. 
Esses tipos de medidas obrigatórias aplicaram-se em outros 
setores da sociedade. Por exemplo, os filhos dos mercadores 
estavam obrigados a seguirem a profissão dos pais.
Com a economia desestruturada, as cidades acabaram 
sofrendo, de modo que a ruralização se intensificou. Ao des-
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 27
parecer, o poder de compra da aristocracia citadina, esses 
membros da sociedade, retiraram-se para suas propriedades 
rurais. De acordo com Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, 
p. 22), era essa a estratégia utilizada pelos patrícios, que, des-
sa forma, “podiam supervisionar diretamente a produção e 
estavam seguros de ter meios de subsistência”.
A proteção às fronteiras do Império Romano acarretou 
muitos gastos. Segundo Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, 
p. 22), tratava-se de carregar “uma imensa carga fiscal e uma 
enorme intervenção do governo na economia”. A expansão 
territorial exigiu rearticular o sistema de produção e distribui-
ção, além de aumentar o número de funcionários e novas leis. 
O império não conseguiu ser bem-sucedido, pois intervinha 
intensamente na economia. Ou seja, o “Estado reprimiu a ini-
ciativa econômica e a base ruiu”, de acordo com Blockmans e 
Hoppenbrouwers (2012, p. 22).
Durante os séculos IV e V o mundo romano, essencialmen-
te urbano, dá lugar ao processo de ruralização. Ocorre uma 
redução na circulação de moedas até restarem somente as 
de bronze. Conforme Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, 
p. 23) “As moedas de ouro e prata circulavam menos como 
dinheiro, e cada vez mais eram usadas como presentes entre 
as elites”. Nesse processo, as cidades deixaram de ser centros 
de consumo e de atração para mercadores.
Como vimos, no início do capítulo, a população reduzira-
-se significativamente. No século V, restavam em torno de 30 
milhões de pessoas na Europa Ocidental, sendo que, por volta 
do século II, podia ser calculada em torno de 40 a 50 milhões 
de indivíduos.
28 História da Alta Idade Média
Com o crescente processo de ruralização, o Estado vai per-
dendo o poder. Sendo que, em seu lugar, os grandes proprie-
tários de terra começam a se destacar como lideranças locais. 
Fortaleciam o seu poder com o apoio de pessoas menos favo-
recidas. Já, nesse momento, esses senhores de terra começa-
ram a oferecer proteção aos indivíduos mais vulneráveis dessa 
sociedade. Em troca, acabavam renunciando a pequena pro-
priedade que ainda possuíam e, no final das contas, deixavam 
de ser homens e mulheres livres, na concepção que hoje temos 
de liberdade. Ou seja, eram livres para ir e vir, mas como seu 
sustento estava ligado à terra, essas pessoas ficavam presas a 
ela, e, consequentemente, a um senhor. De acordo com Blo-
ckmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 24):
“Na falta da autoridade do Estado um homem com 
poder tinha a capacidade de decidir quanta pressão 
exerceria em seus dependentes potenciais. Essas re-
lações econômicas e sociais criadas nas ruínas do 
final do Império Romano caracterizaram o início da 
Idade Média.”
O Império Romano do Oriente
O imperador Constantino escolheu a cidade de Bizâncio 
para ser sua capital. A cidade ficava no Bósforo, muito bem 
localizada estrategicamente, fazia fronteira entre dois conti-
nentes. O nome da cidade, originalmente grego, foi mudado 
para Constantinopla em homenagem ao imperador. Além de 
estar em um território estrategicamente privilegiado Blockmans 
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 29
e Hoppenbrouwers (2012, p. 24) afirmam que a escolha do 
imperador devia-se ao “crescimento demográfico e, provavel-
mente econômico, da região oriental do Império Romano”. 
Fora isso, estava interessado em distanciar-se de “uma clas-
se senatorial italiana rebelde, que se apegava, por exemplo, 
teimosamente aos antigos deuses romanos”. Constantino ti-
nha interesse em propagar o cristianismo tornando-o tão forte 
quanto os cultos anteriores.
Para afirmar seu poder, Constantino e Constâncio II, seu 
filho, investiram em um projeto de construção arrojada. De-
sejavam construir igrejas cristãs grandiosas ocupando local 
de destaque e centralidade naquela parte do mundo romano. 
Junto a isso, reformaram e aumentaram edificações caracte-
rísticas da cultura romana, tais como foros, termas, teatros e 
pistas de corrida, de acordo com Blockmans e Hoppenbrou-
wers (2012, p. 25).
Em contraste com o declínio populacional de Roma e do 
império do lado Ocidental, Bizâncio teve um crescimento po-
pulacional elevado entre os séculos IV e V. As construções 
comprovavam a força do Oriente, entre elas podemos des-
tacar, segundo Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 26):
“O centro cerimonial da cidade ficava diretamente 
no Bósforo: compunha-se do grande Palácio impe-
rial, da pista de corridas (hipódromo), da primeira 
Santa Sofia, a igreja dedicada à ‘sabedoria sagra-
da’ ou o Espírito Santo, do prédio mais importante 
do governo (o Silention, a basílica do silêncio) e do 
foro de Constantino. Havia também um senado bi-
zantino à parte.”
30 História da Alta Idade Média
O imperador Justiniano (527-565) deu forma a um pro-
jeto de restauração do império, no qual Bizâncio teria autori-
dade sobre Roma. De acordo com Blockmans e Hoppenbrou-
wers (2012, p. 26) a política de renovação de Justiniano tinha 
quatro alicerces:
“a recuperação das regiões que haviam sido perdi-
das; a elucidação e codificação da legislação ro-
mana; uma política econômica baseada no apoio 
do aparato militar; e o estabelecimento da unidade 
religiosa.”
Foi Justiniano que transformou a Igreja de Santa Sofia, na 
igreja mais majestosa do mundo cristão. Ele era defensor e 
solidário à religião cristã e também à igreja bizantina. Chegou 
a combater com violência hereges, entre os quais os adeptos 
do monofisismo, corrente encabeçada por indivíduos da Síria 
e do Egito.
Enquanto o Império Romano Ocidental sofria com a de-
sestruturação do Estado, o Império Romano do Oriente brilha-
va. Suas trajetórias históricas seguiram estradas diferentes. No 
Ocidente, a Europa medieval começava a nascer da síntese 
entre a cultura romana, a cultura germânica e o cristianismo. 
Já, no Oriente, a igreja ortodoxa floresceu na antiga Bizâncio 
trilhando caminhos próprios.
No terceiro capítulo do nosso livro, trataremos das inva-
sões germânicas.
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 31
Referências bibliográficas
BLOCKMANS, Win; HOPPENBROUWERS, Peter. Introdução 
a Europa Medieval, 300-1550. Rio de Janeiro: Forense, 
2012.
JUNIOR, Hilário Franco. A Idade Média Nascimento do oci-
dente. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Rio de Ja-
neiro: Editora Vozes, 2007.
Questões:
 1. De acordo com Blockmans e Hoppenbrouwer, na Idade 
Média, encontram-se as fundações da Europa moderna. 
Assinale a resposta correta que corresponde às fundações 
citadas por esses historiadores:
 A) Disseminação do cristianismo e do islamismo, estabele-
cimento de áreas comuns de linguagem fundamentada 
no latim, consciência política, ruralização intensa, reno-
vação do pensamento greco-romano, estruturas políti-
cas monárquicas e expansão das rotas comerciais.
 B) Disseminação do cristianismo, estabelecimento deáre-
as comuns de linguagem, sementes de consciência 
nacional, urbanização de determinadas regiões, reno-
vação do pensamento racional, estruturas políticas fun-
damentadas em representação e expansão das redes 
comerciais.
32 História da Alta Idade Média
 C) Disseminação do paganismo em contraste com o cris-
tianismo, áreas com linguagens comuns, consciência 
religiosa exacerbada, urbanização e ruralização euro-
peia, democracia e expansão das redes capitalistas.
 D) Disseminação do cristianismo bizantino em áreas oci-
dentais, utilização homogênea do latim em todas as 
áreas, renovação do pensamento laico, estruturas polí-
ticas complexas e expansão das redes comerciais.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
 2. Assinale a resposta correta que corresponde a elementos 
que contribuíram para a desestruturação do Império Ro-
mano:
 A) Aparelho estatal desorganizado, recuo demográfico, 
falta de alimentos, insegurança, fome e pobreza.
 B) Riqueza, militarismo, superpopulação e ruralização.
 C) Abastecimento precário de itens de luxo, decadência da 
filosofia romana e urbanização acelerada.
 D) Dificuldade em manter a segurança nas fronteiras, con-
flito entre religiões, aumento populacional desenfreado 
e cidades sem administração.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
 3. Na tentativa de evitar o recuo demográfico intenso do sé-
culo V, foram tomadas algumas medidas no Império Ro-
mano. Assinale a respostas correta:
 A) Moças menores de 16 anos são proibidas de entrar 
para o clero, as viúvas são pressionadas a casar no-
vamente, no máximo, em um período de 5 anos após 
Capítulo 2 Desestruturação do Império Romano do Ocidente... 33
a morte do esposo e são cometidas atrocidades como 
sacrificar recém-nascidos do sexo masculino.
 B) Moças de 18 anos são proibidas de entrar para o cle-
ro, as viúvas são pressionadas a casar novamente, no 
máximo, em um período de 2 anos após a morte do 
esposo e são cometidas atrocidades como sacrificar 
recém-nascidos do sexo feminino.
 C) Moças menores de 14 anos são proibidas de entrar 
para o clero, as viúvas são pressionadas a casar no-
vamente, no máximo, em um período de 5 anos após 
a morte do esposo e são cometidas atrocidades como 
sacrificar recém-nascidos do sexo feminino.
 D) Moças menores de 16 anos são proibidas de entrar 
para o clero, as viúvas são pressionadas a casar no-
vamente, no máximo, em um período de 2 anos após 
a morte do esposo e são cometidas atrocidades como 
sacrificar recém-nascidos do sexo masculino.
 E) Moças e moços menores de 14 anos são proibidos de 
entrar para o clero, as viúvas e os viúvos são pressio-
nadas a casar novamente, no máximo, em um período 
de 5 anos após a morte dos cônjuges e são cometidas 
atrocidades como sacrificar recém-nascidos.
 4. Leia as proposições sobre o nome Europa: I. Termo se-
mítico que designava para os marinheiros fenícios o pôr 
do sol. II. A Europa surge como a filha de Agenor, rei da 
Fenícia, atual Líbano. Ela teria sido raptada por Deus em 
um ato de loucura. III. A Europa deve o seu nome a cultura 
bizantina e aos cruzados que a idolatraram no século X. 
Assinale a resposta correta:
34 História da Alta Idade Média
 A) As proposições I, II e III estão corretas.
 B) As proposições I e II estão corretas.
 C) As proposições II e III estão corretas.
 D) As proposições I e III estão corretas.
 E) Somente a proposição I está correta.
 5. O mundo romano era fortemente urbanizado. Com a sua 
desestruturação, ocorre uma ruralização que altera a or-
dem econômica do período. Assinale a resposta correta 
que designa alguns resultados desse processo:
 A) ruína das cidades, das pontes, das igrejas, das universi-
dades e da produção de utensílios.
 B) ruína das estradas, das oficinas, dos entrepostos, dos 
sistemas de irrigação, das culturas e regressão técnica.
 C) ruína dos entrepostos, dos contatos comerciais, acultu-
ração, perseguição aos pagãos, técnicas avançadas no 
campo e rompimento de relações do Império Romano 
do Ocidente com o Império Romano do Oriente e com 
os povos islâmicos.
 D) alteração da vida cotidiana, diminuição da compra dos 
artigos de luxo, abastecimento precário dos alimentos, 
superpopulação e valorização da vida ascética em de-
trimento de outras modalidades de vida religiosa.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
Respostas:
1-B, 2-A, 3-C, 4-E e 5-B.
As Invasões Germânicas
ÂÂNesse terceiro capítulo, damos destaque a uma breve introdução sobre a sociedade romana e o processo 
de ruralização. Em seguida, tratamos das invasões e as 
conquistas dos povos que se infiltram no território roma-
no. Veremos as relações dos germanos com os romanos 
e como as invasões acabam se tornando o início de um 
processo de colonização que terá consequência na for-
mação de reinos monárquicos no antigo império em de-
cadência.
Carlos Falcão
Capítulo 3
36 História da Alta Idade Média
A sociedade romana
Com o processo de ruralização ocorrido no Império Romano, 
a própria sociedade se modifica. O recuo demográfico atingia 
as camadas urbanas, médias e também as rurais. Os peque-
nos proprietários de terra sucumbiram aos laços de dependên-
cia. Nesse sentido, um camponês livre tornava-se dependente 
de um grande proprietário. O Estado, ao oprimir a população 
com impostos pesados, visando à manutenção das estruturas 
do Império, acabava por inviabilizar a independência dessas 
camadas sociais. Fato que gerava o patrocinium, ou seja, uma 
espécie de vínculo entre duas partes. Sem condições de se sus-
tentar, os camponeses, conforme Hilário Franco Júnior (2006, 
p. 84) entregavam “sua terra a um importante e influente per-
sonagem, colocando-se sob sua proteção”. Entre os traba-
lhadores livres urbanos, foram impostas a obrigatoriedade de 
seguir o ofício dos pais. Conforme Franco (2006, p. 85) esse 
segmento foi sendo reunido “em collegiae (corporações) de 
acordo com a especialização, para facilitar o controle estatal”.
O Império Romano tinha na força do trabalho escravo um 
dos seus principais trunfos econômicos. No entanto, com a 
expansão do império e seus decorrentes problemas, surgia o 
colono, um novo tipo de trabalhador rural. De acordo com 
Franco (2006, p. 85)
“Para os marginalizados que abandonavam as cida-
des, e para os camponeses livres sem terra, receber 
um pequeno lote de um latifundiário, entregando 
em troca parte de sua produção anual, representa-
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 37
va alimento e proteção naquela época de carestia e 
insegurança.”
Segundo Franco (2006, p. 85) “o colono surgia do avilta-
mento da condição do trabalhador livre e da melhoria da con-
dição do escravo”. Portanto, estava vinculado ao pedaço de 
terra que ocupava. Era, assim como a terra, uma propriedade. 
Se a terra fosse vendida, era vendida junto com o colono. Suas 
obrigações eram pesadas. Pela Lei, o colono era livre, no en-
tanto, na prática sua condição era de escravo da terra.
Essa relação da sociedade romana com a terra vai ser fun-
damental para a compreensão do processo de transformação 
econômica que ocorre nos limites da antiguidade e início do 
período medieval. Nesse contexto social e econômico, tam-
bém estão ocorrendo às invasões germânicas no que é cha-
mado de primeira grande onda. A segunda onda de invasões 
ocorre durante o Império Carolíngio e será tratada em capítulo 
posterior.
Invasões
O Império Romano Ocidental presenciou a primeira grande 
onda de invasões germânicas na noite de inverno de 31 de de-
zembro de 406. Ocorreu durante uma marcha, de suevos, vân-
dalos e alanos, através do Reno gelado. Desse primeiro movi-
mento impactante, outras invasões de peso ocorreram poucos 
anos depois como comenta Perry Anderson (2007, p. 108):
38 História da Alta Idade Média
“em 410, os visigodos,sob as ordens de Alarico, sa-
quearam Roma. Duas décadas mais tarde, os vân-
dalos tomaram Cartago, em 439. Por volta de 480, 
o primeiro sistema rudimentar de Estado bárbaro se 
havia estabelecido em solo que antes fora romano: 
os burgúndios na Savoia, os visigodos na Aquitânia, 
os vândalos no Norte da África e os ostrogodos na 
Itália. O caráter dessa terrível irrupção inicial – que 
em épocas posteriores proporcionou com suas ima-
gens arquetípicas o começo da Idade Média – era 
realmente muito complexo e contraditório: foi ao 
mesmo tempo o mais radicalmente destrutivo as-
salto dos povos germânicos ao Ocidente romano, 
e o mais notadamente conservador nesse aspecto 
para o legado latino. A unidade econômica, política 
e militar do Império Ocidental foi fragmentada de 
maneira irreparável.”
O historiador Jacques Le Goff (2007, p. 37) também co-
menta sobre a primeira grande onda. No entanto, já considera 
que seu início se dá por volta do século III. Afirma que a gran-
de instalação dos germanos no Império teria ocorrido a partir 
da “invasão geral dos germanos na Itália, na Gália, depois na 
Espanha, em 406-407, com a tomada de Roma por Alarico 
em 410”. Esse impulso germânico de invasões se prolonga, 
conforme Le Goff (2007, p. 37):
“durante os séculos V e VI, depois da entrada dos 
germanos do leste, visigodos e ostrogodos, e a gran-
de onda dos suevos, vândalos e alanos que transpu-
seram o Reno no começo do século V; é o lento im-
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 39
pulso para o oeste e o sul da Gália dos burgúndios, 
dos francos e dos alamanos. É também a travessia 
do Mar do Norte pelos jutos, anglos e pelos saxões, 
que precipita a refluxo dos bretões da Grã-Bretanha 
para o extremo oeste da Gália. Enfim, a última con-
quista germânica sobre o antigo território do Impé-
rio é a dos lombardos, que penetram na Itália na 
segunda metade do século VI. Para substituí-los ao 
leste do Reno foram estabelecidos saxãos, frísios, tu-
ríngios, bávaros.”
Na concepção de Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 
47-48), as grandes migrações, em seu início, não tiveram rela-
ção com o contato entre romanos ou bárbaros, mas, sim, com 
o surgimento dos hunos nas estepes das Ásia central. Segundo 
os historiadores:
“O terror causado por esses nômades altaicos nas 
terras ao redor do Mar Negro provocou a fuga de 
um grande grupo de godos. Em 376 esse grupo re-
cebeu permissão de cruzar o Danúbio, porém, as 
autoridades romanas não receberam essa enorme 
massa de refugiados de uma maneira humanitária. 
Os godos revoltaram-se e um exército do Império 
Romano do Oriente, sob o comando do imperador 
Valente, foi dizimado perto de Adrianópolis, em 378. 
Os godos receberam o status de foederati e um ter-
ritório na atual Sérvia, mas ainda não ficaram satis-
feitos. Sob o comando de um novo líder poderoso, 
Alarico, eles revoltaram-se de novo e atacaram a 
Trácia logo após o ano 390. Durante a primeira dé-
40 História da Alta Idade Média
cada do século V, Alarico foi à Itália duas vezes como 
um foederatus do imperador do Império Romano do 
Oriente, que queria extinguir o poder de Stilicho no 
Ocidente. Alarico nunca chegou a ameaçar Ravena, 
a capital do Império Romano do Ocidente, mas em 
410 dominou e saqueou Roma, a cidade eterna, um 
fato chocante na época. Ele morreu logo depois no 
sul da Itália. Seu sucessor partiu imediatamente da 
Itália e levou os godos para a Gália.”
Conforme os grupos de invasores começavam a entrar no 
Império, constituíam assentamentos. Esses assentamentos fo-
ram muito diversificados entre si, assim como ocorreram dife-
rentes formas de migrações. Segundo Blockmans e Hoppen-
brouwers (2012, p. 50-51):
“O único fator comum foi que em todos os lugares 
os recém-chegados eram minorias pequenas, mes-
mo na região da atual Inglaterra, onde por muito 
tempo os estudiosos tiveram uma visão diferente. Às 
vezes, os bárbaros invasores formavam um grupo 
tão pequeno que não conseguiam controlar ime-
diatamente o território que alegavam ter dominado. 
Eles se entrincheiravam em lugares seguros centrais, 
de onde nos primeiros anos tentavam aterrorizar os 
proprietários de terras nativos. Estamos mais acos-
tumados a esse padrão de assentamento no impé-
rio dos vândalos do Norte da África. Uma variante 
desse padrão só poderia ocorrer em áreas onde o 
sistema de impostos romano ainda estivesse intac-
to, como na Itália ocupada pelos ostrogodos no iní-
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 41
cio do século VI. Lá, por algum tempo, os bárbaros 
receberam pagamento de impostos em forma de 
produtos, em geral grãos, assim como os soldados 
regulares das legiões romanas haviam recebido no 
passado. No entanto, esse sistema sempre foi um 
acordo temporário que, mais cedo ou mais tarde, se 
convertia em ocupação de terra.”
Pode-se dizer que o principal motivo das invasões, segundo 
Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 51) era a coloniza-
ção. A partir do momento em que esses assentamentos tor-
nam-se presentes no império, ocorre uma aproximação entre 
conquistadores e conquistados. No entanto, vale dizer que essa 
aproximação, sem dúvida, não foi fácil ou sem resistência de 
ambos. Por exemplo, de acordo com Franco (2006, p. 85-86):
“A fraqueza demográfica germânica ajuda a expli-
car a recusa à miscigenação em certos reinos, tal-
vez como forma de preservação de identidade. Para 
tanto havia certa segregação, com bairros separa-
dos para romanos e bárbaros nas cidades da Itália 
ostrogoda, com a função militar proibida aos roma-
nos em diversos reinos, com os germanos em quase 
todos os locais usando sua roupagem tradicional, 
que os distinguia facilmente dos nativos. Foram proi-
bidos os matrimônios mistos, determinação de uma 
lei romana de 370 e que os germanos mantiveram 
em alguns reinos até meados do século VII.”
As diferenças entre romanos e invasores também se encon-
tram na religião. Conforme Franco (2006, p. 86) “os ostro-
42 História da Alta Idade Média
godos, visigodos, vândalos, burgúndios, suevos e lombardos 
adotaram o arianismo, heresia que os afastava da população 
romana católica”. Dessa maneira, era bem possível que seguir 
uma opção religiosa diferente significasse para esses povos 
conservar uma identidade própria. Os godos até mesmo cria-
ram obstáculos jurídicos para impedir que romanos adotassem 
o arianismo. Franco (2006, p. 86) também cita que “francos, 
alamanos, alanos, anglos e saxões permaneceram ligados ao 
paganismo”. Essa barreira teria sido removida somente “a par-
tir do momento em que os francos, em 496, e os visigodos, em 
587, se converteram ao catolicismo e acabaram em diferentes 
momentos sendo imitados pelos demais germânicos”.
É importante destacar que os povos que viviam além das 
fronteiras do império eram chamados pelos romanos de bár-
baros. Bárbaro é uma palavra de origem grega e designava 
todos àqueles que não falavam grego. Nesse sentido, também, 
para os romanos, significava encarar esses grupos com uma 
mistura de sentimentos, tais como admiração, receio, medo, 
intimidação, aversão e desprezo.
Para os romanos, causava estranhamento estar em conta-
to com esses grupos de bárbaros. No caso dos alemães, por 
exemplo, segundo Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 35) 
“tinham cabelos compridos louros avermelhados, cheiravam 
mal e bebiam, estavam sempre à procura de briga e não eram 
confiáveis”. Percebe-se que o aspecto físico ajudava na con-
figuração de um preconceito levando a crer também que por 
serem brigões não poderiam ser confiáveis. No entanto, é fato 
que esse aspecto selvagem, para os romanos, fazia com que 
generais do império tivessem escoltas de bárbaros do norte.
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 43
Também é interessante notar que quando começaram a 
ocorrer contatos frequentes entre os bárbaros e os cidadãosdo 
império, foram construídas barreiras e fortalezas nas fronteiras. 
O que se objetivava era controlar o intenso tráfico que ocorria 
nos limites do império e não simplesmente evitar a entrada de 
estrangeiros. De acordo com Blockmans e Hoppenbrouwers 
(2012, p. 36):
“a expansão contínua do império resultara no in-
gresso e incorporação de enormes populações es-
trangeiras. Elas aos poucos se romanizaram, mas 
nunca perderam sua diversidade étnica. O Império 
Romano tinha uma mistura efervescente de culturas, 
com um grande componente bárbaro.”
O período de migrações foi realizado por bárbaros seden-
tários e nômades. Dessa maneira, percebe-se que esse proces-
so foi distinto entre cada um dos tipos mencionados. Confor-
me Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 36):
“Nas densas florestas das planícies e cadeias de 
montanhas ao norte e ao nordeste do Império Ro-
mano havia bárbaros em comunidades agrícolas, 
camponeses que moravam em pequenos vilarejos 
controlados por aristocracias guerreiras nativas. A 
divisão rudimentar desses bárbaros do norte e do 
nordeste em celtas, alemães e eslavos, citada com 
frequência na literatura moderna, não se fundamen-
ta em antigos etnógrafos. Ela baseia-se na pesquisa 
filológica dos remanescentes linguísticos ‘bárbaros’ 
da pré-história europeia.”
44 História da Alta Idade Média
Esse primeiro grupo referido pelos historiadores é o dos 
sedentários. Já os bárbaros nômades dividiam-se em duas ca-
tegorias principais: os da estepe e os do deserto. De acordo 
com Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 37):
“Eles andavam com suas grandes manadas de ca-
valos, carneiros e camelos, pelas estepes interminá-
veis da Eurásia e nos desertos do Norte da África, 
da Arábia e da Síria. Essas economias pastoris só 
poderiam existir por meio do contato regular com 
comunidades agrícolas para trocar animais e peles 
por grãos ou outro produto da terra.”
Existiam relações violentas com esses grupos. Os nôma-
des nem sempre estavam abastecidos de víveres capazes de 
manter as suas necessidades básicas de sobrevivência. Diante 
desse fato, entravam em combate contra ou mesmo exigiam 
tributos dos bárbaros sedentários. A partir do momento em 
que ocorre um acúmulo de riquezas, e certa centralização po-
lítica, os grupos nômades começam a se sedentarizar.
Os nômades das estepes, de acordo com Blockmans e Ho-
ppenbrouwers (2012, p. 37-38) eram cavaleiros extraordiná-
rios, tinham grande competência nas artes marciais e excelen-
tes arqueiros. Conforme os historiadores, “Seus percursos por 
lugares inóspitos tornaram-nos fortes e resistentes”. Dessa ma-
neira, também se criou um sentimento de solidariedade entre 
todos os tipos de grupos bárbaros, diante da ameaça contínua 
que sofriam. Em consequência desse fator, outra característica 
que acabaram por adquirir foi a cultura da violência. Ainda 
de acordo com os historiadores citados, os bárbaros, quan-
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 45
do colocavam suas diferenças de lado, formavam “grandes 
confederações multiétnicas que se transformavam em terríveis 
máquinas de lutas em tempos de guerra”.
As invasões em território romano já eram registradas por 
escritores do final da antiguidade. De acordo com Blockmans 
e Hoppenbrouwers (2012, p. 41-42), eles descreviam o fluxo 
de bárbaros no império de maneira sombria:
“gostavam de metáforas referentes ao mar: ‘ondas 
zangadas’ de impiedosos godos, vândalos e hunos 
que atacavam as fronteiras do outrora tão podero-
so império e que, por fim, foram submergidos pelas 
hordas dos bárbaros.”
Mesmo na época de Júlio Cesar, os bárbaros eram uti-
lizados em operações militares. Sua presença nos exércitos 
romanos, no final do Império, de acordo com Blockmans e 
Hoppenbrouwers (2012, p. 42) ocorrera quando os romanos 
decidiram adotar uma nova estratégia “não mais defender as 
fronteiras do império com legiões que se estendiam por todo 
o comprimento da fronteira”. Dessa forma, começaram a se 
firmar acordos entre romanos e bárbaros. Entre os acordos 
mais importantes estava o foedus, segundo Blockmans e Ho-
ppenbrouwers (2012, p. 43):
“Os primeiros foedera (no sentido literal ‘tratados’, 
no singular foedus) foram firmados com os sálios, 
uma das duas confederações de povos em que se 
dividiram os antigos francos logo após 340. Os sá-
lios tiveram permissão de instalarem-se em Betuuwe, 
na região do Baixo Reno, mas nos séculos seguin-
46 História da Alta Idade Média
tes eles colonizaram as atuais regiões de Brabante 
e Flandres. Acordos semelhantes forma feitos com 
muitos outros grupos de bárbaros. Em um estágio 
posterior o foedus significou apenas um contrato 
entre mercenários. Não havia uma submissão for-
mal nem uma conexão com a defesa das fronteiras. 
Além disso, os foedera deram direito que os bár-
baros recebessem pagamento. A fim de assegurar 
esse pagamento, mesmo em períodos em que não 
havia trabalho para seus guerreiros, os líderes dos 
grupos mercenários bárbaros tentavam obter uma 
alta patente militar no exército romano. Childerico, 
pai do rei franco Clóvis, foi um desses guerreiros 
que alcançou esse poder nos últimos anos no Im-
pério Romano do Ocidente. Childerico intitulava-se 
rex (rei), mas, além disso, tinha o título romano de 
magister (general).”
O aumento de soldados estrangeiros nas legiões romanas 
regulares aumentou durante o período em que Dioclesiano 
(284-305) governou. Isso ocorreu em função do recuo de-
mográfico. E continuou ocorrendo aos que sucederam esse 
imperador. Dessa maneira, com o aumento dos bárbaros no 
exército, sua importância começa a adquirir efeitos práticos. 
Ou seja, os principais líderes estrangeiros passam a ocupar 
níveis mais elevados na hierarquia militar. De acordo com Blo-
ckmans e Hoppenbrouwers (2012, 43):
“Após a morte de Teodósio (378-395) na parte 
ocidental do Império Romano, o verdadeiro poder 
estava frequentemente nas mãos dos comandan-
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 47
tes vândalos como Stilicho e o scirii, Odoacer. Em 
476, Flavius Odoacer, depôs o último imperador 
do oeste, em uma revolução palaciana e se auto-
proclamou ‘rei dos bárbaros’ (rex gentium) da Itália. 
No Oriente, o alamano Aspar foi comandante entre 
431 e 471, e um dos homens mais poderosos de 
Constantinopla.”
Com as invasões bárbaras, consequentemente, começa-
ram a se formar reinos bárbaros por toda a parte do Império 
Romano. Sendo a monarquia forma predominante de governo 
na Europa medieval, de acordo com Blockmans e Hoppen-
brouwers (20012, p. 51). Segundo esses historiadores, a con-
tribuição romana para a formação dos novos reinos se consta-
ta, por exemplo, na admiração que os chefes bárbaros tinham 
pelos romanos. Essa admiração pode ser constata em diversos 
aspectos. Os conquistadores desejaram se unir às famílias ro-
manas mais importantes pelo casamento. Mesmo os principais 
líderes se vangloriando de suas origens, como Teodorico, que 
era de antigas famílias reais de godos, intitulava o seu reino 
italiano de res publica romana, ou seja, Estado romano. Ou-
tros reis bárbaros, de acordo com Blockmans e Hoppenbrou-
wers (2012, p. 51-52), como Sigismundo “dizia ser um solda-
do do imperador. Depois de derrotar os visigodos em 507 e 
508, Clóvis realizou banquetes triunfais nos quais, seguindo o 
antigo regime romano, se vestia com trajes púrpuras”. Block-
mans e Hoppenbrouwers (2012, p. 52) afirmam que os roma-
nos esforçaram-se para manter as lideranças bárbaras como 
amigos. Por isso, concediam-lhes títulos de nobreza ou os altos 
postos militares fazendo reverência à sua descendência ilustre.
48 História da Alta Idade Média
Nas monarquias instauradas pelos conquistadores, come-
çaram a ocorrer duas tendências em relação à sucessão. Uma 
delas era a hereditariedade com vistas à formação de uma 
dinastia e a outraprevia eleições realizadas pelos nobres me-
lhor posicionados hierarquicamente naqueles grupos. Vejamos 
esse exemplo de Blockmans e Hoppenbrouwers (2012, p. 52): 
“A maioria dos visigodos adotou uma base sucessória eleitoral, 
ao passo que os anglos e os saxões na Inglaterra e os francos 
e os lombardos optaram pelo regime de sucessão hereditária 
de uma família”.
A partir do início do século VI, já se pode observar uma 
configuração dos principais reinos que se formaram na Euro-
pa ocidental. Os visigodos possuíram o reino mais extenso, 
estendendo-se do Vale do Loire até o sul da Península Ibérica. 
Outros reinos que se destacaram nesse período foram os dos 
ostrogodos, visigodos, francos, vândalos, anglo-saxões, bur-
gúndios e suevos.
Nesse processo de invasões e conquistas, formaram-se di-
versos reinos que baseavam sua política na monarquia. No 
século VIII, surge mais uma vez um império de grande força 
na Europa. Esse é o império carolíngio, o qual será destaque 
como tema do próximo capítulo.
Referências bibliográficas:
ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo. 
São Paulo: Brasiliense, 2007.
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 49
BLOCKMANS, Win; HOPPENBROUWERS, Peter. Introdução 
a Europa Medieval, 300-1550. Rio de Janeiro: Forense, 
2012.
JUNIOR, Hilário Franco. A Idade Média Nascimento do oci-
dente. São Paulo: Editora Brasiliense, 2006.
LE GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Rio de Ja-
neiro: Editora Vozes, 2007.
Questões:
 1. Leia as proposições sobre o colono na Idade Média: I. Pela 
Lei, o colono era livre, no entanto, na prática, sua condi-
ção era de escravo da terra. II. Se a terra fosse vendida, 
era vendida junto com o colono. III. Surgia do aviltamento 
da condição do trabalhador livre e da melhoria da condi-
ção do escravo. Assinale a resposta correta:
 A) As proposições I, II e III estão corretas.
 B) As proposições I e II estão corretas.
 C) As proposições II e III estão corretas.
 D) As proposições I e III estão corretas.
 E) Somente a proposição I está correta.
 2. Assinale a resposta que complementa corretamente a 
afirmação a seguir. Para Blockmans e Hoppenbrouwers o 
principal motivo das invasões germânicas era:
 A) a destruição do império romano.
 B) a colonização.
 C) a propagação da religião dos seus deuses nórdicos.
50 História da Alta Idade Média
 D) a realização de intensificar e monopolizar o comércio 
de artigos singulares.
 E) Nenhuma das respostas anteriores.
 3. Como era conhecida a heresia que afastava os ostrogo-
dos, visigodos, vândalos, burgúndios, suevos e lombardos 
da população romana católica?
 A) Calvinismo.
 B) Islamismo.
 C) Arianismo.
 D) Protestantismo.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
 4. O significado de bárbaro, aos olhos dos romanos, repre-
sentava: I. Os povos que viviam além das fronteiras do 
império. II. Grupos invasores que causavam uma mistura 
de sentimentos, tais como admiração, receio, medo, inti-
midação, aversão e desprezo. III. Grupos aliados que con-
tribuíram para a expansão do império e da religiosidade 
cristã.
 A) Proposições I e II estão corretas.
 B) Proposições II e III estão corretas.
 C) Proposições I, II e III estão corretas.
 D) Proposições I e III estão corretas.
 E) Apenas a proposição III está correta.
 5. Os bárbaros nômades podiam ser divididos em duas cate-
gorias principais. Assinale a resposta correta:
Capítulo 3 As Invasões Germânicas 51
 A) Os bárbaros da estepe e os do deserto que andavam 
com suas grandes manadas de dromedários, camelos e 
carneiros em territórios do Egito e da Mesopotâmia.
 B) Os bárbaros do oriente e os do ártico que andavam 
com suas grandes manadas de cavalos, bois e carnei-
ros em territórios da Eurásia, do Norte da África, da 
Arábia e da Síria.
 C) Os bárbaros sedentários e os camponeses do Norte da 
Europa que circulavam por todo continente asiático.
 D) Os bárbaros da estepe e os do deserto que andavam 
com suas grandes manadas de cavalos, carneiros e ca-
melos em territórios da Eurásia, do Norte da África, da 
Arábia e da Síria.
 E) Nenhuma das alternativas anteriores.
Respostas:
1-A, 2-B, 3-C, 4-A, 5-D.
O Império Carolíngio, 
Invasões e a Construção 
da Europa
ÂÂNesse capítulo, trataremos do governante sagrado para entender como Carlos Magno se torna tão im-
portante para a coletividade cristã ocidental. Em seguida, 
relataremos as invasões que ocorrem no império carolín-
gio. Dessas invasões, veremos como se dá o processo que 
constrói a Europa.
Carlos Falcão
Capítulo 4
Capítulo 4 O Império Carolíngio, Invasões e a Construção da Europa 53
O governante sagrado
Na antiguidade, um rei poderia ser idolatrado como um deus 
ou sacerdote. Já na Idade Média, o monarca “tinha inquestio-
nável caráter sagrado”, conforme Hilário Franco Júnior (2006, 
p. 49). Para ter o caráter sagrado, não bastava querer. Era 
importante formar aliança com quem podia transformar um rei 
comum em um líder sagrado. Portanto, não é por acaso que 
Pepino, o Breve, por volta do século VIII, legitima o seu poder 
recorrendo a uma cerimônia que tinha o Antigo Testamento 
como objeto sagrado que validava seu posto. Essa cerimônia, 
desde o século VII, era realizada pelos visigodos com o ato de 
se derramar um óleo considerado santo sobre a cabeça do 
rei que assumia o cargo. Esse evento era chamado de unção 
régia. De acordo com Franco (2006, p. 50):
“Tratava-se, pois, de um rito de passagem que sa-
cralizava o monarca, tornava-o um eleito de Deus. 
Desde então, todo o rei para ser visto como tal pre-
cisou ser submetido àquele rito.”
Submeter-se ao rito, portanto, sacralizava o monarca tor-
nando-o um indivíduo especial, capaz de governar os seus 
súditos. Um fato curioso, diferente da sacralização, ocorreu na 
Grã-Bretanha. Acreditava-se que o rei Arthur voltaria de Ava-
lon para governar àquelas terras. Segundo Franco (2206, p. 
50) “em 1554, Filipe II de Espanha casou-se com Maria Tudor 
e precisou solenemente jurar que renunciaria ao trono inglês 
se Arthur o reivindicasse”.
54 História da Alta Idade Média
Carlos Magno
Com a desestruturação do Império Romano e a consequente 
colonização feita pelos germanos, o estado organizado e ur-
banizado dá lugar ao processo de ruralização e a composição 
de diversos novos reinos que modificam o panorama político 
europeu. Esses grupos invasores tinham como base de sua or-
ganização política a família e a tribo. Ou seja, não dispunham 
de cidades ou estados. Conforme Franco (2006, p. 52) “As 
relações sociais entre eles não se regiam pelo conceito de ci-
dadania, mas de parentesco”.
Desse modo, demorou algum tempo para que houvesse 
um reino de fato mais coeso, politizado e com características 
de império. Nesse sentido, a Idade Média, somente vai pre-
senciar o surgimento de um governo imperial a partir de Car-
los Magno. Tratou-se de uma renovação na política que não 
ocorria desde as invasões bárbaras que desestruturaram o im-
pério. Para fazer um império, conforme Franco (2006, p. 54), 
as condições reunidas se apresentaram no século VIII, durante 
o reino franco. Isso se dá, segundo o historiador, em função de 
Carlos Magno ter tido a anuência da Igreja para tornar-se um 
monarca. Franco (2006, p. 54) nos lembra que:
“os francos tinham sido os primeiros germânicos a se 
converter ao catolicismo romano, em fins do século 
V. Depois, em 732, Carlos Martel derrotara os mu-
çulmanos na célebre batalha de Poitiers, ganhando 
o prestígio de um verdadeiro salvador da Cristanda-
de. Seu filho, Pepino, o Breve, consolidou o pacto 
franco-papal. Em troca da deposição do último rei 
Capítulo 4 O Império Carolíngio, Invasões e a Construção da Europa 55
da dinastia Merovíngia e de sua própria entroniza-
ção como rei dos francos, em 751, Pepino arrancou

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