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1 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Produção de Textos Acadêmicos Professora Me Rafaela Janice Boeff de Vargas RESENHA Análise das resenhas trazidas pelos alunos – resenhas acadêmicas e midiáticas As resenhas acadêmicas podem ser coletadas em sites como www.scielo.com; www.comciencia.br. Leia atentamente seu texto e observe como o resenhista analisa a obra em termos de certeza/incerteza no comentário, boa ou má qualidade, maior/menor importância da obra. Verifique recursos de linguagem que o resenhista utiliza para sinalizar estágios textuais diferentes: quando ele descreve e quando ele avalia. Compare as resenhas entre si: resenha acadêmica e resenha midiática. Conceito A resenha é um gênero por meio do qual se apresenta a síntese das informações de um documento (um livro, um capítulo de livro, um artigo científico, um filme, uma peça de teatro, um espetáculo etc.) com análise crítica (apreciação do resenhista) da composição, da estrutura, do estilo e do conteúdo presentes no material analisado. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião. A designação: diferentes “nomes” para a resenha Resenha descritiva Resenha crítica Resenha bibliográfica Recensão crítica Resenha: implica exposição de conteúdo, mas também tomada de posição do resenhista sobre o valor e o alcance da obra que está sendo avaliada. É possível resenhar diferentes objetos: um livro; um filme; uma exposição de arte; um CD; um DVD, etc. Resenha acadêmica: resenhas que circulam no ambiente acadêmico. Comunidade acadêmica A comunidade acadêmica é formada por professores, estudantes, pesquisadores. Além da resenha, nela circulam vários outros gêneros discursivos:o artigo, o resumo, o relatório, a monografia, entre outros. Condição para fazer parte da comunidade acadêmica: dominar razoavelmente os gêneros de discurso que nela circulam e ser capaz de manejar as convenções comunicativas e os usos da linguagem dessa comunidade. Explorando a resenha acadêmica O que é síntese crítica de uma obra; 2 Quem produz especialistas, cientistas, acadêmicos, estudantes; Qual é a finalidade de quem a produz apresentar (sinteticamente) uma obra e expressar um juízo de valor a respeito dela, relacionando-a com outras e com a área temática em que se insere; Para quem é produzida para o público não especializado ou para outros acadêmicos; Onde é veiculada sala de aula, periódicos e sites acadêmicos. Quem costuma escrever resenhas acadêmicas? Cientistas Especialistas Acadêmicos Estudantes Por que os professores universitários solicitam resenhas? assegurar-se de que o estudante de fato leu o que foi indicado; avaliar a compreensão do aluno; oportunizar o desenvolvimento de hábitos de leitura analítica entre os estudantes; propiciar aos alunos de graduação a prática de integrar novas leituras a outras antes realizadas, em especial mediante o exercício da comparação; capacitar os estudantes para uma melhor percepção das expectativas de erudição, ou de conhecimento, no campo de estudos escolhido. (GIERING; ALVES; MELLO, 2010, p. 15). Para escrever resenhas, é preciso saber: argumentar; comparar, distinguindo detalhes; estabelecer diferenças; selecionar argumentos válidos na área de conhecimento em que o texto vai circular; apoiar-se em fatos e argumentos, provas e demonstrações; manter postura ética (avaliar o objeto e não o autor); elaborare configurar texto por meio de uma composição específica e linguagem apropriada. A resenha não dá conta de todo o objeto focalizado: há uma seleção, da parte do resenhista, de aspectos que escolhe na sua estratégia de produção, consoante o fim, o público, a área de estudos, o veículo em que se publica, entre outros aspectos. Têm conhecimento mais aprofundado sobre o assunto e grande capacidade de juízo crítico, pela atividade de pesquisa e leituras já realizadas. Podem adquirir, construir essa competência e habilidades; precisam exercitar a compreensão e a leitura crítica (ou de iniciação científica) 3 A linguagem da resenha acadêmica Quando se escreve uma resenha, deve-se considerar: qual sua finalidade (para quê)? qual a identidade de quem a escreve e de quem a lerá (quem fala a quem)? qual o domínio de saber (sobre o quê)? Essas breves perguntas auxiliam a caracterizar a linguagem desse gênero de texto. Como a resenha acadêmica pertence a uma esfera da comunicação (a acadêmica) em que é preconizado o uso da variante culta da língua, há certas “exigências” às quais se deve atender. “Nessa variedade da língua, o enunciador deve ter, além da competência referente à composição do texto e à seleção vocabular, competência no que se refere à construção gramatical.” (GIERING; ALVES; MELLO, 2010, p. 72). Composição do texto. Seleção vocabular. Construção gramatical. Como a resenha é um texto de avaliação – o resenhista emite um julgamento do objeto examinado, mediante a descrição de seus aspectos positivos e negativos, a fim de recomendá-lo ou não a seu leitor –, pode-se considerá-la como um texto argumentativo, uma vez que o resenhista seleciona e relaciona argumentos para fundamentar sua avaliação (GIERING; ALVES; MELLO, 2010). Assim, é importante observar o uso de articuladores textuais, os quais explicitam as relações de sentido instauradas. 4 EXEMPLO 1 É ruim, mas é bom Referência: JOHNSON, Steven. Tudo que é ruim é bom para você: como os games e a TV nos tornam mais inteligentes. (tradução: Sérgio Goés). Rio de Janeiro:Zahar, 2012. 188 p.R$ 38,00 Resenhado por: Thiago Camelo Quando o apocalipse se apresenta, em geral ele vem acompanhado de crianças-zumbis jogando videogame, vendo televisão ou mexendo no computador por horas. A degradação do mundo passa, para muitos, pela substituição de “velhos e bons” hábitos culturais por outros nem tanto: videogame, internet e televisão encabeçariam a lista daquilo que está emburrecendo os jovens e tomando o lugar edificante dos livros. Só por arejar o senso comum, a leitura de Tudo que é ruim é bom para você já valeria a pena. O livro do teórico da comunicação estadunidense Steven Johnson, lançado nos Estados Unidos em 2005, ganhou nova tradução e edição da editora Zahar. Apesar de quase uma década ter decorrido – exatamente os anos de consolidação da web 2.0 e dos consoles com controle sem fio ou sem controle –, o ensaio é ainda bem atual.E é atual exatamente porque combate a visão preestabelecida, pessimista e ultrapresente de que estamos emburrecendo com as ofertas da cultura de massa. Uma espécie de profecia do fim do mundo que vem acompanhada de um temor pelo futuro intelectual dos adolescentes de hoje. Johnson, autor de obras com ótima repercussão como Cultura da interface (1997) e De onde vêm as boas ideias (2010) e colaborador de revistas como Wired e Time, é reconhecido como um dos mais influentes pensadores da internet.O autor inicia seu livro como quem apresenta uma carta de intenções: “Este livro é uma obra de persuasão à moda antiga que, em última análise, pretende convencê-lo de uma coisa: na média, a cultura popular ficou mais complexa e intelectualmente estimulante ao longo dos últimos trinta anos”. Johnson defende que a cultura popular estimula o sistema neurológico e cognitivo e desenvolve habilidades que gerações passadas nem sonhariam possuir. Mesmo se o leitor não concordar inteiramentecom os argumentos e os exemplos apresentados por Johnson no decorrer das 188 páginas do livro,dificilmente evitará a reflexão sobre o cenário ao nosso redor. Até porque o autor nos cerca de cultura e referências pop, ícones que dificilmente passam desapercebidos: jogos como PacMane SimCity, desenhos animados como Os Simpsons e Procurando Nemo, seriados como 24 horas e House; um deles, ao menos, o leitor há de ter ouvido falar. Enquanto a maior parte dos críticos da cultura popular acredita em um emburrecimento da sociedade movida a videogames, internet, televisão e filmes blockbusters, Steven Johnson mostra que há emcurso uma cultura de massa cada vez mais sofisticada, que está nos tornando mais inteligentes, capazes e informados. Este é o argumento-chave de Johnson: é necessária uma maior capacidade cognitiva para se apreender a maioria das produções culturais atuais, sejam elas jogos, filmes ou seriados. Os games de hoje, por exemplo, exigem cada vez mais dos jogadores, de um jeito que livro algum poderia almejar. Do mesmo modo, se compararmos atentamente as séries de TV recentes com as do passado, veremos um crescimento impressionante de sofisticação narrativa e de demanda intelectual.Ele não julga as qualidades formais e de conteúdo dos reality shows, por exemplo, mas afirma que, para se compreender e acompanhar algumas tramas “em tempo real” e as mudanças repentinas no enredo, é preciso uma certa sofisticação de raciocínio. Johnson diz com todas as letras: “A cultura popular de hoje pode não estar nos mostrando o caminho da retidão. Mas está nos deixando mais inteligentes”. Introdução: contextualização Apresent a o livro, o autor e temática Informações sobre o autor Resumo da obra 5 Ele chama a descoberta tardia da complexidade intelectual da cultura de massa de “Curva do Dorminhoco”, em homenagem a um clássico diálogo do filme de Woody Allen – O dorminhoco –, em que cientistas do ano 2173 se espantam com o fato de que frituras não eram, no passado, consideradas saudáveis.Entender a Curva do Dorminhoco, segundo o autor, passa por vivenciar a descoberta de que nem tudo o que é ruim, ou dizem ser ruim, de fato faz mal. Ao menos, não faz mal para o desenvolvimento da nossa cognição. E aqui se apresenta, talvez, uma certa fraqueza do livro. Johnson, em momento algum, avalia mais profundamente o viés artístico das dezenas de obras que cita. Mesmo quando compara obras do passado com as do presente, é para dizer apenas que o lixo de ontem é menos complexo do que o de hoje. No livro, essa argumentação, repetida à exaustão, parece perder a força na medida em que o autor escolhe não “sujar as mãos” com o julgamento da qualidade das obras. Há dois anos, um ensaio para a revistaSerrote, do Instituto Moreira Salles, propôs uma análise do enredo de Prince ofPersia, jogo de videogame recente destinado a diversas plataformas. O autor do texto de mais de 30 páginas, o escritor Daniel Galera, aprofunda-se na crítica à narrativa e ao enredo do jogo, destacando uma nova forma de fruição que o videogame pode apresentar – característica que teria a ver com as diversas maneiras de interação com a história propostas pelo jogo. Galera, sem subterfúgios, coloca Prince ofPersia no mesmo nível, ou acima, de grandes obras. O fato de o livro de Johnson deter-se apenas no aumento da capacidade cognitiva e não encarar de frente seriados de TV, jogos de videogame e reality shows como produtos culturais do nosso tempo dignos de uma crítica de arte tira parte do fôlego, não do mérito, de Tudo que é ruim é bom para você.Provocativo, o livro oferece um panorama otimista do mundo contemporâneo. Amparado em diversos fatos sobre as mídias populares e em disciplinas que vão da neurociência à economia, a obra mostra a sociedade não em declínio, mas indo de forma rápida e estimulante em direções que ainda não entendemos completamente. Texto adaptado e revisado. Revista Ciência Hoje On-line. Disponível em: <http://cienciahoje.uol.com.br/resenhas/2012/05/e-ruim-mas- e-bom>. Acesso em: 28 fev. 2014. Exercícios Leia atentamente a resenha acima e responda às questões propostas. Lembre-se de elaborar respostas com frases completas e bem articuladas! 1) Observe a estrutura composicional da resenha: como o texto é organizado formalmente? 2) Quanto ao conteúdo da resenha, que tipos de informações constituem o texto? Opinião do resenhista Informação extra: comparação com outra obra Opinião do resenhista 6 3) As resenhas caracterizam-se por apresentarem dois movimentos básicos: resumo da obra (incluindo sua descrição) e avaliação do resenhista em relação aos elementos constituintes dessa obra. Considerando esses aspectos, busque identificar na resenha lida: Trechos que resumem e/ou descrevem informações Trechos que avaliam informações 4) Observe atentamente os trechos avaliativosassinalados na questão anterior e destaque as palavras que evidenciam (explicitam) o posicionamento do resenhista. 5) Quais são as categorias das palavras que foram utilizadas para expressar a opinião do resenhista? ( ) verbos ( ) adjetivos ( ) preposições ( ) substantivos ( ) pronomes ( ) artigos ( ) advérbios ( ) numerais MODALIZAÇÃO O que é modalização? Giering, Alves e Mello (2010) explicam: “A modalização é um procedimento discursivo que se caracteriza pela inscrição da visão de mundo do locutor [...] no texto.” 7 “A atitude do enunciador em relação a seu enunciado pode estar implícita no discurso ou ser explicitada por meio de expressões linguísticas que manifestam seu entendimento ou julgamento de valor sobre o assunto ou ainda em relação a si mesmo ou ao interlocutor.” “Tais marcas de língua [...] nada mais são do que alguns elementos da frase que mostram, com maior evidência, qual é a posição do locutor em relação ao conteúdo de sua proposição.” Quais as marcas da modalização, isto é, como quem escreve mostra seu ponto de vista no texto? Quando explícita, a modalização é indicada na língua por um conjunto variado de classes gramaticais, tais como: Locuções adverbiais: sem dúvida, com certeza, etc. Adjetivos: participação efetiva, éprovável que..., etc. Verbos: o autor sugere que..., etc. Verbos auxiliares modais: poder, dever, querer, precisar, etc. Advérbios: felizmente, possivelmente, certamente,quase, pouco, etc. Substantivos: certeza, necessidade, etc. Ao fazer uso de determinadas expressões, Koch (2004) salienta queo locutor (aquele que escreve/fala) pode situar seu discurso: no campo da certeza no campo da possibilidade Manifesta um saber (eu sei, portanto é verdade) em tom de autoridade e, assim, acaba forçando o leitor a aderir a seu discurso para aceitá-lo como verdadeiro. Manifesta um saber (eu creio, portanto é possível, é provável, é permitido) em tom de probabilidade, e assim não impõe a sua posição ao leitor(ou finge não impor). O leitor tem a possibilidade de aceitar ou não as posições defendidas. 6) Quando se elabora uma resenha sobre a obra de alguém, é importante observar algumas “regras” de polidez, para evitar ser desrespeitoso no caso de avaliações negativas. Para tanto, pode-se utilizar diversos recursos linguísticos. Identifique alguns desses recursos na resenha lida:6.1) Uso de expressões que atenuam as opiniões, como: ___________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 6.2) Uso de alguns tempos verbais que também têm função de atenuar o que está sendo dito, como: VOZES DO TEXTO Como no caso do resumo, a resenha é um texto sobre outro texto, de outro autor. Assim, é natural que haja menções ao texto original, o que, no caso da resenha, vem acompanhado de comentários feitos pelo resenhista. Por isso, deve-se tomar cuidado ao fazer essas menções para que o que foi dito pelo resenhista e o que foi dito pelo autor do texto original fiquem absolutamente claros para o leitor. Além disso, temos de interpretar os diferentes atos que o autor do texto original realiza em tal texto. Esses atos, por vezes, são atribuídos à própria obra: o livro centra-se...., a obra objetiva... 8 7) Considerando tais aspectos, releia a resenha e identifique verbos usados pelo resenhista para mencionar o que o autor da obra resenhada faz na obra e/ou ó que é atribuído à própria obra. 8) Além desses verbos, o resenhista usa expressões diversas que também têm a função de introduzir a voz do autor da obra. Identifique algumas dessas expressões na resenha lida. 9) Identifique, no texto, citações diretas e indiretas. 10)Nas colunas a seguir, há sugestões de verbos que podem ser utilizados na redação da resenha. Relacione as ações (primeira coluna) com o sentido aproximado que podem transmitir (segunda coluna). Ação do autor da obra original Verbos possíveis para utilizar na resenha 1. Estrutura e organização da obra ( ) sustentar, contrapor, confrontar, opor, justificar, defender a tese, afirmar. 2. Indicação do conteúdo geral ( ) objetivar, ter o objetivo de, se propor a, visar a. 3. Indicação dos objetivos da obra ( ) apresentar, desenvolver, descrever, explicar, demonstrar, mostrar, narrar, analisar, apontar, abordar. 4. Posicionamento do autor da obra em relação à sua tese ( ) estruturar-se, dividir-se, organizar-se, começar, terminar, concluir. 9 OS MECANISMOS DE CONEXÃO (USO DOS ARTICULADORES TEXTUAIS) Quando escrevemos um texto, é importante guiar o leitor para que ele possa entender as diferentes relações que queremos estabelecer entre as ideias. Essas relações entre as ideias são dadas por palavras que “organizam” o que está sendo dito: são os articuladores textuais. A função dos articuladores é estabelecer relações de sentido entre as ideias, não só internamente às frases, mas também entre as frases e entre os parágrafos. 10) Localize, na resenha, exemplos de uso dos articuladores acima observados; indique as ideias que o conector relaciona e qual o sentido que instaura nessa relação. 10 Articulador/conector Ideias que relaciona Sentido instaurado Importante! Como a resenha é um gênero em que o resenhista deve obrigatoriamente expressar sua opinião em relação ao objeto, é recomendável que essa avaliação seja transversal ao texto, isto é, que esteja presente desde o início da resenha. REFERÊNCIAS GARCIA, O. Comunicação em prosa moderna. 16.ed. São Paulo: FGV, 2006. GIERING, M. E.; ALVES, I.M. da R.; MELLO,V.H.D. Leitura e produção de resenha acadêmica. Coleção EAD. São Leopoldo: UNISINOS, 2010. KOCH, I.G.V. Argumentação e linguagem. 9.ed. São Paulo: Editora Cortez, 2004. MACHADO, A. R.; LOUSADA, E.; ABREU-TARDELLI, L. S. Resenha. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. PLATÃO, F. S.; FIORIN, J. L. Para entender o texto: leitura e redação. São Paulo: Ática, 1990. 11 ATIVIDADES EXEMPLO DE RESENHA ACADÊMICA Leia a seguir a resenha acadêmica do livro Inimigos da esperança: publicar, perecer e o eclipse da erudição, de Lindsay Waters, elaborada pela professora Ursula Blattmann, do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista na área do conteúdo da obra resenhada. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 Resenha de livro: WATERS, Lindsay. Inimigos da esperança: publicar, perecer e o eclipse da erudição. Tradutor: Luiz Henrique de Araújo Dutra. São Paulo: Unesp, 2006, 95p. ISBN 85- 7139-687-6 [§ 1 ] Lindsay Waters, editor da Harvard University Press, apresenta, neste ensaio, provocações aos acadêmicos no sentido de buscar a qualidade e não a quantidade das publicações, sejam estas livros ou artigos científicos. Apresenta a questão básica: por que alguém iria querer falar, escrever ou publicar se não fosse ousar propor questões fundamentais para fomentar reflexões. [§ 2 ] A tradicional linha adotada por muitas editoras e autores entre o “publicar ou perecer” gera muitos livros e artigos de péssima qualidade e um ciclo vicioso de publicações no cerne acadêmico. Editores, bibliotecários e colegas pressionam o(s) autor(es) a escrever(em) mais com menos. As editoras acadêmicas passaram a ser gerenciadas com foco na lucratividade e não mais na busca da qualidade de conteúdos. Atendem a cultura global da massificação em detrimento da qualidade. Na p.12 o autor instiga o leitor: “Quando os livros deixam de ser meios complexos e se tornam, em vez disso, objetos sobre os quais quantificamos, então se segue que todos os outros assuntos que as humanidades estudam perdem seu valor”. [§ 3 ] Descreve o panorama das editoras referente à inflação quantitativa de novos títulos lançados pelas grandes editoras universitárias. Essa “perversão das universidades” está no contexto produzido pelas agências de financiamentos, por exemplo, quando perguntam quanto um docente publica por ano, em produzir marcas para as instituições de ensino – sistema desvairado de produção de celebridades (p. 18); na aceitação de conteúdos avaliados por pares (colegas) sem aplicar critérios de avaliação adequada; em glorificar as publicações ao invés do ensino e escrita sérios. Sintetiza o problema (p. 25) na “insistência na produtividade, sem a menor preocupação com a recepção do trabalho. Perdeu-se o equilíbrio entre esses dois elementos – a produção e a recepção”. [§ 4 ] Ferramentas de gestão engessam as editoras científicas. O processo começou no início da década de 1960, pela burocracia interna (os administradores buscam trabalhar com clareza e simplicidade), seguido do impacto sobre o corpo docente das universidades, com o intuito de aparentar inovação e crescimento gerados por números inflacionados. Conforme Lindsay Waters (p. 21), os vilões seriam “aqueles que empregam as técnicas de administração de empresas e invadem a casa do intelecto, assim como os vendilhões invadiram o templo”. [§ 5 ] Questiona: o que fazer com aqueles livros que ninguém lê ou compra? Apresenta os dados oriundos do levantamento das bibliotecas acadêmicas (Survey of the Academic Libraries) nos Estados Unidos, em 2002, pautado no artigo de Rick Anderson (p. 35), que aponta que o declínio na aquisição de material impresso é acentuadonas bibliotecas: entre 2000 e 2001 foi de 6%, e em 2002, de 8%. Especificamente na Associação de Editores Americanos, os livros de capa dura apresentam um declínio de 20% entre junho de 2001 e junho de 2002. Cria-se a cultura de proliferação de bases de dados nas bibliotecas e a morte dos livros nas estantes, até mesmo uma relação de indiferença ao material impresso 12 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 atendendo diretamente os perfis de administradores e bibliotecários preocupados em reduzir apenas as coleções por meio de metros de estantes. [§ 6 ] A crise da contabilidade acadêmica permeia a relação das editoras, bibliotecas e universidades. Quem ganha com as relações de poder e com gestores que visam quantificar apenas números de publicações? [§ 7 ] É preciso ter tempo para fazer as leituras das leituras, torna-se crucial pensar entre beneficiar o individual ou o coletivo; em compreender como declinaram e quase desapareceram o conteúdo do trabalho e o juízo acadêmico. É tempo de valorizar livros e bons acervos, exigir melhores conteúdos e estética. [§ 8 ] O autor coloca palavras provocativas para desencadear reflexões pertinentes e urgentes no universo da academia e do mercado editorial. Intercala com maestria exemplos teóricos aliados à pratica do editor. Nas entrelinhas pode-se compreender o academicismo vazio emergente, mas cheio de forma na promoção do status quo acadêmico (na luta da preservação da própria espécie). [§ 9 ] A leitura dessa obra é indicada a todos preocupados com as mudanças culturais e organizacionais, com o excesso de informações, e com a busca da qualidade nas publicações. É essencial que professores universitários, pesquisadores, estudantes e bibliotecários envolvidos no processo de publicação e na recepção de obras entendam quando menos significa mais. Ursula Blattmann BLATTMANN, Ursula. Revista ABC: Biblioteconomia em Santa Catarina. Florianópolis: v.12, n. 2, jun./dez., 2007, p. 352-4. 1. Em geral, as resenhas acadêmicas de livros ou artigos científicos apresentam informações sobre o autor, o tema e a estrutura da obra resenhada. Transcreva no quadro abaixo essas informações, observando o primeiro parágrafo da resenha. Autor Tema Estrutura da obra resenhada 2. Do segundo ao oitavo parágrafo, a resenhista apresenta as ideias defendidas pelo autor do livro. Resuma em uma ou duas linhas o que é exposto em cada um desses parágrafos. § 1 §2 13 §3 §4 §5 §6 3. Complete o quadro abaixo com os verbos utilizados pela resenhista para expor as ideias do autor. § 1 apresentar § 2 instigar § 3 § 4 §5 4. Observe que os verbos utilizados pela resenhista não são elocução neutra, isto é, não anunciam apenas uma fala. O que esses verbos antecipam com relação às ideias do autor da obra resenhada? _________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________ 5. Para introduzir a voz do autor na resenha acadêmica, a resenhista utiliza verbos na terceira pessoa do singular, sem explicitação do sujeito, por exemplo: “Apresenta a questão básica:por que alguém iria querer falar, escrever ou publicar se não fosse ousar propor questões fundamentais para fomentar reflexões”. A construção do texto nos permite reconhecer o autor da obra resenhada como sujeito desses verbos. Identifique outro recurso utilizado pela resenhista para referir-se ao autor. _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 6. Com que expressão a resenhista introduz o pensamento do autor no quarto parágrafo? _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 14 7. Que recurso a resenhista emprega para provar que se mantém fiel às ideias do autor? _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 8. Os dois últimos parágrafos concentram a avaliação que a resenhista faz do livro de Lindsay Waters. a) No oitavo parágrafo, a avaliação incide sobre o conteúdo e a forma do livro resenhado. Localize as expressões que revelam a opinião da resenhista sobre cada um desses aspectos. Mencione se essa avaliação é negativa ou positiva e justifique sua resposta. _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ b) No nono parágrafo, a autora da resenha define o leitor previsto do livro e da resenha: “professores universitários, pesquisadores, estudantes e bibliotecários envolvidos no processo de publicação e na recepção de obras [...]”. Recomenda a leitura do livro e, desse modo, reafirma a avaliação feita. Envolve o leitor e procura convencê-lo da importância da leitura da obra. Quais são os argumentos dela? Localize-os no texto. _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________ 15
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