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Fichamento 2 Cidadãos Ativos A Revolta da Vacina

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Fichamento: Cidadãos Ativos – A Revoltada Vacina 
- 80% da população do RJ não tinha direito ao voto.
- 20% tinha esse direito, mas não se preocupava em exercê-lo.
- Havia Manifestações populares de caráter político frequentes.
- Os Cidadãos inativos pelo critério constitucional, estavam atentos as medidas do governo que lhes afetavam a vida e assim, dispostos as últimas consequências para defender, o que julgavam serem, seus direitos.
Como o governo de Campos Sales foi considerado muito ruim, com grande recessão econômica causada pela política de combate à inflação, com redução do dinheiro em circulação, contenção drástica de gastos do governo e pelo aumento de impostos, especialmente sobre os produtos de importação. Houve também, considerável queda na oferta de empregos.
Rodrigues Alves assumiu, em 1902, sem alterar de modo significativo a política financeira e enveredou por um programa de obras públicas, financiadas por recursos externos e ajudada pelo ligeiro aumento dos preços do café, em baixa desde 1896. Iniciou logo as obras de reforma urbana da cidade, concedendo poderes ditatoriais ao engenheiro Pereira Passos, nomeado prefeito e para o médico sanitarista Oswaldo Cruz, nomeado diretor do Serviço de Saúde Pública.
As obras complementares da Avenida Central, da Avenida do Cais e do Canal do Mangue ficaram a cargo do Governo sob a direção de Paulo de Frontin. As desapropriações para construção da nova avenida começaram em dezembro de 1903 e as demolições em janeiro de 1904. Com obras de alargamento de algumas ruas do Centro.
Em dezembro de 1904, data da revolta, o trabalho para demolição de casas já havia terminado, com serviços de bonde e iluminação elétrica já inaugurados.
Pelo lado da Saúde Pública, Oswaldo Cruz já havia enfrentado a febre amarela, adotando métodos aplicados em Cuba, com isolamento de doentes em hospitais e extinção dos mosquitos. Em seguida atacou a peste bubônica, com a exterminação de ratos e pulgas e a limpeza e desinfecção de ruas e casas. As Brigadas Sanitárias percorriam ruas e visitavam casas, desinfetando, limpando, exigindo reformas e removendo doentes.
Os alvos preferidos dessas visitas eram as áreas mais pobres e de maior densidade demográfica – Casa de Cômodos e cortiços. 
Para se prevenir resistência de moradores, as brigadas eram acompanhadas por soldados da polícia.
Essas atividades interviram na vida de muita gente:
- Dos proprietários de casas desapropriadas para demolição.
- Dos proprietários de casas de cômodos e cortiços, obrigados a reforma-los ou demoli-los.
- Inquilinos forçados a receber os agentes de saúde, sair de suas casas para desinfecção ou mesmo abandonar a moradia quando condenada a demolição.
- Código de postura adotado para a cidade abrangia várias medidas: como mendigos foram recolhidos para asilos, proibiu a circulação de animais como cães vadios e vacas leiteiras, proibiu a cultura de hortas e capinzais, criação de suínos e o estabelecimento de ambulantes. Não se podia cuspir nas ruas, urinar fora dos mictórios e soltar pipas.
A REVOLTA
Nesse ambiente de repressão teve início a luta pela implantação da vacina obrigatória contra a varíola, terceira epidemia no alvo de Oswaldo Cruz. Desde 1837 fora decretada obrigatória a vacinação obrigatória no RJ, com uma série de decretos estendendo essa obrigatoriedade à várias para várias faixas etárias etc. Porém essas leis não pegaram, especialmente a que estendia essa obrigatoriedade a todos os cidadãos.
Posta em votação no congresso a obrigatoriedade da vacinação, teve ampla oposição ao pleito, chamando de Despotismo sanitário a atitude do governo. Com receio que a lei fosse aprovada, os inimigos da nova lei fizeram verdadeiro terrorismo ideológico, apontando na vacina inúmeros perigos para a saúde, como convulsões, diarreias, gangrenas, sífilis, etc. Outro ponto utilizado foi a invasão ao recesso dos lares, chamando ao recolhimento de doentes de sequestro. Várias listas contra a obrigatoriedade foram enviadas ao congresso. Também se julgava quem deveria aplicar a vacina, se os médicos do governo ou da escolha das pessoas.
Houve a divulgação na Imprensa de uma cópia do projeto que ainda seria discutido, divulgando vários pontos:
A vacinação por médico particular deveria ter firma reconhecida. O atestado de vacina seria exigido para tudo: matrícula em escolas, empregos públicos e domésticos, emprego em fábricas, hospedagem em hotéis e casas de cômodo, viagem, casamento, voto etc. Havia multas para os reincidentes. Houve violenta reação e declaração contrária ao regulamento em vários setores e jornais, devido ao rigor imposto por Oswaldo Cruz. Falou-se que a lei era um crime contra a honra da família, além de uma violação ao lar e uma brutalização aos corpos de suas filhas e esposa, ao terem que desnudar braços e colos para o agente da vacina. Dizendo que a defesa deveria ser feita com armas na mão.
Em 10 de novembro a revolta já estava nas ruas e no dia 13 o conflito generalizou-se assumindo um caráter mais violento, os bondes começaram a ser derrubados e queimados, surgiram barricadas, lampiões foram quebrados deixando a cidade às escuras, paralelepípedos eram arrancados para serem arremessados servindo às depredações, havia tiroteios em vários pontos. Assaltos foram feitos aproveitando-se da situação.
A polícia foi retirada e substituída por 150 praças da Marinha. Houve tiroteio entre guardas-civis e soldados do Exército, com a prisão de alguns guardas com estrondosa aclamação do público.
A cidade foi dividida para policiamento entre a Marinha (litoral), o Exército (parte norte da Avenida Passos e à polícia a parte Sul da Avenida Passos.
Os jornais noticiaram o levante da Escola Militar da Praia Vermelha, porém o ministro da Guerra mando o presidente do clube dissolver o feito, prendendo posteriormente Vicente de Souza, descrito como arruaceiro e ligado aos monarquistas. Participantes dessa reunião tentaram sublevar a Escola Preparatória e de Táticas do Realengo, mas o Comandante General Hermes da Fonseca frustrou os planos. Mas conseguiram levantar a Escola Militar da Praia Vermelha, porém o embate entre esses revoltosos e as tropas do governo resultaram em três mortos e vários feridos no lado dos revoltosos e do lado do governo 32 feridos. Porém os alunos recuaram e regressaram à escola e depois os Cadetes se entregaram.
Batalhões de Minas e São Paulo vieram em auxílio no dia 15 e no dia 16 foi decretado Estado de Sítio. Foi preso o mais temido chefe das barricadas, Horácio José da Silva, Prata Preta. Beiço de Prata, havia sido o informante que denunciou toda a estrutura e cabeças do movimento. Até o dia 23 já haviam 700 presos.
OS REVOLTOSOS
No Brasil, diferente de Paris, só os líderes eram processados e muitas vezes eram elementos da elite. O restante eram colocados em navios e desterrados em algum ponto remoto. Eles nem passavam em casas de Detenção para terem seus nomes e dados pessoais registrados. Os jornais e revistas da época servem para identificar esses revoltosos, porém tem que se ter cuidado pois, podem ser altamente tendenciosos, querendo transmitir mais a imagem que se pretende passar desses revoltosos, do que sua identificação de fato.
A tendência geral era retratar a posição governista moderada, que procurava mostrar o povo como explorado por ignorância por políticos e militares ambiciosos e atribuir à ação nas ruas às classe perigosas.
No relatório do chefe de polícia (versão mais radical), o povo do Rio era ordeiro e não se envolvera nos distúrbios, cabendo esse papel aos vagabundos resistentes, desordeiros, facínoras, dos ladrões e vadios, além da meretrizes que se fingiam de povo.
Para Rui Barbosa, a reação contra a vacina era justa, mas fora deturpada gerando toda essa arruaça causadas pelos ignorantes explorados, pois o verdadeiro povo teria se recolhido em seus lares, resignado, submisso e fatalista.
Vicente de Souza, preocupado em eximir-se de qualquer responsabilidade, afirma em sua defesa que a reação à vacina foi iniciativa popularque ninguém poderia impelir e nem deter. Admite que elementos violentos e belicosos da população, afeiçoados a desordem tenham se aproveitado da situação para incrementar a luta e agravar a situação.
Apenas os simpatizantes e participantes viam o povo como envolvidos conscientemente na revolta. Os outros depoentes viam o povo como ignorantes e manipulados.
A primeira versão, não fosse interessada, tenderia para abstração e romantismo, pois tem o objetivo era a ação política contra o governo. E a segunda tinha a necessidade de deslegitimar a ação rebelde para desqualificação social e política de seus promotores.
Ambas versões pouco esclarecem sobre os revoltosos, mas esclarecem muito sobre a política e a sociedade em que viviam e a que reagiam.
Nos relatórios de chefe de polícias, pelos dados precisos, nos levam a crer que de fato as pessoas deportadas tinham passagem pela Detenção, a maioria por contravenção. Tendo a polícia aproveitado para se fazer uma limpeza na cidade, prendendo os considerados vagabundos, ou seja as pessoas presas por vadiagem e capoeiragem. 
Não se sabe quem eram as 484 pessoas presas e que foram soltas.
Verificando os movimentos que antecederam a Revolta da Vacina ocorridos em 1904:
- Maio -> 1º Desfile operário 
- Agosto -> ensaio de greve geral na fábrica de tecidos Cruzeiro. Reivindicavam aumento salarial, redução da horas de trabalho. Aos pouco o movimento se espalhou por quase todas as grandes fábricas de tecido. Nos dia 17 de agosto se falava em greve geral de todas as categorias. Houve vários prisões. Houve divisão entre os participantes com uns concordando com a mediação política e outros querendo a separação da intervenção política, se baseando no modelo anarco-sindicalista da CGT francesa.
Não se sabe se houve greves durante a revolta e se as fábricas estavam paradas por causa de greves ou pela impossibilidade de funcionar. A preocupação do Centro, considerado o principal difusor das ideias de oposição feitas na Câmara e nos jornais, que tinha por objetivo preparar as condições para o Golpe de Estado que levaria ao poder governantes mais sensíveis as demandas populares.
Foi uma revolta fragmentada, como era fragmentada a própria sociedade do Rio na época. O setor popular não tinha a tradição de organização e luta dos artesãos, impossível de se formar em sociedade escravista. Tinha por um lado um setor operário estatal forte e uma enorme população de subempregados. Tudo isso resulta em maior fragmentação do setor popular, que se manifestava inclusive nas revoltas.
OS MOTIVOS
O que levou os revoltosos a ação?
Há consenso na historiografia de que se preparava um assalto ao poder por parte dos militares que representavam um resíduo do jacobinismo florianista. 
Objetivo era acabar com a república dos fazendeiros que eles chamavam de república prostituída e restaurar a pureza encarnada em Benjamin Constant e Floriano Peixoto.
O povo não se preocupava com política oficial do reino.
Para legitimar o golpe e ter apoio da elite civil ou militar, era necessário ter algum apoio popular.
A revolta do Vintém, 1880, foi a reação ao novo imposto sobre passagens de bonde, tendo a base do movimento puramente popular, portanto sem a possibilidade de tomada ao poder, já que não havia apoio militar.
A vacina já era conhecida no Brasil há cem anos cerca de 150 mil pessoas já haviam se vacina entre 1846 e 1889.
Explicações da Revolta da Vacina:
Vacina foi apenas pretexto.
- Natureza essencialmente econômica – Indiferença do governo em relação ao sofrimento da população. Parece duvidosa a tese, pois apesar da crise em que ficou o país durante o governo de campos Sales, devido ao programa de obras públicas, já havia bastante oferta de emprego. Única explicação seria a falta de acordos na greve de 1903 com as fábricas e assim os operários poderiam estar agindo com a justificativa da vacina.
- A reforma urbana também poderia ser um dos motivos. Porém, Pereira Passos e Paulo de Frontin não forma visados pelas massas ou pelos operários. O único motivo advindo da reforma seria a exploração dos que nela trabalharam. Além disso os redutos a revolta – Saúde e Sacramento – não foram áreas atingidas pelas reformas, portanto sem derrubadas de casas. Também não foi o foco para onde se dirigiram os morados das casas postas abaixo, pois a população dessas localidades diminuiu.
- a explicação mais óbvia seria a obrigatoriedade da vacina, pois há indícios de grande irritação popular com a atuação do governo na área da saúde pública, em especial no que se refere `vistorias e desinfecção das casas. Há charges de jornais e revistas que documentam a crítica a essas atividades, além dos abaixo-assinados enviados à Câmara pelos operários que se queixavam da invasão às suas casas e a exigência da saída dos moradores para desinfecção do local e também os danos causados aos utensílios domésticos. 
- A oposição à obrigatoriedade perpassou a sociedade de alto a baixo e sua natureza mudou de acordo com a camada envolvida. No que se refere ao povo, adquiriu um CARÁTER MORALISTA. De início a campanha dos líderes da oposição se ateve aos perigos reais ou imaginários que cercavam a vacinação, fazendo verdadeiro terrorismo. Porém, o que mais atingiu a população foi o tom moralista e então buscou-se explorar a ideia da invasão ao lar, ofensa à honra do chefe da família ausente, tendo que suas filhas e esposa se desnudarem perante estranhos. Boatos eram espalhados que as vacinas seriam aplicadas nas coxas das mulheres e filhas, junto à virilha e até nas nádegas.
=> As pessoas se vacinavam em proporções crescente e a partir da aprovação da obrigatoriedade a queda na vacinação e revacinação foi vertiginosa.
Isso leva a crer que a oposição a obrigatoriedade da vacina é explicação suficiente para a Revolta, bem como os serviços públicos e os representantes do governo e de modo especial os componentes das forças de repressão, forma os alvos preferidos da ira popular.
O que diferenciou a Revolta da Vacina dos movimentos que a antecederam foi a intensidade e a dimensão do protesto.
O autor cita vários distúrbios que ocorreram: Revolta do Vintém e outras mais pelo mesmo motivo - o aumento da passagem dos bondes. Ocorreram várias greve e somente no ano de 1903 foram 31 greves, contra 3 em 1902 e depois somente 3 em 1904. Todas de natureza bem inferior a Revolta da Vacina.
A justificação Moral é a diferença mais marcante, pois os movimentos anteriores eram marcadamente motivados por razões econômicas – Aumento de preços, novos impostos e taxas de serviços públicos de má qualidade, baixos salários, redução de ofertas de emprego, aumento do preço do pão. A Revolta da Vacina fundamentou-se em razões ideológicas e morais. 
Valores da elite eram liberdade individual e um governo não intervencionista.
Valores para o povo eram o respeito a virtude da mulher e da esposa, honra do chefe de família e inviolabilidade do lar. 
Segundo Rudé, o que gerou a ideologia do protesto foi a fusão de uma ideologia inerente às camadas populares com uma ideologia derivada das classes altas, e também de valores populares com valores burgueses.
CONCLUSÃO 
Legítima defesa dos direitos civis.
Desabrocharam várias revoltas dentro da revolta -> Conspiração militar-Centro das Classes Operárias com objetivo de derrubar o governo. Consumidores de serviços públicos acertaram contas com as companhias. Produtores mal pagos fizeram o mesmo com as fábricas. Classe popular dos aventurosos e belicosos no combate com a polícia e todos os cidadãos desrespeitados acertaram as contas com o governo. Era a revolta fragmentada de uma sociedade fragmentada.

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