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[Boletim Behaviorista] As cartas Ulman Skinner sobre o futuro da análise do comportamento    Boletim Behaviorista

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Boletim Behaviorista
As cartas Ulman-Skinner sobre o futuro da análise
do comportamento 
NOVEMBER 13, 2014NOVEMBER 15, 2014 / REVISTADASREVISTAS
(https://boletimbehaviorista.files.wordpress.com/2014/11/cartas.jpg)
“I don’t like the word behaviorology.” (B. F. Skinner) 
“If I may suggest a remedy: in the privacy of your bath, try saying behaviorology aloud at least 50 times.”
(Jerome “Jerry” Ulman)
Que tipo de ciência é a análise do comportamento? Ora descrita como parte da biologia, ora como
parte da psicologia, ainda hoje permanece controversa sua posição no cenário científico. B. F. Skinner,
talvez o principal epígono (se não prógono) dessa ciência no século XX sustentou diferentes posições
sobre o assunto. Em algumas ocasiões, defendeu uma espécie de “reforma” da psicologia,
reivindicando que no lugar da mente ou cérebro, o comportamento fosse estabelecido como objeto de
estudo. Exemplo desses esforços são os textos “Can the experimental analysis of behavior rescue
psychology? (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2742069/)” (Skinner, 1983) e
“Whatever happened to psychology as the science of behavior? (http://www.isac.psc.br/wp-
content/uploads/skinner/Skinner_(1987)_Whatever_happened_to_psychology_as_the_Science_of_behavior.pdf)”
(Skinner, 1987)
Posteriormente, Skinner (1990, p. 12010 (http://www.isac.psc.br/wp-
content/uploads/skinner/Skinner_(1990)_Can_Psychology_Be_a_Science_of_Mind.pdf)) demonstrou
certo desencanto diante dessa possibilidade, e encerrou seu último texto publicado em vida com a
asserção: “se a análise do comportamento será chamada de psicologia, essa é uma questão para o
futuro decidir”. Mas foi uma publicação póstuma que revelou uma mudança mais contundente de
Skinner em relação à psicologia. Em “A world of our own” (Skinner, 1993/2014, p. 24), ele declarou:
“Temos sido acusados de construir nosso próprio gueto, de recusar contato com outros tipos de
psicologia. Em vez de sair do gueto, eu penso que deveríamos fortalecer os seus muros.”
O texto foi originalmente publicado num periódico chamado Behaviorology, e republicado pelo
European Journal of Behavior Analysis em 2014. Essa edição do journal traz ainda a republicação de um
dossiê (seguido de análises por uma série de comentadores) que revela um pouco sobre o contexto
prévio à publicação de “A world of our own”: trata-se da correspondência trocada entre Jerome
“Jerry” Ulman e B. F. Skinner, entre os anos 1986 e 1990.
Como Skinner, Ulman também mudou de opinião sobre o assunto ao longo do tempo. Na primeira
carta endereçada a Skinner, datada de 20 de Junho de 1986, ele escreveu: “Eu cheguei à conclusão que
você está inteiramente correto. Nós devemos continuar a luta pelo estabelecimento de uma psicologia
científica. Por que abandonar o campo de batalha e deixar mentalistas e cognitivistas reivindicarem o
título de psicólogos?” (Ulman, 1986/2014, p. 11). Dois anos depois, contudo, Ulman (1988/2014, p. 12)
O que rola nas revistas de análise do comportamento
reconsiderou, e escreveu ao amigo: “…eu não mais compartilho daquela posição. Tornou-se cada vez
mais evidente para mim que tentar reformar a psicologia é não somente uma grande perda de tempo e
esforço, mas nos desvia da linha principal, de estabelecer uma ciência natural do comportamento.”
O descontentamento de Ulman ia além da psicologia: ele também se mostrava insatisfeito com a
organização institucional da análise do comportamento. Em suas palavras: “Quando a ABA foi
formada eu tinha esperança de que a nossa disciplina finalmente tivesse uma comunidade de apoio
para o seu crescimento futuro. Mas ao longo dos anos, o que tenho observado naquela organização é
uma crescente ‘deriva tecno-cognitiva’ longe da ciência básica do comportamento e do
comportamentalismo radical, sua filosofia orientadora. Parece que cada vez mais estudantes de
programas de análise de comportamento estão sendo ensinados como aplicar um determinado
conjunto de estratégias de intervenção com diferentes tipos de comportamentos em várias
configurações, enquanto a formação na ciência básica está sendo negligenciada.” (Ulman, 1988/2014,
p. 12). É por conta dessa insatisfação que Ulman finaliza a carta comunicando a Skinner sua filiação a
uma nova associação, a TIBA – The International Behaviorology Association.
Fato curioso que merece ser mencionado é a simpatia de Ulman pela filosofia marxista
(http://journals.uic.edu/ojs/index.php/bsi/article/view/189). Convencido de que o
comportamentalismo radical subscreveria um “monismo materialista”, e crítico da tendência da
psicologia em buscar explicações em “outros mundos” (como o mundo da “psique”), ele considera
que a negligência ao modelo selecionista se deveria à resistência à demanda por modificar o ambiente:
“Sem pressupor uma teoria da conspiração, essas orientações [psicológicas] do ‘outro mundo’ servem
para sustentar o status quo … Eu acho que é útil para nós considerar a afirmação de Marx de que em
qualquer sociedade as ideias dominantes são aquelas da classe dominante.” (Ulman, 1988/2014, p. 13)
O comportamentalismo radical, na visão de Ulman, seria uma filosofia inerentemente subversiva,
desafiadora das ideologias então vigentes.
Em resposta a essa carta, Skinner (1988/2014, p. 14) foi enfático: “Eu não gosto do termo
‘behaviorology’ … Eu prefiro permanecer um psicólogo desde que isso possa ser definido como
Watson o fez em 1913.” Skinner escreveu ainda que o que era preciso era não tanto uma nova
organização, mas um trabalho experimental mais ativo sobre campos ainda inexplorados, bem como
discussão sobre as implicações da análise do comportamento para outras áreas. “Esse é o tipo de coisa
que eu estou tentando fazer por mim mesmo nos dias de hoje. Receio que isso não é o que você queria
ouvir, mas parece-me ser tudo o que eu devo tentar fazer pelo o resto da minha vida”: assim Skinner
(1988/2014, p. 15) encerrou a resposta a Ulman.
Conquanto desapontado com a posição de Skinner, ousando alertá-lo que seus esforços em reformar a
psicologia se traduziriam num trabalho de Sísifo, Ulman reponde reiterando a disposição dos
“behaviorologistas” em lutar pelo reconhecimento de uma ciência natural do comportamento, e chega
a comparar o papel da TIBA com aquele desempenhado por Thomas Huxley, o “bulldog de Darwin”,
famoso por ser um dos principais defensores e disseminadores de suas ideias.
Em resposta, Skinner (1988/2014, pp. 15-16) agradece pelo “entusiasmo e lealdade” dos
behaviorologistas, mas insiste que as preocupações capitais deveriam ser outras: “O que mais me
preocupa não é a necessidade de ter uma outra organização, mas fazer com que as pessoas
competentes ataquem o que está sendo feito em nome da psicologia. E os analistas do comportamento
estão fazendo um monte de coisa errada eles mesmos. É difícil encontrar um artigo que não reporte
algo acontecendo dentro da cabeça.” Além disso, ele chama atenção para a apatia da comunidade de
analistas do comportamento, pouco disposta a responder a críticas ou popularizar seus achados: “Eu
escrevi três artigos atacando a psicologia cognitiva, mas quem mais o fez? E quem tem falado para o
público leigo?”
Mesmo concordando com as preocupações de Skinner (mais especificamente, com suas críticas à
comunidade de analistas do comportamento), Ulman seguiu inconformado com sua posição em
relação à psicologia, e estrila na penúltima carta: a manutenção de uma aliança com a psicologia
serviria apenas para invalidar os esforços pelo estabelecimento da “behaviorologia”. Mas,
surpreendentemente, o tom da próxima e última carta (na verdade, trata-se de uma breve nota) é
bastante diferente: “Querido Fred, parabéns pela sua declaração de independência!” (Ulman,
1990/2014, p. 18). Era uma reposta a um pronunciamento de Skinner (que os amigos gentilmente
chamavam de Fred) na 15ª. reunião da ABA em Milwaukee, posteriormente publicado em “A world of
our own”: “Por muitotempo tentei seguir Watson em dizer que a psicologia era a ciência do
comportamento. Eu agora estou convencido de que isso está errado.” (Skinner, 1993/2014, p. 21)
Passadas mais de duas décadas de todas essas declarações, provenientes de dois eminentes analistas
do comportamento (sendo patente a influência de B. F. Skinner sobre a comunidade analítico-
comportamental ainda hoje), convém questionar: poderiam elas ajudar a explicar o cenário
contemporâneo da análise do comportamento no geral, e, em particular, das relações entre a análise do
comportamento e a psicologia? Sejam quais forem as lições a tirar das cartas Ulman-Skinner, antes de
reiterar ou abandonar suas ideias, convém notar como tais ideias sofreram mudanças profundas com
o passar do tempo.
Um dos maiores méritos da republicação dessa correspondência, me parece, é que ela dá relevo a
algumas circunstâncias que fizeram com que os autores se posicionassem do modo como se
posicionaram inicialmente, às mudanças que operaram em seus discursos, e a potenciais variáveis que
influenciaram tais mudanças. Isso ajuda a prevenir que transformemos numa doutrina aquilo que
restou do comportamento verbal desses autores, ao mesmo tempo em que talvez nos ajude a refletir
sobre a questão, ainda candente, da relação entre análise do comportamento e psicologia. Estamos em
2014: se, como Skinner alertou no passado, “essa é uma questão para o futuro decidir”, estejamos
preparados!
Quer saber mais?
Ulman, J. D. (2014). The Ulman-Skinner Letters. European Journal of Behavior Analysis, 15 (1), 11-19.
Publicadas originalmente pela Behaviorology, as cartas também podem ser acessadas aqui
(https://www.google.com.br/url?
sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&uact=8&ved=0CCoQFjAC&url=http%3A%2F%2Fwww.researchgate.net%2Fprofile%2FJerome_Ulman%2Fpublication%2F235642193_The_UlmanSkinner_Letters%2Flinks%2F09e4151238debea92a000000&ei=N0pkVI2xMIKcNprHgLAN&usg=AFQjCNHTOICRSByADLyt3Y0R5xotqW4U-
w&sig2=07tQ9z-Ti2Mdz3SgoI4DAQ&bvm=bv.79189006,d.eXY).
Postado por César Antonio Alves da Rocha, doutorando do Laboratório de Estudos do
Comportamento Humano – Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de São
Carlos. Bolsista FAPESP.
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2 thoughts on “As cartas Ulman-Skinner sobre o futuro
da análise do comportamento ”
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1. atentodeverdade
NOVEMBER 14, 2014 AT 2:46 PM
Sigo o blog e gosto bastante das publicações, esta foi certamente a mais reforçadora até então!
Ótimos questionamentos de início ao fim.
REPLY
2. Roberto Veloso
NOVEMBER 16, 2014 AT 11:52 PM
Meio triste o Skinner ter lutado a vida inteira para revolucionar a Psicologia e ter desistido. Por
outro lado, se alguém com a influência dele não conseguiu, quem conseguirá?
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