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RENASCIMENTO Unidade II Introdução “O estilo gótico foi criado para (...) o abade de Saint Denis, conselheiro de dois reis de França; o estilo renascentista, para os comerciantes de Florença, banqueiros dos reis da Europa”; (Nikolaus Pevsner) “É na atmosfera desta próspera república comerciante que o novo estilo aparece, por volta de 1420”. (Pevsner) Introdução O Renascimento nasceu na Itália, porque ali, na verdade, o gótico quase não foi explorado. Sempre houve, contudo, uma memória muito viva das glórias do antigo Império Romano, presente nas ruínas impressionantes de templos, teatros, termas, obras de arte etc. Introdução Esse “ressurgimento” das artes e valores clássicos impressionou tanto os acadêmicos, que eles denominaram todo o período de Renascimento (ou Renascença). “O Homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci “A Adoração dos Magos” (c.1480) - Boticelli Introdução Detalhe: “A palavra “renascimento” foi utilizada em tempos para designar os cerca de 400 anos da arquitetura europeia que vão desde o reaparecimento da tradição clássica, em Florença, no século XV, até a emergência do Romantismo (...) nos finais do século XVIII”; (Jordan) Contudo, desde o final do século XIX, os historiadores subdividiram “este movimento global em Renascimento propriamente dito, Maneirismo, Barroco e Neoclassicismo.” (Jordan) “Perseu” (c.1806) de Antonio Canova (1757-1822) Introdução Apesar de continuarem a ser erguidas várias igrejas no período, o Renascimento foi, antes de mais nada, um estilo “régio e mercantil”; Ou seja, o estilo destacou-se tanto pela arquitetura secular quanto pela religiosa. Os seus grandes patronos serão a nobreza, os banqueiros, os comerciantes e até mesmo membros importantes do clero. O Humanismo pode ser descrito como uma reforma cultural e educacional defendida por estudiosos, escritores e líderes civis entre os séculos XIV e XV, em oposição à escolástica medieval. Histórico - Humanismo Escolástica: modalidade de pensamento essencialmente cristão que dominou as universidade medievais entre os séculos IX e XVI e que procurou atribuir aos princípios religiosos ensinados pelo clero um caráter filosófico, de certo modo aproximando o Cristianismo da filosofia da Antiguidade Clássica (ou seja, foi uma espécie de tentativa de “racionalização do pensamento cristão” através das ideias de Platão, Sócrates etc.); Os escolásticos, portanto, “tentam harmonizar os ideais platônicos com fatores de natureza espiritual, à luz do cristianismo vigente no Ocidente”. (Ana Lúcia Santana) Histórico - Humanismo “A tarefa do teólogo: estudar Deus e sua revelação e, em seguida, todas as demais coisas "à luz de Deus" (...), pois Ele é o princípio e fim de tudo”. “Os professores devem ser elevados em suas vidas, de modo que iluminem aos fiéis com sua pregação, ilustrem aos estudantes com seus ensinamentos, e defendam a Fé mediante suas disputas contra o erro”. “Três coisas são necessárias para a salvação do homem: saber o que deve crer, saber o que deve desejar, saber o que deve fazer”. Histórico - Humanismo São Tomás de Aquino (1225-1274) e a Summa Theologica: O termo “humanismo”, portanto, tem origem na forma de identificar (ou diferenciar) os antigos textos “pagãos”, em oposição aos textos “divinos” da Igreja Católica (como a Bíblia e as obras dos principais teólogos); Detalhe: os humanistas não eram contra a igreja Católica! Eles apenas procuravam ignorar os séculos de interpretações dos antigos textos feitas por autores católicos e ter um contato direto com as obras originais da Antiguidade Clássica, lidas em sua inteireza (e não apenas através de comentários ou versões reduzidas). Histórico - Humanismo Portanto, a partir desse momento – quando os textos clássicos são novamente valorizados e “caçados” por toda a Europa - verificamos o surgimento de inúmeras coleções de livros, armazenados em bibliotecas cada vez mais impressionantes. Histórico - Humanismo Histórico - Humanismo Na Itália, o programa educacional humanista foi rapidamente aceito e em meados do século XV vários membros das altas classes já haviam recebido uma educação humanista, incluindo até mesmo alguns dos mais altos oficiais da Igreja; Entre o século XV e o início do século XVI, vários papas foram humanistas, como por exemplo Nicolau V (1447-1455), Pio II (1458- 1464), Sisto IV (1471-1484), Júlio II (1503-1513) e Leão X (1513-1521: Giovanni de Medici). Esses papas, por sinal, viriam a destacar-se como grandes patronos (e protetores) dos principais artistas renascentistas. Pio II Muitos desses papas, na verdade, pensavam – e agiam - mais como governantes comuns do que como sacerdotes... Júlio II (Giuliano Della Rovere, pai de três filhas), por exemplo, em cujo reinado a catedral de São Pedro foi iniciada, pediu a Michelangelo para retratá- lo, numa estátua, com uma espada na mão em vez de um livro; seu argumento: “sou um soldado, não um erudito”. Papa Júlio II Histórico - Humanismo Cenas de batalhas com o Papa Júlio II Histórico - Humanismo As obras literárias produzidas por Dante Aleghieri, Francesco Petrarca e Nicolau Machiavel, nesse mesmo período, enfatizavam as virtudes da liberdade intelectual e da expressão individual. “Dante e seu Poema” (1460), pintura de Domenico di Michelino, exposta na Igreja de Santa Maria del Fiore (Florença) Histórico - Humanismo Histórico – Roma no Século XIV O intelectual e poeta Francesco Petrarca (1304-1374) foi um dos principais defensores dos ideais humanistas. Ao estudar as obras clássicas do passado, desenvolveu um novo tipo de nostalgia pela antiguidade clássica (e sua grandeza perdida): os seus ideais procuravam demonstrar justamente a capacidade de regeneração dessa antiguidade. O contraste evidente entre a rica memória e o estado lamentável em que se encontravam os templos e palácios arruinados da outrora “grande” Roma enchia Petrarca de tristeza e o levou às lágrimas em sua visita à cidade em 1337. Histórico – Roma no Século XIV Histórico – Roma no Século XIV Quadros que mostram o estado de abandono da cidade de Roma até o século XV Curiosidade: Entre 1309 e 1376, a sede do papado havia sido transferida para Avignon (França), em função de conflitos da Igreja com a coroa francesa. Nesse período, a igreja teve sete papas, todos franceses e, de certa forma, todos eles controlados pelos reis da França. Histórico – Roma no Século XIV Palácio Papal em Avignon Em várias oportunidades, Petrarca tentou convencer o Papa a voltar para Roma, devolvendo à cidade a sua condição de sede da Cristandade e, desse modo, restaurando a sua antiga importância como centro mundial; Histórico – Roma no Século XIV Em 1377, Gregório XI (Pierre-Rocher de Beaufort, um francês) finalmente retorna à Roma, marcando uma importante virada política para a cidade. A substituição da história religiosa – a única que importava - por um renovado interesse na história de Roma marcou o início de uma nova abordagem da historiografia e, ao mesmo tempo, um interesse no estudo arqueológico dos antigos monumentos e obras de arte. Histórico – Roma no Século XIV Os Tratados de Arquitetura Além dos próprios edifícios romanos, a mais importante fonte para o estudo da arquitetura clássica foi o tratado De Architectura, escrito pelo engenheiro e arquiteto romanoMarcus Vitruvius Pollio (Vitrúvio) em 27 a.C. e redescoberto em 1414 na biblioteca da abadia de Monte Cassino (Itália). Curiosidade: Abadia de Monte Cassino (antes e depois da Segunda Guerra Mundial) Curiosidade: cidade de Monte Cassino ao final da 2ª Guerra Mundial Os Tratados de Arquitetura Em De Architectura, como vimos, estão expressos os princípios clássicos fundamentais da simetria, harmonia e proporção, o estilo e as proporções apropriadas para diferentes tipos de edificações, bem como os métodos e materiais de construção a serem aplicados pelos construtores; A partir de então, Vitrúvio tornou-se uma fonte inestimável de conhecimentos e uma referência básica para os tratados de arquitetura de Leon Battista Alberti (1404-1472) em diante. O primeiro (e mais influente) autor a tratar da arquitetura renascentista foi Leon Battista Alberti (1404-1472), um grande humanista que, além de escritor, foi também arquiteto e antiquário; Os Tratados de Arquitetura A sua principal obra é De re aedificatoria, composta de dez livros sobre arquitetura (imitando a divisão dos temas adotada por Vitrúvio), todos escritos entre 1443 e 1452 (mas só publicados, postumamente, em 1485). Esse tratado procurou, em linhas gerais, expressar a importância das regras “cristalizadas” a partir do exemplo dos antigos, a importância do conselho dos especialistas e do conhecimento preciso obtido através da prática contínua. Os Tratados de Arquitetura Gravura do “De re aedificatoria” Resgatando Vitrúvio, Alberti lembrou que a arquitetura deveria atender sempre a três princípios básicos: deveria ser funcional (utilitas), ter a máxima solidez e durabilidade (firmitas) e, por fim, ter uma forma “elegante e agradável à vista” (venustas); Os Tratados de Arquitetura A beleza, para Alberti, era algo inerente à estrutura. Exemplo: muitas vezes o uso adequeado de materiais comuns era mais harmonioso do que o uso desordenado de materiais caros e extravagantes. Se ao longo do século XV, o caráter dos tratados havia sido mais literário, a partir do século XVI, contudo, eles voltaram-se mais para a arquitetura, com uma ênfase maior em ilustrações (ou seja, um tipo de coletânea de modelos a serem adotados pelos projetistas), além de fornecerem uma clara orientação para o desenvolvimento de “uma forma sólida e bem pensada de se construir”, influenciando arquitetos e construtores até o século XIX; Destaque especial para Os Quatro Livros de Arquitetura, escritos por Andrea Palladio em 1570. Os Tratados de Arquitetura Exemplos de estudos arquitetônicos de Palladio Os Tratados de Arquitetura A Renascença e os Monumentos Em termos dos antigos monumentos e obras de arte da Antiguidade Clássica, portanto, a Renascença marcou uma virada; O novo humanismo via os antigos monumentos como relíquias da grandeza perdida de Roma, tanto imperial quanto cristã, dando-lhes uma importante significação política; Além disso, os antigos monumentos eram também fontes de estudos: artistas e arquitetos podiam aprender sobre arte, tecnologia e arquitetura; os humanistas podiam aprender sobre história, a língua latina e sua respectiva literatura. A Renascença e os Monumentos A Renascença e os Monumentos Consequentemente, vários artistas passaram a visitar Roma para estudar os monumentos e obras de arte clássicos: “Santíssima Trindade”, de Masaccio (c.1425-1427), afresco da igreja de Santa Maria del Carmine (Florença), uma das primeiras pinturas a fazer uso da perspectiva linear A Renascença e os Monumentos dentre eles, figuras importantes como Brunelleschi, Donatello e Masaccio, os primeiros grandes mestres da arte e da arquitetura renascentistas. Cosimo de Medici e o seu neto (Lorenzo, o Magnífico), eram, “segundo o estatuto social, cidadãos comuns, mas, pela sua cultura, estavam ao nível dos grandes príncipes”. Fizeram de Florença a cidade mais atraente da Europa; Os grandes comerciantes foram os primeiros mecenas da história. A eles devemos não só os palácios, quadros, esculturas e literatura, mas sobretudo “o fato determinante dos florentinos terem aceito o Renascimento como base da cultura”. Os Mecenas Renascentistas Davi de Michelangelo, encomenda da guilda de comerciantes de lã de Florença (Itália) Deve-se, portanto, a uma série de famílias de grandes comerciantes e banqueiros (Medici, Pitti, Strozzi etc.) o fato do estilo renascentista, no século XIV, ter sido “inteiramente aceito em Florença e ali desenvolvido a maravilhosa unanimidade de propósitos, por 30 ou 40 anos, antes que outras cidades da Itália, além de outros países estrangeiros, tivessem começado a entender o seu significado”. (Pevsner) Cosimo I – Grã-Duque da Toscana Os Mecenas Renascentistas Uma república comerciante naturalmente tenderá mais para os ideais “mundanos” do que para os ideais “transcendentais” (típicos de uma mentalidade dominada pela religiosidade); ou seja, tenderá mais “para a clareza, e não para a obscuridade”. Os Mecenas Renascentistas “E uma vez que o clima era claro, limpo, saudável, e que a mente das pessoas era clara, limpa e orgulhosa, era ali que o espírito claro, orgulhoso e mundano da Antiguidade romana poderia ser redescoberto, (...) era ali que sua atitude com relação à beleza física nas belas-artes e no domínio da proporção na arquitetura poderia ter eco; era ali que sua grandeza e humanidade poderiam ser compreendidas”. (Pevsner) Os Mecenas Renascentistas E assim como os Medici (e famílias rivais) honravam os intelectuais e os recebiam em seus círculos mais íntimos, assim como eles honravam os poetas e escreviam poesias, esses ilustres mecenas, de fato, consideravam os artistas sob um ângulo totalmente diferente do registrado durante a Idade Média. Ou seja, a “moderna maneira” de considerar o artista e o respeito à sua genialidade é algo que também nasceu na Toscana neste período. Giovanni de Medici (Papa Leão X – 1513 a 1521): brasão Os Mecenas Renascentistas “Agora, esses homens, quando construíam uma igreja, não queriam que sua aparência lhes lembrasse aquele incerto amanhã ou aquilo que viria depois que esta vida terminasse. Queriam que a arquitetura eternizasse o presente. Assim, eles encomendavam igrejas como templos à sua própria glória”. (Pevsner) Túmulo de Lorenzo Medici (Capela Medici), de Michelangelo Os Mecenas Renascentistas Em 1334, as autoridades civis responsáveis pela nomeação de um novo mestre de obras para a catedral e para a cidade de Florença escolheram Giotto di Bondone (1267-1337), um pintor, porque estavam convencidas de que o arquiteto da cidade deveria ser, antes de mais nada, um “homem famoso”. O Arquiteto na Renascença Políptico de Santa Reparata, de Giotto Campanário de Santa Maria Fiore (Florença), c.1298-1359 Assim, unicamente por acreditarem que “no mundo todo não se poderia encontrar ninguém melhor neste e em outros assuntos”, escolheram Giotto, embora ele não fosse construtor. Cerca de 60 anos mais tarde, por sinal, outros dois pintores estavam entre os especialistas chamados para opinar sobre os projetos de conclusão da nova catedral de Florença. O Arquiteto na Renascença Campanário de Santa Maria Fiore (Florença), c.1298-1359 Esses eventos assinalam o começo de um novo período da história da arquitetura como profissão;O Arquiteto na Renascença Sansovino: “Netuno” A partir de então – e esta é uma característica específica da Renascença – os grandes arquitetos eram pessoas que geralmente não tinham uma formação específica na área: Rafael, Leonardo da Vinci e Bramante eram pintores renomados; Sansovino era escultor; Brunelleschi era ourives e relojoeiro; Baccio d’Agnolo era marceneiro etc. Ou seja, grandes artistas eram homenageados e recebiam encomendas de trabalhos em outras áreas que não as de sua especialidade, simplesmente pelo fato de serem grandes artistas! O Arquiteto na Renascença Donato Bramante: “O Interior de uma Igreja” O fascínio pela Antiguidade, porém, não era apenas estético: era também social; Ou seja, tendo em vista que o estudo do passado romano era, neste momento, acessível apenas aos “instruídos”, demonstrar conhecimento sobre a Antiguidade Clássica era sinal de status e de domínio da leitura e da escrita. A Arquitetura Renascentista Chiostro (Claustro) del Bramante (Roma), anexo à Igreja de Santa Maria della Pace (1504) Assim, o artista e o arquiteto - que até então haviam se contentado em aprender seu ofício com mestres e desenvolvê-lo conforme a tradição e sua própria imaginação -, dedicavam agora sua atenção à arte da Antiguidade, não apenas porque ela os encantava, mas também porque lhes conferia distinção social. A Arquitetura Renascentista Do lado dos ricos e influentes patronos, o interesse pela arquitetura, além de comprovar a sua erudição, funcionava como uma forma de competição entre amigos e rivais pela construção de edifícios cada vez mais destacados. Palazzo Strozzi (Florença) A Arquitetura Renascentista “A natureza secular do Renascimento – o “triunfo do Humanismo” (...) – tem o seu símbolo (...) no palácio, e não menos nos palácios de Florença. Estes foram construídos em meados do século XV para famílias de comerciantes ou príncipes (...). Variando nos pormenores, obedecem, todavia, ao mesmo tipo”. (Jordan) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Os palácios renascentistas são fundamentalmente urbanos. Alguns chegam a ocupar um quarteirão inteiro da cidade, e as fachadas, “como falésias de cantaria”, ficam junto à rua. A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Palazzo Medici (Florença) Todos têm um pátio interior com colunatas e “agradáveis recantos sombreados”: “Aquilo que se espera da Renascença, em termos de delicadeza e articulação, pode ser visto principalmente nos pátios interiores”. (Jordan) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Palazzo Strozzi (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Pátio interior do Palazzo Medici-Ricardi (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Pátio interior do Palazzo Ducale (Urbino) O pátio interno do Palazzo Farnese é circundado por galerias em arcadas (como em todo palácio renascentista), mas com colunas dóricas e um friso de métopas e tríglifos. A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Além disso, o primeiro andar do Palazzo Farnese não tem uma galeria, mas sim “janelas nobres com frontões, dispostas em arcadas cegas, segundo a ordem jônica”. Essa disposição, na verdade, segue o uso romano: “o dórico, mais rude, deve figurar no térreo, o elegante jônico no primeiro andar e o rico coríntio no segundo”. (Jordan) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo O pavimento térreo dos palazzos destina-se à zona de serviço e inclui, por exemplo, escritórios, estábulos, cozinhas, alojamentos dos guardas etc.; Essas dependências têm normalmente pequenas janelas que dão para a rua, protegidas por grades de ferro que, muitas vezes, contrastam fortemente com a cantaria rusticada”. Detalhe da fachada do Palazzo Pitti (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Rusticado (“cantaria rusticada”, “aparelho rústico”): embora já tivesse sido usado em alguns (poucos) edifícios da Antiguidade romana, esse revestimento tornou-se realmente popular durante a Renascença, quando então geralmente o andar térreo – e às vezes toda a fachada – era decorado (revestido) dessa forma. Palazzo Medici (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo O contraste entre o rusticado do andar térreo e as paredes “lisas” dos andares superiores normalmente enriqueciam as fachadas, tornando-as mais imponentes e marcantes. A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Palazzo Medici (Florença) Palazzo Medici (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Detalhe da fachada do Palazzo Pitti (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Praticamente todos esses imponentes palácios possuem também uma série de salões no primeiro andar, com tetos côncavos e pintados. No exterior, a estes tetos correspondem as grandes áreas de parede maciça sobre cada fila de janelas. A Arquitetura Renascentista: o Palazzo A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Palazzo Farnese (Roma): piano nobile Finalmente, o palácio é coroado por uma cornija: a do Palazzo Strozzi, por exemplo, projeta-se a mais de dois metros sobre a rua, acentuando a sua imponência. Palazzo Strozzi (Florença) Palazzo Rucellai (Florença) A Arquitetura Renascentista: o Palazzo A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Palazzo Farnese: piano nobile A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Palazzo Farnese (Roma): escadaria Mais importante que as características individuais é o fato de se ter criado desse modo um novo tipo urbano, “que haveria de frutificar através do séculos na praça georgiana, (...) e no banco da Wall Street. Os burgueses abastados (...) tinham encontrado o seu símbolo arquitetônico”. (Jordan) “Palácio Renascentista” construído em Nova Iorque no início do século XX para um rico financista de Wall Street A Arquitetura Renascentista: o Palazzo Filippo Brunelleschi (1377-1446) Leon Battista Alberti (1404-1472) Donato Bramante (1444-1514) A Arquitetura Renascentista De acordo com Pevsner, o primeiro edifício a assumir as formas renascentistas foi o Asilo dos Enjeitados (Ospedale degli Innocenti), de Filippo Brunellesci, iniciado em 1421; A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Antes disso, em 1419, o ourives e relojoeiro Brunelleschi havia sido escolhido para terminar a catedral de Florença (Santa Maria del Fiore); ele acrescentou um domo sobre o cruzeiro, obra-prima da construção gótica italiana. Ospedale: o andar térreo apresenta uma colunata com delicadas colunas coríntias e amplos arcos semicirculares; o primeiro andar apresenta uma série de janelas retangulares, de tamanho reduzido e bem espaçadas, encimadas por frontões triangulares pouco salientes. Ospedale degli Innocenti A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Medalhões em terracota colorida estão colocados no espaço livre entre um arco e outro. Acima deles, um entablamento característico. Separando o andar térreo do primeiro andar, uma sutil arquitrave. “Mas esses arcos que repousam sobre colunas tão delgadas são tão diferentes daqueles do Coliseu (...) quanto dos que aparecem em qualquer arcada gótica”. (Pevsner) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi A relação das igrejas de Brunelleschi com o passado é parecida. Santo Spirito, projetada em 1436, é uma basílica de arcadas e teto plano; “pode-se dizer que, por esses traços, elaseria praticamente paleocristã”. A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Basilica di Santo Spirito (Florença) As bases e os capitéis das colunas coríntias, por outro lado, bem como os fragmentos de um entablamento que os encima, são romanos, “realizados com tal fidelidade e compreensão de sua beleza vigorosa que iam além da capacidade dos arquitetos” do período anterior. (Pevsner) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Os curiosos nichos das naves laterais também são de inspiração romana, embora sejam tratados de modo original. Mas, “se é verdade que os motivos até aqui mencionados remontam à Idade Média, ou à Antiguidade, a expressão espacial para cuja criação contribuem é absolutamente nova e tem toda a serenidade do início da Renascença”. A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Interior da Igreja de Santo Spirito (Florença) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Ainda sobre Santo Spirito: a altura da nave principal tem exatamente o dobro da largura; o andar térreo e o andar do clerestório têm a mesma altura; as naves laterais são formadas por vãos quadrados, cuja altura tem o dobro da largura etc.; “Caminhando através da igreja, talvez não registremos conscientemente, de imediato, todas essas proporções, mas mesmo assim elas contribuem para o efeito de serena ordem que o seu interior produz”. (Pevsner) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi “Hoje é difícil imaginar o entusiasmo da Renascença primitiva por essas relações matemáticas simples aplicadas ao espaço. Para se poder apreciá-las, é preciso saber que foi naquela época – por volta de 1425 – que os pintores de Florença descobriram as leis da perspectiva”. (Pevsner) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Consequentemente, “do mesmo modo que, como em suas pinturas, eles já não se satisfaziam com uma representação arbitrária do espaço, também os arquitetos mostravam-se agora ansiosos por descobrir proporções racionais para suas construções”. (Pevsner) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Igreja de S.Spirito (1436) Igreja de S. Maria degli Angeli No mesmo ano em que S. Spirito foi iniciada, Brunelleschi projetou uma igreja de plano completamente central, a primeira da Renascença: Santa Maria degli Angeli Tanto aqui, quanto na ala leste de S. Spirito, Brunelleschi afastou-se da composição normal das igrejas românicas e góticas, evidenciando “um novo entusiasmo” e um esforço renovado para dominar o espaço. A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi A função principal de uma igreja da Idade Média, como vimos, era guiar o fiel até o altar. Numa construção de plano central, contudo, esse movimento não é possível. A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Igreja de Sta. Maria degli Angeli A construção de plano central só exerce plenamente todo o seu efeito quando é observada de um determinado ponto focal. É ali que o espectador deve se colocar e, dali, ele se torna “a medida de todas as coisas”. Assim, “o significado religioso da igreja é substituído por um significado humano”. A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Interior da Capela dos Pazzi, de Brunelleschi Na igreja, “o homem não mais se esforça para alcançar um objetivo transcendente: apenas desfruta da beleza que o cerca e da gloriosa sensação de ser o centro dessa beleza”. Ou, como diz Pevsner: “Não se poderia ter concebido nenhum símbolo mais eloquente (...) para a nova atitude dos humanistas e seus patronos com relação ao homem e à religião”. A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Igreja de Sta. Maria degli Angeli “Os arquitetos renascentistas (...) sempre ansiaram pelo fascínio geométrico ou arquitetônico deste tipo de planta. (...) enquanto a planta medieval, do tipo basilical, orientava os fiéis para os mistérios distantes de Deus, a planta centrada era tipicamente renascentista, pois glorificava o próprio homem, colocando-o no centro de todas as coisas, e terá sido isto que levou a Igreja a rejeitá-la”. (Jordan) A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Estudo de Leonardo da Vinci para uma igreja de plano central (1488) Contudo, isso não excluía o uso da planta centrada em pequenas capelas ou em mausoléus de importantes famílias, como veremos adiante... A Arquitetura Renascentista: Brunelleschi Capela dos Pazzi, de Brunelleschi (iniciada em 1429) Leon Battista Alberti (1404- 1472), de aristocrática família florentina, era um típico cortesão italiano do século XV: “cavaleiro e um atleta brilhante, (...) escrevia peças e compunha música, pintava e estudava física e matemática, era um perito em leis, e seus livros abordam tanto questões de economia doméstica como de pintura e arquitetura”. (Pevsner) A Arquitetura Renascentista: Alberti A Arquitetura Renascentista: Alberti No contexto renascentista, Alberti representa um novo tipo de arquiteto: enquanto Brunelleschi e Michelangelo foram escultores- arquitetos, Giotto e Leonardo da Vinci foram pintores-arquitetos, Alberti foi, de fato, o primeiro dos arquitetos a atuar com o interesse focado na própria arquitetura. A fachada da Igreja de San Francesco em Rimini, iniciada em 1446 (mas nunca terminada), é a primeira da Europa a adaptar a composição do arco triunfal romano à arquitetura de uma igreja. Como diz Pevsner: “com isso, Alberti revela- se muito mais empenhado do que Brunelleschi em reviver a antiguidade”. A Arquitetura Renascentista: Alberti Arco de Adriano em Jerash (Jordânia) A parte lateral da igreja possui sete nichos em arcos plenos, separados por pesados pilares. Esses nichos, por sua vez, contêm sarcófagos, os monumentos aos humanistas da corte de Sigismundo Malatesta (daí a sua outra denominação: Templo Malatesta). A Arquitetura Renascentista: Alberti Para a ala leste, aparentemente havia sido projetada uma imponente cúpula, novamente como um monumento à glória de Sigismundo e sua esposa. A Arquitetura Renascentista: Alberti Recriação em 3D do projeto original de Alberti para a Igreja de San Francesco Sigismundus Pandulfus Ma- latesta Pan. F. V. Fecit - Anno Gratiae MCCCCL A Arquitetura Renascentista: Alberti O mesmo “orgulho” de Sigismundo Malatesta é demonstrado por Giovanni Rucellai, um mercador de Florença para quem Alberti projetou a sua segunda fachada de igreja: a de Santa Maria Novella (em Florença). A Arquitetura Renascentista: Alberti O nome desse comerciante também aparece na fachada de S. Maria Novella. Essa atitude, por sinal, tornou possível que os doadores dos afrescos pintados nessa mesma igreja aparecessem em tamanho natural, e com roupas da época, “como se fossem atores das histórias sagradas”. A Arquitetura Renascentista: Alberti Nessa fachada, Alberti introduziu o motivo de grandes volutas, uma característica que viria a ter enorme projeção ao longo dos séculos (especialmente a partir da Igreja de Gesú, de Giacomo Vignola). A Arquitetura Renascentista: Alberti Para o mesmo patrono da fachada de Santa Maria Novella, Alberti realiza outro projeto de destaque: o Palazzo Rucellai, iniciado em 1446 (e também na cidade de Florença); Alberti empregou pilastras na fachada e, com isso, introduziu “um novo e esplêndido meio de compor uma parede”. A Arquitetura Renascentista: Alberti Nesse palazzo, três ordens de pilastras aparecemsuperpostas, com “um tratamento dórico livre” ao nível do andar térreo, um jônico no primeiro andar e um coríntio no andar superior. A Arquitetura Renascentista: Alberti Enquanto essas pilastras dividem a fachada verticalmente, elegantes cornijas projetadas realçam as divisões horizontais; A Arquitetura Renascentista: Alberti A cornija superior, por sua vez é, provavelmente, a primeira de Florença. (Pevsner) A proporção entre a altura e a largura nas partes retangulares das janelas é igual à proporção entre a altura e a largura dos vãos. Assim, “a colocação de cada detalhe parece já estar determinada, e não há possibilidade de qualquer mudança”. A Arquitetura Renascentista: Alberti Segundo os escritos de Alberti, é nesse equilíbrio que está a própria essência da beleza, que ele define como sendo “a harmonia e a concordância de todas as partes realizada de tal forma que nada possa ser acrescentado, retirado ou alterado, sem que seja para pior”. A Arquitetura Renascentista: Alberti Para ilustrar o princípio da ordenação rigorosa que Alberti defendia também para o interior das igrejas, vejamos o plano da Igreja de San Andrea em Mântua, última obra de Alberti, projetada por volta de1460. A Arquitetura Renascentista: Alberti Curiosidade: a sua fachada “curiosamente pagã” levou um cardeal a fazer o seguinte comentário: “não sei dizer se isto se transformará numa igreja, numa mesquita ou numa sinagoga.” A Arquitetura Renascentista: Alberti Como em Santo Spirito, o lado leste dessa igreja segue uma composição de plano central; Do ponto de vista prático, essas igrejas de plano central eram realmente pouco funcionais. Portanto, desde o começo, pode-se perceber tentativas de combinar o tradicional plano longitudinal com características centrais, “esteticamente mais agradáveis”. Leste Oeste A Arquitetura Renascentista: Alberti Em San Andrea, Alberti substituiu a disposição tradicional de nave principal e naves laterais por uma série de capelas (que tomam o lugar das naves laterais e que correspondem à largura dos contrafortes) que se ligam à nave principal, alternadamente, por aberturas altas e largas e por aberturas baixas e estreitas. A Arquitetura Renascentista: Alberti Detalhe das capelas de San Andrea A Arquitetura Renascentista: Alberti Com isso, as naves laterais deixam de participar de um movimento orientado na direção leste e tornam-se uma série de “centros menores” que acompanham a espaçosa nave recoberta por uma abóbada de berço. A Arquitetura Renascentista: Alberti Em relação às paredes que encerram a nave, a mesma intenção é evidente na substituição da simples sequencia ininterrupta de colunas (característica da basílica), por uma alternância rítmica (a-b-a) de vãos abertos e fechados; As colunas, por sua vez, são substituídas por pilastras gigantes, as primeiras da arquitetura ocidental. A Arquitetura Renascentista: Alberti Podemos avaliar o quanto a manutenção das mesmas proporções por toda parte é responsável pela “harmonia profundamente tranquilizante” de San Andrea, se observarmos que o mesmo ritmo (a-b-a) e as mesmas pilastras gigantes são utilizadas como motivo principal da fachada da igreja, e que a proporção dos arcos do cruzeiro é a mesma das capelas laterais. A Arquitetura Renascentista: Alberti Coerente com suas próprias teorias, Alberti ainda erguia suas igrejas sobre uma plataforma elevada (semelhante ao que faziam os antigos romanos com os templos). A Arquitetura Renascentista: Alberti San Andrea S. Sebastiano A Arquitetura Renascentista: Alberti Interior da Igreja de San Andrea A Alta Renascença “A Baixa Renascença havia redescoberto a Antiguidade e tinha utilizado com prazer uma mistura de cópia de detalhes e liberdade ingênua na reconstrução de algo mais do que detalhes. A Alta Renascença [c.1480- c.1520], no uso que fazia das formas romanas, não era muito mais precisa, mas o espírito da Antiguidade por um momento reviveu de fato na austeridade de Bramante e na maturidade de Rafael”. (Pevsner) A Alta Renascença A Baixa Renascença foi essencialmente toscana; a Alta Renascença, contudo, é romana; “Em Roma tornou-se um grande estilo internacional, legando à Europa uma arquitetura destinada a perdurar durante três séculos, tal como Paris dera à Europa o estilo gótico”. (Jordan) A Alta Renascença A passagem da Baixa Renascença para a Alta Renascença, da delicadeza à grandiosidade, e de uma concepção mais sutil das superfícies a uma modulação das paredes num alto-relevo mais audacioso encorajou um estudo mais intenso das ruínas da Roma Imperial. A Alta Renascença: Bramante A primeira construção de Bramante foi feita em Milão, entre 1477 e 1480: a igreja de Santa Maria presso San Satiro; Em função da semelhança com a igreja de San Andrea de Mântua (de Alberti), acredita-se que Bramante a teria conhecido muito bem antes de elaborar o seu projeto. A Alta Renascença: Bramante A igreja de Sta. Maria presso S. Satiro não tinha espaço para o coro, levando Bramante a adotar uma solução criativa (que também demonstrava o seu talento na pintura e no uso da perspectiva linear). A Alta Renascença: Bramante Sta. Maria presso S. Satiro A Alta Renascença: Bramante Ele desenhou na parede um trompe-l’oeil (“engana o olho”, em francês), técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão ótica que mostra objetos ou formas que não existem realmente. A Alta Renascença: Bramante Villa Farnesina (c.1510), em Roma, do arquiteto Baldassari Peruzzi A Alta Renascença: Bramante Em 1499 Bramante mudou-se de Milão para Roma: a partir de então, sua arquitetura assumiu, de imediato, uma austeridade muito maior; O Tempietto di San Pietro in Montorio, de 1502, é o primeiro monumento que opõe a Alta Renascença à Baixa Renascença, e é também um “monumento” em seu sentido mais preciso, isto é, uma realização muito mais escultural do que propriamente arquitetural. A Alta Renascença: Bramante A Alta Renascença: Bramante O Tempietto foi construído para assinalar o lugar em que se supõe ter sido crucificado S. Pedro (Pevsner: “Assim, podemos chamá-lo de um relicário ampliado”); A primeira impressão do Tempietto, após as igrejas e palácios do século XV, é “quase chocante”; A ordem das colunas é o dórico toscano – “é a primeira utilização moderna dessa ordem austera e despojada”. A Alta Renascença: Bramante As colunas sustentam um entablamento clássico, outro traço que contribui “para dar ao conjunto uma sensação de peso e rigor”. A Alta Renascença: Bramante Por outro lado, além dos tríglifos e das métopas, não há um único cm² de decoração em toda a parte externa. Isso, combinado com a simplicidade das proporções – exemplo: a proporção existente entre a largura e a altura no andar térreo é repetida no andar superior – dá ao Tempietto “uma dignidade que está bem além do seu tamanho”. A Alta Renascença: Bramante Pevsner: com o Tempietto, a Renascença atingiu seu objetivo consciente de imitar a Antiguidade clássica. Pois, bem além dos motivos da simples expressão formal, esta é uma construção que aparece, quase tanto quanto um templo grego, como puro volume. A Alta Renascença: Bramante Em 1506, o papa Júlio II confiou a Bramante a reconstrução da Basílica de São Pedro, a mais sagrada das igrejas do Ocidente. De fato, até aquela data, São Pedro permanecia praticamente inalterada desde a sua construção pelo imperador Constantino; Planta baixa proposta por Bramante para São Pedro (Roma): trata-se de uma cruz grega com quatro absides, inteiramente simétrica. A São Pedro de Júlio II, porém, seria uma construção de plano central – uma decisão surpreendente, considerando-se a imensa significação religiosa dessa basílica! A Alta Renascença: Bramante Ou seja, com o próprio papa adotando esse símbolo de mundanismo em sua própria igreja, “o espírito do humanismo havia realmente penetrado no mais interior da fortaleza da resistência cristã”. (Pevsner) “Do ponto de vista geométrico, a planta de Bramante era brilhante, mas impossível do ponto de vista litúrgico; não se sabia em qual das quatro absides iguais se colocaria um altar (...) e, se fosse colocado sob a cúpula (...), para que lado se voltaria o celebrante”. (Jordan) Ou seja, “foi um triunfo efêmero”. A Alta Renascença: Bramante De fato, ao longo de quase cem anos de construção, a planta de São Pedro foi sendo continuamente modificada, obtendo-se, ao final, uma “gloriosa basílica”; “(...) uma vitória dos clérigos sobre os arquitetos”. (Jordan) A Alta Renascença: Bramante O que é novo, e inteiramente do século XVI, é a maneira de tratar as paredes e, sobretudo, os pilares que sustentam o domo central, as únicas partes do plano de Bramante que foram executadas e que ainda são parcialmente visíveis. A Alta Renascença: Bramante Nelas, nada sobrou da “escala humana e da delicada modelação, típicas da Baixa Renascença”. Trata-se de peças maciças em pedra, “energicamente caneladas”, explorando de forma intensa as potencialidades plásticas de uma parede; Bramante: “o arauto do Barroco.” A Alta Renascença: Michelangelo “A verdade é que ele [Michelangelo] pertenceu à Renascença apenas por uns poucos anos, no início de sua carreira. A Pietá, de 1499, pode muito bem ser uma obra da Alta Renascença. Também o Davi pode participar do espírito da Renascença. Já, da Capela Sistina, pode- se dizer o mesmo apenas em parte; e de seu trabalho posterior a 1515 quase nada é renascentista. Sua natureza tornou-lhe impossível aceitar os ideais da Renascença por muito tempo”. (Pevsner) Renascimento fora da Itália “Trata-se de um tema complexo, porque o desenvolvimento dessas concepções em qualquer outro país não foi nem contínuo nem lógico. A influência italiana fez-se sentir de modo arbitrário, dependendo largamente das circunstâncias políticas. Mais ainda, nos países onde a tradição gótica estava mais profundamente enraizada, o novo estilo, de início, foi usado apenas de modo superficial, como uma nova forma de ornamentação. A primeira fase da arquitetura renascentista na França, na Inglaterra e na Alemanha aparece, por isso, como uma arte híbrida, difícil de avaliar nos seus próprios termos.” (Jordan) Referências: JORDAN, Robert Furneaux. História da Arquitetura no Ocidente. São Paulo: Editorial Verbo, 1985. KING, Ross. O Domo de Brunelleschi. Rio de Janeiro: Editora Record, 2013. PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002. RENAISSANCE Architecture. Essential Humanities. Disponível em: <http://www.essential-humanities.net/western-art/western- architecture/renaissance-architecture/#.UeHfw9JJ7ko>. Acesso em: 10 jul. 2013.
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