Buscar

0 - Parte geral

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 222 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 222 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 222 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

I. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL
1. conceito
2. caracteres
2. função 
4. princípios básicos do direito penal
5. relações com outros ramos do direito
6. direito penal, política criminal e criminologia
7. fontes do direito penal
II. PRINCÍPIOS DA RESERVA LEGAL E ANTERIORIDADE
1. origem histórica e conceito
2. corolários do princípio da legalidade 
3. norma penal em branco
4. outras questões 
5. analogia, interpretação analógica e interpretação extensiva
5.1. analogia
5.2. interpretação analógica ou “intra legem”
5.3. interpretação extensiva
III. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
1. princípio adotado
2. espécies de lei penal benéfica
3. espécies de lei penal prejudicial 
4. outras questões 
IV. LEIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS 
V. TEMPO DO CRIME 
1. teoria adotada pelo cp
2. relevância
VI. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO ESPAÇO 
1. princípio adotado
2. conceito de território nacional
3. intraterritorialidade
4. extraterritorialidade
5. princípios da extraterritorialidade
6. espécies de extraterritorialidade
6.1. extraterritorialidade incondicionada
6.2. extraterritorialidade condicionada
VII. LUGAR DO CRIME
VIII. CONTAGEM DO PRAZO PENAL
IX. TEORIA GERAL DO CRIME
1. introdução
2. conceitos de crime
3. fato típico
3.1. conduta humana 
3.1.1. teoria causalista da ação
3.1.2. teoria finalista da ação
3.1.3. teoria social da ação
3.1.4. casos de exclusão da conduta
3.2. resultado
3.3. nexo causal
3.3.1. concausas
3.4. tipicidade
X. TIPO PENAL
XI. CRIME DOLOSO
1. conceito 
2. elementos
3. teorias
5. natureza jurídica 
6. espécies
XII. CRIME CULPOSO
1. conceito
2. elementos
3. crime culposo na teoria do tipo
4. compensação de culpas
5. concorrência de culpas e coautoria
6. excludentes da culpa 
7. culpa imprópria
	
XIII. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO 
1. introdução
2. espécies
3. crime preterdoloso 
XIV. ERRO DE TIPO
1. noções de erro e ignorância 
2. classificação do erro de tipo incriminador
3. conceito e efeitos do erro de tipo essencial
4. conceito e efeitos do erro de tipo acidental
XV. CAMINHO DO CRIME
XVI. TENTATIVA 
1. conceito
2. elementos 
2. natureza jurídica
3. critério para a fixação da causa de diminuição de pena 
6. classificações da tentativa
5. infrações penais que não admitem tentativa
XVII. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
1. conceito
2. elementos
3. natureza jurídica
4. desistência voluntária
5. arrependimento eficaz 
7. comunicabilidade no concurso de pessoas
XVIII. ARREPENDIMENTO POSTERIOR
1. conceito
2. requisitos
3. natureza jurídica
4. comunicabilidade no concurso de pessoas
5. normas especiais sobre reparação do dano
XIX. CRIME PUTATIVO
1. conceito
2. crime impossível
2.1. teorias
2.2. natureza jurídica
2.3. formas
3. flagrante provocado 
4. delito putativo por erro de tipo
5. delito putativo por erro de proibição
XX. ILICITUDE
1. conceito
2. causas excludentes da ilicitude
XXI. LEGÍTIMA DEFESA
1. conceito
2. requisitos
3. classificações da legítima defesa
4. questões finais
XXII. ESTADO DE NECESSIDADE
1. conceito
2. requisitos
XXIII. EXERCÍCIO REGULAR DO DIREITO
XXIV. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL
XXV. CULPABILIDADE
1. conceito e teorias
2. elementos
3. imputabilidade
4. potencial conhecimento da ilicitude
5. exigibilidade de conduta diversa
XXVI. CONCURSO DE PESSOAS
XXVII. SANÇÃO PENAL
XXVIII. CONCURSO DE CRIMES
XXIX. SURSIS
1. origem
2. conceito
3. natureza jurídica
4. momento da concessão 
5. espécies 
6. requisitos
7. período de prova
8. condições
9. revogação
10. cassação
11. extinção da punibilidade
12. outras questões
XXX. LIVRAMENTO CONDICIONAL
1. conceito
2. requisitos
3. competência 
4. período de prova
5. condições 
6. revogação 
7. extinção da punibilidade 
XXX. AÇÃO PENAL
1. conceito
2. classificação da ação penal sob o ponto de vista subjetivo
3. ação penal pública
4. ação penal de iniciativa privada
5. condições da ação 
6. elementos da ação
XXXI. PUNIBILIDADE
1. conceito de crime
2. punibilidade e conceitos correlatos
3. causas extintivas da punibilidade
3.1. introdução
3.2. morte do agente 
3.3. anistia, graça e indulto
3.4. abolitio criminis
3.5. retratação do agente
3.6. perdão judicial
3.7. decadência
3.8. renúncia 
3.9. perdão do ofendido 
3.10. perempção
3.11. prescrição 
3.11.1. prescrição da pretensão punitiva propriamente dita
3.11.1.1. forma de contagem
3.11.1.2. termo inicial
3.11.1.3. causas interruptivas da prescrição
3.11.1.4. causas impeditivas e suspensivas da prescrição:
3.11.1.5. períodos de prescrição
3.11.2. prescrição retroativa
3.11.2.1. fundamentos
3.11.2.2. forma de contagem
3.11.2.3. prescrição virtual
3.11.3. prescrição intercorrente
3.11.3.1. fundamentos
3.11.3.2. forma de contagem
3.11.3.3. termo inicial
3.11.3.4. formas de ocorrência
3.11.4. prescrição da pretensão executória
3.11.4.1. fundamentos
3.11.4.2. forma de contagem
3.11.4.3. termo inicial
3.11.4.4. causas interruptivas da prescrição
3.11.4.5. exemplos
3.12. prescrição da pena de multa
3.13. prescrição e concurso de crimes
I. INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL
1. CONCEITO
O direito penal, sob a ótica formal, é o ramo do direito público que considera certos comportamentos humanos como infrações penais (crimes ou contravenções penais), define seus agentes e impõe-lhes as respectivas sanções penais (penas ou medidas de segurança).
Sob o ponto de vista sociológico, direito penal é o instrumento de controle social, que visa assegurar a disciplina social e a convivência harmônica entre as pessoas.
O direito penal, dentre vários critérios, é classificado em:
1) Quanto ao local em que é aplicado
Divide-se em direito penal geral e local. O direito penal geral é válido em todo território nacional (reflexo do art. 22, I, da CF/88). O direito penal local tem validade somente em determinado Estado-membro como consequência da incidência do art. 22, parágrafo único, da CF/88. 
2) Em relação aos destinatários
Fala-se em direito penal comum e especial. O direito penal comum tem como destinatário a universalidade das pessoas (Código Penal). O direito penal especial aplica-se somente a um grupo determinado de pessoas (e.g., Código Penal Militar).
3) No que tange as facetas do direito penal
Existe o direito penal objetivo e subjetivo. O direito penal objetivo é toda legislação penal em vigor, enquanto que o direito penal subjetivo corresponde ao jus puniendi do Estado, que somente surge com a praticada infração penal.
O direito de punir do Estado é limitado no tempo, em razão da prescrição; no espaço, por força do princípio da territorialidade e pelo modo de execução, de acordo com o princípio da dignidade da pessoa humana.
2. CARACTERES
Dentre tantas, são características do direito penal:
1) é ramo do direito público, pois o titular do jus puniendi é o Estado, tanto na ação penal pública quanto na privada;
2) é uma ciência normativa, pois tem como objeto de estudo a norma jurídica/preceito legal. É ciência do mundo do dever-ser e não do ser; 
3) é ciência finalista, que tem como escopo proteger somente os bens jurídicos fundamentais (efeito do princípio da fragmentariedade);
4) é ciência sancionadora, pois tutela a ordem jurídica mediante a cominação de sanções.
3. FUNÇÃO
Consoante o funcionalismo teleológico de Claus Roxin a função do direito penal é assegurar os bens jurídicos fundamentais.
Para o funcionalismo sistêmico de Günther Jakobs a missão do direito penal éresguardar a norma e o sistema jurídico.
4. RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DO DIREITO
Denota importância a relação do direito penal com outros ramos do direito, especialmente, o direito constitucional, o direito administrativo, o direito processual penal e o direito privado.
No que tange ao direito constitucional a ligação com o direito penal é estreita, haja vista que no título dos direitos e garantias fundamentais encontram-se expressamente elencados inúmeros princípios constitucionais penais, como o da reserva legal (art. 5º, XXXIX, CF/88), irretroatividade da lei penal e sua exceção (art. 5º, LX, CF/88), personalidade (art. 5º, XLV, CF/88), humanidade (art. 5º, XLVII, CF/88).
Isso sem falar em vários princípios implícitos previstos na Carta Magna decorrentes do princípio da dignidade da pessoa humana, tais como o da lesividade, insignificância, fragmentariedade, intervenção mínina etc.
Com relação ao direito administrativo existe um título no CP reservado exclusivamente para os crimes contra a administração pública (título XI).
Já o processo penal consubstancia a materialização do direito penal, ou seja, é tão-somente por meio do processo penal que o direito penal ganha aplicação prática. 
Isso porque, de acordo com o art. 5º, LIV, CF/88, ninguém poderá ser privado dos seus bens ou liberdade sem o devido processo legal.
Por fim, ressalte-se que a relação entre o direito penal e os ramos de direito privado é de complementariedade, isto é, o direito penal tutela o direito de posse, propriedade, além das obrigações civis ao sancionar os crimes contra o patrimônio.
5. DISTINÇÕES COM POLÍTICA CRIMINAL E CRIMINOLOGIA
6. FONTES 
As fontes do direito revelam a origem e o modo/forma das normas jurídicas exteriorizarem-se. Dividem-se em fontes materiais e formais.
A fonte material, substancial ou de produção diz respeito ao órgão encarregado de elaborar o direito penal. 
Compete à União legislar, privativamente, sobre direito penal nacional (art. 22, I, da CF/88). Tal função é exercida pelo Poder Legislativo Federal, por meio do Congresso Nacional.
Contudo, a União pode, excepcionalmente, delegar a competência aos Estados-membros, por meio de lei complementar, para legislarem sobre questões específicas (art. 22, parágrafo único, da CF/88).
Já a fonte formal, de conhecimento ou de cognição revela o modo pelo qual o Direito Penal exterioriza-se no mundo jurídico. Subdivide-se em fonte formal imediata e mediata.
A fonte formal imediata compreende a lei em sentido estrito (lei ordinária, lei complementar e Constituição Federal – mencione-se, por exemplo, o art. 5º, XLII e XLIV, que afirma que os crimes de racismo e grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático são imprescritíveis).
Há quem acrescente, também, no rol das fontes formais imediatas, os tratado internacionais que versem sobre direitos humanos; a jurisprudência, com ênfase na súmula vinculante editada pelo Supremo Tribunal Federal (art. 103-A, da CF/88) e o complemento administrativo da norma penal em branco, como, por exemplo, a portaria editada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária que elenca as substâncias consideradas drogas para fins da Lei nº 11.343/06.
Como fonte formal mediata elenca-se os costumes e os princípios gerais do direito.
II. PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL E DA ANTERIORIDADE
1. ORIGEM HISTÓRICA E CONCEITO
O princípio da legalidade estrita ou reserva legal tem como berço a Carta Magna de 1215, do Rei João Sem Terra, na Inglaterra. 
É mencionado, dentre tantas obras, nos livros “dos delitos e das penas”, de autoria do marquês Cesare de Beccaria, e no “o espírito das leis”, escrito por Montesquieu em 1748.
No direito pátrio está insculpido tanto no art. 1º do CP, quanto no art. 5º, XXXIX, da CF/88 e significa que “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. 
É também conhecido por meio do brocardo nullum crimen nulla poena sine praevia lege.
O postulado ora analisado tem fundamento de caráter jurídico e político. O primeiro diz respeito à taxatividade, ou seja, a lei penal deve descrever de forma precisa o conteúdo mínimo da conduta criminosa. O segundo diz respeito à proteção do indivíduo contra a ingerência arbitrária do Estado. 
Franz Von Lizt afirma que o Código Penal é a magna carta do delinquente. Trata-se de um direito fundamental de primeira geração alçado ao status de cláusula pétrea (art. 60, § 4º, IV, da CF/88).
O princípio da legalidade em sentido estrito ou reserva legal enuncia que somente lei em sentido estrito institui crimes e penas. 
Considera-se lei em sentido estrito as emendas à constituição, leis complementares (e. g., art. 10 da lei complementar nº 105/01) e leis ordinárias. 
De forma reversa, as seguintes espécies normativas não têm força para criar crimes e penas: 
Lei delegada
A lei delegada é função atípica do chefe do Poder Executivo Federal de legislar e não pode versar sobre direitos fundamentais da pessoa humana (art. 68, § 1º, I, da CF/88).
2) Medida provisória 
A proibição da edição de medida provisória pelo Presidente da República limita-se às normas penais incriminadoras, apesar da redação genérica do art. 62, § 1º, I, “b”, da CF/88.
Por isso, no campo das normas penais não incriminadoras a medida provisória pode versar sobre direito penal, pois beneficia o réu. 
3) Resolução e decreto legislativo
A resolução e o decreto legislativo são atos de competência do Congresso Nacional para disciplinar questões internas, logo, não podem instituir crimes e penas.
4) Ato administrativo
Os atos administrativos em geral, como os decretos, portarias, ordens de serviço não podem inovar no ordenamento jurídico por se tratarem de atos infralegais.
2. COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 
Segundo ensina Francisco de Assis Toledo são desdobramentos do princípio da legalidade em sentido estrito:
i) Lex praevia 
A lei que institui o crime e a pena deve ser anterior ao fato criminoso. Corresponde ao princípio da anterioridade.
ii) Lex certa 
A lei penal deve definir a conduta criminosa de forma clara e certa, que não deixe margem à dúvida. Dá azo ao surgimento do princípio da determinação ou taxatividade da lei penal.
É imprescindível que a lei traga um mínimo de determinação da conduta criminosa. Os tipos penais vagos, ambíguos, indeterminados, em que pese a existência de lei formal, contrastam com o princípio da legalidade estrita.
Portanto, a título de exemplo, o tipo penal do art. 20 da Lei nº 7.170/83 – Lei de Segurança Nacional, que enuncia como crime “(...) praticar atos de terrorismo (...)”.é inconstitucional por não conter um mínimo de determinação da conduta criminosa. 
iii) Lex scripta (vedação dos costumes)
A lei deve ser escrita, logo, exclui-se a possibilidade dos costumes criarem crimes e penas.
iv) Lex escricta (vedação à analogia)
A lei penal incriminadora ser interpretada em sentido estrito, logo, a analogia in malam partem não institui crimes e penas.
3. NORMA PENAL EM BRANCO
A norma penal em branco surge nos casos em que o preceito primário da norma penal incriminadora que define a conduta criminosa depende de complementação para a sua compreensão.
Segundo Von Lizst, as normas penais em branco são corpos errantes em busca de uma alma.
O complemento advém de uma lei ou de um ato administrativo, surgindo a classificação em norma penal em branco homogênea ou heterogênea.
i) Norma penal em branco em sentido amplo ou homogêneo
A norma penal em branco homogênea ou em sentindo amplo o complemento da conduta advém de outra lei, v. g., nos crimes de apropriação de tesouro (art. 169, parágrafo único, I, do CP) e conhecimento prévio de impedimento (art. 237 do CP), o conceito de tesouro e o rol dos impedimentos matrimoniais é extraído do Código Civil.
A norma penal em branco homogênea, por sua vez, é subdivida em homovitelínea e heterovitelínea.Na primeira o complemento vem do próprio CP (v.g., nos crimes funcionais (arts. 312 a 326 do CP), o conceito de funcionário público é dado pelo próprio CP em seu art. 327), e na segunda o complemento advém de outra lei (e. g., do Código Civil, nos crimes citados no parágrafo anterior).
ii) Norma penal em branco em sentido estrito ou heterogêneo
O complemento da conduta criminosa provém de um ato administrativo. Nesse sentido, o crime de tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/06), posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei nº 10.826/03), porte ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 14 da Lei nº 10.826/03).
Existe, ainda, a lei penal em branco ao avesso, em que o preceito primário é completo, todavia, o preceito secundário depende de complementação. Como exemplos, o uso de documento falso (art. 304 do CP), genocídio (Lei 2.889/56) etc.
Finalmente, destaque-se que a norma penal em branco em sentido estrito não viola de forma alguma o princípio de legalidade, haja vista que basta um mínimo de determinação da conduta criminosa no tipo penal.
4. OUTRAS QUESTÕES 
a) O que é crime inominado? 
O crime inominado é o que infringe tão somente uma regra ética. É o caso do incesto consentido entre pessoas maiores. 
É incompatível com o direito penal pátrio, por força do princípio da legalidade.
b) O princípio da legalidade em sentido estrito é aplicado às normas penais não incriminadoras?
O princípio da reserva legal está limitado às normas penais incriminadoras.
Porquanto, é possível a existência de norma penal não incriminadora fora dos casos previstos em lei, como o emprego da analogia “in bonam partem”.
c) O princípio da legalidade aplica-se às contravenções penais e às medidas de segurança?
As contravenções penais são regidas pelo princípio da reserva legal, por força do disposto no art. 12 do CP c/c art. 1º da Lei das Contravenções Penais.
No que tange às medidas de segurança, prevalece o entendimento da aplicação do princípio da legalidade, haja vista que implica em privação da liberdade da vítima, submetendo-se ao princípio geral do devido processo legal�. 
d) O que é tipo aberto? Contraria o princípio da reserva legal?
O tipo penal aberto está presente nas hipóteses em que a conduta criminosa é complementada pelo juiz, como nos crimes culposos em geral, crime de ato obsceno (art. 233 do CP) etc.
O princípio da legalidade não viola o princípio da reserva legal, pois basta que o tipo penal tenha um mínimo de determinação.
A receptação culposa é o único crime culposo previsto em tipo penal fechado, pois o legislador descreve de forma detalhada os comportamentos culposos (art. 180, § 3º, do CP�).
e) O que é mandado de criminalização? 
É uma ordem ou mandamento emitido pela Constituição Federal ao legislador ordinário, determinando a criminalização de determinadas condutas, o qual pode ser expresso (art. 225, § 3º, CF/88 – crimes ambientais) ou tácito (combate à corrupção – extraído da forma de governo republicana, princípio da moralidade administrativa).
5. ANALOGIA, INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
5.1. ANALOGIA
A analogia é meio de auto-integração do direito quando houver lacuna legal (art. 4º da Lei de Introdução ao Direito Brasileiro e art. 126 do CPC).
O emprego da analogia “in malam partem” é terminantemente proibido por força do princípio da legalidade que impõe o primado da lei para a instituição de crimes e penas. 
Assim, não constitui crime de bigamia o agente casado que contrai união estável com outra mulher, já que o art. 235 do CP limita-se a descrever o casamento.
Todavia, o uso da analogia “in bonam partem” é admitido (e. g., incidência de imunidade absoluta no crime patrimonial cometido em face de companheiro, haja vista que o CP apenas menciona crime praticado em face de cônjuge na constância da sociedade conjugal – art. 181, I, do CP).
5.2. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA OU “INTRA LEGEM”
A interpretação analógica ou intra legem é o processo de averiguação do sentido da norma jurídica, valendo-se de elementos fornecidos pela própria lei por meio do método de semelhança.
Damásio ensina que “na interpretação analógica (permitida pela própria lei), é o próprio dispositivo que determina se aplique analogicamente o preceito (...) a própria lei, após definir a fórmula casuística, menciona os casos que devem ser compreendidos por semelhança”.
Ocorre quando o legislador após utilizar fórmulas exemplificativas ou casuísticas se vale de uma forma genérica para regular situações semelhantes. É admitida pelo Direito Penal, já que não existe lacuna legal.
5.3. INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
Na interpretação restritiva, o legislador disse mais do que queria, devendo, pois, o intérprete reduzir o campo de aplicação da norma (exemplo, art. 334, § 3º, do CP, em que deve ser considerado transporte aéreo para fins de causa de aumento de pena apenas o clandestino).
Já na interpretação extensiva ocorre justamente o contrário, isto é, legislador disse menos do que queria, cabendo ao intérprete elastecer o campo dessa norma. Para se atender à real finalidade do texto mister se faz ampliar o alcance das palavras. 
A título de exemplos, o crime de bigamia (art. 235 do CP) engloba a poligamia, assim como o crime de extorsão mediante seqüestro (art. 159 do CP) abrange o cárcere privado. No crime de duplicata simulada (art. 172 do CP), compreende-se também a emissão de duplicata de mercadoria de venda inexistente, em que pese o tipo penal só se referir à mercadoria vendida em desacordo a sua qualidade ou quantidade.
III. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO TEMPO 
O direito intertemporal é o conjunto de regras e princípios que visa solucionar o conflito de leis penais no tempo, nas hipóteses em que uma norma penal entra em vigor ab-rogando ou derrogando uma normal penal anterior. 
1. PRINCÍPIO ADOTADO
O art. 5º, XL, da CF/88, reiterado pelo art. 2º do CP, consagra o princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa ou princípio da retroatividade da lei penal benéfica, que significa que “a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;”
O art. 2º do CP determina que:
“Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”
Via de regra, aplica-se ao direito penal intertemporal a lei penal vigente ao tempo da prática do crime (tempus regit actum), salvo o caso de lei penal posterior benéfica.
2. ESPÉCIES DE LEI PENAL BENÉFICA
A lei penal benéfica compreende a “novatio legis in mellius” e a “abolitio criminis”.
i) “Novatio legis in mellius”
É a nova lei que de qualquer forma beneficia o réu, sem excluir o crime.
É também chamada de “lex mitior” e está presente, por exemplo, nos casos em que a lei reduz a pena do crime; admite representação da vítima nos casos em que a ação penal pública era incondicionada ou que institui causa de diminuição da pena.
No caso de dúvida acerca de qual lei é a mais favorável, a antiga ou a nova, há quem entenda que o juiz deve decidir por ser quem exerce a jurisdição e outros no sentido de que o réu deve ser consultado para escolher a lei penal mais benéfica.
ii) “abolitio criminis”
É a lei nova supressiva de incriminação, ou seja, a lei deixa de considerar crime determinada conduta. É necessária além da revogação formal a supressão material do fato criminoso.
Deveras, com o advento da Lei nº 11.106/05, o adultério e a sedução tornaram-se atípicos. Diferentemente, a Lei nº 12.015/09 revogou formalmente o atentado violento ao pudor, mas não suprimiu a conduta criminosa, transferindo-a para o contexto do crime de estupro.
A abolitio criminis tem natureza jurídica de causa extintiva da tipicidadee da punibilidade (art. 107, III, do CP). 
Os efeitos penais, primários e secundários, são extintos. Porquanto, o agente preso é colocado em liberdade; o reincidente volta a ser primário etc. 
Entretanto, o efeito civil da obrigação de reparar o dano causado subsiste para o agente beneficiado pela abolitio criminis. 
3. ESPÉCIES DE LEI PENAL PREJUDICIAL 
A lei penal maléfica divide-se em novatio legis incriminadora e novatio legis in pejus:
i) “novatio legis” incriminadora: é a lei que torna típico um fato atípico, isto é, que cria um crime. Trata-se da neocriminalização.
ii) “novatio legis in pejus”: é a lei que de qualquer forma agrava a situação jurídica do réu (ex:. lei que aumenta em abstrato a pena ou que institui uma causa de aumento de pena).
4. OUTRAS QUESTÕES 
a) Qual órgão jurisdicional tem competência para aplicar a lei penal benéfica?
A resposta está condicionada ao momento em que se encontra o processo penal. 
Dessa forma, antes da coisa julgada a competência para aplicar a lei penal benéfica é do juiz de primeiro grau ou do tribunal. 
Depois da coisa julgada, a competência é do juízo da execução penal, nos moldes do art. 66, I, da Lei de Execução Penal e Súmula 611 do STF�.
b) É possível aplicação da lei penal benéfica que está em “vacatio legis”?
A aplicação da lei penal benéfica em “vacatio legis” não é permitida, sob pena de ofensa ao princípio da igualdade.
 Demais disso, é possível a revogação da lei penal em vacatio legis, como aconteceu com o Código Penal de 1967, que ficou em “vacatio” durante 12 anos, sem nunca ter entrado em vigor, eis que revogado em 1979.
c) A combinação de leis penais é admitida?
A lex tertia ou combinação de leis penais pelo órgão julgador ofende o princípio da separação dos poderes e da reserva legal. 
O STF vem, reiteradamente, decidindo o não cabimento da combinação das Leis nºs 6.368/76 e 11.343/06, no que tange a aplicação da pena do tráfico de drogas descrito no art. 12 da Lei nº 6.368/76 (3 a 15 anos) – mais benéfica do que a pena de 5 a 15 anos do art. 33 da Lei nº 11.343/06 - e a causa de diminuição da pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 (causa de diminuição da pena de 1/6 a 2/3) – inexistente na Lei nº 6.368/76. �
d) O que é lei penal intermediária?
A lei penal intermediária é a lei penal mais favorável ao réu editada após a prática do crime e antes da sentença. Há, na verdade, um conflito entre três normas penais.
É perfeitamente admitida a lei penal intermediária desde que seja a mais favorável ao réu. É dotada de retroatividade e ultratividade.
IV. LEIS TEMPORÁRIAS E EXCEPCIONAIS 
As leis intermitentes estão disciplinadas no art. 3º do CP, verbis: “a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.”
A lei temporária é que contém em seu texto o período de sua vigência. A lei excepcional é aquela cuja vigência está condicionada a persistência de uma situação anormal (estado de calamidade pública).
As leis intermitentes possuem duas características principais:
1) Ultra-atividade: as leis são aplicadas após o término do prazo de vigência ou da situação excepcional aos fatos praticados durante a sua vigência. 
2) Autorevogabilidade: as leis revogam-se por si só, independentemente da existência de outra lei penal.
Basileu Garcia, minoritariamente, sustenta que o art. 3º do CP é inconstitucional por violação ao princípio da retroatividade da lei penal benéfica, contudo, não se está diante do conflito de leis penais no tempo. Como bem pontifica José Frederico Marques o problema das leis intermitentes é de tipicidade, ou seja, o tempo ou a situação anormal integra o tipo penal.
V. TEMPO DO CRIME 
1. TEORIA ADOTADA PELO CP
O art. 4º do CP afirma que “considera praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que o resultado se de em outro momento.”
O CP adota, portanto, a teoria da atividade ou da ação em relação ao tempo do crime. 
2. RELEVÂNCIA
A teoria da atividade repercute na fixação da:
i) imputabilidade penal; e
ii) lei penal vigente, salvo lei penal benéfica.
No crime permanente a consumação prorroga-se no tempo por vontade do agente (sequestro - art. 148 do CP, e extorsão mediante sequestro - art 159 do CP). 
Por isso, a superveniência de uma lei penal mais grave no crime permanente não ocasiona conflito de leis penais no tempo, haja vista que no momento da entrada em vigor da lei o crime ainda está na fase consumativa.
Consoante verbete da Súmula 711 do STF “a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior a cessação da continuidade ou permanência.”
VI. CONFLITO DE LEIS PENAIS NO ESPAÇO 
1. PRINCÍPIO ADOTADO
O art. 5º do CP adotou o princípio da territorialidade temperada, mitigada ou relativa ao afirmar que “aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.”
Tal princípio determina que se aplica, em regra, a lei penal brasileira aos crimes cometidos no território brasileiro, salvo os casos de intraterritorialiedade e extraterritorialidade.
2. CONCEITO DE TERRITÓRIO NACIONAL
O que é território nacional para fins penais?
Trata-se de conceito jurídico que abrange:
Território geográfico ou natural (espaço físico delimitado pelas fronteiras);
12 milhas do mar territorial; 
Espaço aéreo ilimitado (princípio da absoluta soberania do espaço aéreo adjacente).
Território por extensão, equiparação ou ficção (art. 5º, § 1º, do CP): Abrange as embarcações públicas, aeronaves públicas ou a serviço do Governo Brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e embarcações brasileiras privadas que se acham respectivamente no espaço aéreo correspondente ou em alto mar.
Ressalve-se que a embaixadas brasileiras localizadas em territórios estrangeiros não são consideradas território brasileiro para fins penais.
3. INTRATERRITORIALIDADE
A intraterritorialidade é a aplicação da lei penal estrangeira ao crime ocorrido no território brasileiro nos casos de imunidade diplomática (embaixadores, diplomatas e seus respectivos parentes). É causa de exclusão da jurisdição brasileira. O cônsul somente tem imunidade em relação aos crimes funcionais.
4. EXTRATERRITORIALIDADE
A extraterritorialidade está disciplinada no art. 7º do CP ao consignar que “ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:”.
Consiste na aplicação da lei penal brasileira ao crime ocorrido no estrangeiro.
5. PRINCÍPIOS DA EXTRATERRITORIALIDADE
São princípios que disciplinam a extraterritorialidade:
Princípio da defesa, da proteção ou real
Impõe a aplicação da lei penal a qual pertence o bem jurídico lesado ou exposto a perigo de lesão com a prática do crime, independentemente da nacionalidade do agente ou do local do crime.
O CP adota o princípio da defesa em relação aos crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; contra o patrimônio ou a fé pública da Administração Pública Direta e Indireta ou contra a Administração Pública, por quem está a seu serviço (art. 7º, I, “a”, “b” e “c”).
Há quem entenda que o art. 7º, § 3º, do CP também adota aludido princípio (crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil).
Princípio da personalidade ou nacionalidade
O princípio da personalidade divide-se em personalidade ativa e personalidade passiva.
Na personalidade ativa o agente é punido de acordo com a lei de seu país, independentemente da nacionalidade do sujeito passivo e do bem jurídico ofendido. É adotado em relação ao crime de genocídio quando o agente for brasileiro (art. 7º, I, “d”, do CP), e ao crime praticado por brasileiro nos casos do art. 7º, II, “b”, do CP.
Já a personalidade passivaocorre quando a vítima do delito é nacional, mesmo que o autor do delito seja estrangeiro (art. 7º, § 3 º, do CP) ou quando um brasileiro pratica um crime contra outro brasileiro.
Princípio do domicílio
Determina a aplicação da lei penal onde o agente for domiciliado, pouco importando sua nacionalidade. É previsto no art. 7º, I, “d”, do CP, em relação ao crime de genocídio quando o agente for domiciliado no Brasil. 
Princípio da justiça universal ou cosmopolita
Impõe a aplicação da lei penal do país em que se encontra o criminoso, independentemente da sua nacionalidade, já que por tratado internacional o país se obrigou a reprimir o delito (art. 7, II, “a”, do CP).
Princípio da representação, pavilhão, bandeira, substituição ou subsidiário
A lei penal é aplicada ao país a que pertencer a aeronave ou embarcação privada em que o crime tenha sido cometido.
É adotado em relação aos crimes praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro, e aí não sejam julgados (art. 7º, II, “c”, do CP).
6. ESPÉCIES DE EXTRATERRITORIALIDADE
A extraterritorialidade é incondicionada (art. 7º, I, do CP) ou condicionada (art. 7º, II, do CP).
6.1. EXTRATERRITORIALIDADE INCONDICIONADA
Na extraterritorialidade incondicionada o agente será julgado de acordo com a lei penal brasileira ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro (art. 7º, § 1º, do CP).
Guilherme Nucci, afirmam, porém, que a entrada do agente no território nacional é condição de procedibilidade. Ao contrário, outros sustentam que inexiste qualquer condição para o agente ser julgado pela lei penal brasileira. 
São casos de extraterritorialidade incondicionada:
1) crime cometido contra a vida ou liberdade do Presidente da República.
 O latrocínio (roubo seguido de morte) não é crime contra vida, logo, não se sujeita à extraterritorialidade incondicionada. 
2) crime cometido contra patrimônio ou a fé pública da União, Estado, DF, municípios, autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista;
3) crime cometido contra a Administração Pública por quem está ao seu serviço; 
4) crime de genocídio quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.
O crime de genocídio (Lei nº 2.889/56), consiste na eliminação de um grupo nacional étnico, racial ou religioso visando a sua destruição ou extermínio no todo ou em parte.
A doutrina é divergente quanto à adoção do princípio a ser aplicado. Alguns sustentam que o Brasil julga por força do princípio da personalidade ativa e do domicílio, enquanto outros pregam que se aplica o princípio da justiça universal ou cosmopolita.
Por fim, cumpre registrar que o art. 2º da Lei de Tortura (Lei nº 9.455/97) traz outro caso de extraterritorialidade incondicionada quando a vítima for brasileira ou o agente encontrar-se em local sob jurisdição brasileira.
6.2. EXTRATERRITORIALIDADE CONDICIONADA
Na extraterritorialidade condicionada é imprescindível a presença das seguintes condições para a aplicação da lei penal brasileira ao crime ocorrido no território estrangeiro (art. 7º, § 2º, do CP):
1) entrada do agente no território nacional;
2) dupla tipicidade (fato também deve ser punível no país em que foi praticado);
3) crime incluído entre aqueles que a lei brasileira autoriza a extradição (pena máxima do crime deve ser superior a um ano);
4) não ser o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido pena;
5) não ser o agente perdoado no estrangeiro ou não estar extinta sua punibilidade segundo a lei mais favorável.
Presentes todas essas condições, constituem casos de extraterritorialidade condicionada:
crime que por tratado ou convenção o Brasil se obrigou a reprimir (principio da justiça universal);
crime praticado por brasileiro (princípio da personalidade ativa);
crime praticado em aeronave ou embarcação brasileira privada quando em território estrangeiro (princípio da bandeira).
crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil (princípio real ou da defesa ou, para alguns, princípio da personalidade passiva).
Nesse caso, além das condições genéricas do art. 7º, § 2º, do CP, exige-se, ainda, mais dois requisitos para que o Brasil possa julgar: que não tenha sido pedida ou negada a extradição e a requisição do Ministro da Justiça.
É um dos casos, ao lado dos crimes contra a honra praticados contra Presidente da República ou Chefe de Governo Estrangeiro, de ação penal pública condicionada a requisição do Ministro da Justiça previstos no CP.
VII. LUGAR DO CRIME
O art. 6º do CP dispõe que “considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.”
O CP adota em relação ao lugar do crime a teoria mista ou da ubiquidade, desprezando as teorias da atividade e do resultado. 
O lugar do crime tem aplicação nos crimes à distância ou de espaço máximo (crimes em que a conduta opera num país e o resultado é produzido em país diverso ou vice-versa). Tem como escopo a fixação de jurisdição nacional, preservando a soberania nacional. 
Como exemplo, a pessoa que em solo argentino posta uma bomba relógio para o Brasil, vindo a explosão ocorrer no território brasileiro. 
Ensina Nélson Hungria que “basta uma mera pincelada no território nacional” seja em relação à conduta ou ao resultado para que o Brasil possa julgar o crime.
Quanto à competência territorial para julgar os crimes à distância caso a execução se inicie no território nacional e a consumação fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução (art. 70, § 1º, do CPP).
Por sua vez, quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir o seu resultado (art. 70, § 2º, do CPP).
Cumpre registrar que o lugar do crime (art. 6º do CP – teoria da ubiquidade) é compatível com a teoria do resultado adotada para fixação de competência territorial (art. 70 do CPP), pois enquanto o art. 6º do CP volta-se para os crimes à distância, o art. 70, caput, do CPP, destina-se aos crimes plurilocais (conduta em uma comarca e resultado em comarca diversa). O primeiro fixa jurisdição e o segundo competência territorial. 
VIII. CONTAGEM DO PRAZO PENAL
O art. 10 do CP estabelece que “o dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário comum.”
Conta-se o prazo penal incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o dia do final. Segue regra diferente, portanto, do prazo processual penal em que se verifica o inverso, isto é, o dies a quo é excluído do cômputo do prazo e o dies ad quem é incluído (art. 798, § 1º, do CPP).
Demais disso, o prazo penal não está sujeito à suspensão, interrupção ou prorrogação, podendo se encerrar em sábado, domingo ou feriado. Já o prazo processual penal pode ser suspenso, interrompido ou prorrogado.
São prazos penais todos aqueles ligados ao direito de punir do Estado, como, por exemplo, prazo prescricional, decadencial ou de prisão.
A contagem dos meses e anos compreende um número determinado de dias, pouco importando quantos dias possui cada mês ou o ano, haja vista a adoção do calendário gregoriano. 
IX. TEORIA GERAL DO CRIME
1. INTRODUÇÃO
O CP adota a classificação bipartida de infração penal, que comporta o crime ou delito e a contravenção penal.
Convém anotar que inexiste diferença ontológica entre crime e contravenção penal, contudo, é possível elencar alguns pontos distintivos:
gravidade da infração
O crime é mais grave do que a contravenção pena, tanto é que a pena pode ser cumprida em regime aberto, semi-aberto ou fechado, ao passo que a contravenção penal apenas no regime abertoou semi-aberto.
pena privativa de liberdade cominada
O crime, em regra, é apenado com reclusão ou detenção; já a contravenção é apenada com prisão simples.
Esse critério não é absoluto, já que existem crimes que não se cominam penas prisionais, como o porte de droga para consumo pessoal (art. 28 da Lei nº 11.343/06), em que o legislador comina as penas de advertência sobre os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
2. CONCEITOS DE CRIME
O crime é definido sob três pontos de vista:
1) Material
Sob o enfoque sociológico, crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo de lesão determinado bem jurídico. 
2) Formal 
Trata-se da visão legal. Crime é a conduta prevista em uma norma penal ligada a uma sanção penal. 
3) Científico ou analítico
É a decomposição do crime em seus elementos componentes. A doutrina é divergente acerca do conceito analítico de crime. 
Para a corrente bipartida�, o crime é composto por dois elementos: fato típico e ilicitude. A culpabilidade é mero pressuposto de aplicação da pena.
A corrente tripartite� conceitua o crime consubstanciado no fato típico, ilicitude e culpabilidade.
Argumentam os tripartidos que não só a culpabilidade é pressuposto de aplicação da pena, mas também o fato típico e a ilicitude; que o verdadeiro pressuposto de aplicação da pena é a punibilidade, isto é, a possibilidade jurídica do Estado impor a sanção penal e que o finalismo não conceitua crime, mas conduta humana, sendo que um dos seus mentores Hans Welzel adota o conceito tripartido de crime.
Ressalte-se que a presença do fato típico e ilícito conduz à figura do injusto penal.
3. FATO TÍPICO
Segundo o saudoso Mirabete “Fato típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca, em regra, um resultado, e é previsto como infração penal”.
Os elementos do fato típico variam de acordo com a classificação em crimes materiais, formais e de mera conduta. 
Nos crimes materiais, os elementos do fato típico são a conduta humana, resultado naturalístico, nexo causal e tipicidade.
Já nos crimes formais e de mera conduta (bem como nos crimes omissivos próprios), os elementos do fato típico restringem-se à conduta humana e a tipicidade.
3.1. CONDUTA HUMANA 
De acordo com Francisco de Assis Toledo, “somente os seres humanos são capazes de entender e ouvir as normas penais”, logo, em regra, o crime é obra do ser humano, o qual pode, no entanto, se valer de instrumentos para praticá-lo, como o agente que instiga um pitbull para atacar a vítima. 
Os crimes ambientais, contudo, podem ser praticados por pessoas jurídicas, por imposição do Poder Constituinte Originário (art. 225, § 3º, da CF�), disciplinado pela Lei nº 9.605/98 – Lei dos crimes ambientais.
Ressalve-se que o art. 173, § 5º, da CF/88�, também permite a responsabilidade penal da pessoa jurídica por crime contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular. Entretanto, a ausência de lei tipificando tais condutas da pessoa jurídica constitui óbice para a sua responsabilização penal. 
Com base no conceito de fato típico descrito no item anterior, da expressão “comportamento humano (positivo ou negativo)”, extrai-se a classificação entre crimes comissivos e omissivos.
Quando o crime é praticado mediante comportamento positivo é chamado de crime comissivo (homicídio, estupro, extorsão mediante sequestro etc).
Ao contrário, se o crime é praticado mediante uma abstenção ou não fazer é denominado crime omissivo. Por sua vez, o crime omissivo se divide em omissivo próprio ou puro e omissivo impróprio, impuro, espúrio ou comissivo por omissão.
No crime omissivo próprio, o próprio tipo penal descreve um não fazer (ex.: omissão de socorro - art. 135 do CP; omissão de notificação de doença – art. 269 do CP; condescendência criminosa – art. 320 do CP). 
Já no crime omissivo impróprio, o tipo penal descreve um comportamento positivo, mas o agente alcança o resultado mediante uma omissão nos casos em que tem o dever jurídico de agir (art. 13, § 2º, do CP).
Assim, a mãe que, com a intenção de matar, deixa de alimentar seu filho recém nascido, vindo este a morrer por inanição, pratica um crime omissivo impróprio ou comissivo por omissão.
O dever jurídico de agir existe em três casos:
a) Dever legal
No dever legal, a lei impõe o dever de cuidado, proteção ou vigilância. 
São exemplos de dever legal a conduta dos pais em relação aos filhos menores; do tutor em relação ao tutelado; do curador em face do curatelado; do policial ou bombeiro em relação as pessoas (art. 13, § 2º, “a”, do CP);
b) Dever de garante
O dever de garante surge no caso do agente assumir de outra forma a responsabilidade de evitar o resultado (art. 13, § 2º, “b”, do CP). Engloba as relações contratuais ou relações concretas da vida. 
Como exemplos de garantidor/garante o salva vidas em relação ao mau nadador; o enfermeiro e o doente; guia alpino e alpinista; segurança particular e empregador.
c) Dever por ter gerado o risco
Dá-se quando o agente com seu comportamento anterior criou o risco da ocorrência do resultado. É a figura da ingerência.
Cite-se o acadêmico que joga calouro na piscina que não sabe nadar, vindo este a óbito; exímio nadador que convida alguém para atravessar o canal da mancha e, em determinado instante, abandona o convidado, vindo este a morrer (art. 13, § 2ª, “c”, do CP).
Para a configuração da responsabilidade do agente do crime omissivo impróprio é indispensável a presença dos seguintes requisitos:
1) dever jurídico de agir;
2) poder agir; e
3) dolo ou culpa do agente.
Os crimes comissivos contém normas proibitivas (não matar - a norma mandava não fazer e o agente fez), os crimes omissivos contém normas preceptivas (prestar socorro - a norma mandava agir e o agente se omitiu).
Há várias teorias que conceituam conduta, dentre as quais, elenca-se a teoria causalista, social e finalista. 
3.1.1. TEORIA CAUSALISTA DA AÇÃO
É também conhecida como teoria naturalista, mecanicista, tradicional ou clássica, refletindo as idéias positivistas do final do século XIX e início do século XX. Tem como precursor Franz Von Liszt e sua finalidade era trazer para o campo das ciências jurídicas os postulados, métodos e leis da natureza propugnados por Darwin e Conte.
Assim, a conduta é conceituada como o comportamento humano voluntário que produz uma modificação no mundo exterior. No Brasil é adotada por penalistas clássicos como Nélson Hungria, Magalhães Noronha, José Frederico Marques, encontrando-se atualmente em desuso.
A grande característica desta corrente está no fato de que o dolo e a culpa estarem inseridos na culpabilidade, existindo assim no conceito de crime uma face objetiva e uma face subjetiva.
Essa teoria sofre críticas por não explicar os crimes omissivos próprios, os de mera conduta, os formais e os tentados, eis que estes não apresentam resultado naturalístico, em contraposição ao conceito de conduta fornecido por essa teoria. Demais disso, deixa para último plano a análise do dolo e da culpa, quando estes já deveriam ser analisados na própria conduta.
3.1.2. TEORIA FINALISTA DA AÇÃO
Foi concebida por Hans Welzel, nos idos de 1930, como uma reação à teoria causalista da ação. No Brasil, é adotada por Damásio, Capez, Nucci, Luiz Regis Prado etc. 
A conduta humana é o comportamento humano dirigido a uma atividade final.
Por conseguinte, dolo e a culpa que estavam inseridos na culpabilidade são deslocados para a conduta humana e a culpabilidade passa a ser estritamente normativa composta pela imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa.
3.1.3. TEORIA SOCIAL DA AÇÃO�
Tem como mentor Johannes Wessels, consistindo a conduta no comportamento humano voluntário socialmente relevante. 
Julio Fabbrini Mirabete, com razão, aponta que “as críticas que se fazem aessa teoria residem na dificuldade de conceituar-se o que seja relevância social da conduta, pois tal exigiria um juízo de valor, ético. Tratar-se ia de um critério vago e impreciso que, inclusive influiria nos limites da antijuridicidade, tornando também indeterminada a tipicidade” �.
3.1.4. CASOS DE EXCLUSÃO DA CONDUTA
São causas excludentes da conduta humana:
1) Coação física
Há o emprego de força física contra alguém para a prática do crime. A vontade do coagido é inexistente.
2) Sonambulismo e hipnose
Retratam estados de inconsciência.
3) Atos ou movimentos reflexos
Consiste na reação motora ou secretora que respondem automaticamente a uma excitação sensitiva, como a tosse ou espirro.
4) Caso fortuito e força maior
São os acontecimentos imprevisíveis que escapam da vontade humana.
3.2. RESULTADO
O resultado ou evento pode ser analisado sob a ótica naturalista e normativa ou jurídica.
Resultado naturalístico é a modificação no mundo exterior provocada pela conduta. É o efeito ou consequência da conduta criminosa.
Note-se que nem todos os crimes possuem resultado naturalístico como, por exemplo, os crimes omissivos próprios, de mera conduta, formais e os de perigo abstrato.
Visto sob o enfoque normativo ou jurídico, resultado é a lesão ou perigo de lesão a um bem penalmente protegido. Neste sentido, todo crime possui resultado. 
Cumpre lembrar que a teoria da tipicidade conglobante exige a tipicidade material para a existência do crime, consistente na efetiva lesão do bem jurídico tutelado, o que faz com que todo crime possua resultado normativo.
3.3. NEXO CAUSAL
A relação de causalidade ou liame causal é o elo entre a conduta e o resultado. Só tem importância nos crimes com resultado naturalístico. Assim, não é estudado nos crimes omissivos próprios, de mera conduta, formais e de perigo abstrato.
Há três teorias que analisam o nexo de causalidade:
1) teoria da equivalência dos antecedentes causais;
2) teoria da causalidade adequada; e
3) teoria da imputação objetiva.
A teoria da equivalência dos antecedentes causais ou “conditio sine qua non” foi elaborada por Glaser, Maximiliam Von Buri e Stuart Mill, inicialmente, na segunda metade do século XIX. 
É adotada como regra� pelo CP no art. 13, caput, que estabelece que “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem o qual o resultado não teria ocorrido.” 
Para se descobrir se uma ação é causa do resultado utiliza-se o método hipotético de eliminação de Tyrén, isto é, se suprimido mentalmente determinada ação, o resultado não ocorrer da forma que ocorreu, a ação é considerada causa do resultado. 
A grande crítica que se faz a Tyrén é o regresso ao infinito, pois com base em tal método é possível responsabilizar o proprietário da loja que vende a arma de fogo ou até mesmo os pais do homicida, tendo em vista que suprimido mentalmente estes dois fatos, o resultado não teria ocorrido da forma que ocorreu. 
Para a solução do problema a causalidade física deve ser conjugada à causalidade psíquica, isto é, só se pode imputar o resultado ao agente que agiu com dolo ou culpa.
Portanto, conclui-se que existem dois filtros para a aferição do nexo causal: a causalidade física e a causalidade psíquica (o Direito Penal proíbe a responsabilidade penal objetiva) 
Para alguns, existe, ainda, um terceiro filtro do nexo causal fundamentado na teoria da imputação objetiva, preconizada por Georg Hegel, Karl Laurenz, Richard Honig, Claus Roxin e Günther Jakobs.
Com maestria, ensina Paulo Queiroz� que “não é, propriamente, em que pese o nome, imputar o resultado, mas em especial, delimitar o alcance do tipo objetivo (matar alguém, por exemplo), de sorte que, em rigor, é mais uma teoria da ‘não imputação’ do que uma teoria ‘da imputação’, Trata-se, além disso, não só de um corretivo à relação causal, mas de uma exigência geral da realização típica, a partir da adoção de critérios essencialmente normativos, de modo que sua verificação constitui uma questão de tipicidade, e não de antijuridicidade, prévia e prejudicial à imputação do tipo subjetivo (dolo e culpa)”.
Tem como função tal teoria limitar a responsabilidade penal. Para que se possa imputar ao agente o resultado exige-se as seguinte condições:
I) a criação ou incremento de um risco relevante proibido ao bem jurídico tutelado;
II) atribuição do resultado ao perigo criado pela conduta.
III) exigência de que o resultado esteja dentro do alcance da norma.
Na ausência de um desses requisitos o fato se torna atípico, em face da ausência de nexo causal. 
3.3.1. CONCAUSAS
As concausas são as causas que atuam em conjunto com outra causa. São divididas em absoluta e relativamente independentes, preexistentes, concomitantes ou supervenientes.
As causas absolutamente independentes surgem independentemente ou sem ser provocadas pelo agente de forma preexistente, concomitante ou superveniente. 
a) Causa absolutamente independente preexistente:
 “A” desfecha um tiro em “B” que vem a falecer em virtude do veneno ingerido antes de ser alvejado. “A” responde tão somente pelos atos anteriores, isto é, homicídio tentado. 
b) Causa absolutamente independente concomitante:
“A” atira em “B” no mesmo instante que este está sendo atacado por um leão faminto, sendo que óbito de “B” é decorrente apenas dos ferimentos provocados pelo leão. “A” responde apenas pelos atos anteriores, ou seja, homicídio tentado.
“A” fere “B” no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por força de um ataque cardíaco.
c) Causa absolutamente independente superveniente:
“A” atira em “B” numa jangada. “B” vem a morrer em virtude de um tufão que o atinge em alto mar. “A” responde apenas pelos atos anteriores – homicídio tentado.
 Já nas causas relativamente independentes existe uma relação de dependência ou influência entre a conduta do agente e uma outra causa que pode ser preexistente, concomitante ou superveniente.
i) Causa relativamente independente preexistente: 
“A” atira em “B”, hemofílico, que vem a morrer em virtude do agravamento da doença que já possuía. A conduta de “A” é causa da morte “B”, portanto, responde por homicídio consumado.
ii) Causa relativamente independente concomitante:
“A” atinge “B” numa noite extremamente gelada, vindo “B” a morrer em razão do processo de aceleração da hemorragia provocada pelo frio. “A” responde por homicídio consumado.
iii) Causa relativamente independente superveniente: 
É dividida em duas espécies:
a) que “não produziu o resultado por si só”. “A” desfere uma facada em “B” que vem a morrer em virtude de uma infecção hospitalar. “A” responde por homicídio consumado.
b) que “por si só produziu o resultado” (art. 13, § 1º, do CP)
O CP adota aqui, excepcionalmente, a teoria da causalidade adequada.
É considerado causa o acontecimento que contribui para o resultado de forma eficaz.
Assim, se “A” desfere uma facada em “B”, que vem a morrer em virtude do capotamento da ambulância ou do teto do quarto do hospital cair em sua cabeça. “A” responde apenas pelos atos anteriores, ou seja, homicídio tentado. 
A diferença entre tais causas (a e b) é que na primeira a ação de “A” não provocou, por si só, o resultado morte, enquanto que na segunda houve um desmembramento da linha causal, surgindo um fato que não se encontrava na ordem natural das coisas que por si só provocou o resultado.
A expressão “por si só” indica autonomia da causa superveniente, que não se encontra na mesma linha de deslocamento físico da conduta do agente. Inaugura-se um curso causal autônomo, fora do perigo provocado pela conduta do agente. Assim, este responde apenas pelos atos anteriores a ocorrência do resultado.
3.4. TIPICIDADE
Como concretização do princípio da reserva legal, a tipicidade formal consiste no amoldamento, enquadramento ou subsunção da conduta ànorma penal incriminadora.
A subordinação da conduta à norma penal pode ser imediata ou direta e mediata ou indireta.
A adequação típica imediata ocorre quando o comportamento humano se amolda diretamente à norma penal, independentemente de outra norma.
Por sua vez, a adequação típica indireta ou mediata exige uma norma de extensão ou complementar para que possa haver tipicidade. Está presente nos casos de:
1) tentativa (art. 14, II, CP) – norma de extensão temporal;
2) participação (art. 29 do CP) – norma de extensão pessoal; e
3) omissão penalmente relevante nos crimes omissivos impróprios (art. 13, § 2º, do CP) – norma de extensão da conduta.
A diretriz dominante adota o conceito de tipicidade indiciária, oriunda de Max Ernst Mayer, no sentido de que a presença do fato típico configura um indício da ilicitude, que pode ser afastada na existência de uma descriminante.
Ganha espaço no direito penal pátrio a teoria da tipicidade conglobante, cujo maior expoente é Eugenio Raul Zafaroni, que exige além da tipicidade legal (formal e material) a antinormatividade da conduta.
A tipicidade conglobante tem como requisitos:
1) tipicidade formal;
2) tipicidade material; e
3) antinormatividade
A tipicidade material consiste na efetiva lesão ao bem jurídico tutelado pelo crime. Assim, lesões de bagatela dão ensejo, em regra, ao princípio da insignificância.
No que tange à antinormatividade da conduta, aponta Rogério Greco, que “não é possível que no ordenamento jurídico, que se entende como perfeito, uma norma proíba àquilo que outra imponha ou fomente. (...) casos que hoje são tratados quando da verificação da sua ilicitude podem ser resolvidos já no estudo do primeiro dos elementos da infração penal – o fato típico.”�
Dessarte, as condutas impostas pelo ordenamento jurídico, como a do oficial de justiça que invade casa do devedor para cumprir mandado de penhora, ou do carrasco que executa pena de morte no caso de crime militar cometido por agente no período de guerra declarada, são consideradas atípicas, em face da tipicidade conglobante.
Da mesma forma, as condutas, embora não impostas pelo Estado, mas fomentadas, como a intervenção cirúrgica com finalidade curativa, também são consideradas atípicas.
Por consequência, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular do direito que funcionavam como excludentes da ilicitude, passam a ter natureza jurídica de excludentes da tipicidade.
X. TIPO PENAL
O tipo penal é o conjunto dos elementos descritivos do crime. É o modelo legal de conduta incriminada. 
É composto por elementos objetivos, subjetivos e normativos. 
Os elementos objetivos são aqueles que não exigem uma maior intelecção para se chegar ao seu significado, por exemplo, os núcleos do tipo, que sempre são representados por um verbo (matar, subtrair, constranger, entre outros). 
Já os elementos subjetivos do tipo dizem respeito ao dolo ou culpa. O dolo encontra-se implícito no tipo penal, ao passo que a culpa sempre tem que vir expressa no tipo penal. 
Por último, os elementos normativos do tipo são aqueles que exigem um juízo de valor para se chegar ao seu significado, variando no espaço e no tempo. Nem sempre estão presentes, por exemplo, a revogada expressão “mulher honesta”, “repouso noturno” no crime de furto etc.
X. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES
A doutrina aponta diversos critérios para classificar os crimes.
1. Quanto à qualidade do sujeito ativo:
1.1. Crime comum, próprio e de mão própria
No crime comum, o tipo penal não exige nenhuma qualidade especial do sujeito ativo. O crime pode ser praticado por qualquer pessoa (e.g. homicídio, roubo, estupro).
Quando o tipo penal exige qualidade ou circunstância especial do sujeito ativo tem-se o crime próprio, que admite concurso de pessoas na modalidade de participação e coautoria.
No crime de mão própria ou de conduta infungível o tipo penal exige qualidade especial do sujeito ativo, bem como que seja executado integralmente por este. Assim, admite apenas concurso de pessoas na forma de participação. A coautoria é incompatível com o crime de mão própria.
2. Quanto à conduta humana:
2.1. Crime comissivo, omissivo e misto
Misto (apropriação de coisa achada - 169)
5. Quanto ao momento consumativo:
5.1. Crime instantâneo, permanente e instantâneo de efeitos permanentes
O crime instantâneo é aquele em que a consumação ocorre em momento determinado, verbi gratia, furto (art. 155 do CP), roubo (art. 157 do CP), estupro (art. 213 do CP) etc.
No crime permanente a consumação se potrai no tempo. Como exemplos os crimes de seqüestro ou cárcere privado (art. 148 do CP); redução à condição análoga à de escravo (art. 149 do CP); extorsão mediante sequestro (art. 159 do CP); ocultação de cadáver apenas na forma ocultar (art. 211 do CP) etc
Crime comissivo
O tipo descreve um fazer.
Crime omissivo
Divide-se em omissivo próprio e omissivo impróprio, impuro ou espúrio.
Crime militar
O crime militar em sentido impróprio é o que, embora previsto na legislação penal comum, também estão tipificados no CPM por afetaram diretamente bens jurídicos das Forças Armadas. Como exemplo, homicídio, calúnia, roubo, tráfico de drogas etc.
Crime de dano e perigo
O crime de dano exige a efetiva ofensa do bem jurídico.
O crime de perigo é a desmaterialização ou espiritualização dos bens jurídicos. É um direito penal preventivo. Exemplo: porte de arma de fogo. 
XI. CRIME DOLOSO
1. CONCEITO 
Segundo definição legal, o crime doloso verifica-se na situação em que “o agente quis o resultado� ou assumiu o risco de produzi-lo;” (art. 18, I, do CP).
Dessume-se, assim que o dolo é a vontade livre e consciente de concretizar os elementos descritos no tipo penal incriminador (dolo direto) ou de assumir esse risco (dolo eventual). 
Saliente-se que o art. 18 do CP, consagra o princípio da culpabilidade ou da responsabilidade penal subjetiva, isto é, o agente somente responde criminalmente se atua com dolo ou culpa.
2. ELEMENTOS
Os elementos do crime doloso são: 
1) Consciência
A consciência é a representação mental do crime ou seu momento intelectivo. É indispensável que o agente tenha conhecimento de todas as elementares ou circunstâncias do tipo penal para que possa responder pelo crime.
2) Vontade
A vontade significa a exteriorização da conduta com a finalidade do cometimento do crime. É o seu momento volitivo.
Flávio Monteiro de Barros ensina que a vontade compreende: “a) o objetivo da conduta; b) o meio empregado para alcançar esse objetivo; c) as conseqüências derivadas do emprego desse meio.”
Conforme adiante exposto, no erro de tipo essencial, seja escusável ou inescusável, o agente não tem consciência e vontade, o que faz com que o dolo seja sempre excluído.
3. TEORIAS
O Código Penal adota duas teorias em relação ao dolo:
1) Teoria da vontade:
A teoria da vontade está consagrada na parte inicial do art. 18, I, do CP, na fórmula “(...) quando o agente quis o resultado (...)”.
O dolo é o querer o resultado. Abarca o dolo direto e o dolo alternativo.
2) Teoria do assentimento, consentimento ou anuência:
A teoria do assentimento, também chamada de consentimento ou anuência, é extraída da parte final do art. 18, I, do CP, da expressão “(...) assumiu o risco de produzi-lo;”
Assim, o dolo também existe quando o agente não quer o resultado, mas assume o risco de produzi-lo (dolo eventual).
A teoria da representação afirma que basta a previsão do resultado para a configuração do dolo, independentemente de sua produção ou assunção de risco, não foi adotada pelo CP brasileiro.
5. NATUREZA JURÍDICA 
No âmbito da teoria causalista da ação, o dolo integra a culpabilidade, contudo, com o advento da teoria finalista da ação, preconizada por Hans Welzel, o dolo foi transferido da culpabilidade para a condutahumana, consistindo em elemento subjetivo do tipo penal.
6. ESPÉCIES
Dolo direto ou determinado e indireto ou indeterminado
No dolo direto ou determinado a vontade do agente se dirige à produção de determinado resultado, podendo ser dividido em de 1º grau e de 2º grau ou de consequências necessárias.
O dolo direto de 1º grau ocorre quando o agente visa a um resultado certo e somente este ocorre.
Já no dolo direto de 2º grau ou de consequências necessárias o agente visa a um resultado certo, entretanto, tem consciência que outros resultados necessariamente ocorrerão. Suponha-se o agente que pretende matar alguém num avião lotado prestes a decolar e para tanto coloca uma bomba debaixo do assento do inimigo, causando a morte de todos os tripulantes.
O dolo indireto ou indeterminado é classificado em alternativo ou eventual.
No dolo alternativo o agente quer com igual intensidade um ou outro resultado, como, por exemplo, lesionar ou matar alguém, ocasião em que responde pelo crime mais grave.
Já no dolo eventual o agente não quer o resultado, mas assume o risco de sua produção. São exemplos típicos o racha (corrida automobilística em via pública), roleta russa (ultrapassar o sinal vermelho em alta velocidade) etc.
A fórmula de Frank sintetiza o dolo eventual da seguinte forma “seja como for, dê no que der, em qualquer caso não deixo de agir”.
O CP equipara, em regra, o dolo direto com o dolo eventual para fins de caracterização do crime e aplicação da pena.
Certos crimes, entretanto, somente existem com o dolo direto:
I) subtipo da calúnia (art. 138, § 1º, CP – “sabendo falsa a imputação”);
II) receptação simples (art. 180 do CP – “coisa que sabe ser produto de crime”);
III) moeda falsa privilegiada (art. 289, § 2º, do CP – “depois de conhecer a falsidade”); 
IV) denunciação caluniosa (art. 339 do CP – “de que o sabe inocente”);
V) comunicação falsa de crime ou contravenção (art. 340 do CP – “ocorrência de crime ou contravenção que sabe não se ter verificado).
B) Dolo genérico e específico 
O dolo genérico é a simples vontade de realizar o fato criminoso descrito no tipo penal, independentemente de fim especial. 
É o caso do homicídio – matar alguém (art. 121 do CP), ou do crime de sequestro – privar alguém de sua liberdade mediante sequestro (art. 148 do CP), em que a conduta é um fim em si mesmo.
O dolo específico (linguagem adotada pela teoria causalista da ação), ou elemento subjetivo do tipo específico (expressão usada pela teoria finalista da ação), ocorre quando o tipo penal, além do dolo genérico, exige uma finalidade especial por parte do agente. 
A conduta é um meio para atingir um fim que o tipo penal faz menção, como no crime de genocídio – matar com a intenção de destruir grupo nacional, étnico, racial ou religioso (art. 1º, “a”, da Lei nº 2.889/56), ou no crime de extorsão mediante sequestro – sequestrar pessoa com o fim de obter vantagem econômica indevida como condição do preço ou resgate (art. 159 do CP).	
C) Dolo presumido
O dolo presumido ou in re ipsa é o que dispensa prova de sua ocorrência no caso concreto. 
A presunção da responsabilidade penal implica na adoção da responsabilidade penal objetiva – que independe de dolo ou culpa -, inadmitida no direito penal brasileiro. Portanto, o órgão acusatório tem o ônus de provar o dolo do agente. 
D) Dolus bonus e malus 
Tal classificação se relaciona com as qualidades do motivo do crime.
No dolus bonus a razão psicológica que determina o agente a realizar a conduta é considerada nobre, como no homicídio piedoso ou compassivo – eutanásia – em que está presente o motivo de relevante valor moral. 
Já no dolus malus o motivo é irrelevante. 
F) Dolo normativo e natural
Quanto à necessidade, ou não, da consciência da ilicitude, o dolo se divide em normativo e natural. 
O dolo normativo, além da vontade livre e consciente, exige o conhecimento da ilicitude. É reflexo da teoria psicológico-normativa da culpabilidade que deflui da teoria causalista da ação.
Com o advento da teoria finalista da ação, o dolo é natural, dispensando-se a consciência da ilicitude. 
A potencial consciência da ilicitude é um dos elementos da culpabilidade e a sua ausência tem como efeitos a incidência do erro de proibição escusável – art. 21 do CP, causa excludente da culpabilidade, não interferindo na vontade do agente.
G) Dolo geral ou aberratio causae
O dolo geral, também conhecido como erro quanto ao nexo causal (aberratio causae) ou erro sucessivo, é modalidade de erro de tipo acidental em que o agente realiza a conduta para produzir certo resultado e acreditando que este já aconteceu realiza nova conduta, sendo que este é que acaba produzindo o resultado. 
O dolo geral e dolo genérico são expressões que não se confundem. Reitere-se que o dolo geral relaciona-se ao erro quanto ao nexo causal e o dolo genérico a simples vontade de praticar o fato descrito no tipo penal sem qualquer fim especial. 
H) Dolo de dano e dolo de perigo
Essa divisão é uma consequência da classificação doutrinária dos crimes de dano e de perigo.
No dolo de dano, o agente visa lesionar o bem jurídico ou assumir o risco de produzi-lo. Assim, no crime de dano existe dolo de dano.
Por sua vez, no dolo de perigo, o agente apenas quer ou assume o risco de expor o bem jurídico tutelado a perigo. No crime de perigo (crime de perigo de contágio venéreo - art. 130 do CP), há dolo de perigo.
XII. CRIME CULPOSO
1. CONCEITO
Estabelece o art. 18, II, c/c o parágrafo único, do CP que “diz-se o crime: (...) II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente.”
O crime culposo ocorre quando o agente realiza uma conduta que viola o dever de cuidado objetivo, por meio da imprudência, negligência ou imperícia, que produz um resultado não previsto e querido, mas previsível e, excepcionalmente, previsto (culpa consciente) e querido (culpa imprópria).
A existência do crime culposo depende de previsão expressa no tipo penal (parágrafo único do art. 18 do CP). O dolo é a regra e está implícito no tipo penal, enquanto a culpa é excepcional e encontra-se explícita no tipo penal.
A título exemplificativo, no CP existe o homicídio culposo (art. 121, § 3º); lesão corporal culposa (art. 129, § 6º); receptação culposa (art. 180, § 3º); incêndio culposo (art. 250, § 2º, do CP); explosão culposa (art. 251, § 3º); uso de gás tóxico ou asfixiante (art. 252, parágrafo único); inundação culposa (art. 254); desabamento ou desmoronamento culposo (art. 256, parágrafo único); peculato culposo (art. 312, § 2º) etc.
2. ELEMENTOS
Os elementos do crime culposo consistem na:
1) Conduta humana voluntária
Na culpa o mais importante é a análise da conduta humana e não do resultado, tendo em vista que este é involuntário e decorre da falta do dever do cuidado objetivo. 
2) Violação do dever de cuidado objetivo, por meio da imprudência, imperícia ou negligência
A imprudência, negligência e imperícia são as formas pelas quais a culpa se exterioriza. Imprudência é a ação perigosa, representando um ato comissivo. Já a negligência é a omissão perigosa e por fim a imperícia ou culpa profissional é a falta ou ausência de aptidão para o exercício de arte, ofício ou profissão, podendo ser comissiva ou omissiva.
3) Previsibilidade objetiva do resultado
A previsibilidade é a possibilidade de se prever algo. A culpa somente existe quando o homem médio, ou seja, aquele que possui o discernimento de uma pessoa normal teria antevisto e evitado o resultado.
Por outro lado, a ausência de previsibilidade subjetiva - a possibilidade de o agente, dadas suas condições peculiares, prever o resultado – não exclui a culpa, uma vez que não é seu elemento, mas pode afastar a culpabilidadepor força da inexigibilidade de conduta diversa.
 4) Ausência de previsão do resultado
Na culpa consciente e na culpa imprópria, todavia, o agente age com previsão, pois prevê o resultado.
Qual a semelhança e a diferença entre dolo eventual e culpa consciente? 
Tanto no dolo eventual quanto na culpa consciente, o agente age com previsão. No dolo eventual, contudo, o agente não quer o resultado, mas assume o risco de sua produção. Na culpa consciente, o agente em nenhum momento assume o risco da produção do resultado, isto é, tem certeza de que o resultado não ocorrerá em razão de sua especial habilidade.
São exemplos de culpa consciente, o atirador de elite ou atirado de facas em espetáculo circense, que bem treinados, acabam provocando a morte de alguém. 
5) Resultado involuntário
No crime culposo o agente não tem a intenção de produzir o resultado. Por essa razão, a tentativa é inadmissível. 
A exceção é a culpa imprópria, por equiparação ou por assimilação (art. 20, § 1º, do CP), consistente na descriminante putativa por erro inescusável, vencível ou evitável.
6) Nexo causal entre a conduta e o resultado
7) Tipicidade
É o amoldamento do fato criminoso ao tipo penal culpos Assim, é imprescindível que o juiz no caso concreto complemente a conduta crimio explícito.
O tipo penal culposo é um tipo penal aberto, pois o legislador não define de forma minuciosa a conduta culposa penalmente típica.nosa para aferição da culpa. 
3. CRIME CULPOSO NA TEORIA DO TIPO
O tipo penal apresenta elementos objetivos (descritivos), subjetivos (vontade do agente), e, eventualmente, normativos (exigem juízo de valor para sua compreensão).
Para alguns a culpa é elemento subjetivo do tipo. Para outros� elemento normativo do tipo, que exige um juízo de valor por parte do intérprete.
4. GRAUS DE CULPA
Quanto à graduação da culpa, pode ser levíssima, leve e grave, consoante a maior ou menor previsibilidade do agente e dos cuidados objetivos tomados pelo agente.
Os graus da culpa somente interferem na fixação da pena concreta, haja vista a análise da circunstância judicial “culpabilidade” consagrada no art. 59 do CP.	
5. COMPENSAÇÃO DE CULPAS
A compensação de culpas ou culpa recíproca não é admitida no Direito Penal. A culpa da vítima não exclui a culpa do réu. 
Não obstante, o “comportamento da vítima” constitui circunstância judicial (art. 59 do CP) e influencia na fixação da pena base do agente.
6. CONCORRÊNCIA DE CULPAS, COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO
A concorrência de culpas e a coautoria são compatíveis com o crime culposo. Tem como premissa a presença de mais de uma pessoa concorrendo para o resultado.
A diferença reside no fato de que na concorrência de culpas inexiste vínculo subjetivo entre os agentes, ou seja, os agentes não têm conhecimento de que estão contribuindo para a culpa do outro. É o que ocorre quando vários motoristas imprudentes causam um acidente, ocasião em que todos respondem pelo crime individualmente.
Na coautoria, contrariamente, o agente tem consciência de que está contribuindo para a culpa do outro. 
Explica Guilherme Nucci que “admite-se, no contexto do delito culposo, a co-autoria, mas não a participação. Sendo o tipo do crime culposo aberto, composto sempre de “imprudência, negligência ou imperícia”, segundo o disposto no art. 18, II, do Código Penal, não é aceitável dizer que uma pessoa auxiliou, instigou ou induziu outrem a ser imprudente, sem ter sido igualmente imprudente.”�
Em resumo, o crime culposo admite a concorrência de culpas e a co-autoria, contudo, a participação, majoritariamente, não é admitida.
7. EXCLUDENTES DA CULPA 
São causas excludentes do crime culposo:
I) Caso fortuito e força maior;
II) Culpa exclusiva da vítima; e
III) Erro profissional (falha das regras da ciência e não do agente).
8. CULPA IMPRÓPRIA
A culpa imprópria, por equiparação ou assimilação insere-se no contexto das descriminantes putativas fáticas. É oriunda de erro de tipo permissivo inescusável (art. 20, § 1º, parte final, do CP)�.
Ocorre, por exemplo, quando o agente imagina, por erro de tipo inescusável, evitável ou vencível, que estão presentes os requisitos de alguma excludente da ilicitude Como exemplo, o agente ameaçado reiteradamente por seu desafeto. Após algum tempo, se depara com este vindo ao seu encontro, o qual coloca a mão no bolso, momento em que o agente imagina, equivocadamente, que vai levar um tiro. Dessa forma, saca sua arma e atira no desafeto, matando-o. Na realidade, o desafeto não ia atirar, mas apenas tirar um lenço do bolso para suar o nariz.
Leciona Fernando Capez que “se a vítima vier a sobreviver, dado o aspecto híbrido da culpa imprópria (metade culpa, metade dolo), o agente responderá por tentativa de homicídio culposo. Sim, porque houve culpa no momento inicial, mas a vítima só não morreu por circunstâncias alheias à vontade do autor, no momento dos disparos. A ação subseqüente dolosa faz com que seja possível a tentativa, mas houve culpa, pois se trata de caso de erro de tipo evitável (...).�” É o único caso em que o crime culposo admite a tentativa.
Na verdade, trata-se de um crime doloso em que o legislador dá o tratamento de um crime culposo. 
9. QUESTÕES 
(TRF 2ª Região – XII Concurso – Juiz Federal - 2009) 
23. Acerca da culpa (...) julgue os seguintes itens:
(...)
IV – Nos crimes culposos, o tipo penal é aberto, o que decorre da impossibilidade do legislador de antever todas as formas de realização culposa; assim, o legislador prevê apenas genericamente a ocorrência da culpa, sem defini-la, e, no caso concreto, o aplicador deve comparar o comportamento do sujeito ativo com o que uma pessoa de prudência normal teria, na mesma situação.
Comentário:
A alternativa IV está correta. O crime culposo retrata um tipo penal aberto, em que a conduta criminosa é complementada pelo juiz. Por outro lado, um dos elementos constitutivos do crime culposo é a previsibilidade objetiva do resultado. Ressalte-se que a previsibilidade subjetiva do resultado não integra o crime culposo.
	
XIII. CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO 
1. INTRODUÇÃO
O art. 19 do CP, reiterando o postulado da responsabilidade penal subjetiva, menciona acerca do crime qualificado pelo resultado: “pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente.”
2. ESPÉCIES
Os crimes qualificados pelo resultado comportam as seguintes combinações:
1) dolo (conduta antecedente) e dolo (resultado consequente qualificador). Exemplo: latrocínio – roubo seguido de morte (art. 157, § 3º, parte final, do CP);
2) dolo (conduta antecedente) e culpa (resultado consequente qualificador) – preterdolo. Exemplo: lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º, do CP), latrocínio – roubo seguido de morte (art. 157, § 3º, parte final, do CP);
3) culpa (conduta antecedente) e culpa (resultado consequente qualificador) – Exemplos: epidemia com resultado morte - art. 267, § 2º, parte final, do CP; incêndio culposo com resultado morte (art. 250, § 2º c/c art. 258 do CP). 
3. CRIME PRETERDOLOSO 
No crime preterdoloso ou preterintencional o resultado vai além da intenção do agente, isto é, por meio de uma conduta dolosa o agente produz um resultado qualificador culposo.
O agente age com dolo na conduta antecedente e, por culpa, provoca um resultado mais grave. É a fusão do dolo e da culpa. 
Exemplo autêntico no CP de crime preterdoloso é a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º).
O crime preterdoloso, assim como ocorre com o crime culposo, não admite tentativa, tendo em vista que o resultado culposo qualificador é involuntário.
XIV. ERRO DE TIPO
1. NOÇÕES DE ERRO E IGNORÂNCIA 
O erro é definido como a falsa percepção da realidade e a ignorância como a ausência de conhecimento acerca de determinado assunto e para fins de

Continue navegando