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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES Aula 10

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HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES – Aula 10
Somos Racistas?
Introdução
Nessa aula pretende-se compreender a importância da Constituição brasileira de 1988 para o reconhecimento de direitos há muito pleiteados pelo Movimento Negro e por representações indígenas. Objetiva-se também perceber que o fato do repúdio ao racismo estar no contexto da Constituição acima citada possibilitou a elaboração e a implementação de inúmeras políticas públicas garantidoras de seu cumprimento, sobretudo o sistema de cotas nas universidades brasileiras.
Objetivos
– Compreender a importância da Constituição brasileira de 1988 para o reconhecimento de direitos há muito pleiteados pelo Movimento Negro e por representações indígenas;
– Analisar o fato do repúdio ao racismo estar no texto da Constituição brasileira de 1988 e ter possibilitado a elaboração e a implementação de inúmeras políticas públicas garantidoras de seu cumprimento, sobretudo o Sistema de Cotas nas Universidades brasileiras.
“Em 2007, o relator especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias e arbitrárias observou que o homicídio era a principal causa de mortes entre pessoas com idade entre 15 e 44 anos, com 45 mil a 50 mil homicídios cometidos todo ano”, diz documento. “As vítimas são, em sua maioria, jovens do sexo masculino, negros e pobres.”
"O relatório com observações de 22 ONGs alerta para altos índices de discriminação racial e sexual e enfatiza o problema da violência. Também chama a atenção para a distância entre a legislação e sua prática. A Anistia Internacional afirma que, com a Constituição de 1988, o Brasil adotou 'as leis mais progressistas para a proteção dos direitos humanos da América Latina'. `No entanto, persiste um enorme fosso entre o espírito dessas leis e sua implementação', diz a organização." Fonte: Folha de São Paulo, 27 de fevereiro de 2008.
A reportagem acima apresenta um fato conhecido por boa parte dos brasileiros: a persistência do racismo em diferentes esferas no Brasil. Em tese, tais práticas deveriam ter sido extintas ou, no mínimo, severamente controladas e punidas pelas autoridades estatais que, desde 1988, tem como ferramenta a Constituição brasileira. Porém, o racismo no Brasil é repleto de sutilezas que muitas vezes impedem que a lei seja cumprida.
Em 2009, uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo concluiu que o Brasil não é um país racista, mas um lugar onde existe racismo. Dentre as pessoas entrevistadas, 97% afirmaram não ter nenhum tipo de preconceito racial, mas 98% afirmou conhecer alguém que pratica ou já praticou discriminação racial. Tal constatação é uma contradição, que acaba se tonando a base das relações raciais no Brasil.
Nessa aula será abordada parte da luta contra o racismo no país, bem como as ações estatais que tentam alcançar esse objetivo.
Entendendo um pouco da influência do Samba...
O samba – Tempos Idos – Cartola
Os tempos idos
Nunca esquecidos 
Trazem saudades ao recordar 
É com tristeza que eu relembro 
Coisas remotas que não vêm mais 
Uma escola na Praça Onze 
Testemunha ocular 
E junto dela balança 
Onde os malandros iam sambar 
Depois, aos poucos, o nosso samba 
Sem sentirmos se aprimorou 
Pelos salões da sociedade 
Sem cerimônia ele entrou 
Já não pertence mãos à Praça
Já não é mais o samba de terreiro
Vitorioso ele partiu para o estrangeiro 
E muito bem representado 
Por inspiração de geniais artistas 
O nosso samba de, humilde samba 
Foi de conquistas em conquistas 
Conseguiu penetrar o Municipal 
Depois de atravessar todo o universo 
Com a mesma roupagem que saiu daqui
Exibiu-se para a duquesa de Kent no Itamaraty
Ao retratar a trajetória do samba no Brasil, o cantor e compositor Cartola mostrou que o ritmo musical que nasceu com as quitandeiras baianas na Praça Onze conseguiu vencer os preconceitos e ganhar o estrangeiro. Hoje, o samba é uma das marcas do Brasil.
Quando se fala em uma comida tipicamente brasileira, qual a primeira palavra que vem à cabeça? E um ritmo musical? E o esporte?
A feijoada, o samba e o futebol, que se tornaram símbolos do Brasil, são heranças diretas dos africanos que para cá foram trazidos. A capoeira, que no passado foi responsável pela prisão de muitos escravos e libertos, hoje se transformou em sinônimo de esporte brasileiro.
Os africanos também trouxeram diferentes tipos de tambores e outros tantos instrumentos musicais que permitiram que a música brasileira se tornasse tão diversificada. Tambores, atabaques, agogôs, cuícas, berimbaus, zabumbas são alguns dos instrumentos presentes em diferentes ritmos musicais brasileiros. Tão diversificado quanto os instrumentos são os tipos de músicas brasileiras que herdaram a harmonia, o ritmo ou a cadência de diferentes regiões da África.
O samba (palavra que também tem origem africana e significa divertir-se) talvez seja o maior exemplo disso. Ele foi criado na segunda metade do século XIX, na Pedra do Sal, que ficava no Morro da Conceição, situado na região central do Rio de Janeiro. Nesse local, escravos e libertos, africanos e crioulos se encontravam no final do dia para fazer música e conversar.
Já no século XX, o samba sofreu influências de outros ritmos musicais, como o maxixe, e introduziu outros instrumentos, transformando-se no que se conhece hoje.
O samba proporcionou a criação de uma ampla rede de amizade e solidariedade entre pessoas negras, principalmente nos morros cariocas. Porém, o ritmo do samba foi tão contagiante que costuma se dizer que ele “desceu o morro” e revelou grandes músicos brasileiros como Cartola, Dona Ivone Lara, Martinho da Vila e Paulinho da Viola; tornando-se, assim, uma música tipicamente brasileira.
Atualmente existem diferentes tipos de samba, como o samba-enredo, tocado pelas escolas de samba, e o samba de roda, mais encontrado em regiões rurais do Brasil, onde as pessoas tocam e dançam em forma de roda.
Arte e Cultura
Maxixe, forró, maculelê, baião, frevo, pagode e o afoxé são outros ritmos musicais criados a partir de instrumentos e ritmos vindos da África e recriados no Brasil. Essas músicas criadas com as heranças africanas eram acompanhadas por tipos diferentes de danças e festividades.
O Carnaval
O Carnaval é uma das festividades mais importantes do Brasil. Desde o período colonial, o Carnaval também era brincado por, escravos e libertos, que viam nesse festejo uma das poucas oportunidades de diversão concedidas por seus senhores.
Com o passar dos anos, o Carnaval foi influenciado por cada região brasileira. As escolas de samba tornaram-se a marca registrada do Carnaval de São Paulo e do Rio de Janeiro. Na Bahia, os blocos de carnaval e os trios elétricos levam multidões ao som de afoxés e da axé music. Já Recife é embalado pelo som do frevo. Os bailes e os blocos são encontrados em todo o Brasil.
Artes plásticas
A música e as festas populares brasileiras não são as únicas manifestações culturais que apontam o legado africano no Brasil. No campo das artes plásticas também é possível observar forte presença da população negra, seja ela objeto ou sujeito das obras.
Resultado das heranças
Observa-se, então, que aquilo que hoje é chamado e mundialmente conhecido como cultura brasileira é em grande parte fruto de heranças africanas e de reinvenções feitas pela população negra no Brasil. Não existiria Brasil sem as Áfricas que dele fazem parte.
As populações indígenas também deixaram importantes legados na formação do Brasil República, embora tal herança seja menos visível, ou seja, mais regionalizada, melhor dizendo.
Boa parte das festas populares descritas nesta aula é, na verdade, fruto da mistura de práticas africanas com costumes indígenas. Isso fica mais evidente quando se tomam as regiões norte e centro-oeste do país, locais em que a presença indígena está claramente estampada nos rostos brasileiros.
O maracatu é um exemplo de dança que tem muita herança indígena. Na região amazônica, festas como Parintins vêm se tornando cada vez mais conhecidas em todo o país. Do ponto devista cultural, é possível afirmar que há um reconhecimento significativo da pluralidade brasileira e que tal pluralidade é organizada a partir das heranças deixadas pelos “três povos” que fundaram o Brasil: o indígena, o português e o africano. Contudo, essa pretensa harmonia cultural não se estende aos campos socioeconômicos e políticos do país.
A desigualdade
Dados obtidos por diferentes órgãos de pesquisa (como o IBGE e o IPEA) indicam que a população brasileira está cindida por uma significativa desigualdade que se expressa por meio da cor. Os índices mostram que a diferença salarial, a população carcereira, a entrada nas Universidades públicas e os índices de assassinatos passam pelo crivo racial.
Nas aulas anteriores foi visto como afrodescendentes e grupos indígenas vêm lutando para mudar esse quadro. Nos últimos 40 anos essa população começou a contar com a ajuda de muitos intelectuais e até mesmo com o apoio do Estado nacional.
Lei CAÓ – Em 1985, foi aprovada a Lei nº 7.437, também conhecida como Lei CAÓ, em homenagem ao seu formulador. Esta lei: Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951 ― Lei Afonso Arinos.
Art. 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Art. 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na prática referida no art. 1º desta Lei.
Das Contravenções
Art. 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 3 (três) a 10 (dez) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de qualquer gênero ou o atendimento de clientes em restaurantes, bares, confeitarias ou locais semelhantes, abertos ao público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento público, de diversões ou de esporte, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Art. 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1(uma) a três) vezes o maior valor de referência (MVR).
Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde que apurada em inquérito regular.
Art. 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade em inquérito regular, para o funcionário dirigente da repartição de que dependa a inscrição no concurso de habilitação dos candidatos.
Art. 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia, sociedade de economia mista, empresa concessionária de serviço público ou empresa privada, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência (MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de economia mista e empresa concessionária de serviço público.
Art. 10º - Nos casos de reincidência havidos em estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo não superior a 3 (três) meses.
Art. 11º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 12º - Revogam-se as disposições em contrário.
Brasília, 20 de dezembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República.
JOSÉ SARNEY / Fernando Lyra
A necessidade de formular e aprovar essa lei aponta que as práticas racistas ainda vigoravam no país. Mas tal necessidade não parava por aí. Quando a liberdade política foi reinstaurada e um novo acordo social foi firmado, a luta contra o racismo foi apontada em diferentes momentos da Constituição brasileira de 1988.
Como visto na reportagem que abre essa aula, a Constituição brasileira está longe de garantir a extinção do racismo, mas serve como um importante instrumento de luta.
Sistemas de cotas em universidades públicas
Além disso, tal garantia legal serviu de suporte para uma série de ações afirmativas no Brasil, sendo a instauração do sistema de cotas nas universidades públicas a mais conhecida.
Tal sistema reservaria uma parcela das vagas oferecidas pelas universidades para pessoas que se auto classificassem como negras, pardas ou indígenas.
De toda forma, a tentativa e a instauração do sistema de cotas revigorou o debate sobre o racismo no país e serviu como holofote para outras questões importantes, como a demarcação das terras indígenas e quilombolas.
Porém, essa é uma questão que ainda está longe de ser encerrada e, cujo debate, é fundamental para a criação de um Brasil que não faça distinções de seus habitantes.
Resumo do conteúdo
– Compreendeu a importância da Constituição brasileira de 1988 para o reconhecimento de direitos há muito pleiteados pelo Movimento Negro e por representações indígenas;
– Examinou o fato do repúdio ao racismo estar no texto da Constituição brasileira de 1988 e possibilitar a elaboração e a implementação de inúmeras políticas públicas garantidoras de seu cumprimento, sobretudo o Sistema de Cotas nas Universidades brasileiras.

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