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Comercialização de Produtos Agrícolas Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. Antônio Marcos Vargas Oliveira Revisão Textual: Prof.a Dr.a Selma Aparecida O Empreendimento Rural e o Agronegócio • O Empreendimento Rural e o Agronegócio; • Características de Mercado e do Produto Agrícola; • Formação de Preço – Oferta e Demanda; • O Equilíbrio de Mercado. · Conhecer as características dos mercados e dos produtos agrícolas comparativamente aos outros produtos e mercados e o processo de formação de preços em função das variações da Oferta e da Demanda. OBJETIVO DE APRENDIZADO O Empreendimento Rural e o Agronegócio Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio O Empreendimento Rural e o Agronegócio O Empreendimento Rural faz parte do Setor Primário da Economia. O Setor Primário está relacionado à produção de recursos extraídos da natureza e compre- ende a mineração, a extração vegetal e a caça, a agricultura, a pesca e a pecuária. Segundo o dicionário da ABL (2008), o empreendimento rural é aquele relativo ao campo. Figura 1 Fonte: iStock/Getty Images Figura 2 Fonte: iStock/Getty Images 8 9 Para os nossos estudos, consideramos Empreendimento Rural todo empreendi- mento relacionado à produção de recursos extraídos da natureza (Setor Primário da Economia), exceto a produção mineral ou mineração. Os produtos desse setor que não foram beneficiados, também denominados in natura, apresentam baixo valor agregado se comparados aos produtos que passam por algum tipo de processamento, característica dos produtos do Setor Secundário ou industrial. Já o Agronegócio, segundo esse mesmo dicionário (ABL, 2008), é a “Atividade agrícola considerada um grande negócio que envolve a produção, o processamento e a comercialização em larga escala de alimentos”. Dessa forma, o Agronegócio está ligado aos três Setores Econômicos: o Setor Primário, que compreende a produção; o Setor Secundário ou industrial, em que esses produtos são processados ou beneficiados; e o Setor Terciário, que envolve a comercialização desses produtos, como também a aplicação do desenvolvimento científico e tecnológico representado, por exemplo, pelos insumos e tecnologias aplicados à produção, e que irão possibilitar a escala de produção necessária à caracterização do Agronegócio. Figura 3 Fonte: iStock/Getty Images Figura 4 Fonte: iStock/Getty Images Figura 5 Fonte: iStock/Getty Images Essas definições são válidas, independentemente do Sistema Econômico vigente no país: Sistemas Econômicos Planificados ou Socialistas; Sistemas Econômicos de Mercado ou Capitalistas; ou, Sistemas Econômicos Mistos, que é o praticado pela grande maioria dos países, inclusive o nosso. Nos Sistemas Econômicos Planificados, o Governo define quem são os produto- res, o que será produzido, a quantidade a ser produzida e o preço de comercialização. 9 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio Nos Sistemas Econômicos de Mercado, os agentes do Mercado – produtores e compradores – são os definidores desse composto da produção. Nos Sistemas Econômicos Mistos, em maior o menor grau, essas definições do composto da produção são definidos, parte pelo Governo, parte pelos agentes do Mercado. Características de Mercado e do Produto Agrícola O Sistema Econômico que vigora em nosso país é o Sistema Econômico Misto. Temos, assim, como seus principais agentes, o Governo e os Agentes do Mercado, ou seja, o Governo, os produtores e os compradores; porém, é importante lembrar que as características do Mercado Agrícola também são influenciadas por outros agentes ou fatores, como, por exemplo: as características intrínsecas do produto, as condições naturais ou específicas da região produtora, as condições climáticas, as tecnologias disponíveis de armazenamento e distribuição, as imposições legais e/ou sanitárias, os financiadores, proprietários de terra não produtores, a produção de outros países e as bolsas de mercadorias nacionais ou estrangeiras. Originalmente, o Mercado era considerado o local público em que compradores e produtores se encontravam para realizar suas trocas, e que hoje é definido como o conjunto de vendedores e compradores que efetuam transações relativas a produtos ou classe de produtos (KOTLER; KELLER, 2006) pode, ainda, assumir o conceito de grupos de compradores segmentados por qualquer critério objetivo. Podemos, então, dizer que as características do Mercado Agrícola são definidas pelos produtores rurais, pelos compradores e pelo governo, sofrendo, ainda, a influência de diversos fatores e agentes na definição de quem produz o que, para quem e sob quais condições (preço, transporte, beneficiamento etc.). Figura 6 Fonte: iStock/Getty Images Figura 7 Fonte: iStock/Getty Images 10 11 Então, para compreendermos as características do Mercado Agrícola, devemos conhecer melhor cada um desses componentes do Mercado: os produtores rurais, seus compradores, o Governo, os principais influenciadores e os produtos. Figura 8 Fonte: iStock/Getty Images Inicialmente, os produtores rurais podem ser classificados em dois grandes gru- pos: empreendimentos rurais familiares e empreendimentos rurais empresariais. Cada um desses grupos pode ser dividido em subgrupos de acordo com a área da propriedade como, por exemplo: pequenos produtores (áreas de até 50ha – hec- tares), médios produtores (áreas entre 50 e 200ha) e grandes produtores (áreas superiores a 200ha); porém, esse tipo de classificação não é capaz de explicar o sucesso do empreendimento, seja pelo aspecto da produtividade, seja pelo aspecto de resultado econômico. Scarpelli e Nantes (apud BATALHA, 2001) propõem uma classificação de acor- do com o grau de utilização de Técnicas de Administração e de Produção que, inde- pendentemente da área do empreendimento rural resulta em maior produtividade e consequente resultado econômico. De acordo com essa classificação,teríamos três tipos de empreendimento rural: o Empreendimento Rural Tradicional, o Agronegócio em Transição e o Agronegó- cio Moderno. No Empreendimento Rural Tradicional, geralmente de estrutura familiar, os métodos e as técnicas aplicadas são rudimentares e empíricas, altamente dependentes das condições climáticas e das políticas agrícolas, resultando em baixa produtividade. No Agronegócio em Transição, já se observa a utilização de Técnicas de Produ- ção e Administração; porém, com certo distanciamento do mercado consumidor e suas Demandas. Nesse tipo de empreendimento, encontramos empreendedores familiares e empresariais. 11 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio Já o Agronegócio Moderno está perfeitamente alinhado ao mercado consumi- dor e às suas demandas. Utiliza-se das melhores técnicas de produção e gestão, obtendo retornos econômicos significativos. Nesse estágio, encontramos empre- endimentos rurais familiares e empresariais, porém com equilíbrio entre os “aspec- tos de capacitação gerencial, adequação tecnológica e desempenho econômico” (SCARPELLI; NANTES apud BATALHA, 2001, p. 566). Quando se fala de Técnicas de Produção, além do conhecimento científico apli- cado (Agronomia, Veterinária, Técnicas de Plantio, Manejo, Armazenamento etc.), considera-se a utilização de máquinas, implementos e insumos. Os compradores, no Mercado Agrícola, podem ser divididos entre: consumidores, agentes, atacadistas, varejistas ou indústrias. A venda diretamente ao consumidor ocor- re com bens de consumo, normalmente, com baixo índice de beneficiamento. Essa venda direta ao consumidor é realizada, principalmente, por pequenos produtores. O grande volume das vendas no Mercado Agrícola de bens de consumo envolve intermediários entre o produtor e o consumidor; nesse caso, o comprador poderia ser um agente, um atacadista ou um varejista. No caso de bens industriais, ou seja, produtos agrícolas que servem de insumo à indústria, o produtor também pode vender diretamente à indústria, como ocorre com a venda de leite à indústria de pasteurização ou laticínios; porém, da mesma forma que ocorre com a venda de bens de consumo, o maior volume de vendas será intermediada entre o produtor e a indústria. As Cooperativas, seja o produtor cooperado ou não, são também importantes compradores atuando como agentes, atacadistas ou como beneficiadores (indústria) desses produtos. Outro importante comprador, seja diretamente ou por intermediários, é o Go- verno em seus diversos níveis (Municipal, Estadual ou Federal). O Governo pode participar desse Mercado como intermediário entre o produtor e o consumidor em Programas Sociais como, por exemplo, a distribuição de leite, a merenda escolar, os restaurantes populares etc.; mas, a principal atuação do Governo como com- prador de produtos agrícolas é na formação de estoques reguladores. Figura 9 Fonte: iStock/Getty Images 12 13 O universo de compradores também é influenciado pela abrangência do Merca- do, que pode ser: local, regional, nacional ou internacional; quanto maior a abran- gência, novos intermediários podem ser agregados ao processo de distribuição. Também de acordo com a abrangência do Mercado, alguns produtos irão ne- cessitar de algum tipo de processamento ou de condições especiais de conservação para preservar suas características, em função do tempo dispendido para o arma- zenamento e o transporte. A produção rural pode ser dividida em alimentos processados ou in natura e os produtos não alimentícios, utilizados principalmente como insumo pela indústria. O Mercado ao qual se destina a produção rural pode ser dividido em: mercado destinado à alimentação humana, mercado destinado à alimentação animal, mercado de produção de bebidas, mercado destinado à produção de medicamentos fitoterápicos, mercado do fumo, mercado de fibras, mercado de combustíveis, mercado de celulose e madeira, mercado de adubos e mercado de artigos de couro. A cada um desses Mercados corresponde um produto específico ou um grupo de produtos. Assim, podemos dividir os produtos agrícolas em quatro grandes grupos: • Grãos (arroz, cevada, milho, soja, trigo etc.); • Frutas, verduras e legumes (FVL); • Outras lavouras (algodão, cana-de-açúcar, café, ervas, fumo, pastagens, reflo- restamento – pinus e eucalipto, extração de madeira etc.); • De origem animal (apicultura, aves, bovinos, ovinos, pesca e piscicultura, suí- nos etc.). Os Mercados e seus respectivos produtos podem ser observados no Quadro 1. Quadro 1 – Os mercados da produção do Setor Rural Mercado Produtos Alimentação Humana • Grãos (arroz, cevada, milho, soja, trigo) • Frutas, verduras e legumes (FVL) • Cana-de-açúcar • Produção animal (apicultura, aves, bovinos, ovinos, pesca e piscicultura, suínos) Alimentação Animal • Grãos (cevada, milho, soja) • Cana-de-açúcar • Pastagens Bebidas • Grãos (cevada, milho, soja) • Frutas • Cana-de-açúcar • Café • Ervas Terápicos • Ervas• Apicultura Mercado Produtos Fumo • Fumo Fibras • Algodão • Ervas • Ovinos Combustíveis • Grãos (milho, soja) • Cana-de-açúcar • Pinos e eucalipto • Produção animal (aves, suínos) Celulose e Madeira • Pinus e eucalipto Adubos • Produção animal (aves, bovinos, ovinos, suínos) Couro • Produção animal (bovinos, ovinos, suínos) Fonte: Adaptado de Waquil (2010) 13 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio Agregar valor à produção rural é uma das formas de obter melhores resultados na sua comercialização. A principal forma de agregar valor aos produtos agrícolas é processá-los ou beneficiá-los. O beneficiamento e a industrialização são as prin- cipais formas de melhorar o grau de diferenciação dos produtos agrícolas; porém, existe uma categoria de produtos oriundos do campo que, beneficiados ou não, continuam com baixo ou nenhum grau de diferenciação. Esses produtos são co- nhecidos no mercado pela denominação de commodities. De acordo com Azevedo (apud BATALHA, 2001, p. 70-1): Para que uma mercadoria possa receber essa qualificação é necessário que ela atenda a pelo menos três requisitos mínimos: (a) padronização em um contexto de comércio internacional, (b) possibilidade de entrega nas datas acordadas entre comprador e vendedor e (c) possibilidade de armazenagem ou de venda em unidades padronizadas. A necessidade de atender a esses três requisitos mínimos deixa de fora os produ- tos agrícolas que: não são padronizados, ou seja, independentemente do produtor, de sua região de origem ou do processamento que tenha sido aplicado, o produto se diferencia de outros produzidos em outras regiões ou por terem passado por processos de beneficiamento que os torna diferentes; seja em função da possibilida- de de armazenagem ou em função de sazonalidade, o produto não pode ser entre- gue ao comprador em qualquer época do ano ou lugar; não podem ser fracionados ou agrupados em unidades padrão. O dicionário da ABL (2008) define commodity como “Matéria-prima de origem mineral, vegetal ou agropecuária destinada à exportação em estado bruto”, ou “matéria produzida em massa”. Ver a tese de Leonel Molero Pereira, p. 26: https://goo.gl/DvCtww Ex pl or Em função das características de Mercado, as commodities têm seu preço definido pelas Bolsas de Mercadorias em dólar americano, e são comercializa- das mundialmente. As principais commodities agrícolas são os grãos, o álcool, o algodão, o açúcar e as carnes (meia carcaça e cortes congelados). Formação de Preço – Oferta e Demanda Embora o preço seja definido como a quantia estipulada pelo vendedor para se adquirir alguma mercadoria ou serviço (ABL, 2008), na verdade, o preço, bem como as quantidades produzidas, é definido pelas forças do Mercado; porém, nas Economias centralizadas e, emalguns casos, nas Economias mistas, o preço de um determinado produto ou serviço pode ser definido pelo Governo. Embora 14 15 essas práticas tenham como justificativa atender à totalidade das necessidades dos consumidores, podem levar a outros problemas, como deverá ficar claro após as explicações a seguir. As forças de Mercado que atuam na definição do preço e na quantidade pro- duzidas são resultado da atuação dos consumidores e dos produtores no Mercado. A Demanda, por parte dos consumidores, e a Oferta , por parte dos produtores. Demanda é a procura por determinado bem ou serviço e Oferta corresponde à quantidade de um determinado bem ou serviço oferecida ao Mercado. A Demanda Sandroni (2006, p.160) define Demanda como “A quantidade de um bem ou serviço que um consumidor deseja e está disposto a adquirir por um determinado preço”. A Demanda do Mercado em relação a um determinado bem ou serviço corresponde ao somatório das demandas individuais por esse bem ou serviço. Importante! Demanda é a quantidade de um bem ou serviço que um consumidor deseja e está disposto a adquirir por um determinado preço. Importante! A principal determinante da Demanda é o preço. É a variação do preço que irá determinar a quantidade demandada pelo Mercado. Com o aumento do preço, a Demanda tende a diminuir. Com a redução de preço, a Demanda tende a aumentar. Assim, se o preço de um determinado bem varia de P1 para P2, sendo P2 maior que P1, a Demanda desse bem será reduzida de Q1 para Q2 (Gráfico 1). Gráfi co 1 – Curva da Demanda – Variação da Demanda em função do Preço Preço QuantidadeQ1Q2 P1 P2 B AC 15 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio O ponto A corresponde à Demanda quando o preço do bem é P1. O ponto B corresponde à Demanda quando o preço passa a ser P2. A Curva da Demanda, além de nos mostrar a variação da Demanda em função do preço, de acordo com Kupfer e Hasenclever (2002), mostra-nos, também, a variação do excedente do consumidor, representado pela soma da área do retângulo formado pelos pontos P2, B, P1 e C com a área do triângulo formado pelos pontos A, B e C. A área do retângulo mede a perda do consumidor pelo aumento de gasto para consumir as unidades do bem. A área do triângulo mede a perda do consumidor em função da diminuição do consumo. Além do preço, que é um critério objetivo de definição de Demanda, outros fatores, objetivos ou subjetivos, ou a combinação de diversos desses fatores podem agir sobre os consumidores, influenciando a Demanda, como, por exemplo: mudança ou expectativa de mudança do nível de renda; alteração ou expectativa de alteração do preço dos bens ou serviços substitutos; alteração ou expectativa de alteração do preço dos bens ou serviços complementares; excesso ou escassez, ou a expectativa de excesso ou escassez do produto ou serviço; mudança das preferências do consumidor. É importante observar que a expectativa de uma mudança de algum desses fatores tem a mesma capacidade de influenciar o comportamento do consumidor, tanto quanto a efetiva mudança de um deles. Esses outros fatores, quando utilizados como critérios de decisão de compra, irão deslocar toda Curva da Demanda para a direita, representando um aumento da Demanda (Gráfico 2), ou para a esquerda, representando uma diminuição da Demanda (Gráfico 3). Gráfico 2 – Deslocamento da Curva da Demanda por aumento da Demanda Quantidade Preço P1=P2 Q1 Q2 D2D1 16 17 Assim, vemos no Gráfico 2 que, mesmo não havendo variação do preço (P1 = P2): se houver um aumento da renda, ou a expectativa de aumento da ren- da; um aumento no preço, ou a expectativa de aumento de preço de produtos ou serviços substitutos; a redução do preço, ou a expectativa da redução do preço de produtos ou serviços complementares; a escassez ou expectativa de escassez do produto ou serviço; ou a preferência favorável do consumidor pelo produto ou serviço, a quantidade passará de Q1 para Q2, deslocando a Curva da Demanda D1 para D2. Gráfi co 3 – Deslocamento da Curva da Demanda por redução da Demanda Quantidade Preço P1=P2 Q1 Q2 D2D1 De forma inversa, vemos no Gráfico 3 que: a redução da renda, ou a expectativa de redução da renda; a redução do preço, ou a expectativa da redução do preço de produtos ou serviços substitutos; o aumento do preço, ou a expectativa do aumento do preço de produtos ou serviços complementares; o excesso ou expectativa de excesso do bem ou serviço; ou o gosto ou preferência desfavorável do consumidor pelo produto ou serviço em questão, deverá diminuir a quantidade de Q1 para Q2, deslocando a Curva da Demanda de D1 para D2. Como já mencionado, inúmeros outros fatores podem deslocar a Curva de De- manda. Basta lembrar a Operação Carne Fraca, realizada em maio de 2017, pela Polícia Federal junto a alguns frigoríficos que provocou, temporariamente, uma re- dução do consumo de alguns produtos produzidos por esse setor, ou seja, provocou o deslocamento negativo da Curva da Demanda. Assim como o comportamento do consumidor sofre a influência desses fatores e, por consequência, determina a Demanda do Mercado, também os produtores sofrem a influência desses e de outros fatores mais específicos, determinando, no seu conjunto, a Oferta do Mercado. 17 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio A Oferta A Oferta do Mercado é, segundo Sandroni (2006), a quantidade de bens ou serviços oferecidos ao Mercado por um determinado preço. Da mesma forma que a Demanda, o principal fator da Oferta é o Preço (Gráfico 4). Importante! Oferta é a quantidade de bens ou serviços oferecidos ao MERCADO por um determi- nado preço. Importante! Gráfico 4 – Curva da Oferta – Variação da Oferta em função do preço B A Q1 Q2 Quan�dade Preço P2 P1 O ponto A indica a quantidade ofertada Q1 quando o preço corresponde a P1. Alterando-se o preço para P2, a Oferta irá se deslocar de Q1 para Q2. Da mesma forma que a Curva da Demanda indica o excedente do consumidor, a Curva da Oferta irá indicar o excedente do produtor. De acordo com Kupfer e Hasenclever (2002), o excedente do produtor está intimamente relacionado aos lucros da Empresa, que irá corresponder à diferença do preço para a mesma quantidade ofertada Q1, mais o resultado das vendas obtido pelo aumento da Oferta de Q1 para Q2, considerando que, no curto prazo, os custos fixos se mantêm e não variam. O excedente do produtor corresponde à área delimitada pelos pontos P1, P2, B e A. Como já mencionado, além do preço, outros fatores, ou a combinação deles, irão atuar sobre o produtor alterando a Oferta do Mercado. A ação dos fatores favoráveis sobre a Oferta irão deslocar a Curva da Oferta para a direita (Gráfico 5), a ação dos fatores desfavoráveis irão deslocar a Curva da Oferta para a esquerda (Gráfico 6). Os principais fatores que atuam sobre a Oferta são: os custos envolvidos na produção (insumos e outros fatores de produção); o desenvolvimento tecnológico, 18 19 que irá influenciar a produtividade ou reduzir custos de produção; a frustração da produção por condições climáticas, pragas ou outras; e as expectativas relativas a todos esses fatores. Gráfi co 5 – Deslocamento da Curva da Oferta por aumento da Oferta O1 O2 Q1 Q2 Quan�dade Preço P2 = P1 Assim, mesmo não havendomudança de preço (P1 = P2), os fatores favoráveis da Oferta irão deslocar a quantidade ofertada de Q1 para Q2, deslocando a Curva da Oferta para um nível mais alto. Essa mudança pode ter sido causada por: uma redução dos custos de produção; utilização de novas tecnologias de produção; utilização de fatores de produção que aumentam a produtividade; condições climáticas favoráveis; expectativas favoráveis em relação a esses fatores. Gráfi co 6 – Deslocamento da Curva da Oferta por redução da Oferta O2 O1 Q2 Q1 Quan�dade Preço P2 = P1 Inversamente, quando os fatores são desfavoráveis ao produtor, mesmo não havendo mudança no nível de preço (P1 = P2), esses fatores levam a uma redução da quantidade de bens ou serviços ofertados (Q1 para Q2), deslocando a Curva da Oferta para um nível mais baixo. 19 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio Os fatores que podem estar atuando para provocar esse deslocamento negativo da Curva da Oferta são: aumento dos custos de produção; obsolescência tecno- lógica; frustração da safra em decorrência de condições climáticas desfavoráveis ou ocorrência de pragas ou doenças; expectativas relacionadas a esses fatores e expectativa de aumento futuro dos preços dos produtos ou serviços, levando o produtor a estocar sua produção para comercialização futura. O Equilíbrio de Mercado O preço e os outros fatores, ou suas expectativas, atuam sobre os consumi- dores definindo os níveis de Demanda, e sobre os produtores definindo os níveis de Oferta. As forças desses agentes sobre o Mercado fazem com que os preços flutuem até que, a uma determinada quantidade e um determinado preço, o Mercado se estabi- liza. Ponto de equilíbrio é o que atende às expectativas de produtores e de compra- dores (Gráfico 7). Importante! O equilíbrio de Mercado ocorre quando uma determinada quantidade de bens ou serviços é comercializada a um determinado preço que atende às expectativas dos produtores e consumidores. Importante! Ao preço de equilíbrio PE corresponde uma determinada quantidade chamada quantidade de equilíbrio QE, ponto em que a Curva da Oferta se encontra com a Curva da Demanda. Gráfico 7 – Equilíbrio entre a Oferta e a Demanda – Equilíbrio de Mercado Quantidade Preço PE QE 20 21 As forças do Mercado que levam ao Equilíbrio do Mercado atuam de duas formas. A primeira (Gráfico 8), a de excesso de Demanda (QD – QO), ocorre quando o preço de um produto ou serviço está muito baixo P1, levando a um aumento da Demanda QD. Gráfi co 8 – Excesso de Demanda Quantidade Preço P P1 E QEQo QD A esse nível de Demanda, irá ocorrer uma escassez da Oferta , levando alguns consumidores a pagarem uma elevação dos preços de P1 para PE. Com essa elevação de preço, a Oferta irá se ajustar de QO para QE, levando ao equilíbrio do Mercado, pois no nível de preço PE, há uma correspondente redução da Demanda. A segunda (Gráfico 9), a de excesso de Oferta (QO – QD), ocorre quando a um determinado preço P1 os produtores realizam uma Oferta QO, gerando um excesso de Oferta , isto é, um nível de Oferta incompatível com o julgamento dos consumidores sobre esse nível de preço. Assim, alguns produtores para conseguir colocar sua produção no Mercado, reduzem o seu preço de P1 para PE, nível em que encontram receptividade por parte dos consumidores. Gráfi co 9 – Excesso de Oferta QD QE QO Quan�dade Preço P1 PE 21 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio A esse novo nível de preço, a Oferta se ajusta de QO para QE, nível de Equilíbrio de Mercado. O Equilíbrio de Mercado é, assim, um ajuste entre os níveis de Oferta e Demanda, adequando os interesses de produtores e consumidores. Com os deslocamentos das curvas da Oferta ou da Demanda, o Equilíbrio de Mercado irá se ajustar de acordo com o novo nível de Oferta ou de Demanda. Caso a Curva de Demanda se desloque para um nível mais elevado de Demanda, as forças de Mercado irão atuar de forma que o novo equilíbrio de Mercado se dê em um nível de Demanda situado entre os dois níveis anteriores a um preço mais elevado, pois nesse caso ocorreu um excesso de Demanda (vide Gráfico 8). Caso a Curva de Demanda se desloque para um nível mais baixo de Demanda, as forças de Mercado irão determinar o novo nível de Demanda entre os dois níveis anteriores e a um preço mais baixo, pois nesse caso ocorreu uma escassez de Demanda. Observe-se que o excesso de Demanda corresponde a uma escassez de Oferta e, da mesma forma, a escassez de Demanda corresponde a um excesso de Oferta. Assim, o comportamento das forças de Mercado serão as adequadas a cada uma dessas situações. De qualquer forma, qualquer que seja a situação do Mercado, as forças irão sempre agir buscando o seu equilíbrio. Vejam que o nível de equilíbrio de Mercado não significa que todos os agentes estejam sendo plenamente atendidos. Os consumidores estão sendo restringidos em seus interesses pela limitação que o preço impõe e, da mesma forma, estão sendo restringidos os interesses dos produtores. Ou seja, os preços poderiam baixar até o ponto em que a expansão da Demanda alcançasse o ponto de saturação dos consumidores e, nesse caso, durante esse processo, mais e mais produtores estariam se retirando do Mercado por não considerarem vantajoso atuar nesses novos níveis de preço, levando a uma redução da Oferta que forçaria a uma elevação dos preços. Ao contrário, os preços poderiam subir até o ponto em que sua expansão excluísse do Mercado todos os consumidores, resultando em um excesso de Oferta que forçaria a queda dos preços. Qualquer que fosse o movimento, teoricamente, o Mercado acabaria por se ajus- tar; porém, quando um agente externo age sobre o Mercado, o Governo, por exem- plo, fixando o preço de um determinado produto ou serviço, os agentes do Merca- do, produtores e consumidores, irão agir criando, ao final do processo, escassez. Imaginemos que o Governo fixe o preço de um produto em um nível considerado baixo pelos produtores, mas adequado pelos consumidores. Em pouco tempo, menos produtores estarão dispostos a oferecer esse produto ao Mercado, gerando escassez da Oferta, seja pela redução da quantidade ofertada, seja pela redução da qualidade ofertada. 22 23 Veja os efeitos do tabelamento de preços do Plano Sarney. Ex pl or Por outro lado, se o Governo fixa o preço de um produto em um nível con- siderado alto pelos consumidores, estará criando uma reserva de Mercado aos produtores que atuam nesse Mercado, restringindo o consumo e reduzindo a con- corrência, o que se caracteriza por uma escassez de Oferta e que irá levar a uma escassez de qualidade. Veja os efeitos da Política Nacional de Informática (PNI) de 1984. Ex pl or Por isso o papel do Governo deve ser muito bem pensado e, caso necessário, sua intervenção direta no processo, que seja a suficiente para corrigir as distorções do momento. 23 UNIDADE O Empreendimento Rural e o Agronegócio Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Modelo de Formação de Preço de Commodities Agrícolas aplicado ao Mercado de Açúcar e Álcool PEREIRA, Leonel Molero. Modelo de formação de preço de commodities agrícolas aplicado ao mercado de açúcar e álcool. Tese (Doutorado) São Paulo: Universidade de São Paulo, 2009. https://goo.gl/DvCtww A Explosão de Consumo do Cruzado https://goo.gl/2z2ZyRO Atraso na Inovação Tecnológica no Agronegócio https://goo.gl/fGQmt9 Informática: O Mito Política Nacional de Informática https://goo.gl/vGWFLo 24 25 Referências ABL – Academia Brasileira de Letras. Dicionário escolar da língua portuguesa. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008. BATALHA, Mário Otávio (org.). Gestão agroindustrial. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2001. KOTLER, Philip; KELLER, Kevin Lane. Administração de marketing. 12.ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. KUPFER, David; HASENCLEVER, Lia. Economia industrial: fundamentos teóricos e práticas no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2002. SANDRONI, Paulo (org.). Dicionário de Economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2006. WAQUIL, Paulo Dabdab. Mercados e comercialização de produtos agrícolas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2010. 25
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