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Livro Literatura brasileira II

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Prévia do material em texto

LITERATURA BRASILEIRA: DO ROMANTISMO AO
MODERNISMO
 Maria Suely de Oliveira Lopes
Silvana Maria Pantoja dos Santos
UESPI
 2010
Licenciatura Plena em Letras Espanhol
Modalidade a Distância
2
Literatura Brasileira II
3
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL
UESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ
NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
LICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL
UESPI
2010
LITERATURA BRASILEIRA: DO ROMANTISMO AO
MODERNISMO
 Maria Suely de Oliveira Lopes
Silvana Maria Pantoja dos Santos
4
Literatura Brasileira II
 Lopes, Maria Suely de Oliveira.
 Literatura Brasileira: do Romantismo ao
Modernismo. Maria Suely de Oliveira Lopes; Silvana Maria
Pantoja dos Santos. – Teresina:UAB/UESPI, 2010.
155 p. (Licenciatura em Letras Espanhol)
1. Literatura Brasileira. 2. Romantismo na literatura.
3. Realismo na literatura. 4. Naturalismo na literatura.
5. Parnasianismo na literatura. 6. Simbolismo na
literatura. I. Santos, Silvana Maria Pantoja dos. II Título.
CDD: B869.09
L864l
5
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Vice-presidente da República
José Alencar Gomes da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação à Distância
Carlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação à Distância CAPES/MEC
Celso José da Costa
Governador do Piauí
Wilson Nunes Martins
Secretária Estadual de Educação e Cultura do Piauí
Maria Pereira da Silva Xavier
Reitor da UESPI – Universidade Estadual do Piauí
Carlos Alberto Pereira da Silva
Vice-reitor da UESPI
Nouga Cardoso Batista
Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG
Manoel Jesus Memória
Coordenadora da UAB-UESPI
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador Adjunto da UAB-UESPI
Raimundo Isídio de Sousa
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP
Isânio Vasconcelos de Mesquita
Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX
Francisca Lúcia de Lima
Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD
Acelino Vieira de Oliveira
Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN
Raimundo da Paz Sobrinho
Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EAD
Margareth Torres de Alencar Costa
6
Literatura Brasileira II
Edição
UAB - FNDE - CAPES
UESPI/NEAD
Diretora do NEAD
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador Adjunto
Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de Licenciatura
Plena em Letras – Espanhol
Margareth Torres de Alencar Costa
Coordenador de Tutoria
Omar Mário Albornoz
Coordenação de Produção de Material
Didático
Marivaldo de Oliveira Mendes
Autoras do Livro
Maria Suely de Oliveira Lopes
Silvana Maria Pantoja dos Santos
Revisão
Leonildes Pessoa Facundes
Raimundo Isídio de Sousa
Teresinha de Jesus Ferreira
Diagramação
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Capa
Luiz Paulo de Araújo Freitas
Fonte da imagem: <http://inss.nireblog.com>
UAB/UESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá),
NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro
Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150,
Telefones:
(86) 3213-5471 / 3213-1182
http://ead.uespi.br
E-mails:
eaduespi@hotmail.com
MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI
7
UESPI/NEAD Letras Espanhol
SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................... 9
UNIDADE 1 ROMANTISMO
1.1 A FICÇÃO ROMÂNTICA NO BRASIL: UMA INTRODUÇÃO ....................... 13
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PROSA ROMÂNTICA ........................................ 18
1.3 OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS .......................................................... 29
1.3.1 Joaquim Manuel de Macedo ............................................................... 29
1.3.2 Vida e obra de José de Alencar:alma brasileira ................................. 36
1.3.3 Franklin Távora ..................................................................................... 54
1.3.4 Visconde de Taunay ............................................................................. 55
1.3.5 Martins Pena ........................................................................................ 56
1.3.6 O Romance de costumes: Manuel Antonio de Almeida..................... 58
UNIDADE 2 REALISMO-NATURALISMO
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL DO REALISMO/NATURALISMO ..... 67
2.2 O ROMANCE REALISTA/NATURALISTA BRASILEIRO ............................. 71
2.2.1 Machado de Assis................................................................................. 72
2.2.2 Aluízio Azevedo .................................................................................... 80
2.2.3 Raul Pompéia ........................................................................................ 86
UNIDADE 3 PARNASIANISMO E SIMBOLISMO NO BRASIL
3.1 PARNASIANISMO ..................................................................................... 93
3.2 SIMBOLISMO ............................................................................................ 96
UNIDADE 4 PRÉ-MODERNISMO
4.1 MODERNISMO NO BRASIL .................................................................... 106
4.2 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA ........................................................ 108
4.3 CARACTERÍSTICAS DA LITERATURA MODERNISTA............................ 109
8
Literatura Brasileira II
4.4 A SEMANA DE ARTE MODERNA ........................................................... 115
4.5 A PRIMEIRA FASE MODERNISTA (1922 a 1930) .................................... 117
4.6 SEGUNDA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1930-1945) - PROSA ...... 128
4.7 A SEGUNDA FASE MODERNISTA-POESIA (1930 a 1945) ..................... 133
4.8 TERCEIRA FASE MODERNISTA NO BRASIL (1945- +/- 1960) ............... 140
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 149
9
UESPI/NEAD Letras Espanhol
APRESENTAÇÃO
O presente livro integra o material de apoio pedagógico
desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí-UESPI,
correspondente à disciplina Literatura Brasileira II. Compõe a
estrutura curricular do Curso de Licenciatura Plena em Língua
Espanhola, na modalidade de educação a distância.
O material foi organizado com a proposta de contribuir com
os seus estudos e reflexões acerca da prosa, estendendo-se do
Romantismo às tendências contemporâneas. Vale ressaltar que
embora a ênfase seja maior na prosa, teve-se o cuidado de abordar
também as estéticas Parnasiana e Simbolista que se destacam na
poesia, a fim de não romper com linearidade da periodização literária.
Para melhor aplicação dos conteúdos programáticos e
eficácia nos estudos, o trabalho foi sistematizado a partir de
pressupostos teóricos formadores da história da literatura brasileira
que discutem os elementos que constituintes dos fatos literários.
Os conteúdos estão distribuídos em quatro unidades, a saber: a
primeira unidade denominada: O Romantismo, que aborda o
contexto histórico, as características gerais e a prosa romântica
brasileira e seus principais representantes; a segunda: O Realismo
e o Naturalismo, envolvendo o contexto histórico, as características
gerais, bem como a prosa realista-naturalista brasileira e os
respectivos representantes; a terceira: Parnasianismo e o
Simbolismo que trata da poesia são abordados de modo mais
geral, haja vista que os objetivos desta disciplina estão mais
voltadas para a prosa. Por fim, a disciplina traz, ainda, breves
referências ao Pré-modernismo, dando maior ênfase no
Modernismo com destaque ao contexto histórico, característica e
principais representantes de cada geração.
10
Literatura Brasileira II
Visando colaborar com a metodologia de estudo, sugerem-
se alguns passos: observe os objetivos das unidades e faça as
atividades propostas no final de cada texto, isto ajudarávocê a
aprofundar o assunto; empenhe-se nos trabalhos de grupo tanto
quanto nas reflexões individuais; compartilhe ideias; consulte os
sites sugeridos; atente para as referências bibliográficas e, se
necessitar, recorra a elas para aprofundar seus conhecimentos.
Por fim, leia, reflita, analise criticamente cada ideia e/ou
teoria aqui apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto
ao seu tutor. Aproveite! Bons estudos!
11
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 1
CONTEÚDOS:
• A Ficção romântica brasileira
• Contexto Histórico
• Características
• O Romantismo no Brasil
• Autores representativos
• Leitura interpretativa de textos
OBJETIVO:
√ Reconhecer a ficção romântica, destacando suas características
essenciais, seu contexto e seus principais representantes na prosa
brasileira.
12
Literatura Brasileira II
13
UESPI/NEAD Letras Espanhol
1.1 A FICÇÃO ROMÂNTICA NO BRASIL - UMA INTRODUÇÃO
O Romantismo
no que se refere à
poesia foi estudado no
livro anterior.
Para dar
continuidade ao estudo
desse movimento,
iremos fazer uma abordagem sobre a ficção com seus principais
representantes. Antes é necessário fazermos uma introdução sobre
o movimento em destaque. Foi observado que o Romantismo, de
acordo com Coutinho (2002), tendo inovado, completa e
sistematicamente, a poesia e o drama, substituindo por um ideal
novo superado dos clássicos, não se configurando assim a ficção,
principalmente desenvolvida na França, Inglaterra, e Alemanha onde
a existência de importante tradição levaria o romance romântico à
condição de mero prolongamento do romance dos séculos
precedentes e, em especial, das obras mais significativas dos pré-
românticos. A única exceção, como acentua Paul Van Tieghen, viria
a ser o romance histórico.
Entretanto, foi no romance que o Romantismo encontrou o
melhor veículo para a divulgação de suas idéias. O Romance, forma
definitiva moderna, surgiu como resposta a necessidades de
expressão, da parte do escritor, e como resposta a determinadas
aspirações, da parte do leitor. A partir dessas necessidades, o
Romantismo, proflifera-se. Os movimentos revolucionários dessa
época fizeram ruir a velha estrutura social, emergindo em
consequência elementos novos das camadas inferiores da
estratificação sócioeconômica.
www.infomenews.com. Acesso em 20.02.2010
14
Literatura Brasileira II
O industrialismo, com o progresso da técnica, pôs em
vigor novas formas de trabalho, baseadas na especialização.
Uma nova atitude em face da vida, os valores novos, novos
anseios surgiram, ao mesmo tempo, para o homem atordoado
do início do século XIX. O frio equilíbrio racional das idéias, dos
sentimentos neoclássicos e uma linguagem estranha a esses
novos valores a se debaterem na maré revolta de anseios por
justiça e por aspirações reivindicatórias.
Todos esses acontecimentos nos permitem
compreender o que tem sido apontado como característica
fundamental do Romantismo, ou seja, a sua atitude de
permanente oposição, de luta contra o que até então vigorava
e, ao mesmo tempo, de protesto contra as novas formas de
existência. Ao ideal renascentista de uma cultura integral, o
liberalismo burguês respondia com o processo de
individualização derivado dos novos métodos de trabalho, o que,
em última análise, desligava o homem da sociedade. Daí o
sentimento de solidão que domina o Romantismo. Ao destruir
as bases da sociedade, o liberalismo burguês impedia a
estruturação da atmosfera necessária à arte de expressão
extensa. O Romantismo sempre permaneceu atento às lutas
políticas, não obstante sua tendência à embriaguez metafísica,
e fez dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, sua
inspiração e seu motivo.
Surgia, dessa forma, uma nova temática para a literatura:
as camadas que os movimentos revolucionários haviam trazido
para a realidade social emergiriam, também, para as páginas
dos romances e para os versos do poema. Seriam nas primeiras
que elas encontrariam sua melhor expressão. O romance mais
do que a poesia e o teatro era o meio adequado à difusão das
15
UESPI/NEAD Letras Espanhol
ideias românticas, pelo menos daquelas tendências mais profundas
e, por isso mesmo, universais.
O romance romântico europeu, conforme Coutinho (2002,
p. 233), apresenta uma série de características gerais que pouco
variam nas diversas literaturas nacionais, sendo mais importantes
aquelas já indicadas por Van Tieghen: a) o predominante papel
que exerce a personalidade do autor, e cujas origens residem na
nouvelle Héloíse, de Rousseau; b) a importância conferida à paixão,
que já agora não só proclama seu valor intrínseco, como reclama
seus direitos e sua liberdade em face de restrições ou preconceitos
de ordem moral e social; c) o amor ao exotismo, ao maravilhoso, à
aventura; d) a evocação do passado, de regra o nacional; e) o
sentimento da natureza e a pintura de paisagens nas quais se
desenvolve a ação, o que confere às emoções das personagens
ressonâncias mais profundas; g) certo realismo na adaptação e
fixação de aspectos do mundo objetivo, de detalhes da vida familiar;
h) ao lado da narrativa impessoal, a narrativa pessoal, em forma
de romance epistolar e autobiográfico, técnica que apresenta certas
vantagens para a
expressão direta das
grandes paixões; i)
quanto ao estilo,
geralmente este era
mais concreto e mais
colorido do que os dos
romancistas do século
XVIII e, com frequência,
apaixonado, impetuoso, brilhante e sonoro, declamatório para o
gosto atual, abundante no uso de hipérboles, exclamações e
imagens.
A maja desnuda, Goya, Museu do
Fonte: <www.historiadaarte.com.br>. Acesso
16
Literatura Brasileira II
O ROMANCE ROMÂNTICO
Destaque especial teve, no movimento romântico, a
narrativa romanesca. Foi por meio dos romances que a Europa
marcou seu reencontro com o mundo medieval em que repousavam
as raízes das modernas nações europeias. Ali floresceram os ideais
cavalheirescos que resgatavam, na origem heróica, a dignidade
da pátria e se expressaram nos romances históricos. Encontram-
se também as narrativas apoiadas no embate entre o bem e o mal,
com a vitória do primeiro.
No Brasil, o romance histórico se fez indianista na busca
das raízes da nacionalidade (não esqueçamos que a
independência, há pouco tempo alcançada, legou aos intelectuais
românticos o compromisso de construir a identidade nacional).
O primeiro romance bem-sucedido, na história da literatura
brasileira foi A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo,
publicado em 1844. Seu reconhecimento se deve ao fato de ter
sido a primeira narrativa centrada em personagens brasileiros, com
ambiência local. Vale lembrar que, na Europa e nas traduções
brasileiras as narrativas românticas eram editadas sob a forma de
capítulos, aumentando extraordinariamente a tiragem dos
periódicos. Os leitores se entusiasmavam pelo desenvolvimento das
histórias, eram seduzidos pela riqueza de acontecimentos
bombásticos, pelas emoções desenfreadas, pela linguagem acessível,
pela ausência de qualquer abstração, que suscitava expectativa e
ansiedade pelo penúltimo quando tudo se ajustava e se explicava.
 Tais romances, na concepção de Gonzaga (2002, p. 64),
receberam o nome de folhetins. Ao escrever um folhetim, o artista
submetia-se às exigências do público burguês e dos diretores de
jornais. Sue, romancista francês, ressuscitou um personagem
17
UESPI/NEAD Letras Espanhol
porque os leitores não se conformavam com sua morte, e isso
ameaçava a venda do periódico no qual a narrativa era publicada.
Além disso, os folhetins não podiam criticar os valores da época,
reivindicar o verdadeiro humanismo, pois obrigatoriamente tinha de
se sujeitar aos valores ideológicos do público, constituindo-se assim
numa arte de evasão e de alienação da realidade. Quase todo
romance romântico assume a estrutura de folhetim, que é a seguinte :(HARMONIA) -> (DESARMONIA) -> (HARMONIA FINAL)
O sucesso do folhetim europeu possibilitou o surgimento
de vulgares adaptações, feitas por escritores de segunda categoria,
até que vão surgindo autores do nível de Joaquim Manuel de
Macedo. Surgia o romance brasileiro. E o nosso romance
começava sob a dimensão do Romantismo.
Os romances do período romântico foram construídos em
torno de quatro grandes núcleos:
· O romance histórico, voltado para as relações que
fizeram o Brasil colônia;
· O romance indianista, com a intenção de estabelecer
nossas raízes históricas, construiu-se em torno da idealização da
figura do índio, transformado em herói nacional;
· O romance urbano, com ênfase nas relações amorosas,
foram o espaço de revelação das preocupações burguesas, sua
noção de honra e o significado do dinheiro nas relações estabelecidas;
· O romance sertanista ou regionalista, voltado para o
mundo rural, veio configurou a abertura para uma das temáticas
mais significativas a desenvolver-se na literatura brasileira nos
movimentos literários que se seguiram ao Romantismo. Embora
encontrados em muitos dos escritores do período, os romances
18
Literatura Brasileira II
assim caracterizados foram preocupação especial de José de
Alencar, que se propôs, através de sua obra, representar o Brasil
em todas as suas facetas.
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PROSA ROMÂNTICA
Grande é o número de características que marcaram o
movimento romântico, características essas que, centradas sempre
na valorização do eu e da liberdade, vão-se entrelaçando, umas
conjugadas às outras, umas desencadeando outras e formando
um amplo painel de traços reveladores. Para aqui discuti-las, vamos
seguir os aspectos considerados os mais significativos por Proença
Filho (1985) em sua análise dos Estilos de Época na Literatura.
Contraste entre os ideais divulgados e a limitação imposta
pela realidade vivida
O universo conhecido se alarga, o Século das Luzes deixa
um rastro de anseios libertários, desloca-se o centro do poder; a
Fonte: <www.portalartes.com.br>. Acesso em 21.02.2010
19
UESPI/NEAD Letras Espanhol
dependência social e econômica, a inconsciência, o
desconhecimento estabelecem para a imensa maioria, no entanto,
uma existência marcada por limitações de toda ordem.
Imaginação criadora
Num movimento de escapismo, o artista romântico evade-
se para os universos criados em sua imaginação, ambientados no
passado ou idealizados no futuro idealizados, em terras distantes
envoltas na magia e no exotismo, nos ideais libertários alimentados
nas figuras dos heróis. A fantasia leva os românticos a criar em
tanto mundos de beleza que fascinam a sensibilidade, como
universos em que a emoção se realiza no belo associado ao
terrificante vejam-se, as figuras do Drácula, do Frankstein e a
ambiência que os rodeia.
Subjetivismo
Retrata o mundo pessoal, interior, os sentimentos do autor
que se ou são o espaço central da criação. Com plena liberdade
Fonte: <www.pipocabloq.pop.com.br>
Fonte: <Antigravidade.wordpress.com>
20
Literatura Brasileira II
de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções
pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra,
conforme trecho abaixo, extraído.
(...) O hálito ardente de Peri bafejou-lhe a face. Fez-se no
semblante da virgem um ninho de castros rubores e lânguidos
sorrisos: os lábios abriram como as asas purpúrea de um beijo
saltando vôo (GONZAGA, 2002, p. 72).
O artista romântico, com plena liberdade de criar, não se
nvergonha de expor suas emoções pessoais, em fazer delas a
temática sempre retomada em sua obra.
Evasão
O escapismo romântico manifesta-se tanto nos processos
de idealização da realidade circundante como na fuga para
mundos imaginários. Quando acompanhado de desesperança,
sucumbe ao chamado da morte, companheira desejada por muitos
e tema recorrente em grande número de poetas.
(...) Cecília abriu os olhos e, vendo seu amigo junto dela,
ouvindo ainda suas palavras, sentiu o enlevo que deve ser o gozo
da vida eterna (GONZAGA, 2002, p. 72).
No fragmento acima a evasão se manifesta por meio da
expressão gozo da vida eterna conduzindo a personagem Cecília
a sonhar mesmo estando de olhos abertos.
Senso de mistério
A valorização do mistério, do mágico e do maravilhoso
acompanha a criação romântica. É também esse senso de mistério
que leva grande número de autores românticos a buscar o
21
UESPI/NEAD Letras Espanhol
sobrenatural e o terror. Vejamos o excerto abaixo, retirado da obra
Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo.
(...) Uma noite, e após uma orgia, eu deixara dormida no
leito dela a condessa Bárbara. Dei um último olhar àquela forma
nua e adormecida com a febre nas faces e a lascívia nos lábios
úmidos, gemendo ainda nos sonhos como na agonia voluptuosa
do amor. Saí. Não sei se a noite era límpida ou negra; sei apenas
que a cabeça me escaldava de embriaguez. As taças tinham ficado
vazias na mesa: aos lábios daquela criatura eu bebera até a última
gota o vinho do deleite… (www.passeiweb.com.Acesso em
21.02.2010)
O senso de mistério é identificado neste trecho
principalmente através das expressões noite, orgia, lábios
úmidos, negra, embriaguez utilizadas pelo autor no sentido de
criar uma sensação quase sobrenatural.
Consciência da solidão
A consciência da solidão é consequência do exacerbado
subjetivismo, que dá ao autor romântico um sentimento de
inadequação e o leva a sentir-se deslocado no mundo real e, muitas
vezes, a buscar refúgio no próprio eu.
(...) Na fronte calma e lisa como mármore polido, a luz do
ocaso esbatia um róseo e suave reflexo; di-la-eis misteriosa
lâmpada de alabastro guardando no seio diáfano o fogo celeste
da inspiração. Tinha a face voltada para as janelas, e o olhar vago
pairava-lhe pelo espaço (MOISÉS, 1971, p.177).
O romântico abre espaço para a individualidade, definidas
por várias emoções e sentimentos. Podemos notar pelos termos
que denotam solidão, como por exemplo, o olhar vago.
22
Literatura Brasileira II
Reformismo
Esta característica manifesta-se na participação de autores
românticos em movimentos contestadores e libertários, com grande
influência em sua produção, como foi a campanha abolicionista
abraçada por Castro Alves e o movimento republicano assumido
por Sílvio Romero. Observe o fragmento abaixo da obra A Escrava
Isaura, que aborda o tema da liberdade:
(...) - Deixe-se disso, senhora; eu não penso em amores e
muito menos em liberdade; às vezes fico triste à toa, sem motivo
nenhum...
 - Não importa. Sou eu quem quero que sejas livre, e hás
de sê-lo. (MOISÉS, 1971, p.179).
A ânsia pela liberdade é uma das tônicas que acentuamos
neste item. O artista romântico idealiza a liberdade tanto no plano
sentimental quanto no plano social.
Sonho
O sonho revela-se na idealização do mundo, na busca por
verdades diferentes daquelas conhecidas, na revelação de anseios.
Leiamos o exemplo a seguir para focalizar essa característica.
(...) As notas sentidas e maviosas daquele cantar
escapando pela janela abertas e escoando ao longe em derredor,
dão vontade de conhecer a sereia, que tão lindamente canta. Se
não é sereia, somente um anjo pode cantar assim (MOISÉS, 1971,
p.177).
No sonho, o artista cria um mundo segundo os seus
sentimentos e interesses pessoais que podem ser atestados nas
expressões ao longe e em derredor.
23
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Fé
É a fé que conduz o movimento romântico crença na própria
verdade, crença na justiça procurada, crença nos sentimentos
revelados, crença nos ideais perseguidos, crença que se revela
ainda em diferentes manifestações de religiosidade cristã – fé. Não
podemos esquecer a profunda influência do medievalismo na
construção do mundo romântico, dele fazendo parte a religiosidade
cristã. A título de exemplo, vejamos o trecho abaixo:(...) Bem sabes, quanto minha sogra antes de expirar te
recomendava a mim e ao meu marido.Hei de respeitar sempre as
recomendações daquela santa mulher, e tu bem vês, sou mais tua
amiga que tua senhora. (MOISÉS, 1971, p. 179)
Ilogismo
O ilogismo conduz o artista romântico para uma
instabilidade emocional traduzida em atitudes antiéticas ou
paradoxais: alegria e tristeza, entusiasmo e depressão.
(...) Não quero que cantes mais, ouvistes Isaura?...Se não,
fecho-te o meu piano.
- Mas senhora, apesar de tudo isso, que sou eu mais que
uma simples escrava? Essa educação que me deram, e essa
beleza, que tanto me gabam, de que me servem? (MOISÉS, 1971,
p. 179).
Aqui, neste trecho, a personagem Isaura tendo aprendido
a tocar piano é impedida, às vezes de tal atividade pela condição
de se sentir escrava. As idéias são de ordem contraditória.
24
Literatura Brasileira II
Culto à natureza
A natureza adquire especial significado no mundo
romântico. Testemunha e companheira das almas sensíveis é,
também, refúgio, proteção, mãe acolhedora. Costumamos afirmar
que, para os românticos, a natureza foi também personagem, com
papel ativo na trama. Podemos perceber o culto à natureza através
do fragmento abaixo:
(...) Era por uma linda e calmosa tarde de outubro. O sol
não era posto, e parecia boiar no horizonte suspensos sobre rolos
de espumas de cores cambiantes orlados de efênvera de ouro.
(MOISÉS, 1971, p.178)
O fragmento acima aponta para os elementos da
natureza,como o sol, horizonte confirmando dessa forma o
envolvimento do artista ao cantá-la.
Retorno ao passado
Tal retorno deu origem a diversas manifestações: a)
saudosismo voltado para a infância, o passado individual; b)
medievalismo e indianismo, na busca pelas raízes históricas, as
origens que dignificam a pátria. Observemos o trecho retirado da
obra Inocência de Taunay.
(...) Ia com o coração cheio de apreensões e olhos se lhe
arrasavam de lágrimas, de cada vez que contemplava o
melancólico buriti (MOISÉS, 1997, p. 198)
O buriti é o termo poético que transpõem o artista para
um mundo distante, mas presente em seu seio.
25
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Gosto do pitoresco, do exótico
(...) Ainda a procura de novas situações conduz o romântico
às terras distantes, às florestas virgens, às paisagens orientais
ainda não exploradas.
Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro,
estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem
nas faces o branco da areias que bordam o mar; nos olhos o azul
triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-
lhe o corpo (GONZAGA, 2002, p. 72).
Exagero
É presente, recorrente o exagero nas emoções, nos
sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, na visão maniqueísta
ao dividir o bem e o mal, exagero que se manifesta nas
características já listadas.
(...) Há anos raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Desde o momento de sua ascensão ninguém lhe disparou
o cetro; foi proclamada a rainha dos salões.
Tornou-se a deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo
dos noivos em disponibilidade.
Duas opulências, que se realçam como a flor em vaso de
alabastro; dois esplendores que se refletem , como raio de sol no
prisma do diamante.
Quem não se recorda de Aurélia Camargo, que atravessou
o firmamento da Corte como brilhante meteoro, e apagou-se de
repente no meio do deslumbramento que produzia o seu fulgor?
(MOISÉS, 1997, p. 133)
26
Literatura Brasileira II
A característica acima é percebida quando o artista utiliza
expressões que remetem exagero. A título de exemplo, destacamos
o enunciado a seguir: raiou no céu fluminense uma nova estrela.
Liberdade criadora
Contra todas as regras dos clássicos, o romântico
proclama a independência pessoal para julgar o que era belo ou
verdadeiro, valoriza o gênio criador e renovador do artista. A regra
das regras é a inspiração.
(...) A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto
dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem
pelo nome; outras remexem o uru de palha matizado, onde traz a
selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da
juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão
(GONZAGA, 2002, p. 72).
No romantismo o autor tem liberdade para criar de acordo
com sua imaginação, ainda que tenha que infringir algumas regras
da norma culta.
Sentimentalismo
A poesia do eu, do amor e da paixão. O amor, mais que
qualquer outro sentimento, é o estado de fruição estética que se
manifesta em extremos de exaltação ou de cinismo e libertinagem,
mas sempre o amor.
(...) O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a
baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado
(GONZAGA, 2002, p. 72) .
27
UESPI/NEAD Letras Espanhol
O romântico é um eterno confessor de seus sentimentos.
Sabe combinar as palavras para expressar suas emoções.
Ânsia por glória
Outra característica marca o escritor romântico é seu
desejo manifesto de ser o centro da sociedade em que vive. O
artista quer ver-se reconhecido e admirado.
 (...) - Mas, senhora, apesar de tudo isso, que sou
eu mais do que uma simples escrava? Essa educação, que me
deram e essa beleza, que tanto me gabam, de que me
servem?...São trastes de luxo colocados na senzala do africano. A
senzala nem por isso deixa de ser o que é: uma senzala (MOISÉS,
1997, p. 133).
As palavras de Isaura, a seguir, remetem á característica
citada anteriormente: Essa educação, que me deram e essa
beleza, que tanto me gabam, de que me servem?...
Importância da paisagem
A paisagem é tecida de acordo com as emoções dos
personagens e a temática das obras literárias.
(...) A cúpula da palmeira, embalançando-se
graciosamente, resvalou pela flor d’água como um ninho de garças
ou alguma ilha flutuante,formadas pelas vegetações aquáticas
(GONZAGA apud ALENCAR, 2002, p. 72).
No Romantismo, a natureza interage com o eu-lírico e
funciona quase como a expressão mais pura do estado de espírito
do poeta.
28
Literatura Brasileira II
Gosto pelo noturno
O gosto pelo noturno encontra-se em harmonia com a
atmosfera de mistério, tão próxima do gosto de todos os
românticos. Leiamos o trecho de Alexandre Herculano.
(...) Porque te havia eu de amar, ó sol, se tu és o inimigo
dos sonhos do imaginar; se tu nos chamas á realidade, e a realidade
é tão triste?
Pela escuridão da noite, nos lugares ermos e às horas
mortas do silêncio a fantasia do homem é mais ardente e robusta
(PROENÇA, 1985, p. 185).
Idealização da mulher
Anjo ou prostituta, a figura da mulher para o romântico é
sempre capaz de mudar a vida do próprio homem.
‘’ (...) Eu o escrevi logo depois do nosso casamento; pensei
que morresse naquela noite, disse Aurélia com gesto sublime.
Seixa contemplava-a com os olhos rasos de lágrimas.
- Esta riqueza causa-te horror? Pois faz-me viver, meu
Fernando. É o meio de a repelires. Se não for bastante, eu a
dissiparei’’ (ALENCAR, José. Senhora In:http://
www.lotecultural.com/26/12/2007/200.
Aurélia, com seu gesto de amor transforma a vida de
Fernando e consequentemente a sua também.
Função sacralizadora da arte
O poeta sente-se como guia da humanidade e vê na arte
uma função redentora.
29
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Acrescentemos a essas características os novos
elementos estilísticos introduzidos na arte literária: a valorização
do romance em suas muitas variantes; a liberdade no uso do ritmo
e da métrica; a confusão dos gêneros, dando lugar à criação de
novas formas poéticas; a renovação do teatro.
Agora passaremos a identificar os principais romancistas
do romantismo com suas obras e a caracterização dentro da
proposta da literatura nacional.
1.3 OS ROMANCISTAS ROMÂNTICOS
1.3.1Joaquim Manuel de Macedo
Nasceu em Itaboraí, 1820,
e faleceu no Rio de Janeiro, 1882.
Formou-se em Medicinapela
Faculdade do Rio de Janeiro, mas
não chegou a exercer a profissão.
Autor do primeiro romance urbano
do Brasil, A Moreninha (1844) [ver
Antologia], que obteve um
estrondoso sucesso entre os
leitores da classe média, dedicou
parte de seu tempo escrevendo
outros romances que seguiam os
moldes do primeiro, além de peças de teatro e outros gêneros
literários, acabando por consolidar sua popularidade como escritor.
Também foi jornalista, deputado eleito várias vezes pelo Partido
Liberal. Exerceu também o magistério, sendo professor de História
do Brasil no Colégio D. Pedro II, além de preceptor dos netos do
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/
macedo.html
30
Literatura Brasileira II
imperador. Nos últimos anos de sua vida, veio a sofrer de alguns
problemas mentais, vindo a falecer na capital. Foi jornalista, político
militante e professor de História e Coreografia do Brasil no Colégio
Pedro II, foi Sócio-fundador, secretário e orador do Instituto Histórico
e Geográfico. Brasileiro, desde 1845. Deputado à Assembléia
Provincial do Rio de Janeiro e deputado geral (legislatura 1864-68
e 1878-81) como representante do partido liberal. Ligou-se por
laços de amizade à família Imperial, tanto que foi professor dos
filhos da Princesa Isabel.
Romancista, poeta, autor dramático, é fecunda a sua obra.
Abusou do derramamento sentimental do gosto popular, daí seu
enorme sucesso. É reputado bom cronista do Rio antigo, sendo
um dos patronos da Academia Brasileira de Letras.
Joaquim Manuel Macedo é um dos fundadores do romance
no Brasil e um dos criadores do teatro brasileiro. Descreveu com
senso de - observação à vida familiar e os usos e costumes da
sociedade carioca de seu tempo: as cenas triviais da rua os
preconceitos da sociedade, as festas, - os saraus familiares, as
conversas de comadre, as pequenas Intrigas, os ingênuos ciúmes,
os namoros piegas de estudantes os quais sempre acabavam em
feliz casamento.
Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/romantismo/imagens/
romantismo>
31
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Características Literárias da prosa de Joaquim Manuel de
Macedo
Autor do primeiro romance urbano do Romantismo
brasileiro, Joaquim Manuel de Macedo teve também o mérito de
popularizar esse novo gênero entre os leitores, principalmente da
classe média, além de contribuir para propagar de forma
considerável a circulação dos folhetins, verdadeiros veículos
literários do século XIX. Mais do que isso, a fidelidade com que o
romancista descreve os ambientes e costumes serve como um
verdadeiro documentário sobre a vida urbana na capital do Império.
No entanto, Macedo pecou, ao ter como único objetivo, escrever
seus romances para agradar a classe média brasileira, principal
consumidora dos folhetins. Suas publicações seguem sempre a
mesma fórmula empregada em A Moreninha, que o consagrou
como um dos escritores mais lidos do Romantismo. Suas narrações
e descrições, apesar de possuírem uma linguagem muitas vezes
bem elaborada, perdem em muito para o lirismo encontrado nas
obras de José de Alencar. Suas personagens são sempre
superficiais, com diálogos construídos numa linguagem simples.
Não possuem uma penetração psicológica. O enredo sempre gira
em torno dos mesmos temas: amores impossíveis, dúvidas e
segredos, namoricos, festas, brincadeiras estudantis, entre outros.
Tudo é recheado por um tom doméstico, convergindo todas as
tramas sempre para um final feliz.
O crítico Antonio Cândido diz que ele parece ceder a uma
irresistível tagarelice que pode podendo ser comprovada pela
quantidade de sua produção: em pouco mais de trinta anos de
carreira, escreveu dezoito romances, quinze peças de teatro, dois
livros de poemas e ainda sete volumes de variedades.
32
Literatura Brasileira II
Ainda que tenha sido dessa forma, ele forneceu as bases
para a criação do romance brasileiro. Podemos visualizar, nas suas
obras, certos traços singulares - presentes na vida social -, como é
o caso do patriarcalismo. Ideologia estreita e moralista, o
patriarcalismo abranda a passionalidade do romantismo europeu.
Embora o tema predileto de Macedo fosse o amor, as aventuras
sentimentais que imaginava nunca tiveram a violência e o
amoralismo dos folhetins estrangeiros. Macedo, em sua narrativa,
faz o possível, para não ferir os leitores com o trágico e o desmedido.
Nada de vulcões ou desobediências. Até os vilões adaptam-se às
conveniências. Só praticam a vilania quando o enredo exige. No
final, as donzelas casadoiras enfrentam problemas, como a falta
de dinheiro, ausência de identidade etc., mas que tudo se resolve
satisfatoriamente. A felicidade volta a reinar através do conveniente
casamento.
Vejamos um fragmento da obra A Moreninha, retirada do
capítulo XVI, intitulado O Sarau. Apresentado em Literatura através
dos textos para ser lido. Logo em seguida, faremos uma atividade.
Capítulo XVI
Neste momento a orquestra assinalou o começo do sarau. E
preciso antecipar que nos não vamos dar ao trabalho de descrever
este; é um sarau como todos os outros, basta dizer o seguinte:
Os velhos lembraram-se do passado, os moços aproveitaram o
presente, ninguém cuidou do futuro. Os solteiros fizeram por
lembrar-se do casamento, os casados trabalharam por esquecer-
se dele. Os homens jogaram, falaram em política e requestaram
as moças; as senhoras ouviram finezas, trataram de modas e
criticaram desapiedadamente umas às outras. As filhas deram
33
UESPI/NEAD Letras Espanhol
carreirinhas ao som da música, as mães, já idosas, receberam
cumprimentos por amor daquelas e as avós, por não terem que
fazer nem que ouvir, levaram todo o tempo a endireitar as toucas e
a comer doces. Tudo esteve debaixo destas regras gerais; só basta
dar conta das seguintes particularidades:
D. Carolina sempre dançou a terceira contradança com Augusto,
mas, para isso, foi preciso que a sra. d. Ana empenhasse todo o
seu valimento; a tirana princesinha da festa esteve realmente
desapiedada. e não quis passear com o estudante.
A interessante d. Violante fez o diabo a quatro: tomou doze sorvetes,
comeu pão-de-ló como nenhuma, tocou em todos os doces, obrigou
alguns moços a tomá-la por par, e até dançou uma valsa corrupio.
Augusto apaixonou-se por seis senhoras com quem dançou; o
rapaz é incorrigível. E assim tudo mais.
Agora são quatro horas da manhã; o sarau está terminado, os
convidados vão retirando-se e nós, entrando no toilette, vamos ouvir
quatro belas conhecidas nossas, que conversam com ardor e fogo.
— É possível?!... exclamou d. Quinquina, dirigindo-se à sua mana;
pois é verdade que esse sr. Augusto lhe fez uma declaração de
amor?...
— Como quer que lhe diga, maninha!... Asseverou que meus olhos
pretos davam à sua alma mais luz do que aos seus olhos todos os
candelabros da sala nesta noite, e mesmo do que o sol nos dias
mais brilhantes... palavras dele.
— Que insolente!... tornou d. Quinquina, ele mesmo, que me jurou
ser a mais bela a seus olhos e a mais cara ao seu coração, porque
meus cabelos eram fios de ouro e a cor das minhas faces o rubor
de um belo amanhecer!... Palavras dele.
— Que atrevido!... bradou d. Clementina; o próprio que afirmou
ser-lhe impossível viver sem alentar-se com a esperança de possuir-
34
Literatura Brasileira II
me, porque eu sabia ferir corações com minhas vistas e curar
profundas mágoas com meus sorrisos!... Palavras dele.
— Oh! Que moço abominável, disse, por sua vez, d. Gabriela; e
ousou dizer-me que me amava com tão subida paixão que, se fora
por mim amado e pudesse desejar e pedir algum extremo, não me
pediria como a outras, para beijar-me a face, porque das virgens
do céu somente se beijam os pés, e de joelho! Palavras dele.
— Mas isto é um insulto feito a todas nós!
— Como se estará ele rindo!
— Qual! Se ele está apaixonado... Apaixonado?... E por quem?...
— Por nós quatro... talvez por outras mais: ele pensa assim.— Que maldito brasileiro com alma de mouro!...
— E havemos de ficar assim?...
— Não, acudiu d. Joaninha: vamos ter com ele, desmascaremo-lo.
— Isto é nada para quem não tem vergonha!...
— Pois troquemos os papéis: finjamos que estávamos tratadas
para desafiar-lhe os requebros, e... ridicularizemo-lo como for
possível.
— Sim... obriguemo-lo a dizer qual de nós é a mais bonita; cada
uma lhe pedirá um anel de seus cabelos... uma prenda... uma
lembrança... ponhamo-lo doido.
— Muito bem pensado! Vamos!
— Deus nos livre!... A vista de tanta gente!...
— Então, quando e aonde?
— Uma idéia... seja a zombaria completa: escreva-se uma carta
anônima, convidando-o para estar ao romper do dia na gruta.
— Bravo! Então escreva...
— Eu, não, escreva você...
— Deus me defenda! ... escreva d. Gabriela, que tem boa letra...
— Então, nenhuma escreve? Pois tiremos por sorte.
35
UESPI/NEAD Letras Espanhol
A idéia foi recebida com aprovação e a sorte destinou para
secretária d. Clementina, que tirando de seu álbum um lápis uma
tira de papel, escreveu sem hesitar:
“Senhor: — Uma jovem que vos ama e que de vós escutou palavras
de ternura tem um segredo a confiar-vos: ao ralar da aurora a
encontrareis no banco de relva da gruta; sede circunspecto e vereis
a quem, por meia hora ainda, quer ser apenas — Uma incógnita”.
— Bem, disse d. Quinquina, eu me encarrego de fazer-lhe receber
a carta. Saiamos.
As quatro moças iam sair, quando um suspiro as suspendeu; mais
alguém estava no toilette. D. Joaninha, medrosa de que uma
testemunha tivesse presenciado a cena que se acabava de passar,
voltou-se para o fundo do gabinete e o susto logo se dissipou.
— Vejam como ela dorme! ... disse.
Com efeito, recostada em uma cadeira de braços, d. Carolina
estava profundamente adormecida.
A Moreninha se mostrava, na verdade, encantadora no mole
descuido de seu dormir, e à mercê de um doce resfolegar, os
desejos se agitavam entre seus seios; seu pezinho bem à mostra,
suas tranças dobradas no colo, seus lábios entreabertos e como
por costume amoldados àquele sorrir cheio de malícia e de encanto
que já lhe conhecemos e, finalmente, suas pálpebras cerradas e
coroadas por bastos e negros supercílios, a tornavam mais feiticeira
que nunca.
D. Clementina não pôde resistir a tantas graças: correu para ela...
dois rostos angélicos se aproximaram... quatro lábios cor-de-rosa
se tocaram e este toque fez acordar D. Carolina.Um beijo tinha
despertado um anjo, se é que o anjo realmente dormia.
Fonte: <http://pt.wikisource.org/wiki/A_Moreninha/XVI>.
36
Literatura Brasileira II
Tendo lido e respondido as questões, passaremos a
apresentar a prosa de José de Alencar.
A Propósito do autor
1.3.2 Vida e Obra de José de Alencar – Alma brasileira
José de Alencar nasceu em Mecejana, no Ceará em 1829,
apenas sete anos depois da Independência do Brasil, em Mecejana,
ATIVIDADE
Agora que você já leu o fragmento sobre obra A moreninha,
discuta com os colegas e responda as seguintes perguntas:
1 - Identifique características da prosa românticas.
2 - Contextualize o período romântico sob a perspectiva histórica.
3 - Que tipo de narrativa essa obra apresenta?
http://www.portalsaofrancisco.com.br/
alfa/jose-de-alencar
37
UESPI/NEAD Letras Espanhol
no Ceará. Filho de um ex-padre, que se tornou presidente da
Província do Ceará e Senador do Império, o jovem Alencar é transferido,
com a família, aos nove anos de idade para a cidade do Rio de Janeiro.
Em 1844, aos quinze anos, matricula-se nos cursos preparatórios ao
ingresso na Faculdade de Direito de São Paulo.
Em São Paulo, Alencar cursa os primeiros anos da
Faculdade de Direito e começa a publicar seus primeiros textos
em algumas revistas estudantis. Transfere-se, em 1848, para a
Faculdade de Direito de Olinda, em Pernambuco. Em Olinda, na
velha biblioteca do Mosteiro de São Bento, encontra a literatura
dos antigos cronistas coloniais, Anos mais tarde, Alencar ainda se
recorda da emoção que foi a descoberta desses autores do século
XVI, que nos dão as primeiras impressões dos europeus ao
encontrarem a natureza e o índio do Brasil:
“Uma coisa vaga e indecisa, que devia parecer-se
com o primeiro broto do Guarani ou de Iracema,
flutuava-me na fantasia. Devorando as páginas dos
alfarrábios de notícias coloniais, buscava com
sofreguidão um tema para o meu romance; ou pelo
menos um protagonista, uma cena e uma época.”
(GONZAGA, 2001, p.68).
Voltando a São Paulo, após contrair tuberculose, forma-
se em Direito no final de 1850. No ano seguinte, retorna à capital
do país e lá começa a advogar. Não se esquece, porém, da
literatura. Em 1854, começa a escrever uma seção diária no Correio
Mercantil, intitulada Ao Correr da Pena, em que comenta os mais
variados assuntos da vida do Rio de Janeiro e do país. Esses textos
leves de temática cotidiana podem ser considerados os
precursores da crônica moderna, em que se haveriam de destacar,
no século seguinte, escritores, como Rubem Braga, Fernando
Sabino e Carlos Drummond de Andrade.
38
Literatura Brasileira II
Em 1855, Alencar é um dos fundadores do jornal O Diário
do Rio de Janeiro, do qual é editor-chefe. É através desse jornal
que vai publicar os textos que, logo, o tornarão conhecido em todo
o país. No final de 1856, Alencar decide publicar um folhetim como
“brinde” aos leitores do jornal. Inicia, assim, sua carreira de
romancista. Publica o curto romance Cinco Minutos, que é
recebido por seus leitores com grande simpatia. Estimulado pelo
sucesso do primeiro, logo começa a publicar um segundo romance,
A Viuvinha, cuja publicação interrompe quando, por engano, um
companheiro seu publica o final da história na Revista de Domingo.
Inicia, a seguir, a publicação de O Guarani. Eis que surge, com
essa obra, a figura do índio como uma nova estrela colorida e
brilhante, como lembra Caetano Veloso na canção Um índio
quando diz que uma estrela que há de escrever, “numa velocidade
estonteante”, os capítulos do romance do qual descerá um índio
“mais avançado que a mais avançada das mais avançada as
tecnologias” - o apaixonado Peri.
Entre 1857 e 1870, além de publicar diversos romances,
como Lucíola (1862) e Iracema (1865), Alencar foi eleito várias
vezes deputado estadual no Ceará, Ministro da Justiça entre 1868
e 1870, e dedicou-se também ao teatro, escrevendo O Demônio
Familiar (1857), As Asas de um Anjo (1858) e A Mãe (1860),
entre outras peças.
Em 1870, abandona a política. Inicia, então, uma fase de
recolhimento: poucos amigos e nenhum sorriso. Sua produção
novelística é intensificada, agora norteada pelo projeto de descrição
do Brasil, anunciado no prefácio do livro Sonhos d’Ouro (1872).
Em 1875, publica Senhora, um de seus romances mais
complexos. Ao morrer, em 1877, Alencar era considerado o maior
escritor brasileiro de todos os tempos, principalmente por Machado
39
UESPI/NEAD Letras Espanhol
de Assis, seu amigo e mais fiel admirador, e que logo o destronaria.
O próprio Alencar aponta que seus romances se encaixam em um
projeto de descrição global do Brasil. Divide-os em quatro tipos:
· Romance urbano, como Lucíola e Senhora;
· Romance regionalista, como O Gaúcho e O Sertanejo;
· Romance indianista, como Iracema e Ubirajara;
· Romance histórico, como O Guarani e As Minas de
Prata.
A crítica posterior haveria de relativizar esta classificação.
Tanto Iracema quanto O Guarani são considerados, ao mesmo
tempo, romance histórico e indianista. http://pt.wikipedia.org/wiki/
Jos%C3%A9_deAlencar. Acesso em 22.02.2010.
Importância da obra de José de Alencar
A obra de Alencar, conforme Gonzaga (2002, p. 67), se
insere na linha nacionalista do romantismo, procurou construir uma
obra romanesca que abrangesse todo o Brasil, principalmente em
sua totalidade física e, por isso, escreveu O Gaúcho sem conhecer
o Rio Grande do Sul. Mas o seu projeto atingia também as
coordenadashistóricas do país, através de relatos históricos e
indianistas, situados na era colonial. Buscou também a vida
cotidiana do Rio de Janeiro, em seus romances urbanos. Cogitou
fazer aqui o que Balzac fizera na França: um painel gigantesco dos
múltiplos aspectos da realidade nacional. Mas entre o seu projeto
e a realização do mesmo há no vácuo, do que resultam vários
equívocos.
Equívocos nascidos de suas ligações com os modelos
literários europeus que, juntamente com suas próprias ideias a
40
Literatura Brasileira II
respeito da sociedade, acabaram por anular parte da eficácia e
da vitalidade das narrativas.
Ainda de acordo com Gonzaga (2002, p. 68), a estrutura
do folhetim, o nacionalismo ufanista, a visão ideal da existência já
não nos fascinam. E Alencar é a junção desses elementos,
insustentáveis diante da realidade em que vivemos.
Não obstante, o autor cearense continua tendo a
importância histórica extraordinária. Ele consolidou o romance
brasileiro ao escrever movido por um sentimento de missão
patriótica. Questionou os problemas de autonomia de nossa
literatura, procurando separá-la definitivamente das influências
portuguesas. Problematizou a questão da língua brasileira e,
durante toda sua carreira, quis descobrir a essência da
nacionalidade. Enfim, abriu caminhos para escritores que se
seguiriam.
Foi o primeiro ficcionista a perceber a vastidão e a
diversidade do país, intuiu algumas especificidades regionais e
se preocupou em realizar um painel, o mais abrangente possível,
da realidade brasileira. Seu esforço de totalização fracassou,
porém a ideia de um romance ou de um conjunto de romances
capazes de representar a nação e o povo ainda perturbou
escritores do século XX.
Romances urbanos
Romances ambientados no Rio de Janeiro, protagonizados
por personagens femininos, mostravam o luxo e a pompa das
atividades sociais burguesas; no entanto, apresentavam uma critica
sutil aos hábitos hipócritas da burguesia e ao seu caráter capitalista.
São exemplos de romances urbanos de José de Alencar:
41
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Senhora - faz crítica ao casamento por interesse, à
hipocrisia, à cobiça e à soberba burguesa;
Lucíola - critica o fato de a burguesia, que financia a
prostituição durante a noite, ter aversão a esta durante o dia.
Diva - ressalta a beleza das jovens e ricas burguesas, o
virtuosismo e a pureza e, em contrapartida, critica o casamento
por interesse financeiro.
Para exemplificar esse tipo de narrativa, utilizamos aqui
um fragmento retirado da obra Senhora de José de Alencar.
 ‘’ (...) Tinha ela dezoito anos quando apareceu pela primeira
vez na sociedade. Não a conheciam; e logo buscaram todos com
avidez informações acerca da novidade do dia.
Dizia-se muita coisa que não repetirei agora, pois a seu
tempo saberemos a verdade, sem os comentos malévolos de que
usam vesti-la os noveleiros.
Aurélia era órfã; tinha em sua companhia uma velha
parenta, viúva, D.Firmina Mascarenhas, que sempre acompanhava
na sociedade.
Mas essa parenta não passava de mãe de encomenda
para condescender com os escrúspulos da sociedade brasileira,
que naquele tempo não tinha admitido ainda certa emancipação
feminina’’ (ALENCAR, 1968, p. 23).
Romances Regionalistas
Os chamados romances regionalistas são também
construídos a partir daquele nacionalismo que constitui uma das
ideias-chaves do autor. Alencar vê as regiões de fora, mesmo
quando escreve O Sertanejo, cuja realidade desencadeia o cerne
de um mundo diferenciado do litoral. Pelo contrário, quer integrar
42
Literatura Brasileira II
as regiões ao corpo de uma nação centralizada, sob o comando
das elites imperiais. Alencar torna-se porta-voz artístico da unificação
nacional, e o resultado é uma literatura mítica, celebratória dos
elementos regionais, porém insuficiente para descrever as
peculiaridades e o atraso das províncias periféricas do país.
Os romances que se enquadram nessa classificação são:
O Gaúcho, O Sertanejo e O Tronco do Ipê. Esses romances
aproximam-se da experiência dos leitores urbanos, ao mostrarem
a vida em fazendas cuja ligação orgânica com a capital federal era
mais nítida. Mesmo assim, o escritor não nos dá um quadro realista
da ambientação rural, sacrificando os costumes dos fazendeiros
ao convencionalismo de histórias folhetinescas. Observemos agora
um fragmento da obra O Gaúcho.
I
O PAMPA
Como são melancólicas e solenes, ao pino do sol, as vastas
campinas que cingem as margens do Uruguai e seus afluentes! A
savana se desfralda a perder de vista, ondulando pelas sangas e
coxilhas que figuram as flutuações das vagas nesse verde oceano.
Mais profunda parece aqui a solidão, e mais pavorosa, do que na
imensidade dos mares.
É o mesmo ermo, porém selado pela imobilidade, e como
que estupefato ante a majestade do firmamento.
Raro corta o espaço, cheio de luz, um pássaro erradio,
demandando a sombra, longe na restinga de mato que borda as
orlas de algum arroio. A trecho passa o poldro bravio, desgarrado
do magote; ei-lo que se vai retouçando alegremente babujar a
grama do próximo banhado.
43
UESPI/NEAD Letras Espanhol
No seio das ondas o nauta sente-se isolado; é o átomo
envolto numa dobra do infinito. A âmbula imensa tem só duas faces
convexas, o mar e o céu. Mas em ambas a cena é vivaz e palpitante.
As ondas se agitam em constante flutuação; têm uma voz,
murmuram. No firmamento as nuvens cambiam a cada instante ao
sopro do vento; há nelas uma fisionomia, um gesto.
A tela oceânica, sempre majestosa e esplêndida,
ressumbra possante vitalidade. O mesmo pego insondável abismo,
exubera de força criadora; miríades de animais o povoam, que
surgem à flor d’água.
O pampa ao contrário é o pasmo, o torpor da natureza.
O viandante perdido na imensa planície fica mais que
isolado, fica opresso. Em torno dele faz-se o vácuo: súbita paralisia
invade o espaço, que pesa sobre o homem como lívida mortalha.
Lavor de jaspe, embutido na lâmina azul do céu, é a nuvem.
O chão semelha a vasta lápida musgosa de extenso pavimento.
Por toda a parte a imutabilidade. Nem um bafo para que essa
natureza palpite; nem um rumor que simule o balbuciar do deserto.
Pasmosa inanição da vida no seio de um alúvio de luz!
O pampa é a pátria do tufão. Aí, nas estepes nuas, impera
o rei dos ventos. Para a fúria dos elementos inventou o Criador as
rijezas cadavéricas da natureza. Diante da vaga impetuosa colocou
o rochedo; como leito de furacão estendeu pela terra as infindas
savanas da América e os ardentes areais da África.
Arroja-se o furacão pelas vastas planícies; espoja-se nelas
como o potro indômito; convole a terra e o céu em espesso
turbilhão. Afinal a natureza entra em repouso; serena a tempestade;
queda-se o deserto, como dantes plácido e inalterável.
Fonte: <http://www.sacocheio.com/livros-gratis/jose-de-alencar-o-
gaucho.pdf.>
44
Literatura Brasileira II
Os Romances Históricos e Indianistas
O romance histórico se inicia com a temática limitada do
indianismo, na concepção de Coutinho (2002), e evolui no sentido
de ampliar o seu mundo no tempo e no espaço. Ao criticar A
confederação dos tamoios, de Magalhães, Alencar já acreditava
que a vida primitiva dos nossos indígenas fosse excelente material
para o romance histórico brasileiro. Dir-se-á que tal como criou
Goethe o Romantismo europeu, o romance histórico pretendia fixar
caracteres e sentimentos verossímeis num ambiente histórico
exato, ou tido como exato pelo autor e pelo leitor. E continua a afirmar
“que se atentarmos paro o sucesso de Scot, sobretudo em
Waverley Novels, veremos que o que aí se encontra é uma intriga
ATIVIDADE
1 - Faça a leitura do fragmento retirado de O Gaúcho e aproveite
para caracterizar a prosa regionalista de José de Alencar.
2 - Qual é a proposta da prosa regionalista de José de Alencar.
Fonte: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Iracema>45
UESPI/NEAD Letras Espanhol
sentimental situada em quadro histórico e local bem estudado,
dando lugar à descrição de costumes, às cenas de um pitoresco
realista e frequentemente familiar, reconstituição de paisagens
exatas, à evocação de figuras lendárias ou históricas com maior
precisão psicológica possível, todos esses elementos combinados
por mão de mestre e de modo a alcançar o objetivo precípuo do
romance histórico, que é o de afirmar e exaltar o processo nacional.
Enquanto isso, o indianismo de Alencar pouco ou nada teria de
historicamente exato, a não ser o local, os fatos, as personagens
de modo geral, e os índios, de modo particular, sendo mais fantasia
de sua imaginação do que tentativa de autêntico levantamento de
nossas raízes mais profundas.
Ainda que esses comentários fossem uma certeza, e não
é o caso, o romance indianista de Alencar não deixaria de ser,
como é, legítimo romance histórico brasileiro. É possível que a vida
dos selvagens esteja demasiadamente poetizada, que os costumes
indígenas tenham sido algo deturpados pela fértil imaginação do
romancista e que as personagens históricas não confiram muito
com os comprovantes reais, acaso existam. Mas isso nada altera
o sentido e a significação do romance alencariano e coloca em
destaque a intuição do autor. Isso se explica porque a tendência
universal do romantismo visa rebuscar o passado nacional por
meios dos escombros medievais, o que de melhor aí ficara da alma
e da tradição de cada nação. Encontraria no Brasil a melhor
receptividade, pois um dos nossos problemas era o de afirmar
diante de a Portugal o espírito nacional, brasileiro, graças ao qual
queríamos ser independentes, não só do ponto político, mas também
do ponto de vista cultural. A nossa idade média, o mais recôndito e
autêntico do nosso passado teria de ser, pelo poeticamente, a
civilização primitiva, pré-cabralina. Seria, através da valorização
46
Literatura Brasileira II
poética das raças primitivas no cenário grandioso da natureza
americana, é que nós alcançaríamos, conforme Coutinho (2002),
aquele nível mínimo de orgulho nacional de que carecíamos para
uma classificação em face do europeu. Era o europeu quem
afirmava que essas raças representavam a decadência dos
primitivos troncos, que eram preguiçosos e pouco inteligentes,
sendo raros os cronistas que se manifestavam em sentido contrário.
E havia sido o europeu, o descobridor e o invasor, quem
massacrava grande parte dessas raças, suas lendas e tradições
não podendo sobreviver nem mesmo, por meio dos catecúmenos,
pelos repetidos exorcismos que estes sofriam até a completa
descaracterização.
Outro argumento que percebemos é que, por outro lado, o
negro, no caso, não se prestava ao papel de valorizador da
nacionalidade; não só porque representava o trabalho, numa
sociedade em que o trabalho era motivo de desclassificação social,
mas porque não era filho da terra, para aqui tinha vindo escravizado
e aviltado. O índio, ao contrário do negro, era a escravidão e a
invasão, não era escravo nem representava o trabalho; era
americano e queria ser livre. Tudo isso era o que convinha, sob
medida, ao idealismo romântico. Era o que convinha a Alencar,
que criou o romance indianista, tendo estudado os velhos cronistas,
ver a vida dos nossos selvagens só iria aproveitar o que se fosse
favorável ao índio ou conviesse aos seus propósitos de romancista
e de não historiador e de romancista romântico,que elevou o
indianismo a uma posição consequente e significativa,
anteriormente ainda não alcançada.
Dessa forma, Alencar criou, com base mais lendária do que
histórica, o mundo poético e heróico de nossas origens, para afirmar
a nossa nacionalidade, para provar a existência de nossas raízes
47
UESPI/NEAD Letras Espanhol
legitimamente americanas. E, nascia, assim, a nova tendência
revolucionária do romantismo, já identificada como de tons
cepusculares, cândidos e pastorais, qual a de projetar um mundo
de sentimentos e virtudes ideais.
Por todos esses argumentos, é certo incluir sua obra
indianista nos limites do romance histórico. E não apenas O
guarani, por ele próprio assim, também Iracema e Ubirajara, que
dele não mereceram senão a rotulação de lendas. Pertencem todos
eles, ao domínio do romance histórico, não da forma como
realizaram os europeus, mas como o idealizou e praticou o nosso
Romantismo.
O conceito alencariano emprestou a vários romances um
caráter mítico e poético, que procurou, que encontrou perfeito
ajustamento com a estética de Chateaubriand por ele assimilada,
resultando disso o tipo de romance poemático. Afirma Coutinho
(2002, p. 260) que muitas das criações desses romances
participam da natureza do mito e do símbolo, nos quais pretendeu
integrar aspirações e ideais da alma brasileira. Em alguns desses,
se é falha por vezes a realização técnica, avultam justamente o
valor do símbolo e o conceito poético. Tanto As minas de prata,
como Iracema, como O guarani encerram mitos de significação
nacional. No primeiro, o mito do tesouro escondido, que arrastou
para os sertões brasileiros a onda de aventureiros e bandeirantes
a que se deve o seu povoamento. Nos outros dois, o mito do bom
selvagem, da pureza do americano, em contraste com a rude e
ambição desenfreada sem escrúpulos do branco europeu. São o
próprio conceito de indianismo e sua visão de índio que têm para
ele o valor mítico.
Além dos romances citados anteriormente, pertencem ao
grupo dos romances históricos: O garatuja, O ermitão da glória e
48
Literatura Brasileira II
A guerra dos mascastes. Veja o excerto do romance Indianista O
guarani de Alencar.
I I
O Guarani
‘’ (...) A habitação que descrevemos, pertencia a D. Antônio
de Mariz, fidalgo português de cota d’armas e um dos fundadores
da cidade do Rio de Janeiro.
Era dos cavalheiros que mais se haviam distinguido nas
guerras da conquista, contra a invasão dos franceses e os ataques
dos selvagens.
Em 1567 acompanhou Mem de Sá ao Rio de Janeiro, e
depois da vitória alcançada pelos portugueses, auxiliou o
governador nos trabalhos da fundação da cidade e consolidação
do domínio de Portugal nessa capitania.
Fez parte em 1578 da célebre expedição do Dr. Antônio
de Salema contra os franceses, que haviam estabelecido uma
feitoria em Cabo Frio para fazerem o contrabando de pau-brasil.
Serviu por este mesmo tempo de provedor da real
fazenda, e depois da alfândega do Rio de Janeiro; mostrou
sempre nesses empregos o seu zelo pela república e a sua
dedicação ao rei.
Homem de valor, experimentado na guerra, ativo, afeito a
combater os índios, prestou grandes serviços nas descobertas e
explorações do interior de Minas e Espírito Santo. Em recompensa
do seu merecimento, o governador Mem de Sá lhe havia dado uma
sesmaria de uma légua com fundo sobre o sertão, a qual depois
de haver explorado, deixou por muito tempo devoluta.
A derrota de Alcácer-Quibir, e o domínio espanhol que se
lhe seguiu, vieram modificar a vida de D. Antônio de Mariz.
49
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Português de antiga têmpera, fidalgo leal, entendia que
estava preso ao rei de Portugal pelo juramento da nobreza, e que
só a ele devia preito e menagem. Quando pois, em 1582, foi
aclamado no Brasil D. Felipe 11 como o sucessor da monarquia
portuguesa, o velho fidalgo embainhou a espada e retirou-se do
serviço.
Por algum tempo esperou a projetada expedição de D.
Pedro da Cunha, que pretendeu transportarão Brasil a coroa
portuguesa, colocada então sobre a cabeça do seu legitimo
herdeiro, D. Antônio, prior do Crato.
Depois, vendo que esta expedição não se realizava, e que
seu braço e sua coragem de nada valiam ao rei de Portugal, jurou
que ao menos lhe guardaria fidelidade até a morte. Tomou os seus
penates, o seu brasão, as suas armas, a sua família, e foi
estabelecer-se naquela sesmaria que lhe concedera Mem de Sá.
Aí, de pé sobrea eminência em que ia assentar o seu novo
solar, D. Antônio de Mariz, erguendo o vulto direito, e lançando um
olhar sobranceiro pelos vastos horizontes que abriam em torno,
exclamou:
- Aqui sou português! Aqui pode respirar à vontade um
coração leal, que nunca desmentiu a fé do juramento. Nesta terra
que me foi dada pelo meu rei, e conquistada pelo meu braço, nesta
terra livre, tu reinarás, Portugal, como viverás n’alma de teus filhos.
Eu o juro!
Descobrindo-se, curvou o joelho em terra, e estendeu a
mão direita sobre o abismo, cujos ecos adormecidos repetiram
ao longe a última frase do juramento prestado sobre o altar da
natureza, em face do sol que transmontava.
Isto se passara em abril de 1593; no dia seguinte,
começaram os trabalhos da edificação de uma pequena habitação
50
Literatura Brasileira II
que serviu de residência provisória, até que os artesãos vindos do
reino construíram decoraram a casa que já conhecemos.
D. Antônio tinha ajuntado fortuna durante os primeiros anos
de sua vida aventureira; e não só por capricho de fidalguia, mas
em atenção à sua família, procurava dar a essa habitação
construída no meio de um sertão, todo o luxo e comodidades
possíveis.
Além das expedições que fazia periodicamente à cidade
do Rio de Janeiro, para comprar fazendas e gêneros de Portugal,
que trocava pelos produtos da terra, mandara vir do reino alguns
oficiais mecânicos e hortelãos, que aproveitavam os recursos dessa
natureza tão rica, para proverem os seus habitantes de todo o
necessário.
Assim, a casa era um verdadeiro solar de fidalgo português,
menos as ameias e a barbacã, as quais haviam sido substituídas
por essa muralha de rochedos inacessíveis, que ofereciam uma
defesa natural e uma resistência inexpugnável.
Na posição em que se achava isto era necessário por
causa das tribos selvagens, que, embora se retirassem sempre
das vizinhanças dos lugares habitados pelos colonos, e se
entranhassem pelas florestas, costumavam, contudo fazer correrias
e atacar os brancos à traição.
Em um circulo de uma légua da casa, não havia senão
algumas cabanas em que moravam aventureiros S pobres,
desejosos de fazer fortuna rápida, e que se tinham animado a se
estabelecer neste lugar, em parcerias de dez e vinte, para mais
facilmente praticarem o contrabando do ouro e pedras preciosas,
que iam vender na costa.
Estes, apesar das precauções que tomavam contra os
ataques dos índios, fazendo paliçadas e reunindo-se uns aos outros
51
UESPI/NEAD Letras Espanhol
para defesa comum, em ocasião de perigo vinham sempre abrigar-
se na casa de D. Antônio de Mariz, a qual fazia as vezes de um
castelo feudal na idade Média .
Fonte: <http://www.fuvest.br/download/livros/guarani.pdf.>
De posse das informações sobre os romances históricos
e indianistas, faremos uma pausa para refletir sobre algumas
indagações sobre a obra em estudo.
ATIVIDADE
1 - Leia o trecho, retirado de O guarani, em seguida discuta
com seus colegas sobre as características dentro de uma
perspectiva histórica e indianista.
2 - Qual é a contribuição dessa obra para a formação da
Literatura Brasileira?
3 - Acesse o site www.youtube.com.br para assistir ao filme
O guarani e, em seguida, faça uma discussão com seus
colegas destacando as passagens interessantes.
ATIVIDADE - O guarani
Em que se fundamenta o Projeto Nacionalista de José de
Alencar?
Quais os autores que influenciaram a estrutura romântica?
Por que o Romantismo tende ao estilo poético? Justifique sua
resposta.
52
Literatura Brasileira II
Vamos fazer, a partir de agora, uma abordagem sobre a
prosa sertanista apresentando seus principais autores.
Os sertanistas românticos
O romance regionalista de Alencar, de acordo com o
pensamento de Gonzaga (2002), abriu uma viés para o surgimento
de escritores menores, todos eles sertanistas, ou seja, preocupados
em revelar o Brasil não-litorâneo, não europeu, o Brasil rural. O
ponto de partida dessa literatura é o ufanismo e, nesse sentido, as
manifestações sertanistas dificilmente adquirem maior
autenticidade poética e documental. Há uma intenção realista
inclusive, mas é um realismo que se detém em descrição da natureza,
acento linguístico particular da região, os costumes. Todavia, essa débil
busca de realismo é prejudicada na construção dos personagens, que
bedecem aos esquemas românticos do folhetim.
Bernardo Guimarães
Nasceu em Ouro Preto, onde passou a infância e os
primórdios da adolescência, indo depois para São Paulo estudar
53
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Direito. Foi colega de Álvares de Azevedo e, na faculdade, tinha
fama de boêmio e satírico, tendo inclusive praticado uma poesia
(Cantos Da solidão) identificada com o satanismo byroniano e
com o humorismo. Retirou-se para o interior de Minas, exercendo
a função de juiz e professor secundário, e de lá não mais se afastaria
até a morte.
Obras principais: - O ermitão de muquém (1864)
 - O garimpeiro (1872)
 - O seminarista (1872)
 - A escrava Isaura (1875)
Nenhum autor expressou, na visão de Gonzaga (2002, p.
73-74), tão bem a tendência sertanista como Bernardo Guimarães.
Suas obras oscilam entre este modesto realismo e o melodrama
pouco convincente, exceção feita a O seminarista.
Em O seminarista, vemos narrado o drama de Eugênio e
Margarida, que, na infância, passada no sertão mineiro,
estabelecem uma amizade que logo se transforma em paixão. O
pai de Eugênio o obriga a ir para um seminário, e ele vai, oscilante
entre o amor e a religiosidade. Mesmo sofrendo pela perda,
Eugênio ordena-se sacerdote. O destino é a favor que ele volte a
sua à aldeia natal e encontre Margarida à beira da morte. Os dois
não resistem e mantêm relações, mas a jovem morre e o padre
enlouquece de dor sentimental e moral: o desaparecimento da
amada e a quebra do voto de castidade. A obra revela uma forte
crítica ao patriarcalismo.
Em a Escrava Isaura, a ideologia abolicionista teve de
pretexto para o desenvolvimento de um melodrama passional,
envolvendo a escrava Isaura e qual nossa surpresa ao verificar que
Isaura é moça branca”e para nossa surpresa Isaura é uma moça
branca, que vive presa numa fazenda de café a Baixada
54
Literatura Brasileira II
Fluminense. O fazendeiro pérfido, Leôncio, tem as piores intenções
com a moça, e o herói, Álvaro, salva Isaura das garras do vilão.
1.3.3 Franklin Távora
Nasceu no interior do Ceará. Formou-se em Direito, em
Pernambuco, mudando-se depois para o Rio de Janeiro, onde
ingressou na vida burocrática.
Obras Principais: - O cabeleira (1876)
 - O matuto (1878)
 - Lourenço (1881)
Em Franklin Távora, o regionalismo mais do que assunto
é polêmica:
As letras têm, como a política, um certo caráter
geográfico; mais no Norte porém, do que no Sul, abundam os
elementos para a formação de uma literatura propriamente
brasileira, filha da terra. A razão é óbvia: o Norte ainda não foi
invadido como está sendo o Sul de dia em dia pelo estrangeiro
(GONZAGA, 2002, p. 74).
E arrematava no prefácio de O Cabeleira: “Temos o dever
de levantar ainda com luta e esforço os nobres foros dessa região,
exumar seus tipos legendários, fazer conhecidos seus costumes,
suas lendas, sua poesia máscula, nova, vívida e louçã...’’
(GONZAGA, 2002, p. 74).
Os projetos de Távora não no entanto se realizaram,( no
entanto). Suas intenções naturalistas satisfazem a reconstituição
do ambiente e a escolha do tema: um caso de cangaço no século
XVIII. Mas nem o motivo nem a distância histórica garantem realismo
à narrativa, perturbada pela contradição permanente dos
55
UESPI/NEAD Letras Espanhol
sertanistas românticos: observações realistas dentro de um
arcabouço de folhetim.
1.3.4 Visconde de Taunay
Nasceu no Rio de Janeiro e cursou a Escola Militar.
Participouda Guerra do Paraguai. Dedicou-se à política, chegou a
ser senador.Com a queda da monarquia, afastou-se do senado.
Obras Principais: - A retirada da laguna (1871)
 - Inocência (1872)
A obra Inocência talvez seja a menos enfática entre as
obras do romantismo regionalistas. A cor local surge com os desvios
do exotismo ou do estilo. O autor concentra seu olhar parado e frio
em torno dos mesmos detalhes. Por isso mesmo, o romance de
observador quase preciosista é o menos idealizado do período.
Não que a trama central não pertença ao folhetim; ao contrário,
trata-se de um melodrama típico: a jovem sertaneja Inocência, por
imposição paterna, não pode desposar o seu destino amor, o falso
médico Cirino. E ambos sucumbem à adversidade, numa espécie
de Romeu e Julieta. Ressaltamos a crítica que o romance faz ao
patriarcalismo, a exemplo do que ocorre em O seminarista, de
Bernardo Guimarães.
A retirada da laguna é um documento dramático sobre o
episódio ocorrido na guerra do Paraguai.
O Romantismo não se destacou somente na prosa e
poesia, mas também no teatro. Por isso, faremos uma significativa
abordagem.
O teatro Romântico do século XIX está comprometido com
a dependência cultural de nossas elites. Os textos procediam, em
quase totalidade, da Europa; as companhias vinham de Portugal;
56
Literatura Brasileira II
respirava-se uma atmosfera dissociada da realidade local. A
questão da dramaturgia não foi verdadeiramente problematizada,
ao contrário do que aconteceu no romance e na poesia. Gonçalves
Dias (Leonor de Mendonça), José de Alencar (O demônio familiar),
Castro Alves (Gonzaga) e outros criaram obras esparsas e inspiradas
em modelos europeus. Caberia a Martins Pena a elaboração de um
conjunto de peças capazes de refletir a realidade nacional.
1.3.5 Martins Pena
Nasceu no Rio de Janeiro, numa família sem posses.
Estudou comércio e ingressou na vida diplomática, a princípio como
amanuense e depois como adido, viajando para Londres, em 1847.
Atacado pela tuberculose, morreu no estrangeiro.
Obras Principais:
- O juiz de paz na roça (1842)
- O judas em sábado de aleluia (1846)
- Quem casa quer casa (1847)
- O noviço (1853)
- Os dois ou o inglês maquinista (1871)
Martins Pena optou pelo único teatral que poderia se adaptar
às circunstâncias históricas sobre o Brasil, na primeira metade do
século XIX: a comédia de costumes. Como o faria Manuel Antonio de
Almeida mais tarde, o jovem teatrólogo intuiu que o drama não se
adaptaria ao universo que propunha retratar. Tudo isso porque os
grupos burgueses urbanos careciam de tragédia humana, e suas
contradições eram limitadas ou inexistentes. Apenas o riso poderia
dar-lhe interesse (o drama real era o dos escravos, mas os negros
quando surgiam nos palcos, faziam parte de uma mitologia racista:
o pai João, a mãe Joana o moleque endiabrado).
57
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Martins Pena iniciou a carreira satirizando os costumes
rurais, os costumes na roça. A novidade de suas peças deve-se ao
jeito caboclo, aos hábitos curiosos, da fala simples e de extrema
candura que envolve os seres da roça.
Já as comédias urbanas efetivam uma leitura da vida cotidiana
do Rio de Janeiro, em especial do mundo da classe média.
 Vejamos um fragmento da peça Juiz de paz na roça, para
leitura e análise.
‘’(...) Sala com uma porta no fundo. No meio uma mesa, junto à
qual estarão cosendo MARIA ROSA e ANINHA.
MARIA ROSA - Teu pai tarda muito.
ANINHA - Ele disse que tinha hoje muito que fazer.
MARIA ROSA - Pobre homem! Mata-se com tanto trabalho! É quase
meio-dia e ainda não voltou. Desde as quatro horas da manhã que
saiu; está só com uma xícara de café.
ANINHA - Meu pai quando principia um trabalho não gosta de o
largar, e minha mãe sabe bem que ele tem só a Agostinho.
MARIA ROSA - É verdade. Os meias-caras agora estão tão caros!
Quando havia valongo eram mais baratos.
ANINHA - Meu pai disse que quando desmanchar o mandiocal
grande há-de comprar uma negrinha para mim.
MARIA ROSA - Também já me disse.
ANINHA - Minha mãe, já preparou a jacuba para meu pai?
MARIA ROSA - É verdade! De que me ia esquecendo! Vai aí fora e
traz dous limões. (ANINHA sai.) Se o MANUEL JOÃO viesse e
não achasse a jacuba pronta, tínhamos campanha velha. Do que
me tinha esquecido! (Entra ANINHA.)
ANINHA - Aqui estão os limões.
MARIA ROSA - Fica tomando conta aqui, enquanto eu vou lá dentro.
(Sai.)
58
Literatura Brasileira II
ANINHA, só - Minha mãe já se ia demorando muito. Pensava que
já não poderia falar com o senhor José, que está esperando-me
debaixo dos cafezeiros. Mas como minha mãe está lá dentro, e
meu pai não entra nesta meia hora, posso fazê-lo entrar aqui’’.
(PENA, Martins. Juiz de Paz na Roça.In:http://biblio.com.br/
defaultz.asp?link=http://biblio.com.br/conteudo/MartinsPena/
ojuisdepaznaroca.htm.Acesso em 22.02.2010.
Partiremos, agora, para o romance de costumes.
1.3.6 O Romance de Costumes: Manuel Antonio de Almeida
No Romance de
costumes, destacamos o autor
Manuel Antonio de Almeida.
Nascido no Rio de Janeiro, de
família pobre, frequentou curso de
Medicina, o qual não concluiu por
ter se dedicado exaustivamente
ao jornalismo. Redator e revisor
do Correio Mercantil, lá publicou
em livros o seu único romance, escrito aos vinte e três anos de
idade. Nomeado diretor da Tipografia Nacional, tornou-se amigo e
protetor de um jovem funcionário chamado Machado de Assis.
Obra
 - Memórias de um sargento de milícias (1853)
Fonte: <www.chapadadosguimaraes.com.br/>
59
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Memória de um sargento de milícias
O público leitor, ainda acostumado ao sentimentalismo
piegas, não poderia aceitar um romance que rompia com o tipo de
narrativa praticado na época, antecipando formas realistas no
momento em que a literatura padrão era a de a Joaquim Manuel
de Macedo. Por isso mesmo, Gonzaga afirma que Memórias de
um sargento de milícia foi a obra mais adulta e envolvente da
época. A critica que fazemos ao Romantismo é evidência da ironia
direta do narrador que se diverte não apenas com os personagens,
recurso comum aos românticos em geral.
Obras:
• Romance
Memórias de um Sargento de Milícias
• Outros Gêneros
Tese de doutoramento em Medicina
Libreto da ópera Dois Amores (“imitação do italiano de
Piave”), com música da Condessa Rosawadowska, representada
sem êxito após a morte do autor.
• Os Costumes
O início da história é proposto como uma narrativa de
costumes. Observe:
‘’(...) Uma das quatro esquinas que formam as ruas do
Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se
nesse tempo - O canto dos meirinhos-; e bem lhe assentava o
nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os
indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena
consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra
caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível
e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da
60
Literatura Brasileira II
formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no
tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o
extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se
tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se
passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões
principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamava
o processo.
Daí sua influência moral.” (ALMEIDA, Manuel Antonio de
Memórias de um Sargento de Milícias. In: http://
www.culturatura.com.br/obras/Memorias.Acesso em.22.02.2010.)
O livro começa por deflagrar um processo de realismo
exato e minucioso dos usos dos hábitos sociais e das figuras
típicas, do Brasil no tempo do rei, isto é, O Brasil de D. João VI.
Trata-se de um realismo tão minucioso, tão detalhado, tão
corriqueiro que, às vezes, os personagens parecem

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