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Arnaldo Süssekind (Ministro aposentado do TST e titular das Academias Brasileira de Letras Jurídicas, Nacional de Direito do Trabalho, Brasileira de Previdência e Assistência Social e Iberoamericana de Derecho del Trabajo y de la Seguridad Social, ex-representante do Brasil na OIT e ex-Ministro do Trabalho e da Previdência Social) CURSO DE DIREITO DO TRABALHO 3a Edição Revista e Atualizada A jurista C laudia M edeiros Ahm ed participou, com o autor deste livro, d a atualização de alguns capítulos J . 6 ctrr 3 £ b - ~R €IM O V R R Rio • Soo Paulo • Recife • Curitiba 2010 abrir' fteüM le u ¡Jifero índice gemi t í t u l o i IN TRO D U ÇÃ O Capítulo I - Breve histórico do trabalho hum ano............................. 1 - 0 começo desta h istória ..................................................................................3 II - Escravidão............................................................................................................ 4 III - Locação de trabalho livre................................................................................ 5 IV - Servidão............................................................................................................6 V A mita espanhola.............................................................................................. 7 VI - Corporações de ofício .................................................................................... 8 VII - Renascença.....................................................................................................9 VIII - Manufaturas monopolistas...................................................................10 IX - Da Revolução Industrial à era da informática...................................11 Capítulo II - Formação histórica e ideológica do Direito do Trabalho . . . 13 I - A Revolução Francesa e a exploração do trabalhador...........................13 II - O pioneirismo de OWEN e a organização sindical............................. 15 III - A conquista das primeiras leis de proteção ao trabalho....................17 IV - Do manifesto de MARX-ENGELS à legalização do sindicato..........18 V - BISMARCK, os seguros sociais e a internacionalização das leis soçial-trabalhistas....................................................................................20 VI - LEÀO X III. a doutrina social da Igreja e a multiplicação das leis soc ial-trabalhistas..................................................................... 2 2 VII Ação de intelectuais e de sindicatos em prol do Direito do T rabalh o.............................................................................................2-1 VIII - Tratado de Versailles: a consagração do Direito do Trahalho e a criação da O I T ..............................................................25 IX Caráter intervencionista do Direito do Trabalho............................... 27 Capítulo III - Evolução do Direito do Trabalho no B ra sil................... 31 I - Da Independência à República (1 8 2 2 -1 8 8 9 )......................................... 31 II - A primeira República (1 8 8 9 -1 9 3 0 ) ........................................................ 33 III - O Governo Provisório da Revolução de 1 9 3 0 .................................... 35 IV - O período da Constituição de 1934 ..................................................... 38 V - O período da Carta de 1937 e a C L T .................................................... 39 VI - O período da Constituição de 1946 ..................................................... 44 VII - O período da Constituição de 1967..................................................... 46 V III - A Constituição de 1988 ........................................................................ 48 Capítulo IV - Reflexos da globalização da economia nas relações de trabalh o ...................................................................................................51 I - Globalização da economia...........................................................................51 II - Desregulamentação ou flexibilização do Direito do Trabalho..........54 Capítulo V - Direito Internacional do Trabalho.......................................59 I - Considerações preliminares........................................................................ 59 II - Finalidade e ob jeto .......................................................................................60 III - A Declaração Universal dos Direitos do Homem e os direitos sociais tratados pela O N U ..................................................... 61 IV - Organização Internacional do Trabalho (OI I ) ..................................63 A - Natureza jurídica, competência e membros.............................63 B - Órgãos: composição e atribuições. Tripartismo........................ 65 C - Atividade normativa: convenções e recomendações...............68 1) Integração das normas internacionais no direito nacional. Efeitos da ratificação.....................................................71 E - Controle da aplicação das normas................................................ 73 TÍT U L O II TEO R IA G ERA L DO D IR tlT O D O TRABALHO Capítulo I - Conceito e objeto do Direito do T rab a lh o ........................ 79 Capítulo II -T erm in o lo g ia .............................................................................85 Capítulo III - Autonomia e relações do Direito do Trabalho...............89 I - Considerações gerais.................................................................................... 89 II - Autonomia c ien tífica ..................................................................................90 III - Principais relações do Direito do Trabalho.........................................92 A - Interdependência cien tífica ..........................................................92 B - Econom ia............................................................................................92 C - Direito Constitucional................................................................... 93 D - Direito Civil...................................................................................... 94 E - Direito C om ercial...........................................................................95 F - Direito Penal.....................................................................................96 G - Direito Processual Civil................................................................. .... H - Direito Administrativo................................................................... .... I - Direito Internacional..................................................................... 9 7 J - Previdência S o cia l.......................................................................... .... Capítulo IV - Natureza Jurídica do Direito do Trabalho................... 101 I - Direito público e direito privado............................................................10 1 II - Direito Social..............................................................................................|Q3 III - Natureza mista com unidade conceituai............................................104 IV - Classificação das normas do sistema brasileiro............................... IOg Capítulo V - Princ ípios do Direito do Trabalho.....................................109 I - Conceituaçào de principio.........................................................................1 (>9 II - Princípios constitucionais gerais.............................................................11 2 III - Princípios constitucionais alusivos ao Direito do T rabalh o..........114 IV - Princ ípios deduzidos dos sistemas legais............................................116 V - O princípio protetore seus corolários................................................116 V I - Considerações finais................................................................................120 Capítulo V I - Fontes d»» Direito d«» Trabalho......................................... 123 I - Considerações gerais..................................................................................123 II - Constituição................................................................................................124 III - Normas internacionais............................................................................. 125 IV - Leis...............................................................................................................126 V - Regulamentos e portarias........................................................................12H VI - Sentenças normativas.............................................................................129 VII - Convenções coletivas de trabalho.....................................................130 VIII - Regulamento de empresa....................................................................132 IX - Costume e fontes subsidiárias.............................................................132 X - I lierarquia das fontes formais de d ire ito ............................................135 Capítulo VII - Interpretação e Aplicação da Norma Trabalhista..........139 I - Métodos de interpretação........................................................................ 139 II - Normas gerais, especiais e excepcionais..............................................141 III - O a rt. 5° da LICCB e o a r t . 8” da C L T ..............................................141 IV - Abuso de direito e fraude à l e i .............................................................144 Capítulo VIII - Relações de trabalh o..........................................................149 I - Emenda Constitucional n" 4 5 ................................................................. 149 II - Da relação de trabalho............................................................................. 150 III - Algumas modalidades de relação do trabalho..................................151 IV - Legislação aplicável..................................................................................155 V - Princípios pertinentes...............................................................................156 VI - Trabalhadores autônomos......................................................................157 VII - Relação de trabalho e relação de consumo.......................................158 T IT U L O III IN C ID ÊN C IA D O D IR E IT O D O TRABALHO Capítulo I - Reflexos do Código Civil nas relações de trabalho. 163 Capítulo II - Pessoas e categorias sujeitas às leis trabalhistas. . . 169 I - Tendência e estatística...............................................................................¡6 9 II - Disposições constitucionais...................................................................170 III - Empregado c trabalhador autônomo.................................................. 171 IV - Trabalhador avulso.................................................................................174 V - Empregado dom éstico............................................................................176 VI - Servidor público civil e militares......................................................... 179 V II - Trabalhador rural....................................................................................181 VIII - Cooperativas de trabalho...................................................................183 ....................................... 186ososIX - Religi X - Microempresa e empresa de pequeno porte......................................187 Capítulo III - Conflito de leis no tem po..................................................IH‘> Capítulo IV - Conflito de leis no espaço..................................................193 I - Direito uniforme e conflito de leis...................................... ...................193 II - Normas internacionais sobre o conflito de leis do trabalho............ I III - Direito brasileiro............ ...................................................................... ¡9 8 A - Considerações gerais......................................................................198 B - Capacidade das partes, modalidade e forma do contrato de trabalh o...................................................................199 C - Execução e cessação do contrato de trabalho........................ 200 D - Situações especiais: técnicos estrangeiros, serviços de engenharia no exterior e empresa binacional I I Al P U ------203 E - Jurisdição com petente.................................................................205 F - Imunidade de jurisdição..............................................................206 T ÍT U L O IV C O N TR A T O D E TRABALHO Capítulo I - O empregador como sujeito do contrato de trabalho . 211 I - Conceito de empregador..........................................................................211 II - Empresa c estabelecim ento.................................................................. 215 III - Grupo empregador.................................................................................216 IV - Consórcio................................................................................................. 222 V - Sucessão de empresas..............................................................................224 VI - Terceirização e trabalho temporário..................................................227 VII - Regulamento de empresa.................................................................... 231 Capítulo II - Contrato de trabalho e em pregado............................235 I - Conceituação do contrato de trabalho.............................................. 235 II - Subordinação jurídica do empregado...................................................237 III - Serviços eventuais....................................................................................239 IV - Trabalho manual, técnico ou intelectual........................................... 240 V - Cargos de confiança.................................................................................242 VI - Sócio e empregado................................................................................. 243 Capítulo III - Natureza jurídica e contratos a f in s ............................... 245 I - Teorias explicativas da relação de em prego.........................................245 II - Características do contrato de trabalho..............................................249 III - Distinção entre o contraio de trabalho e contratos afins...............250 Capítulo IV - Validade do contrato e efeito da> nulidades................. 255 I - Pressupostos da validade contratual....................................................... 255 II - Efeito das nulidades nas relações de trabalho.................................... 256 III - Capacidade e o b je to ............................................................................... 257 IV - Form a......................................................................................................... 260 Capítulo V - Duração do co n tra to ............................................................ 263 I - Contrato por prazo indeterminado....................................................... 263 II - Contrato por prazo determinado..........................................................264 III - Contrato provisóno especial.................................................................265 IV - Tempo de serviço....................................................................................268Capítulo VI - Contratos especiais.............................................................. 271 I - Considerações preliminares......................................................................271 II - Contrato de experiência...........................................................................272 III - Contrato de equipe..................................................................................272 IV - Contrato de aprendizagem....................................................................274 A - Considerações gerais...........................................................................274 B - legislação brasileira...........................................................................275 Capítulo VII - Direitos e obrigações dos contratantes.........................277 I - Empregador.................................................................................................. 277 A - Poder de Comando...............................................................................277 B - M u lta ...................................................................................................... 279 C - Obrigações.............................................................................................279 II - Empregado....................................................................................................280 III - Inventos e modelos de utilidade.......................................................... 280 Capítulo V III - P rov a .................................................................................... 283 I - Carteira de trabalho e previdência social.............................................. 283 II - Salário............................................................................................................. 284 III - ônus da prova........................................................................................... 285 Capítulo IX - Renúncia e transação.......... I - Distinções necessárias............................... II - Limites da inderrogabilidade de direitos III - Momentos da renúncia.......................... IV - Transação.................................................. V - Recibos de quitação................................. 287 287 288 289 291 292 Capítulo X - Suspensão do contrato de trabalho.................................297 I - Considerações preliminares....................................................................297 II - Efeitos jurídicos.......................................................................................298 III - Serviço militar e encargo público civil...............................................299 IV - Mandato sindical.................................................................................... 301 V - Suspensão disciplinar.............................................................................302 VI - G rev e.......................................................................................................304 VII - Benefícios previdenciários................................................................. 306 VIII - Suspensão bilateral do contrato de trabalho.................................313 Capítulo XI - Interrupção remunerada da prestação de serviços.............315 I - Efeitos jurídicos............................................................................................315 II - Natureza jurídica da remuneração.........................................................316 III - Ausências legais..........................................................................................318 IV - Doença até quinze dias........................................................................... 320 V - Repousos remunerados: descanso semanal e em feriados, férias anuais e licença à gestante............................................................322 VI - Convocação militar de reservista............................................................323 VII - Paralisação da empresa, voluntária ou involuntária........................ 324 Capítulo XII - Alteração do contrato de trabalho....................................329 I - Modalidades...................................................................................................329 II - Alterações permitidas por l e i .................................................................. 330 III - Exegese do art. 468 da C L T ...................................................................331 IV -Jiis variandi................................................................................................ 334 V - Transferência do local de trabalho........................................................ 337 A - Considerações preliminares.........................................................337 B - Mudança de domicílio.................................................................... 337 C - Cargo de confiança.........................................................................338 D - Necessidade de serviço................................................................338 E - Extinção do estabelecimento...................................................... 339 F - Despesas da transferencia..............................................................341 Capítulo X III - Terminação do contrato de trabalho.............................343 I - Nomenclatura..............................................................................................343 II - Configuração da despedida.......................................................................345 III - Justas causas para a rescisão cio contrato de trabalho....................346 A - Conceito............................................................................................346 B - Natureza do elenco dos atos faltosos.........................................346 C - Atualidade e perdão tácito ..........................................................347 D - Proporcionalidade e dupla punição........................................... 348 IV - Análise das justas causas para a despedida.........................................348 A - Considerações gerais......................................................................348 B - Improbidade..................................................................................349 C - Incontinência de conduta ou mau procedimento................. 350 D - Negociação concorrente...............................................................351 F. - Condenação criminal....................................................................351 F - Desídia.............................................................................................. 352 G - Embriaguez.....................................................................................353 H - Violação de segredo da empresa................................................ 354 I - Indisciplina e insubordinação......................................................354 J - Abandono de emprego............................................................ 355 K - Ofensas físicas ou morais..........................................................356 L - Jogos de azar.....................................................................356 M - Outras fa ltas..................................................................................357 V - Despedida indireta....................................................................................358 VI - Outros casos de terminação do contrato de trabalho................... 360 A - Obrigações legais incompatíveis com o em prego.................360 B - Morte do empregador................................................................. 361 C - Aposentadoria do empregado..................................................... 361 D - Força maior e factum principis...................................................361E - Falência e concurso de credores................................................ 362 VII - Culpa recíproca.......................................................................................363 VIII - Aviso prévio............................................................................................364 IX - Seguro-desemprego................................................................................ 366 Capítulo XIV' - FG TS e Indenizações........................................................... 369 I - A Constituição de 1988 e a Convenção O IT -158 ............................... 369 II - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço...............................................370 A - Formação e g estã o ................................................................................ 370 B - Movimentação........................................................................................ 372 C - Fiscalização e ação judicial.................................................................. 373 III - Indenização compensatória....................................................................... 373 IV - Dano moral.................................................................................................... 375 A - Repúdio internacional e nacional................................................. 375 B - Dano moral na relação de emprego...............................................377 Capítulo XV' - Estabilidade no em p reg o ................................................. 383 I - Da estabilidade absoluta à ampliação do direito de despedir. A Convenção O IT-158 ............................................................................... 383 II - Antecedentes legislativos no Brasil.......................................................387 III - A Constituição de 1988 c o fim da estabilidade dccenal...............388 IV - Natureza jurídica......................................................................................390 V - Fontes geradoras da estabilidade......................................................... 391 A - Constituição, leis. contratos e precedentes normativos . . . 391 B - Dirigentes sindicais....................................................................... 393 C - Empregada gestante.....................................................................400 D -M em bros da C l PA....................................................................... 401 VI - Cargos e situações que não geram a estabilidade.............................402 A - Cargos de confiança.....................................................................402 B - Comissão, substituição, interinidade c contrato a prazo.............403 V II - Extinção da estabilidade.....................................................................404 A - Falta grave.........................................................................................404 B - Extinção da empresa, estabelecimento ou se to r ......................406 C - Renúncia..............................................................................................407 VIII - Reintegração do empregado................................................................. 408 TÍT U L O V N ORM AS l)E PROTEÇÃO AO TRABALHADOR Capítulo I - Salário ............................................................................................413 I - Fundamentos e objetivos............................................................................. 413 II - Regulamentação internacional..................................................................415 III - Política salarial brasileira..........................................................................418 IV - Considerações gerais..............................................................................421 A - Elementos componentes do salário...........................................421 B - Salário básico e sobressalário.......................................................422 C - Trabalho gratuito..........................................................................423 D - Salário aleatório................................................................................424 V - Salário utilidade...........................................................................................424 A - Caracterização..................................................................................424 B - Alimentação.......................................................................................424 C - I labitaçâo............................................................................................425 D - Transporte.........................................................................................427 E - V estuário........................................................................................... 429 F - Valor pecuniário............................................................................... 429 VI - Salário m ínim o.......................................................................................... 430 VII - Piso salarial e salário profissional.......................................................... 432 VIII - Com issão...................................................................................................433 IX - Gratiiicação e prêmios...................................................................... 435 A - Gratificação ajustada......................................................................435 B - Gratificação natalina (13° salário).................................................437 C - Prêmio................................................................................................439 X - Diárias e ajudas de c u s to .......................................................................... 440 XI - G o rje tas........................................................................................................4 4 1 XIII - Isonoinü sal.iri.il................................................................................. A - D im to internacional................................................................ B - D i r e i t o b r a s i l e i r o ........................................................................................................ XIV - Proteção ao salário............................................................................ A Inalterabilidade e irredutibiltdade........................................ B - Intcxralidadc................................................................................. C - Intangihilidade............................................................................ D - Condições do pagamento......................................................... E - Inadimplemento e mora contumaz........................................ Capítulo II - Participação nos l u c r o s ............................................................. I - De Napoleão a João Paulo I I ......................................................................* * * u - A Constituição h m f c in e a m Ku i c b (uridica da partKipação. . . ; . ® III - Regulamentação da norma c o n stiti* ......................................................... Capítulo III - Duração do tra b a lh o ............................................................4 6 3 I - Fundamente« e universalização da limitação de tempo de trabalho................................................................................................................... II - Duração do trabalho no Brasil....................................................................4o~ A - Histórico..............................................................................................• ¡¡'? B - Duração e horário de trabalho..................................................... C - A Carta Magnac a C L T ................................................................. D - Compensação dc jornadas (Banco de h o ra s ) ............. li -T rabalhoa (empo parcial............................................................... F - Turnos de revezamento................................................................. 46-; G - Sobreaviso e ...................................................................................... j/U 1 1 - 1 loras tu .................................................................................................471 I - Horário de trabalho c intervalos compulsórios..........................4 7 3 J - Fixas ao e alteração da jornada de trabalho................................. 4 7 3 K - Fixação, controle e alteração do horário de trahalho.................. 4 7 5 L - Trabalho noturno........................................................................... 4/b M - Trabalho extraordinário.................................................................... 477 Capitulo IV - Repouso semanal em feriado»................................................4 8 3 I - Fundamentos e objetivos................................................................................4 8 3 II - Repouso sem anal.......................................................................................... A - Campo de aplicação............................................................................484 B - Duração c dia do repouso..................................................................484 III - Feriados civis e religiosos..............................................................................4 8 6 IV - Autorizações |>ara o trabalho em dias de rep ouso...............................487 V - Remuneração dos dias de rep ou so .............................................................488 Capitulo V - Férias rem uneradas.................................................................... 493 I - Fundamentos c objetivo................................................................................4 9 3 U - Antec edentes históricos e universalização................................................494 III - Direito positivo nacional..................................................................495 A - Campo de aplicação...............................................................................495 B - Período aquisitivo....................................................................................495 C - Período de g o zo ...................................................................................... 497 D - Férias coletivas........................................................................................500 E - Remuneração.......................................................................................... 500 F - Efeitos da terminação do emprego.................................................... 502 Capítulo VI - Segurança e meditina do trabalho..................................... 503 I - Universalização da proteção ao ambiente de trabalho..........................503 II - Direito positivo nacional...............................................................................505 A - Preceitos constitucionais....................................................................... 505 B - Legislação iniraconstitucional.......................................................... 505 C - Insaluhndade e periculosidade: conceitos e adicionais................507 D - Prevenção dos infortúnios do trabalho.............................................510 Capítulo V II - Trabalho da mulher ............................................................. 513 I - Internacionalização da proteção ao trabalho feminino..........................513 II - Preceitos constitucionais brasileiros.........................................................517 III - Legislação ordinária......................................................................................518 Capítulo V III - Trabalho do m en o r..............................................................523 I - Internacionalização da proteção ao trabalho do menor......................523 A - Considerações preliminares.............................................................523 B - Primeiras normas internai ionais..................................................... 524 C - Ação normativa e prática da O IT ...................................................526 D - Situação no Brasil.................................................................................529 II - Direito positivo nacional...............................................................................529 A - Normas constitucionais....................................................................... 529 * B - Conceito de menor trabalhador......................................................531 C - Proibições...................................................................................................531 D - Duração do trabalho........................................................................... 533 E - Aprendizagem....................................................................................... 534 F - Disposições diversas...............................................................................536 T ÍT U L O VI D IR E IT O C O L E T IV O 1 )0 TRABALHO Capítulo 1 - Organizarão sindical.................................................................. 539 I - Resumo histórico do direito sindical......................................................539 II - Convenções da O I T ...................................................................................542 III - Sistemas e métodos de atuação sindical............................................546 IV - Organizações sindicais internacionais.................................................549 V - A organização sindical no B rasil.............................................................550 A - Histórico...............................................................................................550 B - Liberdade sindical................................................................................ 55U C - Unidade e pluralidade sindical........................................................552 D - Sindk. ali/ação por categoria econômica e categoria profissional. 55*1 E - Criação de sindícalo............................................................................557 F - Administração do sindicato................................................................560 G - Concentração e desmembramento de categorias......................561 11 - Filiação ao sindicato............................................................................562 1 - Entidades de grau superior................................................................563 J - Centrais sindicais.................................................................................565 K - Autonomia sindical.............................................................................. 569 L - Registro sindical................................................................................... 572 M - Representação e substituição processual.....................................578 N - Contribuições sindicais.......................................................................582 Capítulo II - Interação empregado-empresa............................................ 589 I - H istórico......................................................................................................... 589 II - Sistem as......................................................................................................... 590 III - Considerações gerais.................................................................................593 IV - A interação no Brasil.................................................................................395 Capítulo III - Convenções e Acordos Coletivos de Trabalho.............599 I - H istórico..........................................................................................................599 II - Condições de êxito da negociação coletiva..........................................600 III - Normas internacionais.............................................................................. 602 IV - Sistema legal brasileiro............................................................................603 A - A Constituição e a flexibilização de direitos........................... 603 B - Modalidades, sujeitos e objeto da contratação coletiva . . . . 606 C - Natureza juríd ica............................................................................609 D - Incidência e eficácia ju ríd ica ...................................................... 611 Capítulo IV - Direito de g re v e .....................................................................613 I - Histórico e reconhecimento do direito de g rev e ................................ 613 II - Conceito de direito de g rev e ...................................................................618 III - Direito positivo brasileiro....................................................................... 619 A - Campo de aplicação.......................................................................619 B - Definição e sujeito ativo................................................................622 C - Objeto e greves impróprias...........................................................623 D - Oportunidade e prtxedimento....................................................625 E - Serviços essenciais.............................................................................627 F - Suspensão do contrato de trabalho...............................................630 G - Abusos e responsabilidades.........................................................631 índice O no m ástico ..............................................................................................637 índice Alfabético Rem issivo......................................................................... 641 Capítulo I BREVE HISTORIA DO TRABALHO HUMANO I — O começo desta história Toda energia humana, física ou intelectual, empregada com um fim produtivo, constitui trabalho. Mesmo na mais remota antiguidade, o homem sempre trabalhou: na fase inicial da pré-história, com o objetivo de alimentar-se, defender-se e abrigar-se do frio e das intempéries; no período paleolítico, ele produziu lanças, machados e outros instrumentos, com os quais ampliou sua capacidade de defesa e sua instintiva agres sividade. A necessidade de agrupamento impôs a formação de pe quenas tribos, que lutavam entre si. A princípio, os prisioneiros eram mortos e comidos; depois, porque a caça, a pesca e, mais tarde, a agricultura abasteciam os componentes dos grupos, os derrotados passavam à condição de escravos para a execução dos serviços mais penosos. Surgia, assim, o trabalho em favor de terceiros, objeto de um ramo do Direito cuja autonomia 3 viria a ocorrer somente na época contemporânea. Mas, no curso da história, essa prestação de serviços tomou diversas formas, gerando importantes instituições jurídicas, com remarcados reflexos econômicos, sociais e políticos. II — Escravidão Sob a ótica do Direito, o escravo era coisa (res) e não pessoa, podendo o seu proprietário dele dispor: vendê-lo, trocá-lo, utilizá-lo como lhe aprouvesse e até matá-lo. A relação jurídica era de domínio absoluto por parte do dono, a cujo patrimônio o escravo pertencia e se incorporava o produto do seu trabalho. Embora não fosse sujeito de direito1, a mulher escrava transmitia esse estigma a seus descendentes. As outras vias de aquisição da condição de escravo eram o aprisionamento de guerra, a insolvência do devedor e a condenação por certos crimes. Os povos da antiguidade fizeram do trabalho escravo o esteio da sua economia e o instrumento das suas realizações. As civilizações dos egípcios, assírios e babilônios foram edifi cadas com base nesse tipo de trabalho, sem embargo da ativi dade dos servos da gleba, cuja figura jurídica surge na agricul tura, e do trabalho livre dos artífices e artesãos.2 Na Grécia antiga e em Roma a execução dos serviços materiais cabia, 1 Como bem ponderou ALONSO OLÉA, o artifício de considerar coisa uma pessoa teve objetivo de justificar: a) o poder do amo sobre o escravo, negando a este a propriedade do seu trabalho, já que uma coisa não pode ser sujeito de uma relação jurídica; b) o trabalho forçado ou involuntário, porque, como coisa, o escravo seria incapaz para decidir sobre sua própria atividade ("Intro dução ao Direito do Trabalho”, trad. bras., Porto Alegre, Ed. Sulina, 1969, pág. 60). 2 V. os pormenorizados registros de EVARISTO DE MORAES FILHO, in “Introdução ao Direito do Trabalho", São Paulo, LTr, 1971, págs. 144/48. 4 geralmente, aos escravos. Entre os romanos, no entanto, muitos se libertaram. A vida alicerçada no trabalho escravo tornou-se tão comum que foi plenamente justificada pelos grandes filósofos da an tiguidade clássica3. Na Idade Média foi, em grande parte, substituída pela servidão; e, apesar de combatida, desde então, por importantes correntes do pensamento, caminhou com a história, sendo até incrementada, nos albores da época con temporânea, por ingleses, holandeses e portugueses, em tráfico contínuo para as respectivas colônias. A Revolução Francesa condenou a escravidão e, em meados do século XIX, ela foi proibida nos territórios dominados pela Inglaterra. Em 1888 foi abolida no Brasil4. Não obstante, a existência de focos de trabalho escravo em pleno século XX levou a extinta sociedade das nações a adotar, em 1926, uma convenção internacional visando a extinguir definitivamente a escravidão. III — Locação de trabalho livre A prevalência dos regimes da escravidão e, em menor escala, o da servidão não excluiu, na antiguidade, o trabalho autônomo dos artesãos e a contratação da prestação de serviços dos artífices. Aliás, o Código de Hammurabi, adotado na Babilônia no século XXI a.C., dispôs sobre condições para a prestação do trabalho livre, inclusive salário, regulamentou o trabalho em várias profissões, tratou da aprendizagem etc. Muito mais tarde, as hetairidas gregas e os collegia romanos reuniram 3 PLATÃO, ARISTÓTELES, XENOFONTE, SÊNECA, TÁCITO e outros filósofos da antiguidade justificaram a escravidão. O segundo destes explicitava: "a utilidade dos escravos é, mais ou menos, a mesma dos animais domésticos. (“A Política”, trad. bras., São Paulo, Atena, 1946, pág. 17). 4 Anteriormente, havia sido proibida a importação de escravos (1850) e libertados os nasciturnos (1871), assim como os maiores de 65 anos (1885). 5 trabalhadores livres, com finalidades sobre as quais ainda per dura ampla controvérsia: cooperativas de trabalho ou associa ções assistenciais? O Direito Romano partiu da figura jurídica do arrendamento de coisa (locatio conducto rei) para aplicá-la, como obrigação de fazer, às duas formas usuais da contratação do trabalhador livre: a) para a execução de determinada obra (locatio conductio operis); b) para a prestação de serviços em favor do contratante (locatio conductio operarum). Na locatio operis, gênese do contrato de empreitada, o contratado obrigava-se a executar e entregar certa obra ao contratante, dele recebendo o preço fixado. O objeto do con trato era, portanto, um resultado, cabendo o contratado ao risco da sua execução. Na locatio operarum, que gerou o contrato de trabalho, o trabalhador obrigava-se a prestar serviços ao contratante, de quem recebia remuneração ajustada por unidade de tempo. O objeto do contrato era, pois, uma atividade, cabendoao con tratante o risco do empreendimento. IV — Servidão A vinculação do colono à terra existiu nas grandes civiliza ções antigas. Mas a servidão renasceu forte após a queda do Império Romano, no ano de 476, transformando-se no esteio da estrutura econômica do regime feudal. Com o desmorona mento do poder político central, nobres e representantes na Igreja passaram a dominar regiões caracterizadas pela agricul tura (latifúndios). Eles não perdiam o domínio da terra cedida aos colonos, a quem davam proteção, deles recebendo obe diência e um cânon enfitêutico, pago com parte da produção agrícola ou em dinheiro. Era o regime feudal. O colono, oriundo de antigas gerações de escravos ou de trabalhadores livres, vinculava-se juridicamente à terra colonizada, juntamente com 6 os seus familiares, tomando-se um parceiro obrigatório do eventual detentor do feudo. Daí a expressão “servo da gleba". A obrigação de o servo cultivar a terra a que pertencia era irredimível, não se resolvendo por sucessão no feudo. A evo lução foi sutil: o escravo era coisa, de propriedade do seu amo; o colono era pessoa, pertencente à terra5. Sendo “pessoa”, sujeito de direito, podia transmitir, por herança, seus animais e objetos pessoais: mas transmitia também a condição de servo. A partir do século X I a sociedade medieval, alicerçada na estrutura agrária feudal, cedeu sua primazia à sociedade urbana, fundada no comércio e na indústria rudimentar. Ressurgiram os municípios (comunas), com certa autonomia. Os feudos enfraqueceram-se; as pestes e as cruzadas facilitaram a fuga dos colonos;. O regime feudal, com a servidão, entrou em crise. Tal como a escravidão, também ressurgiu, com muito menor intensidade, em várias fases da história. Tanto que a Revolução Comunista, na primeira quadra do nosso século, teve de pro mover a extinção de remanescentes colonatos na União Sovié tica, constituídos de servos da gleba. V — A mita espanhola A mita foi desenvolvida na América espanhola entre os indígenas, correspondendo a trabalho obrigatório, imposto por sorteio. Mas não era gratuito, e os seus prestadores estavam protegidos por algumas normas jurídicas surpreendentes para a época, conhecidas como “legislação das índias”, de FELIPE II (Ordenanças de 1574]: a) salário em dinheiro, com peri odicidade não superior a uma semana, e expressa vedação do 5 "O regime que assim se cria é, praticamente, de absoluta servidão; de certo modo tão ignominioso como o da escravidão, pois se neste a pessoa é conceituada como objeto, naquele faz-se o sujeito depender da coisa e seguir, em definitivo,, o seu destino” (MANUEL ALONSO GARCIA, "Curso de Derecho dei Tra- bajo", Barcelona, Ariel, 8a ed., 1982, pág. 14). 7 truck-systen; b) jornada de oito horas, como regra, e de sete horas nas minas; c) descanso dominical; d) assistência médica e meio salário durante o tratamento de acidentes do trabalho; e) proibição de vários tipos de trabalho a menores de dezoito anos e mulheres6. VI — Corporações de ofício Com a decadência do regime feudal, os colonos refugia- ram-se nas cidades, ao lado dos artesãos e operários especia lizados, onde podiam defender-se das violências dos seus antigos senhores. E, inspirados nos collegia romanos e nas ghildas germânicas, esses trabalhadores livres organizaram-se em grê mios, que, a pouco e pouco, passaram a constituir ponderáveis instrumentos da produção econômica local. Surgiram, assim, no século XII, as Corporações de Artes e Ofícios, que agre- miavam pessoas da mesma profissão ou atividade profissional e elegiam, quase sempre, um santo como patrono. Os estatutos da corporação dispunham sobre os respectivos poderes e estabeleciam rígida hierarquia entre os seus filiados. Estes se dividiam em aprendizes, companheiros e mestres. O aprendiz devia obediência a seu mestre, com quem aprendia o ofício correspondente à Corporação. Terminado o aprendizado, geralmente em torno de cinco anos, ele passava a companheiro ou oficial; mas, até alcançar o mais elevado grau de hierarquia da Corporação, só podia trabalhar para o respectivo mestre. Os estatutos de cada Corporação eram elaborados por uma comissão administrativa constituída por mestres eleitos em 6 LUIS DESPONTIN, "El Derecho del Trabajo”, Buenos Aires, Ed. Biblio gráfica Argentina, 1947, págs. 260/4. Segundo MIGUEL DE LA MADRID, "Infelizmente, estas normas, surpreendentes para o tempo em que foram ditadas, constituindo a primeira legislação protetora de uma classe social, não operam na realidade" ("La Legislación Obrera", México, Porrúa, 1981, pág. 4). assembleia. Eles fixavam, mediante regulamentação própria, a duração do trabalho (jornadas do nascer ao pôr do sol); proibiam o trabalho aos domingos e nos dias de festas religiosas; dispu nham, enfim, sobre a manufatura dos produtos e sua comer cialização. Na época do seu esplendor, como acentua ROBER TO FACHETTI7, as corporações de oficio conjugaram os três poderes estatais: a) o Legislativo, posto que ditavam os estatutos e estabeleciam condições de trabalho; b) o Executivo, exercido pelos seus chefes; c) o Judicial, visto que os jurados tinham poderes para sancionar as faltas dos agremiados. As corporações de ofício constituíram, na verdade, típicas empresas dirigidas pelos respectivos mestres, que cuidavam da formação profissional para assegurar a mão de obra necessária à execução da atividade econômica para a qual desfrutavam de autêntico monopólio: ninguém, na sua área de atuação, podia exercer o correspondente ofício sem ingressar no grêmio. Não obstante, valorizaram o trabalho humano, sob a decisiva influência da Igreja Católica, que propagava o valor moral do trabalho. Da forte dependência dos companheiros aos mestres e da dificuldade, cada vez maior, de ascenderem aqueles à maestria, nasceu crescente divergência entre os componentes dessas duas classes. No século XIV os primeiros constituíram associações para a defesa dos seus interesses (Compagnonnage), que se tornaram, como muitos o reconhecem8, precursoras dos sindi catos criados no início do século XIX. VII — Renascença A Renascença marcou, no século XV, o início da época moderna. E os seus notáveis e inovadores movimentos nas 7 “Los Sindicatos”, Montevidéu, Ed. A. M. Fernandez, 1982, vol. I, päg. 22. 8 JEAN-MAURICE VERDIER, Syndicats, Paris, Dalloz, 1966, pag. 10. 9 artes, na filosofia, na literatura, na política e nas ciências valorizaram o homem e, por via de conseqüência, o seu trabalho. A partir de então, acirrou-se a luta entre mestres e compa nheiros, sendo que as associações destes defenderam o boicote, a greve e até o abandono das cidades. Iniciava-se o declínio das corporações de ofício, incrementado ainda pela expansão do mercantilismo9. Também o Estado nacional e os principados soberanos fortaleceram-se e conseguiram submeter as corpo rações ao poder real, reduzindo-lhes a autonomia profissional e os privilégios econômicos. Entre as causas da decadência das corporações, ALONSO GARCIA dá ênfase ao “desaparecimento progressivo das re gulamentações profissionais e da consagração do princípio da liberdade como postulado essencial da nova era, de signo in dividualista, contrário a toda manifestação corporativa ou gru pai”10. Por isso mesmo a Revolução Francesa as aboliu, proi bindo “restabelecê-las de fato, sob qualquer pretexto e com qualquer forma” (art. I o da Lei Chapelier, de 17.6.1791). VIII — Manufaturas monopolistas Com o regime das manufaturas, surgido na fase da deca dência das corporações de ofício, as relações de trabalho apre sentaram características de transição entre o sistema anterior 9 Focalizando o advento do mercantilismo, que prevaleceu da metade do século XV à metade do século XVIII, ROBERTO BARRETO PRADO recorda que os comerciantesestabeleceram-se nos arrabaldes ou burgos das cidades (burguesas), conquistando a liberdade de se locomover e de realizar transações. A economia da distribuição foi substituída pela economia do lucro, sendo o comércio ampliado pelo desenvolvimento da navegação. Grandes empresas formaram-se e delas aproximaram-se os monarcas, que se tomaram senhores incontestes da ordem temporal ("Curso de: Direito Sindical", São Paulo, LTr, 1984, págs. 39/40). 10 Ob. cit., pág, 2 2 . 10 e o capitalismo, passando o trabalhador a receber um salário como contraprestação do serviço executado. As manufaturas eram empresas que detinham o monopólio regional para determinada atividade econômica, concedida pelo poder real. Competia ao rei a aprovação do regulamento ad ministrativo que as regia. A figura do empresário surgia nítida, como chefe da empresa, com poder de comando absoluto. O monopólio de que dispunham as manufaturas não pro porcionava qualquer margem de Überdade para negociar o valor ou a forma da sua remuneração. E o empregado só podia deixar o emprego mediante autorização do empresário. Tal como as corporações de ofício, também as manufaturas monopolistas foram extintas pela precitada lei de 1791. IX — Da Revolução Industrial à era da informática ARevolução Industrial teve início em 1775, quando JAMES WATT inventou a máquina a vapor. Com essa energia motora, cresceram e expandiram-se as empresas. E a contratação de operários livres foi utilizada num sistema econômico onde predominava a fisiocracia11. Pregava-se, por conseguinte, a não intervenção do Estado nas relações contratuais — princípio que acabou sendo consagrado pela Revolução Francesa. A partir daí se desenvolveu o regime do contrato de trabalho formalmente livre. Mas as condições de trabalho, inclusive o salário, eram ditadas pelo empregador. A pouco e pouco, os trabalhadores organizaram-se nos países industrializados, para a luta contra o liberalismo econômico, que propiciava sua 11 Defensores ardorosos do laissez-faire, os fisiócratas proclamavam: ‘'Facul temos aos proprietários, aos patrões e aos comerciantes a maior liberdade de ação (...) A vida econômica obedece às suas próprias leis. Não necessita, pois, da intervenção do Estado” (MAX BEER, "História do socialismo e das lutas sociais", trad. bras., Rio, Ed. Calvino, 1944, vol. I, pág. 490). 11 exploração. Nascia, então, a legislação social-trabalhista, cuja formação histórica é objeto do capítulo seguinte. Hoje, quer nos países de economia de mercado, quer nos países socialistas, os respectivos sistemas jurídicos impõem aos empregadores a observância de certas condições de proteção ao trabalhador, editadas pelo Estado ou estipuladas nos instru mentos da negociação coletiva, da qual participam os sindicatos. Cabe indagar, agora: a nova revolução tecnológica — a da informática — não imporá significativas modificações no Di reito do Trabalho? Afinal, a generalização do uso dos compu tadores, muitos dos quais interligados por satélites, tende a substituir o ser humano, podendo dirigir complexas máquinas e robôs numa fábrica automatizada. E, através dessa nova revolução, as empresas multinacionais irão expandir-se cada vez mais, com orçamentos financeiros superiores aos de diversos países. Essa é a nova realidade socioeconômica que o Direito tem de enfrentar. A flexibilização das leis de proteção ao trabalho, ainda que sob tutela sindical, tornou-se significativa na Europa Ocidental desde os anos 80, com reflexos na Cons tituição brasileira de 1988. Relevante é não esquecermos que o homem deve ser sempre o centro e o fim de qualquer sistema social e que a Constituição brasileira inclui a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho (art. Io, III e IV). 12 Capítulo II FORMAÇÃO HISTÓRICA E IDEOLÓGICA DO DIREITO DO TRABALHO I — A Revolução Francesa e a exploração do trabalhador O Direito do Trabalho é um produto da reação verificada no século X IX contra a exploração dos assalariados por em presários. Estes se tornaram mais poderosos com o aumento da produção fabril, resultante da utilização dos teares mecânicos e da máquina a vapor, e com a conquista de novos mercados, facilitada pela melhoria dos meios de transporte (Revolução Industrial); aqueles se enfraqueceram na razão inversa da ex pansão das empresas, sobretudo porque o Estado não impunha aos empregadores a observância de condições mínimas de tra balho e ainda proibia a associação dos operários para defesa dos interesses comuns. Se a Revolução Francesa (1789) foi, sob o prisma político, um marco notável na história da civilização, certo é que, ao estear todo o sistema jurídico em conceitos abstratos de igual dade e liberdade, permitiu a opressão dos mais fracos, falhando, 13 portanto, no campo social. É que a relação contratual estipulada entre o detentor de um poder e aquele que, por suas neces sidades de subsistência, fica obrigado a aceitar as regras im postas por esse poder, não constitui, senão formalmente, uma relação jurídica; na sua essência, representa um fator de do minação. Afirmando a igualdade jurídico-política dos cidadãos (todos são iguais perante a lei), a Revolução Francesa adotou o prin cípio do respeito absoluto à autonomia da vontade (liberdade contratual), cuja conseqüência foi a não intervenção do Estado nas relações contratuais (laissez-faire) . Consagrou, assim, o liberalismo-económico pregado pelos fisiócratas, com o que facilitou a exploração do trabalhador. As teorias de ADAM SMITH, considerado o pai da economia política, foram testadas na prática; mas o resultado, sob o ângulo social, foi trágico. Decorrência dessa filosofia foi a Lei Chapelier (1791), a qual, objetivando evitar a pressão de grupos organizados em detrimento da liberdade individual, proibiu a coalizão de cida dãos, inclusive de “operários e oficiais de qualquer arte”1. Essa proibição originária da França foi sucessivamente adotada em diversos países, conceituando-se como delitos penais e os mo vimentos grevistas e até as tentativas de sindicalização.2 1 Proibindo amplamente as coalizões, dispôs a precitada lei: ‘'Art. I o — Sendo uma das bases fundamentais da Constituição francesa a abolição de toda classe de corporações de cidadãos do mesmo estado ou profissão, fica proibido restabelecê-las de fato, sob qualquer pretexto e com qualquer forma. Art. 2o — Os cidadãos do mesmo estado ou profissão, os empresários, os que têm estabelecimento aberto, os operários e oficiais de qualquer arte não poderão, quando se encontrem reunidos, nomear presidente nem secretário sindical, organizar registros, adotar ou deliberar, nem elaborar regulamentos sobre seus pretendidos interesses comuns". 2 A coalizão de trabalhadores com o fim de obter aumento de salário ou redução da duração do trabalho foi considerada delito de conspiração na Inglaterra e nas suas possessões (Combinations Acts de 1799 e 1800) e, bem assim, nos Estados Unidos, por decisão judiciária de 1806 (OIT, “Libertad 14 A utilização cada vez maior da máquina, que poderia ter acarretado a diminuição das jornadas de trabalho e a elevação dos salários, como conseqüências do maior rendimento do trabalho produtivo, teve, paradoxalmente, efeitos diametral mente opostos. Num retrocesso que afrontava a dignidade humana, a duração normal do trabalho totalizava, comumente, 16 horas diárias; o desemprego atingiu níveis alarmantes e o valor dos salários decresceu3. Para complementar o orçamento da família operária, a mulher e a criança ingressaram no mercado de trabalho, acentuando o desequilíbrio entre a oferta e a procura de emprego. E, assim, ampliada a mão de obra dispo nível, baixaram ainda mais os salários (Lei de bronze de LAS- SALE). Nem a liberdade formal nem a máquina libertaramo homem. II — O pioneirismo de OWEN e a organização sindical O quadro resumido na seção anterior haveria de sensibilizar alguns parlamentares, muitos intelectuais e os bons empresá rios. Sindical — Manual de Educación Obrera”, Genebra, 1963, pág. 10). O Código Penal francês, promulgado em 1810 como parte do Código de Napoleão, também qualificou as coalizões operárias ou patronais como delito. 3 Segundo revelações de ALFREDO PALACIOS, nessa época "a liberdade liberticida foi soberana. Não só se romperam os obstáculos que a idade e o sexo opunham à jornada extorsiva. Até os conceitos de dia e noite, de uma simplicidade singela nos velhos estatutos, pois a jornada de trabalho estava regulada pela luz do sol, obscureceram-se” (“La Fatiga”, Buenos Aires, 4a ed., Ed. Claridad,. 1994, pág. 35). Na Inglaterra, em Lancashire, “entre 1813 e 1833, o número de teares mecânicos havia subido de 2.400 a 100.000 e, paralelamente, o salário dos tecelões tinha caído de 13 s. 1/2 a 4 s. 1/2 por semana, com um dia de trabalho de 12 a 16 horas” (LEÓNIDAS DE REZENDE, "Do não intervencionismo ao mais amplo intervencionismo econômico”, Rio, Imprensa Nacional, 1934, pág. 28). 15 Coube ao moleiro ROBERT PEEL obter, em 1802, na Inglaterra, a primeira lei de proteção ao trabalhador, na fase contemporânea da história. Ela visou à criança, limitando a jornada de trabalho em 12 horas, dispondo sobre sua aprendi zagem e estabelecendo regras de higiene nas fábricas. Essa lei, entretanto, não teve eficácia na prática. Foi o empresário ROBERT OWEN quem, realmente, lançou as sementes que frutificaram, sendo, por isso, considerado, mui justamente, o pai da legislação do trabalho: ele implantou diversas medidas de proteção ao trabalho na sua fábrica de tecidos em New Lamark, na Escócia4; difundiu ideias inovadoras no seu livro A New View o f Society (1813); propôs no Congresso de Aix- la-Chapelle a celebração de um tratado internacional limitando ajornada de trabalho (1818); colaborou com PEEL na aprovação de nova lei sobre o trabalho do menor (1819); incentivou, enfim, a agremiação dos operários em sindicatos (trade unions), os quais se tornaram, a partir de então, o mais poderoso instrumento de conquista dos direitos social-trabalhistas. Registra a Organização Internacional do Trabalho5 que, já no início do século XIX, alguns operários, sobretudo os car pinteiros, mecânicos e tipógrafos, passaram a reunir-se na Grã- Bretanha para acertarem suas reivindicações; e depois, sempre em grupo, levavam as postulações aos respectivos patrões. 4 Assumindo a direção da fábrica em 1800, OWEN empreendeu profunda reforma, abrindo escolas, suprimindo castigos e prêmios, não admitindo menores de 10 anos, limitando a jornada de trabalho a dez horas e meia, adotando medidas de higiene, instituindo cooperativa de consumo e fundando caixa de previdência para a velhice e assistência médica. Em 1806 pagou salários integrais aos operários que não tiveram trabalho. Em 1817 tornou-se socialista. Três anos depois, abandonou os seus negócios e fundou colônias de trabalho coletivo na Inglaterra e nos Estados Unidos da América; mas nenhuma delas teve sucesso. Desde então, se afastou do movimento sindical (Cf. MAX BEER, "História do socialismo e das lutas de classe", trad. bras., Rio, Ed. Calvino, 1944. vol. I, págs. 554/9). 5 “Las negociaciones colectivas”, Genebra, OIT, 1960, págs. 12/4. 16 Estes, por vezes, os atendiam; em outras oportunidades nega vam-se até a recebê-los. Surgiram; então, as greves da época contemporânea. Com a revogação da lei britânica sobre o delito de coalizão (1824), os grupos informais de trabalhadores foram se transformando nas trade unions, que assumiram o papel de negociador com os empregadores para a estipulação das con dições a serem respeitadas nos contratos individuais de traba lho. Nascia o contrato ou convenção coletiva de trabalho. Nenhuma lei impunha sua eficácia erga omnes; todavia, o gentlemerís agreement assegurava a observância do pactuado entre os sindicatos e os empresários. O sindicalismo, iniciado na Inglaterra, logo se expandiu para a França, Alemanha, Itália e outros países industrializados, sendo que, nos Estados Unidos da América, o direito de sin- dicalização foi reconhecido pela Corte de Massachusetts (1842) em decisão que se tomou um marco na história do sindicalismo norte-americano. As trade unions, sob a inspiração de OWEN, fundaram, em 1833, a “União Nacional Consolidada", que chegou a reunir meio milhão de trabalhadores. Ela comandou a deflagração de uma série de greves, num movimento deno minado "Cartismo”, porque tinha por finalidade a conquista de direitos políticos e sociais do homem, expostos numa Carta elaborada entre 1837 e 1838 pelo movimento sindical. III — A conquista das primeiras leis de proteção ao trabalho A luta contra a máquina, que se exasperou na Inglaterra6, foi substituída, a pouco e pouco, por campanhas, às vezes violentas, para a conquista de leis imperativas de proteção ao trabalho: a) na França, onde desde 1806 já funcionavam os 6 O movimento dos ludistas, cujo objetivo era a destruição dos “monstros de ferro”, levou a Câmara dos Lords a prescrever, em 1811, a pena de morte para estancar a luta contra a máquina. 17 Conseils de prud'homme, constituídos de empregadores e em pregados, com atribuições para conciliar e decidir questões oriundas do trabalho, foi proibido o trabalho de crianças em minas de subsolo (1813) e o trabalho em domingos e feriados (1814); b) na Inglaterra, em 1833, foi proibido o trabalho do menor de 9 anos, limitada a 9 horas a jornada de trabalho do menor de 13 anos e a 12 horas a do menor de 18 anos, com a instituição de inspetores de fábricas; c) na Alemanha, em 1839, foi vetado o trabalho do menor de 9 anos e fixada em 10 horas a jornada de trabalho do menor de 16 anos; d) ainda na França, em 1814, foi proibido o trabalho do menor de 8 anos, limitada a 8 horas a jornada de trabalho dos menores de 8 a 12 anos e fixada em 12 horas a dos menores de 12 a 16 anos; e) a Inglaterra volta a legislar, em 1844, para limitar a prestação do trabalho feminino a 10 horas diárias. A mais importante lei dessa fase de formação histórica e ideológica do Direito do Trabalho, que sepultou o tabu do não intervencionismo do Estado nas relações de trabalho, foi a que, na Inglaterra, em 1847, limitou a jornada normal de trabalho a 10 horas, em disposição de caráter geral. Essa lei coroou intensa campanha sindical, na qual os trabalhadores reivindi cavam a jornada de oito horas7. IV — Do manifesto de MARX-ENGELS à legalização do sindicato O ano de 1848 foi marcado por importantes acontecimentos no campo político e no social: a) MARX e ENGELS tornaram 7 Muitos autores indicam a lei francesa de 1848 como a primeira a fixar uma jornada de trabalho em norma de aplicação geral. Entretanto, como registra LEÔN1DAS DE REZENDE (ob. cit., pág. 286), a precedência coube ao bill das dez horas aprovado em 1847 pelo Parlamento inglês, sob a direção de ASLEY (Lord SHAFTESBURY). E MAX BEER, no seu livro sobre a história das lutas sociais, confirma a data, reproduzindo ainda as palavras de KARL MARX a respeito dessa lei pioneira [ob. e vol. cits., págs. 577/8). 18 público o Manifesto Comunista, advogando a direção global da economia pelo poder político e o exercício deste pelo proletariado; b) na Inglaterra, extinguiram-se os movimentos cartista (de fíns políticos e sociais) e owenista (de índole socialista), que tanto influenciaram as trade unions; c) o sin dicalismo inglês, tendo em vista o éxito nos entendimentos com os empresários para a aprovação da lei das 10 horas de trabalho, passou a admitir a negociação como forma de conci liação de interesses entre patrões e operários, contrariando, assim, atese comunista da luta de classes como único meio para a afirmação do proletariado; na França triunfou uma revolução, de duração efêmera (fevereiro a julho de 1848), que uniu a pequena burguesia ao operariado e constituiu a Comissão de Luxemburgo para propor medidas práticas de proteção ao trabalho. Nas décadas de 50 e 60 do século X IX foi escassa a atividade legislativa concernente aos direitos trabalhistas. Isto apesar da ampla campanha incrementada pela Associação Internacional dos Trabalhadores8 em prol da jornada de 8 horas. Com essa finalidade, foram aprovadas duas resoluções, em 1866, por um congresso norte-americano e internacional. Não obstante a reivindicação da jornada de oito horas por alguns congressos nacionais e internacionais de trabalhadores9, até o final do século XIX somente servidores públicos foram contemplados por lei neste sentido10. E a origem do I o de maio como Dia 8 A Associação foi organizada pela Primeira Internacional (Londres, 1864). Nela, a corrente marxista predominou sobre o anarquismo de BAKUNIN; mas essa lutas internas enfraqueceram a entidade, que se dissolveu em 1876. 9 O Congresso Operário Internacional (Genebra, 1866) ressaltou que a limitação da jornada de trabalho em oito horas era "uma condição prévia sem a qual terão que fracassar todos os esforços de emancipação”. No mesmo ano, em Baltimore, o Congresso Geral dos Trabalhadores Norte-Americanos levantou a bandeira da jornada de oito horas. 10 A primeira lei estatuindo a jornada de oito horas para os empregados e operários do Serviço Público Federal foi sancionada nos Estados Unidos em 1868. 19 do Trabalho foi uma decorrência da campanha para a conquista dessa limitação da jornada de trabalho11. Nas décadas de 70 e 80 do século X IX verificam-se o reconhecimento legal e a conseqüente expansão do sindicalis mo. A Inglaterra, que foi um dos primeiros países a proibir a sindicalização e que depois passou a tolerá-la, revogando o delito da coalizão (1824), cedeu ante o fato social e legislou sobre o tema: em 1871, sob a chefia de DISRAELI, o governo inglês regulamentou o direito de sindicalização ('Trade unions aci). Nos Estados Unidos esse direito foi reconhecido pelos tribunais, com base na Constituição; em 1884, a França adotou a lei de associações profissionais (Lei Waldeck-Rousseau). V — BISMARCK, os seguros sociais e a internacionalização das leis social-trabalhistas A vitória da Alemanha na guerra de 1870/71 e o temor da expansão das ideias de MARX e ENGELS, que eram germâ 11 O rápido desenvolvimento industrial dos Estados Unidos fomentou a ex pansão dos sindicatos. Em 1884, o IV Congresso de Trabalhadores Norte-Ame ricanos, reunido em Chicago, aprovou plano de ação visando à adoção geral da jornada de oito horas, a partir de I o de maio de 1886. Nos primeiros meses desse ano foram despedidos milhares de trabalhadores que se negavam a abandonar seus sindicatos, No dia marcado, mais de 50.000 trabalhadores entraram em greve. Houve passeatas e lutas com a polícia, sobretudo em Chicago, com mortes e feridos de ambos os lados. E, pela morte dos policiais, os líderes do movimento, ALBERT PARSONS e I.UIZ LING, foram conde nados à forca. LING suicidou-se na prisão; o outro foi enforcado. Três anos depois, em Paris, o Congresso Internacional Socialista aprovou resolução re comendando que em todos os países, a partir de 1890, o I o de maio fosse celebrado com manifestações operárias, com o fim de lograr a universalização da jornada de oito horas. Contudo, somente a partir do início do século X X foram sancionadas leis neste sentido; mas o I o de maio continuou a ser comemorado como Dia do Trabalho (de festas em alguns países; de reivindi cações, em outros). Paradoxalmente, nos Estados Unidos esse dia recai na primeira segunda-feira do mês de setembro. 20 nicos, levaram o Chanceler BISMARCK a implantar o primeiro sistema de seguros sodais: de enfermidade (1883), de acidente do trabalho (1884) e de velhice e invalidez (1889). Esses seguros obrigatórios abrangiam todos os trabalhadores da in dústria e do comércio. Em 1886 o seguro-enfermidade foi estendido à agricultura e, em 1892, aos transportes. Na Alemanha já vigoravam algumas leis de proteção ao trabalhador12. Por isso mesmo, o custo social da mão de obra, elevado com as contribuições previdenciárias, preocupou tanto os empresários como alguns parlamentares e o próprio KAISER GUILHERME II. Este, valendo-se do prestígio do seu país, apoderou-se da iniciativa do Conselho Federal da Suíça no sentido de internacionalizar a legislação social-trabalhista e convocou a Conferência de Berlim, que se realizou em março de 1890, com o apoio explícito do PAPA LEÃO XIII. A ideia de internacionalizar as normas fundamentais da proteção social ao trabalho, seja para nivelar o custo da produção entre países industrializados, seja para atender a princípios de justiça social, já havia sido defendida, dentre outros13, por OWEN (1818), BLANQUI (1838), LEGRAND (1841), MARX e ENGELS (1864), pelo Conselho Federal da Suíça (1855, 1876, 1881 e 1890) e pela Segunda Internacional (Paris, 1889). A Conferência de Berlim teve o mérito de evidenciar que temas trabalhistas de relevo podiam ser tratados no plano internacional. Os êxitos obtidos foram a assinatura do Protocolo fixando em 14 anos a idade mínima de admissão nos trabalhos das minas (salvo nos países meridionais, onde a idade mínima seria de 12 anos) e de várias recomendações concernentes à proibição do trabalho das mulheres nas minas, à redução da 12 Proibição do trabalho do menor de 12 anos, jornada de seis horas para os menores de 12 a 14 anos, proteção ao trabalho da mulher e inspeção do trabalho a cargo de autoridades policiais. 13 Cf. nosso "Direito Internacional do Trabalho”, Slo Paulo, LTr, 3a ed., 2000, págs. 76/79. 21 jornada de trabalho nas minas, à arbitragem nos conflitos de trabalho, à organização de sociedades de socorro mútuo entre os trabalhadores, à proibição do trabalho dos menores de 12 anos nos estabelecimentos industriais (salvo nos países meri dionais, onde a idade mínima seria de 10 anos), à proibição do trabalho noturno das mulheres e, finalmente, à concessão de um período de descanso por motivo de parto. VI — LEÃO X III, a doutrina social da Igreja e a multiplicação das leis social-trabalhistas O intenso trabalho dos sindicatos ingleses, franceses, ale mães e norte-americanos, quer dos vinculados ao socialismo revolucionário, quer dos independentes, resultou na conquista das primeiras leis trabalhistas do mundo contemporâneo. Mas é inquestionável que a divulgação da encíclica Rerum Novarum, do PAPA LEÃO XIII, em 15 de maio de 1891, acelerou a multiplicação dessas leis. Essa famosa encíclica pleiteou a mu dança da diretriz então predomindante no trato das questões pertinentes ao trabalho, a fim de preservar a dignidade humana do trabalhador e implantar a justiça social; criticou tanto o liberal-individualismo, como o socialismo14; e, em virtude da sua alta procedência, exerceu remarcada influência entre mui tos governantes e parlamentares, dos quais dependia a decre tação de inadiáveis normas de proteção social ao trabalhador15. 14 Proclamando que os interesses do Estado, dos patrões e dos trabalhadores não são inconciliáveis, desde que atendidos os princípios da justiça social, LEÃO XIII emprestou "fundamento moral à intervenção do Estado nas relações de trabalho, mostrando a impossibilidade da solução do problema social, se os povos continuassem aferrados às anacrônicas concepções do liberal individua lismo” (GERALDO BEZERRA DE MENEZES, “Doutrina Social e Direito do Trabalho", Rio, 1953, pág. 21). 15 A Rerum Novarum deu ênfase especial à adoção da jornada de oito horas: "A atividade do homem é limitada, como a sua
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