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Trovadorismo
O Trovadorismo é um dos mais antigos movimentos literários, pois aconteceu na Idade Média, no século XI. Esse movimento iniciou na região da Provença (sul da França) e se disseminou por toda a Europa até o seu declínio, no século XIV. Em Portugal, na Península Ibérica, o local em que mais se irradiou, o Trovadorismo se propagou na região que compreende o norte de Portugal e a Galiza.
Isso significa que na região de Santiago de Compostela, onde até hoje se realizam peregrinações religiosas, atraindo multidões todos os anos, é a localização da onde as cantigas trovadorescas eram cantadas em galego-português, língua predominante na região. No entanto, os trovadores provençais eram considerados os melhores da época. Por isso, o seu estilo foi imitado em toda a parte.
Contexto histórico
O Trovadorismo aconteceu em plena Idade Média, época marcada por uma sociedade religiosa em que a Igreja Católica dominava toda a Europa. A economia era baseada em um sistema rural, sendo comum o camponês viver de forma miserável. Além disso, a propriedade de terra dava liberdade e poder.
Nessa época, todos os países europeus passavam por sucessivas invasões dos povos germânicos, gerando uma série de guerras. Foi nesse contexto que também foi implantado o feudalismo, sistema baseado na figura do senhor feudal, que tinha o aval de governar ao seu bel prazer as suas terras, onde trabalham os seus servos e vassalos.
Funcionava da seguinte forma: o senhor feudal, também chamado de suserano, cedia a posse de terras a um vassalo, que se comprometia a cultivá-las, repassando, assim, parte da produção ao dono do feudo. Em troca, os servos recebiam a proteção militar e judicial, no caso de serem atacados e/ou invadidos. Essa relação subordinada recebia o nome de vassalagem.
Quanto ao contexto cultural e artístico, a mesma estava baseada apenas no teocentrismo (Deus era o centro de todas as coisas). Desse modo, o homem permanecia totalmente religioso e crédulo. Tinha os seus posicionamentos subordinados à vontade divina e o mesmo acontecia com todos os fenômenos naturais. A construção de igrejas, mosteiros, abadias e catedrais estava no seu auge.
Características do Trovadorismo
No intuito de retratar a vida aristocrática nas cortes portuguesas, as cantigas receberam influência de um tipo de poesia originário da Provença – região sul da França, daí o nome de poesia provençal –, como também da poesia popular, ligada à música e à dança. No que tange à temática, elas estavam relacionadas a determinados valores culturais e a certos tipos de comportamento difundidos pela cavalaria feudal, que até então lutava nas Cruzadas no intuito de resgatar a Terra Santa do domínio dos mouros. Percebe-se, portanto, que nas cantigas prevaleciam distintos propósitos: havia aquelas em que se manifestavam juras de amor feitas à mulher do cavaleiro, outras em que predominava o sofrimento de amor da jovem em razão de o namorado ter partido para as Cruzadas, e ainda outras, em que a intenção era descrever, de forma irônica, os costumes da sociedade portuguesa, então vigente. Assim, em virtude do aspecto que apresentavam, as cantigas se subdividiam em:
CANTIGAS LÍRICAS DE AMOR/DE AMIGO
CANTIGAS SATÍRICAS DE ESCÁRNIO/DE MALDIZER
Cantigas de amor
O sentimento oriundo da submissão entre o servo e o senhor feudal transformou-se no que chamamos de vassalagem amorosa, preconizando, assim, um amor cortês. O amante vive sempre em estado de sofrimento, também chamado de coita, visto que não é correspondido. Ainda assim, ele dedica à mulher amada (senhor) fidelidade, respeito e submissão. Nesse cenário, a mulher é tida como um ser inatingível, à qual o cavaleiro deseja servir como vassalo. A título de ilustração, observemos, pois, um exemplo:
Cantiga da Ribeirinha
No mundo non me sei parelha,
entre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraya
Quando vos eu vi em saya!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, desdaqueldi, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
Dhaver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, dalfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia dua correa.
Paio Soares de Taveirós
Cantigas de amigo
Surgidas na própria Península Ibérica, as cantigas de amigo eram inspiradas em cantigas populares, fato que as concebe como sendo mais ricas e mais variadas no que diz respeito à temática e à forma, além de serem mais antigas. Diferentemente da cantiga de amor, na qual o sentimento expresso é masculino, a cantiga de amigo é expressa em uma voz feminina, embora seja de autoria masculina, em virtude de que naquela época às mulheres não era concedido o direito de alfabetização.
Tais cantigas tinham como cenário a vida campesina ou nas aldeias, e geralmente exprimiam o sofrimento da mulher separada de seu amado (também chamado de amigo), vivendo sempre ausente em virtude de guerras ou viagens inexplicadas. O eu lírico, materializado pela voz feminina, sempre tinha um confidente com o qual compartilhava seus sentimentos, representado pela figura da mãe, amigas ou os próprios elementos da natureza, tais como pássaros, fontes, árvores ou o mar. Constatemos um exemplo:
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(...)
D. Dinis
Cantigas satíricas
De origem popular, essas cantigas retratavam uma temática originária de assuntos proferidos nas ruas, praças e feiras. Tendo como suporte o mundo boêmio e marginal dos jograis, fidalgos, bailarinas, artistas da corte, aos quais se misturavam até mesmo reis e religiosos, tinham por finalidade retratar os usos e costumes da época por meio de uma crítica mordaz. Assim, havia duas categorias: a de escárnio e a de maldizer.
Apesar de a diferença entre ambas ser sutil, as cantigas de escárnio eram aquelas em que a crítica não era feita de forma direta. Rebuscadas de uma linguagem conotativa, não indicavam o nome da pessoa satirizada. Verifiquemos:
Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
Cantigas de maldizer
Como bem nos retrata o nome, a crítica era feita de maneira direta, e mencionava o nome da pessoa satirizada. Assim, envolvidas por uma linguagem chula, destacavam-se palavrões, geralmente envoltos por um tom de obscenidade, fazendo referência a situações relacionadas a adultério, prostituição, imoralidade dos padres, entre outros aspectos. Vejamos, pois:
Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Principais autores e Suas obras e Cantigas
Autores (Trovadores) 
Os mais conhecidos trovadores foram: 
João Soares de Paiva,
Paio Soares de Taveirós, 
o rei D. Dinis, 	
João Garcia de Guilhade, 
Afonso Sanches, 
João Zorro, 
Aires Nunes,
Nuno Fernandes Torneol.
Novelas de Cavalaria
 Novelas de cavalaria são longas narrativas anônimas sobre os grandes heróis (reais ou míticos) da Idade Média, em geral por meio de traduções de originais franceses ou ingleses. São heróis que lutam em nome de Cristo e da supremacia da Igreja Católica.
As novelas de cavalaria, traduzidas do francês, pene­traram em Portugal no século XIII, durante o reinado de D. Afonso III. Aclimatadas às condições portuguesas, seu meio de circulação era a nobreza e a fidalguia. Não há nessa época nenhuma novela ou nenhum herói português. Dos três ciclos que agrupam as novelasde cavalaria se­gundo o herói central e a ligação dos fatos, somente a ma­téria da Bretanha, o chamado ciclo bretão ou arturíano, teve grande popularidade em Portugal, gerando a primeira grande obra da prosa literária lusa medieval: a tradução, feita do original francês, de A Demanda do Santo Graal, o grande romance da busca (“demanda”) do cálice sagrado (“santo graal”), que continha as últimas gotas do sangue de Cristo, recolhidas, após a crucificação, na taça de que se servira na última ceia e que só seria encontrada por um homem de pureza angelical.
A mão de Lancelote ergue-se do lago para segurar a espada do Rei Artur, em ilustração inglesa do século XVI. Episódios das novelas arturianas eram conhecidos em Portugal desde o século XIII.
Classificação das Novelas de Cavalaria
As novelas de cavalaria são classificadas em três momentos: Ciclo Bretão (ou Arturiano), desenvolvido na Inglaterra donde o Rei Artur e seus cavaleiros da Távola Redonda são as figuras centrais da narrativa;
Ciclo Carolíngio, donde Carlos Magno e seus cavaleiros (doze pares de França) são as figuras centrais da narrativa;
Ciclo Clássico (ou Greco-Latino), que apresenta narrativas em torno de personagens da Antiguidade Clássica.
Características das Novelas de Cavalaria
Segue abaixo as principais características das novelas de cavalaria:
Narrativa extensa e dividida em capítulos
Marcadas pela tradição oral
Temas heroicos e mitológicos
Relato de acontecimentos históricos
Caráter místico e simbólico
Aventuras fantásticas e situações dramáticas
Visão teocêntrica (Deus no centro do mundo)
Personagens: cavaleiros, heróis e donzelas
Sublimação do amor profundo
Amor cortês e idealização da mulher
Exemplos de Novelas de Cavalaria
As principais novelas de cavalaria são:
Rei Arthur
Demanda de Santo Graal
Amadis de Gaula
O Palmerim de Oliva
O Palmerim de Inglaterra
Olivante de Laura
A Crônica do Imperador Clarimundo
Espelho de príncipes e cavaleiros
Alcassino e Nicoleta
O Memorial das Proezas da Segunda Távola Redonda
Tablante de Ricamonte
Tirante o branco
Principais Escritores das Novelas de Cavalaria
Ainda que muitas novelas de cavalaria tenham autoria desconhecida, segue abaixo alguns autores:
João de Lobeira
Jorge Ferreira de Vasconcelos
Francisco de Moraes Cabral
Marion Zimmer Bradley
Bernard Cornwell
Thomas Malory
T. H. White
Dom Quixote
Redigida pelo escritor espanhol Miguel de Cervantes, Dom Quixote de La Mancha é um romance inspirado nas novelas de cavalaria, e que inaugurou o “romance moderno”. No entanto, trata-se de uma sátira a esse gênero medieval.

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