Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Cap´ıtulo 5 Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos Neste cap´ıtulo, faremos uma primeira introduc¸a˜o ao estudo dos grupos e de suas propriedades gerais, estudo esse conhecido pelo nome de Teoria dos Grupos. No preaˆmbulo, faremos contato com os conceitos de semi-grupos e mono´ides. 5.1 Semi-grupos, mono´ides e grupos Definic¸a˜o 5.1 Seja A um conjunto na˜o vazio e seja ∗ uma operac¸a˜o em A. A estrutura alge´brica (A, ∗) e´ denominada um 1. semi-grupo se ∗ e´ uma operac¸a˜o associativa; 2. mono´ide se ∗ e´ uma operac¸a˜o associativa e tem um elemento neutro e ∈ A; 3. grupo se ∗ e´ associativa, tem um elemento neutro e ∈ A, e cada elemento a ∈ A e´ invert´ıvel na operac¸a˜o ∗. Ale´m disso, em cada um dos casos 1, 2 e 3 acima, acrescenta-se o adjetivo comu- tativo se ∗ e´ tambe´m comutativa. Assim, por exemplo, um semi-grupo comutativo e´ um semi-grupo com operac¸a˜o comutativa. Um grupo abeliano e´ um grupo comutativo. Note que um grupo e´ tambe´m um mono´ide e que um mono´ide e´ tambe´m um semi-grupo. Exemplo 5.1 (N,+) e´ um mono´ide comutativo, mas na˜o e´ um grupo, ja´ que nenhum nu´mero natural n ≥ 1 e´ invert´ıvel na adic¸a˜o em N. Exemplo 5.2 (Z,+) e´ um grupo abeliano, de elemento neutro 0, sendo o ele- mento inverso (inverso aditivo) de cada inteiro a ∈ Z o seu oposto −a. 78 Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 79 Exemplo 5.3 (O mono´ide das transformac¸o˜es de um conjunto A) Seja A um conjunto na˜o vazio. Uma transformac¸a˜o de A (ou em A) e´ uma func¸a˜o f :A→ A. Seja M(A) o conjunto de todas as transformac¸o˜es em A, e seja ◦ a operac¸a˜o composic¸a˜o de func¸o˜es, restrita a M(A). Recordemo-nos que dadas duas func¸o˜es quaisquer g:X → Y e h:Y → Z, a func¸a˜o composta de h e g (atenc¸a˜o para a ordem em que sa˜o tomadas!) e´ definida como sendo a func¸a˜o ϕ = h ◦ g:X → Z definida por ϕ(x) = (h ◦ g)(x) = h(g(x)), ∀x ∈ X Assim sendo, e´ fa´cil ver que o conjunto M(A) e´ fechado na operac¸a˜o com- posic¸a˜o de func¸o˜es, e portanto podemos restringir a operac¸a˜o ◦ ao conjunto M(A). Veremos a seguir que ((M(A), ◦) e´ um mono´ide, na˜o comutativo quando A tem ao menos dois elementos distintos. Veremos tambe´m que os elementos in- vert´ıveis de M(A) sa˜o as func¸o˜es bijetoras de A em A (e que portanto, ((M(A), ◦) na˜o e´ um grupo quando A possui (ao menos) dois elementos distintos). Existeˆncia de elemento neutro da operac¸a˜o ◦ em M(A). Considere a aplicac¸a˜o identidade em A, IA:A→ A, definida por IA(x) = x, ∀x ∈ A IA e´ o elemento neutro da operac¸a˜o composic¸a˜o em M(A): Para cada f ∈M(A), (IA ◦ f)(x) = IA(f(x)) = f(x) e (f ◦ IA)(x) = f(IA(x)) = f(x), ∀x ∈ A logo IA ◦ f = f ◦ IA = f Associatividade da composic¸a˜o em M(A). Dadas treˆs func¸o˜es quaisquer f :X → Y, g:Y → Z e h:Z → W temos ((h ◦ g) ◦ f)(x) = (h ◦ g)(f(x)) = h(g(f(x))) e (h ◦ (g ◦ f))(x) = h((g ◦ f)(x)) = h(g(f(x))) ∀x ∈ X, e portanto (h ◦ g) ◦ f = h ◦ (g ◦ f) 80 Estruturas Alge´bricas Assim, a associatividade da composic¸a˜o de func¸o˜es e´ uma propriedade geral que se aplica tambe´m para as func¸o˜es pertencentes a M(A). Se A possui dois elementos distintos, ◦ na˜o e´ comutativa. De fato, sejam a e b dois elementos distintos de A. Considere as transfor- mac¸o˜es constantes ca:A→ A e cb:A→ A, definidas por ca(x) = a e cb(x) = b, ∀x ∈ A Enta˜o, para cada x ∈ A, (ca ◦ cb)(x) = ca(cb(x)) = ca(b) = a e (cb ◦ ca)(x) = cb(ca(x)) = cb(a) = b ou seja, ca ◦ cb = ca e cb ◦ ca = cb e portanto ◦ na˜o e´ comutativa em M(A). Observac¸a˜o 5.1 Para que se tenha f ◦g 6= g◦f , sendo f, g ∈M(A), e´ suficiente que se tenha (f◦g)(x0) 6= (g◦f)(x0) para algum elemento x0 ∈ A. No entanto, no caso das func¸o˜es ca e cb definidas acima, verificamos que (ca◦cb)(x) 6= (cb◦ca)(x), para cada x ∈ A. Proposic¸a˜o 5.1 Uma transformac¸a˜o f ∈ M(A) e´ invert´ıvel se e somente se f e´ bijetora. Demonstrac¸a˜o.. (somente se ou “⇒”) Seja f ∈ M(A) uma transformac¸a˜o invert´ıvel. Enta˜o existe uma func¸a˜o g ∈M(A) tal que f ◦ g = g ◦ f = IA (g e´ chamada transformac¸a˜o inversa de A e e´ denotada por g = f−1). Veremos enta˜o que a existeˆncia de g acarreta que f e´ injetora e sobrejetora. De fato, ∀x, y ∈ A, f(x) = f(y) ⇒ g(f(x)) = g(f(y)) ⇒ (g ◦ f)(x) = (g ◦ f)(y) ⇒ IA(x) = IA(y) ⇒ x = y Logo, f e´ injetora. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 81 Ale´m disso, para cada y0 ∈ A, y0 = IA(y0) = (f ◦ g)(y0) = f(g(y0)) = f(x0) sendo x0 = g(y0). Ou seja, para cada y0 ∈ A, existe x0 ∈ A tal que f(x0) = y0, e portanto f e´ tambe´m sobrejetora. Assim sendo, se f ∈ M(A) e´ invert´ıvel enta˜o f e´ injetora e sobrejetora, portanto bijetora. (se ou “⇐”) Seja f ∈ M(A) uma aplicac¸a˜o bijetora, isto e´, injetora e sobreje- tora. Definamos uma transformac¸a˜o g ∈M(A) (candidata a func¸a˜o inversa de f) do seguinte modo: Para cada a ∈ A, existe b ∈ A tal que f(b) = a (pois f e´ sobrejetora). Ale´m disso, um tal elemento b e´ u´nico, pois f e´ injetora: se b′ ∈ A e f(b′) = a enta˜o f(b) = f(b′)⇒ b = b′. Definimos a func¸a˜o g no ponto a por: g(a) = b Notemos enta˜o que, uma vez definida a func¸a˜o g, para cada a ∈ A e cada b ∈ A, sa˜o equivalentes as igualdades f(a) = b e g(b) = a, ou seja f(a) = b⇔ g(b) = a Temos enta˜o que f ◦ g = g ◦ f = IA. De fato: Para cada x ∈ A, sejam f(x) = α e g(x) = β. Enta˜o teremos g(α) = x e f(β) = x. Logo, (f ◦ g)(x) = f(g(x)) = f(β) = x = IA(x) e (g ◦ f)(x) = g(f(x)) = g(α) = x = IA(x) Se A tem ao menos dois elementos, (M(A), ◦) na˜o e´ um grupo. De fato, se A tem ao menos dois elementos distintos a e b, as func¸o˜es ca e cb definidas acima na˜o sa˜o sobrejetoras, portanto na˜o sa˜o invert´ıveis na operac¸a˜o composic¸a˜o em M(A). Sendo assim a estrutura alge´brica (M(A), ◦), com A tendo ao menos dois elementos distintos, e´ um mono´ide na˜o comutativo e na˜o e´ um grupo. 82 Estruturas Alge´bricas 5.1.1 Problemas complementares 1. ©^. . Seja A um conjunto na˜o vazio e seja ∗ uma operac¸a˜o em A, com elemento neutro e. Sendo a um elemento de A, (a) dizemos que um elemento x ∈ A e´ um inverso a` direita de a, na operac¸a˜o ∗, se a ∗ x = e; (b) dizemos que um elemento y ∈ A e´ um inverso a` esquerda de a, na operac¸a˜o ∗, se y ∗ a = e. Prove que se ∗ e´ associativa e a ∈ A possui um inverso a` direita x e um inverso a` esquerda y, enta˜o x = y, e portanto a e´ invert´ıvel na operac¸a˜o ∗. 2. Sejam f, g ∈ M(A), sendo M(A) o mono´ide das transformac¸o˜es de um conjunto na˜o vazio A (veja exemplo 5.3). (a) ©. . Mostre que se f ◦ g = IA enta˜o g e´ injetora e f e´ sobrejetora. (b) ©_. . Mostre que se g e´ injetora entao existe uma transformac¸a˜o ϕ ∈ M(A) que e´ inversa a` esquerda de g. (c) ©_. . Mostre que se f e´ sobrejetora entao existe uma transformac¸a˜o ψ ∈M(A) que e´ inversa a` direita de f . 3. Considere o mono´ide das transformac¸o˜es do conjunto N dos nu´meros nat- urais, M(N), munido da operac¸a˜o composic¸a˜o (refira-se ao exemplo 5.3). Considere as transformac¸o˜es f, g ∈M(N), definidas por f(x) = x+ 1 e g(x) = { 0, se x = 0 x− 1, se x ≥ 1 (a) ©. . Mostre que g ◦ f = IN, e portanto f e´ uma transformac¸a˜o inversa a` direita de g (e g e´ uma transformac¸a˜o inversa a` esquerda de f). (b) ©^. . Verifique que f e g sa˜o transformac¸o˜es na˜o invert´ıveis e que, por- tanto, nem f possui uma transformac¸a˜o inversa a` direita, nem g possui uma transformac¸a˜o inversa a` esquerda. (c) ©. . Mostre que f tem uma infinidade de transformac¸o˜es inversas a` esquerda. [Sugesta˜o: Altere g, redefinindo g(0).] (d) ©. . Mostre que g tem (exatamente) duas transformac¸o˜es inversas a` direita. [Sugesta˜o: Mostre que se h e´ uma inversa a` direita de g, enta˜o: (a) h(0) = 0 ou h(0) = 1; (b) para cada x ∈ N, x ≥ 1, tem-se h(x) ≥ 1 e portanto h(x) = x+ 1.] 4. ©^. . Mostre que o conjunto constitu´ıdodas treˆs permutac¸o˜es I = ( 1 2 3 1 2 3 ) , σ = ( 1 2 3 2 3 1 ) e τ = ( 1 2 3 3 1 2 ) munido da operac¸a˜o de composic¸a˜o, constitui um grupo. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 83 5. ©^. . Dadas as permutac¸o˜es f1 = ( 1 2 3 4 5 3 4 2 1 5 ) e f2 = ( 1 2 3 4 5 4 2 5 1 3 ) calcule (a) f 21 = f1 ◦ f1 (b) f 31 = f 21 ◦ f1 (c) f 41 = f 31 ◦ f1 (d) f−12 (e) f1 ◦ f−12 (f) f 22 6. ©. . Seja (A, ∗) um mono´ide no qual a equac¸a˜o a ∗ x = b tem soluc¸a˜o, ∀a, b ∈ A. Mostre que (A, ∗) e´ um grupo. 5.2 Grupos e suas Propriedades Elementares Abrimos esta sec¸a˜o, redefinindo o conceito de grupo. Definic¸a˜o 5.2 Uma estrutura alge´brica (G, ∗) e´ um grupo se satisfaz as seguin- tes propriedades: (G1) ∗ e´ uma operac¸a˜o associativa, isto e´, ∀x, y, z ∈ G, tem-se (x ∗ y) ∗ z = x ∗ (y ∗ z) (G2) ∗ tem elemento neutro, isto e´, existe e ∈ G tal que x ∗ e = e ∗ x = x para cada x ∈ G. (G3) cada elemento de G e´ invert´ıvel na operac¸a˜o ∗, ou seja, para cada x ∈ G, existe x′ ∈ G (chamado inverso de x na operac¸a˜o ∗), tal que x ∗ x′ = x′ ∗ x = e Observac¸a˜o 5.2 Recordamos que, conforme os teoremas 3.1 e 3.2 do cap´ıtulo 4, sendo (G, ∗) um grupo, 1. Existe um u´nico elemento e ∈ G, elemento neutro da operac¸a˜o ∗ em G. 2. Para cada x ∈ G, existe um u´nico elemento x′ ∈ G, elemento inverso de x relativamente a` operac¸a˜o ∗. 3. Se x e y sa˜o elementos de G, de inversos x′ e y′, respectivamente, enta˜o y′ ∗ x′ e´ o inverso de x ∗ y em G. Recordamos tambe´m que se ∗ e´ uma operac¸a˜o comutativa, o grupo (G, ∗) e´ chamado de grupo abeliano. 84 Estruturas Alge´bricas Observac¸a˜o 5.3 Recordamos tambe´m que, sendo (G, ∗) um grupo, as seguintes convenc¸o˜es notacionais sa˜o habitualmente adotadas: operac¸a˜o ∗ denominac¸a˜o especial elemento neutro elemento inverso do grupo de x ∈ G + grupo aditivo 0 (zero) −x (oposto de x) · grupo multiplicativo 1G ou 1 ou e x−1 Lembramos ainda que, convencionalmente, grupos aditivos sa˜o sempre abe- lianos. Em outras palavras, na˜o e´ de bom senso denotar por + uma operac¸a˜o na˜o comutativa. Proposic¸a˜o 5.2 Sendo (G, ∗) um grupo 1. Valem em G as leis do cancelamento: ∀a, b, c ∈ G, a ∗ b = a ∗ c⇒ b = c b ∗ a = c ∗ a⇒ b = c 2. Sendo a e b elementos de G, as equac¸o˜es a ∗ x = b e y ∗ a = b tem, cada uma delas, uma u´nica soluc¸a˜o em G. Demonstrac¸a˜o.. Sejam a, b e c elementos de G, seja e ∈ G o elemento neutro de ∗, e seja a′ ∈ G o elemento inverso de a na operac¸a˜o ∗. 1. Se a ∗ b = a ∗ c enta˜o a′ ∗ (a ∗ b) = a′ ∗ (a ∗ c)⇒ (a′ ∗ a) ∗ b = (a′ ∗ a) ∗ c⇒ e ∗ b = e ∗ c logo b = c. Analogamente, b ∗ a = c ∗ a⇒ b = c. 2. a ∗ x = b ⇔ a′ ∗ (a ∗ x) = a′ ∗ b ⇔ (a′ ∗ a) ∗ x = a′ ∗ b ⇔ e ∗ x = a′ ∗ b ⇔ x = a′ ∗ b o que demonstra a existeˆncia (x = a′ ∗ b) e unicidade da soluc¸a˜o da equac¸a˜o a ∗ x = b. Analogamente, a equac¸a˜o y ∗ a = b possui uma u´nica soluc¸a˜o, a saber y = b ∗ a′. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 85 Observac¸a˜o 5.4 No monoide multiplicativo (Z12, ·) na˜o sa˜o va´lidas as leis do cancelamento: 3 · 2 = 3 · 6 = 6, mas 2 6= 6. Ale´m disso, a equac¸a˜o 3 · x = 6 tem 3 soluc¸o˜es em Z12, a saber 2, 6 e 10. Por outro lado, a equac¸a˜o 3 · x = 2 na˜o tem soluc¸a˜o em Z12. 5.2.1 Bons exemplos de grupos Como primeiros exemplos de grupos, lembremo-nos de que se (A,+, ·) e´ um anel, enta˜o (A,+) e´ um grupo abeliano, chamado o grupo aditivo do anel A. Alem disso, se (K,+, ·) e´ um corpo, temos o grupo multiplicativo (K∗, ·) dos elementos na˜o nulos do corpo K. O grupo S(A) das permutac¸o˜es de um conjunto A Definic¸a˜o 5.3 Sendo A um conjunto na˜o vazio, chama-se permutac¸a˜o em A (ou de A) toda func¸a˜o bijetora f :A→ A. Denotaremos o conjunto das permutac¸o˜es em A por S(A). Note que S(A) e´ um subconjunto de M(A), o conjunto das transformac¸o˜es de A, explorado no exemplo 5.3. Ale´m disso, S(A) e´ fechado na operac¸a˜o composic¸a˜o de func¸o˜es, isto e´, dadas duas transformac¸o˜es f, g ∈ S(A) tem-se f ◦ g ∈ S(A), pois a composic¸a˜o de func¸o˜es bijetoras e´ uma func¸a˜o bijetora. De fato, f, g ∈ S(A) ⇒ f e g sa˜o func¸o˜es bijetoras de A em A ⇒ f e g sa˜o func¸o˜es invert´ıveis na operac¸a˜o ◦ em M(A) ⇒ f ◦ g e´ func¸a˜o invert´ıvel na operac¸a˜o ◦ em M(A) ⇒ f ◦ g e´ func¸a˜o bijetora de A em A ⇒ f ◦ g ∈ S(A) Assim, a operac¸a˜o ◦ de M(A) pode ser restringida ao conjunto S(A). Como a aplicac¸a˜o identidade IA esta´ em S(A), e como ◦ e´ associativa, (S(A), ◦) e´ um mono´ide. Ale´m disso, se f ∈ S(A) e g e´ a transformac¸a˜o inversa de f , enta˜o g e´ tambe´m invert´ıvel, com inversa g−1 = f , e portanto g e´ bijetora, ou seja g ∈ S(A). Logo, cada elemento de S(A) e´ invert´ıvel em S(A) na operac¸a˜o composic¸a˜o. Portanto (S(A), ◦) e´ um grupo, denominado grupo das permutac¸o˜es de A ou grupo sime´trico de A. 86 Estruturas Alge´bricas Finalmente, chamamos a atenc¸a˜o para o fato de que se A tem ao menos treˆs elementos distintos, entao (S(A), ◦) na˜o e´ um grupo abeliano. De fato, suponhamos que A possui treˆs elementos a, b e c, distintos dois a dois. Considere as transformac¸o˜es f e g de A em A definidas por f(x) = a, se x = b b, se x = a x, se x 6= a e x 6= b g(x) = a, se x = c c, se x = a x, se x 6= a e x 6= c Como f ◦ f = IA e g ◦ g = IA, temos que f, g ∈ S(A). Agora, (f ◦ g)(a) = f(g(a)) = f(c) = c e (g ◦ f)(a) = g(f(a)) = g(b) = b e portanto f ◦ g 6= g ◦ f . Como visto no cap´ıtulo 3, se A e´ um conjunto com 3 ou mais elementos, enta˜o o grupo S(A), das permutac¸o˜es de A, e´ na˜o abeliano. Assim Sn e´ na˜o comutativo se n ≥ 3. Definic¸a˜o 5.4 (Ordem de um grupo) Sendo (G, ∗) um grupo, dizemos que a ordem de G e´ igual a n, e denotamos |G| = n se G e´ um conjunto finito de n elementos. Por exemplo, |Sn| = n!. Se G e´ um conjunto infinito, dizemos que G tem ordem infinita e denotamos |G| =∞. Por exemplo, a ordem do grupo aditivo (Z,+) e´ infinita. O grupo Sn das permutac¸o˜es de n elementos Considere o grupo S(A) do exemplo 5.2.1, no caso em que A = {x1, . . . , xn}, com n ≥ 1. Neste caso particular, denotamos S(A) = Sn e o grupo (Sn, ◦) passa a ser chamado grupo das permutac¸o˜es de n elementos ou grupo sime´trico de grau n. Para cada func¸a˜o f ∈ Sn, isto e´, para cada func¸a˜o bijetora f : {x1, . . . , xn} → {x1, . . . , xn} Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 87 temos f(x1) = xi1 , f(x2) = xi2 , . . . , f(xn) = xin para certos ı´ndices i1, . . . , in dentre 1, . . . , n, sendo {i1, . . . , in} = {1, . . . , n}. Denotamos uma tal permutac¸a˜o f por f = ( x1 x2 . . . xn xi1 xi2 . . . xin ) O nu´mero de permutac¸o˜es de n elementos, ou seja, o nu´mero de elementos de Sn, e´ precisamente n! (leia-se “n fatorial”), sendo n! = { 1, se n = 0 n · (n− 1)!, se n ≥ 1 Para n ≥ 2, n! = n · (n− 1) · · · 2 · 1. A ta´bua do grupo (S3, ◦) Para simplificar as notac¸o˜es, em lugar de treˆs elementos gene´ricos x1, x2 e x3, tomaremos os nu´meros 1, 2 e 3, e assim olharemos o grupo S3 como sendo o grupo das permutac¸o˜es de {1, 2, 3}. |S3| = 3! = 3 ·2 ·1 = 6, sendo S3 constitu´ıdo das seguintes seis permutac¸o˜es I = ( 1 2 3 1 2 3 ) , f1 = ( 1 2 3 2 1 3 ) , f2 = ( 1 2 3 3 2 1 ) f3 = ( 1 2 3 1 3 2 ) , f4 = ( 1 2 3 2 3 1 ) , f5 = ( 1 2 3 3 1 2 ) A ta´bua do grupo S3, isto e´, a ta´bua da operac¸a˜o ◦ em S3, e´ dada abaixo: ◦ I f1 f2 f3 f4 f5 I I f1 f2 f3 f4 f5 f1 f1 I f5 f4 f3 f2 f2 f2 f4 I f5 f1 f3 f3 f3 f5 f4 I f2 f1 f4 f4 f3 f1 f2 f5 I f5 f5 f2 f3 f1 I f4 Para calcular a permutac¸a˜o composta de duas permutac¸o˜es de S3, podemos proceder como nos exemplos abaixo: f1 ◦ f3 = ( 1 2 3 2 1 3 ) ◦ (©1 2 3 1 3 2 ) = (©1 2 3 2 3 1 ) = f4 88 Estruturas Alge´bricas f4 ◦ f5 = (1 2 3 2 3 1 ) ◦ ( 1 2 ©3 3 1 2 ) = ( 1 2 ©3 1 2 3 ) = I = f5 ◦ f4 em que, como exemplo, na composic¸a˜o f4 ◦ f5, observamos que (f4 ◦ f5)(©3 ) = f4(f5(©3 ) = f4(2) = 3 . Justificaremos o procedimento usado acima para compor as permutac¸o˜es apenas observando que escrevendo f1 = ( 1 2 3 2 1 3 ) queremos dizer f1(1) = 2 f1(2) = 1 f1(3) = 3 e escrevendo f3 = ( 1 2 3 1 3 2 ) queremos dizer f3(1) = 1 f3(2) = 3 f3(3) = 2 e assim, conforme assinalado acima, indicando elementos por c´ırculos, sublinhados e quadrados, (f1 ◦ f3)(©1 ) = f1(f3(©1 ) = f1(1) = 2 bem como tambe´m (f4 ◦ f5)(©3 ) = f4(f5(©3 ) = f4(2) = 3 Observe tambe´m que para inverter uma permutac¸a˜o, dada na forma tabular, basta permutar suas duas linhas, isto e´, copia´-la de “cabec¸a para baixo”, e enta˜o reordenar as colunas segundo a reordenac¸a˜o dos elementos da primeira linha, como nos seguintes exemplos em S3: f−14 = ( 1 2 3 2 3 1 )−1 = ( 2 3 1 1 2 3 ) = ( 1 2 3 3 1 2 ) = f5 bem como f−13 = ( 1 2 3 1 3 2 )−1 = ( 1 3 2 1 2 3 ) = ( 1 2 3 1 3 2 ) = f3 Certifique-se de que voceˆ sabe calcular as entradas da ta´bua do grupo S3 dada acima! Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 89 5.2.2 Problemas Complementares 1. Seja G = {a1, a2, . . . , an} um grupo abeliano. Mostre que sendo x = a1 · a2 · · · an, enta˜o x2 = e. 2. Sejam (G, ∗) e (G′,unionsqu) dois grupos. Define-se o produto direto dos grupos G e G′ como sendo o grupo (G × G′, ◦), sendo ◦ a operac¸a˜o em G × G′ definida por (a, b) ◦ (c, d) = (a ∗ c, bunionsqu d), ∀(a, b), (c, d) ∈ G×G′. Mostre que (G × G′, ◦) e´ de fato um grupo, de elemento neutro (e, e′), sendo e e e′ os elementos neutros de G e G′, respectivamente. Note que se |G| = m e |G′| = n enta˜o |G×G′| = mn = |G| · |G′|. 3. Mostre que cada uma das estruturas alge´bricas dadas abaixo e´ um grupo. Classifique cada grupo como sendo abeliano ou na˜o. Nota. Em cada um dos itens abaixo voceˆ devera´ mostrar: (1o) que · (ou ◦) e´ de fato uma operac¸a˜o no conjunto G dado, isto e´, que x ∈ G e y ∈ G⇒ x · y( ou x ◦ y) ∈ G (2o) que a operac¸a˜o definida em G e´ associativa e possui elemento neutro em G; (3o) que cada elemento x ∈ G possui um elemento inverso na operac¸a˜o dada e que esse inverso e´ um elemento de G. (a) ©^. . (G, ·), sendo G = {X ∈M(2,R) | detX 6= 0} e · e´ a operac¸a˜o multiplicac¸a˜o de matrizes. [Sugesta˜o simplificadora: Admita, a priori, que a multiplicac¸a˜o de ma- trizes e´ associativa]. (b) ©. . (G, ◦), sendo G = {fa,b | a, b ∈ R e a 6= 0} em que, para cada a ∈ R, a 6= 0, e cada b ∈ R, fa,b e´ a func¸a˜o R→ R definida por fa,b(x) = ax+ b e ◦ e´ a operac¸a˜o composic¸a˜o de func¸o˜es. [Sugesta˜o simplificadora: Admita, a priori, que a composic¸a˜o de func¸o˜es e´ associativa]. (c) ©. . (S1, ·), sendo S1 = {z ∈ C | z = cos θ + isen θ, θ ∈ R} e · e´ a multiplicac¸a˜o de nu´meros complexos. [Sugesta˜o simplificadora: Admita, a priori, que a multiplicac¸a˜o de nu´meros complexos (veja sec¸a˜o 4.5.2) e´ associativa]. 90 Estruturas Alge´bricas (d) ©. . (G, ·), sendo G = {a+ b √ 2 | a, b ∈ Q, a 6= 0 ou b 6= 0} sendo · a multiplicac¸a˜o de nu´meros reais. [Sugesta˜o simplificadora: Use o fato de que a multiplicac¸a˜o de nu´meros reais e´ comutativa e associativa]. 5.3 Subgrupos Definic¸a˜o 5.5 Sejam (G, ∗) um grupo e H um subconjunto de G. Dizemos que H e´ um subgrupo de G se 1. H e´ fechado na operac¸a˜o ∗, isto e´, ∀a, b ∈ G, a ∈ H e b ∈ H ⇒ a ∗ b ∈ H 2. A estrutura algebrica (H, ∗) e´ um grupo. Exemplo 5.4 Considere (Z12,+), o grupo aditivo do anel dos inteiros mo´dulo 12, e seu subconjunto H = {0, 3, 6, 9}. Enta˜o H e´ fechado na adic¸a˜o de Z12, como se pode constatar pela seguinte ta´bua: + 0 3 6 9 0 0 3 6 9 3 3 6 9 0 6 6 9 0 3 9 9 0 3 6 Como se veˆ, se a, b ∈ H enta˜o a+ b = a+ b esta´ em H. Ale´m disso, e´ fa´cil ver que (H,+) e´ tambe´m um grupo — a adic¸a˜o de H e´ associativa, visto que e´ restric¸a˜o da adic¸a˜o em Z12 —, de elemento neutro 0, sendo os opostos (inversos aditivos) de 3, 6 e 9 iguais a 9, 6 e 3, respectivamente. Proposic¸a˜o 5.3 Sejam (G, ∗) um grupo e H um subgrupo de G. 1. Se eG e eH sa˜o os elementos neutros de ∗ em G e em H, respectivamente, enta˜o eG = eH . 2. Para cada x ∈ H, sejam x′ e x̂ os elementos inversos de x em G e em H, respectivamente. Enta˜o x′ = x̂. Demonstrac¸a˜o.. Sejam eG, eH , x ′ e x̂ como no enunciado. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 91 1. Como eG e´ o elemento neutro de ∗ em G, e eH ∈ G, temos eG ∗ eH = eH Por outro lado, sendo eH o elemento neutro de ∗ em H, eH ∗ eH = eH Logo, eG ∗ eH = eH ∗ eH . Pelas leis do cancelamento em G (proposic¸a˜o 5.2), eG = eH . 2. Por hipo´tese, x ∗ x′ = eG e x ∗ x̂ = eH Pelo item 1, demonstrado acima, eG = eH , logo x ∗ x′ = x ∗ x̂ de onde, pelas leis do cancelamento em G, x′ = x̂, . Observac¸a˜o 5.5 As propriedades enunciadas na proposic¸a˜o 5.3 podem na˜o ser va´lidas se a estrutura (G, ∗) na˜o e´ um grupo. Por exemplo, podemos definir o conceito de sub-mono´ide de um mono´ide (M, ∗), como sendo um subconjunto S de M , tal que S e´ fechado na operac¸a˜o ∗ e (S, ∗) e´ tambe´m um mono´ide. Nesse caso, o elemento neutro de ∗ em S pode na˜o coincidir com o elemento neutro de ∗ em M . Para ver isto, consideremos o mono´ide multiplicativo (Z20, ·), sendo · a mul- tiplicac¸a˜o do anel (Z20,+, ·). Como sabemos, Z20 = {0, 1, 2, . . . , 18, 19}, sendo 1 o elemento neutro da multiplicac¸a˜o em Z20. Consideremos agora o subconjunto de Z20, S = {0, 5, 10, 15}. Pela tabela de multiplicac¸a˜o · 0 5 10 15 0 0 0 0 0 5 0 5 10 15 10 0 10 0 10 15 0 15 10 5 observamos que 1. S e´ fechado na operac¸a˜o multiplicac¸a˜o, “herdada” de Z20. 2. eS = 5 e´ o elemento neutro da multiplicac¸a˜o de S. Como a multiplicac¸a˜o de Z20 e´ associativa, (S, ·) e´ um mono´ide. Embora sub- conjunto do mono´ide Z20, S tem elemento neutro eS = 5, diferente do elemento neutro de · em Z20. Notamos ainda que 15 e´ invert´ıvel em S, pois 15 · 15 = 5 = eS, na˜o sendo pore´m invert´ıvel em Z20, ja´ que mdc (20, 15) 6= 1. 92 Estruturas Alge´bricas Proposic¸a˜o 5.4 Sejam (G, ∗) um grupo e H um subgrupo de G. Seja e ∈ G o elemento neutro de ∗. Para cada a ∈ G, seja a′ o inverso de a na operac¸a˜o ∗. Enta˜o H e´ um subgrupo de G se, e somente se, satisfaz a`s seguintes condic¸o˜es: 1. e ∈ H 2. ∀a, b ∈ G, se a ∈ H e b ∈ H enta˜o a ∗ b ∈ H 3. ∀a ∈ G, se a ∈ H enta˜o a′ ∈ H. Demonstrac¸a˜o.. Suponhamos que H e´ subgrupo de G. Enta˜o, pela definic¸a˜o de subgrupo, definic¸a˜o 5.5, H e´ fechado na operac¸a˜o ∗ de G. Logo, o item 2 acima e´ satisfeito. Pela proposic¸a˜o 5.3, o elemento neutro e de ∗ em G esta´ em H, pois eH = eG = e, logo temos o item 1. Ale´m disso, se a ∈ H e â e´ seu inverso em H, na operac¸a˜o ∗, enta˜o, pela proposic¸a˜o 5.3, â = a′, logo a′ ∈ H, e assim temos o item 3. Logo, se H e´ subgrupo de G enta˜o valem as condic¸o˜es 1, 2 e 3. Reciprocamente, suponhamos que H ⊂ G satisfaz 1, 2 e 3. Enta˜o, pelo item 2, ∗ e´ uma operac¸a˜o em H, associativa pois ja´ o era em G. Como e ∈ H (item 1), ∗ possui elemento neutro em H. Pelo item 3, cada elemento a ∈ H tem um inverso a′, tambe´m em H, relativamente a` operac¸a˜o ∗. Logo, pelas condic¸o˜es 1, 2 e 3, H e´ subgrupo de G. Proposic¸a˜o 5.5 Seja (G, ∗) um grupo de elemento neutro e. Para cada a ∈ G, seja a′ ∈ G seu inverso na operac¸a˜o ∗. Seja H um subconjunto de G. Enta˜o H e´ subgrupo de G ⇔ { (1) H 6= ø, e (2) Se a, b ∈ H enta˜o a ∗ b′ ∈ H Demonstrac¸a˜o.. (⇒) Se H e´ um subgrupo de G, enta˜o e ∈ H, logo H 6= ø. Ale´m disso, se a, b ∈ H, enta˜o, pela proposic¸a˜o 5.4, b′ ∈ H. Logo a, b′ ∈ H, e como H e´ fechado na operac¸a˜o ∗, temos a ∗ b′ ∈ H. (⇐) Suponhamos agoraque H e´ um subconjunto de G, satisfazendo (1) e (2). Sendo H 6= ø, tome um elemento x ∈ H. Por (2), temos x ∗ x′ ∈ H, logo e ∈ H. Sendo a um elemento qualquer de H, como e ∈ H, temos, por (2), e ∗ a′ ∈ H, logo a′ ∈ H. Finalmente, se a, b ∈ H, enta˜o b′ ∈ H, conforme acabamos de demonstrar, e enta˜o, novamente por (2), a ∗ (b′)′ ∈ H (sendo (b′)′ o elemento inverso de b′ em G, que e´ b), logo a ∗ b ∈ H. Assim, H satisfaz as condic¸o˜es 1, 2 e 3 da proposic¸a˜o 5.4, e portanto e´ subgrupo de G. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 93 Em vista da observac¸a˜o 5.3, para a proposic¸a˜o 5.5, temos as seguintes adap- tac¸o˜es notacionais para grupos aditivos e para grupos multiplicativos: 1. Sejam (G,+) um grupo (abeliano) e H um subconjunto na˜o vazio de G. Enta˜o, H e´ um subgrupo de G se, e somente se, ∀a, b ∈ H, tem-se a−b ∈ H (a− b significa a+ (−b)). 2. Sejam (G, ·) um grupo e H um subconjunto na˜o vazio de G. Enta˜o, H e´ um subgrupo de G se, e somente se, ∀a, b ∈ H, tem-se ab−1 ∈ H. Exemplo 5.5 (O grupo dos elementos invert´ıveis de um anel) Se (A,+, ·) e´ um anel com unidade 1A, o conjunto UA dos seus elementos in- vert´ıveis formam um grupo multiplicativo: 1. 1A ∈ UA 2. Se a e b sa˜o elementos invert´ıveis do anel A, enta˜o b−1 tambe´m e´ invert´ıvel e, como o produto de elementos invert´ıveis e´ invert´ıvel, temos que ab−1 ∈ UA Logo, pela proposic¸a˜o 5.5, UA e´ de fato um grupo. Exemplo 5.6 No caso do anel (Zm,+, ·), denotamos por Um o grupo UZm dos seus elementos invert´ıveis. Pela proposic¸a˜o 4.6, temos Um = {a | mdc (a,m) = 1} Assim, por exemplo, o grupo multiplicativo dos elementos invert´ıveis de Z20 e´ o grupo de ordem 8, U20 = {1, 3, 7, 9, 11, 13, 17, 19}. Exemplo 5.7 Consideremos agora o grupo multiplicativo UM(2,R) das matrizes invert´ıveis do anel M(2,R), exemplo 4.3. UM(2,R) e´ habitualmente denotado por GL(2,R). Conforme vimos no exemplo 4.3, UM(2,R) = GL(2,R) = {X ∈M(2,R) | detX 6= 0} Consideremos agora o subconjunto de GL(2,R), H = {( a b −b a ) ∣∣∣∣ a 6= 0 ou b 6= 0} Mostraremos que H e´ subgrupo de GL(2,R), aplicando a proposic¸a˜o 5.5. Notemos primeiramente que se X = ( a b −b a ) , com a, b ∈ R, e com a 6= 0 ou b 6= 0, enta˜o detX = a2 + b2 > 0, e portanto X e´ invert´ıvel, logo X ∈ GL(2,R). Portanto, H ⊂ GL(2,R) e, obviamente, H 6= ø, pois, por exemplo, ( 1 1−1 1) ∈ H. 94 Estruturas Alge´bricas Tomemos agora, X = ( a b −b a ) e Y = ( c d −d c ) , ambos em H (isto e´, com a2 + b2 6= 0 e c2 + d2 6= 0). Um ca´lculo simples nos da´ Y −1 = ( c/(c2 + d2) −d/(c2 + d2) d/(c2 + d2) c/(c2 + d2) ) Logo, XY −1 = ( a b −b a )( c/(c2 + d2) −d/(c2 + d2) d/(c2 + d2) c/(c2 + d2) ) = ( (ac+ bd)/(c2 + d2) (−ad+ bc)/(c2 + d2) (−bc+ ad)/(c2 + d2) (bd+ ac)/(c2 + d2) ) = ( α β −β α ) sendo α = (ad+ bc)/(c2 + d2) e β = (−ad+ bc)/(c2 + d2). Ale´m disso, α 6= 0 ou β 6= 0, pois α2 + β2 = det(XY −1) = (detX)(detY −1) = (detX)(detY )−1 = a2 + b2 c2 + d2 > 0 Portanto, se X ∈ H e Y ∈ H enta˜o XY −1 ∈ H. Logo, pela proposic¸a˜o 5.5, H e´ subgrupo de GL(2,R). 5.3.1 Problemas Complementares 1. Verifique, em cada um dos itens abaixo, se H e´ subgrupo de G. (a) H = {( cos θ sen θ −sen θ cos θ ) ∣∣∣ θ ∈ R}, (G, ∗) = (GL(2,R), ·). (b) H = {z ∈ C | |z| = 1}, (G, ∗) = (C∗, ·), sendo C∗ = C − {0} e · a multiplicac¸a˜o em C. (c) H = {0, 3, 6, 9, 12}, (G, ∗) = (Z15,+). (d) H = {a + b√2 | a, b ∈ Q, e a + b√2 6= 0}, (G, ∗) = (R∗, ·), sendo R∗ = R− {0}. (e) H = {a + b 3√2 | a, b ∈ Q, e a + b 3√2 6= 0}, (G, ∗) = (R∗, ·), sendo R∗ = R− {0}. 2. Sejam G um grupo e H1 e H2 dois subgrupos de G. Mostre que (a) H1 ∩H2 e´ subgrupo de G Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 95 (b) H1 ∪H2 e´ subgrupo de G ⇔ H1 ⊂ H2 ou H2 ⊂ H1 3. Seja G um grupo finito e seja H um subconjunto na˜o vazio de G. Mostre que H e´ subgrupo de G se e somente se H e´ fechado na operac¸a˜o de G. [Sugesta˜o: Mostre que, para cada elemento a ∈ H, existe um inteiro positivo n tal que an = e.] Mostre que esta propriedade na˜o se mante´m se G e´ infinito. 4. Sejam G um grupo multiplicativo e seja H um subgrupo de G. Mostre que se x ∈ G, enta˜o xHx−1 e´ tambe´m um subgrupo de G, sendo xHx−1 = {xhx−1 | h ∈ H}. 5.4 Grupos C´ıclicos e seus Subgrupos Definic¸a˜o 5.6 (Poteˆncias de elementos de um grupo) Seja (G, ∗) um grupo, de elemento neutro e. Para cada x ∈ G, denotemos por x−1 o inverso de x em G. Sendo a ∈ G e n ∈ Z, define-se a poteˆncia de base a e expoente n, denotada por an, como sendo o elemento de G definido por: 1. Se n = 0, an = a0 = e; 2. Para cada n ∈ N, an+1 = an ∗ a; 3. Para cada n ∈ N, a−n = (an)−1. Note que, de acordo com a definic¸a˜o 5.6, an esta´ definido para cada n natural, pois esta´ definido para n = 0 e, uma vez definido para n = k, pelo item 2 esta´ tambe´m definido para n = k+ 1. O item 3 estende a definic¸a˜o de an para valores inteiros negativos de n. Assim, por exemplo, sendo (G, ∗) um grupo de elemento neutro e, e sendo a um elemento de G, pela definic¸a˜o 5.6, a1 = a0 ∗ a = e ∗ a = a; a2 = a1 ∗ a = a ∗ a; a3 = a2 ∗ a = (a ∗ a) ∗ a (e denotamos a3 = a ∗ a ∗ a pois ∗ e´ associativa) Note tambe´m que a−1 tem duplo significado notacional, podendo ser tanto o inverso de a, como a poteˆncia de base a e expoente −1 — sendo tudo a mesma coisa pois, interpretado como poteˆncia, a−1 e´ o elemento inverso de a1 e a1 = a. a−2 = (a2)−1 = (a ∗ a)−1 = a−1 ∗ a−1 a−3 = a−1 ∗ a−1 ∗ a−1 96 Estruturas Alge´bricas Proposic¸a˜o 5.6 Sejam (G, ∗) um grupo de elemento neutro e. Para cada x ∈ G, denotemos por x−1 o inverso de x em G. Enta˜o, para quaisquer a, b ∈ G, e quaisquer m,n ∈ Z, temos: 1. am ∗ an = am+n 2. (an)−1 = a−n 3. (am)n = amn 4. Se G e´ um grupo comutativo, (a ∗ b)n = an ∗ bn Demonstrac¸a˜o.. A demonstrac¸a˜o dos quatro itens e´ deixada como exerc´ıcio. Sug- esta˜o: Prove cada item, primeiramente para n ∈ N, por induc¸a˜o sobre n (con- siderando um valor fixo e gene´rico para m, quando for o caso). Em seguida, prove cada item para n < 0 fazendo, neste caso, n = − |n|. Para isto, sera´ necessa´rio ainda provar o item 1, para m ∈ N, por induc¸a˜o sobre m. Definic¸a˜o 5.7 (Mu´ltiplos de elementos de um grupo aditivo) Seja (G,+) um grupo, de elemento neutro 0. Sendo a ∈ G e n ∈ Z, define-se o mu´ltiplo de a com coeficiente n, denotado por na, como sendo o elemento de G definido por: 1. Se n = 0, na = 0a = 0; 2. Para cada n ∈ N, (n+ 1)a = na+ a; 3. Para cada n ∈ N, (−n)a = −(na). Assim, por exemplo, sendo G um grupo aditivo, se a ∈ G, pela definic¸a˜o 5.7, 1a = (0 + 1)a = 0a+ a = 0 + a = a; 2a = (1 + 1)a = 1a+ a = a+ a; 3a = (2 + 1)a = 2a+ a = (a+ a) + a (e denotamos 3a = a+ a+ a pela associatividade de +) (−1)a = −(1a) = −a (−2)a = −(2a) = −(a+ a) = −a+ (−a) = −a− a Abaixo enunciamos a versa˜o “aditiva” da proposic¸a˜o 5.6. Proposic¸a˜o 5.7 Seja G um grupo aditivo. Para quaisquer a, b ∈ G, e quaisquer m,n ∈ Z, temos: 1. (m+ n)a = ma+ na Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 97 2. −(na) = (−n)a 3. (mn)a = m(na) 4. n(a+ b) = na+ nb 98 Estruturas Alge´bricas Proposic¸a˜o 5.8 1. Seja (G, ∗) um grupo e seja a um elemento de G. O conjunto das poteˆncias de base a e expoentes inteiros, H = {an | n ∈ Z} e´ um subgrupo de G. 2. Seja G um grupo aditivo e seja a ∈ G. O conjunto dos mu´ltiplos inteiros de a, K = {na | n ∈ Z} e´ um subgrupo de G. Demonstrac¸a˜o.. Provamos o item 1 e deixamos o caso aditivo, item 2, como exerc´ıcio. Sendo e o elemento neutro de G, temos que a0 = e, logo e ∈ H. Dados x, y ∈ H, temos x = am e y = an, para certos inteiros m e n. Enta˜o, pela proposic¸a˜o 5.6, x ∗ y−1 = am ∗ (an)−1 = am ∗ a−n = am+(−n) = am−n logo x ∗ y−1 ∈ H. Pela proposic¸a˜o 5.5, H e´ subgrupo de G. Definic¸a˜o 5.8 (Grupo c´ıclico)Seja (G, ∗) (ou (G,+)) um grupo e seja a ∈ G. O subgrupo de G, H = {an | n ∈ Z} (ou, respectivamente, H = {na | n ∈ Z}) e´ chamado grupo c´ıclico gerado por a. Tal grupo e´ denotado por H = 〈a〉 Assim, 〈a〉 = {am | m ∈ Z} ou, caso o grupo seja aditivo, 〈a〉 = {ma | m ∈ Z} (Se existe b ∈ G tal que G = 〈b〉, G e´ ele pro´prio um grupo c´ıclico, gerado por b). Exemplo 5.8 Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 99 1. (Z,+) e´ um grupo c´ıclico pois, para cada n ∈ Z, n = n · 1, logo Z = {n · 1 | n ∈ Z} = 〈1〉. 2. (Zm,+) tambe´m e´ um grupo c´ıclico gerado por 1: se ∀n ∈ Zm, (n ∈ Z), n = n · 1. Proposic¸a˜o 5.9 Seja G = 〈a〉 um grupo c´ıclico finito de ordem |G| = n. Enta˜o, se G e´ multiplicativo, teremos G = {e, a, a2, . . . , an−1} sendo aj 6= e para j = 1, . . . , n− 1, e an = e. No caso em que G e´ um grupo aditivo, G = {0, a, 2a, . . . , (n− 1)a}, sendo (n− 1)a 6= 0 e na = 0. Demonstrac¸a˜o.. Sendo G = 〈a〉 finito, temos que o conjunto P = {a, a2, a3, a4, . . .} = {am |m ∈ Z,m > 0} e´ finito, por ser subconjunto de G. Assim, existem expoentes inteiros positivos m1 e m2, com m1 < m2 e am1 = am2 . Logo, am2−m1 = am2 · a−m1 = am2 · (am1)−1 = am1 · (am1)−1 = e. Como m2 − m1 > 0, conclu´ımos que existe um inteiro positivo k tal que ak = e. Seja s o menor dos inteiros positivos k satisfazendo ak = e. Enta˜o as = e e aj 6= e para j = 1, . . . , s− 1. Mostraremos que G = {e, a, a2, . . . , as−1}. De fato, seja x um elemento qualquer de G. Como G = 〈a〉, temos x = am, para algum inteiro m. Pelo teorema do algoritmo da divisa˜o em Z, teorema 2.1, m = sq + r, para certos inteiros q e r, com 0 ≤ r < s. Logo x = am = asq+r = (as)q · ar = eq · ar = e · ar = ar Como 0 ≤ r ≤ s− 1, temos x ∈ {e, a, a2, . . . , as−1}. Logo, G ⊂ {e, a, a2, . . . , as−1} e portanto, G = {e, a, a2, . . . , as−1}. Os elementos do conjunto {e, a, . . . , as−1} sa˜o distintos entre si, pois caso contra´rio teremos aλ = e para algum inteiro positivo λ, com λ < s. Logo, |G| = s e portanto n = s. Assim sendo, G = {e, a, . . . , an−1}, sendo an = e. Ale´m disso, aj 6= e para j = 1, . . . , n− 1. Proposic¸a˜o 5.10 Todo subgrupo de um grupo c´ıclico e´ tambe´m c´ıclico. Mais precisamente, se (G, ∗) e´ um grupo c´ıclico gerado por a, e H e´ um subgrupo de 100 Estruturas Alge´bricas G, enta˜o H = {e} = 〈e〉 (sendo e o elemento neutro de ∗) ou H = 〈as〉, sendo s o menor dos expoentes positivos n satisfazendo an ∈ H. No caso aditivo, isto e´, se ∗ = +, temos H = {0} = 〈0〉 ou H = 〈sa〉, sendo s = min{n ∈ Z | n > 0 e an ∈ H}. Demonstrac¸a˜o.. (O caso aditivo e´ deixado como exerc´ıcio) Como G = 〈a〉 = {am | m ∈ Z}, temos que os elementos de H sa˜o certas poteˆncias de a. Sendo H um subgrupo de G, podemos ter H = {e}, caso em que H = 〈e〉. Se H 6= {e}, existe um expoente inteiro `, ` 6= 0, tal que a` ∈ H. Nesse caso a` e a−` (= (a`)−1) esta˜o ambos em H. Logo, a|`| ∈ H, e assim existe um expoente positivo n tal que an ∈ H. Consideremos o conjunto S = {n ∈ Z | n > 0 e an ∈ H} S 6= ø (|`| ∈ S) e S ⊂ N. Pelo princ´ıpio do menor inteiro, S possui um menor elemento s. Mostraremos que H e´ um grupo c´ıclico gerado por as. Dado x ∈ H, temos x = am para algum inteiro m. Sendo s > 0, pelo algoritmo da divisa˜o em Z, existem q, r ∈ Z, tal que m = sq + r, sendo 0 ≤ r < s Da´ı, r = m− sq, e enta˜o ar = am−sq = am ∗ a−sq = am ∗ ((as)q)−1 Como x = am ∈ H e y = as ∈ H, temos que ar = x ∗ y−1 ∈ H. Logo, r = 0, pois 0 ≤ r < s e s e´ o menor dos expoentes positivos n tal que an ∈ H. Assim, m = sq e enta˜o x = am = asq = (as)q ∈ 〈as〉. Logo, H ⊂ 〈as〉. A inclusa˜o contra´ria tambe´m se verifica: como as ∈ H, temos que (as)q ∈ H, para cada q ∈ Z, logo 〈as〉 ⊂ H. Portanto H = 〈as〉. Corola´rio 5.1 1. Todo subgrupo de (Z,+) e´ c´ıclico. Ademais, se H e´ subgrupo de Z, enta˜o H = {0} = 〈0〉 ou H = 〈a〉 = {ma | m ∈ Z}, sendo a o menor inteiro positivo em H. 2. Todo subgrupo de (Zm,+) e´ c´ıclico. Se H e´ subgrupo de Zm, enta˜o H = {0} = 〈0〉 ou H = 〈a〉, sendo a o menor dos inteiros positivos n tal que n ∈ H. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 101 Exemplo 5.9 Em vista do corola´rio 5.1, podemos fazer uma lista completa dos subgrupos de Z, sendo eles H0 = 〈0〉 = {0}, H1 = 〈1〉 = Z, H2 = 〈2〉 = 2Z = {2m | m ∈ Z} = {. . . ,−4,−2, 0, 2, 4, 6, . . .}, H3 = 〈3〉 = 3Z = {3m | m ∈ Z} = {. . . ,−6,−3, 0, 3, 6, 9, . . .}, etc. Tambe´m podemos fazer uma lista dos subgrupos de (Z12,+), os quais sa˜o H0 = 〈0〉 = {0}, H1 = 〈1〉 = Z12, H2 = 〈2〉 = {0, 2, 4, 6, 8, 10}, H3 = 〈3〉 = {0, 3, 6, 9}, H4 = 〈4〉 = {0, 4, 8}, e H6 = 〈6〉 = {0, 6}. O leitor podera´ verificar que 〈5〉 = 〈7〉 = 〈11〉 = 〈1〉 = Z12, 〈8〉 = 〈4〉, e que 〈9〉 = 〈3〉. Portanto, (Z12,+) tem exatamente 6 subgrupos. 5.4.1 Problemas Complementares 1. Demonstre a proposic¸a˜o 5.6. 2. Determine os 4 subgrupos de (Z6,+). Determine tambe´m os 6 subgrupos de grupo (S3, ◦). Note que |Z6| = |S3| = 6. (|G| denota a ordem (nu´mero de elementos) do grupo G, conforme estabelecido no cap´ıtulo 3.) 3. Determine os subgrupos do grupo multiplicativo U20 (exemplo 5.6). 4. Sejam a e b inteiros, e considere os subgrupos 〈a〉 e 〈b〉 de (Z,+). Mostre que 〈a〉 ⊂ 〈b〉 ⇔ b|a 5. Mostre que, sendo a, b e m inteiros, (m ≥ 2), (a) se a|b enta˜o, como subgrupos de Zm, 〈b〉 ⊂ 〈a〉; (b) se mdc (a,m) = 1, enta˜o 〈a〉 = Zm; (c) se mdc (a,m) = d, enta˜o 〈a〉 = 〈d〉. (d) De posse das informac¸o˜es acima, determine todos os subgrupos de (Z36,+). (e) Mostre que se (G, ·) e´ um grupo de ordem 2, enta˜o G e´ c´ıclico. (f) Mostre que se (G, ·) e´ um grupo de ordem 3, enta˜o G e´ c´ıclico. [Sug- esta˜o: Sendo G = {e, a, b}, e o elemento neutro de G, pense sobre o que poderia ser o elemento ab.] 102 Estruturas Alge´bricas (g) Sendo (G, ·) um grupo de elemento neutro e, mostre que se x2 = e, para cada x em G, enta˜o G e´ abeliano. [Sugesta˜o: Note que x2 = e ⇒ x−1 = x. Tome dois elementos quais- quer a e b em G e comece escrevendo ab = (ab)−1 = . . .] 5.5 Homomorfismos de Grupos Frequ¨entemente dois grupos, aparentemente diferentes, comportam-se como se fossem um mesmo grupo. Considere por exemplo, os grupos aditivos G = Z3 = {[0], [1], [2]}, e o subgrupo G′ = {0, 2, 4} de Z6. Neste exemplo, para a ∈ Z, denotamos por [a] e a as classes de congrueˆncia de a, mo´dulo 3 e mo´dulo 6, respectivamente, para evitar confusa˜o. Estabelecendo-se a seguinte correspondeˆncia biun´ıvoca entre G e G′, [0] ↔ 0 [1] ↔ 4 [2] ↔ 2 notamos que tal correspondeˆncia preserva somas, ou seja, [1] + [1] = [2] corre- sponde a 4 + 4 = 2, [1] + [2] = [0] corresponde a 4 + 2 = 0, [2] + [2] = [1] corresponde a 2 + 2 = 4, etc., ou seja, a soma de elementos de G corresponde a` soma dos elementos correspondentes em G′. Neste caso, dizemos que G e G′ sa˜o grupos isomorfos pois, embora com “roupagens” diferentes, comportam-se como se fossem um so´ grupo. Definic¸a˜o 5.9 Sejam (G, ∗) e (G′,unionsqu) dois grupos. Uma func¸a˜o f :G → G′ e´ chamada um isomorfismo entre G e G′, se: 1. f e´ uma func¸a˜o bijetora, e 2. ∀x, y ∈ G, f(x ∗ y) = f(x)unionsqu f(y) Um conceito ba´sico menos exigente que o de isomorfismo e´ o de homomor- fismo de grupos. Definic¸a˜o 5.10 Sejam (G, ∗) e (G′,unionsqu). Uma func¸a˜o f :G → G′ e´ chamada um homomorfismo de grupos, se: f(x ∗ y) = f(x)unionsqu f(y),∀x, y ∈ G Definic¸a˜o 5.11 Sendo f :G→ G′ um homomorfismo de grupos, dizemos que 1. f e´ um monomorfismo se f e´ func¸a˜o injetora; 2. f e´ um epimorfismo se f e´ func¸a˜o sobrejetora; Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 103 3. f e´ um automorfismo se f e´ um isomorfismo e (G, ∗) = (G′,unionsqu). (Obviamente, um isomorfismo e´ simultaneamente um monomorfismo e um epi- morfismo). Definic¸a˜o 5.12 Sendo f : (G, ∗)→ (G′,unionsqu) um homomorfismo de grupos, define- se o nu´cleo ou kernel do homomorfismo f como sendo o conjunto K = Ker(f)= {x ∈ G | f(x) = e′} sendo e′ o elemento neutro de G′. Proposic¸a˜o 5.11 Seja f : (G, ∗) → (G′,unionsqu) um homomorfismo de grupos, e seja e o elemento neutro de G. Enta˜o f e´ um monomorfismo se, e somente se, Ker(f) = {e} Observac¸a˜o 5.6 Se dois grupos (G, ∗) e (G′,unionsqu) sa˜o isomorfos, ou seja, se existe um isomorfismo de grupos f :G→ G′, denotamos (G, ∗) ∼= (G′,unionsqu) A`s vezes, denotamos simplesmente G ∼= G′. Se queremos deixar expl´ıcito o isomorfismo f entre G e G′, podemos denotar G f∼= G′ ou (G, ∗) f∼= (G,unionsqu) Proposic¸a˜o 5.12 Seja f : (G, ∗)→ (G′,unionsqu) um homomorfismo de grupos. 1. Sendo eG e eG′ os elementos neutros de G e G ′, respectivamente, tem-se f(eG) = eG′ ; 2. ∀x ∈ G, f(x−1) = [f(x)]−1; 3. Ker(f) e´ subgrupo de G; 4. O conjunto Im(f) = f(G) = {f(x) | x ∈ G} e´ subgrupo de G′; 5. Se H e´ subgrupo de G enta˜o f(H) = {f(x) | x ∈ H} e´ subgrupo de G′; 6. Se H = 〈a〉, enta˜o f(H) = 〈f(a)〉. Demonstrac¸a˜o.. 104 Estruturas Alge´bricas 1. Sendo a = f(eG), temos que aunionsqu a = f(eG)unionsqu f(eG) = f(eG ∗ eG) = f(eG) = a Assim, aunionsqu a = a = aunionsqu eG′ , logo a = eG′ , ou seja, f(eG) = eG′ . 2. Para x ∈ G, f(x)unionsqu f(x−1) = f(x ∗ x−1) = f(eG) = eG′ . Logo, em G′, o elemento inverso de f(x) e´ f(x−1), ou seja, [f(x)]−1 = f(x−1). 3. Primeiramente, observamos que eG ∈ Ker(f), pois f(eG) = eG′ . Em seguida, tomando x, y ∈ Ker(f), temos f(x) = f(y) = eG′ . Logo, f(x ∗ y−1) = f(x)unionsqu f(y−1) = f(x)unionsqu [f(y)]−1 = eG′ unionsqu (eG′)−1 = eG′ logo x ∗ y−1 ∈ Ker(f). Pela proposic¸a˜o 5.5, Ker(f) e´ subgrupo de G. 4. Primeiramente, observamos que eG′ ∈ Im(f), pois eG′ = f(eG). Em seguida, tomando z, w ∈ Im(f), temos z = f(a) e w = f(b) para certos elementos a e b de G. Logo, z unionsquw−1 = f(a)unionsqu [f(b)]−1 = f(a)unionsqu f(b−1) = f(a ∗ b−1) e assim z unionsquw−1 ∈ Im(f). Pela proposic¸a˜o 5.5, Im(f) e´ subgrupo de G′. A prova dos demais itens e´ deixada para o leitor. Exemplo 5.10 Seja i a unidade imagina´ria dos nu´meros complexos e seja G = {1, i,−1,−i} E´ fa´cil ver que, sendo · a multiplicac¸a˜o de nu´meros complexos, (G, ·) e´ um grupo, sendo i−1 = −i. Considere o grupo aditivo (Z4,+) dos inteiros mo´dulo 4, e a func¸a˜o f :Z4 → G definida por f(m) = im, ∀m ∈ Z. Notemos primeiramente que f e´ bem definida, isto e´, m = n ⇒ im = in. De fato: m = n ⇒ m ≡ 4 n ⇒ 4|(m− n) ⇒ m− n = 4q, para algum q ∈ Z ⇒ m = n+ 4q logo, im = in+4q = in · i4q = in · (i4)q = in · 1q = in · 1 = in Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 105 E´ fa´cil ver que f e´ bijetora, pois f(0) = i0 = 1, f(1) = i1 = i, f(2) = i2 = −1 e f(3) = i3 = −i. Ale´m disso, f e´ um homomorfismo de grupos, pois f(m+ n) = f(m+ n) = im+n = im · in = f(m) · f(n) Portanto, f e´ um isomorfismo entre (Z4,+) e (G, ·). Teorema 5.1 Sejam (G, ∗), (G′,unionsqu) e (G′′, ◦) treˆs grupos. Enta˜o 1. A aplicac¸a˜o (func¸a˜o) identidade idG:G→ G e´ um isomorfismo. Ou seja, G id∼= G 2. Se f :G → G′ e´ um isomorfismo enta˜o a aplicac¸a˜o inversa f−1:G′ → G e´ tambe´m um isomorfismo. Ou seja, G f∼= G′ ⇒ G′ f−1∼= G 3. Se f :G → G′ e h:G′ → G′′ sa˜o isomorfismos, enta˜o h ◦ f :G → G′′ e´ tambe´m um isomorfismo. Ou seja, G f∼= G′ e G′ h∼= G′′ ⇒ G h◦f∼= G′′ 5.5.1 Problemas Complementares 1. Verifique, em cada caso, se f e´ um homomorfismo de grupos: (a) f :Z→ Z, f(m) = km, (k ∈ Z, k 6= 0), sendo Z = (Z,+). (b) f : (R∗, ·)→ (R,+), f(x) = x+ 1. (c) f : (R∗, ·)→ (R,+), f(x) = log |x|. (d) f :Z→ Z× Z, f(n) = (n, 0), sendo Z e Z× Z grupos aditivos. (e) f :Z× Z→ Z, f(m,n) = m− n, sendo Z e Z× Z grupos aditivos. (f) f : (Z,+)→ (Q∗, ·), f(x) = 2x. 2. Determine o kernel (nu´cleo) e a imagem de cada homomorfismo do problema 1. 3. Seja a um elemento (fixado) de um grupo (G, ·). Mostre que a aplicac¸a˜o f :G→ G, definida por f(x) = a · x · a−1, ∀x ∈ G, e´ um isomomorfismo. 4. Neste problema, estabeleceremos o Teorema de Cayley: Todo grupo G e´ isomorfo a um subgrupo do grupo das permutac¸o˜es do conjunto G. Sendo (G, ∗) um grupo, considere o conjunto T (G) = {Tg:G→ G | g ∈ G;Tg(x) = g ∗ x, ∀x ∈ G} A aplicac¸a˜o Tg e´ uma translac¸a˜o a` esquerda, em G, determinada pelo elemento g. 106 Estruturas Alge´bricas (a) Mostre que (T (G), ◦) e´ um grupo (o grupo das translac¸o˜es esquerdas em G). Verifique que T (G) e´ subgrupo do grupo S(G) das permu- tac¸o˜es do conjunto G. (b) Considere a aplicac¸a˜o f : (G, ∗) → (S(G), ◦), definida por f(g) = Tg, ∀g ∈ G. i. Mostre que f e´ um monomorfismo. ii. Mostre que (G, ∗) ∼= (T (G), ◦). Logo, todo grupo G e´ isomorfo a um subgrupo do grupo das permutac¸o˜es do conjunto G. iii. Ilustre o resultado do teorema de Cayley tomando como exemplo o grupo aditivo Z4. Determine as permutac¸o˜es do conjunto Z4 que constituem os elementos do grupo de translac¸o˜es esquerdas T (Z4). iv. Mostre que se G e´ um grupo finito de n elementos, enta˜o G e´ isomorfo a um certo subgrupo do grupo Sn. 5. Seja G um grupo e seja Aut(G) o conjunto dos automorfismos de G (iso- morfismos de G em G). (a) Mostre que (Aut(G), ◦) e´ um grupo (o grupo dos automorfismos de G). (b) Mostre que Aut(Z) ∼= Z2. [Sugesta˜o:Como grupo aditivo Z = 〈1〉. Note inicialmente que, sendo f :Z → Z um automorfismo, teremos f(〈1〉) = 〈f(1)〉 = Z, logo f(1) tambe´m e´ gerador do grupo c´ıclico Z. Deduza que enta˜o f(1) = ±1 e que enta˜o f(m) = m (∀m ∈ Z) ou f(m) = −m (∀m ∈ Z)].] (c) Mostre que, sendo n ≥ 2, |Aut(Zn)| = ϕ(n), sendo ϕ:N∗ → N∗ a func¸a˜o fi de Euler, definida por ϕ(n) = nu´mero de inteiros positivos na˜o excedendo n, primos com n [Sugesta˜o:Vale aqui sugesta˜o ana´loga a` do problema 5b, sendo que aqui teremos f(1) gerador de Zn. Mostre enta˜o que sendo a um inteiro, a e´ gerador do grupo c´ıclico Zn se e somente se a e n sa˜o primos entre si.] (por exemplo ϕ(1) = ϕ(2) = 1, ϕ(3) = ϕ(4) = 2, ϕ(5) = 4, ϕ(6) = 2, ϕ(7) = 6, ϕ(8) = 4). 6. Seja G um grupo. Mostre que a aplicac¸a˜o f :G → G, definida por f(x) = x−1 (∀x ∈ G), e´ um homomorfismo se e somente se G e´ abeliano. 5.6 Classes Laterais de um Subgrupo e o Teo- rema de Lagrange Um dos objetivos desta sec¸a˜o e´ mostrar que se G e´ um grupo finito e H e´ um sub- grupo de G, enta˜o |H| divide |G|, resultado conhecido com teorema de Lagrange. Assim, por exemplo, um grupo G de 10 elementos so´ podera´ vir a ter subgrupos Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 107 de 1, 2, 5 ou 10 elementos (sendo poss´ıvel que G tenha va´rios subgrupos de 2 elementos). Para demonstrar o teorema de Lagrange, sa˜o introduzidas as classes laterais do subgrupo H. No caso especial em que H e´ subgrupo normal, assunto da pro´xima sec¸a˜o, veremos que as classes laterais de H constituem os elementos do grupo quociente de G por H. Definic¸a˜o 5.13 Sejam (G, ∗) um grupo e H um subgrupo de G. Para cada elemento a ∈ G, define-se a classe lateral direita de H, determinada por a, como sendo o conjunto H ∗ a = {h ∗ a |h ∈ H} Analogamente, definimos a ∗H = {a ∗ h |h ∈ H} como sendo a classe lateral esquerda de H, determinada por a. Observac¸a˜o 5.7 Se G e´ um grupo abeliano, enta˜o H ∗ a = a ∗ H, ∀a ∈ G. Pore´m, se G na˜o for abeliano, e´ natural que possamos ter H ∗ a 6= a ∗ H, para certos elementos a de G. No caso em que H ∗a = a∗H, para todo a ∈ G, H e´ chamado um subgrupo normal de G. Exemplo 5.11 Seja (G, ∗) = (Z12,+) e seja H = 〈3〉 = {0, 3, 6, 9}. Quais sa˜o as classes laterais direitas do subgrupo H? Para cada elemento a ∈ Z12 (a ∈ Z), a classe lateral direita de H, determinada por a, e´ definida como sendo o conjunto H + a = {h+ a |h ∈ H}. Enta˜o temos: H + 0 = H = {0, 3, 6, 9} H + 1 = {1, 4, 7, 10} H + 2 = {2, 5, 8, 11} Verifica-se tambe´m que H + 0 = H + 3 = H + 6 = H + 9 H + 1 = H + 4 = H + 7 = H + 10 H + 2 = H + 5 = H + 8 = H + 11 Assim, existemapenas treˆs classes laterais direitas de H em Z12, que sa˜o as classes H + 0, H + 1 e H + 2. 108 Estruturas Alge´bricas Observac¸a˜o 5.8 Se G e´ um grupo e H e´ um subgrupo de G, denotaremos por G/H o conjunto das classes laterais direitas de H. No exemplo acima, G/H = Z12/H = {H,H + 1, H + 2} ou seja, G/H = {{0, 3, 6, 9}, {1, 4, 7, 10}, {2, 6, 8, 11}} Alguns fatos observados no exemplo dado acima, bem como outros fatos ainda na˜o claramente observados, sa˜o enunciados no pro´ximo Teorema 5.2 Sejam (G, ∗) um grupo e H um subgrupo de G. Enta˜o 1. ∀a, b ∈ G, tem-se H ∗ a = H ∗ b⇔ a ∗ b−1 ∈ H Se G e´ um grupo aditivo, temos: H + a = H + b⇔ a− b ∈ H. 2. ∀a, b ∈ G, se b ∈ H ∗ a enta˜o H ∗ b = H ∗ a. 3. Duas classes laterais direitas de H sa˜o iguais ou disjuntas. Isto e´, ∀a, b ∈ G,H ∗ a = H ∗ b ou H ∗ a ∩ H ∗ b = ø Em particular, H ∗ a = H ⇔ a ∈ H. 4. Se H e´ um subgrupo finito, enta˜o, para cada a ∈ G, o nu´mero de elementos da classe lateral direita H ∗ a (que denotaremos tambe´m por |H ∗ a|) e´ precisamente o nu´mero de elementos de H. Ou seja, |H ∗a| = |H|, ∀a ∈ G. 5. A reunia˜o de todas as classes laterais direitas de H e´ igual a G. Simbolica- mente, ⋃ a∈G H ∗ a = G Demonstrac¸a˜o.. Sejam a e b elementos de G. 1. (⇒) Sendo e o elemento neutro de G, temos que a = e ∗ a ∈ H ∗ a Se H ∗ a = H ∗ b enta˜o como a ∈ H ∗ a, temos a ∈ H ∗ b, logo a = h ∗ b, para algum h ∈ H, e enta˜o a ∗ b−1 = h ∈ H. (⇐) Suponhamos agora que a ∗ b−1 ∈ H. Enta˜o temos: i. H ∗ a ⊂ H ∗ b: Tome x ∈ H ∗ a. Temos x = h ∗ a, para algum h ∈ H. Da´ı, x = h∗a = (h∗a)∗ e = (h∗a)∗ (b−1 ∗ b) = (h∗ (a∗ b−1))∗ b Como h ∗ (a ∗ b−1) ∈ H, deduzimos que x ∈ H ∗ b. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 109 ii. H ∗ b ⊂ H ∗ a: Como a∗b−1 ∈ H, temos tambe´m b∗a−1 ∈ H, pois b∗a−1 = (a ∗ b−1)−1. Tome agora x ∈ H ∗ b. Enta˜o x = h ∗ b, para algum h ∈ H. Da´ı, x = h∗ b = (h∗ b)∗ e = (h∗ b)∗ (a−1 ∗a) = (h∗ (b∗a−1))∗a Logo, como h ∗ (b ∗ a−1) ∈ H, temos x ∈ H ∗ a. 2. Suponhamos que b ∈ H ∗ a. Enta˜o b = h ∗ a, para algum h ∈ H, e portanto h = b ∗ a−1, de onde deduzimos que b ∗ a−1 ∈ H. Da´ı, pelo item 1, H ∗ a = H ∗ b. 3. Para provar que H ∗a e H ∗b sa˜o iguais ou disjuntas, suponhamos que H ∗a e H ∗ b na˜o sa˜o disjuntas. Enta˜o existe x ∈ G tal que x ∈ H ∗ a ∩ H ∗ b. Enta˜o x = h ∗ a = h′ ∗ b, para certos elementos h, h′ ∈ H. Da´ı, a∗b−1 = h−1∗h′. Logo, a∗b−1 ∈ H e enta˜o, pelo item 1, H∗a = H∗b. 4. Considere a aplicac¸a˜o f :H → H ∗ a, definida por f(h) = h ∗ a, ∀h ∈ H. Provemos que f e´ bijetora. f e´ claramente sobrejetora, pois cada elemento de H ∗ a e´ da forma h ∗ a, para algum h ∈ H, logo da forma f(h) para algum h ∈ H. f e´ injetora, pois se f(h1) = f(h2) enta˜o h1 ∗ a = h2 ∗ a e enta˜o, pelo cancelamento em G, h1 = h2. Assim, f estabelece uma correspondeˆncia biun´ıvoca (func¸a˜o bijetora) entre H e H ∗ a. Se H for finito, teremos enta˜o |H| = |H ∗ a|. 5. Para cada elemento x ∈ G, temos x ∈ H∗x, logo x ∈ ⋃x∈GH∗x. Portanto G ⊂ ⋃x∈GH ∗ x Por outro lado, x ∗H ⊂ G, para cada x ∈ G. Logo ⋃x∈GH ∗ x ⊂ G. Assim, G = ⋃ x∈GH ∗ x. Observac¸a˜o 5.9 Observemos novamente as classes laterais do exemplo 5.11, em que (G, ∗) = (Z12,+) e H = 〈3〉 = {0, 3, 6, 9}. Observa-se imediatamente que |H + a| = |H| = 4, ∀a ∈ Z12, e que duas classes laterais H + a e H + b, com a e b em Z12, sa˜o iguais ou disjuntas. Observe por exemplo, que H + 0 = H + 3 = H + 6 = H + 9 = H, ja´ que 0, 3, 6 e 9 sa˜o os elementos de H. Por outro lado, ja´ teria sido poss´ıvel prever que H + 1 = H + 4, pois 1 − 4 = −3 = 9 ∈ H. Igualmente, podemos afirmar que H + 11 = H + 5, pois 11− 5 = 6 ∈ H. Note ainda que, como H + 1 = {1, 4, 7, 10}, temos enta˜o H + 1 = H + 4 = H + 7 = H + 10. 110 Estruturas Alge´bricas Teorema 5.3 (Teorema de Lagrange) Sejam G um grupo finito, H um sub- grupo de G e G/H o conjunto das classes laterais direitas de H em G. Enta˜o |H| divide |G|. Mais precisamente, |G/H| = |G||H| Demonstrac¸a˜o.. Sendo G um grupo finito, temos que existe um nu´mero finito de classes laterais direitas de H, ja´ que a reunia˜o de todas elas e´ igual a G. Suponhamos enta˜o que existem s classes laterais direitas de H, s ≥ 1, duas a duas distintas, ou seja, G/H = {H ∗ x1, . . . , H ∗ xs} para certos elementos x1, . . . , xs de G, sendo as classes H ∗x1, . . . , H ∗xs distintas entre si. Como classes laterais distintas sa˜o tambe´m disjuntas, teremos G = H ∗ x1 ∪ · · · ∪ H ∗ xs e, ale´m disso, |G| = |H ∗ x1|+ · · ·+ |H ∗ xs| Sendo pore´m |H ∗ xk| = |H|, para cada k, 1 ≤ k ≤ s, temos |G| = |H|+ · · ·+ |H|︸ ︷︷ ︸ s termos = s · |H| Logo, |G| |H| = s = |G/H| Teorema 5.4 (Rec´ıproca do teorema 5.3 para grupos c´ıclicos) Seja G = 〈a〉 um grupo c´ıclico finito de ordem n. Enta˜o para cada inteiro positivo d, divisor de n, existe um (u´nico) subgrupo Hd de G, com |Hd| = d. Explicita- mente, Hd = 〈an/d〉. No caso aditivo, sendo n/d = m, Hd = 〈ma〉. Exemplo 5.12 Seja G = 〈a〉 um grupo c´ıclico multiplicativo e suponhamos |G| = 12. Enta˜o, pelo teorema 5.9, G = {e, a, a2, a3, . . . , a10, a11}, sendo a12 = e. Os divisores de 12 sa˜o 1, 2, 3, 4, 6 e 12. Introduc¸a˜o Enxuta a` Teoria dos Grupos 111 Os subgrupos cujas ordens sa˜o tais divisores sa˜o, respectivamente H1 = 〈a12/1〉 = 〈e〉 = {e} H2 = 〈a12/2〉 = 〈a6〉 = {e, a6} H3 = 〈a12/3〉 = 〈a4〉 = {e, a4, a8} H4 = 〈a12/4〉 = 〈a3〉 = {e, a3, a6, a9} H6 = 〈a12/6〉 = 〈a2〉 = {e, a2, a4, a6, a8, a10} H12 = 〈a12/12〉 = 〈a〉 = G 5.6.1 Problemas Complementares 1. Determine as classes laterais de H = 〈5〉 em (Z15,+). 2. Considere o grupo S3 das permutac¸o˜es de A = {1, 2, 3}. Sendo H = {( 1 2 3 1 2 3 ) , ( 1 2 3 2 3 1 ) , ( 1 2 3 3 1 2 )} , verifique que H e´ subgrupo de S3 e determine suas classes laterais direitas em S3. 3. Determine as classes laterais de H = 4Z = 〈4〉 em (Z,+). 4. Mostre que se (G, ∗) e´ um grupo finito e |G| = p, com p primo, enta˜o (a) os u´nicos subgrupos de G sa˜o G e {e}. (b) G e´ um grupo c´ıclico. 5. Mostre que se G e´ um grupo que possui exatamente dois subgrupos enta˜o |G| e´ um nu´mero primo. [Sugesta˜o:Se G possui exatamente dois subgrupos, eles sa˜o G e {e}, sendo G 6= {e}. Considere a ∈ G, a 6= e e o subgrupo H = 〈a〉. Como H 6= {e}, temos H = G, logo G e´ c´ıclico. Pelo teorema 5.4, pa´gina 110, para cada inteiro positivo d, divisor de |G|, existe um subgrupo de G de ordem d. Agora use o fato de que G possui apenas dois subgrupos.] 6. Mostre que todo grupo de ordem 4 e´ abeliano. [Sugesta˜o:Para cada elemento a ∈ G, a 6= e, tem-se, pelo resultado do problema 9, o(a) | 4, logo o(a) = 2 ou 4. Considere as duas possibilidades: (1a) existe a ∈ G tal que o(a) = 4; (2a) ∀a ∈ G, a 6= e, tem-se o(a) = 2.] 7. Mostre que todo grupo de ordem 4 e´ isomorfo a Z4 ou a Z2 × Z2. [Sug- esta˜o:Seja (G, ·) um grupo de ordem 4. Se G e´ c´ıclico, G = 〈a〉, enta˜o G = {e, a, a2, a3}, sendo a4 = e. Neste caso, a aplicac¸a˜o f :G → Z4, f(an) = n, e´ um isomorfismo. Se G na˜o e´ c´ıclico, pelo resultado do proble- ma 6, G = {e, a, b, c}, sendo a2 = b2 = c2 = e, e neste caso G e´ tambe´m abeliano. Construa as ta´buas dos grupos (G, ·) e (Z2 × Z2,+). Mostre enta˜o que (G, ·) ∼= (Z2 × Z2,+), comparando as ta´buas dos dois grupos.] 112 Estruturas Alge´bricas 8. Mostre que todo grupo G de ordem |G| ≤ 5 e´ abeliano. 9. Seja G um grupo finito de elemento neutro e. Enta˜o (a) ∀a ∈ G, o(a) divide |G| (b) ∀a ∈ G, a|G| = e. (c) ∀a ∈ G, a 6= e, am = e⇒ |G| |m.
Compartilhar