Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ANDRESA LEITE DA SILVA ALIENAÇÃO PARENTAL CURITIBA 2016 ANDRESA LEITE DA SILVA ALIENAÇÃO PARENTAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel. Orientador: Professora Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann. CURITIBA 2016 TERMO DE APROVAÇÃO Andresa Leite da Silva SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, de de 2.016. Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite Coordenador do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná Orientador: ___________ Profª. Drª Geórgia Sabbag Malucelli Niederheitmann. Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito Supervisor: Prof. Dr. Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito Supervisor: Prof. Dr. Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito Dedico este trabalho aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado me apoiando em tudo, ao meu irmão Felipe, e ao meu namorado William que sempre me apoiou e acreditou em mim, e à minha orientadora Geórgia, tendo em vista a sua dedicação e toda paciência comigo. RESUMO O objetivo deste trabalho é, a partir de pesquisas, divulgar e conhecer com mais detalhe o conceito da “Síndrome de Alienação Parental”, também chamada de falsas memórias ou abuso do poder parental. Reconhecida como forma de abuso emocional, pode causar à criança ou ao adolescente, distúrbios psicológicos. Pretende-se identificar os instrumentos jurídicos existente na legislação brasileira capazes de inibir ou atenuarem os seus efeitos. O comportamento desencadeado pelo genitor guardião tem por objetivo limitar ou impedir o convívio do outro genitor com o filho comum após o rompimento do vínculo conjugal. Busca-se referir eventuais motivos que possam desencadear a síndrome, bem como propor algumas soluções através da via judicial que podem ser adotadas pelo genitor alienado em benefício dele e da criança envolvida. Neste contexto, busca- se demonstrar que a mediação familiar pode servir como instrumento de solução da síndrome da alienação parental. Demonstrando essas ações por alguns motivos como: ciúmes, inveja, possessividade e até mesmo influência de familiares, na qual a criança é usada para atingir um dos pais. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 6 2 FAMÍLIA ............................................................................................................. 7 2.1 EVOLUÇÃO FAMILIAR ...................................................................................... 7 2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA FAMÍLIA ................................................ 8 2.2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e Família ....................................... 9 2.2.2 Princípio da Solidariedade Familiar .................................................................... 9 2.2.3 Princípio da Igualdade Familiar e Direito à Diferença ...................................... 10 2.2.4 Princípio da Liberdade Familiar ........................................................................ 10 2.2.5 Princípio da Afetividade .................................................................................... 11 2.2.6 Princípio da Convivência Familiar .................................................................... 11 2.2.7 Princípio do Melhor Interesse da Criança......................................................... 12 3. PODER FAMILIAR........................................................................................... 13 3.1 TENTATIVA CONCEITUAL .............................................................................. 13 3.2 CARACTERÍSTICAS ........................................................................................ 14 3.3 EXTINÇÃO E SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR ....................................... 15 4. PROTEÇÃO À PESSOA DOS FILHOS NA SEPARAÇÃO JUDICIAL, DIVÓRCIO OU DISSOLUÇÃO DA UNIAO ESTÁVEL ............................................. 18 4.1 DA GUARDA .................................................................................................... 19 4.1.1 Conceito de Guarda ......................................................................................... 19 4.1.2 Guarda Unilateral ............................................................................................. 20 4.1.3 Guarda Compartilhada ..................................................................................... 21 5. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL .................................................... 24 5.1 DIFERENÇA ENTRE A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E ALIENAÇÃO PARENTAL ......................................................................................... 25 5.2 PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA SAP ........................................................ 27 5.2.1 Campanha de difamação. ................................................................................ 27 5.2.2 Razões fracas, frívolas ou absurdas para a depreciação. ................................ 27 5.2.3 Falta de ambivalência....................................................................................... 28 5.2.4 O fenômeno do “pensador independente”. ....................................................... 29 5.2.5 Apoio reflexivo ao genitor alienador no conflito parental. ................................. 30 5.2.6 Ausência de culpa sobre a difamação e/ou exploração do genitor odiado. ...... 30 5.2.7 Presença de “encenações” encomendadas. .................................................... 30 5.2.8 Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor odiado. ...................................................................................................................... 30 5.3 ESTÁGIOS DA SÍNDROME ............................................................................ 31 5.4 LEI 12.318/2010 ............................................................................................... 31 5.5 IDENTIFICAÇÃO DO GENITOR ALIENADOR ................................................ 36 5.6 COMPORTAMENTO DO GENITOR ALIENADOR .......................................... 37 5.7 AS CONSEQUÊNCIAS PARA AS CRIANÇAS E OS ADOLESCENTES ......... 38 5.8 FALSAS MEMÓRIAS ....................................................................................... 40 6. CONCLUSÃO .................................................................................................. 44 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 45 6 1. INTRODUÇÃO Com a dissolução do casamento, de uma união estável ou de um relacionamento fica a questão: quem vai ficar com a guarda da criança? Oproblema dessa questão é que muitas vezes, após o rompimento de um relacionamento, os genitores ficam brigados, fazendo com que eles não entrem em acordo nenhum com relação a guarda. Com a guarda resolvida por meio de uma ação, em alguns casos começam a ocorrer outros problemas, pois o genitor guardião começa a atacar o outro genitor por meio de seu filho, pois em sua cabeça ele precisa se vingar. Aí começa a Síndrome da Alienação Parental. A Síndrome da Alienação Parental nada mais é do que uma ação psicológica do genitor guardião em relação a prole, ou seja, é através de meios psicológicos que o genitor induz a criança a um sentimento de ódio, recusa e algumas vezes com induções a atos praticados pelo outro genitor, tais como o abuso sexual, em que a criança, através de seu imaginário, acaba por acreditar que realmente houve o abuso. Uma das premissas da Síndrome da Alienação Parental é o caráter interdisciplinar, pois há necessidade não só da intervenção jurídica, mas também psicológica, psiquiátrica, bem como social. Como pode ser resolvido esse problema? Tendo em vista essa dificuldade, o presente trabalho trabalhará toda a parte histórica da família, bem como sua evolução, para que possamos adentrar na Síndrome da Alienação Parental, concluindo, no último capítulo, como está sendo julgado esse tipo de ação no Paraná. 7 2. FAMÍLIA 2.1 EVOLUÇÃO FAMILIAR Primeiramente, antes de adentrarmos no assunto principal, é de suma importância entender a evolução da família. A palavra família é de origem romana, famulus, que significa escravo. O termo família se referia ao conjunto de escravos, servos que eram subordinados a seu superior, ou seja, havia um “senhor”, o pater familias, que mandava em seus súditos, bem diferente do conceito que conhecemos hoje. O doutrinador Paulo Lôbo, citando o autor Engels, diz que: Engels (1944, p. 80-5) esclarece que a palavra família não pode ser aplicada, a princípio, nos romanos antigos, ao casal e aos filhos, mas somente aos escravos. Famulus queria dizer escravo e família era o conjunto de escravos pertencentes a um mesmo homem. Ainda no tempo de Caio, a família id est patrimonium (quer dizer, parte da herança) era transmitida testamentariamente. Segundo esse autor, a expressão foi inventada pelos romanos para designar um novo organismo social cujo chefe tinha sob suas ordens a mulher, os filhos e certo número de escravos, submetidos ao poder paterno romano, com direito de vida e morte sobre todos eles. Essa família seria baseada no domínio do homem, com expressa finalidade de procriar filhos de paternidade incontestável, inclusive para fins de sucessão. Foi a primeira forma de família fundada sobre condições não naturais, mas econômicas, resultando no triunfo da propriedade individual sobre a compropriedade espontânea primitiva. (LÔBO, 2015, p. 20). Com isso, podemos observar que antigamente o homem detinha o poder sobre a mulher e os filhos. Para ele, sua única obrigação era sustentar financeiramente a família e em relação aos outros afazeres, bem como cuidar dos filhos, era obrigação da mulher. Agora, o conceito de família é outro. Com o passar dos anos, houve uma grande mudança no comportamento da sociedade, alterando assim o andamento da família. Atualmente, o pai, a princípio, atua ativamente na educação dos filhos, bem como nos afazeres domésticos. Infelizmente, ainda existem pessoas com o pensamento de que o homem é o provedor da família, porém, como já mencionado, hoje em dia a palavra família possui outros significados. O Dicionário Aurélio define a palavra família como: 8 1. Conjunto de todos os parentes de uma pessoa, e, principalmente, dos que moram com ela. 2. Conjunto formado pelos pais e pelos filhos. 3. Conjunto formado por duas pessoas ligadas pelo casamento e pelos seus eventuais descendentes. 4. Conjunto de pessoas que têm um ancestral comum. 5. Conjunto de pessoas que vivem na mesma casa. 6. Raça, estirpe. (disponível em <https://dicionariodoaurelio.com/familia, acesso em 20 ago. 2016). Para Eduardo de Oliveira Leite, diversas são as significações jurídicas atribuíveis à palavra família: I – Num sentido amplo (lato sensu) – Família é o conjunto de pessoas ligadas por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas provindas de um tronco ancestral comum. É nesse sentido que é empregada pelo art. 1.412, § 2º, do atual CC. II – Num sentido mais limitado – A família abrangeria os consanguíneos em linha reta – por exemplo, pais e filhos – e os colaterais sucessíveis, isto é, até o quarto grau (art. 1.839). III – Num sentido restrito (stricto sensu) – A família se reduziria aos pais e sua prole. É o que se chama, atualmente, “família nuclear”. É nesse sentido que a palavra é empregada pelo art. 1.568. (LEITE, 2013, p. 22). Já para Maria Berenice Dias, a definição de família está elencada na Lei da Maria da Penha: Agora – e pela primeira vez – a lei define a família atendendo a seu perfil contemporâneo. A Lei Maria da Penha (L 11.340/06), que busca coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, identifica como família qualquer relação íntima de afeto (LMP 5º III). (DIAS, 2015, p. 132). Assim, podemos afirmar que a palavra família não tem um único sentido, ao contrário, esta expressão varia conforme o tempo e o espaço, na medida em que a sociedade vai se modificando. 2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA FAMÍLIA No Brasil, há várias interpretações com relação aos princípios constitucionais que amparam a família, pois é difícil nominar ou até mesmo quantificar os princípios que a norteiam. Há vários princípios constitucionais da família, porém, como referência, podemos utilizar a divisão feita por Paulo Lôbo que diz que os princípios podem ser 9 assim agrupados: (LÔBO, 2015, p. 53). 2.2.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana e Família Paulo Lôbo acredita que a dignidade da pessoa humana é o núcleo existencial que é plenamente comum a todas as pessoas humanas, aquelas do mesmo gênero humano, o que impõe a elas um dever geral de respeito, proteção e intocabilidade. (LÔBO, 2015, pg. 54). Para Maria Berenice Dias, o princípio da dignidade da pessoa humana é: É o princípio maior, fundante do Estado Democrático de Direito, sendo afirmado já no primeiro artigo da Constituição Federal. A preocupação com a promoção dos direitos humanos e da justiça social levou o constituinte a consagrar a dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem constitucional. (DIAS, 2015, pg. 44) Sendo assim, podemos destacar o princípio da dignidade humana como o principal norteador de todos os outros princípios constitucionais. 2.2.2 Princípio da Solidariedade Familiar O princípio da solidariedade afeta no modo de pensar e viver da sociedade, tendo em vista o predomínio dos interesses individuais que marcaram épocas passadas no começo da modernidade, que refletem até a atualidade. (LÔBO, 2015, pg. 56) Paulo Lôbo ainda complementa: A regra matriz do princípio da solidariedade é o inciso I do art. 3º da Constituição Federal. No Capítulo destinado à família, o princípio é revelado incisivamente no dever imposto à sociedade, ao Estado e à família (como entidade e na pessoa de cada membro) de proteção ao grupo familiar (art. 226), à criança e ao adolescente (art. 227) e às pessoas idosas (art. 230). (LÔBO, 2015, pg. 57) Podemos concluir, assim, que o Princípio da Solidariedade Familiar impõe à sociedade, ao Estado e à família, que protejam o grupo familiar, ou seja, não é só dever dos membros da família.10 2.2.3 Princípio da Igualdade Familiar e Direito à Diferença A Constituição Federal fala expressamente do princípio da igualdade familiar, mais claramente nos preceitos que tratam das três principais situações nas quais a desigualdade de direitos foi a constante histórica: os cônjuges, os filhos e as entidades familiares. (LÔBO, 2015, pg. 59) Como Paulo Lôbo diz: [...] O simples enunciado do § 5º, do art. 226 traduz intensidade revolucionária em se tratando dos direitos e deveres dos cônjuges, significando o fim definitivo do poder marital: “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher” [...]. (LÔBO, 2015, pg. 59) Ainda complementa: [...] O sentido da sociedade conjugal é mais amplo, pois abrange a igualdade de direitos e deveres entre os companheiros da união estável. O §6º do art. 227, por sua vez, introduziu a máxima igualdade entre os filhos, “havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção”, em todas as relações jurídicas, pondo cobro às discriminações e desigualdade de direitos, muito comuns na trajetória do direito de família brasileiro. [...] Lembrando que, em situações que forem tratados desigualmente os desiguais, os pais não poderão ser acusados de discriminação. (LÔBO, 2015. Pg. 61) 2.2.4 Princípio da Liberdade Familiar Paulo Lôbo explica que: O princípio da liberdade diz respeito ao livre poder de escolha ou autonomia de constituição, realização e extinção de entidade familiar, sem imposição ou restrições externas de parentes, da sociedade ou do legislador; à livre aquisição e administração do patrimônio familiar; ao livre planejamento familiar; à livre formação dos filhos, desde que respeitadas suas dignidades como pessoas humanas; à liberdade de agir, assentada no respeito à integridade física, mental e moral. (LÔBO, 2015, pg. 64) Tal princípio trata da liberdade da criação, manutenção, extinção constituição e reinvenção das famílias, ou seja, o Estado não pode regular deveres que restrinjam a liberdade da família, se isso não repercuta em um interesse geral. (LÔBO, 2015, pg. 65) 11 2.2.5 Princípio da Afetividade É importante frisar que o princípio da afetividade, tal como princípio jurídico, não se confunde com o afeto, como fato psicológico, ou anímico, porquanto pode ser presumida quando este faltar na realidade das relações; assim, a afetividade é dever imposto aos pais em relação aos filhos e ao contrário também, ainda que haja desafeição ou desamor entre eles. (LÔBO, 2015, pg. 66) Paulo Lôbo lembra que o princípio da afetividade está elencado no art. 1.593 do Código Civil, vejamos: O art. 1.593 do Código Civil enuncia regra geral que comtempla o princípio da efetividade, ao estabelecer que o “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consanguinidade ou outra origem”. Essa regra impede que o Poder Judiciário apenas considere como real a biológica. Assim, os laços de parentesco na família (incluindo a filiação), sejam eles consanguíneos ou de outra origem, têm a mesma dignidade e são regidos pelo princípio da efetividade. (LÔBO, 2015, 67) Todavia, há duas hipóteses em que o princípio da afetividade entre pais e filhos deixa de incidir, são elas: com o falecimento de um dos sujeitos ou se houver perda da autoridade parental. (LÔBO, 2015, pg. 66) 2.2.6 Princípio da Convivência Familiar Paulo Lôbo explica que a convivência familiar é: [...] a relação afetiva diuturna e duradoura entretecida pelas pessoas que compõem o grupo familiar, em virtude de laços de parentesco ou não, no ambiente comum. É o ninho no qual as pessoas se sentem recíproca e solidariamente acolhidas e protegidas, especialmente as crianças. (LÔBO, 2015, pg. 68) Lembrando que, o direito à convivência familiar não é limitada somente à família nuclear, aquela composta pelos pais e filhos. Em caso de conflito, o Poder Judiciário abrange a família, e considera outras famílias também levando em conta os valores e costumes daquele lugar. (LÔBO, 2015, pg. 69) 12 2.2.7 Princípio do Melhor Interesse da Criança O princípio do melhor interesse significa que a criança e o adolescente, devem ter seus interesses tratados com prioridade, pela família, pela sociedade e pelo Estado, tanto na elaboração quanto na aplicação dos seus direitos, notadamente nas relações familiares, como pessoa em desenvolvimento e dotada de dignidade. (LÔBO, 2015, pg. 69) Paulo Lôbo salienta que: No direito brasileiro, o princípio encontra fundamento essencial no art. 227, que estabelece ser dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente “com a absoluta prioridade” os direitos que enuncia. A convenção Internacional dos Direitos da Criança, com força de lei no Brasil desde 1990, estabelece em seu art. 3.1 que todas as ações relativas aos menores devem considerar, primordialmente, “o interesse maior da criança”. LÔBO, 2015, pg. 71) Ou seja, havendo conflitos de direito, os direitos das crianças e dos adolescentes sempre serão tratados como prioridade. 13 3. PODER FAMILIAR 3.1 TENTATIVA CONCEITUAL Poder familiar é o conjunto de direitos e deveres estabelecidos entre os pais e seus filhos menores não emancipados. A expressão, introduzida pelo Código Civil Brasileiro de 2002, substitui o termo “pátrio poder” que, como o próprio nome sugere, ressalta a predominância paterna e a figura do “chefe de família” na condução dos assuntos domésticos e familiares. Somente em 2002 que o vestígio de uma sociedade patriarcal foi eliminado de nossa legislação. Desde então, perante a lei, pai e mãe partilham igualmente a responsabilidade sobre os filhos. Segundo o Eduardo de Oliveira Leite, o nome “Poder Familiar” está equivocado: O “poder parental” (e não “familiar” como, equivocadamente, consta no Código Civil de 2002) é a expressão que revela com intensidade esta nova ordem de valores que passa a invadir o ambiente familiar. Poder parental, dos pais, e não mais pátrio poder que, inevitavelmente, sugeria o conjunto de prerrogativas conferidas ao pai (pater), na qualidade de chefe da sociedade conjugal. (LEITE, 2013, pg. 255) Carlos Roberto Gonçalves também critica a expressão “Poder Familiar”, mesmo tal expressão sendo tão utilizada pelos doutrinadores: A denominação “poder familiar” é mais apropriada que “pátrio poder” utilizada pelo Código de 1916, mas não é a mais adequada, porque ainda se reporta ao “poder”. Algumas legislações estrangeiras, como a francesa e a norte- americana, optaram por “autoridade parental”, tendo em vista que o conceito de autoridade traduz melhor o exercício de função legítima fundada no interesse de outro indivíduo, e não em coação física ou psíquica, inerente ao poder. (GONÇALVES, 2015, pg. 421) O poder familiar não se trata do exercício de uma autoridade, mas de um encargo imposto por lei aos pais, ou seja, não é uma opção dos pais em ter ou não esse poder sobre os filhos, mas sim uma obrigação e dever que devem ser respeitados. Vale salientar que a autonomia da família não é absoluta, em algumas situações poder haver a intervenção subsidiária do Estado. O Código Civil, em seu 14 artigo 1513, retrata que é defeso de qualquer pessoa de direito público ou privado interferir na comunhão da vida instituída pela família, cabendo aos pais o controle sobre a família e os filhos devendo agir de forma digna e moral, ao Estado incumbe- se formular e executar a política de atendimento aos direitos da criança e doadolescente, em parceria com a sociedade, controlando a esfera negativa da atuação dos pais, tendo responsabilidade para agir quando os genitores não cumprem o disposto em lei. 3.2 CARACTERÍSTICAS O poder parental/familiar não pode ser delegado, renunciado e muito menos alienado. Qualquer ato de abdicação feito pelos pais será nulo. Maria Berenice Dias esclarece que: O Poder familiar é irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível. Decorre tanto da paternidade natural como da filiação legal e da socioafetiva. As obrigações que dele fluem são personalíssimas. Como os pais não podem renunciar aos filhos, os encargos de derivam da paternidade também não podem ser transferidos ou alienados. (DIAS, 2015, pg. 462) Todavia, há uma exceção no art. 166 no Estatuto da Criança e do adolescente, in verbis: Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensada a assistência de advogado. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência. § 1o Na hipótese de concordância dos pais, esses serão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo as declarações. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela equipe interprofissional da Justiça da Infância e da Juventude, em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 3o O consentimento dos titulares do poder familiar será colhido pela autoridade judiciária competente em audiência, presente o Ministério Público, garantida a livre manifestação de vontade e esgotados os esforços para manutenção da criança ou do adolescente na família natural ou extensa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 4o O consentimento prestado por escrito não terá validade se não for ratificado na audiência a que se refere o § 3o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 5o O consentimento é retratável até a data da publicação da sentença constitutiva da adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência 15 § 6o O consentimento somente terá valor se for dado após o nascimento da criança. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência § 7o A família substituta receberá a devida orientação por intermédio de equipe técnica interprofissional a serviço do Poder Judiciário, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência. O poder familiar/parental é também imprescritível no sentido de que dele o genitor não decai pelo fato de não exercitá-lo, somente podendo perdê-lo na forma e nos casos expressos em lei. Outrossim, é incompatível com a tutela, não se podendo nomear tutor a menor cujos pais não foram suspensos ou destituídos do poder familiar. O artigo 1.630 do Código Civil preceitua que "Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores". Assim, temos que a menoridade cessa aos 18 (dezoito) anos completos, extinguindo nessa idade o poder familiar, ou antes, se ocorrer a emancipação em razão de alguma das causas indicadas no parágrafo único, do artigo 5º, do Código Civil. 3.3 EXTINÇÃO E SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR Para assegurar o melhor interesse da criança e do adolescente (filhos menores não emancipados), o Estado pode intervir no Poder Familiar, já que tal poder não é absoluto. Existem normas que autorizam o Magistrado privar os pais de seu exercício temporariamente, isso acontece na suspensão do poder familiar. A suspensão do poder familiar é menos grave, por isso pode haver a revisão da mesma. Conforme o art. 157 do ECA, o magistrado poderá, liminarmente ou incidentalmente, decretar a suspensão da autoridade parental. Esta decisão haverá de ser registrada, à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente, tendo em vista o § único do art. 163 do ECA. Conforme salienta Maria Berenice Dias, a suspensão do poder familiar cabe nas hipóteses de abuso de autoridade, conforme o art. 1.637 que diz: 16 Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe o juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o exercício do poder familiar, quando convenha. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão. Os deveres dos pais são de educação, guarda e sustento dos filhos, cabendo assegurar-lhes, conforme o art. 227 da Constituição Federal, a vida, a saúde, a alimentação, a educação, o lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, o respeito, a liberdade, a convivência familiar e comunitária, além de não poder submetê-los a discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Uma das hipóteses de suspensão do poder familiar está elencada na Lei Federal nº 12.318/10, Lei de Alienação Parental. De acordo com art. 2º da mencionada Lei, alienação parental é a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente, promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou o adolescente sob sua autoridade, guarda, ou vigilância, para que repudie genitor, ou lhe causa dano ao estabelecimento, ou manutenção do vínculo afetivo. Uma vez configurada a alienação, uma das penalidades possível é a suspensão do poder familiar. Já a extinção do poder familiar é uma medida mais gravosa. Dispõe o art. 1.635 do Código Civil: Art. 1635 - Extingue-se o poder familiar: I- morte dos pais ou do filho; II- pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único; III- pela maioridade; IV- pela adoção; V- por decisão judicial, na forma do artigo 1.638. Maria Berenice Dias lembra que: A extinção do poder familiar não rompe o vínculo de parentesco. Porém, destituído o genitor do poder familiar, não dá para admitir que conserve o direito sucessório com relação ao filho. No entanto, o filho permanece com direito à herança do pai. Ainda que esta distinção não esteja na lei, atende a elementar regra de conteúdo ético. (DIAS, 2015, pg. 470) 17 Todavia há uma impropriedade terminológica na lei, mas precisamente no inciso V do art. 1.635 do Código Civil, pois tal inciso se refere à perda do poder familiar e não a extinção. Perda e extinção do poder familiar são expressões distintas, tendo em vista que perda é uma sanção imposta por decisão judicial, já a extinção ocorre pela morte, emancipação e extinção do sujeito passivo, sendo inapropriado utilizar as duas expressões indistintamente. (DIAS, 2015, pg. 472) Lembrando que as situações de suspensão, perda ou destituição poder familiar sempre haverão de ser estudadas para melhor proteger os filhos não emancipados. 18 4. PROTEÇÃO À PESSOA DOS FILHOS NA SEPARAÇÃO JUDICIAL, DIVÓRCIO OU DISSOLUÇÃO DA UNIAO ESTÁVEL A dissolução de um relacionamento não traz problemas somente para o casal, mas também para os filhos, tendo em vista que há a dissolução daquele parâmetro de família. Muitasvezes os filhos acreditam que perderam a proteção dos pais, sentindo-se, assim, abandonados. Em se tratando da guarda dos filhos, a legislação infraconstitucional veio para resguardar o melhor interesse da criança. É neste sentido que nos fala Eduardo de Oliveira Leite: A situação dos filhos no pós-ruptura, questão das mais fundamentais na dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, ganha na nova codificação, reconhecimento especial e tratamento especial, até então lateral, periférico, quase acessório. Agora, na perspectiva perseguida pelo texto constitucional de 1988 e da legislação infraconstitucional que se lhe segue – especialmente o ECA – é guindada a um reconhecimento próprio do princípio do ‘melhor interesse da criança’ que se afasta das normas meramente programáticas e adentra no universo da concretude legislativa. (LEITE, 2013, pg. 153) Sendo assim, há dissolução da relação entre o casal e não a relação perante os filhos, que deve permanecer. Esta premissa também está disposta no art. 1.632 do Código Civil de 2002, in verbis: “a separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos”. A doutrinadora Maria Berenice Dias ensina que: Quando existem filhos, a dissolução dos vínculos afetivos dos pais não se resolve simplesmente indo um para cada lado. O fim da conjugalidade não afeta nem os direitos e nem os deveres de ambos com relação à prole. O rompimento do casamento ou da união estável dos genitores não pode comprometer a continuidade dos vínculos parentais, pois o exercício do poder familiar em nada é afetado. O estado de família é indisponível. (DIAS. 2015, pg. 521) Para tentar resolver esses problemas, o Código Civil, em seus artigos 1.583 a 1590, dispõe sobre a proteção à pessoa dos filhos, definindo a diferença entre guarda compartilhada e guarda unilateral. 19 Maria Helena Diniz explica: Em boa hora veio a nova normatização, que assegura a ambos os genitores a responsabilidade conjunta e o exercício de direitos e deveres concernentes ao poder familiar (CC 1.583 § 1º) e a imposição da guarda compartilhada com a divisão do tempo de convívio de forma equilibrada entre os pais (CC 1.583 § 2º). Ambos os pais persistem com todo o complexo de deveres que decorrem do poder familiar, sujeitando-se à pena de multa se agirem dolosa ou culposamente (ECA 249). (DIAS, 2015, pg. 522) Ou seja, anteriormente, a regra era a guarda unilateral que consiste em atribuir a um dos cônjuges a guarda dos filhos, sendo que o outro cônjuge poderá visitar o filho conforme regulamentado na dissolução do divórcio, porém com o advento da Lei 13.058/2014 (Lei da Guarda Compartilhada), a guarda compartilhada torna-se a regra quando não houver consenso entre os genitores no que se refere a detenção da guarda dos filhos. Cabe aos pais, na medida em que são os gerenciadores da família, buscar meios para não deixar faltar aos filhos, independentemente da guarda, as relações de afeto, carinho, amor e dedicação, imprescindíveis à boa formação da personalidade e do caráter da pessoa. 4.1 DA GUARDA 4.1.1 Conceito de Guarda A Guarda dos filhos de até os 18 anos não emancipados, é, ao mesmo tempo, dever e direito dos pais. O termo "Guarda" tem origem etimológica no latim Guardare, no germânico Wardem (guarda, espera), no inglês Warden (guarda) e no francês Garde, sendo utilizado genericamente para designar proteger, conservar, olhar, vigiar. A guarda compreende a proteção, amparo e vigilância que os pais possuem em relação aos filhos menores. Maria Berenice Dias nos demonstra que: A lei cuida da guarda dos filhos em oportunidades distintas. Quando do reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento (CC 1.611 e 1.612), não dá a mínima atenção para a doutrina da proteção integral consagrada pela Constituição, nem para tudo que o ECA dita sobre o melhor interesse de crianças e adolescentes. Ao tratar da proteção dos filhos (CC 1.583 a 1.590), de forma didática, define o que é guarda unilateral e compartilhada, impondo 20 o compartilhamento mesmo contra a vontade dos genitores o eventual estado de beligerância entre eles (CC 1.584, §2º). (DIAS, 2015, pg. 523) E complementa: A guarda dos filhos é, implicitamente, conjunta, apenas se individualizando quando ocorre a separação de fato ou de direito dos pais. Também quando o filho for reconhecido por ambos os pais, não residindo eles sob o mesmo teto e não havendo acordo sobre a guarda, o juiz decide atendendo o melhor interesse do menor (CC 1.612). (DIAS, 2015, pg. 523) Quando há a dissolução do casamento ou união estável, em não havendo um acordo entre o casal, inicia-se o conflito em relação à guarda dos filhos. É neste sentido que nos fala Eduardo de Oliveira Leite: Quando os pais vivem juntos e harmonicamente, ambos exercem conjuntamente, a guarda. Mas quando a ruptura interfere na vida conjugal surge de imediato, um dos mais complexos problemas do Direito de Família: a atribuição da guarda dos filhos, já que a ruptura implica, necessariamente, na saída de um dos cônjuges, do lar conjugal. (LEITE, 2013, pg. 155) Lembrando que guarda não significa somente morar com os filhos, é preciso haver mais que isso, como afeto, sentimentos, comunicação entre ambos, etc. 4.1.2 Guarda Unilateral Tem-se por guarda unilateral, segundo dispõe o § 1º do art. 1.583 do Código Civil, com a redação dada pela Lei nº 11.698/2008, “a atribuída a um só dos genitores ou a alguém que o substitua”. É o que nos mostra Carlos Roberto Gonçalves nos seguintes termos: Essa tem sido a forma mais comum: um dos cônjuges, ou alguém que o substitua, tem a guarda, enquanto o outro tem, a seu favor, a regulamentação de visitas. Tal modalidade apresenta o inconveniente de privar o menor da convivência diária e continua de um dos genitores. Por essa razão, a supramencionada Lei n. 11.698/2008 procura incentivar a guarda compartilhada, que pode ser requerida por qualquer dos genitores, ou por ambos, mediante consenso, bem como pode ser decretada de ofício pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho. (GONÇALVES, 2015, pg. 293) O que ocorre na guarda unilateral é que o detentor guarda fica com a responsabilidade exclusiva de decidir sobre a vida da criança, restando ao outro 21 apenas supervisionar tais atribuições, bem como com o direito à visita. Todavia, há um grande problema nessa espécie de guarda, pois muitas vezes os genitores saem brigados depois do rompimento do relacionamento, assim, o detentor da guarda acaba dificultando a visita ou até mesmo a participação do outro genitor na vida e rotina do filho. Explica Maria Berenice Dias que: A guarda unilateral afasta, sem dúvida, o laço de paternidade da criança com não guardião, pois a este é estipulado o dia de visita, sendo que nem sempre esse dia é bom dia – isso porque é previamente marcado, e o guardião normalmente impõe regras. Maria Antonieta Pisano Motta afirma que a prática tem mostrado, com frequência indesejável, ser a guarda única propiciadora de insatisfações, conflitos e barganhas envolvendo os filhos. Na verdade, apresenta maiores chances de acarretar insatisfações ao genitor não guardião, que tenderá a estar mais queixoso e contrariado quando em contato com os filhos. (DIAS, 2015, pg. 525) Lembrando que, atualmente, se caso não houver consenso dos pais com relação a guarda, a regra será a guarda compartilhada como veremos abaixo. 4.1.3 Guarda Compartilhada Anteriormente, a guarda compartilhadaera uma opção, porém, com o advento da Lei 13.058, a sua forma de instituição foi alterada, ou seja, atualmente ela não é uma opção e sim a regra. Apenas não será aplicada em casos excepcionais, como, por exemplo, na hipótese de um dos genitores revelar ao juiz que não deseja a guarda do menor. Se isso ocorrer, o juiz deve decidir que o outro genitor assuma a guarda unilateral ou deferirá a guarda para pessoa que revele compatibilidade. Com a guarda compartilhada, ambos os genitores possuem responsabilidade, conferindo-lhes, de forma igualitária, o exercício dos direitos e deveres concernentes à autoridade parental. Não mais se limita o não guardião a fiscalizar a manutenção e educação do filho quando na guarda do outro. Ou seja, são obrigações de ambos a criação e a educação; conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casar; conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajar ao exterior; representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 anos, nos 22 atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição; exercer sobre eles a guarda unilateral ou compartilhada, dentre outros. Lembrando que, a guarda compartilhada não pode ser confundida com guarda alternada, em que o filho passa um período com a mãe e o outro com o pai. Na guarda compartilhada o filho terá uma casa principal, na qual vive com um dos genitores, porém ambos os pais irão estabelecer e planejar a convivência e as rotinas, bem como as visitas a qualquer tempo, com isso, o pai e a mãe participam ativamente da vida do filho. Essa espécie de guarda também garante o princípio da igualdade, conforme explica Maria Berenice Diaz: Compartilhar a guarda de um filho se refere muito mais à garantia de que ele terá pais igualmente engajados no atendimento aos deveres inerentes ao poder familiar, bem como aos direitos que tal poder lhes confere. Segundo Maria Antonieta Pisano Motta, a guarda compartilhada deve ser tomada, antes de tudo, como uma postura, como o reflexo de uma mentalidade, segundo a qual pai e mãe são igualmente importantes para os filhos de qualquer idade e, portanto, essas relações devem ser preservadas para a garantia de que o adequado desenvolvimento fisiopsíquico das crianças ou adolescentes envolvidos venha a ocorrer. (DIAS, 2015, pg. 525) O juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnica ou até mesmo de equipe interdisciplinar, parara estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de convivência sob a guarda compartilhada. Preceitua o art. 1.584 do Código Civil: Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: I – Requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou em medida cautelar; II – Decretada pelo juiz, em atenção a necessidades específicas do filho, ou em razão da distribuição de tempo necessário ao convívio deste com o pai e com a mãe. § 1º Na audiência de conciliação, o juiz informará ao pai e à mãe o significado da guarda compartilhada, a sua importância, a similitude de deveres e direitos atribuídos aos genitores e as sanções pelo descumprimento de suas cláusulas. § 2º Quando não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor. § 3º Para estabelecer as atribuições do pai e da mãe e os períodos de 23 convivência sob guarda compartilhada, o juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, poderá basear-se em orientação técnico-profissional ou de equipe interdisciplinar, que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o pai e com a mãe. § 4º A alteração não autorizada ou o descumprimento imotivado de cláusula de guarda unilateral ou compartilhada poderá implicar a redução de prerrogativas atribuídas ao seu detentor. § 5º Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade. § 6º Qualquer estabelecimento público ou privado é obrigado a prestar informações a qualquer dos genitores sobre os filhos destes, sob pena de multa de R$ 200,00 (duzentos reais) a R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia pelo não atendimento da solicitação. Sendo assim, a guarda compartilhada pode ser estabelecida mediante consenso dos pais ou por determinação judicial. Caso não ajustado na ação de separação, divórcio ou dissolução da união estável, pode ser buscada em ação autônoma, ou até mesmo em ação própria. (DIAS, 2015, pg. 526) 24 5. SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL Antigamente, não ouvíamos falar muito ou quase nada sobre a alienação parental, porém, atualmente, é cada vez mais frequente ouvirmos pessoas, ou até mesmo lermos matéria que falem sobre esse assunto, isso ocorre porque o índice de divórcio e dissolução de união estável cresceu muito. O número de divórcios no país cresceu mais de 160% na última década. Dados da pesquisa Estatísticas do Registro Civil 2014, divulgados pelo IBGE, indicam que, no ano de 2014, foram homologados 341,1 mil divórcios, um salto significativo em relação a 2004, quando foram registrados 130,5 mil divórcios. (disponível em <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2015-11/divorcio-cresce-mais-de-160- em-uma-decada-, acesso em 23 ago. 2016) A síndrome da alienação parental se desencadeia nos movimentos de separação ou divórcio do casal, ou seja, com o crescimento do número de divórcios, consequentemente também cresceu o número de incidências da citada síndrome. A SAP – Síndrome da Alienação Parental – foi apresentada em 1985, pelo médico e professor de psiquiatria infantil da Universidade de Colúmbia dos Estados Unidos Richard Gardner (1931 – 2003). A sigla SAP foi empregada por Gardner para definir situações patológicas de frequência crescente encontráveis em crianças expostas as disputas judiciais de divórcios altamente conflituais. Gardner constatou que a SAP é um distúrbio da infância da infância e adolescente que aparece quase exclusivamente no contexto de disputas de custódia de crianças. É um distúrbio em que as crianças programadas pelo alegado genitor amado embarcam em uma campanha de difamação contra o alegado genitor odiado. Conforme a doutrinadora Maria Berenice Dias, a Síndrome da Alienação Parental é: [...] é um transtorno psicológico que se caracteriza por um conjunto de sintomas pelos quais um genitor, denominado cônjuge alienador, transforma a consciência de seus filhos, mediante diferentes formas e vínculos com o outro genitor, denominado cônjuge alienado, sem que existam motivos reais que justifiquem essa condição. Em outras palavras, a alienação parental é um processo que consiste em programar uma criança para odiar um de seus genitores, sem justificativa, de modo que a própria criança ingressa na trajetória de desconstituição desse mesmo genitor. (DIAS, 2013, pg. 22) 25 Juliana Rodrigues de Souza ainda explica: Nesse jogo de manipulações, para conseguir êxito nos seus objetivos, o guardião dificulta as visitas e cria empecilhos para que elas não ocorram, além disso, o filho é convencido daexistência de acontecimentos que não existem. Contudo. A criança nem sempre consegue discernir que está sendo manipulada e acredita aquilo que lhe é dito de maneira insistente e repetida, quer dizer, a criança acaba aceitando como verdadeiro tudo que é lhe informado. (SOUZA, 2014, pg. 110) Com relação a essas falsas informações que o alienante fala para o filho, o professor Eduardo de Oliveira Leite complementa: Se a criança for questionada porque está fazendo aquelas afirmações ou alegações, não saberá responder e cairá em manifesta contradicação (em razão da ausência de argumentação suficiente a justificar sua repulsa) sem se dar conta do absurdo da afirmação. Em verdade, a criança é programada para odiar o outro genitor e, utilizada como instrumento de agressividade direcionada ao outro parceiro, acaba reproduzindo os sentimentos da mãe, em relação ao pai, convicta que a sua conduta é correta. (LEITE, 2015, pg. 167) Logo, tem que síndrome da alienação é um conjunto de sintomas de uma doença de perturbação mental. 5.1 DIFERENÇA ENTRE A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL E ALIENAÇÃO PARENTAL Síndrome, do grego "syndromé", cujo significado é "reunião", é um termo bastante utilizado em Medicina e Psicologia para caracterizar o conjunto de sinais e sintomas que definem uma determinada patologia ou condição em consequência da extrema reação emocional ao genitor, cujos os filhos foram vítimas. Já a alienação são os atos que desencadeiam verdadeira campanha de desmoralização levada a efeito pelo alienante. (DIAS, 2013, pg. 16) Em outras palavras, a Alienação Parental não se confunde com a Síndrome da Alienação Parental, pois a SAP decorre da Alienação, ou seja, enquanto a Alienação Parental se liga ao afastamento do filho de um dos genitores através de manobras do titular da guarda, a Síndrome diz respeito às questões emocionais, aos danos e sequelas que a criança e o adolescente vêm a padecer. Juliana Rodrigues de Souza complementa: No entanto, é necessário dizer, ainda, que a expressão Síndrome da 26 Alienação Parental é duramente criticada por não estar prevista nem no CID – 10, nem no DSM IV, ou seja, não é reconhecida como uma categoria diagnosticada e também não é considerada uma síndrome médica válida. Síndrome significa um distúrbio, sintoma que se instalam em consequência da extrema reação emocional ao genitor, cujos filhos foram vítimas. Já a Alienação são os atos que desencadeiam verdadeira campanha de desmoralização levada a efeito pelo alienante. (SOUZA, 2014, pg. 113) A Síndrome de Alienação Parental (SAP) também é conhecida com Implantação de Falsas Memórias, sendo que a criança ou adolescente passa a acreditar em tudo que o alienador lhe diz, e passa a repetir o que foi lhe passado, pois acaba acreditando que tudo o que o alienador lhe falou é verdade e que tais coisas realmente ocorreram. Neste sentido Maria Berenice Dias complementa: O filho é convencido da existência do acontecimento e levado a repetir o que lhe é afirmado como tendo realmente ocorrido. A criança nem sempre consegue discernir que está sendo manipulada e acredita naquilo que lhe é dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência. Implantam-se, assim, falsas memórias. (DIAS, 2013, pg. 22). Devida a essas falsas memórias, a criança ou adolescente acaba se afastando do outro genitor, muitas vezes a criança não é somente afastada do genitor, mas também de outras pessoas mais próximas, pois pode ocorrer de a farsa ser desmentida se o filho conviver com essas pessoas. Ou seja, a finalidade é uma só como explica Maria Berenice Dias: Mas a finalidade é uma só: levar o filho a afastar-se de quem o ama. Tal gera contradição de sentimentos e, muitas vezes, a destruição do vínculo afetivo. A criança acaba aceitando como verdadeiro tudo que lhe é informado. Identificando-se com o genitor patológico e torna-se órfã do genitor alienado, que passa a ser considerado um invasor, um intruso a ser afastado a qualquer preço. O alienador, ao destruir a relação do filho com o outro, assume o controle total. Tornam-se os dois unos, inseparáveis. Este conjunto de manobras confere prazer ao alienador em sua trajetória de promover a destruição do antigo parceiro. (DIAS, 2013, pg. 160) Infelizmente, tendo em vista um divórcio ou uma separação conturbada, há uma tendência de gerar em um dos genitores uma tendência vingativa. Quando este não consegue superar o término do relacionamento, é desencadeado um processo de destruição e desmoralização do ex-cônjuge. Isso faz com que o filho seja utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro. 27 5.2 PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DA SAP Conforme apontamento de Eduardo de Oliveira Leite, Gardner elenca oito manifestações primárias da SAP: 1. Campanha de difamação; 2. Razões fracas, frívolas ou absurdas para a depreciação; 3. Falta de ambivalência; 4. O fenômeno do “pensador independente”; 5. Apoio reflexivo ao genitor alienador no conflito parental; 6. Ausência de culpa sobre a difamação e/ou exploração do genitor odiado; 7. Presença de encenações “encomendadas”; 8. Propagação de animosidade aos amigos e/ou família extensa do genitor odiado. (LEITE, 2015, pg. 164) 5.2.1 Campanha de difamação. Na Síndrome da Alienação Parental é de suma importância a contribuição da criança em difamar. Ou seja, é essa contribuição da criança ou adolescente em desrespeitar e difamar o outro genitor, com o incentivo do genitor alienador que vai caracterizar a SAP. Vale salientar que na maioria das vezes a Síndrome da Alienação Parental ocorre em crianças com baixa faixa etária, tendo em vista a facilidade de manipulação sobre elas. (LEITE, 2015, pg. 165) A criança depende integralmente do genitor para obter informações e conhecimentos, sendo assim, devida a sua vulnerabilidade, ela vai acreditar naquilo que o seu genitor guardião disser. 5.2.2 Razões fracas, frívolas ou absurdas para a depreciação. Se for verificada os depoimentos de crianças alienadas, é possível ser observado a desproporção entre o ódio manifestado e o motivo desse ódio, ou seja, o ódio manifestado não se equivale aos fatos alegados (LEITE, 2015. pg. 167) Segundo Eduardo de Oliveira Leite: Se a criança for questionada porque está fazendo aquelas afirmações ou alegações, não saberá responder e cairá em manifesta contradição (em razão da ausência de argumentação suficiente a justificar sua repulsa) sem 28 se dar conta do absurdo da afirmação. Em verdade, a criança é programada para odiar o outro genitor e, utilizada como instrumento da agressividade direcionada ao outro parceiro, acaba reproduzindo os sentimentos da mãe, em relação ao pai, convicta que a sua conduta é correta. (LEITE, 2015, pg. 167) O alienador programa a criança para dizer tais coisas, quando a criança é questionada sobre um fato fora daquilo que o alienador a programou, a mesma vai ficar sem responde, sendo que muitas vezes a criança olha para o seu genitor alienador para tentar “ajudá-la” a resolver tal questão, ou seja, a criança acaba entrando em contradição. Uma criança com faixa etária baixa não possui discernimento suficiente nem um estado crítico desenvolvido para saber se o que o genitor está falando é mentira, por isso acredita cegamente no que lhe é transmitido, ou seja, é extremamente manipulável. Gardner observou que as crianças alienadas apresentam no cotidiano um comportamento normal, e não manifestam sinaisde angústia, tristeza ou depressão, o que era para ocorrer, tendo em vista que seus pais se divorciaram. (LEITE, 2015, pg. 170) Com isso, Gardner chamou esse acontecimento de “mimetismo defensivo”, isto é, a criança muda a sua postura para ficar de alguma forma parecida com o genitor alienador em tirar alguma vantagem disso. Ou seja, para a criança, o alienador é a vítima da situação, sendo assim, ela precisa estar forte para enfrentar o “culpado” de todo esse sofrimento que o seu guardião está sofrendo. (LEITE, 2015, pg. 170) Na maioria das vezes, em dias de visitação, quando a criança fica com o outro genitor, a mesma se torna mais agressiva e desobediente, podendo até mesmo gritar e jogar objetos. 5.2.3 Falta de ambivalência. A criança alienada não consegue descrever coisas boas e coisas ruins sobre os pais. Geralmente o genitor alienador é de todo bom e o genitor alienado é de todo ruim. Isso ocorre porque o alienador acaba banindo do pensamento da criança o passado bom, onde ela e seus pais viviam felizes, restando agora somente o presente, 29 onde o genitor alienador é odiado, pois só teria feito coisas ruins. O doutrinador e professor Eduardo de Oliveira Leite, nos ensina que: Na SAP, como Gardner apontou, a falta de ambivalência vai conduzir a criança alienada a nutrir pelo genitor alienado um sentimento sempre negativo: de desprezo, de rancor, de mágoa e, nos casos extremos, de ódio. (LEITE, 2015, pg. 173) O genitor alienado é sempre visto de forma negativa, ficando impossível de ele ter uma postura positiva, conforme o pensamento da criança. (LEITE, 2015, pg. 173) Isso ocorre porque o genitor alienado procura alterar a realidade fática, fazendo com que a criança só se lembre das coisas ruins que o outro genitor fez, até mesmo inventando algumas situações que não ocorreram na realidade. 5.2.4 O fenômeno do “pensador independente”. Quando a criança é convencida que o outro genitor é ruim e que não precisa dele, a mesma começa a dizer que ninguém a influenciou a ter desprezo em relação ao genitor alienado. Isso ocorre porque o alienador convence a criança de aquela opinião de fato é dela e que não houve nenhuma influência. (LEITE, 2015, pg. 176) A recusa do filho em manter contato com o genitor alienado é o resultado da campanha difamatória que o alienador implantou durante tanto tempo na cabeça da criança. Ou seja, aquilo que a criança diz é reflexo da opinião e vontade do genitor alienador. O doutrinador Eduardo de Oliveira Leite explica: O fenômeno do “pensador independente”, diz Perissini da Silva acontece “quando a criança garante que ninguém disse aquilo a ela, nega que alguém a tenha induzido a falar daquele modo, afirma que seus sentimentos e verbalizações são autênticos. Quando a própria criança contribui com seu relato, a SAP, fecha o seu circuito. (LEITE, 2015, pg. 177) Assim, é possível afirmar que as crianças não conseguem mais decifrar suas vontades ou até mesmo confiar em suas percepções. Elas não conseguem detectar se as mensagens que chegam a elas tanto pelo genitor alienador, quanto pelo alienado possuem duplo sentido, por isso acabam confiando em seu guardião, ou seja, no genitor alienador. 30 5.2.5 Apoio reflexivo ao genitor alienador no conflito parental. Por causa de sua vulnerabilidade, a criança alienada precisa do apoio de alguém, e esse apoio sempre virá do genitor alienador, pois, no pensamento da criança, esse genitor é uma pessoa ideal, que só faz coisas boas e que poderá cuidá- la da melhor forma possível. Por isso a criança sempre vai defender o alienador, pois ela vai se agarrar nele, e o que o mesmo falar será sempre verdade. (LEITE, 2015, pg. 181) 5.2.6 Ausência de culpa sobre a difamação e/ou exploração do genitor odiado. A criança alienada não sente nenhuma culpa por difamar o outro genitor, muitas vezes pode sentir até prazer em destruir o genitor alienado. (LEITE, 2015, pg. 183) Isso nos leva a concluir que as crianças são tão vulneráveis que podem ser programadas a um ponto de crueldade, ficando totalmente alheias aos efeitos da satisfação e ver o sofrimento alheio. 5.2.7 Presença de “encenações” encomendadas. Para fazer com que a criança acredite naquilo que o alienador está falando, o mesmo começa a fazer “encenações”, “teatro”, e repete várias vezes aquilo que quer que a criança acredite. Podemos verificar rapidamente quando houve alguma “encenação”, pois, a criança começa a usar expressões que sozinha, sem a ajuda de alguém, não iria conseguir mencioná-las, tendo em vista sua falta de estado crítico apurado, bem como a falta de conhecimento elevado. (LEITE, 2015, pg. 187) 5.2.8 Propagação da animosidade aos amigos e/ou à família extensa do genitor odiado. Para o alienador, não basta que o filho se afaste somente o genitor alienado, a criança precisa se afastar dos parentes e amigos do mesmo, pois assim, há uma 31 dificuldade maior que essas pessoas descubram o que de fato está ocorrendo. (LEITE, 2015, pg. 191) Com isso, o alienador afasta a criança das pessoas alegando o abalo emocional devido a dissolução do relacionamento conjugal, camuflando, assim, a criança. 5.3 ESTÁGIOS DA SÍNDROME A Síndrome de Alienação Parental possui três estágios, são eles: o estágio leve, o médio e o grave. No estágio leve, a criança convive com o genitor alienado sem grandes dificuldades. São apenas alterações naturais que ocorrem após o divórcio. No estágio médio, está a constante provocação do genitor alienante, que se utiliza de falsas histórias e sua repetição, bem como da depreciação que faz face o genitor alienado, induzem a criança a nutrir por este sentimento de rancor, ódio e medo. Já no estágio grave, a criança e/ou adolescente sofre de fortes perturbações mentais e crises de alucinação, tanto que não mais necessita da figura do genitor alienante para induzi-la ao ódio e ao medo pelo genitor alienado, uma vez que esta já está totalmente corrompida e nutrida por sentimentos negativos face ao genitor oposto da relação de parental, de forma que a visitação nesta fase se torna impossível e/ou insuportável, devido à agressividade da criança. Nas duas primeiras fases ainda é possível à aproximação do guardião alienado, mas na última fase é praticamente impossível devido à lealdade do filho com o alienador. Conforme o professor Eduardo de Oliveira Leite relata, para as três fases de desenvolvimento da SAP, Gardner sugere dois tipos de abordagens, legais e terapêuticas, tendo em vista que é de suma importância a colaboração dos profissionais da saúde, legais e mentais para lidarem adequadamente com as famílias portadoras da síndrome da alienação parental. (LEITE, 2015, pg. 196) 5.4 LEI 12.318/2010 32 O Brasil, quando aprovou a lei 12.318/10, que trata da Síndrome da Alienação Parental, tornou-se pioneiro na América Latina, antecipando-se a muitos países. A origem da lei da alienação parental tem como autor da proposta inicial o Doutor Elizio Luiz Perez, Juiz do 2° TRT de São Paulo. Após consultar alguns profissionais como psiquiatras, advogados da área de família além de pessoas que vivenciam a alienação, o mesmo tornou o Projeto de lei N° 4.053/08, que teve como autor o Deputado Regis de Oliveira (PSC-SP). Aprovado por unanimidade na Câmara de Deputados Federal, no Senado tornou-se Projeto de Lei Complementar N° 20/2010, tendo como relator o Senador gaúcho Paulo Paim (PT-RS), também sendo aprovado na íntegra na casa, encaminhado para a sanção do Presidente da República. O Presidente Luiz Inácio Lulada Silva sancionou a lei no dia 26 de agosto de 2010. Conforme Maria Berenice Dias: De início, a lei pretendeu definir juridicamente a alienação parental, não apenas para afastar a interpretação de que tal, em abstrato, não existe, sob o aspecto jurídico, mas também para induzir exame aprofundado em hipóteses dessa natureza e permitir maior grau de segurança aos operadores do Direito na eventual caracterização de tal fenômeno. É relevante que o ordenamento jurídico incorpore a expressão alienação parental, reconheça e iniba claramente tal modalidade de abuso, que, em determinados casos, corresponde ao próprio núcleo do litígio entre ex-casal. O texto da lei, nesse ponto, inspira-se em elementos dados pela psicologia, mas cria instrumento com disciplina própria, destinado a viabilizar atuação ágil e segura do Estado em casos de abuso assim definidos. (DIAS, 2013, pg. 44) Dispõe o art. 2º da Lei 12.318/10 que: Art. 2o Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este. Parágrafo único. São formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros: I - realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II - dificultar o exercício da autoridade parental; III - dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV - dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V - omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; 33 VI - apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII - mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós. Como podemos observar com o artigo, a Alienação Parental não se restringe apenas aos genitores, podendo ser realizada pelos tios, avós, padrinhos, tutores, enfim, todos os que possam valer de sua autoridade parental ou afetiva com o intuito de prejudicar um dos genitores. Isso ocorre para impedir que intermediação de terceiros possa mascarar a constatação de atos de alienação parental. Ou seja, o rol apresentado pelo art. 2º é exemplificativo e não taxativo. Lembrando que, a prática do ato, por si só, é um ato ilícito civil, independente se esse ato teve ou não seus efeitos. Conforme o art. 3º da Lei, “a prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda”. A doutrinadora Maria Berenice Dias acredita que: Tal indicação permite ao aplicador da lei inferir claramente, entre outras consequências jurídicas, (a) violação a direito previsto no art. 227 da Constituição Federal (convivência familiar saudável), (b) critério para atribuição de guarda unilateral quando inviável a guarda compartilhada (prejuízo à realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar) e (c) infração administrativa (descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda). (DIAS, 2013, pg. 51) O professor Eduardo de Oliveira Leite complementa: O dispositivo legal resgata, primacialmente, o princípio constitucional do direito à convivência familiar, estampado no art. 227 da CF que já constava – ainda que indiretamente – Código Civil (art. 1.634, II) e foi reafirmado no art. 19 da Lei 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) e, igualmente, o princípio do melhor interesse do menor. (LEITE, 2015, pg. 306) Assim, devida a vulnerabilidade da criança e do adolescente, sempre prevalecerá a proteção integral dos mesmos. Dispõe o art. 4º da mencionada Lei: 34 Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso. Parágrafo único. Assegurar-se-á à criança ou adolescente e ao genitor garantia mínima de visitação assistida, ressalvados os casos em que há iminente risco de prejuízo à integridade física ou psicológica da criança ou do adolescente, atestado por profissional eventualmente designado pelo juiz para acompanhamento das visitas. O texto da lei estabelece a necessidade de o juiz adotar medidas cautelares para proteger a criança e o adolescente em casos de indício de ato de alienação parental. Em questão de obter mais agilidade processual, a lei permite que a alienação parental seja reconhecida em ação autônoma ou incidental, independentemente de requerimento específico. O professor Eduardo de Oliveira Leite nos lembra que: Ressalta-se, em caráter preliminar, que o caput do artigo sob comento se desdobra em quatro itens distintos a saber: 1. Indício de ato de alienação parental; 2. Tramitação prioritária (em ação autônoma ou incidental); 3. Medidas provisórias necessárias; 4. Assegurar a convivência com o genitor alienado. (LEITE, 2015, pg. 328) Sendo assim, a ocorrência da alienação parental será analisada no decorrer do processo, mas não pode acontecer que tal alienação se agrave devido a demora do processo, ficando permitido ao juiz adotar as medidas cautelares cabíveis para garantir a proteção da criança e adolescente. No art. 5º o legislador reconhece a validade da perícia como elemento auxiliar decisivo na atuação judiciária, para determinação da prática de atos de alienação parental, isso porque é preciso de muito mais do que um conhecimento jurídico para reconhecer se houve ou não o ato de alienação, é preciso a avaliação de outros profissionais, como por exemplo de um psicólogo, para periciar de forma mais eficaz esse ato, tendo em vista que esse tipo de identificação não é uma tarefa fácil. É importante salientar que são várias as sanções possíveis de serem aplicadas ao genitor alienante em um processo judicial, estando listadas no art. 6º da lei, in verbis: 35 Art. 6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI -determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar. O rol de sanções é exemplificativo e não taxativo, ficando permitido ao juiz a aplicação de outras medidas para tentar diminuir ou acabar com a alienação parental. O artigo em comento permite a efetiva atuação do juiz, viabilizando, assim, a rápida intervenção judicial. Atualmente, a guarda compartilhada é tida como regra quando os genitores, na ruptura do relacionamento, não entram em um acordo com relação a guarda do filho, porém, o art. 7º prevê a atribuição ou alteração da guarda compartilhada, se a mesma demonstrar inviável. E o art. 8º fala que a alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para a determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial. O doutrinador e professor Eduardo de Oliveira Leite salienta que: A leitura superficial do artigo sob comento parece contrariar toda a estrutura processual, [...], entretanto, uma leitura mais atenta, revela que a “alteração de domicílio” a que se refere o legislador é aquela decorrente da prática da alienação parental, quando já proposta a ação. Ou seja, o que está visando o dispositivo é a irrelevância da alteração do domicílio da criança, com o objetivo de se furtar às ordens emanadas pelo Poder Judiciário. (LEITE, 2015, pg. 429) Podemos observar isso no acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, vejamos: AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 1005645-0, DE PONTA GROSSA - 1ª 36 VARA DE FAMÍLIA E ANEXOS.AGRAVANTE: R.G.R.AGRAVADO : V.G.P.RELATOR: JUIZ SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU MARCEL GUIMARÃES ROTOLI DE MACEDO, EM SUBSTITUIÇÃO À DESª. ROSANA AMARA GIRARDI FACHIN.AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE GUARDA COM LIMINAR DE BUSCA E APREENSÃO DE MENOR COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA - PEDIDO DE FIXAÇÃO CAUTELAR DO DOMICÍLIO DA CRIANÇA - ALIENAÇÃO PARENTAL DEMONSTRADA - DEVER DE ADOÇÃO DE MEDIDAS PROTETIVAS - PARCIAL PROVIMENTO.1. Para a concessão da tutela antecipatória é necessária a existência de prova inequívoca que convença da verossimilhança das alegações e da probabilidade de dano irreparável ou de difícil reparação (artigo 273, do Código de Processo Civil). PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Autos n.º 1005645-02 2. Conforme determina o artigo 4º da nº 12.318/2010, declarado o indício de alienação parental, deve o Magistrado determinar a adoção de medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor.RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO (TJPR - 12ª C.Cível - AI - 1005645-0 - Ponta Grossa - Rel.: Marcel Guimarães Rotoli de Macedo - Unânime - - J. 06.08.2014) Ou seja, permite-se que o juiz determine a fixação de cautelar do domicílio da criança ou adolescente, tendo caracterizada a alienação parental, conforme o incido VI do art. 6º da Lei. 5.5 IDENTIFICAÇÃO DO GENITOR ALIENADOR Para o genitor alienador, é de suma importância o controle de seus filhos. O alienador possui o costume de não respeita regras e não tem o costume de obedecer as sentenças dos tribunais, pois ele acha que tais regras não podem ser para ele, mas só para outras pessoas. Às vezes, o alienador é um sociopata e sem consciência moral. Ele geralmente vê as coisas em seu ângulo, jamais nos dos outros, bem como já não consegue distinguir o que é verdade ou mentira. O genitor alienador busca loucamente controlar o tempo dos filhos quando estão com o outro genitor. O genitor alienador é muito convincente nas suas mentiras e nas suas descrições. Ele consegue, muitas vezes, fazer as pessoas envolvidas acreditarem nele (funcionários policiais, assistentes sociais, advogados, e mesmo psicólogos). O alienador consegue fingir estar fazendo de tudo para que os dias de visitas concordados sejam realizados de forma correta, o que na maioria das vezes não ocorre. 37 Para que ele não seja descoberto, o alienador não coopera quase em nada quando está sendo analisado por um profissional independente. O alienador fala se baseando em mentiras e teatros, por isso, durante uma avaliação, ele pode cometer falhas em seu raciocínio. Mesmo quando a presença da insensatez é detectada, a vítima do sistema se limita ao genitor alienado. Durante os litígios, a insensatez se estende àqueles que defendem o genitor alienado (pais, advogados). Segundo a doutrinadora Maria Berenice Dias, ao citar o psicólogo Douglas Darnall, há uma classificação de três tipos para identificar o alienador, a saber, o ingênuo, o ativo e o obcecado. Vejamos: Conforme Darnall (2008), é considerado como alienador ingênuo o genitor que reconhece o valor da relação do filho com o outro genitor, mas, eventualmente, fala ou age de forma a denegrir a imagem daquele. Estas ações não seriam conscientes e, muitas vezes, exercidas de forma passiva, provocando o afastamento da criança com o genitor alienado. Na classificação de alienador ativo, encontramos aqueles pais que perdem o controle de seu comportamento, pelos sentimentos de raiva e prejuízo decorrentes da separação, agindo de forma mais ativa e incisiva para a ruptura do vínculo entre a criança e o genitor alienado. Porém, quando repensa sobre o seu comportamento, é capaz de arrepender-se e sentir culpa pelo que fez. Por último, o alienador obcecado está determinado a destruir o ex-cônjuge e qualquer vínculo deste com a criança. Não há qualquer autocontrole e, muito menos, insight, para reconhecer que seu comportamento está prejudicando a criança. Suas crenças são irracionais e ficam justificadas pela busca do bem-estar e a segurança da criança. De maneira geral, estes alienadores costumam buscar suporte em todos os serviços de atendimento social e jurídico, abandonando os locais sempre que seu comportamento seja questionado. (DIAS, 2013, pg. 90) Também não há nenhum fundamento científico que comprove que os atos de alienação estão associados a um problema de psicológico. 5.6 COMPORTAMENTO DO GENITOR ALIENADOR Se observa frequentemente os mesmos comportamentos no genitor alienador que sabota a relação entre os filhos e o outro genitor. Conforme o site Alienação Parental, os principais comportamentos do genitor alienador são: 1. Não comunica ao outro genitor fatos importantes relacionados à vida dos filhos; 38 2. Toma decisões importantes sobre a vida dos filhos, sem prévia consulta ao outro cônjuge; 3. Transmite seu desagrado diante da manifestação de contentamento externada pela criança em estar com o outro genitor; 4. Controla excessivamente os horários de visita; 5. Organiza diversas atividades para o dia de visitas, de modo a torná-las desinteressantes ou mesmo inibi-las; 6. Não permite que a criança esteja com o genitor alienado em ocasiões outras que não aquelas prévia e expressamente estipuladas; 7. Ataca a relação entre filho e o outro genitor; 8. Recorda à criança, com insistência, motivos ou fatos ocorridos que levem ao estranhamento com o outro genitor; 9. Obriga a criança a optar entre a mãe ou o pai, fazendo-a tomar partido no conflito; 10. Transforma a criança em espiã da vida do ex-cônjuge; Quebra, esconde ou cuida mal dos presentes que o genitor alienado dá ao filho; 11. Sugere
Compartilhar